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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Confiabilidade Conteudista: Henrique Martins Rocha Conteúdo 2 – ÍNDICES DE CONFIABILIDADE E MANUTENABILIDADE – PARTE 1 If You Can’t Measure It, You Can’t Manage It (tradução: se você não consegue medir, você não consegue gerenciar) - frase de autoria desconhecida, erroneamente atribuída a W. Edwards Deming (1900-1993) Mesmo não sendo uma frase de Deming, ela contém uma lógica inquestionável: sem medir o desempenho de um atleta, de um negócio ou de um equipamento, não há como saber se ele está indo bem ou não. E, se não sabemos como está indo, como tomar decisões para manutenção ou melhoria do desempenho? É importante definir o que medir, para podermos agira de forma adequada. É isso que você estudará nesta aula. Bons estudos! Figura 2.1 Instrumentos de medição Fonte: https://pixabay.com/pt/instrumentos-medi%C3%A7%C3%A3o-medida-860912/ Meta Apresentar os conceitos básicos referentes aos índices de confiabilidade e manutenabilidade, bem como diferenciar os conceitos de tempo médio entre falhas e tempo médio até falhar. Objetivos Esperamos que, ao final deste conteúdo, você seja capaz de: 1.Discutir a importância das medidas de desempenho no âmbito da confiabilidade; 2.Explicar a diferença entre tempo médio entre falhas e tempo médio até falhar; 3.Identificar situações práticas para utilização dos índices de confiabilidade. Pré-requisitos Ser capaz de expressar o conceito de Confiabilidade, apresentado na Unidade I. Introdução Você é o responsável por uma unidade de produção de canetas esferográficas, que funciona ininterruptamente no regime 24 x 7 (24 horas por dia, 7 dias por semana) e há um contrato para atender um demanda de 20.000 canetas por semana que sua empresa deseja fechar. Figura 2.2 Fábrica Fonte: http://pt.freeimages.com/photo/industry-1164148 Sabendo que o tempo de produção de cada caneta é de 30 segundos, você fez uma rápida conta: 0,5 minuto por caneta multiplicado por 60 significa que 120 canetas seriam produzidas a cada hora. Produzindo 24 horas por dia, seriam produzidas 2.880 canetas por dia e, consequentemente, poderiam ser produzidas até 20.160 canetas por semana (2.880 x 7). Assim, não haveria problema em fechar o contrato nessas condições. Figura 2.3 Análise de negócio. Fonte: http://www.freepik.com/free-photo/close-up-businessmen-working-together-with- diagrams_854339.htm#term=esferografica&page=1&position=25 Mas, relendo o conteúdo da Unidade I, um trecho chamou sua atenção: “Todo componente, máquina ou equipamento irá falhar em algum momento: peças se desgastam com o uso, materiais se deterioram com o tempo, conjuntos montados se soltam, materiais expostos são contaminados por agentes diversos ou se oxidam, etc., fazendo com que peças e máquinas deixem de cumprir adequadamente suas funções”. Se máquinas falarão em algum momento, isso pode acontecer com as máquinas que deveriam trabalhar “24 x 7” e, assim, não seriam produzidas, de fato, 20.160 canetas por semana, o que poderia gerar pesadas multas pela falha nas entregas previstas no contrato. Mas, quantas poderiam ser produzidas? Não há como saber antecipadamente, nem termos valores precisos. Mas podemos trabalhar com previsões, ou seja, probabilidades oriundas dos estudos de confiabilidade. Para isso, precisamos estabelecer índices de medidas. 1.1 Classificação qualitativa e quantitativa Os estudos de confiabilidade se dividem em dois pilares: • Análises quantitativas, voltadas à medição de desempenho de componentes, equipamentos e sistemas, abrangendo a quantidade de falhas e suas frequências de ocorrência, tempo de paradas por falhas, custos e perda de receita envolvidos, etc. Utiliza-se a Estatística para, baseado em dados históricos, fazer previsões e projeções de desempenho (por exemplo, para analisar a garantia de um produto ou estabelecer rotinas de manutenção de máquinas e equipamentos); e • Análises qualitativas, nas quais se busca compreender os mecanismos das falhas, ou seja, como e porque elas ocorrem, bem como suas consequências para o sistema. Ou seja, é, também, possível fazer previsões sobre como as falhas podem ocorrer, mas não de uma forma quantitativa. Ainda que não sejam excludentes, sendo utilizadas conjuntamente nos estudos de confiabilidade, apresentaremos para você as duas formas separadamente: iniciaremos pela abordagem quantitativa, por meio do estudo das medidas de desempenho ligadas à confiabilidade. 1.2 Conceitos básicos Tudo o que precisa ser gerenciado, precisa englobar as atividades de planejamento, execução e controle, para que se possa aumentar a chance de sucesso e de atingimento dos objetivos traçados (CORRÊA; CORRÊA, 2004). Ou seja, vemos ai uma clara semelhança com o método PDCA, desenvolvido nos anos 30 na Bell Laboratories por Walter Shewhart e disseminada posteriormente por Deming, tratando-se de um processo de melhora contínua que se baseia na repetição contínua do ciclo de planejamento (P), execução (D), verificação (C) e ação (A), aplicável em qualquer processo ou problema (ANDRADE, 2003). Figura 2.4 Ciclo PDCA Fonte: https://pixabay.com/pt/plano-fazer-sele%C3%A7%C3%A3o-ato-artes-686327/ A lógica por trás de tal afirmação se justifica pelo fato de que se faz necessário estabelecer as ações a serem executadas, sua sequência de execução, os recursos necessários para tal (pessoas, máquinas, equipamentos e capital), bem como a calendarização das ações e da necessidade dos recursos envolvidos. No entanto, tais passos, referentes ao planejamento, ainda que necessários, não garantirão que a execução ocorra exatamente conforme o planejado: fatores internos e externos, falhas eventuais, execução inapropriada, etc., podem causar desvios no andamento das atividades. Surge, então, a necessidade das atividades de controle, que dizem respeito à comparação, ou seja, comparar os resultados da execução com o que foi planejado. Por exemplo, se uma empresa estabelece um plano de vendas, ela precisa controlar esse processo, ou seja, monitorar as vendas, comparando-as constantemente com o plano, de tal forma que os desvios sejam detectados e as ações pertinentes sejam tomadas para reverter qualquer tendência desfavorável, de forma que os objetivos da empresa sejam alcançados. Essa comparação/monitoramento exige, então, a existência de um sistema de medidas, ou seja, um processo sistematizado para coleta, processamento e distribuição das informações referentes ao planejamento e à execução das atividades, suportando, desta forma, a gestão do negócio. No âmbito da Engenharia de Confiabilidade, a lógica é exatamente a mesma: precisamos mensurar o desempenho de máquinas, equipamentos e sistemas e isso é feito por meio dos índices (ou indicadores) de confiabilidade e mantenabilidade. Os índices de confiabilidade (também chamados de indicadores ou parâmetros de confiabilidade) e mantenabilidade compõem a base do que é conhecido como R/A/M (do inglês, realibility,availability e maintainability – confiabilidade, disponibilidade e mantenabilidade), fatores importantes para determinar a capacidade real de produção (HOPP; SPEARMAN, 2013), que devem ser analisados conjuntamente. Figura 2.5 Reliability (Confiabilidade) Fonte: https://pixabay.com/pt/confiabilidade-black-branco-1992960/ Iniciaremos por dois índices, MTBF e MTTF, que são muito parecidos, diferenciando-se pelo fato do 1º se aplicar a produtos e sistemas reparáveis e o 2º a produtos e sistemas não reparáveis. Salgado (2008) esclarece a diferença entre eles: Sistemas reparáveis são passíveis de manutenção, ou seja, uma vez detectada uma falha, sua condição operacional pode ser restaurada mediante algum tipo de intervenção, ao invés de sua substituição, ao passo que Sistemas não reparáveis não são passíveis de manutenção, ou seja, uma vez que apresentaram falha, não podem ter sua função restabelecida, não havendo outra opção além de sua substituição/descarte. 1.3 MTBF – Tempo médio entre falhas O MTBF (do inglês, Mean Time between Failures: Tempo médio entre falhas) é o parâmetro mais comum em confiabilidade. É o tempo médio entre falhas sucessivas de um produto reparável (SILVA et al., 2015). Por exemplo, um motor elétrico com um MTBF de 40.000 horas. MTBF = ∑ MTBF = ∑ ∑ Vamos ver uma representação gráfica do que seria o MTBF: O gráfico mostra um componente ou sistema em funcionamento e sua situação ao longo do tempo: após um tempo em funcionamento normal, uma falha ocorre. Chamamos de tempo de falha 1 (TF1). Durante determinado tempo há o reparo e o funcionamento volta a se regularizar, permanecendo assim até que venha a falhar novamente: chamamos o intervalo entre a 1ª falha e essa de tempo de falha 2 (TF2). O ciclo se repete, com novo reparo, funcionamento até nova falha, etc. Como você pode ver no gráfico o tempo entre falhas não é constante e, desta forma, calcula-se um valor médio do tempo entre as falhas de acordo com a Equação 1: 𝑛𝑛 𝑘𝑘 =1 TFk/n (1) Sendo: TFk tempo entre a k-ésima e a k+1-ésima falha; n quantidade de falhas. Caso a coleta de dados sobre as falhas ocorra em mais de um componente ou sistema, calcula-se o valor médio do tempo entre as falhas de acordo com a Equação 2: 𝑚𝑚 𝑖𝑖 =1 𝑛𝑛 𝑘𝑘 =1 TFki/n (2) Sendo: TFki tempo entre a k-ésima e a k+1-ésima falha do i-ésimo elemento testado; n quantidade total de falhas nos m elementos testados. 1.4 MTTF – Tempo médio até falhar O MTTF (do inglês, Mean Time to Failure: Tempo médio até falhar, ou tempo médio até a falha, ou tempo médio para falha) é geralmente utilizado para produtos não reparáveis (VACCARO, 1997), medindo o tempo médio até sua falha ou o tempo médio até a primeira falha de um produto reparável. Por exemplo, uma lâmpada de led com um MTTF de 50.000 horas. A representação gráfica do MTTF de um único componente ou sistema é mais simples que do o MTBF, pois, como não há reparo, uma vez que ocorra a falha, encerra-se a coleta dos dados, como pode ser visto no gráfico a seguir. O cálculo do MTTF ocorre, então, mediante a coleta dos tempos de falha de diversos componentes/sistemas, como representado no gráfico a seguir. MTTF = ∑ Como você pode ver, diferentes componentes/sistemas apresentam diferentes tempos até falhar. O MTTF calculado de acordo com a Equação 3: 𝑛𝑛 𝑘𝑘 =1 TaFk/Nn (3) Sendo: TaFk tempo até a falha do k-ésimo elemento testado; n quantidade de elementos testados. Conclusão A definição de um sistema de medidas auxilia o processo de gestão, pois os objetivos qualitativos são definidos (ou seja, planeja-se o que se quer atingir), quantificam-se as metas, ou seja, torna os objetivos mensuráveis e, consequentemente, claros, não subjetivos, e permite adequado acompanhamento comparativo, isto é, avaliar quantitativamente se objetivos e metas estão sendo atingidos, para disparar as ações necessárias sempre que necessário. Desta forma, os índices de confiabilidade são instrumentos de extrema importância para garantir que os processos produtivos são mantidos e constantemente aperfeiçoados. Resumo A confiabilidade é estudada sob uma abordagem qualitativa (como as falhas ocorrem e seus efeitos) e quantitativa (quantidade de falhas e suas frequências de ocorrência, etc.) Sob a perspectiva da análise quantitativa em engenharia de confiabilidade, o desempenho de sistemas pode ser medido em termos do tempo médio até a falha (MTTF ou Mean Time to Failure) no caso de sistema não-reparáveis, ou [...] o tempo médio entre falhas (MTBF ou Mean Time between Failures) [...] no caso de sistema reparáveis (SALGADO, 2008, p.11). Leituras Recomendadas PACE, Eduardo Sérgio Ulrich; BASSO, Leonardo Fernando Cruz; SILVA, Marcos Alessandro da. Indicadores de desempenho como direcionadores de valor. Rev. adm. contemp., Curitiba , v. 7, n. 1, p. 37-65, Mar. 2003 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 65552003000100003&lng=en&nrm=iso>. access on 21 Jan. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552003000100003. SELLITTO, Miguel Afonso; BORCHARDT, Miriam; ARAÚJO, Daniel Ribeiro Campos de. Manutenção centrada em confiabilidade: aplicando uma abordagem quantitativa. In: XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Curitiba, 23 a 25 de outubro de 2002, Anais... Informações sobre o próximo conteúdo Na próxima aula, continuaremos o estudo dos índices (ou indicadores) de confiabilidade e mantenabilidade, abordando o tempo médio de reparo, taxa de falhas, disponibilidade e mantenbabilidade. Referências Bibliográficas ANDRADE, Fábio Felippe de. O método de melhorias PDCA. 2003, 169f. Dissertação (Mestrado em Engenharia). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. CORRÊA, Henrique L.; CORRÊA, Carlos A. Administração da produção e operações: manufatura e serviços – uma abordagem estratégica. São Paulo: Atlas, 2004. 690p. HOPP, Wallace J.; SPEARMAN, Mark L. A ciência da fábrica. 3. ed. Porto Alegre : Bookman, 2013. 691p. SALGADO, Marcia de Fatima Platilha. Aplicação de Técnicas de Otimização na Engenharia de Confiabilidade. 2008, 122f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. SILVA, Josiane Roberta dos Santos et al. Análise da confiabilidade: um estudo de caso. In: XXXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP. Fortaleza, 13 a 16 de outubro de 2015. Anais... VACCARO, Guilherme Luis Roëhe. Modelagem e análise da confiabilidade de sistemas. 1997, 222f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1997.
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