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GENÉTICA DO CÂNCER Profa. Dra. Bethânia Amaral MÓDULO 3 O QUE É CÂNCER? Definição do INCA: “Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.” A palavra câncer vem do grego karkínos, que quer dizer caranguejo, e foi utilizada pela primeira vez por Hipócrates, que viveu entre 460 e 377 a.C. NOMENCLATURA A neoplasia é identificada pelo tecido ou célula que está proliferando : 1) Sufixo -OMA é empregado na denominação de qualquer neoplasia, benigna ou maligna; 2) A palavra CARCINOMA – tumor maligno que reproduz epitélio de revestimento. ADENOCARCINOMA – tumor de glândulas 3) A palavra SARCOMA – neoplasia maligna mesenquimal Osso, músculo ou tecido conjuntivo 4) A palavra BLASTOMA – sinônimo de neoplasia; quando usado como sufixo indica que o tumor reproduz estruturas com características embrionárias 5) Neoplasias Hematopoéticas e Linfóides Leucemias e linfomas Órgãos linfoides -- Linfoma GENÉTICA DO CÂNCER "Câncer é, essencialmente, uma doença genética. Embora o câncer seja complexo e fatores não genéticos e ambientais desempenham claramente um papel em muitas etapas do processo neoplásico, o tremendo progresso na compreensão da tumorigênese, em grande parte, é devido à descoberta dos genes que, quando mutados, levam ao câncer. “ Bert Vogelstein et al. (1988) NEJM 1988; 319:525-532. Doença genética das células somáticas Dependente do acúmulo de alterações no DNA (mutações). Perda do equilíbrio: Proliferação Celular X Apoptose. Petrelli e Toledo, 2001 Vírus (HPV, Epstein-Barr) Radiações (UV, Raio X, etc) Substâncias químicas Herança Familiar O CÂNCER SURGE DE MUTAÇÕES GÊNICAS PRINCIPAIS CLASSES DE GENES - ONCOGÊNESE Proto-oncogênese (ONCOGENES): ↝ Controle positivo da proliferação de diferenciação celular. ↝ Atuação dominante. Genes Supressores Tumorais (GST): ↝ Regulação negativa da proliferação de diferenciação celular. ↝ Comportamento recessivo. Genes de Reparo do DNA (MUTATOR GENES): ↝ Garantir a integridade da informação genética, controlam as taxas de mutações. ↝ Estão relacionados com a instabilidade cromossômica. ↝ Comportamento recessivo. PROTO-ONCOGENES ONCOGENES PROTO-ONCOGENES são versões normais de genes envolvidos na regulação dos processos de crescimento celular – ONCOGENE (versão mutada/ativada). FUNÇÕES DOS PROTO-ONCOGENES: - Promovem a divisão celular - Previnem a morte celular (apoptose) MUTAÇÕES QUE TRANSFORMAM UM PROTO-ONCOGENE EM UM ONCOGENE: * Tornam o gene constitutivamente ativo * Mutações que o tornam ativo sobre condições nas quais o gene tipo-selvagem (normal) não o é. * Normalmente são mutações de ganho de função e dominantes GENES SUPRESSORES DE TUMOR FUNÇÕES DOS GENES SUPRESSORES DE TUMOR: - Bloqueiam a divisão celular - Induzem a morte celular (apoptose) - Mutações: * Reduzem a atividade do produto gênico * Normalmente são mutações perda de função e recessivas * Algumas mutações conferem vantagem seletiva de crescimento celular quando apenas um alelo de um supressor de tumor está inativado (haploinsuficiência) Ex: - Mutações missense em resíduos de aminoácidos que são essenciais para sua atividade - Translocações que resultam numa proteína truncada - Deleções ou inserções que alteram a sequência dos aminoácidos provocando perda da função normal da proteína - Silenciamento epigenético que inativam estes genes GENES DE ESTABILIDADE E REPARO DO DNA (MUTATOR GENES) FUNÇÕES DOS MUTATOR GENES: - Diminuem a frequência de mutações aleatórias no DNA - Responsáveis por reparar erros durante a replicação normal do DNA ou mesmo erros induzidos por exposição à agentes mutagênicos. - Reparam erros em grandes processos como a recombinação e segregação cromossômica. - Os produtos destes genes mantêm alterações genéticas à uma taxa mínima - Mutações: * Reduzem a atividade do produto gênico ou inativam * Provocam mutações nos outros genes (proto-oncogenes e supressores de tumor) em alta taxa Mutações em Oncogene Genes Supressores de Tumores e genes da apoptose Genes da Mobilidade Celular Acúmulo de mutações Produzem CÉLULA NORMAL TRANSFORMAÇÃ O MALÍGNA CÉLULA PRÉ CANCEROSA SELEÇÃO DE CLONES ATÍPICOS ONCÓCITO - CÉLULA TRANSFORMADA PROLIFERAÇÃO LOCAL CARCINOMA IN SITU INVASIBILIDADE CÂNCER A CASCATA DA CARCINOGÊNESE VERSUS A QUEBRA DE VARIAS REPRESAS Os defeitos herdados no reparo do DNA levam a alta freqüência de mutações somáticas. Quando estas mutações afetam vias que regulam a proliferação celular pode surgir um tumor DNA mutator gene Mutações: capacidade proliferativa resposta à apoptose taxa de mutação QUANTAS MUTAÇÕES SÃO NECESSÁRIAS PARA O CÂNCER? Neoplasia Localização Oncogenes RET MET Tireóide Cel. Renal 10q11.2 7q31 GST RB1 CDKN2 Retinoblastoma Melanoma 13q14.3 9p21 GRDNA TP53 BRCA1 BCRA2 XPB Sarcomas, Mama Mama X. pigmentoso 17p13.1 17q21 13q12 2q21 EUPLOIDIAS A alteração é multiplo exato do número haplóide (n). Ex: 69,XXX (triplóide para n=23) ; 92,XXYY (tetraplóide) TRUJILLO et al. (1971) ANEUPLOIDIAS aumento ou diminuição de um ou mais pares de cromossomos, mas não de todos. Ex: Trissomias (+21/+13/+18) (+8/+22/+11), tetrassomias, monossomias (-X) (-5/-7) TRISSOMIA MONOSSOMIA DISSOMIA TRI MONO Translocações, inversões, deleções e duplicações, isocromossomos, cromossomos em anel etc (SCHNITTGER et al, 2002). GENES ATINGIDOS (a) Fatores transcricionais (b) Componentes reguladores de complexos transcricionais GENES-ALVO (a) (b) Diferenciação Proliferação Apoptose Mais comum Dificil diagnóstico citogenética Múltiplas alterações cromossômicas Alterações freqüentes deleções, adições e marcadores. Menos frequente Alterações específicas Alterações freqüentes translocações recíprocas Tumores Sólidos Neoplasias Hematopoiéticas e Linfomas Alterações Cromossômicas Doença Alteração Genes Grupo FAB Leucemia mielóide crônica (LMC) t(9;22)(q34;q11) ABL;BCR M1 e M2 Leucemia mielóide aguda (LMA) t(8;21)(q22;q22) ETO;AML1 M2 Leucemia linfoblástica aguda (LLA) t(4;11)(q21;q23) AF4;MLL L1,L2 Leucemia linfoblástica crônica (LLC) t(11;14)(q13;q32) BCL1;IGH - Leucemia promielocítica (LMA) t(15;17)(q22;q11-21) PML;RARA M3 Linfoma de Burkitt t(8;14)(q24;q32) MYC;IGH - Translocação t(8;21)(q22;q22) der(8) der(21) • 1º rearranjo especificamente identificado no câncer humano (LMA); • ≈ 12% casos LMA 90% LMA-M2 • Genes envolvidos: AML1 (21) e ETO (8); • AML1 CBFα (CBFα/CBFβ): liga-se as regiões moduladoras da transcrição dos genes-alvo do AML1 no DNA (genes essenciais às etapas da diferenciação ascéls hematopoéticas); • ETO fator de transcrição c/ domínio de ligação ao DNA do tipo “zinc finger” (pulmão, cérebro e gônadas) (DOWNING, 2003). t(8;21) AML1 ETO Crm(16) CBFβ Inibição da capacidade do AML1 selvagem dirigir a maturação e desenvolvimento normais das céls hematopoéticas • Boa resp. a quimioterapia • ↑ SLD com relativa chance de cura LMC t(9;22) BCR/ABL tirosina quinase Fosforilação descontrolada Proliferação celular Inversão inv(16)/t(16;16)(p13;q22) 13 13 12.1 11.2 11.2 12 der(16) • Associada LMA-M4Eo (leucemia mielomonocítica c/ eosinofilia); • Genes envolvidos: CBFβ e MYH11; • CBFβ CBFβ (CBFα/CBFβ) • MYH11 cadeia pesada da miosina de musculatura lisa (DOWNING, 2003). inv(16) CBFβ MYH11 Crm(21) AML1 Bloqueio da regulação dos genes essenciais às etapas da diferenciação das céls hematopoéticas • Bom prognóstico • Boa resp. a quimioterapia t(15;17)(q22;q12) PML-RARα Gene da leucemia promielocítica / Gene do receptor alfa do ácido retinóico Alteração exclusiva das LMA-M3 e M3v (leucemia promielocítica aguda), encontrada em ≈95% destes casos (Mistry et al., 2003) Coagulopatia semelhante a CID FATAL!!! + ATRA ++++ ATRA RxR RARα N-COR/SMRT HDAC Co-repress. DNA RxR RARα Co-ativad. HAT RARα RxR ou PML- RARα PML N-COR/SMRT HDAC Co-repress. RxR ou PML- RARα RARα PML Co-ativad. HAT 1º exemplo de terapia alvo-molecular no tratamento das leucemias Importância da confirmação genética para o direcionamento terapêutico Condição fisiopatológica complexa Estado hipercoagulativo ativação inapropriada da cascata de coagulação Eventos de trombose vascular e hemorragias simultâneas Principais órgãos afetados: pulmões e SNC Wang and Chen, 2008 Síndrome de Down risco de leucemia; Síndrome de Klinefelter câncer de mama Síndrome de Turner câncer de ovário Ataxia-telangiectasia leucemia, tumores cerebrais e câncer de estômago. Sindrome de Li Fraumeni risco de câncer em geral (mama, leucemias, osteosarcomas, tumores cerebrais) p53 (17q13) Síndrome de Bloom leucemias, linfomas e carcinomas (instabilidade cromossômica) mutação no gene BLM (15q26.1) Tumor maligno da retina na infâcia 1 em 20.000 nascimentos O gene RB1 13q14 Proteína p110 RB1 110 KD c/ 928 aa 40% hereditária A criança herda um alelo mutante no lócus do retinoblastoma (RB1) linhagem germinativa. Mutação somática em uma única célula da retina leva a perda de função do alelo normal desenvolvimento do tumor. 60% esporádica Ambos os alelos RB1 em uma única célula da retina foram inativados por mutações somáticas. Retinoblastoma Alta incidência de outros tumores (osteossarcoma, fibrossarcoma e melanoma). 3% dos casos têm deleção citogeneticamente visível. A maioria surge por mutações de ponto ou pequenas deleções. 47,XX,+1,dup(5)(q11.2;q35),+i(6p),del(13)(q12;q14),add(14)(q32),dic(15;22)(p11.1;q13),-16,+mar Soares-Ventura et al. (2006) Soares-Ventura e cols., 2006 Sonda 6(p): i(6p); > +mar. ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS TUMORES BENIGNOS Alterações não estão restritas as malignidades Alguns tumores benignos (adenomas de glândula salivar, leiomioma uterino, pólipos, etc) mostraram alterações cromossômicas. Alterações t(12;14). Deleção 7q22 Técnicas Citogenéticas Usadas na Identificação das Alterações Cromossômicas em Diferentes Tipos de Câncer Bandeamento G Hibridização in situ Fluorescente (FISH) Variantes da FISH M-FISH, MCB Bandeamento G – Hiperdiplóide: 52,XX,+4,+6,+9,+19,+21,+22 3º caso reportado desta alteração e 1º descrito em paciente pediátrico Soares et al (2006) Sonda para o rearranjo AML1/ETO, específica para a t(8;21), confimando a variante complexa LMC Ph Ph - Ph + M-FISH de linhagem celular de carcinoma hepático M-FISH de linhagem celular de câncer de mama humano SMD/LMA. A)bandeamento G mostrando cariótipo parcial com r(7); B) MCB 7 mostra o r (7) OBRIGADA !! Dúvidas
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