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Confiabilidade Industrial 1ª e di çã o Confiabilidade Industrial André Cantareli da Silva Confiabilidade Industrial DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Gerência Nacional do EAD Bruno Mello Ferreira Gestor Acadêmico Diogo Pereira da Silva FICHA TÉCNICA Texto: André Cantareli da Silva Revisão Ortográfica: Rafael Dias de Carvalho Moraes Projeto Gráfico e Editoração: Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos e Victor Narciso Supervisão de Materiais Instrucionais: Antonia Machado Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói S586c Silva, André Cantareli da. Confiabilidade industrial / André Cantareli da Silva ; revisão de Rafael Dias de Carvalho Moraes. – 1. ed. – Niterói, RJ: UNIVERSO: Departamento de Ensino à Distância, 2018. 154 p. : il. 1. Psicologia industrial. 2. Gestão da qualidade total. 3. Planejamento empresarial. 4. Plano de ação. 5. Confiabilidade. 6. Ensino à distância. I. Moraes, Rafael Dias de Carvalho. II. Título. CDD 158.7 Bibliotecária: Ana Marta Toledo Piza Viana | CRB 7/2224 Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se r esponsabilizando a ASOEC pelo conteúdo do texto formulado. © Departamento de Ensi no a Dist ância - Universidade Salgado de Oliveira Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedor a da Univer sidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). Confiabilidade Industrial Palavra da Reitora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSOEAD, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo o momento, ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSOEAD! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora Confiabilidade Industrial 4 Confiabilidade Industrial 5 Sumário Apresentação da disciplina ................................................................................................ 07 Plano da disciplina .............................................................................................................. 09 Unidade 1 – Conceitos de Confiabilidade........................................................................ 11 Unidade 2 – Gerenciamento de Falhas ............................................................................ 41 Unidade 3 – Gestão Estratégica da Manutenção ............................................................ 73 Unidade 4 – Manutenção Centrada na Confiabilidade .................................................. 91 Unidade 5 – Plano de Ação para Manutenção ................................................................ 111 Unidade 6 – Gestão da Qualidade e Manutenção .......................................................... 127 Considerações finais ........................................................................................................... 148 Conhecendo o autor ........................................................................................................... 149 Referências ........................................................................................................................... 150 Anexos .................................................................................................................................. 152 Confiabilidade Industrial 6 Confiabilidade Industrial 7 Apresentação da disciplina O estudo da Engenharia de Produção possibilita a aquisição de conhecimento em diversas áreas do saber aplicados às Organizações, dentre elas aqueles que se referem à manutenção. Este setor, normalmente encontrado em indústrias de pequeno até grande porte, tem papel importante na realização de produtos e serviços, uma vez que as atividades devem fluir de forma perene com interrupções somente programadas. Para isso, é preciso conhecer as técnicas de manutenção existentes e apropriar-se de processos gerenciais que possam ser aplicados no setor em tela. O objetivo será alcançar um grau de confiança elevado. Daí surge a Confiabilidade Industrial que concede uma estrutura de avaliação sólida para a manutenção, não a considerando apenas como um setor que deverá se ocupar sempre com casos emergenciais. Torna-se, então, um desafio, operar equipamentos e gerir sistemas de tal forma a obter melhores resultados, que não sejam interrompidos devido à falta de atenção e cuidado, naquilo que poderia ser previsto. A previsão aqui se refere a conhecer as especificidades de equipamentos e sistemas, utilizando-os dentro de seus limites e adequados aos usos que se destinam. Nunca arrumando um jeitinho de adaptá-los a uma realidade que não lhes convém. A Confiabilidade Industrial tem papel preponderante neste cenário de manutenção, que afeta diretamente o sucesso ou fracasso das Organizações. Confiabilidade Industrial 8 Confiabilidade Industrial 9 Plano da Disciplina A disciplina Confiabilidade Industrial trabalha a importância de não falhar em equipamentos e sistemas, pensados e projetados para as mais diversas ações no meio industrial. Não somente representa a viabilidade de projetos ou sistemas infalíveis, mas a possibilidade de que estes, de fato, tenham reduzidas marcas de problemas ou inconsistências ou não conformidades, como tratado nos Sistemas de Gestão da Qualidade. Dessa forma e objetivando estudar a Confiabilidade como ferramenta para a Engenharia, o presentematerial reúne o pensamento de autores que trabalham diretamente com a temática e suas experiências, compartilhadas e desenvolvidas no ambiente industrial. As unidades são assim organizadas: Unidade 1 – Conceitos de Confiabilidade Nesta primeira unidade, serão tratados os temas iniciais que embasarão o estudo de todo o material. Objetivo: apresentar os conceitos, o histórico e as demais funções da Confiabilidade Industrial. Unidade 2 – Gerenciamento de Falhas A unidade apresenta o conceito de Falha Industrial, seus tipos e meios de detectá-la antes que aconteçam. Objetivo: demonstrar a importância do tratamento das falhas e métodos que podem evitá-las, senão reduzi-las em números suportáveis por qualquer equipamento ou sistema. Confiabilidade Industrial 10 Unidade 3 – Gestão Estratégica da Manutenção Apresenta esta unidade uma visão geral da Manutenção, seus tipos e parâmetros adotados para a sua realização. Objetivo: direcionar o estudo para a manutenção e sua importância nas indústrias como forma de reduzir custos e possíveis prejuízos provocados pela interrupção dos processos. Unidade 4 – Manutenção Centrada na Confiabilidade A unidade amplia o conhecimento sobre Manutenção e inclui a Confiabilidade neste processo. Objetivo: demonstrar a importância da Confiabilidade resultante das operações de manutenção das Indústrias. Unidade 5 – Plano de Ação para Manutenção A quinta unidade trabalha a orientação de uma Manutenção baseada na estratégia de um Plano de Ação. Objetivo: apresentar as vantagens de realização de um Plano de Ação onde haja uma agenda dinâmica para execução de manutenções, evitando interrupções não planejadas. Unidade 6 – Gestão da Qualidade e Manutenção A última unidade reúne conceitos da Qualidade Total e demonstra a sua aproximação com o controle da Manutenção. Objetivo: alinhar o conhecimento de Qualidade Total à Manutenção como uma alternativa ao Plano de Ação para Manutenção. Bons estudos! Confiabilidade Industrial 11 1 Conceitos de Confiabilidade Confiabilidade Industrial 12 Prezado aluno, nesta unidade iniciaremos com os conceitos básicos de Confiabilidade e seu histórico. O intuito é orientar o aprendizado dessa nova disciplina. Objetivos da unidade: Apresentar os conceitos, histórico e demais funções da Confiabilidade Industrial. Plano da unidade: Conceito Histórico Parâmetros da Confiabilidade Avaliação Quantitativa Curva da Banheira Diagrama de Blocos Bons estudos! Confiabilidade Industrial 13 Conceito Pensar em Confiabilidade é entre outras coisas pensar em tranquilidade, uma vez que sua definição é “qualidade de quem ou de que é confiável; fiabilidade” (FERREIRA, 2004). Quando pensamos em organizações complexas como Indústrias, a Confiabilidade assume um patamar de exigências bem complexos e que pode gerar maior ou menor custo operacional para estas organizações. Assim sendo, Confiabilidade Industrial pode ser definida como “a “confiança” de que um componente, equipamento ou sistema desempenhe a sua função básica” (KARDEC e LAFRAIA, 2002), e além disso, “durante um período de tempo preestabelecido, sob condições padronizadas de operação” (KARDEC e LAFRAIA, 2002). Observe que alguns elementos são destacados nesta definição, como confiança, função básica, tempo e padrão de operação. Confiança relacionada ao cumprimento da tarefa ao qual um equipamento ou processo se destine, realizando o que se espera deles. Isto está associado à função básica. O que nem sempre se encontra em produtos que não atendem nem mesmo essa função que seria a mais natural, não funcionando nem mesmo o tempo que se pensou para os itens de reposição, como peças de manutenção e continuidade de equipamentos. Todo equipamento tem um tempo mínimo de funcionamento e precisa cumpri-lo. Este tempo de duração gera padrões de operação o que cria a Confiabilidade necessária para sistemas e equipamentos. Observe que estes termos trazem em si a preocupação com o funcionamento de ambos, com sua eficiência e eficácia. Os autores destacam que utilizam a palavra “confiança” ao invés de utilizarem a palavra probabilidade com o propósito de explicar sem os conceitos da Estatística o que significa confiabilidade, utilizando estas técnicas de forma mais prática no entendimento da disciplina. A sugestão é mostrar que se pode entender Confiabilidade sem necessariamente ter total domínio da Estatística, sem considerar isso desnecessário, uma vez que se perceberá ao longo dos estudos, um conhecimento mínimo. Confiabilidade Industrial 14 Acrescentando itens ainda à definição, completam: Para que tenhamos confiabilidade em equipamentos e sistemas não podemos esquecer que isto necessariamente implica investimentos de capital. Confiabilidade será obtida através de mais material, ou seja, maior espessura ou dimensão, materiais melhores ou mais nobres ou mais caros, ou, por fim, pelo uso de equipamentos reservas para atuar como substitutos no caso de falha do equipamento principal” (KARDEC e LAFRAIA, 2002). Confiabilidade significa maior investimento para maior confiança e menor número de interrupções na produção relacionadas ao mal funcionamento de um equipamento ou sistema. Custa mais, mas dura mais. Essa análise deve suportar as decisões de Engenheiros de Produção ao projetarem tanto equipamentos quanto sistemas operacionais. Isso significa que durante esta fase de projetos, caso se pretenda que a probabilidade de funcionamento de um componente seja aumentada, deve-se dimensionar “de forma que a carga aplicada a ele seja menor do que a resistência do material nele empregado” (KARDEC e LAFRAIA, 2002). Os autores afirmam que “a distância que separa o valor da carga do valor da resistência é conhecida como coeficiente de segurança do projeto” (KARDEC e LAFRAIA, 2002). Este coeficiente de segurança deve constar em todos os projetos que se destinem a serem sérios e a obterem resultados positivos. Importante! Gastar mais nem sempre será aceito de imediato num processo de aprovação de projeto. Assim, reúna todas as informações prós e contras pela utilização ou não do projeto com a Confiabilidade necessária ao sucesso do projeto. Confiabilidade Industrial 15 Outro elemento destacado pelos autores se refere à possibilidade de redução do coeficiente de segurança. Para isso é preciso conhecer a variação das cargas e das resistências daqueles materiais que serão utilizados, numa série histórica por exemplo. Claro, isso se tiverem estas informações coletadas de forma confiável e declarado o método de coleta, pois não deve confiar em informações sem origem segura e testada. No entanto, produtos novos não terão tais informações. Neste caso, o bom senso e o propósito de adquirir bons resultados deverão nortear o trabalho do projetista voltando à premissa inicial de se obter o maior grau de confiança na produção de equipamentos ou projeto de sistemas. Segundo os autores, o projeto de equipamentos sofisticados e caros, como usinas nucleares, aviões a jato e plataformas de petróleo, a utilização de coeficientes de segurança tornaria estas aplicações extremamente caras. A confiabilidade permitiu o desenvolvimento destes sistemas complexos com economia de materiais. (KARDEC e LAFRAIA, 2002). “Às vezes o mais barato custa mais”, completa os mesmos autores. De fato, a economia de itens de segurança em qualquer um dos equipamentos citados no destaque acima, e ocorrendo algum acidente, trariam grande desconfiança, por exemplo, a outros projetos desenvolvidos pelo mesmo projetista. É comum em acidentes aéreos a busca pela identificação do que o provocou. Em alguns casos a falha humana, que cai sobre o piloto, determina o episódio. Mas, de fato, não se sabe se a falha humana foi “incentivada”por uma falha de informação em um dos diversos instrumentos de uma aeronave. Outra utilização da Confiabilidade é a seleção de equipamentos ou sistemas que apresentem um custo total menor de ciclo de vida. Kardec e Lafraia (2002) explicam que “ciclo de vida é o tempo compreendido entre o projeto, a fabricação e montagem, a operação e o descarte dos mesmos”. Destacam ainda que para essa determinação é necessário conhecer “a confiabilidade, os custos operacionais, os custos de aquisição, os custos de manutenção”. Confiabilidade Industrial 16 Exemplificando, os autores explicam: um equipamento A possui menor custo de aquisição, porém, em função da sua menor confiabilidade, possui maiores custos de manutenção e perdas por lucro cessante, acarretando maiores custos de ciclo de vida. Por outro lado, o equipamento C apresenta alta confiabilidade e alto custo de aquisição, com baixos custos operacionais e de manutenção e baixas perdas por lucros cessantes, mas apresenta também um alto custo de ciclo de vida. O equipamento B representa a combinação mais adequada entre custo de aquisição, custo de manutenção e lucro cessante, resultando no menor custo de ciclo de vida. (KARDEC e LAFRAIA, 2002). Como dito anteriormente, todos os elementos devem ser considerados no processo de tomada de decisão sobre desenvolvimento de sistemas, aquisição ou montagem de equipamentos, e projetos que representem risco. Lafraia (2001) destaca que o objetivo da Engenharia, inicialmente, é “proporcionar meios materiais que maximizem o bem-estar humano. Porém, isto enfoca uma série de restrições, tais como limitações de ordem física, econômica, social, (...) que normalmente se impõem”. Destaca ainda que tais restrições são quase impraticáveis ao planejamento e à operação de sistemas ou processos físicos e complementa: “consequências naturais destes fatores refletem-se de uma forma implícita da noção de risco” Conceitua risco, de forma geral, como algo que está “intimamente relacionado à presença de situações indesejáveis, sob o ponto de vista do usuário do sistema, produto ou equipamento” (LAFRAIA, 2001). E continua: se estas situações indesejáveis implicarem em risco de vidas humanas e/ou prejuízos econômicos-financeiros de elevado valor, devem ser adotados esforços adicionais no sentido de minimizar ou mesmo evitar estas situações quando possível. (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 17 Essa preocupação alinha-se com o que foi citado anteriormente sobre a construção de usinas atômicas, aeronaves e plataformas de petróleo, entre tantos outros sistemas ou equipamento que exigem impecável funcionamento, podendo incluir nesta lista os componentes de um centro cirúrgico. Um exemplo citado é: uma quebra que constituía a interrupção do fornecimento de energia elétrica a um grande centro consumidor. Esta situação é altamente indesejável, pois não envolve apenas prejuízos econômicos e sociais (paralisação de indústrias, depredações, sistemas elétricos...) como também prejuízos físicos em maior ou menor grau (aeroportos, hospitais...). (LAFRAIA, 2001). Como visto, a Confiabilidade Industrial tem alcance em todas as áreas embora seja atribuída a Engenharia. A sua não aplicação tem uma extensa lista de afetados, direta ou indiretamente. O autor declara ainda que: Frequentemente, as precauções adequadas contra essas situações indesejáveis só podem ser implantadas se o nível de risco envolvido puder ser muito bem avaliado tanto quantitativa quanto qualitativamente, indicando desta forma os pontos “falhos” de um produto, sistema ou equipamento, de forma a conferir/sugerir ações preventivas ou corretivas mais eficientes. (LAFRAIA, 2001). A Análise de Confiabilidade será considerada então pelo autor, como a “avaliação probabilística do risco/falha de um sistema ou produto”. Considera ainda que este instrumento visa a proporcionar um bom desempenho funcional com baixo índice de falhas de um produto, pois esforços tradicionais de projeto não estavam sendo suficientes para conferir as características a equipamentos cada vez mais complexos. (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 18 Corroborando com o citado anteriormente, a Confiabilidade “está diretamente relacionada com a confiança que temos em um produto, equipamento ou sistema, ou seja, que estes não apresentem falhas” (LAFRAIA, 2001). Vem intrinsicamente no pensamento de quem adquire um desses itens citados. Percebemos isso, por exemplo, quando se adquire um eletrodoméstico com base na indicação de algum familiar que tenha obtido sucesso com essa ou aquela marca, o que não garante que outro terá a o mesmo sucesso. Na indústria fica um pouco mais desafiador, pois uma informação como essa pode comprometer sua habilidade em produzir mais por custo menor, infringindo o que alguns chamarão de “segredo de Estado”, “pulo do gato”, entre outras expressões que mais profissionalmente se conhece como expertise, segredo industrial ou know-how. A Confiabilidade por vezes, será construída por cada unidade industrial ou partir de uma matriz que compartilhará os conhecimentos adquiridos a partir da experiência. Isso, logicamente, em organizações que se comprometem a gerir suas informações, a gerar arquivos, a monitorar seu desempenho. Se assim não procederem, necessitarão de um departamento de manutenção muito ativo, o que será visto adiante, ser na maioria das vezes um grande desperdício de tempo e outros recursos, o financeiro em especial. Dessa forma, uma das finalidades da confiabilidade seria a de definir a margem de segurança a ser utilizada, uma vez que no projeto tradicional o coeficiente de segurança é de uma escolha um tanto arbitrária por não conhecermos todas as variáveis do projeto (salvo algumas exceções, em produtos simples). (LAFRAIA, 2001). Como forma de sedimentar o conceito, Lafraia (2001) apresenta um conceito estatístico de confiabilidade: confiabilidade é a probabilidade de um componente ou sistema funcionado dentro dos limites especificados de projeto, não falhe durante o período de tempo previsto para a sua vida, dentro das condições de agressividade ao meio. Confiabilidade Industrial 19 O autor ainda chama a atenção para quatro fatores básicos (LAFRAIA, 2001): 1. A quantificação de confiabilidade em termos de uma probabilidade. 2. Uma definição do desempenho em detalhes, ou seja, se as condições de operação não forem as especificadas, a própria confiabilidade fica alterada. Por exemplo, um aparelho projetado para funcionar com corrente de 110 V, porém, a voltagem fornecida é de 127 v, ou então um carro projetado para andar em terreno plano, liso e asfaltado, terá um medíocre, senão nulo, desempenho em terrenos lamacentos, arenosos. A precisão exigida do sistema também poderá alterar a confiabilidade, pois quanto mais restrita esta for, mais facilmente pode-se retirar o sistema da faixa. 3. Uma definição do tempo de operação exigido entre falhas: obviamente o tempo de uso de um produto reduz a confiabilidade, pois se ele fica um tempo maior em funcionamento, terá maiores chances de falhas. 4. Uma definição das condições ambientais em que o equipamento deve funcionar: devem ser definidos, ou pelo menos ficar dentro de uma faixa razoável, solicitações agressivas do meio ambiente, tais como umidade, vibrações, temperatura, impurezas, incidências de luz, choques... Se isto não for observado, a confiabilidade pode ficar completamente comprometida. Além dessas observações, Lafraia (2001) apresenta exemplos de etapas onde as técnicas de confiabilidade sejam aplicadas e algumas atividades específicas, como a seguir: Projetos Redução da complexidade. Redundância para assegurar tolerância à falha. Eliminação dos fatores de tensão. Teste de qualificação e revisão de projeto. Análise defalhas. Confiabilidade Industrial 20 Produção Controle de materiais, métodos e alterações. Controle de métodos de trabalho e especificações. Uso Instruções adequadas de uso e manutenção. Análise de falhas em serviço. Estratégias de reposição e de apoio logístico. Scapin (1999) acrescenta mais informação, considerando um conceito genérico que Confiabilidade como a “probabilidade de um sistema ou um produto executar sua função de maneira satisfatória, dentro de um intervalo de tempo e operando conforme certas condições”. Contribuindo ainda, o autor cita a definição da British Standard (BS 4778), confiabilidade é “a capacidade de um item desempenhar satisfatoriamente a função requerida, sob condições de operação estabelecidas, por um período de tempo determinado”. O autor fala de um “conceito de performance satisfatória” em se tratando de Confiabilidade, que está relacionado “à combinação dos fatores qualitativos e quantitativos que definem a função de sistemas através de seus requisitos” (SCAPIN, 1999), com aplicação em qualquer “tipo de sistemas, serviços, um simples componente, um eletrodoméstico utilizado por uma dona de casa etc.” (SCAPIN, 1999). Como citado anteriormente, o autor destaca ainda o fator tempo como elemento significativo na atribuição do conceito de Confiabilidade, considerando-o muito significativo, “porque ele representa a medida em relação à qual o sistema é avaliado. Um sistema é projetado para desempenhar uma função, mas por quanto tempo?” (SCAPIN, 1999). Confiabilidade Industrial 21 Outro aspecto de destaque, segundo o autor é a questão do ambiente que o sistema ou equipamento vá funcionar. Sua Confiabilidade naturalmente sofrerá variações. “Os fatores do ambiente são fatores críticos nas condições da confiabilidade de um sistema, incluindo ciclo de temperatura, umidade, vibração, aspiração de pó, salt spray, etc.” (SCAPIN, 1999). Lembra que tais considerações referem-se às condições de operação do sistema, mas “também as condições de operação das atividades de manutenção” (SCAPIN, 1999). Pode-se citar, por exemplo, uma tinta que se utiliza numa pintura de janelas de ferro numa residência, não obterá os mesmos resultados se utilizada numa cabine de plataforma de petróleo em alto mar. Para esta aplicação, necessita-se de elementos mais resistentes à corrosão provocada por maresia, por exemplo. Dessa forma, o autor considera que “a aplicação dos requisitos de confiabilidade em um sistema requer sempre uma análise quantitativa na maioria das vezes, definindo-se sua probabilidade de operação, portanto” (SCAPIN, 1999), e apresenta a função básica da Confiabilidade. R = 1 – F, em que “R” é a confiabilidade do sistema e “F” é a probabilidade de que o sistema falhe num instante qualquer. Explica ainda que: “quando se está analisando a distribuição de falhas, geralmente se quer obter o valor das falhas em um determinado período de tempo” (SCAPIN, 1999), citando um exemplo: para se efetuar esta estimativa, quando nos referimos em termos de tempo, podemos definir esta variável, por exemplo: pelo número de quilômetros percorridos, o número de ciclos realizados, etc. Esta variável aleatória está associada a uma função de distribuição de probabilidades. (SCAPIN, 1999). Confiabilidade Industrial 22 Para completar, Lafraia (2001) enumera de forma geral, os possíveis campos de aplicação e pesquisa da Análise de Confiabilidade, podendo ter outras: 1. Controle de qualidade (equipamentos em geral, indústria mecânica, química, eletrônica…). 2. Sistema eletroenergéticos. 3. Sistema de telecomunicações. 4. Centrais nucleares. 5. Sistemas aeroviários (aeroportos, ferrovias…). 6. Sistemas mecânicos (estruturas…). 7. Sistemas industriais (refinarias). 8. Sistemas computacionais (rede de processamento, “software”, “hardware”). 9. Sistema de defesa (aplicações militares). 10. Comportamento humano. Como visto, a Confiabilidade abrange diversas áreas o que exige muita atenção e desenvolvimento, sempre focando em buscar melhores resultados e reduzir os custos por interrupção de produção ou funcionamento inadequado de equipamentos. Histórico Desde que as máquinas passaram a gerar bens e serviços num período que ficou conhecido como da revolução industrial, naturalmente pode-se aceitar que intrinsicamente a preocupação com a manutenção se iniciou em conjunto. Confiabilidade Industrial 23 A humanidade que vivia puxada por tração animal, viu no vapor uma grande oportunidade de crescimento e desenvolvimento. O que de fato aconteceu, uma vez que máquinas a vapor com os trens puxaram literalmente o progresso. Não somente o vapor, mas a saída do homem dos processos artesanais para processos semimecanizados, ainda que com tração animal ou, infelizmente, por escravos, fez com que produções antes feitas uma a uma, passassem a um formato primitivo de produção em série. Lafraia (2001) considerando do ponto de vista histórico, considera que a análise de confiabilidade teve início após a Primeira Guerra Mundial, com o surgimento da indústria aeronáutica. Segundo o autor, na década de 40 do mesmo século, foram desenvolvidas as “teorias matemáticas relacionadas aos problemas”. Marca como a época do matemático Robert Lusser que “desenvolveu uma equação associada à confiabilidade de um sistema em série” (LAFRAIA, 2001), e acrescenta: surgiram as primeiras tentativas de buscar uma melhoria de qualidade aliada a uma manutenção preventiva, através de um aprimoramento dos projetos, melhores equipamentos/instrumentos de medição e utilização de materiais mais resistentes. (LAFRAIA, 2001). Na década seguinte, o autor destaca o surgimento das indústrias aeroespaciais e eletrônicas, juntamente com a indústria nuclear como grande desenvolvedor de cálculos e aplicações da confiabilidade. Nesta época, os analistas reconheceram que a confiabilidade deve ser aplicada, principalmente, na etapa do projeto, em contraposição ao que era até então aplicado, ou seja, concentração de recursos para a execução da manutenção após a ocorrência de falhas. Desta época ainda datam-se as primeiras investigações de confiabilidade relacionadas ao comportamento humano. (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 24 Nos anos de 1960, destaca o trabalho de outros autores (LAFRAIA, 2001), numa década que foi contínuo o desenvolvimento “de natureza prática como teórica”: H. A Watson, propôs a teoria de “Análise de Árvore de Falhas”, em 1961. Cox e Lewis, propõe trabalhos com ênfase em conceitos como renovação, estacionariedade, tendência, etc. Ainda na mesma década, Lafraia (2001) destaca que foram estabelecidos os fundamentos da análise de confiabilidade em sistemas mecânicos (estruturas), baseados em modelos denominados esforços e resistência, bem como preliminares estudos da confiabilidade em sistemas computacionais (hardware). (LAFRAIA, 2001). Já a década de 70, “ocorreu a consolidação desta análise em diversas áreas, destacando-se entre todas a área nuclear. R. Billinton publica um texto voltado a aplicações específicas em sistemas eletroenergéticos” (LAFRAIA, 2001). Acrescenta ainda que surgiram na mesma época “os primeiros modelos de análise de confiabilidade em programas computacionais (software)”. Na década seguinte, verifica-se que os países detentores de tecnologia de ponta implantaram definitivamente as técnicas de análise da confiabilidade em diversos setores de engenharia, incluindo-se também o setor eletroenergético. (LAFRAIA, 2001). Pelo Brasil, segundo o autor, “verificou-se uma aplicação prática da confiabilidade nos setores de telecomunicações, elétrico, de armamento e nuclear” (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 25 Scapin (1999) considera que a “evolução com enfoqueem confiabilidade tem seu início em 1930” e propõe uma divisão em três gerações: PRIMEIRA GERAÇÃO: cobre o período até a Segunda Guerra Mundial. Nesta época as indústrias não eram muito mecanizadas e a produtividade não era considerada tão importante. De certa forma, a prevenção de falhas não tinha muita prioridade, visto que os equipamentos eram mais simples e superdimensionados. Isto fazia com que os equipamentos eram mais simples e superdimensionados. Isto fazia com que a confiabilidade fosse alta e os equipamentos fáceis de reparar. Como resultado, não existia necessidade de nenhuma manutenção sistemática além de limpezas e lubrificações de rotina. SEGUNDA GERAÇÃO: foi consequência direta das mudanças ocorridas durante a Segunda Grande Guerra. A guerra fez com que a demanda por produtos industriais crescesse e isto levou a um aumento da mecanização industrial. Nos anos 50, as máquinas se tornaram mais numerosas e complexas, tornando-se a indústria cada vez mais dependente delas. À medida que esta dependência crescia, as perdas passaram a ser vistas com outro enfoque e desta forma se fortaleceu a ideia de que as falhas dos equipamentos precisavam ser evitadas, o que, por sua vez conduziu ao conceito de manutenção preventiva. Nos anos 60 este conceito foi considerado para revisões gerais de equipamentos feitos a intervalos fixos. TERCEIRA GERAÇÃO: inicia-se a partir de meados da década de 70 e é decorrente basicamente de novas necessidades de produtividade e redução de custos operacionais. À medida que se desenvolviam sistemas com “Just-in-Time”, Kan-Ban, com estoques cada vez mais reduzidos e apenas suficientes para manter o trabalho das linhas de fabricação, qualquer interrupção causada por falha de maquinário tomava proporções críticas, com a possibilidade de colapso total. O aumento da automação também significou que cada vez mais as falhas em equipamentos afetam a capacidade de sustentação de padrões de qualidade. Confiabilidade Industrial 26 Através dessa divisão, o autor apresenta de forma didática, as etapas pelas quais a manutenção passou e o próprio surgimento do entendimento da Confiabilidade. Kardec e Lafraia (2002) destaca que se deve desenvolver o “pensar e agir estrategicamente” também nas atividades de manutenção integrando “de maneira eficaz ao processo produtivo contribuindo, efetivamente, para que a empresa caminhe rumo à Excelência Empresarial”. E, acrescenta: Neste cenário não mais existem espaços para improvisos e arranjos: competência, criatividade, flexibilidade, velocidade, cultura de mudança e trabalho em equipe são as características básicas das empresas e das organizações que têm a Competitividade como razão de ser de sua sobrevivência. Para as pessoas estas características são essenciais para garantira a empregabilidade de cada um. (KARDEC e LAFRAIA, 2002). Como desafio, Kardec e Lafraia (2002) (2002) enfatiza: “na visão atual, manutenção existe para que não haja manutenção”. Historicamente tem sido esta a busca de todas as Organizações que buscam melhorar os custos com a interrupção das atividades. Parâmetros da Confiabilidade A Confiabilidade e sua determinação em fazer com que a manutenção trabalhe mais em evitar interrupções do que se tornar uma eficiente equipe de manutenção, conhecida no meio Industrial como “apagadores de incêndio”. Este sentido se dá em função do fato de não se determinar parâmetros de manutenção que desenvolvam a Confiabilidade. Uma opção que as Organizações podem fazer inicialmente é pesquisar nos manuais de uso e operação de equipamentos, por exemplo, os tempos e necessidades de manutenção inerentes cada um, considerando também os aspectos ambientais. Em Indústrias antigas que contam ainda com equipamentos antigos, devem- se estabelecer tais prazos em função da ausência de manuais. Embora a NR12, Confiabilidade Industrial 27 determine que sejam necessários prepará-los, e neste com profissionais habilitados para tal, todo o conjunto de manuais necessários. Desse modo, Kardec e Lafraia (2002) declara que “o trabalho da manutenção está sendo enobrecido onde, cada vez mais, o pessoal da área precisa estar qualificado e equipado para evitar falhas e não para corrigi-las”. Esse o trabalho da Confiabilidade e o mesmo autor dirá que há uma necessidade grande de amadurecer as relações entre as Organizações que demandam empresas de manutenção, com estas mesmas: Neste contexto, uma nova estratégia está sendo praticada com os chamados contratos de parceria baseados em resultados, sendo os mais significativos àqueles ligados à disponibilidade e à confiabilidade, onde a contratada aumenta a sua lucratividade à medida que melhora a disponibilidade e a confiabilidade das instalações da empresa onde está atuando. (KARDEC e LAFRAIA, 2002). As Organizações devem prezar por outros itens, segundo o autor, além da disponibilidade e confiabilidade: “deve-se ter como premissa e como valor primeiro a busca da excelência nas questões de SMS – Segurança, Meio Ambiente e Saúde”. Segundo Kardec e Lafraia (2002) nesses contratos “não mais se pagam “serviços”, mas “soluções””. Esse o ideal das equipes ou empresas de manutenção. Pensar antes ara evitar interrupções demasiado grandes depois. Cada vez menos recursos estarão disponíveis para a realização da manutenção, mesmo assim não se pode prescindir de manter todo o conjunto em funcionamento a maior parte do tempo. Lafraia (2001) destaca que com o custo e a complexidade cada vez maiores dos muitos sistemas, a importância da confiabilidade como um parâmetro de eficiência, o qual deve ser especificado e pelo qual se paga, tornou- se evidente. Confiabilidade Industrial 28 Toda a concentração e desafio da Confiabilidade, reunidas numa frase gerando assim os Parâmetros de que necessita. “O fornecimento de energia elétrica aos hospitais, as indústrias e aos domicílios precisa estar disponível quando requerido” destaca Lafraia (2002), “pois o custo da não-disponibilidade particularmente se não for programada, pode ser muito alto”, completa o autor. Lafraia (2002) apresenta um tipo de parâmetro a ser estabelecido para qualquer equipamento: a Confiabilidade de funcionamento em 100%. Todo equipamento ou sistema é projetado para funcionar plenamente. O autor cita o exemplo do projeto Apollo de missão espacial, cuja nave contava com 6 motores foguete, mas destaca que 5 seriam o suficiente para se deslocar “adequadamente”, e acrescenta: Dessa forma, para alguns pode parecer que em cada lançamento utilizava-se um motor não necessário… É natural que essa observação está errada, pois apesar do custo adicional a meta aqui é atingir uma confiabilidade de praticamente 100% usando redundância. (LAFRAIA, 2002). A proposta então é quantificar a Confiabilidade, torna-la detectável em todos os equipamentos e sistemas. Avaliar todas as estruturas e seus ambientes de implantação. Conhecer e antecipar o maior número possível de motivos de interrupção. Isso é gerar Parâmetros de Confiabilidade. O autor propõe ainda uma definição matemática para a Confiabilidade definindo-a como: “PROBABILIDADE de que um componente ou sistema cumpra sua função com SUCESSO, por um período de TEMPO previsto, sob condições de OPERAÇÃO especificadas”. E acrescenta: O inverso da confiabilidade seria a probabilidade do componente ou sistema falhar. A definição de falha, no contexto da confiabilidade, é: “Impossibilidade de um sistema ou componente cumprir com sua função no nível especificado ou requerido” (LAFRAIA, 2002). Confiabilidade Industrial 29 Em se tratando de falhas, o autor propõe uma definição para taxa de falhas: “Frequência com que as falhas ocorrem, num certo intervalo de tempo, medida pelo número de falhas para cada hora de operação ou número de operações do sistemaou componente” (LAFRAIA, 2002), e conclui: A taxa de falhas é normalmente representada por lâmbida λ. O inverso da taxa de falhas é conhecido o Tempo Médio Entre Falhas (TMEF), tradução de Mean Time Between Failures – MTBF A expressão matemática do TMEF é: TMEF = 1 / λ. (LAFRAIA,2002). Assim, os Parâmetros de Confiabilidade devem ser estabelecidos para sistemas e equipamentos. Um trabalho como este, pode ser contínuo, pois se qualquer elemento no conjunto de variáveis que compõe ambos, se modificar, tudo deve ser recalculado. Avaliação quantitativa Segundo Scapin (1999), “a análise quantitativa pode ser efetuada independentemente da análise qualitativa utilizando cortes mínimos ou o método dos sistemas críticos”. O Mesmo autor destaca que “Nessa fase deve ser considerado que tipos de dados serão quantificados, o que sem dúvida deverá depender do objetivo do FTA elaborado.” FTA é a sigla para Análise de Árvore de Falhas a ser estudada em item adiante. Se o evento topo do FTA for “acidentes”, nós estaremos interessados em determinar a probabilidade de que o acidente não ocorra dento do período zero até o instante “T”. Neste caso estamos mais interessados na confiabilidade do que na disponibilidade. (SCAPIN, 1999) Desse modo se considerar o evento topo como uma falha de um sistema, o interesse no levantamento de quantidades será a probabilidade de que este sistema “esteja em seu estado normal de funcionamento, não levando em consideração se o sistema falha uma ou mais vezes” (SCAPIN, 1999), buscando também se há taxa de falha constante. Confiabilidade Industrial 30 Quando cada componente é analisado individualmente, este fato acontece, porém quanto mais complexo for um sistema, possuindo grande número de componentes, mesmo que este sistema seja mecânico, podemos considerar como tendo uma taxa de falha constante. (SCAPIN, 1999). O autor propõe um modelo em que considera uma taxa de falha constante, bem como a taxa de reparos dos componentes. Lembra ainda, que “algumas análises quantitativas podem ser efetuadas manualmente, porém em árvores muito complexas, com grande número de eventos, certamente irão requerer programas computadorizados” (SCAPIN, 1999). Neste caso, a análise considera não somente inspeção, projeto de equipamento e registros de manutenção, mas também inúmeras questões de gerência de segurança de processo e todas as outras questões significativas que possam afetar a integridade mecânica e a segurança em geral de uma unidade de processo. A análise não considera unicamente os programas de inspeção para estabelecer o risco. (SCAPIN, 1999). Como exemplo e objetivando construir uma fórmula simples o autor apresenta os elementos adiante descritos: a probabilidade de falha é calculada para cada componente do equipamento de pressão na unidade de processo. Começando com as freqüências de falha genérica, recolhidas de diversas fontes de dados disponíveis, uma probabilidade de falha ajustada (POFA) é calculada modificando a freqüência de falha genérica (GFF) para produzir uma freqüência de falha específica para cada peça de um equipamento da planta. (SCAPIN, 1999). O cálculo, então, será representado pela seguinte fórmula (SCAPIN, 1999): PFOA = GFF * FE * FM Onde: FE é o fator modificativo de equipamento – um ajuste calculado baseado na qualidade do programa de integridade mecânica de uma dada planta. Confiabilidade Industrial 31 FM é o fator modificativo gerencial – um ajuste calculado baseado na qualidade do programa de gerência de riscos do processo total de uma dada planta. O FM é obtido usando um manual que avalia a efetividade de um programa de gerência de segurança de processo, o qual estará disponível quando a prática recomendada for publicada. “A probabilidade de falha ajustada é então combinada com a análise de conseqüência em um modelo que produz a classificação de risco para todos os componentes do equipamento sob pressão” (SCAPPIN, 1999). Para completar, o autor destaca algumas das questões que vão avaliar quantitativamente, para calcular os fatores modificativos de um equipamento (SCAPIN, 1999): Tipo e grau do dano esperado. Qualidade e escopo do programa de inspeção. Programa de controle de qualidade de manutenção e reparo. Padrões de projeto e de construção utilizados. Históricos de equipamentos e processo. Programas de manutenção preventiva. Confiabilidade Industrial 32 Curva da banheira Segundo Lafraia (2001), “a curva da banheira apresenta, de maneira geral, as fases da vida de um componente. Embora ela seja apresentada como genérica, a curva da banheira só é válida para componentes individuais”. Figura 1: Períodos de vida de um componente Fonte: (LAFRAIA, 2001). A Figura 1 demonstra “que um componente apresenta três períodos da vida característicos, a saber: mortalidade infantil, período de vida útil e período de desgaste” (LAFRAIA, 2001). Semelhante ao que se pode encontrar na Análise do Ciclo de Vida – ACV. Confiabilidade Industrial 33 O autor explica cada uma das características apresentadas (LAFRAIA, 2001): No período de mortalidade infantil, ocorrem as falhas prematuras. A taxa de falhas é decrescente. Essas falhas podem ter as seguintes origens: processos de fabricação deficientes, controle de qualidade deficiente, mão-de-obra desqualificada, amaciamento insuficiente, pré-teste insuficiente, debugging insuficiente, materiais fora de especificação, componentes não especificados, componentes não testados, componentes que falharam devido estocagem/transporte indevidos, sobrecarga no primeiro teste, contaminação, erro humano, instalação imprópria, partida deficiente, entre outras. O período de vida útil e caracterizado por taxa de falhas constante. Normalmente, as falhas são de natureza aleatória, pouco podendo ser feito para evitá-las. Alguns exemplos de causas de falhas este período são: interferência indevida tensão/resistência, fator de segurança insuficiente, cargas aleatórias maiores que as esperadas, resistência menor que a esperada, defeitos abaixo do limite de sensibilidade dos ensaios, erros humanos durante uso, aplicação indevida, abusos, falhas não detectáveis durante o melhor debugging, causas inexplicáveis e fenômenos naturais imprevisíveis. No período de desgaste, inicia-se o término da vida útil do equipamento; a taxa de falhas cresce continuamente. São causas do período de desgaste: envelhecimento, desgastes/abrasão, degradação de resistência, fadiga, fluência, corrosão, deterioração mecânica, elétrica, química ou hidráulica, manutenção insuficiente ou deficiente, vida de projeto muito curta. Um resumo destas características pode ser visto da Figura 2.2. No Quadro 1 a seguir, apresentam-se as falhas prematuras, as falhas casuais e as falhas de desgaste: Confiabilidade Industrial 34 Quadro 1: Descrição das etapas da curva da banheira Falhas Prematuras Falhas Casuais Falhas por Desgaste Processos de fabricação deficientes Interferência indevida tensão/resistência Envelhecimento Controle de qualidade deficiente Fator de segurança insuficiente Desgaste/abrasão Mão de obra desqualificada Cargas aleatórias maiores que as esperadas Degradação de resistência Amaciamento insuficiente Resistência menor que a esperada Fadiga Pré-teste insuficiente Defeitos abaixo do limite de sensibilidade dos ensaios Fluência Debugging insuficiente Erros humanos durante uso Corrosão Materiais fora de especificação Aplicação indevida Deterioração mecânica, elétrica, química ou hidráulica Componentes não especificados Abusos Manutenção insuficiente ou deficiente Componentes não testados Falhas não detectáveis pelo melhor programa de manutenção preventiva Vida de projeto muito curta Componentesque falharam devido estocagem/transporte indevido Falhas não detectáveis durante o melhor debugging Sobrecarga no primeiro teste Causas inexplicáveis Contaminação Fenômenos naturais imprevisíveis Erro humano Instalação imprópria Fonte: (LAFRAIA, 2001) O autor chama a atenção, dizendo: Deve-se alertar que nem todos os tipos de componentes/sistemas apresentam sempre todas as fases. Programa de computador, por exemplo, é um exemplo típico de sistema com período de mortalidade infantil apena na medida em que os erros de programação são corrigidos, as falhas vão praticamente desaparecendo. (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 35 Complementa informando que não se deve confundir o término da vida útil, considerando os aspectos da Confiabilidade, com a obsolescência do componente ou sistema de um ponto de vista mercadológico. Cita o exemplo dos componentes eletrônicos que apresentam normalmente falhas aleatórias. “Para estes tipos de falhas é comum lançar-se mão do conceito de substituição quando há quebra, já que a manutenção preventiva nessa fase é normalmente de pouca efetividade” (LAFRAIA, 2001). Já os componentes mecânicos, continua o autor, “entretanto, apresentam normalmente as três fases e é comum se medir a taxa de falhas para se tentar evitar o período de falhas por desgaste” (LAFRAIA, 2001). Diagrama de Blocos O Diagrama de Blocos tem a finalidade de demonstrar as consequências de uma falha e como elas podem ser avaliadas. Lafraia (2001), apresenta um Diagrama no qual se pode identificar o que foi citado, conforme a Figura 2: Figura 2: Diagrama de blocos. Fonte: (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 36 O autor destaca para este exemplo que o tamanho do equipamento e dispositivos de bloqueio instalados têm papel destacado no cálculo do estoque disponível para eventos potenciais. O tamanho do vazamento ou ruptura, e a probabilidade de uma descarga ser instantânea ou contínua, terá um grande efeito sobre o tamanho e tipo de qualquer evento potencial. (LAFRAIA 2001). Ele, o autor, explica que os “cálculos do tamanho do vazamento para quatro eventos são efetuados e somados, indo de um vazamento de ¼ de polegada a uma ruptura completa” (LAFRAIA, 2001). Acrescenta ainda um evento em que são considerados os riscos de incêndio, provocados por “explosão de nuvem de vapor, incêndio tipo relâmpago, incêndio tipo jato, incêndio tipo piscina de líquido ou dispersão segura (sem ignição)” (LAFRAIA, 2001). Neste caso, destaca o autor, o resultado da interrupção do processamento, em termos de prejuízo em dólares, é incluído quando ativos de capital possam ser perdidos ou desligados por um período de tempo após um evento. O custo de efeitos ambientais catastróficos pode ser incluído, especialmente quando uma descarga potencial de líquido pode extravasar do local: por exemplo, para dentro de um recurso hídrico. Os efeitos tóxicos potenciais sobre as pessoas são também avaliados. (LAFRAIA,2001). Dessa forma, o autor esclarece que um relatório de cada RBI – Inspeção Baseada em Risco, conterá uma lista “priorizada de equipamento, por probabilidade de falha somente e por consequência de falha somente”, tendo tido “a classificação de risco priorizado (probabilidade e consequência combinadas de falha)” (LAFRAIA, 2001). Destaque especial para esta frase do autor: “probabilidade e consequência combinadas de falha”. O Engenheiro de Produção deve atentar para este detalhe. Uma falha pode parecer simples e de fácil solução. Porém, pode desencadear outras falhas. Neste caso, num estudo de riscos e falhas, deve-se atentar para uma possível reação em cadeia quando da ocorrência de uma falha. Para isso se faz necessário observar num sistema, por exemplo, quais as possíveis falhas a partir de cada uma daquelas já identificadas. Confiabilidade Industrial 37 Um exemplo prático é quando o motor de um veículo que está com aquecimento, apresenta uma falha no instrumento que mede a temperatura do líquido de arrefecimento gerando outros problemas que poderão inclusive condenar o funcionamento do motor e consequente paralisação do veículo. Complementando, o autor destaca que “esta compreensão é vital para tomar decisões sobre como reduzir os níveis de risco associados com cada peça de equipamento” (LAFRAIA, 2001). A Figura 3 apresenta um RBI conforme a descrição do autor: Figura 3: RBI - Inspeção Baseada em Risco. Fonte: (LAFRAIA, 2001). Estamos encerrando a unidade. Sempre que tiver uma dúvida entre em contato com seu tutor virtual através do ambiente virtual de aprendizagem e consulte sempre a biblioteca virtual. É HORA DE SE AVALIAR Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Confiabilidade Industrial 38 Exercícios - Unidade 1 1. Confiança de que um componente, equipamento ou sistema desempenhe na sua função básica respeitando predeterminado período de tempo, sob condições de funcionalidade padrão, define: a) Credibilidade Industrial b) Criatividade Industrial c) Acurácia Industrial d) Confiabilidade Industrial e) Recorrência Real 2. Confiabilidade significa: a) Qualidade daquilo que pode ser confiável b) Qualidade daquele que pode ser confiável c) Qualidade de ou de que tem viabilidade d) Qualidade de quem ou de que é confiável e) Existência de confiança em nível elevado 3. Para que tenhamos confiabilidade em equipamentos e sistemas não podemos esquecer que isto necessariamente implica _______________. Complete a lacuna com: a) Instruir toda a equipe b) Orientar sobre confiabilidade c) Criar área de manutenção d) Investimento de capital e) Construção de área de manutenção Confiabilidade Industrial 39 4. Coeficiente de segurança do projeto significa a distância que separa o valor de dois elementos. São eles: a) Resistência e resiliência b) Carga e resiliência c) Carga e inspeção d) Carga e resistência e) Física e resistência 5. Apresenta de forma geral as fases da vida de um componente: a) Curva da banheira b) Curva do radiano c) Curva da elipse d) Curva de Confiabilidade e) Curva ascendente 6. Caracterizado por taxa de falhas constantes, identifica qual período da vida de um componente? a) Período de mortalidade infantil b) Período de mortalidade c) Período de vida útil d) Período de desgaste e) Período de confiabilidade 7. Processos de fabricação deficientes, controle de qualidade deficientes, mão- de-obra desqualificada, representam entre outras, que tipos de falhas? a) Falhas casuais b) Falhas por desgaste c) Falhas por confiabilidade d) Falhas prematuras e) Falhas reais Confiabilidade Industrial 40 8. Interferência indevida tensão/resistência, fator de segurança insuficiente, resistência menor que a esperada, representam entre outras, que tipos de falhas? a) Falhas casuais b) Falhas por desgaste c) Falhas por confiabilidade d) Falhas prematuras e) Falhas reais 9. Cite três falhas por desgaste: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 10. Caracterize o período de desgaste: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Confiabilidade Industrial 41 2 Gerenciamento de Falhas Confiabilidade Industrial 42 Prezado aluno, esta segunda unidade tratará do estudo das Falhas e da Confiabilidade associada à Sistemas. Continua com a mesma dedicação e afinco da Unidade 1. Objetivos da unidade: Demonstrar a importância do tratamento das falhas e métodos que podem evitá-las, senão reduzi-las em números suportáveis por qualquer equipamento ou sistema. Plano da unidade: Tipos de Falhas Confiabilidade de Sistemas Análise de Árvore de Falhas – FTA Análise de Modo de Falhas e Efeitos – FMEA Erro humano Bons estudos! Confiabilidade Industrial 43 Tipos de Falhas Dentre as definições de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2004) atribuídas à falha, destaca-se para o entendimento aplicado à Confiabilidade como o “espaço vazio numa série ou num elemento contínuo; (...) falta, defeito”, o que demonstra algo que não está de acordo com o planejamento, ainda que seja previsto. No estudo da Confiabilidade Industrial, uma atenção especial deve ser dada à questão da falha, pois todo um sistema ou o funcionamento de um determinado equipamento, poderá se condenar devido a uma falha. Lafraia (2001) considera que a falha é “a perda de uma função”. Entende-se dessa forma que seja aplicável a um sistema, a um equipamento, a um processo, ou qualquer outro elemento passível de falha. Como falha funcional o autor define como “a incapacidade de qualquer item em atingir o padrão de desempenho esperado” (LAFRAIA, 2001). Uma “circunstância que induz ou ativa um mecanismo de falha” é a sua causa e um modo de falha é o “conjunto de efeitos pelos quais uma falha é observada”, assim completa Lafraia (2001). Segundo o autor, “a ideia usual é de que a melhor maneira de se otimizar a disponibilidade de plantas de processo é através da execução de algum tipo de manutenção preventiva periódica” (LAFRAIA, 2001). Essa é uma pista dada pelo autor para se evitar as falhas e suas consequências. A ideia da prevenção é celebrada em um conhecido e antigo dito popular: melhor prevenir do que remediar. Esta manutenção preventiva se realiza em intervalos determinados, com substituição ou recondicionamento de equipamentos e ou componentes (LAFRAIA 2001). Exemplo prático é a substituição do óleo lubrificante de motores de veículos, baseado na quilometragem percorrida pelos mesmos. Confiabilidade Industrial 44 Em equipamentos fixos utiliza-se o tempo de funcionamento, normalmente controlado por horas. Cada elemento tem o prazo determinado de vida útil e que a princípio será atendido quando de seu funcionamento regular. A falha poderá ocorrer pelo mau uso de equipamentos ou ações inadequadas em sistemas cuja rotina deve ser respeitada para que a performance projetada seja realizada. Lafraia (2001) apresenta a Figura 4 ilustrando a “teoria por trás de planos de substituição periódicos”: Figura 4: Tempo de uso e desgaste. Fonte: (LAFRAIA,2001). Em relação à Figura 4, o autor declara: “assume-se que a maioria dos componentes opera confiavelmente durante um determinado período e, na sequência, inicia-se um período de desgaste acelerado”. Com a Estatística analítica de falhas é possível determinar a vida útil de determinados componentes “de forma que as plantas possam adotar medidas preventivas de manutenção para evitar falhas” (LAFRAIA, 2001). Apesar disso, o autor alerta: isto é correto para certos componentes simples e para alguns componentes complexos que apresentam modos de falha dominantes. Em particular, componentes em contato com fluidos de processo apresentam períodos de desgaste característicos. Igualmente, falhas relacionadas com o tempo ou número de ciclos, como fadiga e corrosão, são propensos a estes tipos de falha” (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 45 Mesmo assim, o autor acredita que com o aumento da complexidade dos equipamentos atualmente tem-se modificado a natureza das falhas. Para tanto, apresenta a Figura 5. Figura 5: Probabilidade condicional de falhas. Fonte: (LAFRAIA, 2001). A Figura 5 determina que “a probabilidade condicional de falhas é traçada contra o tempo de operação, para uma grande variedade de componentes mecânicos e elétricos” (LAFRAIA, 2001). O modo de falha A é a tradicional curva da banheira, já descrita em outro capítulo. O modo B mostra uma taxa de falhas gradualmente crescente e uma zona de desgaste. O modo D mostra uma taxa de falhas baixa quando o componente é novo ou recém-saído da fábrica, seguido de um patamar de taxa de falhas constante. O modo D mostra uma taxa de falhas constante durante toda a vida do componente. O modo de falha F inicia com uma redução rápida da taxa de falhas, seguido por um período de taxas constantes. (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 46 Como exemplo, o autor cita: Estudos feitos em aviões civis mostram que 4% dos itens comportam-se de acordo com o modo A, 2% com B, 5% com C, 7% com D, 14% com E e 68% com F. É oportuno observar que equipamentos de outros ramos industriais não se comportam necessariamente como os da aviação civil. Porém, à medida que a complexidade dos equipamentos cresce, os modos E e F tornam-se mais predominantes. (LAFRAIA, 2001). O destaque dado à aviação civil é bem importante e coerente com o estudo da Confiabilidade Industrial. Todo o trabalho do projetista de uma aeoronave foca na sua eficácia. Nem todas as falhas em um avião podem ou serão resolvidas em determinadas circunstâncias, causando grande comoção nos casos de acidente, nos quais sempre se buscarão os itens responsáveis pelo mesmo. Quando não identificada a origem da falha, normalmente recai sobre o piloto, a famosa falha humana. No caso do avião há a caixa preta que registra todas as operações do aparelho. Lafraia (2001) declara ainda sobre o estudo feito em aviões civis: “O resultado deste estudo contradiz a suposição de que sempre há uma conexão entre a confiabilidade e o tempo de operação”, considerando que quanto antes for realizada a manutenção, reduzida será a probabilidade de que ocorram falhas: Hoje, entretanto, isto parece ser raramente o caso. A menos que algum modo de falha predominante dependente do tempo esteja presente, não há relação alguma entre a idade do equipamento e sua confiabilidade. Portanto, manutenções programadas podem, na realidade, aumentar a taxa de falhas, através da introdução de falhas prematuras que não existiriam no sistema. (LAFRAIA, 2001). Alerta o autor que, em função do que foi declarado não se deve abandonar a manutenção preventiva por completo, lembrando que: O fato é que para falhas sem maiores consequências, políticas de manutenção corretiva podem ser as mais efetivas. Porém, quando as consequências são graves, algo deve ser feito para prevenir a falha ou, ao menos, reduzir suas consequências. (LAFRAIA, 2001). Confiabilidade Industrial 47 Considerando as falhas, o autor apresenta, numa visão ampla segundo ele mesmo, os fatores básicos pelos quais os equipamentos falham: Falha de projeto. Falha na Fabricação. Falha na utilização. A partir disso define cada uma delas, como a seguir (LAFRAIA, 2001): Falha de projeto: As falhas de projeto ocorrem quando o projetista não consegue identificar claramente as necessidades do cliente ou quando estas não estão adequadamente identificadas e não se consegue aplicar os requisitos de engenharia corretos para a aplicação. Exemplos destas falhas: seleção de materiais inadequados ao uso, dimensionamento inadequado de peças etc. Falha na fabricação: Uma vez que o projeto tenha sido adequadamente abordado, a fasede fabricação pode provocar falhas quando os processos de fabricação/montagem são inadequados para o produto sendo processado. O processo inclui pessoal capacitado e equipamentos adequados. Falha na utilização: Por último, o uso incorreto do produto, que inclui manutenção inadequada, por falta de instrução do fabricante ou de treinamento do cliente. Confiabilidade Industrial 48 Na Figura 6, podem-se observar tais opções. Figura 6: Tipos de falha. Fonte: (LAFRAIA, 2001). No Quadro 2, Lafraia (2001) apresenta as técnicas de Confiabilidade que abordam as falhas citadas. Quadro 2: Técnicas de Confiabilidade Técnicas de atividades para análise de falhas: Investigação de acidentes, queixas e incidentes. Confiabilidade de produto. FMEA (Análise de Modo de Falha e Efeito). Análise de árvore de falhas. Técnicas para eliminar no projeto os pontos de falha potenciais na operação: Construindo operações com recursos críticos redundantes. Tornar as atividades da operação à prova de falhas. Manter as instalações físicas da operação. Técnicas para melhorar a confiabilidade das operações: Eliminar no projeto os pontos de falha potenciais na operação. Construindo operações com recursos críticos redundantes. Tornar as atividades da operação à prova de falhas. Manter as instalações físicas da operação. Fonte: Adaptado de Lafraia (2001). Confiabilidade Industrial 49 Após tais considerações Lafraia (2001) apresenta os tipos de falhas: Falhas Relacionadas à Idade: Componentes aparentemente idênticos podem ter resistência variável a cargas. Como visto no capítulo 5, a resistência à carga diminui com tempo, de maneira diferente mesmo que para componentes idênticos. Pequenas diferenças podem levar a enormes diferenças na vida, fazendo com que a sua previsão seja extremamente difícil. As técnicas de vida residual, entretanto, podem dar uma ideia da vida e da variabilidade da vida esperada. Os gráficos A e B da Figura 7 ilustram o comportamento da taxa de falhas relacionadas à idade. Figura 7 Confiabilidade Industrial 50 Falhas Aleatórias Componentes Simples Ao contrário das falhas relacionadas à idade, nas falhas aleatórias: -A deterioração nem sempre é proporcional à tensão aplicada. -A tensão nem sempre é aplicada consistentemente. Componentes complexos Para componentes complexos, a situação torna-se ainda menos previsível. O aumento da complexidade é feito com o intuito de melhorar o desempenho (pela incorporação de redundâncias e equipamentos de proteção). Em outras palavras, melhores desempenhos e segurança são obtidos através de maiores custos e maior complexidade. Isso é verdadeiro para equipamentos da maioria das atividades industriais. Maior complexidade significa estabelecer compromissos entre baixo peso e dimensões compactas para atingir altos desempenhos com massa e tamanho necessários para durabilidade, o que implica em: - Aumento do número de componentes que podem falhar e, também, o número de interfaces e conexões entre componentes. Isso, por sua vez, aumenta o número e a variedade das possíveis falhas. Por exemplo, muitas falhas mecânicas estão relacionadas com soldas e parafusos, enquanto falhas elétricas envolvem conexões entre componentes. Quanto maior o número de conexões, maior a probabilidade da falha. - Redução da margem de segurança, o que significa diminuir, também, a margem de deterioração possível antes da falha. Confiabilidade Industrial 51 Em relação aos componentes complexos, Lafraia (2001) acrescenta que eles “estão muito mais sujeitos a falhas aleatórias do que componentes simples. Portanto, o período de desgaste geralmente não se aplica a esses casos”. Destaca ainda que “dessa forma substituições/recondicionamentos programados para evitar falhas podem não ter nenhuma efetividade”. Scapin (1999), ainda tratando-se dos tipos de falhas, as classificará como: falha primária, falha de comando e falha secundária. Para cada uma, Scapin (1999) define: Falha primária: Uma falha primária resulta da deficiência de um componente e ocorre quando este componente está trabalhando dentro dos limites normais de operação. Exemplo: a ruptura da lâmina de uma turbina de um avião, quando em operação dentro das rotações especificadas pelo fabricante, constitui em uma falha primária. Falha de comando: Uma falha de comando resulta na operação de um sistema ou de um componente fora do resultado esperado pelo operador, em razão da ordem errônea, quando este sistema ou componente está trabalhando dentro dos limites normais de operação. Falha secundária: Uma falha secundária ocorre quando um componente/sistema está trabalhando fora de seus limites de especificação, condição de operação. Geralmente nesta falha estão presentes temperatura anormal, pressões elevadas ou baixas demais, cargas demasiadas, velocidades elevadas ou baixas demais, vibrações em certos regimes de funcionamento, variações de correntes elétricas, sujeira, pó e corrosão química. O autor destaca que “a ocorrência de falhas secundárias nem sempre ocasiona a falha do componente em todo o intervalo de tempo. Ela pode ocorrer somente dentro de alguns intervalos de tempo” (SCAPIN, 1999). E acrescenta: “uma falha secundária em um componente pode ocasionar sua falha somente em 60% do tempo em que está em operação”. Confiabilidade Industrial 52 Scapin (1999) assim subdivide as falhas secundárias: 1) Falha de propagação; 2) Falhas comuns; 3) Falhas decorrentes de erro humano: 4) Falhas, em geral, que diminuem o desempenho sem levar a falha aos demais componentes. Confiabilidade de Sistemas Uma vez entendida a necessidade da Confiabilidade de determinados equipamentos, cabe agora desenvolver o pensamento sobre a Confiabilidade de Sistemas. Como Sistema entende-se, entre outras coisas, como a “disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada” (FERREIRA, 2004). Já a Confiabilidade de Sistemas, “trata da confiabilidade de mais de um elemento formando um conjunto funcional. Esse conjunto será formado pela interdependência de vários elementos” (LAFRAIA, 2001). Para essa análise, o autor declara que será necessário utilizar o conhecimento de Estatística, em especial de forma básica, sobre probabilidade, conforme a seguir: Sendo E1 e E2 dois eventos independentes, com probabilidade de ocorrência P (E1) e P(E2), então, para que ambos os eventos ocorram, será necessário: P(E1E2) = P(E1) x P (E2) Se ambos os eventos ocorrerem simultaneamente, a probabilidade de que tanto E1 com E2, ou ambos venham a ocorrer será: P(E1 U E2) = P(E1) + P(E2) – P(E1) x P(E2) No caso dos eventos serem mutuamente exclusivos, ou seja, a ocorrência de um implica necessariamente na não ocorrência do outro, então: Confiabilidade Industrial 53 P(E1 U E2) = P(E1) + P(E2) Se temos apenas as alternativas dadas por E1 e E2: P(E1 U E2) = P(E1) + P(E2) = 1 Lafraia (2001), classifica Sistema em três modos: Sistema em Série, Sistema em Paralelo e Sistema em Série Paralelo. O autor assim os define: Sistema em Série: Os componentes são considerados em série quando a falha de qualquer um deles provocar a falha de todo o sistema, ficando completamente inoperante. Logo, o funcionamento do sistema dependerá da plena capacidade de cada componente. Sua representação é dada a seguir, em analogia com os circuitos elétricos. Sistemas em Paralelo: Os componentes serão considerados em paralelo quando a falha do sistema só ocorrer quando todos os componentes fecharem ou o sistema continuar operando. Neste sistema, a confiabilidade atingirá altos valores. Sistema em Série Paralelo: Como foi visto, em sistemas em série, seum componente falhar, toda a linha pára. Isto já não ocorre em sistemas em paralelo, aonde o sistema somente falhará se todos os componentes falharem. Scapin (1999) considerará que a predição de Confiabilidade de um Sistema será definida como um processo de estimar quantitativamente a probabilidade de falha de um projeto, tendo como objetivo verificar se o produto irá atender as metas de confiabilidade, definidas pela empresa, através do setor de marketing. Confiabilidade Industrial 54 Segundo o autor, “esta estimativa é feita no início das atividades de um projeto, tendo como base o quanto é novo o produto a ser lançado no mercado” (SCAPIN, 1999). O mesmo ainda lembra a máxima da Confiabilidade: “Produto novo no mercado, produto velho no laboratório de confiabilidade” (SCAPIN, 1999). Isso demonstra a preocupação que todo projetista deve ter em não lançar um produto ou colocar em atividade um Sistema sem antes ter feito os testes necessários. O autor ainda chama atenção declarando que deve-se lembrar que a confiabilidade de um sistema complexo depender da confiabilidade individual de cada componente que compõe a arquitetura do produto. Se a operação do sistema requer que todos os seus componentes operam satisfatoriamente, no mesmo intervalo de tempo, o sistema é classificado como em série. Num sistema em série, a confiabilidade do sistema é igual ao produto da confiabilidade de cada componente. (SCAPIN, 1999). Assim, pode-se definir tal descrição através da fórmula: CONFIABILIDADE DO SISTEMA = RS x R1 x R2 x R3 x R4 ... Scapin (1999) lembra que “esta regra é chamada de Lei de Confiabilidade do Produto (Product Law of Reability)”. Análise de Árvores de Falhas - FTA A Análise de Árvore de Falhas (AAF) ou no inglês Failure Tree Analyses (FTA) é uma análise que envolve aspectos qualitativos e quantitativos. Segundo Lafraia (2001), “na análise qualitativa, o objetivo pode ser determinar as Causas Básicas de um evento ou a sequência que levou ao mesmo”. Ainda segundo o mesmo autor “na análise quantitativa, o objetivo é determinar a probabilidade de ocorrência do evento”. Confiabilidade Industrial 55 A aplicabilidade da Análise de Árvore de Falhas se faz para “qualquer evento indesejado, especialmente eventos e/ou sistemas complexos” (LAFRAIA, 2001). Seu objetivo é “a obtenção, através de um diagrama lógico do conjunto mínimo de causas (falhas) que levaram ao evento em estudo” (LAFRAIA, 2001), sendo ainda possível, segundo o autor, “obter a probabilidade da ocorrência do evento indesejado”. Assim sendo, o autor propõe uma metodologia conforme os passos apresentados a seguir (LAFRAIA, 2001): 1. Seleção do evento topo. 2. Determinação dos fatores contribuintes. 3. Diagramação lógica. 4. Simplificação booleana. 5. Aplicação dos dados quantitativos. 6. Determinação da probabilidade de ocorrência. Lafraia (2001) destaca ainda que “esta metodologia permite a utilização dos dados de confiabilidade dos componentes, inclusive a inclusão da probabilidade de erros humanos. É um método dedutivo e estruturado”. A figura 8 apresenta um resumo “da estrutura fundamental da análise e seus passos” (LAFRAIA, 2001): Confiabilidade Industrial 56 Figura 8 – Estrutura fundamental Fonte: adaptado de Lafraia (2001). Como benefícios, o autor destaca as seguintes vantagens (LAFRAIA, 2001): Conhecimento aprofundado do sistema e de sua confiabilidade. Detecção de falhas singulares (aquelas cuja ocorrência leva ao evento topo) desencadeadoras de eventos catastróficos e da sequência de eventos prováveis. Possibilita decisões de tratamento de riscos baseados em dados quantitativos. Pode ser realizada em diferentes níveis de complexidade. Confiabilidade Industrial 57 Ótimos resultados podem ser conseguidos apenas com a forma qualitativa. Complementa-se com a Análise de Modo de Falhas e Efeitos. Permite a determinação de falhas potenciais que seriam difíceis de serem detectas. Permite a determinação de partes críticas para teste de produtos. Excelente ferramenta de comunicação visual. Ajuda da determinação da causa de falhas e possibilidade verificar a interação entre as causas. Mesmo com os benefícios apresentados, Lafraia (2001) destaca que há limitações no modelo: Não permite determinação direta de itens críticos. Não permite visualização da técnica de validação da análise. Não permite execução de análise de criatividade. Para a montagem da AAF, o autor apresenta os símbolos mais utilizados e o que cada um significa na Análise de Árvore, conforme figura 9: Figura 9: simbologia Fonte: adaptado de Lafraia (2001). Confiabilidade Industrial 58 O autor apresenta outros símbolos utilizados para a AAF, que identificam as portas lógicas conforme figura 10: Figura 10: simbologia das portas lógicas Fonte: Lafraia (2001) Na figura 11, o autor apresenta o funcionamento da porta lógica “OU” (OR), “utilizada quando o evento ocorre quando o evento A, ou o evento B ocorrem, independentemente um do outro” (LAFRAIA, 2001), e acrescenta: a tabela da lógica booleana explica melhor este tipo de porta lógica: se a ocorrência do evento for marcada pelo número 1 e a sua não ocorrência for marcada pelo número 0. Na forma de diagramas de blocos, a porta OU é representada por uma formação em série. Figura 11: simbologia da Porta Lógica “OU (OR). Fonte: Lafraia (2001). Confiabilidade Industrial 59 Na figura 12, Lafraia (2001) demonstra o funcionamento da porta lógica “E” (and), declarando que é utilizada “quando o evento ocorre quando o evento A, e o evento B ocorrem simultaneamente”, e acrescenta: a tabela da lógica booleana explica melhor este tipo de porta lógica: se a ocorrência dos eventos for marcada pelo número 1 e a sua não ocorrência for marcada pelo número 0. Na forma de diagramas de blocos, a porta E é representada por uma formação em paralelo. Figura 12: simbologia da Porta Lógica “E” (AND). Fonte: Lafraia (2001). Para exemplificar a elaboração de uma Análise de Árvore de Falhas, o autor propõe analisar o caso de uma caixa d´água residencial, determinado o evento topo como sendo o transbordamento de água. A figura 13 apresenta o esquema do sistema: Figura 13: Caixa d´água residencial Fonte: adaptado de Lafraia (2001) Confiabilidade Industrial 60 O autor, a seguir, explica o sistema e a identificação das falhas (LAFRAIA, 2001): O evento topo transbordamento da caixa d’água pode ocorrer devido a três eventos: entupimento do ladrão, consumo intermitente, entrada de água continuamente. Cada um destes eventos, por si, não causaria necessariamente o transbordamento. Porém, o ladrão entupido com a entrada contínua da água e um conjunto intermitente, todos simultaneamente levam ao evento topo. Portanto, estão ligados a uma porta lógica “E”. Neste caso, decidimos que o evento entupimento do ladrão já caracteriza um evento sobre o qual temos ação. O consumo intermitente foi considerado como um evento normal (ver simbologia) e não será estudado com mais detalhamento estudada. Os eventos que levam à entrada contínua de água são: bóia furada; bóia solta; haste quebrada; válvula emperrada aberta. Notar que estes eventos levam ao transbordamento independentemente uns dos outros. Portanto, estão ligados a uma porta lógica “OU”. Estes quatro últimos eventos não serão estudados mais profundamente para a presente análise, portanto envoltos em um círculo. E, completando, declara: “verificar que neste exemplo nenhum evento está ligado isoladamente abaixo de outro evento a não ser por uma porta lógica”, destacando que “esta é uma regra que deve ser sempre respeitada na construção de árvores de
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