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Apostila Constitu EC 96 de 2017

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1 
 
Curso completo de Direito Constitucional 
Professora. Sabrina Araújo Feitoza Fernandes Rocha 
Atualizada até a EC n° 96 de 06/06/2017. 
 
Esta apostila não é de autoria pessoal, pois foi produzida através das 
obras de doutrinadores constitucionalistas, dentre eles Ivo Dantas, J. 
J. Gomes Canotilho, José Afonso da Silva, Paulo Bonavides, Celso D. 
de Albuquerque Mello, Luís Roberto Barroso, Walber de Moura Agra, 
Reis Friede, Michel Temer, André Ramos Tavares, Sérgio Bermudes, 
Nelson Oscar de Souza, Alexandre de Moraes, Nelson Nery 
Costa/Geraldo Magela Alves, Nagib Slaibi Filho, Sylvio Motta & 
William Douglas, Henrique Savonitti Miranda e tomou por base a 
apostila do Prof. Marcos Flávio, com os devidos acréscimos pessoais. 
 
PONTO 1 – TEORIA GERAL DO ESTADO E DA CONSTITUIÇÃO 
 
 Faz-se premente ao estudioso deste ramo do direito, noções prévias 
do Estado e seus elementos indispensáveis, para uma boa apreensão dos 
conteúdos do Direito Constitucional. 
 
1 - Conceito de Estado 
 
1.1 -Corresponde à organização de um povo, localizado estavelmente sobre 
um território, sob o comando de um único poder. O Estado da idade 
contemporânea tem como principal característica o fato de ser um ente 
político com um governo institucionalizado, ou seja, politicamente organizado. 
 
 1.2 - É uma sociedade política, organizada juridicamente, com o objetivo de 
alcançar o bem comum. 
 
 1.3 - O Estado é uma sociedade política, organizada juridicamente, com o 
objetivo de alcançar o bem comum. 
 
Costuma-se definir Estado como sociedade politicamente organizada. Fica 
mais fácil entender o Estado a partir do conhecimento dos elementos que o 
compõe. Desta forma, Estado é um ente constituído de um povo (elemento 
sociológico) organizado sobre um território (elemento físico), sob o comando 
de um governo soberano (elemento político – Poder), para fins de defesa, 
ordem e bem-estar. 
 
2 - Elementos constitutivos do Estado: Povo - Território - Governo 
Soberano (a soberania é uma característica deste elemento, que se bifurca 
em dois tipos: soberania interna e soberania externa) 
 
 Há divergência entre autores sobre os elementos constitutivos do 
Estado. A maioria opta pelos três elementos acima. Quanto aos elementos povo 
e território há quase unanimidade. Existe alguma variação sobre o terceiro: é 
citada soberania, governo, poder soberano, poder estatal. Contudo optamos pelo 
governo soberano pois nada valeria se houvesse o Poder e ele não pudesse se 
impor dentro da sua circunscrição. Assim, a soberania é uma característica 
indispensável do elemento Poder. 
2 
 
 
. Povo: é o conjunto de pessoas unidas ao Estado pelo vínculo jurídico da 
nacionalidade. São, no caso do Brasil, os brasileiros natos e os brasileiros 
naturalizados, que estudaremos adiante. A força de um Estado se faz pelo 
número de seus integrantes. 
 
. Território: é o elemento físico, compreende o espaço terrestre, que se 
estende ao subsolo; o mar territorial (doze milhas marítimas a partir da linha de 
baixa-mar do litoral continental, art. 1º e 2º da lei 8.617, de 4-1-1993); o espaço 
aéreo (coluna de ar sobrejacente aos espaços terrestre e mar territorial); a zona 
econômica exclusiva (faixa das 12 as 200 milhas marítimas, nesta o Brasil 
exerce direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento para fins 
econômicos, arts. 5º e 6º, lei 8.617/93); e as aeronaves e as embarcações 
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde 
quer que se encontrem (art. 5º, §1º do Código Penal). Embaixadas, 
consulados e qualquer lugar onde as leis brasileiras devam ser observadas e 
aplicadas. Segundo Hans Kelsen o território corresponde ao âmbito de 
validez da ordem jurídica. 
 
. Governo Soberano: é o elemento político, caracterizado pelo poder que 
permite aos Estados conduzirem-se na escolha de seus destinos segundo 
a vontade de seu povo de maneira suprema na ordem interna e independente 
(em pé de igualdade) frente aos demais Estados. É derivada da 
autodeterminação dos povos. Há alguns autores que denominam este terceiro 
elemento de Soberania; outros Poder soberano, como já esclarecido acima, o 
que importa é a possibilidade de impor regras de condutas internas em prol do 
coletivo e ser respeitado pelos outros Estados soberanos. 
 
3 - O Estado e suas funções 
 
 O Poder é manifestação da soberania. Tem razão Michel Temer ao 
dizer que se equivocam os que utilizam a expressão "tripartição dos poderes". É 
que o poder tem por características a unidade, a indivisibilidade e a 
indelegalibilidade. A distinção que existe é entre funções e entre os órgãos que 
desempenham tais funções. 
 
 A vontade estatal ou governamental, segundo a teoria clássica 
sistematizada por Montesquieu, manifesta-se através dos Poderes do Estado. 
O princípio da separação dos poderes foi inicialmente concretizado na 
Constituição dos Estados Unidos de 1787. Tornou-se com a Revolução 
Francesa um dogma constitucional, a ponto da Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, em um de seus artigos, declarar que não teria 
constituição a sociedade que não assegurasse a separação de poderes e 
os Direitos do Cidadão. Montesquieu, pensador Francês, em sua obra “O 
Espírito das Leis” (em 1748) expõe a técnica da separação de poderes. O 
inovador princípio da separação dos poderes exerceu influência e ainda exerce 
sobre o moderno Estado de Direito, como princípio constitucional de maior 
importância em oposição ao antigo regime absolutista. OBS: Vale ressaltar que 
a ideia não foi dele, pois desde Aristóteles e depois Look, que este pensamento 
3 
 
vinha sendo amadurecido. Montesquieu apenas sistematizou e se consagrou 
pela obra já citada. 
 
Atualmente, essa teoria seria melhor denominada de separação das 
funções do Estado. As FUNÇÕES se constituem em especialização de 
tarefas governamentais à vista de sua natureza. Sua finalidade é limitar e 
controlar (uns pelos outros) o funcionamento do Poder. É o chamado 
mecanismo de freios e contrapesos (pode aparecer na prova: sistema de 
checks and balances). A partir da aplicação dos princípios gerais que regem a 
concepção do sistema de freios e contrapesos na Constituição da República, 
não é possível deduzir controles entre os poderes que não estejam expressos 
no texto constitucional. 
 
 Funções típicas (precípua) X Funções atípicas (secundária) 
 
Órgão/Funções TÌPICA ATÌPICA 
LEGISLATIVO 
 
LEGISLAR e 
FISCALIZAR 
JULGAR 
ADMINISTRAR 
EXECUTIVO 
 
 ADMINISTRAR 
 
JULGAR 
LEGISLAR 
JUDICIÁRIO 
 
JULGAR ADMINISTRAR 
LEGISLAR 
 
 
 Legislar e Fiscalizar constituem funções típicas do Poder 
Legislativo. A Constituição brasileira prevê detalhadamente a elaboração de leis 
através do processo legislativo (arts. 59 a 69) e de fiscalização contábil, 
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial (arts. 70 a 75). As funções 
atípicas do Poder Legislativo são administrar (art. 51, IV; 52, XIII) e julgar (art. 
52, I e II). 
 
 A Função Jurisdicional ou Jurisdição (dizer o direito) visa 
aplicar a lei ao caso concreto para solucionar litígios (conflitos de interesse 
caracterizados por pretensão resistida), impondo a validade do ordenamento 
jurídico de forma coativa, mediante provocação da parte interessada, sempre 
que os interessados não cumpram a lei espontaneamente. Compete ao Poder 
Judiciário. As funções atípicas deste Poder são as de administrar (art. 96, I, c, 
f) e legislar (art. 96, I , a). 
 
 A Função Administrativa, típica do Poder Executivo, diz 
respeito à realização de atos concretos voltados a satisfação das 
necessidades coletivas, tais como a gestão ordinária dos serviços públicos 
de interesse da coletividade. Dito de forma mais completa por José Afonso da 
Silva (Curso.pág. 112) o Poder executivo exerce a função executiva, que 
engloba as chefia de governo, de estado, de defesa e de assistência 
judiciária. A função de governo e a função administrativa está relacionada 
com atribuições políticas, co-legislativas, de decisão. as atividades de 
intervenção, fomento, polícia administrativa e serviço público. A função de chefia 
de Estado é desempenhada pelo Presidente da República sempre que houver 
necessidade de relacionamento entre Estados Soberanos. A chefia de Defesa 
4 
 
se estabelece por ser o Presidente o chefe supremo das Forças Armadas 
Nacionais. Quanto a última chefia, de Assistência Judiciária, só até a autonomia 
total das Defensorias Públicas, encarregadas de exercerem este trabalho. 
Legislar constitui função atípica deste Poder (art. 62 e 68). Outra função atípica 
do Executivo é a jurisdicional, quando julga seus servidores nos processos 
administrativos disciplinares, por exemplo. 
 
Obs: fazer observação sobre o controle dos atos administrativos pelo 
Poder Judiciário. 
 
4 - Formas de Estado 
 
• Simples : ..................................... Estado Unitário 
• Compostos:..................................Confederação e Estado Federal 
 
 Os Estados, quanto a sua formação, classificam-se em simples e 
compostos, tal distinção surge “em função do grau de centralização e 
descentralização do poder político". 
 
 O Estado Unitário se caracteriza por não apresentar 
descentralização do poder político, que se concentra em uma única pessoa 
jurídica nacional. Por consequência, possui somente uma única ordem 
jurídica central, que se aplica em todo o território nacional. Possui um centro 
de poder que se estende por todo o território e sobre toda a população e 
controla todas as coletividades regionais e locais. São exemplos, entre outros: 
França, Inglaterra, Chile, Uruguai e Paraguai. 
 
 No Estado Unitário poderá haver descentralização (são os estados 
descentralizados ou regionais), no entanto, esta não se perfaz com autonomia 
política, através de uma repartição de competências estabelecida na 
Constituição, mas através de outorga legal e, portanto, por lei poderá ser 
revogada. 
 
RESUMINDO: Estado Unitário Centralizado, inexiste, em sua organização 
interna, qualquer tipo de repartição. Nos dias atuais está em extinção. Estado 
Unitário Descentralizado: há efetiva repartição de atribuições entre a parte 
centralizada e a descentralizada, realizada através da outorga das normas às 
comunas, departamentos etc. Ex: França e Itália. 
 
 O Estado Federal é, por definição, aquele onde estão asseguradas, 
pela Constituição, autonomia político-administrativa às partes descentralizadas 
(Estados-Membros, Províncias, Territórios etc). É reputada pela quase 
unanimidade dos autores, como a forma mais moderna de Estado. São exemplos 
atuais praticamente todos os Estados americanos, como, Estados Unidos, Brasil, 
entre outros, além de alguns europeus como Alemanha. 
OBS: a Federação Brasileira é a única nação que inclui os Municípios e o 
Distrito Federal como entes federados. 
 
5 
 
 A origem do Estado Federal moderno, tal como o conhecemos na 
atualidade, é tipicamente norte-americana. Surgiu nos Estados Unidos, com a 
Constituição de 1787. 
 
 No Estado Federal há que se distinguir soberania de autonomia e seus 
respectivos titulares. O Estado Federal é o todo, dotado de personalidade 
jurídica de Direito Público Internacional, é o único titular da soberania 
como pessoa reconhecida pelo Direito Internacional. A União é a entidade 
federal formada pela reunião das partes componentes, constituindo pessoa 
jurídica de Direito Público interno. Os Estados-membros são entidades 
federativas componentes, dotadas de autonomia e também de personalidade 
de Direito Público interno. Os Municípios e o Distrito Federal, também possuem 
autonomia e são também pessoas jurídicas de Direito Público interno. 
 
 O Brasil, após a proclamação da Independência (1822), adotou como 
forma de governo a monarquia e, enquanto forma de Estado, o Estado 
Unitário. O império do Brasil não possuía descentralização política, apenas 
descentralização administrativa, (Seu território foi dividido em províncias, cuja 
estrutura foi consolidada na Constituição de 1824). A realidade histórica da 
República e do Federalismo tem por origem a derrubada da monarquia, em 
15 de novembro de 1889. Adotou-se então como forma de governo a República 
e como forma de Estado o Estado Federal. Toda esta mudança de estrutura 
foi definitivamente consolidada com a Constituição de 1891. 
 
 A Confederação é formada através de diversos Estados Soberanos 
colocados uns ao lado de outros, decorrente de um tratado internacional. 
Na Confederação os Estados mantêm soberania. Talvez por isto, Michel 
Temer não considera a Confederação como forma de Estado, haja vista que 
se “assenta em tratado internacional entre Estados soberanos (que não 
abdicam de sua soberania) e não em Constituição”. As 13 colônias 
americanas, logo após a conquista da independência da Inglaterra em 1776, 
formaram uma Confederação, que não mais existe. Outro exemplo seria a antiga 
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). 
 
 
5 - Formas de governo 
 
Forma de governo diz respeito ao especial modo como se alcança o Poder 
e nele permanece. Pode ser definida como a maneira pela qual se dá a 
instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e 
governados. Contemporaneamente, entretanto, deve-se ressaltar que a acepção 
básica das formas de governo é apenas um gênero a comportar como espécie 
o sistema e o regime de governo. 
 
Segundo Aristóteles, existem formas puras e impuras de governo 
FORMAS PURAS FORMAS IMPURAS 
MONARQUIA (Governo de um só) Tirania 
ARISTOCRACIA (Governo de um grupo) Oligarquia 
DEMOCRACIA (Governo de todos) Demagogia 
 
6 
 
Para os autores de forma geral, são divididas em: 
 
• Monarquia: hereditariedade (consanguinidade) Ex: Inglaterra, Espanha e Japão 
 vitaliciedade 
Natureza: governo de um só, de acordo com as leis que ele mesmo elabora; 
Princípio: sentimento de honra, amor às distinções e culto às prerrogativas. 
 
• República: eletividade (eleições livres) Ex: Brasil, Estados Unidos, Portugal 
 Temporariedade 
Natureza: soberania nas mãos do povo; 
Princípio: virtude traduzida em amor à Pátria, igualdade e compreensão dos 
direitos e deveres. 
 
5.1 - Sistemas de governo 
 
Sistema de governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, 
especialmente os Poderes Legislativo e Executivo. 
 
• PARLAMENTARISMO: 
 
➢ chefia dual do Poder Executivo : há um chefe de Estado e há um chefe 
de Governo(primeiro ministro). 
 
➢ a permanência do chefe de governo depende da confiança do Poder 
Legislativo. 
 
 A esta segunda característica a doutrina denomina de 
responsabilidade política. No parlamentarismo a chefia de governo é exercida 
pelo primeiro Ministro. 
 
 O Parlamentarismo foi uma lenta criação da história política da 
Inglaterra, onde surgiu em 1688 e, a partir desta data, passou a ser adotado por 
outros países da Europa. 
 Este sistema de governo, segundo muitos estudiosos, é o mais perfeito, 
pois baseia-se num sistema representativo, havendo paralelamente o exercício 
pleno da soberania nacional. Funda-se, assim, na existência de partidos 
compactamente organizados, tendo como representantes homens que lutam pela 
vontade soberana do povo. A vontade do povo se faz de forma tão presente, que tal 
sistema é denominado governo de opinião. O povo é valorizado e tem uma 
participação constante nos atos do governo. Apresenta os três poderes clássicos 
(Executivo, Legislativo e Judiciário) acrescido do Poder Moderador, representado 
pelo Rei (em caso de Estado Monárquico)ou pelo Presidente da República (em 
caso de Estado Republicano) 
 No Brasil, o Parlamentarismo foi empregado durante o Segundo 
reinado, sendo, posteriormente, abolido em 1889 pela Proclamação da 
República, através da qual o sistema presidencialista foi implantado. Em 1961, 
com a renúncia de Jânio Quadros, tivemos o regresso do Parlamentarismo, 
sendo que, em 1963, o Presidencialismo ressurge como sistema de governo. 
 
7 
 
Obs: A Constituinte de 88 deixou ao povo brasileiro a oportunidade de escolher 
a forma e o regime de governo, com a regra posta no ADCT, art. 2º, que reza: 
 
“No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a 
forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo 
(parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País”. 
 
• PRESIDENCIALISMO 
Características: 
- chefia singular do Poder Executivo: o Presidente é ao mesmo tempo chefe 
de Estado e chefe de Governo 
- permanência do Presidente independe da confiança do Poder 
Legislativo. 
 
 O Presidencialismo foi idealizado pelos norte-americanos na 
Convenção da Filadélfia, e passou a constar na Constituição Federal de 1787. 
No Brasil, no entanto, ele só passou a viger em 1889. 
 No presidencialismo o Presidente da República exercerá o cargo por 
período fixo, não necessita da maioria parlamentar para manter-se no cargo. O 
Poder Legislativo só poderá afastar um Presidente da República no caso do 
cometimento de crime de responsabilidade ou de crime comum. Para quem tiver 
interessado nas regras constitucionais para se afastar o Presidente poderá 
encontrá-las nos artigos 85 e 86; 51, I, e 52, I, parágrafo único. 
 
 
5.2 - Regime político: democrático e ditatorial (totalitário) 
 
➢ democrático – há participação do povo no processo político 
➢ ditatorial ou Totalitário– não há a livre participação do povo no processo 
político, as eleições não são livres, 
 
CF/88 Art. 1º ----------------------------------------------------------------- 
 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
 
 A nossa Constituição realça e traduz a democracia representativa sem 
desprezar os instrumentos da democracia direta pelo que origina uma forma de 
democracia denominada mista ou semidireta. 
 
 Democracia direta é a forma inicial da democracia, tal como praticada na 
antiga Grécia. A participação dos cidadãos nas decisões políticas era exercida 
pessoalmente sem intermediários (em espaço público se reuniam, debatiam e 
decidiam o assunto em pauta). Atualmente, é de impossível realização, já que 
conta com o povo exercendo o poder diretamente, sem mandatário. 
 
Democracia Indireta pode ser: 
 
 - Democracia representativa, onde o povo elege seus representantes. 
 
8 
 
 - Democracia Cesarista, onde o governo indica seus representantes, 
cabendo ao povo confirmá-los ou não no poder por referendum 
 
 A expressão “diretamente” deve ser entendida à luz do art. 14, incisos I a III, 
onde se encontra os instrumentos modernos da democracia direta, quais 
sejam: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. 
 
Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que 
delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, 
legislativa ou administrativa (art. 2º, da lei 9.709/98). 
O plebiscito é a convocação prévia ao ato legislativo ou administrativo 
a ser realizado, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou rejeitar o que lhe tenha 
sido submetido (art. 2, §1º, da lei 9.709/98). 
O referendo é a convocação posterior ao ato legislativo ou 
administrativo que se tenha realizado, cumprindo ao povo a respectiva 
ratificação ou rejeição (art. 2º, §2º, da lei 9.709/98). 
A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à 
Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado 
nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três 
décimos (3/10 = 0,3) por cento dos eleitores de cada um deles (art. 13 da lei 
9.709/98 e CF, art. 61, § 2º). OBS: fazer um comentário sobre a iniciativa popular 
e a ação popular na perspectiva de democracia direta. 
 Em resumo, a nossa CF/88 consagra a democracia representativa 
sem desprezar os instrumentos da democracia direta (plebiscito, referendo, 
iniciativa popular) pelo que origina uma forma de democracia mista ou 
semidireta. 
 Todos estes conhecimentos prévios são basilares para compreensão 
do Estado Brasileiro que adotou o modelo federalista. 
 
6 - Características do Estado Federal 
 
 A doutrina aponta como características da existência de Estado 
Federal: 
 
a) Existência de uma Constituição como base jurídica do Estado 
que assegure autonomia das entidades federadas através de uma 
repartição constitucional de competências  a Lei Fundamental 
representa a aliança firmada pelas entidades integrantes do Estado 
Federal, o qual se origina da própria Constituição e lhe dá vida e 
existência soberana. 
 O Estado Federal surge de uma Constituição. A 
Constituição, como Lei Fundamental, representa, no Estado Federal, 
o pacto ou a aliança firmada pelas entidades que o integram. A 
Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, deu origem ao 
Estado Federal Brasileiro atual. Logo no preâmbulo consta: “Nós, 
representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia 
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático (...)”. 
O artigo 1º, de forma definitiva sela o pacto ao afirmar: “A República 
Federativa do Brasil, é formada pela união indissolúvel dos 
9 
 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em 
Estado Democrático de Direito”. 
 No Estado Federal, como união de coletividades políticas 
autônomas, existem vários centros decisórios. O artigo 18 da nossa 
Constituição afirma: “A organização político-administrativa da 
República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o 
Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos 
desta Constituição”. 
 
b) Repartição Constitucional de Competências  a essência do 
Estado Federal está na descentralização política, significando 
repartição da capacidade de edição de normas jurídicas, com cada 
esfera de poder controlando as condutas de seus agentes públicos 
e dos cidadãos de determinada comunidade. A Constituição confere 
à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios 
competências privativa, exclusiva, comum, concorrente, residual e 
delegada. 
A razão de ser do Estado Federal, como já vimos, reside na 
descentralização política, que significa repartição 
constitucional da capacidade de emissão de normas jurídicas, 
para que cada esfera de poder possa controlar as condutas dos 
agentes públicos e dos cidadãos em determinada comunidade 
jurídica. Assim, a Constituição distribui à União, aos Estados, ao 
Distrito Federal e aos Municípios, diversas competências que 
estudaremos nos artigos 21 ao 32. 
 
c) Autonomia das Entidades Federadas  cada esfera, entre os 
diversos centros decisórios, conserva a capacidade suficiente para, 
mediante regras jurídicas próprias, autogerir seus negócios internos 
ou organizar os assuntos que lhes forem delegados., tudo conforme 
o Princípio hermenêutico da simetria constitucional. 
 
d) Participação da vontade dos Estados-membros nas decisões 
Nacionais  reflete-se na existência de um Poder Legislativo 
bicameral, isto é, o Congresso Nacional é formado pela Câmara dos 
Deputados, composta pelos representantes do povo, e pelo Senado 
Federal, composto de representantes dos Estados e do Distrito 
Federal, estes enquanto pessoas jurídicas de direito público interno 
(3 Senadores para cada Estado e para o Distrito Federal). 
 
e) Rigidez Constitucional  refere-se à maior dificuldadepara 
alteração do Texto Magno, exprimindo-se em limitações expressas 
e implícitas. Estabeleceu-se um procedimento mais rígido no 
processo de apreciação de emenda à Constituição do que de 
qualquer outra lei do país. Tomará por base os princípios 
hermenêuticos constitucionais que estudaremos adiante. 
 
f) Impossibilidade de desligamento (secessão)  Exatamente em 
razão de a soberania ser atributo do Estado Federal e não dos 
10 
 
Estados-membros é que estes não poderão se retirar do pacto 
federativo, pois não possuem mais soberania que legitime uma 
decisão separatista. A Constituição prevê união indissolúvel logo 
em seu artigo 1º. Proíbe a extinção da Federação (art. 60, § 4º) ao 
afirmar que não será objeto de deliberação a proposta de 
emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa de 
Estado, na primeira das cláusulas pétreas. Prevê como primeira 
hipótese de intervenção federal nos Estados e no Distrito 
Federal para “manter a integridade nacional”. (art. 34, inciso I) 
Resumindo: as partes não podem separar-se do todo. 
 
g) Existência de um órgão constitucional supremo incumbido 
também do controle da constitucionalidade das leis  decorre 
da rigidez da Constituição e da Supremacia da Constituição em 
relação às demais leis. O controle se dará: 1) no exame de um caso 
concreto, em que todo juiz pode exercê-lo (controle difuso de 
constitucionalidade); 2) por declaração de inconstitucionalidade de 
lei em tese pelo STF (controle concentrado de constitucionalidade). 
 
7 - Constitucionalismo 
 
 O Direito Constitucional surgiu junto com a própria noção de Estado e 
particularmente quando este se organizou política e juridicamente através de 
uma Constituição, passando a sujeitar-se às próprias leis por ele editadas, 
transformando o poder arbitrário original em poder discricionário (que se 
caracteriza pela existência efetiva de ampla margem de escolha e opção para o 
governo) e vinculado (onde praticamente inexistem opções para o governo, em 
face da solução imposta pela lei). 
 Com o advento do Estado Contemporâneo, o binômio poder-dever 
passou a integrar a própria essência do Estado, ao lado do cidadão, titular de 
direitos, cabendo exatamente ao Direito Constitucional (e também ao Direito 
Administrativo) a busca do equilíbrio harmônico entre os deveres do Estado de 
um lado e os direitos do cidadão, do outro. 
 
A sua origem formal está ligada às Constituições escritas com dois traços 
marcantes: 
 
- organização do Estado 
- limitação do poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias 
fundamentais 
 
8 - Conceito de CONSTITUIÇÃO 
 
Lato sensu é o ato de constituir, de estabelecer, de firmar; ou, ainda, o modo 
pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas; organização, 
formação. 
 
Juridicamente – deve ser entendida como lei fundamental e suprema de um 
Estado, que contém normas referentes à estrutura do Estado. 
 
11 
 
Pode-se definir a Constituição como lei fundamental da sociedade. 
 
Constituição, em termos efetivos, representa a organização jurídico-política 
fundamental do Estado concernente a um conjunto de regras relativas à forma 
de Estado (no caso brasileiro, o federalismo) o Sistema Político, - incluindo a 
forma de governo ( no nosso caso a república) e o sistema de governo ( no 
caso brasileiro o presidencialismo) -, ao regime político (entre nós a 
democracia indireta representativa), à aquisição e ao exercício do poder, 
ao estabelecimento dos órgãos para o efetivo exercício do poder (Executivo, 
Legislativo e Judiciário) e aos limites de sua ação (competências e restrições 
ao exercício do poder estatal). 
 
9- Conceito de Direito Constitucional 
 
 “O direito Constitucional vem a ser um estudo fundamentalmente 
voltado para a compreensão do texto jurídico singularíssimo denominado 
Constituição” (Celso Ribeiro Bastos). Traçar um paralelo com TGE. 
 
 “Ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os 
princípios e normas fundamentais do Estado” (José Afonso da Silva). Para simplificar: 
ramo do Direito Público que estuda a Constituição. 
 
10- Objeto do Direito Constitucional 
 
 O objeto de estudo do Direito Constitucional “é constituído pelas 
normas fundamentais do Estado, isto é, pelas normas relativas à estrutura 
do Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício do poder, 
estabelecimento de seus órgãos, limites de sua atuação, direitos 
fundamentais do homem e respectivas garantias e regras básicas de 
ordem econômica e social” (José Afonso da Silva). 
 
 Simplificando: o objeto de estudo do Direito Constitucional é a 
Constituição. 
 
11 - Constituição: origens e perspectivas 
 
11.1 - ORIGENS DAS CONSTITUIÇÕES 
 
 O surgimento das constituições, como já demonstrado acima, está 
ligado ao constitucionalismo, movimento que se originou da luta pela 
liberdade diante de governos absolutistas e por um conjunto mínimo de 
preceitos asseguradores da tripartição das funções estatais (executiva, 
legislativa e judiciária) e dos direitos individuais a serem respeitados não só 
pelos governos, mas também pelos demais cidadãos. O marco histórico está 
ligado às Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos, em 1787, após 
o curto período em que adotou a forma de Estado conhecida por Confederação, 
em seguida a independência obtida da Inglaterra pelas 13 colônias. Bem como 
a Constituição da França, de 1791, após a Revolução Francesa. 
 
12 
 
11.2 - PERSPECTIVAS DOUTRINÁRIAS DE CONSTITUIÇÃO 
 
Sentido sociológico, sentido político e sentido jurídico 
 
➢ Sentido sociológico – construído por Ferdinand Lassale, em sua obra 
"Que é uma Constituição?", para ele a constituição deve ser a soma dos 
“fatores reais de poder que vigoram num país, sendo esta a 
constituição real e efetiva”. Esses fatores são de ordem econômica, 
política, militar, religiosa, sindical, etc. Quando a Constituição escrita se 
distancia da Constituição efetiva não passa de “uma folha de papel”. 
Neste caso prevalecerá sempre a vontade daqueles que titularizam o 
Poder, pois este não deriva da “folha de papel”, da Constituição escrita, 
mas dos fatores reais de poder vigentes na sociedade. 
 
➢ Sentido político – proposto por Carl Schmitt, em sua obra “Teoria da 
Constituição”, para ele a Constituição é fruto de uma decisão política 
fundamental. Assim é conteúdo próprio da Constituição o que diga 
respeito à forma de Estado, à forma de Governo, aos órgãos do Poder 
e à declaração dos direitos individuais. Tudo o mais, embora possa 
estar escrito na Constituição, é lei constitucional. Assim percebemos: o 
que para Carl Schmitt é conteúdo próprio da Constituição podemos 
chamar de norma materialmente constitucional, o mais que assumiu 
forma constitucional, porque inserido na Constituição, é norma 
formalmente constitucional, e poderia ser tratado na legislação 
infraconstitucional . 
 
➢ Sentido jurídico – defendido por Hans Kelsen, em seu livro "Teoria pura 
do Direito", a constituição é considerada norma pura, puro dever-ser, 
sem qualquer pretensão à fundamentação sociológica, política ou 
filosófica. Para Válber de Moura Agra “A Constituição é vista por Kelsen 
como o substrato validante de normas infraconstitucionais. Ela tem a 
função de estruturar um ordenamento de forma lógica e sistêmica, 
evitando antinomias que fragilizariam sua eficácia. Ele vê o ordenamento 
jurídico como um sistema hierarquizado, em que cada norma inferior é 
validada por uma norma superior, até chegar na norma básica que é a 
Constituição” (Fraudes à Constituição: um atentado ao poder reformador, Porto Alegre, Sérgio Antonio 
Fabris Editor, 2000, 1ª edição pág. 43). Todo o trabalho de Kelsen foi no sentido de 
mostrar que o Direito é uma ciência autônoma, que dispõe de métodos 
próprios, portanto,“pura”. Kelsen toma a palavra Constituição em dois 
sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo. No sentido jurídico-
positivo equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que 
regula a criação de outras normas. No conceito lógico-jurídico a 
constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é 
servir de fundamento lógico transcendental da validade da constituição 
jurídico-positiva, e aí assume o papel de fechamento do sistema. 
 
Perspectiva da Constituição segundo Konrad Hesse 
 
➢ Força normativa da Constituição –. Para Konrad Hesse a Constituição 
não reproduz apenas o estado das coisas ela também é capaz de 
13 
 
modificar, de transformar a sociedade. É o próprio Konrad Hesse em 
sua obra “A força normativa da Constituição” que afirma: “A norma 
Constitucional não tem existência autônoma em face da realidade, 
(por isto precisa ter sintonia com a realidade social, econômica e política). 
A sua essência reside na sua vigência, ou seja, a situação por ela 
regulada pretende ser concretizada na realidade (sedimentando-se no 
dia a dia do comportamento dos cidadãos) Essa pretensão de eficácia 
não pode ser separada das condições históricas de sua realização, que 
estão, de diferentes formas numa relação de interdependência, criando 
regras próprias que não podem ser desconsideradas. Concluindo, pode-
se afirmar que a Constituição converter-se-á em força ativa se 
fizerem-se presentes, na consciência geral – particularmente, na 
consciência dos principais responsáveis pela ordem constitucional – não 
só a vontade de poder, mas também a vontade da Constituição 
Federal”. (As explicações entre parênteses e os grifos não são do 
original). 
 
Konrad Hesse x Ferdinand Lassale: 
 
 Para Lassale a Constituição é escrava das forças sociais 
(fatores reais de poder), fora disso, ou seja, quando não espelhar a 
composição das forças sociais dominantes, não terá eficácia 
transformando-se em uma mera folha de papel. 
 Para konrad Hesse há uma relação de interdependência com os 
condicionantes resultantes dos fatores históricos políticos e 
sociais, mas a Constituição não é uma mera auxiliar das forças 
sociais, mas possuem componentes que uma vez vigentes 
poderão converter-se numa força ativa de transformação da 
sociedade. 
 
 
 
Perspectiva da Constituição segundo Karl Loewenstein 
 
Karl Loewenstein em sua obra Teoria de Constituição, doutrina que a função 
primeira da Constituição é traçar o cenário da disputa pelo poder, por 
meio de normas que tratem da limitação dos poderes através de uma 
repartição constitucional de competências, utilizando-se de mecanismos de 
equilíbrio por meio de um sistema de freios e contrapesos (Cheks and 
balances) originado do direito americano. 
 
Assim, Karl Loewenstein classifica as Constituições partindo da eficácia 
normativa reguladora do processo de disputa de poder em: 
 
➢ Constituições normativas – são aquelas que são efetivamente 
obedecidas pelos detentores do poder e por todas as parcelas da 
população, e que estabeleçam normas que regulem a atuação dos 
partidos políticos, a aquisição e o exercício dos poderes estabelecendo 
seus respectivos limites. Como exemplo de Constituição normativa 
temos a nossa Constituição de 1988. 
14 
 
 
➢ Constituições nominativas – são aquelas que não são efetivamente 
obedecidas. Não possuem força normativa, pois, representam textos 
que não são consentâneos com a realidade fática ou que tornaram-se 
obsoletos face as mudanças na sociedade; 
 
➢ Constituições semânticas – também conhecidas por “constituições de 
fachada” são aquelas confeccionadas para legitimar os detentores do 
poder político. Estando longe de limitar a concentração de poder, ao 
contrário, estabelecem um procedimento que, ao invés da alternância, 
representam um instrumento de perpetuação das classes dominantes. 
Como exemplo de Constituição semântica tivemos a nossa Constituição 
de 1937. 
 
12 - Classificação das Constituições 
 
Quanto à forma: escrita e não escrita 
 
Quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas 
 
Quanto à extensão e finalidade: analíticas e sintéticas 
 
Quanto à origem: promulgadas, outorgadas e cesaristas 
 
Quanto à estabilidade: imutáveis, rígidas, flexíveis e semirrígidas 
 
Quanto ao conteúdo: materiais e formais 
 
 Vejamos cada uma delas para um melhor esclarecimento 
 
✓ Quanto à forma: 
 
Escrita – codificada e sistematizada em um único texto solenemente 
estabelecido e emanado de um Poder Constituinte. 
 
Não-escrita – conjunto de usos, costumes, jurisprudência documentos 
esparsos não codificados, reconhecidos pela sociedade como estruturadores 
Exemplo: Constituição da Inglaterra e a de Israel. Conhecida também como 
constituição costumeira o consuetudinária. 
 
✓ Quanto ao modo (processo) de elaboração: 
 
Dogmática – surge como resultado da aplicação racional, em certo 
momento, de determinados princípios políticos (dogmas). Constituições 
escritas, populares (promulgadas) ou outorgadas. 
 
Histórica – se forma lentamente no tempo através de vagarosa 
sedimentação na consciência popular. Resulta de lenta evolução histórica, do 
lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam como 
15 
 
normas fundamentais da organização de determinado Estado. Conhecidas 
também como constituição costumeira, constituição não-escrita. 
 
✓ Quanto à extensão: 
 
Sintética - prevê somente princípios e normas que regulam a forma de Estado 
e de Governo, estruturação dos Poderes, limites aos Poderes por meio de 
direitos e garantias individuais fundamentais. É típica de países que 
possuam ampla estabilidade política e socioeconômica. Conhecidas 
também como: constituição garantia, constituição material. 
 
Analítica – é abrangente regulando inúmeros aspectos que não constam de 
uma Constituição sintética. A exemplo de: orçamento; saúde, previdência e 
assistência social; educação, cultura e desporto; ciência e tecnologia; 
comunicação social; meio ambiente; família, criança, adolescente e idoso; 
índios etc. A intenção é dar estabilidade jurídica ao fazer constar na Constituição 
certos direitos que caso estivessem apenas na legislação infraconstitucional 
poderiam ser facilmente modificados. É típica de países com fortes 
instabilidades políticas e socioeconômicas. Outros nomes: constituição 
formal, constituição dirigente. 
 
✓ Quanto à origem: 
 
Promulgada - surge através do trabalho de uma Assembleia Nacional 
Constituinte composta de representantes do povo eleitos com a finalidade 
de sua elaboração. Conhecidas como: democráticas ou populares. 
 
Outorgada - são impostas por um regime autoritário sem a participação 
popular. 
 
✓ Quanto ao processo de reforma, à estabilidade ou alterabilidade: 
 
Rígida – é a constituição que só pode ser alterada através de processo 
legislativo especial, dificultoso e solene (como a nossa), distinto do que é 
estabelecido para elaboração das leis ordinárias. 
 
Flexível – é a constituição que permite ser modificada pelo mesmo processo 
legislativo para a elaboração das leis ordinárias. Modifica-se a Constituição como 
se modifica qualquer outra lei. O mesmo que Constituição Plástica. 
 
Semirrígida - Possui parte rígida e outra flexível. Para sofrer modificação, uma 
parte do seu texto exige processo dificultoso, enquanto outra parte pode ser 
modificada pelo processo legislativo ordinário. Serve de exemplo a 
Constituição brasileira de 1824, que em seu art. 178 dizia: “É só constitucional 
o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e 
aos Direitos Políticos e Individuais dos cidadãos; tudo o que não é 
constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas 
Legislaturas ordinárias”. Não esqueçam: a nossa Constituição de 1824 foi 
à únicasemirrígida. 
 
16 
 
✓ Quanto ao conteúdo, a essência ou ao objeto: 
 
Material – são as matérias que tratam da forma de organização política do 
Estado. Diz respeito ao conteúdo do próprio conceito de Constituição. É a 
essência do Estado com todos os seus traços marcantes. Alguns autores 
costumam alegar que as regras matérias seriam as cláusulas pétreas (art. 60, 
§4º). Contudo, a doutrina moderna especifica que todos os preceitos 
constitucionais que tenham pertinência temática com elas, também estariam 
abrangidas dentro desta realidade material. 
 
Formal – estariam elencadas dentro desta realidade todas as matérias que 
foram trazidas para dentro de Constituição, mas não fazem parte da essência 
Constitucional, como por exemplo o Desporto, a tecnologia etc. 
 
 
 
A nossa Constituição de 1988 é: ESCRITA; ANALÍTICA, DOGMÁTICA; PROMULGADA; RÍGIDA 
 
 
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES: Constituição Programática e Constituição 
Dirigente 
 
Programáticas: São aquelas que contêm numerosas normas definidoras de 
programas de ação e linhas de orientação. Tema atualmente bastante solicitado 
nos concursos é o que trata de norma programática. Pelo fato de a nossa 
Constituição estar incompleta, ou seja, com um excessivo número de normas de 
eficácia limitada é também classificada como Constituição programática. A 
partir do conceito de norma programática chega-se a conclusão de que a 
Constituição da República Federativa do Brasil é também uma Constituição 
Dirigente. 
 
Constituição Dirigente é aquela que, predominantemente, apresenta em 
seu corpo normas programáticas. 
 
Normas programáticas são aquelas que não podem ser aplicadas de 
imediato porque dependem de programas a serem desenvolvidos no futuro. 
Estas normas são dirigidas principalmente, mas não exclusivamente, aos 
legisladores. É citado como exemplo: 
 
• O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social (CF, 
art. 217, § 3º); 
• O Estado promoverá o desenvolvimento científico, a pesquisa e a 
capacitação tecnológicas (CF, art. 218, caput); 
• A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo 
para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, 
constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a 
promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou 
contratos ente os entes federados (CF, art. 39, § 2º); 
 
 
 
17 
 
AS CONSTITUIÇÕES E SUAS CLASSIFICAÇÕES 
 Classificação quanto a 
Consti
tuiçõe
s 
Ano de 
Promul
gação 
Forma 
de 
Estado 
Forma de 
Governo 
Forma Modo de 
elaboração 
Extensão Origem Estabilidade 
ou 
alterabilidad
e 
1ª. 1824 Unitário Monarquia Escrita Dogmática Analítica Outorgad
a 
Semi-rígida 
2ª. 1891 Federal República Escrita Dogmática Sintética Promulg
ada 
Rígida 
3ª. 1934 Federal República Escrita Dogmática Analítica Promulg
ada 
Rígida 
4ª. 1937 Federal República Escrita Dogmática Analítica Outorgad
a 
Rígida 
5ª. 1946 Federal República Escrita Dogmática Analítica Promulg
ada 
Rígida 
6ª. 1967 Federal República Escrita Dogmática Analítica Outorgad
a 
Rígida 
7ª. 1988 Federal República Escrita Dogmática Analítica Promulg
ada 
Rígida 
 
 
13 - PODER CONSTITUINTE 
 
Aquele que cria, põe em vigor, altera, ou mesmo constitui normas jurídicas 
de valor constitucional. 
 
13.1 - FINS – participar da criação e distribuição das competências supremas do 
Estado, por meio do regramento constitucional. 
 
13.2 - PRODUTO – A Constituição é o produto ou resultado desse poder; quer 
seja no momento de sua elaboração, quer seja em sua reforma. 
 
13.3 - TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE – Nos Estados 
democráticos é o povo, através da soberania popular, pois somente o povo é 
legitimado para determinar, por si ou por seus representantes o estabelecimento 
18 
 
de uma constituição. Caso advenha de outra fonte (um ditador, por ex.) é porque 
ocorreu a usurpação. 
 Pela titularidade pertencer ao povo, o Poder Constituinte é permanente, 
não se esgota em um único ato do seu exercício, visto que o povo não perde o 
direito de querer e de mudar a sua vontade. Elaborada a Constituição pelo Poder 
Constituinte, permanece ele em estado de LATÊNCIA, no seu assento natural, 
que é o povo. 
 A teoria sobre o Poder Constituinte advém do pensador francês Sieyès, 
elaborada nos momentos que antecederam a Revolução Francesa, em sua obra 
"que é o Terceiro Estado". Deste doutrinador partiu também a “descoberta da 
distinção entre poder constituinte e poderes constituídos. 
 Discute-se, na doutrina, quem seja o titular do Poder Constituinte, para 
uns é o povo, para outros a nação. O que de fato importa é que o Poder 
Constituinte Originário se manifesta pela eleição de uma Assembleia 
Constituinte ou por uma revolução. Tem o poder de destituir o governo 
anterior e tem a capacidade de constituir um novo governo. Contém força 
normativa para editar normas jurídicas sem que nisto seja limitado pela 
normatividade anterior. Daí porque, para o positivismo jurídico, o poder 
constituinte originário não tem natureza jurídica, por ser um poder de fato, 
não de direito, embora traga em si o gérmen da ordem jurídica. 
 
13.4 - EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE 
 
Por Outorga – através de ato unilateral do governante 
Por Assembleia Nacional Constituinte- que é a forma típica do exercício do 
Poder Constituinte, em que o povo, seu legítimo titular, democraticamente, 
outorga poderes a seus representantes especialmente eleitos para elaboração 
da Constituição. 
 
13.5 - ESPÉCIESDE PODER CONSTITUINTE 
 
Poder Constituinte ORIGINÁRIO – também denominado genuíno, primário, ou 
de primeiro grau, cria inicialmente a ordem jurídica. 
 
CARACTERÍSTICAS – inicial, permanente, absoluto, soberano, ilimitado, 
incondicionado e inalienável. 
 
Poder Constituinte DERIVADO – também denominado reformador, secundário, 
instituído, constituído, de reforma, ou de segundo grau, se destina a modificar a 
Constituição Federal, segundo suas próprias regras. 
 
CARACTERÍSTICAS – derivado, subordinado, limitado ou condicionado. 
 
FINALIDADE – se adaptar as novas necessidades sociais 
 
 
19 
 
Poder Constituinte DECORRENTE – Atribuído aos Estados-Membros para se 
auto-organizarem, mediante a elaboração de suas constituições estaduais, 
desde que respeitadas às regras limitativas impostas pela Constituição Federal. 
 
 
13.6 - LIMITAÇÕES AO PODER REFORMADOR 
 
 Materiais ou substanciais – Cláusulas Pétreas 
 Art. 60, § 4º, núcleo intangível 
EXPRESSAS 
 Circunstanciais ou temporais - Art. 60, § 1º 
 
 Formais ou procedimentais – Art. 60, I, II, III, 
 §§ 2º, 3º, 5º - referente ao Processo 
 Legislativo. 
 
OBS: O limite temporal já foi exercido através do art. 3º do ADCT, com as 
Emendas de Revisão, em número de 06 (seis). 
 
 - Suspensão do próprio processo de reforma, 
 ou seja das limitações expressas. 
 
 - A titularidade do poder Constituinte 
 originário, pois uma reforma não pode mudar 
IMPLÍCITAS o titular do poder que criou o próprio poder de 
 reforma. 
 - A titularidade do poder derivado, seria um 
 despautério que o legislador ordinário 
 estabelecesse novo titular de umpoder 
 derivado estabelecido pelo Poder Originário. 
 
14- Mutação Constitucional 
 
Tem sido tema de algumas questões o conceito de mutação constitucional. 
Trata-se de mecanismo de mudança da Constituição sem necessidade de 
utilização de emendas ou revisão, tudo, diga-se de passagem, sem ferir a forma 
consagrada pelo Poder Constituinte. Em verdade mutação constitucional é 
um método de interpretação da Constituição também conhecido por 
método evolutivo. Ocorre pelo fato de que algumas palavras na Constituição 
dão margem a vários significados, em razão de mudanças históricas, políticas e 
sociais comportam novos sentidos e significados a exemplo de “notável saber 
jurídico”, “reputação ilibada”, “costumes”. Percebam que são termos ambíguos 
e que comportam vários e mutáveis significados. Significados que evoluem com 
o correr dos tempos. Assim ao adotar este método o intérprete da Constituição 
(o intérprete pode ser o Juiz, o doutrinador, o aplicador da lei ou o próprio 
legislador), usará o significado não apenas da época em que foi elaborada (1987 
a 1988), bem como o dos dias de hoje em que estiver sendo aplicada. 
 
 
20 
 
15- Princípio da hierarquia das normas jurídicas 
 
 O princípio hierárquico das normas jurídicas ensina que as normas 
legais se sobrelevam umas às outras, formando uma figura cujo formato 
assemelha-se ao de uma pirâmide. O que significa dizer que a criação de 
uma norma jurídica é determinada por outra. A Constituição se encontra no 
pico da pirâmide, representa o ápice do ordenamento jurídico de maneira 
que o conteúdo de todas as leis lhe deve obediência material e formal. 
Deriva daí o Princípio da Supremacia Constitucional. 
 
 Uma coisa é bom que fique logo clara: não existe hierarquia entre 
leis federais, leis estaduais e, no caso do Brasil, leis municipais e lei do 
Distrito Federal, o que de fato existe são campos específicos de atuação, 
que iremos tratar ao estudarmos o capítulo relativo a repartição 
constitucional de competências. 
 
 
16 - HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL – o objetivo cinge-se ao estudo e a 
sistematização dos processos aplicáveis no âmbito da Constituição para 
determinar, sobretudo, o sentido e o real alcance das normas constitucionais 
de conteúdo político-jurídico. A hermenêutica é a ciência que fornece a técnica 
e, acima de tudo, os princípios basilares segundo os quais o operador do Direito 
poderá apreender o verdadeiro sentido (jurídico-político) da norma constitucional 
sub examen. 
 
Para se interpretar corretamente os preceitos constitucionais deve-se considerar 
os princípios hermenêuticos norteadores: 
 
16.1 Princípio da Supremacia Constitucional – A Constituição está no ápice 
do ordenamento jurídico nacional e nenhuma norma jurídica pode contrariá-
la material ou formalmente, sob pena de advir uma inconstitucionalidade 
(ineficácia jurídica extrínseca); 
16.2 Princípio da Imperatividade da Norma Constitucional – A norma 
Constitucional é imperativa, de ordem pública e emana da vontade 
popular. 
16.3 Princípio da Taxatividade da Norma Constitucional – Uma norma 
constitucional deve sempre ser interpretada taxativamente não se admitindo 
uma interpretação extensiva e análoga (fora do contexto constitucional). 
Limita o âmbito de incidência da norma constitucional à vontade expressa 
do legislador constituinte. 
16.4 Princípio da Simetria Constitucional – É o princípio federativo que exige 
uma relação simétrica entre os institutos jurídicos postos na Constituição 
Federal, com as Constituições dos Estados-Membros e Leis Orgânicas 
Municipais e Distrital. Este exercício será realizado através do Poder Deriva 
Decorrente posto no art. 11 e seus parágrafo único do ADCT. 
16.5 Princípio da Presunção da Constitucionalidade das normas 
infraconstitucionais – Há uma presunção iuris tantum (relativa) de que 
toda lei é constitucional até prova em contrário, ou seja, até que o Poder 
Judiciário, exercendo o controle típico constitucional (eficácia jurídica), a 
declare expressamente inconstitucional (ineficaz juridicamente). 
21 
 
 
TIPOS DE INTERPRETAÇÕES: autêntica (legal), judicial, doutrinária, gramatical 
(literal ou filológica), racional (lógica), sistemática ou holística, histórica, 
teleológica(sociológica). 
 
17 - APLICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL NO TEMPO 
Recepção, Repristinação e a Desconstitucionalização 
 
17.1- Teoria da desconstitucionalização 
 
Antes de qualquer coisa, cumpre esclarecer que a teoria da 
desconstitucionalização não é aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro. De 
acordo com esta teoria as normas da Constituição anterior, compatíveis com 
a nova Constituição, continuam válidas e em vigor, embora com status 
infraconstitucional (perdem o status de Constituição e passam a valer 
como leis ordinárias). 
OBS: alguns doutrinadores retratam o fenômeno da desconstitucionalização 
no sentido sociológico, ou seja, se as normas constitucionais não são efetivadas, 
elas se desconstitucionalizam por perderem a sua força determinante. Professor 
Dr. Ivo Dantas, dentre outros, adotam esta teoria e dão como exemplo o art. 192 
da Constituição Federal que teve seus caput modificado e seus incisos, alíneas 
e parágrafos revogados. 
 
17.2- Princípio ou teoria da recepção 
 
 Dificilmente uma nova ordem constitucional significará um rompimento 
integral e absoluto com o passado. Desta maneira, toda a legislação ordinária, 
federal, estadual e municipal que não seja incompatível com a nova Carta 
conserva sua eficácia, é o que nos demonstra o princípio da continuidade da 
ordem jurídica. Se fosse diferente, haveria um enorme vazio infraconstitucional 
até que o legislador pudesse recriar inteiramente todas as leis anteriores. 
 
 A TEORIA DA RECEPÇÃO é um processo pelo qual a nova Constituição 
recebe as leis já existentes oriundas da ordem jurídica anterior, se o conteúdo 
das mesmas forem com ela compatíveis (compatibilidade material), 
evitando o trabalho quase impossível de se elaborar toda a legislação 
infraconstitucional novamente. 
Toda a legislação infraconstitucional, produzida anteriormente ao advento 
de uma nova ordem constitucional (e que seja perfeitamente compatível com a 
mesma), é recepcionada pela nova Constituição, continuando, por princípio de 
economia e segurança, a viger no âmbito próprio de sua atuação ordinária. 
Ocorre, contudo, que excepcionalmente, a lei anterior pode ganhar nova 
roupagem normativa. 
 
 Com o advento de nova constituição, todas as leis anteriores perdem seu 
antigo fundamento de validade (a antiga Constituição) para ganhar novo 
fundamento (a nova Constituição). Ao serem recebidas, as leis ganham a forma 
que a nova Constituição atribuir as matérias de que elas tratam. Apenas 
materialmente elas pertencem ao velho ordenamento jurídico; formalmente são 
22 
 
todas do novo ordenamento jurídico. Assim, leis anteriores tidas por 
formalmente ordinárias podem passar a ter conteúdo e eficácia de leis 
complementares; decretos-lei podem passar a ter natureza de leis ordinárias. 
 
17.2.1 - Estudo de um caso de teoria da recepção: O Código Tributário 
Nacional 
 
 A lei 5.172, de 25 de outubro de 1966, dispõe sobre o Sistema 
Tributário Nacional e institui normas gerais de Direito Tributário aplicáveis 
a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Na realidade, a referida lei 
tramitou e foi aprovada como lei ordinária porque a Constituição de 1946 não 
contemplava a espécie normativa lei complementar. A Constituição de 1988 fixa 
a competência da lei complementar para estabelecer normas gerais em matéria 
tributária (CF/88, art. 146, III). O princípio ou teoria da recepção fez com que a lei 
5.172/66 fosse recepcionada no que o seu conteúdo for compatível com a 
CF/88 e teve o condão de lhe proporcionar nova roupagemEm resumo: O Código Tributário Nacional, lei n. 5.172/66, é lei 
formalmente ordinária no nascedouro, entretanto, face à teoria da recepção, 
tem “eficácia de Lei Complementar”. Assim, só por Lei complementar 
poderá ser modificada, a partir de 1988. 
 
17.3 – Teoria da repristinação 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, uma norma revogada não volta a ter 
vigência automática com a posterior revogação da norma que a revogou 
(repristinação tácita), salvo se houver expressa previsão neste sentido 
(repristinação expressa), conforme determina a Lei de introdução ao Código 
Civil. 
Todavia, há casos em que ocorre um fenômeno semelhante, denominado 
de efeito repristinatório tácito. Por exemplo: a lei 9.868/99, no seu artigo 11, §2º, 
determina que a concessão de medida cautelar em sede de ADIn, por suspender 
a vigência da lei questionada, “torna aplicável a legislação anterior acaso 
existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário”. 
O mesmo ocorre quando o STF profere uma decisão definitiva de mérito 
declarando, com eficácia vinculante e efeito retroativo (ex tunc), a 
inconstitucionalidade de uma lei. Nesta hipótese, a lei anterior que havia sido 
revogada pela lei declarada inconstitucional poderá voltar a ser aplicada, caso 
esta seja a solução mais razoável. 
 
18 - Classificação das normas constitucionais quanto à 
Eficácia 
 
 No Brasil a classificação mais aceita pela doutrina e pela 
Jurisprudência, inclusive adotada pelo Supremo Tribunal Federal-STF, pertence 
a José Afonso da Silva. Este autor classifica as normas constitucionais em: 
normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e normas de eficácia 
limitada. 
 
23 
 
➢ Normas de eficácia plena - são aquelas que têm aplicabilidade 
imediata e integral. Produzem efeitos diretos, dispensando 
legislação complementar que lhes dê efetividade. São bastante em si, 
não necessitam da intermediação do legislador infraconstitucional. Ex: O 
artigo 37, III da CF/88 : “o prazo de validade do concurso público será de 
até dois anos, prorrogável uma vez por igual período”. Todos os remédios 
constitucionais. 
 
➢ Normas de eficácia contida - são aquelas que têm aplicabilidade 
imediata e integral, mas estão sujeitas a restrições por parte do 
legislador infraconstitucional. São normas em que o legislador constituinte 
regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria 
mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência 
discricionária do Poder Púbico, nos termos que a lei estabelecer ou nos 
termos de conceitos gerais nelas enunciados. Por exemplo: CF/88, art. 
5º, XIII - “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, 
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Art. 
5º, LVIII, “o civilmente identificado não será submetido à 
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. O 
raciocínio é o seguinte: enquanto as leis não forem produzidas é 
totalmente livre o exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão; bem 
como não será permitida a identificação criminal daquele que tiver 
identificação civil. Ao ser editada tal lei, ela poderá conter, reduzir, 
restringir a eficácia deste dispositivo. Normas de eficácia contida estão 
presentes no art. 5º, incisos VII, XXXII, entre outras, etc. 
 
➢ Normas de eficácia limitada - são aquelas que não têm aplicabilidade 
imediata. Sua aplicabilidade é mediata ou indireta porque dependentes de 
legislação ou outra providência para poderem produzir efeitos. José 
Afonso da Silva entende que há dois tipos de normas de eficácia limitada, 
são elas as de princípio institutivo e as de caráter programático: a) as de 
princípio institutivo ou organizativo. Estas normas contém o início ou 
esquema de determinado órgão, entidade ou instituição, deixando a 
efetiva criação, estruturação ou formação para a lei complementar ou 
ordinária. Exemplo: “Lei complementar organizará a Defensoria Pública 
da União (CF, art. 134, parágrafo único).b) as de princípio programático 
(que são as tais normas programáticas). Estas são normas através das 
quais o constituinte, em vez de regular direta e imediatamente 
determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os princípios para serem 
cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos, jurisdicionais e 
administrativos), como programas das respectivas atividades, visando à 
realização dos fins sociais do Estado. Exemplo: “proteção do mercado de 
trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei” 
(CF, art. 7º, XX)”; “a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à 
dominação dos mercados...” (CF, art.173, §4º); “A lei estabelecerá 
incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais” 
(CF, art. 215, §3º); “ O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos 
direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e 
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” (CF, 
art. 215).; “o direito de greve será exercido nos termos e nos limites 
24 
 
definidos em lei específica” (CF, art. 37, VII). Não pensem que as 
normas programáticas são um “fogo morto” ou “mera carta de 
intenções”. Ao contrário, elas são dotadas de eficácia jurídica e 
exigem a vinculação dos poderes públicos à sua realização. O que 
podemos, com certeza, afirmar é que a norma programática não dispõe 
de aplicabilidade imediata. Na verdade, se trata de um indicativo, um 
programa de ação política, ao qual se encontra adstrito o legislador 
infraconstitucional. Este, no entanto, não pode dispor de forma 
contrária ao espírito da norma programática. 
 
➢ Chamo atenção para esclarecer que apesar da doutrina determinar 
esta classificação nos moldes acima dispostos, não concordo e 
passo a explicar: 
 
 
➢ Norma Constitucional de eficácia absoluta - são aquelas quem além 
de possuírem eficácia imediata, sem depender de regulamentação para 
produção dos seus efeitos, fazem parte das cláusulas pétreas; 
➢ Norma Constitucional de eficácia plena – são as normas que produzem 
efeitos sem a necessidade de regulamentação por parte do legislador 
infraconstitucional, sendo consideradas auto-executáveis. Ex: art.5º, XVII, 
da CF. 
➢ Norma Constitucional de eficácia limitada – são as que só terão 
eficácia imediata quando forem regulamentadas. Ex: art. 153, VII, da CF. 
Enquanto não for editada a lei complementar que estabeleça como será 
cobrado o imposto sobre grandes fortunas, não será permitida à União a 
cobrança do respectivo tributo. 
➢ Norma Constitucional de eficácia programática – são aquelas que 
estabelecem planos, metas, objetivos, que devem ser alcançados. Para 
que estas normas tenham eficácia urge que os Poderes Estatais tomem 
atitudes que possam concretizá-las, realizando, assim, os fins de 
interesse público consagrados na Carta Magna. Ex: todo artigo 3º da CF. 
 CRÍTICA: não concordo como os autores que colocam as regras 
programáticas dentro da classificação de eficácia limitada, pois estas 
necessitam de uma normatização posterior para serem usufruídas, enquanto 
que as programáticas só precisam de programas de governo para serem 
alcançadas. 
 
Resumindo: 
Normas de EFICÁCIA PLENA ou ABSOLUTA são aquelas que, independente 
de qualquer condição, por serem completas e definidas quanto à hipótese e à 
disposição, são auto-aplicáveis. Desde a entrada em vigor da Constituição, 
produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais. (Ex: Art. 
5º, LXXII CF) 
 
25 
 
Normas de EFICÁCIA LIMITADA são aquelas que não são auto-aplicáveis 
considerando a necessidade de posterior regulamentação (por serem 
incompletas). Têm aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente 
incidem totalmente sobre esses interesses, após uma normatividade ulterior que 
lhes desenvolva a aplicabilidade.(Ex: Art. 7º, I CF) 
 
Normas de EFICÁCIA CONTIDA são aquelas que o legislador constituinte 
regulou suficientemente os interesses relativos à determinada matéria, mas 
deixou margem à atuação restritiva por parte da competência do poder público 
ou órgãos regulamentares. (Ex: Art. 5º, XIII CF) 
 
Norma de EFEICÁCIA PROGRAMÁTICA são aquelas que estabelecem planos, 
metas, objetivos, que devem ser alcançados. Para que estas normas tenham 
eficácia urge que os Poderes Estatais tomem atitudes que possam concretizá-
las, realizando, assim, os fins de interesse público consagrados na Carta Magna. 
Ex: todo artigo 3º da CF. 
 
PONTO 2 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
2.1 - Fundamentos do Estado Brasileiro: 
 
CF/88 Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
 
SOBERANIA – poder político supremo e independente, não estando limitado a 
nenhum outro na ordem interna e está em pé de igualdade com os poderes 
supremos dos outros povos. É a capacidade de editar suas próprias normas. 
 
CIDADANIA – um direito fundamental das pessoas que se exterioriza através de 
um status. Participação política do indivíduo nos negócios do Estado. 
 
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – é um valor espiritual e moral inerente 
à pessoa, que se manifesta na autodeterminação consciente e responsável da 
própria vida, concedida através dos direitos e garantias fundamentais. 
 
OS VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA – é através 
do trabalho que o homem se dignifica e ajuda no crescimento do país. 
 
PLURALISMO POLÍTICO – uma garantia para a liberdade de convicções 
filosóficas e políticas e possibilitando a participação popular nos destinos 
políticos do país. As diversidades e as liberdades devem ser amplamente 
respeitadas. 
 
26 
 
Quando no caput se utiliza a expressão: “Estado Democrático de Direito”, 
significa a imposição de posturas democráticas no trato com as coisas públicas. 
 
2.2 - Regime Político Democrático 
 
 
CF/88 Art. 1º Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
 
 Ao afirmar que “todo poder emana do povo” o parágrafo destaca o 
fundamento do regime político democrático. O exercício do poder dar-se-á 
por meio de “representantes eleitos” (democracia representativa), ou 
“diretamente nos termos desta Constituição” (democracia direta). Os 
instrumentos da democracia direta se encontram no capítulo dos direitos 
políticos (art. 14, I a III), são o plebiscito, o referendum e a iniciativa 
popular. Este é o Princípio democrático. 
 
2.3 – Separação dos Poderes 
 
CF/88 Art. 2º - São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o 
Executivo e o Judiciário. 
 
O Estado brasileiro adota, por este artigo 2º, o princípio fundamental da 
separação e harmonia entre os poderes. Historicamente, este tema ganhou 
contornos definitivos na Europa a partir das ideias de Montesquieu. Deixou para 
trás o Absolutismo até então vigente. Vamos estudar mais adiante, que não se 
trata de propriamente de uma separação de Poderes. Melhor seria denominá-la 
de especializações de funções do Estado. Isto porque a os Poderes decorrem 
da soberania do Estado, cujas características são a unidade a indivisibilidade e 
indelegabilidade. 
 
2.4 – Objetivos Fundamentais 
 
CF/88 Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação. 
 
Tratam-se de objetivos fundamentais, de norte, de direção, enfim de 
finalidades para a ação estatal. A sua consecução, ou não, estará diretamente 
relacionado as políticas e programas a serem implementados e às pressões 
que as diversas forças exercerem sobre a formulação e execução das políticas 
publicas. É um artigo que substancialmente contém normas programáticas que 
27 
 
caracterizam a constituição como dirigente, como já ressaltado. Classificam-se, 
quanto a eficácia da norma constitucional, em regras de eficácia limitada. 
 
2.5 – Princípios das relações internacionais 
 
CF/88 Art. 4º - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos 
seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
 
Tratam-se, em sua maioria, de princípios do Direito Internacional Público. 
 
• Independência nacional – é princípio que representa a face externa da 
soberania nas relações internacionais. O Brasil em pé de igualdade 
com os demais Estados Soberanos. 
• Prevalência dos direitos humanos – os direitos humanos são alçados 
internacionalmente numa hierarquia superior aos demais direitos. 
Autorizam, em situações extremas, até a intervenção internacional 
(através da ONU) em Estados soberanos, a exemplo do que ocorreu 
recentemente na Iugoslávia. 
• Autodeterminação dos povos – o povo (aquele que tem um vínculo 
jurídico com determinada ordem jurídica) tem direito de determinar-se de 
acordo com suas próprias escolhas. 
• Não-intervenção – princípio que está diretamente relacionado ao 
princípio da independência. Cada Estado poderá estabelecer suas 
próprias diretrizes organizacionais. 
• Igualdade entre os Estados – princípio também diretamente relacionado 
com o da independência. A Soberania deve ser entendida sob o prisma 
da isonomia. 
• Defesa da paz – como princípio, em suas relações externas, o Estado 
brasileiro repudia o conflito armado e busca deliberadamente uma 
convivência pacífica. 
• Solução pacífica dos conflitos - decorrente natural da defesa da paz. 
• Repúdio ao terrorismo e ao racismo – deixa claro o posicionamento 
contrário do Brasil em relação a atos de violência praticados por grupos 
revolucionários radicais; e posicionamento favorável à igualdade das 
raças. Consubstancia-se pelo princípio da liberdade de consciência. 
28 
 
• Cooperação entre os povos para progresso da humanidade – 
princípio que demonstra a disposição do Estado Brasileiro em interagir 
com os demais Estados em busca do progresso. 
• Concessão de asilo político – princípio que garante acolhida aos que 
buscam refúgio por motivos políticos. Baseia-se no princípio da escusa 
de consciência. 
 
2.6 – Integração com os povos da América Latina 
 
CF/88 Art. 4º Parágrafo único - A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, 
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações. 
 
 Quanto ao parágrafo único do art. 4º, é preciso ter em mente que a 
América Latina é constituída por aqueles países do continente americano 
(compreende: América do sul, América central e América do norte) colonizados 
por povos cuja língua deriva do latim (português, espanhol, francês, italiano, 
entre outros). 
 Por curiosidade, desta integração econômica, política, social e cultural, 
de que trata o parágrafo único, estariaexcluído os Estados Unidos, que têm 
origem anglo-saxônica. Anglo-saxão (significa inglês arcaico). 
 
PONTO 3 – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
3.1 Natureza e eficácia das normas sobre Direitos Fundamentais – os 
Direitos Fundamentais do homem são situações jurídicas, objetivas e subjetivas, 
definidas no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da 
pessoa humana. São direitos Constitucionais amparados pela supralegalidade. 
 
Têm aplicabilidade imediata, mas algumas regras mencionam uma lei 
integradora, são de eficácia limitada, de princípios programáticos e de aplicação 
indireta (contida). Como já estudado. 
3.2 Características dos Direitos Fundamentais – 
 
Historicidade – são históricos como qualquer direito. 
 
Inalienabilidade – intransferíveis, inegociáveis, pois não têm conteúdo 
econômico-patrimonial. Não podem ser vendidos ou permutados. 
 
Imprescritibilidade – nunca deixam de ser exigíveis, não prescrevem. 
 
Irrenunciabilidade – nenhuma pessoa pode abrir mão dos Direitos e Garantias 
de forma definitiva, sendo admitido, em alguns casos, a pura desistência. Podem 
até não serem exercidos, mas não se admite sejam renunciados. 
 
Inviolabilidade – não são passíveis de violações, pois o direito de um nasce 
quando o direito do outro termina; 
29 
 
 
Universalidade – podem ser opostos contra todos, efeito “erga omnes”; 
 
Efetividade – podem ser, a qualquer momento, invocados, usufruídos, 
independentemente da vontade alheia; 
 
Interdependência – são independentes, porém formam um conjunto de direitos 
e deveres; 
 
Complementariedade – uns completam os outros devido às garantias 
constitucionais. 
 
3.3 Classificação dos Direitos Fundamentais – temos 5 (cinco) espécies do 
gênero direitos e garantias fundamentais: 
 
1º Direitos individuais e coletivos (Art. 5º); 
2º Direitos sociais (Art. 6º e 193 e ss); 
3º Direitos à nacionalidade (Art. 12); 
4º Direitos políticos (Art. 14 a 17) 
5º Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos 
políticos (Art. 17) 
 
Os direitos e garantias fundamentais, objeto do Título II, da 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, compreendem os 
direitos e deveres individuais e coletivos (capítulo I), os direitos sociais 
(capítulo II), os direitos de nacionalidade (capítulo III), os direitos políticos 
(capítulo IV) e os partidos políticos (capítulo V). 
 
 Na evolução dos direitos fundamentais, resultado de longo processo de 
construção histórica, a partir, aproximadamente, da Revolução Francesa de 
1789, o qual resultou em sua inclusão nas Constituições de diversos países, 
entre eles o Brasil, consolidou-se a classificação deles em diferentes gerações 
(direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira gerações), atendendo a 
uma finalidade didática, devendo-se, contudo, ressaltar que uma geração de 
direitos não exclui a anterior. Ao contrário, os direitos de 2ª e de 3ª geração 
não vieram para substituir os de 1ª geração, mas sim para se somar a eles, 
ampliando o rol de direitos atribuídos ao indivíduo. Portanto, as gerações 
de direitos não se sucederam e nem se substituíram ao longo do tempo. São as 
seguintes as gerações de direitos fundamentais: 
 
• 1ª geração – foram concebidos por volta do final do século XVIII, após a 
Revolução Francesa. Nessa geração incluem-se os chamados direitos civis 
e políticos. Correspondem ao período do Estado Liberal puro, ou seja, 
aquele a quem cabia apenas a prestação dos serviços tipicamente públicos, 
como por exemplo, os serviços de segurança pública. São direitos oponíveis 
ao Estado e que impõem a este uma postura de abstenção e de não-
intervenção na esfera privada do cidadão. Costumam ser qualificados como 
direitos de liberdade. São direitos de não-intervenção estatal. 
 
30 
 
• 2ª geração – historicamente, foram concebidos entre o final do século XIX e 
o início do século XX, sob a influência da Revolução Soviética de 1917. 
Nessa geração incluem-se os chamados direitos sociais. Correspondem ao 
período do chamado Estado do Bem-Estar Social, ou seja, aquele a quem 
cabia, além de uma postura de não-intervenção na esfera dos direitos 
individuais do cidadão, a adoção de políticas públicas como instrumento de 
efetivação desses direitos. São direitos que impõem ao Estado um dever de 
prestação de serviços públicos, tais como educação e saúde. Costumam ser 
qualificados como direitos de igualdade. São direitos de prestação estatal. 
 
• 3º geração – é a concepção mais recente de direitos fundamentais, que 
surgiu com a falência do modelo de Estado do Bem-Estar Social. Nessa 
geração estão incluídos os chamados direitos difusos, que se caracterizam 
por possuírem uma titularidade indeterminada ou indeterminável. Noutras 
palavras, são direitos que pertencem a todos, sem que seja possível 
quantificar a quantidade de direitos atribuída a cada indivíduo, exatamente 
por não se ter como identificar com precisão seus titulares. Correspondem ao 
período do Estado Neoliberal. Como exemplos, têm-se o direito à paz 
mundial, a uma saudável qualidade de vida, ao progresso e ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. Costumam ser qualificados como direitos de 
solidariedade ou de fraternidade. 
 
Resumindo: 
 
Direitos de 1ª Geração – direitos civis e políticos = individuais e políticos, as 
liberdades clássicas, negativas e formais. 
 
Direitos de 2ª Geração – direitos econômicos e culturais – liberdades positivas, 
reais e concretas. 
 
Direitos de 3ª Geração – direitos ligados ao princípio da solidariedade – direito 
de solidariedade ou fraternidade. 
 
Manoel Gonçalves Filho : 1ª Ger. Liberdade; 2ª Ger. Igualdade; 3ª Ger. 
Fraternidade = lema da Revolução Francesa. 
 
Há autores que admitem ainda a existência de uma 4ª geração, 
representada pela solidariedade e pelo direito a participação e à 
democracia. 
 
 
 
 
 Celso Lafer traz os Direitos de 4ª Geração, calcados nos interesses 
transindividuais. 
 
INTERESSE GRUPO DIVISIBILIDADE ORIGEM EXEMPLO 
DIFUSO Indeterminável indivisíveis Situação 
de fato 
Propagando 
enganosa na 
TV; 
31 
 
degradação 
ambiental... 
COLETIVO determinável indivisíveis Situação 
jurídica 
Aumento de 
prestação de 
consórcio 
INDIVIDUAL 
COLETIVO 
determinável divisíveis Origem 
comum 
Defeito de 
produto 
fabricado em 
série. 
 
Como vimos, na concepção liberal-burguesa, os direitos fundamentais 
são oponíveis apenas contra o Estado, uma vez que eles existem 
essencialmente para assegurar aos indivíduos um espaço de liberdade e 
autonomia contra a ingerência indevida do poder público. 
 
No sistema constitucional brasileiro, os direitos fundamentais podem ser 
arguidos não apenas em face dos poderes públicos, mas também podem ser 
invocados em qualquer relação jurídica em que os mesmos estiverem sendo 
violados ou ameaçados de lesão, a exemplo dos direitos a liberdade de 
consciência e de crença, a inviolabilidade da honra e da imagem. 
 
Direitos e garantias fundamentais diferem. As garantias consistem 
em disposições assecuratórias de direitos e limitadoras do poder do 
Estado. 
 
Segundo o STF “não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos 
ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de 
relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência 
das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos 
órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, 
desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O 
estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico 
a que estas estão sujeitas - e considerado o substrato ético que as informa - 
permite que sobre elas incidam limitações de ordem

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