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AULA 01 - CIVIL IV (Direitos Reais) – 2017.2
1. DENOMINAÇÃO: 
Direito das Coisas ou Direitos Reais? O Direito das Coisas não é sinônimo de direitos reais. Na verdade, é denominação mais 
ampla, que abrange, além dos direitos reais, a posse, e os direitos de vizinhança. 
Tendência a longo prazo = contratualização de todo o direito, um neocontratualismo, tese defendida há tempos por Norberto Bobbio. 
O direito das coisas (CC, Livro III) trata do direito real pleno, isto é, da propriedade, tendo por objeto coisa móvel ou imóvel 
corpórea, do próprio titular; e dos direitos reais limitados, incidentes sobre coisa alheia 
2. CONCEITO: 
“O complexo das normas reguladoras das relações jur ídicas referentes as coisas suscetíveis de apropriação pelo homem”. 
Clóvis Beviláqua 
Nas palavras de Orlando Gomes, “o Direito das Coisas regula o poder dos homens sobre os bens1 e os modos de sua 
utilização econômica” (Gomes, Orlando. Direitos Reais. 14ª Ed. Atualizada por Humberto Teodoro Júnior, p. 1. Rio de janeiro. Forense. 
1999). 
Surge aí um 1º aspecto dos Direitos Reais, que se distingue dos Direitos Pessoais, estes têm por fim objeto uma prestação 
humana enquanto aqueles possuem por objeto um bem. 
Duas doutrinas buscam a primazia na compreensão dos Direito Reais: 
a) Teoria realista: o Direito Real é o poder imediato na pessoa sobre a coisa. 
 Causa perplexidade se considerarmos que o Direito existe sempre para disciplinar condutas intersubjetivas, ou seja, entre 
pessoas. Assim, como explicar uma relação direta homem-objeto tutelada pela norma jurídica. 
b) Teoria personalista: existe nos Direitos Reais uma relação jurídica entre pessoas, como nos Direitos Pessoais. 
 Parece um pouco artificial, pois, advoga a existência de u sujeito passivo universal nos Direito Reais, ou seja, todos 
estaríamos obrigados a respeitar os Direitos Reais de outrem. 
 Orlando Gomes, sugere um retorno à teoria realista, com ênfase no estudo da estrutura dos Direito Reais. Assim, ao invés de 
se prender ao aspecto externo de tais direitos, deve-se levar em consideração a sua estrutura interna, salientando-se que o poder de 
utilização da coisa, sem intermediário, é o que caracteriza os Direitos Reais (Gomes, Orlando. Ob. Cit. p. 5). 
 Nelson Rosenvald e Cristiano Farias formulam proposta de cunho híbrido. Os autores diferenciam direito subjetivo 
de pretensão, para concluir que a relação de direito real, enquanto situação estática, é absoluta, apresenta sujeitos indeter minados 
(porém determináveis) e representa a posição de domínio de alguém sobre uma coisa, pois o sujeito ativo titulariza direito subjetivo; por 
outro lado, uma vez violado o direito subjetivo e, consequentemente originada a pretensão, a relação jurídica de direito real passa a 
apresentar sujeito determinado, tendo o lesado a faculdade de reclamar o exercício do conteúdo do direito subjetivo em face do sujeito 
que o desrespeitou (Direitos Reais. 6ª Ed. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 16). 
 Direitos Reais podem ser definidos como o conjunto de normas reguladoras das relações jurídicas que possuem como objeto 
as coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. 
 A importância dos Direitos Reais decorrer do fato de tratar da parte do Direito Civil que regula a propriedade. 
3. CARACTERÍSTICAS: 
a) Absolutismo2, oponibilidade ou eficácia “erga omnes”: prerrogativa de seu titular de opô-los a qualquer pessoa indistintamente. 
Contudo, o exercício do Direito Real, até mesmo o e propriedade, deverá sempre ser condicionado pela ordem positiva e pelo interesse 
social. 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
... 
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou 
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; 
... 
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se 
houver dano; 
 
 
1 “Coisa” é o gênero do qual bem espécie. ” Bem” é a coisa útil e rara, suscetív el de apropriação pelo homem. 
2 Enunciado nº 274, das Jornadas de Direito Civil: “Os direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo CC, são expressões da cláusula geral de tutela 
da pessoa humana, contida no art. 1.º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os 
demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação”. 
Segundo Fláv io Tartuce, “a ponderação é técnica argumentativ a de grande utilização pelos aplicadores do Direito na atualidade, tendo sido adotada 
ex pressamente pelo art. 489, § 2.º, do Novo CPC, in verbis: “No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, 
enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão”. Essa nova previsão legal dev e ampliar o 
seu uso nos próx imos anos, na opinião deste autor. Pois bem, se essa mitigação atinge até os direitos da personalidade, tidos como fundamentais por sua posição 
constitucional, o que dizer então dos direitos reais, uma vez que existem claras restrições prev istas em lei, sendo a mais inv ocada a função social da propriedade, 
prev ista no art. 5.º, XXIII, da CF/88? De forma clara é possív el a relativ ização, sopesando-se o melhor caminho de acordo com o caso concreto” . 
 
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Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 
 
“O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que 
lhe é inerente (CF, art. 5.º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas 
e os procedimentos fixados na própria Constituição da República. O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o aproveitamento racional e adequado do 
imóvel rural, a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente constituem elementos de realização da função 
social da propriedade” (STF, ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 04.04.2002, DJ 23.04.2004). 
 
 “A atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. A incolumidade do 
meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se 
se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre out ros princípios gerais, àquele que 
privilegia a „defesa do meio ambiente‟ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente 
cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza 
constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que 
provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos aopatrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural” (STF, ADI 3.540/MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 1.º.09.2005, DJ 03.02.2006). 
b) Direito de sequela: prerrogativa concedida ao titular de direito real de seguir a coisa nas mãos de quem quer que a detenha, de 
apreendê-la para sobre ela exercer o seu direito real. 
Direito real (privativo dos direitos reais) → legitimação para perseguir a coisa onde quer que se encontrem. 
 ↑ 
Vínculo se prende de maneira indelével a coisa e dela não se desliga nem pelo fato de 
ocorrerem alienações subsequentes. 
 ↑ 
Necessidade de exigência de ampla publicidade na constituição de direito real. 
 ↓ Bens → móveis → tradição → oneração 
 → imóveis → registro público de ônus reais → oneração 
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL. BEM DE FAMÍLIA. IMÓVEL LOCADO. PENHORA. JURISPRUDÊNCIA DO STJ. 
IMPOSSIBILIDADE. PROVIMENTO. I. A orientação predominante nesta Corte é no sentido de que a impenhorabilidade prevista na Lei nº 8.009/90 se 
estende ao único imóvel do devedor, ainda que este se ache locado a terceiros, por gerar frutos que possibilitam à família constituir moradia em outro bem 
alugado ou utilizar o valor obtido com a locação desse bem como complemento da renda familiar. II. Recurso especial c onhecido e provido. (REsp 
714.515/SP. Rel. Ministro Aldir Passarinho. Quarta Turma do STJ, julgado em 10/11/2009, DJe 07/12/2009). 
Súmula 486, STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida 
para a subsistência ou a moradia da sua família. 
Súmula 364, STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. 
 Entendimento do STJ sobre o bem de família: 
I. A impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, III, da Lei nº 8.009/90 não pode ser oposta ao credor de pensão alimentícia decorrente de vínculo familiar ou 
de ato ilícito. 
II. Os integrantes da entidade familiar residentes no imóvel protegido pela Lei nº 8.009/90 possuem legitimidade para se insurgirem contra a penhora do bem de família. 
III. A proteção contida na Lei nº 8.009/1990 alcança não apenas o imóvel da família, mas também os bens móveis indispensáveis à habitabilidade de uma residência e os 
usualmente mantidos em um lar comum. 
IV. É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a 
moradia da sua família (Súmula 486/STJ). 
V. A v aga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóv eis não constitui bem de família para efeito de penhora. (Súmula 449/STJ) 
VI. O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóv el pertencente a pessoas solteiras, separadas e v iúv as. (Súmula 364/STJ) 
VII. A impenhorabilidade do bem de família é oponív el às ex ecuções de sentenças cív eis decorrentes de atos ilícitos, ex ceto nas hipóteses em houv e o prév io 
reconhecimento do ato na esfera penal. 
VIII. A ex ceção à impenhorabilidade prev ista no artigo 3º, II, da Lei nº 8.009/90 abrange o imóv el objeto do contrato de promessa de compra e v enda inadimplido. 
c) Exclusividade: não podem existir 2 (dois) direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa. Nos direitos reais sobre coisas 
alheias, há dois sujeitos: o dono e o titular do direito real. Mas, em razão do desmembramento da propriedade, cada um deles exerce, 
direta e imediatamente, sobre a coisa, direitos distintos, vale dizer, sem a intermediação do outro. No caso do usufruto, por exemplo, o 
usufrutuário tem direito aos frutos, enquanto o nu-proprietário conserva o direito à substância da coisa. Os direitos pessoais, todavia, 
admitem amplamente a unidade ou a pluralidade de seus sujeitos, tanto ativos como passivos. 
d) Preferência, inerência ou aderência: privilégio de obter o pagamento de uma dívida com o valor do bem aplicado exclusivamente à 
sua satisfação. Havendo concurso entre credores, o credor que possui direito real, irá retirar o seu bem do âmbito de atuação dos 
demais. Trata-se de característica oriunda da sequela, assim como esta o é do absolutismo. 
 Os direitos reais se sobrepõem aos direitos obrigacionais, tendo poder de excluir estes últimos. Ex: João deve à José e 
Joaquim, no entanto, José é credor real, tendo, portando a preferência no que diz respeito aos valores do bem que suporta o gravame 
real. Mas, no concurso entre credores reais prevalece aquele que efetuou o primeiro registro. 
E se o valor do bem não for suficiente? O credor real se converte em quirográfico (obrigacional) . Contudo, a preferência dos 
direitos reais tem sido mitigada créditos que contam com privilégios legais (ex: decorrentes de acidentes trabalhistas) 
e) Tipicidade ou legalidade: os direitos reais são normas de ordem pública, possuindo rol taxativo (numerus clausus), localizado no art. 
1.225 do CC. 
Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente 
comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real 
de uso; e (Redação dada pela MP nº 700, de 2015) Vigência encerrada XII - a concessão de direito real de uso; e XIII - a laje. 
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 Não é dado às partes criar uma nova espécie de direito real, visto que em razão das garantias que os cercam, os interesses 
de terceiros poderiam ser facilmente lesados. Atente-se isto não reduz o número de direitos reais ao que dispõe o atual artigo, podendo 
ser criado e contemplado em outras legislações. 
 A situação jurídica de inflexão criada sobre o bem chega a tamanha profundidade que nas servidões há efetivamente um 
vínculo estabelecido diretamente entre as coisas, necessitando apenas da diversidade de titulares para sua existência. 
 O direito real da laje ou a laje era reivindicado a muito pela doutrina, comum em áreas de populosas de baixa renda, como as 
favelas, sendo por vezes tratado como uma possível projeção do direito de superfície. A Corregedoria-Geral de Justiça do TJBA já 
tratara em 2011, em sua I Jornada de Direito de Família, conduzida por Pablo Stolze, do reconhecimento de tal situação: 
Enunciado n° 18, CGJ/TJBA: “Nos termos do regime de bens aplicável, admite-se, em nível obrigacional, a comunicabilidade 
do direito sobre a construção realizada no curso do casamento ou da união estável - acessão artificial socialmente conhecida 
como “direito sobre a laje” -, subordinando-se, todavia, a eficácia real da partilha ao regular registro no Cartório de Imóveis, a 
cargo das próprias partes, mediante recolhimento das taxas ou emolumentos e tributos devidos”. 
Agora, regulado no art. 1.510, ganha vida o direito de laje como um direito real registrável. 
 O direito real deve estar previsto em lei, mas não necessariamente no CC, podendo estar em leis esparsas. Havia um exemplo 
na concessão de uso, direito real criado pela Lei nº 271, de 28/02/1967. 
 Existe uma corrente minoritária que afasta a taxatividade, entendendo que são passíveis de criação pe la autonomia privada, e 
que são direitos reais o direito de retenção (art. 516 do CC), a retrovenda art. 505 do CC) e o contrato de multipropriedade. 
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MULTIPROPRIEDADE IMOBILIÁRIA (TIME-SHARING). NATUREZA 
JURÍDICA DE DIREITO REAL. UNIDADES FIXAS DE TEMPO. USO EXCLUSIVO E PERPÉTUO DURANTE CERTO PERÍODO ANUAL. PARTE IDEAL DO 
MULTIPROPRIETÁRIO. PENHORA.INSUBSISTÊNCIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. O sistema time-sharing ou multipropriedade 
imobiliária, conforme ensina Gustavo Tepedino, é uma espécie de condomínio relativo a locais de lazer no qual se div ide o aprov eitamento econômico de 
bem imóv el (casa, chalé, apartamento) entre os cotitulares em unidades fixas de tempo, assegurando-se a cada um o uso exclusivo e perpétuo durante certo 
período do ano. 2. Ex tremamente acobertada por princípios que encerram os direitos reais, a multipropriedade imobiliária, nada obstante ter feiç ão 
obrigacional aferida por muitos, detém forte liame com o instituto da propriedade, se não for sua própria ex pressão, como já v em proclamando a doutrina 
contemporânea, inclusive num contexto de não se reprimir a autonomia da vontade nem a liberdade contratual diante da preponderância da tipicidade dos 
direitos reais e do sistema de numerus clausus. 3. No contexto do Código Civil de 2002, não há óbice a se dotar o instituto da multipropriedade imobiliária de 
caráter real, especialmente sob a ótica da tax atividade e imutabilidade dos direitos reais inscritos no art. 1.225. 4. O vigente diploma, seguindo os ditames do 
estatuto civ il anterior, não traz nenhuma vedação nem faz referência à inv iabilidade de consagrar nov os direitos reais. Além disso, com os atributos dos 
direitos reais se harmoniza o novel instituto, que, circunscrito a um vínculo jurídico de aproveitamento econômico e de imediata aderência ao imóv el, detém 
as faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem, ainda que objeto de compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e turnos fix os 
de tempo. 5. A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito real, harmonizando-se, portanto, com os 
institutos constantes do rol prev isto no art. 1.225 do Código Civil; e o multiproprietário, no caso de penhora do imóv el objeto de compartilhamento espaço-
temporal (time-sharing), tem, nos embargos de terceiro, o instrumento judicial protetivo de sua fração ideal do bem objeto de constrição. 6. É insubsistente a 
penhora sobre a integralidade do imóvel submetido ao regime de multipropriedade na hipótese em que a parte embargante é titular de fração ideal por conta 
de cessão de direitos em que figurou como cessionária. 7. Recurso especial conhecido e prov ido. (REsp nº 1.546.165 - SP (2014/0308206-1) Rel. Min. 
Ricardo Villas Bôas Cueva R.P/Acórdão: Min. João Otávio de Noronha. Recorrente: Magnus Landmann Consultoria Empresarial Ltda. – ME. Adv. Lívia Paula 
da Silv a Andrade Villarroel e outros(s). Recorrido: Condomínio Week Inn. Adv .: Sem Representação nos autos. Interes.: Jorge Karam Incorporações e 
Negócios S/C Ltda.) 
E a Lei nº 11.977/2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha Vida, trata em seu art. 59 da legitimação da posse 
que, devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis, constitui direito em favor do detentor da posse direta para fins de 
moradia. Tal instituto será concedido aos moradores cadastrados pelo poder público, desde que: a) não sejam concessionários, foreiros 
ou proprietários de outro imóvel urbano ou rural; e b) não sejam beneficiários de legitimação de posse concedida anteriormente. 
Reconhecido o instituto como um direito real, como realmente parece ser, verifica-se que ele amplia o rol do art. 1.225 do CC/2002. 
Enunciado nº 563, das Jornadas de Direito Civil: “O reconhecimento da posse por parte do Poder Público competente anterior à sua legitimação nos termos 
da Lei nº 11.977/2009 constitui título possessório”. 
Enunciado nº 593, das Jornadas de Direito Civil: “É indispensável o procedimento de demarcação urbaníst ica para regularização fundiária social de áreas 
ainda não matriculadas no Cartório de Registro de Imóveis, como requisito à emissão dos títulos de legitimação da posse e de domínio”. 
4. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS3: 
a) Quanto a propriedade do bem: 
I. Direitos reais sobre coisa própria (somente a propriedade); 
II. Direitos reais sobre coisa alheia → direitos reais de gozo e fruição (superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, direito do 
 promitente comprador, concessão de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito 
 real de uso); 
 → direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese); 
 → direitos reais de aquisição. 
b) Quanto aos poderes do titular do direito real: 
I. Direitos reais limitados: o proprietário recebe apenas algumas faculdades inerentes a propriedade. 
II. Direitos reais ilimitados: o proprietário reúne todas as faculdades inerentes a propriedade (uso, gozo, disposição e reinv indicação). 
5. DIFERENÇAS ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS OBRIGACIONAIS: 
 
3 Observ a Lafayette5 que, embora a posse jurídica não seja um direito real, senão um fato, costumam os escritores, todavia, incluí-lá no direito das coisas, dando-lhe a 
precedência na ordem das matérias, considerando que ela põe o homem em contato com as coisas corpóreas, gera direitos relativos a tais coisas e, pela maneira como 
funciona, usurpa as exterioridades do domínio. Malgrado a posse se distinga da propriedade, o possuidor encontra-se em uma situação de fato, aparentando ser o 
proprietário. Como o legislador deseja proteger o dominus, protege o possuidor, por ex ercer poderes de fato inerentes ao domínio ou propriedade. 
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 Segundo as teorias negativistas (Thon, Schlossmann, Demogue), não há diferença entre direitos pessoais e reais. Os direitos 
reais não passam de técnica jurídica para restringir comportamentos. Essa teoria não é mais aceita pela doutrina moderna. 
 Segundo a teoria personalista (clássica), o direito real é uma proteção da personalidade sobre a coisa. A relação jurídica que 
envolve direito real é estabelecida entre pessoas, no polo ativo está o titular do direito real e no polo passivo há o que a doutrina chama 
de sujeito passivo universal. O exercício do direito real é feito diretamente sobre a coisa, sem intermediários (relação direta entre o 
titular e o objeto). 
 Contudo, falar em sujeição passivo universal é artificial e implica em um individualismo não mais aceito pelo Estado do Bem 
Estar Social; há a criação de um vínculo jurídico para pessoas que não manifestaram vontade em participar da relação jurídica ; a 
sujeição passivo universal nada mais é do que uma regra de conduta traduzida principalmente em um non facere, o que esvaziaria a 
distinção entre direitos reais e direitos pessoais. 
 Segundo a teoria realista, o direito real é o poder imediato sobre a coisa, sem qualquer tipo de intermediação. Não há que se 
falarem sujeição passiva universal, pois significaria transpor um vínculo jurídico a pessoas estranhas à relação. Há um direito subjetivo 
oponível erga omnes, sem que haja, em abstrato, um sujeito passivo determinado. 
 Contudo, não há relação senão entre duas pessoas; a oponibilidade erga omnes não é característica exclusiva dos direitos 
reais, mas de qualquer direito absoluto, como os direitos da personalidade. 
 A teoria personalista, apesar das críticas, é a que tem maior receptividade na doutrina. Contudo, mesmo os de fensores da 
teoria personalista revelam que há forte tendência em que a diferença entre direitos reais e diretos pessoais desapareçam. Ne lson 
Rosenvald e Cristiano Farias aponta a chamada obrigacionalização do direito das coisas, na medida em que todos os direitos reais, 
sem extinção, abrigam em sua estrutura uma relação jurídica de direito real (pautada pela situação de domíniodo titular sobr e a coisa) 
e outra relação jurídica de direito obrigacional (na relação jurídica de conteúdo intersubjetivo, envolv endo uma necessária cooperação 
entre o titular de direito real e a a coletividade). 
Direitos Reais Direitos Pessoais Patrimoniais 
Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativ o) e uma coisa. O 
sujeito passiv o não é determinado, mas é toda a coletiv idade 
Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativ o – credor) e outra 
(sujeito passiv o – dev edor) 
Absolutos (eficácia erga omnes) Relativ os (eficácia entre as partes) 
Princípio da publicidade (tradição e registro) Princípio da autonomia priv ada (liberdade) 
Efeitos erga omnes. Os efeitos podem ser restringidos Efeitos inter partes. Há uma tendência de ampliação dos efeitos 
Rol tax ativ o (numerus clausus), segundo a visão clássica – art. 1225 
CC 
Rol ex emplificativ o (numerus apertus) – art. 425 CC – criação dos 
contratos atípicos 
A coisa responde (direito de sequela) Os bens do dev edor respondem (princípio da responsabilidade 
patrimonial) 
Caráter permanente. 
Instituto típico: propriedade 
Caráter transitório, em regra, o que vem sendo mitigado pelos contratos 
relacionais ou cativ os delonga duração. Instituto típico: contrato 
 Por outro lado, relações há que são similares aos direitos reais, mas que com eles não se confundem: 
Obrigações propter rem, mistas, reipersecutórias ou ambulatórias Obrigações com efeitos reais Ônus reais 
Relações de direito obrigacional que apontam seu titular a partir de um 
determinado bem. Enquanto este bem não possuir um titular, elas não 
se configuram (como as tax as condominiais e os direitos de 
v izinhança, por ex emplo). Tem caráter híbrido (direitos reais e 
pessoais), com características de ambos, podendo ser de natureza 
negativ a ou positiv a. 
 Decorrem de um direito real decorrente de lei (ex lege), e não da 
v ontade do titular do direito (ex voluntate). 
 Não se prende necessariamente ao registro, e.g., se o 
promissário comprador não registra o imóv el, há a obrigação de 
pagamento das obrigações decorrentes do exercício da propriedade? 
 Dev edor responde com todo o seu patrimônio. 
Relação de natureza 
essencialmente obrigacional faz uso 
de um efeito (ou mais de um) 
natural dos direitos reais. Pode-se 
ex emplificar com o direito de 
preferência dos contratos de 
locação; 
Representam gênero do qual as obrigações propter 
rem são espécie e se caracterizam por incutir sobre a 
própria coisa um grav ame que limita o pleno 
ex ercício do direito de propriedade. Por ser oponív el 
contra todos, mantém faceta de direito real. 
 A responsabilidade é limitada ao bem onerado, 
e ao v alor deste. 
6. OBJETO DO DIREITO DAS COISAS: 
 O objeto de direito real tanto pode ser uma coisa corpórea, móveis ou imóveis, quanto incorpóreas (direito real sobre 
direito). 
 O direito real também pode ter como objeto as produções do espírito humano nos domínios das letras, das artes, da 
ciência, ou de indústria. Fala-se então em propriedade literária, artística, científica e industrial. Contudo, os direitos de propriedade 
intelectual têm sido entendidos atualmente como direitos sui generis, pois envolvem conteúdo patrimonial (com fortes características de 
direito real) e conteúdo extrapatrimonial. 
Clóvis Beviláqua: o direito das coisas, ramo do direito civil que se ocupa dos direitos reais, consiste no conjunto das normas que regem 
as relações jurídicas referentes à apropriação dos bens corpóreos pelo homem (apud GOMES, Orlando. Direitos Reais. P.2). 
Silvio Venosa: como o direito subjetivo, o direito de senhoria é poder outorgado a um titular; requer, portanto, um objeto. O objeto é a 
base sobre a qual se assenta o direito subjetivo, desenvolvendo o poder de fruição da pessoa com o contato das coisas que nos 
cercam no mundo exterior. Nesse raciocínio, o objeto do direito pode recair sobre coisas corpóreas (imóvel) ou incorpóreas (p rodutos 
do intelecto, e.g., direitos do autor, de invenção). O direito das coisas estuda precipuamente essa relação de senhoria, de poder, de 
titularidade, esse direito subjetivo que liga a pessoas às coisas (...) Os direitos reais regulam as relações jurídicas relativas às coisas 
apropriáveis pelos sujeitos de direito. 
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7. SUJEITOS: 
a) Ativo: titular do direito subjetivo absoluto sobre o bem. Pode exercer o direito de sequela e será sempre possuidor (ainda que, que 
dependendo do desdobramento da relação possessória, seja possuidor indireto). 
b) Passivo: sobre quem recai o dever de respeito ao exercício do direito pelo sujeito ativo (sujeição passiva universal). 
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: 
GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil, volume único / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 
2017.

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