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� � FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ESPECIALIZAÇÃO EM PERÍCIA AMBIENTAL – TURMA 2012.2 MARXWELL JOSÉ ALBUQUERQUE ALVES DA SILVA DEGRADAÇÃO DOS MANGUEZAIS EM ÁREAS URBANAS: ESPECULAÇÕES IMOBILIÁRIAS E MOBILIDADE NO PARQUE DOS MANGUEZAIS, RECIFE/PE. RECIFE 2014 � � MARXWELL JOSÉ ALBUQUERQUE ALVES DA SILVA DEGRADAÇÃO DOS MANGUEZAIS EM ÁREAS URBANAS: ESPECULAÇÕES IMOBILIÁRIAS E MOBILIDADE NO PARQUE DOS MANGUEZAIS, RECIFE/PE Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do Título de Especialista em Perícia e Auditoria Ambiental, pela Faculdade Frassinetti do Recife. Apresentada a turma de Especialização em Perícia e Auditoria Ambiental da Faculdade Frassinetti do Recife e avaliada pelo Professor Doutor Gevson Silva Andrade. ___________________________________ Prof. Gevson Silva Andrade Orientador RECIFE 2014 � � DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus, responsável por tudo que foi realizado. Aos meus pais Alderico Alves da Silva e Eunice Cavalcanti de Albuquerque Freire a quem devo a vida e toda minha formação, à minha esposa Vitória Teresa da Hora Espar pelo apoio incondicional e incentivo na minha trajetória. Aos caros colegas de curso pelo apoio e compartilhamento de experiências em diversas circunstâncias. � � AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Deus pela coragem, fé e força que me deu durante esta jornada. À Faculdade Frassinetti do Recife, especialmente ao Departamento de Ciências Biológicas, a Coordenação de Pós Graduação, em especial à Professora Ana Ataíde, pelos conhecimentos e estruturas que me foram oferecidas. Ao meu Orientador, Professor Doutor Gevson Silva Andrade, pela atenção, compreensão e as orientações prestadas. Aos colegas de curso, em especial a Ana Paula, Edson Aquino, Diogo Paz, Fábio Costa, Roberto Amorim e Sheyla Silva, pelo companheirismo, incentivo e o intercâmbio de conhecimentos e experiências ao longo dessa trajetória. Às colegas de trabalho da UNDIME/PE: Adriana Neves, Rosa Torres e Socorro Gomes, pela compreensão, apoio nos momentos em que precisei estar ausente dos meus ofícios profissionais. Agradeço também, de forma muito especial, ao colega do Curso de Bacharelado em Geografia, Danilo Barros, que contribuiu com os resultados da pesquisa na utilização do software ArcGis; estendo, também, esse agradecimento, ao colega de trabalho Alex Brassan, que gentilmente formatou as aerofotometrias; ao meu primo Jeferson Souza pelas contribuições no desenvolvimento dessa pesquisa. Faço, aqui, também, um registro de agradecimento aos Órgãos Governamentais que cederam materiais para o enriquecimento dessa pesquisa: CONDEPE/FIDEM, Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife, em nome de Aurélio Júnior. Finalizo, agradecendo à minha família pelo apoio e incentivo nos meus desafios. Agradeço a confiança e companheirismo dos meus pais, Alderico Alves da Silva e Eunice Cavalcanti Albuquerque Freire; meus irmãos; meus sogros, Leocádia Maria da Hora Neta e Miguel Espar Argerich, que sempre me incentivaram com palavras de apoio e orientações; a minha esposa Vitória Teresa da Hora Espar pela paciência, amor e apoio nos momentos difíceis; e minha luz inspiradora, minha filha Bruna da Hora Espar Albuquerque Alves. � � “A crise ambiental é a crise do nosso tempo. O risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Esta crise apresenta-se a nós como um limite no real, que ressignifica e reorienta o curso da história: limite do crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social.” Enrique Leff � � RESUMO Pode-se dizer que, o processo de urbanização em grande escala nas grandes cidades brasileiras a partir da segunda metade do século XX foi um dos principais fatores para a degradação de vários biomas, dentre eles o manguezal, que vem sendo alvo de desmatamento até os dias atuais. O Parque dos Manguezais, um dos poucos resquícios de manguezal preservado da cidade do Recife, em uma das regiões mais povoadas da cidade, vem sendo degradado gradualmente devido a forte pressão da especulação imobiliária, implantação de um grande shopping center, e uma via expressa que pretende facilitar a mobilidade urbana diante da demanda de automóveis da região. Todo esse processo pode ser colocado como agressivo e danoso a um resquício de área de mangue. As consequências de todo desmatamento e ausência de uma política pública de proteção ambiental eficaz podem gerar consequências irremediáveis, tais como maiores impactos de inundações nos períodos de chuva devido à impermeabilização do solo, e a diminuição de áreas para escoamento das águas pluviais. Palavras-chave: Manguezais, Degradação ambiental, expansão urbana. ABSTRACT You could say that the process of urbanization on a large scale in large Brazilian cities from the second half of the twentieth century was a major factor in the degradation of various biomes, including mangroves, which has been the target of deforestation by the today. The Mangrove Park, one of the few remnants of mangrove preserved in Recife, one of the most populated areas of the city, has been gradually degraded due to strong pressure from speculation, deployment of a large shopping center, and a expressway aims to facilitate urban mobility on demand for cars in the region. This entire process can be placed as aggressive and harmful to a remnant of mangrove area. The consequences of all deforestation and absence of a public policy of effective environmental protection can cause irreparable consequences, such as greater impacts of flooding during the rainy season due to soil sealing, and reducing areas for stormwater run off. Keywords: Mangrove, environmental degradation, urban sprawl. � � LISTA DE FIGURAS Figura 1: Localização do Parque dos Manguezais. Fonte: Google Earth 2014. _____ 33 Figura 2: Situação da ZEPA 2 – Parque dos Manguezais. Fonte: Prefeitura do Recife (2004) _____________________________________________________________ 34 Figura 3: Divisão das comunidades que circundam o Parque dos Manguezais. Fonte: Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano – PCR (2007). ___________________ 36 Figura 4: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (1974). Fonte: CONDEPE/FIDEM __________________________________________________ 38 Figura 5: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (1981). Fonte: CONDEPE/FIDEM. __________________________________________________ 39 Figura 6: Ramificação do comércio e verticalização na margem leste do Parque dos Manguezais (imediações da Av. Domingos Ferreira). Fonte: Lady Nascimento (2010). __________________________________________________________________ 40 Figura 7: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (1997). Fonte: CONDEPE/FIDEM __________________________________________________ 41 Figura 8: Colégios Boa Viagem, Santa Maria e Motivo exercem pressão no fluxo de veículos na região. Fonte: Eduardo Lins Cardoso/ Bobby Fabisak/ Eudes Santana _ 42 Figura 9: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (2007). Fonte: Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano – Prefeitura do Recife ________________________ 43 Figura 10: Região Sul do Parque dos Manguezais, Condomínio L’Parcmargeando a área que pertence a ZEPA – Parque dos Manguezais (2012). Fonte: Raul Lopes ___ 44 Figura 11: Alça Sul da Via Mangue, ligando o centro ao Sul de Boa Viagem (à esquerda construção do L´Parc em estágio avançado, e à direito surgimento de novos empreendimentos imobiliários). Fonte: Diário de Pernambuco (2014). __________ 45 Figura 12: Área de Intervenção da Via Mangue. Fonte: CONSUPLAM, 2011. ____ 46 Figura 13: Viaduto Capitão Temudo (principal ligação do Centro a Zona Sul). Fonte: Bernardo Soares/Jornal do Comércio (2011). _______________________________ 47 Figura 14: Ponte que ligará dará mobilidade à localidade sentido Via Mangue, entre outras localidades (construção e projeção de sua conclusão). Fonte: Bobby Fabisak/Jornal do Comércio _____________________________________________ 47 Figura 15: Início da construção da nova ponte, bem como as perspectivas de mobilidade ao Shopping/ empreendimentos e a Via Mangue. Fonte: Prefeitura do Recife (2012). _______________________________________________________ 48 Figura 16: Shopping Rio Mar, e ao sul aeroclube e Parque dos Manguezais (2012). Fonte: Roberto Almeida. ______________________________________________ 49 � � Figura 17: Região Leste do Parque dos Manguezais, a imagem à esquerda registrada em 2009, e a direita a via já em fase de implantação 2014. Fonte: Marxwell Albuquerque (2009 e 2014). ____________________________________________ 49 Figura 18: Contraste na redução das matas ciliares da margem leste do Parque dos Manguezais (análise comparativa 2009 e 2014). Fonte: Marxwell Albuquerque (2009 e 2014). ____________________________________________________________ 50 Figura 19: Impermeabilização da margem leste do Parque dos Manguezais. Fonte: Diário Pernambuco (2013). ____________________________________________ 51 Figura 20: Alagamento no túnel do Pina (uma das consequências impermeabilização do solo). Fonte: Jornal do Comércio (2013) ________________________________ 51 Figura 21: Condomínios surgindo às margens do Parque dos Manguezais, e área onde passará a Via Mangue (circundadas em amarela) (2011). Fonte: OLX (2014). _____ 52 Figura 22: Área do Parque sofrendo aterro e associada a edifícios na imagem esquerda (2009), reordenamento e impermeabilização da área aterrada na imagem a direita (2014). Fonte: Marxwell Albuquerque, 2009 e 2014. ________________________ 53 Figura 23: Alça Sul da Via Mangue, sobre a Avenida Antônio Falcão e novos empreendimentos imobiliários na área. Fonte: Diário de Pernambuco. ___________ 54 Figura 24: Grandes empreendimentos favorecidos com a Via Mangue. Fonte: EIA/RIMA – Via Mangue. _____________________________________________ 55 Figura 25: Nível avançado das obras do Le Parc. Fonte: OLX (2014). ___________ 56 � � LISTA DE TABELAS Tabela 1: Análise das Leis Federais ______________________________________ 20 Tabela 2: Análise das Leis Estaduais _____________________________________ 20 Tabela 3: Relação das leis autorizativas para supressão de manguezal no Estado de Pernambuco, entre os anos 1997 e 2010. __________________________________ 22 Tabela 4: Análise das Leis Municipais ____________________________________ 23 � � SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO _________________________________________________ 11 2. REVISÃO DA LITERATURA ______________________________________ 13 2.1. Manguezais: Características gerais e degradação em áreas urbanas. _____ 14 2.2. As especulações Imobiliárias e a estruturas de materialização no espaço geográfico ________________________________________________________ 16 2.3. Os marcos regulatórios em defesa da proteção do ecossistema manguezal: Breve análise das legislações nacionais e municipais ______________________ 19 2.4. O papel do Estado na organização do espaço urbano e defesa das áreas de proteção ambiental _________________________________________________ 23 2.5. Aspectos gerais do EIA/RIMA e da Via Mangue ____________________ 25 2.5.1. Histórico: Alternativas de melhoramento da mobilidade na zona sul do Recife 26 2.5.2. Via Mangue: O Estudo de Impactos Ambientais (EIA) _______________ 27 3. METODOLOGIA ________________________________________________ 31 3.1. A natureza do estudo __________________________________________ 31 3.2. A construção do corpus ________________________________________ 32 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ___________________________________ 37 4.1. Análise temporal da área do Parque dos Manguezais _________________ 37 4.2. Ocupações territoriais, especulação imobiliária e impactos ambientais na área do Parque dos Manguezais ___________________________________________ 45 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ 56 6. REFERÊNCIAS _________________________________________________ 59� � 11 � 1. INTRODUÇÃO Os problemas ambientais na atualidade vêm afligindo em grande extensão diversas regiões no mundo, perpassando cada espaço geográfico existente, países, estados, cidades e bairros, porém, se apresentam de forma mais clara, principalmente nas grandes cidades, nas quais vêm provocando uma série de problemas, inclusive gerando catástrofes. Esses problemas gerados partiram de um processo de degradação de vários ecossistemas frágeis, tais como matas, mangues, estuários, entre outros. O processo de urbanização desordenado pode ser citado como um dos grandes contribuidores para os impactos ambientais existentes na atualidade: a demanda populacional exigia novos espaços, ampliações que entrariam numa proporção inversa a da conservação das áreas naturais pré-existentes, aumentando, então, o uso descontrolado dos recursos naturais, assim como sua degradação. O Brasil é o país que possui a maior extensão de manguezal do planeta; segundo levantamento realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, no ano de 2006, os manguezais ocupam cerca de 1.225.444 hectares, ao longo de quase todo o litoral brasileiro, que vai do Oiapoque, extremo norte do país, a Laguna em Santa Catarina1. Essa área vem se tornando cada vez mais desmatada, seja para aterramento, ocupação irregular, ou para grandes e médias incorporações imobiliárias e empresariais; é um bioma que vem se tornando escasso nas áreas urbanas do país, e os poucos resquícios que ainda sobrevivem vêm sendo agressivamente devastado, diante de demandas que muitas vezes podem ser supridas de outras formas. A lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, que trata da instituição do Código Florestal, em seu Artigo 2º, estabelece o manguezal como área de Proteção Permanente (APP); e a Resolução do CONAMA Nº 396 de 28 de março de 2006, são os marcos regulatórios que protegem o bioma do manguezal. Porém o processo intenso de urbanização vem estendendo-se às áreas remanescentes de manguezal. No que se refere a essa pesquisa, a cidade do Recife, aparece com um resquício do bioma do manguezal, pouco alterado pela ação antrópica, e bastante importante para a sobrevivência de várias comunidades que vivem da pesca de peixes, mariscos e ���������������������������������������� ������������������� ��Os manguezais se desenvolvem na faixa entre os trópicos de Câncer e Capricórnio (23° 27'N e 23° 27'S), o seu desenvolvimento pleno e máximo ocorrem próximo a Linha do Equador. Santa Catarina está na zona limítrofe entre o trópico de Câncer e Capricórnio, portanto, caracterizando o fator pelo qual o manguezal se estende até essa faixa zonal, ocasionalmente se estende em além dessas coordenadas (CORREIA e SOVIERZOSKI, 2005).� 12 � crustáceos desse ambiente, e que, além disso, é um espaço de escoamento das águas pluviais, servindo como filtro de retenção de sedimentos. A perspectiva é que os rios que cortam esse ecossistema (Pina, Jordão e Tejipió) ainda tornem-se mais poluídos diante dosnovos paradigmas. O Projeto Parque dos Manguezais, que é uma Zona Especial de Proteção Ambiental – ZEPA da cidade do Recife, ainda é um dos poucos resquícios de manguezais pouco alterado pelo homem; a cidade que foi erguida em uma planície flúviomarinha, ocupada em quase sua totalidade por várzeas e áreas de mangue, foi substituída pelo concreto, impermeabilizando e canalizando rios, o que traz como consequências em períodos de chuvas, as enchentes, devido às poucas áreas de escoamento dos recursos pluviais. Portanto, se faz necessário compreender a dinâmica urbana da região no tocante à degradação dos recursos naturais, nesse estudo, especificamente o manguezal. Verificar os princípios e fatores do desmatamento e mudança da paisagem dessa área, as consequências positivas, e os aspectos negativos que apresentam, tanto no que tange à especulação imobiliária como no que diz respeito à construção de via expressa. Nesse sentido, pretende-se analisar através de registros bibliográficos e iconográficos os processos de degradação da área no entorno e do que será o Parque dos Manguezais em Recife/PE, decorrente do processo de expansão urbana da metrópole. Além disso, verificar analogicamente os marcos regulatórios que visam à proteção de ecossistemas; analisar os pontos preponderantes na construção da via expressa e os impactos que a mesma virá a designar; e compreender o processo histórico de ocupação e urbanização das áreas lindeiras ao parque dos manguezais, diante das ocupações do seu espaço. A metodologia desse trabalho tem caráter de uma pesquisa descritivo-explicativa, utilizando como recursos a análise iconográfica do objeto de estudo, isto é, as distinções do espaço geográfico estudado em momentos distintos, tendo como base fotos áreas digitais, e imagens de pontos específicos, para poder interpretar-se as problemáticas em questão. Dessa forma, têm-se o arcabouço para compreensão dos aspectos que levaram a tal pesquisa. 13 � 2. REVISÃO DA LITERATURA Em todo seu contexto histórico o homem foi dependente do meio natural para sua sobrevivência. O uso desordenado dos recursos naturais e alterações feitas nesse meio são objetos de discussão de toda a sociedade, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Nesse sentido Silva e Travassos (2008) vêm ressaltando que a semelhança própria que tem entre os adensamentos urbanos e o seu sustentáculo físico, provocam impactos ao meio ambiente, ora negativos ora positivos, as alterações nos modelos produtivos bem como a dinamicidade populacional modificam a forma como os impactos ocorrem, e como consequência a natureza socioambiental dos agrupamentos urbanos. Há na literatura, diversas conceituações para meio ambiente, a Política Nacional do Meio Ambiente (artigo. 3°, Inciso I, da Lei 6.938/81), por exemplo, conceitua o meio ambiente como “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Já ao que se refere a impactos ambientais, segundo o Artigo 1º da Resolução n.º 001/86 do CONAMA, impacto Ambiental é: “Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: A saúde, a segurança, e o bem estar da população; As atividades sociais e econômicas; A biota; As condições estéticas e sanitárias ambientais; A qualidade dos recursos ambientais.” Pode-se dizer que vários fatores vêm sendo responsáveis pelas degradações ambientais em áreas de manguezais, dentre os principais estão à expansão urbana, através das ocupações irregulares, pressão da especulação imobiliária, dos órgãos públicos e privados, dentre outros, que tendem a se cristalizar no espaço geográfico, tornando cada vez mais limitados os espaços verdes, de influências e ações bióticas. A zona Costeira, além de sofrer uma pressão pelas mudanças no contexto global, vem sendo a região de maiores adensamentos populacionais no mundo, abrigando grande parte de sítios urbanos e áreas industriais, obras para construções de porto, drenagens e aterros artificiais, urbanização, entre outros aspectos intervisionários, que consequentemente irão promover rápidas alterações das características ambientais da área (LACERDA et al. 2006). 14 � Os marcos regulatórios em defesa do espaço geográfico natural estão voltados à proteção de áreas naturais, bem como à recuperação de áreas degradadas, e à aplicação de multas aos agentes infratores de tais marcos. O Estado, por sua vez, deve resguardar uma Política Ambiental vinculada às Políticas Públicas, com o objetivo de ampliar a influência das legislações e órgãos ambientais, não limitando apenas as atividades de gestão de áreas de proteção, e aplicação de leis. Contudo, muitas legislações são permissíveis a alterações de ecossistemas e ambientes naturais, na premissa de estar servido ao bem do coletivo (SOBRINHO e ANDRADE, 2004). Na construção da Via Mangue, que tem o objetivo de tornar eficiente o fluxo de automóveis na zona sul da cidade do Recife, observa-se que, acontece, exatamente o que afirmam Sobrinho e Andrade (2009, p.1) que “a existência de leis de proteção a esse ecossistema, oriundos dos órgãos ambientais, que não se configuram como suficientes para impedir a degradação do manguezal”. Diante dos fatores mencionados, é observado que apesar de termos leis que limitam a alteração de ambientes naturais, especialmente as áreas de proteção ambiental, quando há projetos de grande magnitude e vão ao encontro dos interesses das grandes corporações capitalistas e imobiliárias, os mesmos são colocadas em primeiro plano, sem muitas vezes levar em consideração os impactos futuros que os projetos vão implicar a essas regiões. 2.1. Manguezais: Características gerais e degradação em áreas urbanas. � Há várias conceituações para o ecossistema; pode-se dizer que é um sistema de organismos vivos, que estão em pleno intercâmbio de matéria e energia; ele possui elementos bióticos (planta, animais, etc) e abióticos (solo, água, etc), que se inter- relacionam na formação de uma estrutura com uma determinada função (PILLAR, 2002). O manguezal é um ecossistema inserido nas regiões de climas tropicais e subtropicais, em zonas úmidas; Schaeffer-Novelli (1995, p.7) conceitua o manguezal como um “ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés”. 15 � Os mangues se caracterizam como uma vegetação arbóreo-arbustiva que tem seu desenvolvimento, sobretudo em solos lamosos em rios de zonas tropicais e subtropicais, no espaço zonal de transição das marés, atuando dentro do estuário, cujas variabilidades das marés tendem a sobrepor as águas salgadas para a superfície continental através de canais fluviais, bem como pelas áreas lindeiras dos rios, que são áreas sujeitas a inundações ao longo dos estuários (OLIVEIRA e CUNHA, 2011). No que se refere à vegetação de mangue, Santa (2007, p.158) a descreve: [...] como relevante a manutenção do substrato pantanoso sobre o qual se situa e, além disto, com os sistemas radiculares e caulinares geotrópicos negativos de suas espécies componentes, diminui a velocidade das águas em seu interior, favorecendo a deposição de partículas de matéria orgânica e silte. Em algumas situações amplia a área do depósito e a sua extensão. Além disto, devido à elevada produtividade primária deste bioma, é reconhecido que muitas espécies animais têm parte do seu ciclo de vida relacionada com os manguezais, influindo na produtividade pesqueira de algumas regiões litorâneas. Estabilidade e função semelhantes também são exercidaspelas Florestas de Várzea e Paludosa, que fixam as margens das drenagens nas quais se situam, mantendo sua estrutura. No tocante à importância do manguezal, bem como a fatores considerados benéficos à sociedade, o manguezal proporciona uma forma de contenção das áreas de terra firme contra fortes chuvas e degradação de erosão, provenientes do fluxo das marés, tem uma grande capacidade de reter poluentes, bem como sedimentos finos que são transgredidos pelas águas; isso vem a favorecer a preservação dos canais de navegação, bem como a fauna marinha e pesqueira do estuário, promovendo assim oportunidades de recreação e lazer, como turismo ecológico e pesca esportiva (NANI, 2005). Apesar da importância física do ecossistema manguezal, como descrita da citação anterior, vê-se um comportamento desprezível, por parte da sociedade, que vai do governamental ao privado, da população mais abastarda a mais carente; esta população, por sinal, carente de políticas públicas, veem nessas áreas as possibilidades de moradia, mesmo que em grande nível de marginalização, Vanucci (2002, p. 148) exprime que: “Vastas áreas de manguezais foram recentemente convertidas ou transformadas para outros usos. As áreas costeiras tropicais onde crescem os manguezais mais luxuriantes são as que sofrem maior pressão para o ‘desenvolvimento’’. Na ânsia por lucros rápidos, para gerar empregos para o maior número de possível de pessoas, para obter dinheiro rapidamente e lucros em termos do que geralmente é identificado como ‘benefícios econômicos’.” Dessa forma, é notório que mesmo com todos os benefícios proporcionados pelo ecossistema manguezal, estão em voga outros interesses, incessantemente 16 � voltados à obtenção de novos espaços, que vão se materializar para diversos fins, sobretudo tendo como premissa o desenvolvimento econômico, a mobilidade, e novas áreas de especulações imobiliárias, comerciais, industriais e ocupações irregulares, tais como invasões. Consequentemente os resultados tem sido devastadores, havendo uma degradação gradativa e uniforme dos manguezais nas áreas urbanas, principalmente nas grandes metrópoles. A expansão do espaço urbano vai exigir uma diversidade de fatores, e um dos mais significativos é a infraestrutura; tudo isso vai requerer novas áreas, alternativas de expansão, de mobilidade e da própria organização espacial em si. Dessa forma, a maneira como se dá essa expansão, na maioria das vezes não leva em consideração as áreas bióticas que vão sofrer alterações, o que se torna um processo em cadeia, que vai desde o desmatamento ao impacto direto à fauna que necessitados ecossistemas, que, alterados/ degradados, não suportam a sustentação de suas espécies. 2.2. As especulações Imobiliárias e a estruturas de materialização no espaço geográfico � Primeiramente se faz necessário compreender a noção de espaço geográfico, sua dinâmica no contexto do meio urbano, no que se refere a sua complexidade de fenômenos e aspectos, visto que vários agentes interagem e realizam a produção do espaço urbano simultaneamente. Sendo assim, o espaço geográfico passar a ter uma semântica diferenciada, pois o conceito de espaço passa a ser vinculado ao entendimento de que sua produção está ligada ao modo capitalista de produção, haja vista que o espaço carrega um valor econômico e político no que se refere ao processo de reprodução do capital. Dessa forma, Carlos2 (1994) apud Albuquerque (2009, p.25) destaca que: “O espaço como produto do trabalho do homem nos leva a refletir sobre o processo de produção social, o tipo de trabalho, o seu desenvolvimento, o modo como determinado produto é produzido. A questão é como se dá a configuração específica do processo de produção espacial através das relações capitalistas de produção. Em seu conjunto o capital aparece como uma relação social fundamentada nas lutas e contradições de classe, o que nos abriga a entender esse processo de dinamismo, isto é, no de suas contradições imanentes.” (CARLOS, 1994, p.23). ���������������������������������������� ������������������� 2 CARLOS. Ana Fani Alessandri. A (RE) Produção Espaço Urbano: São Paulo: Edusp, 1994. 17 � No que se refere à abordagem de conceitos, é fundamental a distinção dos conceitos de espaço, lugar e território, reforçando tal argumento, Andrade (1995, p.19) expressa que: “O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à ideia de domínio ou de gestão de determinada área. Assim, deve-se ligar sempre a ideia de território a ideia de poder, quer se faça referência ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas [...].” Vale salientar que o espaço capitalista é materializado pela ação antrópica, e esse processo de materialização é realizado através da concreta normatização e regulamentação. A força de trabalho é a mola do espaço produzido pelo homem, que está sob a égide dos agentes de produção. De acordo com Albuquerque (2009, p. 26): “[...] enquanto que os que têm a força de trabalho não possuem o capital, no caso, os meios de produção. Portanto as forças do capital não produzem um espaço homogêneo, determinado a produção diferenciada do espaço, em função da diferenciação desta produção no âmbito espacial e social do trabalho.” Dessa forma, pode-se dizer que a dinâmica do espaço globalizado a qual é retratada por Santos (2006, p.169) “supõe uma adaptação permanente das formas e normas” no tocante à forma geográfica o autor se refere aos instrumentos técnicos necessários para otimização da produção, e essa otimização somente é permitida através de normas técnicas, jurídicas e financeiras, no advento do controle de estabelecimento de preços, que vem a estar alinhado com as necessidades do mercado. Nesse contexto, a produção espacial se promulga na condição de espaço na forma de mercadoria, gerado pela propriedade privada da terra, que são guiadas através das estratégias do capital que vai estar direcionado nesse processo. Quando o espaço passa a torna-se vital para a reprodução do capital, torna-se mercadoria, o solo passa a ter um valor agregado que será determinado por especulações, haja vista que o solo como espaço físico propriamente dito tem fundamental importância para a reprodução do capital, bem como a consolidação da sua circulação. De acordo com todos os aspectos mencionados, o mercado imobiliário se apresenta como um elo importante para a acumulação de capital bem como a dominação de espaços, gerando diversas maneiras de obtenção de lucro, e a determinada utilização desses espaços de acordo com o valor do solo estabelecido para cada região, é que vem a proporcionar uma estratificação da sociedade, no que se 18 � refere ao uso e ocupação do solo. Nesse contexto, reforçando tais aspectos, Carlos3 apud Albuquerque (2009, p. 28) afirma que: “Na realidade, o processo de reprodução do espaço, no mundo moderno, se submete cada vez mais ao jogo do mercado imobiliário - na medida em que há novas estratégias do Estado - que se tende a citar um espaço de dominação e controle. Com isso transforma-se substancialmente o uso do espaço e, consequentemente, o acesso da sociedade a ele” (CARLOS, 2002, 175). Quando a terra passa a ter valor de mercado, vem ser fundamental no processo de produção do espaço, a circulação do capital, passando esse espaço a ser consumido como mercadoria, o que vai interferir na mais complexa forma de utilização pela sociedade, delimitando e definindo as formas de utilização, determinando características e ações, que vão acarretar numa produção desigual de espaço. Correia (1989) vem trazer à baila a diversidade da sociedade no que se refere à reorganização do espaço urbano, sendo todas as características apresentadas,partes do complexo e especulativo mercado imobiliário, e ocupação e uso do solo urbano: “A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deteriorização de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infraestrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade” (CORREIA, 1989, p. 11). Com o crescimento populacional, a expansão urbana, os espaços vão se tornando cada vez mais escassos, o que vai ocasionar na supervalorização dos mesmos, e vem a se apresentar com moeda de troca e de circulação de capital. Dessa forma, o processo de urbanização e o espaço tido como mercadoria passaram a ter até um crescimento vertiginoso; o espaço vem adquirir valor comercial, que vai variar de acordo com diversos requisitos, podendo ser um espaço valorizado ou até mesmo desvalorizado, isso irá depender de suas características. ���������������������������������������� ������������������� ��CARLOS. Ana Fani Alessandri (org). Novos caminhos da geografia: São Paulo: Edusp, 2002.� 19 � 2.3. Os marcos regulatórios em defesa da proteção do ecossistema manguezal: Breve análise das legislações nacionais e municipais É do conhecimento de todos que o ecossistema manguezal está bem representado ao longo do litoral brasileiro, e, sendo considerado no país como uma área de preservação permanente, tendo vários dispositivos normativos que sancionam a proteção desse ecossistema, como os dispositivos constitucionais (Constituições na esfera Federal e Estadual), bem como as infrainstitucionais (leis decretos, resoluções, convenções). A observação desses dispositivos legais traz em voga a necessidade de imposição de diversas ordenações do uso e ações em áreas do ecossistema manguezal. Nesse sentido, serão brevemente apresentadas as leis: Constituições Federais Estaduais e do município de Recife (campo de estudo da pesquisa) que trata direta e/ou indiretamente da defesa e/ou supressão do ecossistema manguezal. 20 � Tabela 1: Análise das Leis Federais LEI/ RESOLUÇÃO/ MEDIDA PROVISÓRIA DESCRIÇÃO ANÁLISE Lei Nº 4.771/65 (Revogada pela Lei nº 12.651, de 25/5/2012) Institui o Código Florestal A instituição do Código em 1965 não traz diretamente proteção ao ecossistema manguezal, mas traz aspectos importantes quanto ao uso e ocupação do solo em áreas lindeiras as reservas florestais estipulando dimensões. Contudo, desde a sua homologação vem sofrendo alterações em seus parágrafos com inclusões de questões pertinentes e de caráter atual, através das medidas provisórias e leis concernentes à alteração da alteração do Código de 1965. CONAMA Resolução Nº 004/1985 Dispõe da designação das reservas ecológicas. Mecanismo importante que menciona manguezal como formação florísticas, já denotando o ecossistema como área de proteção permanente, sendo assim uma reserva ambiental (Artigo 3º). 'Constituição Federal de 1988 Artigo 225 “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Defesa universalizada do meio ambiente, não faz referência direta ao ecossistema manguezal em seu parágrafo e alíneas, entretanto no que se refere à incumbência do poder público traz alguns aspectos importantes, como estudo prévio dos impactos ambientais para instalação de obras com potencialidade de degradação ambiental. Lei Federal Nº 7.661, de 16/05/88 Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC Ressalta o manguezal dentre outras áreas/ ecossistemas prioritárias para o zoneamento costeiro visando à proteção desses ambientes. Lei Federal Nº 7.803/89 Altera a redação da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e revoga as Leis nºs 6.535, de 15 de junho de 1978, e 7.511, de 7 de julho de 1986. Alteração importante no Código Florestal, pois devido a essa mudança o ecossistema manguezal torna-se área de preservação permanente, de acordo com o Artigo 2º, parágrafo 5º, alínea f. Lei Federal Nº 9.605/1998 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Mecanismo importante para aplicação de multas e compensações a danos ambientais, não faz menção direta ao manguezal, entretanto faz um adendo relevante no que se refere à conservação das áreas de conservação permanente e as sansões punitivas às infrações decorrentes das danificações desses ambientes. Artigo 38. Lei No 9.795/1999. Estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental Mecanismo importante e que já se fazia necessidade no momento em que foi promulgado, não traz diretamente referência ao ecossistema manguezal, mas sim trata do conscientização, educação e defesa dos recursos naturais do país. Medida provisória Nº 2.166- 67/2001 Acréscimo de parágrafos no artigo 4º, que trata de áreas de preservação permanente. Limita a supressão de mangue, dunas e vegetação nativa protetora de nascentes apenas para fins de utilidade pública. Nesse contexto várias áreas de manguezais entre outros ecossistemas vêm sendo degradadas em níveis elevados. Vem sendo bastante permissiva, sobretudo em obras governamentais de grandes impactos, sobretudo ambientais. Artigo 4º, parágrafo 5º. Lei Federal Nº 12.651/2012 Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166- 67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. O novo Código Florestal faz alusões pertinentes à proteção do ecossistema manguezal, distintamente do primeiro Código Floresta de 1965, diante dos novos paradigmas globais dos problemas ambientais. Nesse contexto traz em seu Artigo 3º, parágrafo XIII, Artigo 4º, parágrafo VII, Artigo 8º, parágrafo 2º, menções que ressaltam descrição, preservação permanente, processos de intervenções e supressões, este último levando em consideração o processo de urbanização, organização fundiária e de interesse social, em caso de funções ecológicas comprometidas. Referências importantes que se tornam mecanismos dos Órgãos de Proteção ao Meio Ambiente, sociedade civil e Organizações Não Governamentais. Tabela 2: Análise das Leis Estaduais LEI/ RESOLUÇÃO/ MEDIDA PROVISÓRIA DESCRIÇÃO ANÁLISE Lei Estadual Nº 11.206/1995 Dispõe sobre a Política Florestal do Estado de Pernambuco e dá outras providências. Faz alusão à defesa de áreas de preservação permanente, nesse contexto está inserido indiretamente o ecossistema manguezal. Autoriza supressão de mata para fins de utilidade pública, precedida de homologação de lei, elaborações de EIA/ RIMA, e licenciamento dos órgãos competentes. Artigo 8º, Inciso 1, parágrafo 1. Lei Estadual Nº 9.931/1986 Define como área de proteção ambiental as reservas biológicas constituídas pelas áreas estuarinas do Estado de Pernambuco. Faz alusão à proteção de áreas estuarinas, e veda qualquer tipo de desmatamento de vegetação, despejo de lixo e efluentes nos recursos hídricos, Artigo 4º, parágrafos 2º, 3º e 4º. Lei Estadual Nº 14.258/2010 Institui a Política Estadual de Gerenciamento Costeiro, e dá outras providências. Na traz diretamente enfoque ao ecossistema manguezal, entretanto como se trata de um gerenciamento costeiro está inserido no contexto geral. 21 � Ainda no que tange às legislações Estaduais, as supressões de áreasde preservação permanente estão destacadas na Política Ambiental do Estado de Pernambuco, Artigo 8º, que versa: “É proibida a supressão parcial ou total da vegetação de preservação permanente, salvo quando necessária à execução de obras, planos ou projetos de utilidade pública ou interesse social e não exista no Estado nenhuma outra alternativa de área de uso para o intento (Art. 8º da Política Florestal do Estado de Pernambuco)”. No parágrafo 1º desse artigo traz que tal supressão deve ser precedida de Lei Específica, elaboração do EIA/RIMA e o licenciamento do órgão competente. Já no 2º parágrafo desse mesmo artigo traz que a supressão da vegetação deve ser compensada com a compensação e preservação de ecossistema semelhante, que corresponda, no mínimo, a área degradada. Nesse sentido, entre os anos de 1997 a 2010 o Estado de Pernambuco teve 12 leis autorizativas, onde 10 já foram executadas e dois aguardam a autorização de supressão (TAVARES, 2013). Para demonstrar tal aspecto, seguirá abaixo relação das leis autorizativas bem como descrição de tais permissões: 22 � Tabela 3: Relação das leis autorizativas para supressão de manguezal no Estado de Pernambuco, entre os anos 1997 e 2010.4 LEI AUTORIZATIVA EMPREENDIMENTO CORRESPONDENTE ÁREA DE ATUAÇÃO Lei Estadual Nº 11.517/1997 - Implantação de Projeto de Complementação do Sistema de Trens Metropolitanos do Recife, nos trechos TIP/Timbi e Recife/Cajueiro Seco; - Continuação da implantação da Zona Industrial Portuária de Suape – SUAPE; - Implantação do Complexo das obras decorrentes da ampliação da pista do Aeroporto dos Guararapes. 0,90ha; -28,1 ha de mangue em regeneração e 26,3 ha de mangue conservado; - 0,2 ha. Lei Estadual Nº 11.907 /2000 Implantação de traçado da rodovia denominada Vila litorânea dos Carneiros - SETUR. 0,5 ha. Lei Estadual Nº 12.177/2002 Implantação de traçado da rodovia denominada Vicinal, entr. Rodovia PE-60 (Camela)/Ponta de Serrambi - DER. 0,6 ha. Lei Estadual Nº 12.453 /2003 Implantação e pavimentação da duplicação da rodovia PE-22. 1,066 ha. Lei Estadual Nº 12.508/2003 Urbanização industrial da Zona Industrial – 03 do Complexo Industrial Portuário – SUAPE. 21,23 ha. Lei Estadual N° 13.285/2007 Implantação da Refinaria Nordeste Abreu e Lima – RNEST - SUAPE. 1,76 ha. Lei Estadual Nº 13.557/2008 Instalação de moinho de trigo e uma unidade industrial alimentícia de massa, além da dutovia da Refinaria do Nordeste Abreu e Lima – RNEST, na Zona Industrial Portuária – SUAPE. 47,3611 ha. Lei Estadual Nº 13.615/2008 Implantação e pavimentação da rodovia PE- 051 e de pavimentação da ciclovia na rodovia PE-09 – SETUR. 2,22 ha. Lei Estadual N° 13.637/2008 Ampliação de área de implantação do Estaleiro Atlântico Sul, na Zona Industrial Portuária – SUAPE. 26,8036 ha. Lei Estadual N° 13.921/2009 Implantação e pavimentação da rodovia vicinal, trecho: entroncamento da BR 101/Rua Padre Nestor de Alencar – DER. 1,01 ha. Lei Estadual N° 14.046/2010 Ampliação do Complexo Industrial Portuário – SUAPE. 508, 3614 ha. Lei Estadual N° 14.129/2010 Implantação das 2ª e 3ª etapas do projeto denominado Via Mangue - Empresa de Urbanização do Recife. 8,91ha. Total: 675,3221 ha. Nesse sentido, 675,3221 ha. de áreas de manguezal, isto é, seis milhões, setecentos e cinquenta e três mil, duzentos e vinte e um metros quadrados serão ���������������������������������������� ������������������� 4 Tabela adaptada: TAVARES. Patrícia Tavares; JÚNIOR, Clemente Coelho. Uma Abordagem sobre a perda de áreas de manguezal pelas leis autorizativas no Estado de Pernambuco. Congresso de Gestão Ambiental, IV, Salvador/BA, 2013. Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais – IBEAS. 23 � eliminadas. Demonstrando-se, assim, problemas graves no que se refere à permissividade da legislação para tais processos. Tabela 4: Análise das Leis Municipais LEI/ RESOLUÇÃO/ MEDIDA PROVISÓRIA DESCRIÇÃO ANÁLISE Lei Municipal Nº 16.243/96 Código do Meio Ambiente e do equilíbrio ecológico da cidade do Recife. Traz referência direta a proteção do ecossistema manguezal, Artigo 75, inciso I, parágrafo III, levando em consideração o Código Florestal; no Artigo 76, trata da competência da prefeitura quanto à proteção desse ecossistema, bem como Artigo 86. Lei Municipal N.º 15.946/94 Institui o Parque do Manguezais estabelece o programa de dinamização urbana de sua área de influência, cria incentivos e formas para sua implementação e dá outras providências. Primeiro marco regulatório da cidade do Recife em atenção à área do Parque dos Manguezais (Pina), que visa à proteção do ecossistema, tanto por especulações imobiliárias, como para aterros e ocupações irregulares. Lei Municipal Nº 16.176/96 Estabelece o uso e a ocupação do solo da cidade do Recife Mecanismo importante para defesa de ecossistemas e áreas de preservação permanente, nos Artigos 19, 20 (parágrafo 2º) e 22, classifica os manguezais como Zonas de Proteções Ambientais – ZEPAs. Decreto Municipal nº. 25.565/10 Regulamenta a Unidade Protegida Parque dos Manguezais Define o Parque dos Manguezais como uma Zona Especial de Proteção Ambiental – ZEPA, que veda intervenções em maior grau na região em que está inserido o Parque, seguindo o Código Florestal para supressão de manguezal para fins governamentais e da coletividade (construção da via mangue) 2.4. O papel do Estado na organização do espaço urbano e defesa das áreas de proteção ambiental O Estado tem um papel muito importante na defesa das áreas de proteção ambiental, que é o de promover uma política pública alinhada à política ambiental; contudo, isso nem sempre se configura nas gestões públicas do país, caracterizada muitas vezes por ações voltadas ao meio ambiente de modo pontual, algo não permissível para os dias atuais. 24 � Dessa forma, Sobrinho e Andrade (2009, p.2) corroboram tais aspectos, explicitando que: “[...] Os órgãos ambientais restringem-se a atividades de gestão das áreas verdes nos espaços urbanos e à fiscalização de fontes fixas de poluição. Ainda assim, essas atividades são desenvolvidas de forma pontual, em desconexão com seu contexto histórico, econômico, social, cultural”. Sendo assim, são desprezados tais aspectos, que na configuração espacial urbana estão plenamente inseridos no contexto ambiental, inclusive se correlacionam com questões como saneamento, mobilidade, organização e regulação do uso e ocupação do solo, são geralmente pautadas sem uma correlação com a questão ambiental, havendo assim uma contradição do poder público na integração do planejamento e com a execução unilateral dessas ações. O papel do Estado vai além da integração; a preservação, conservação e proteção do meio ambiente vão depender, sobretudo, de marcos regulatórios que irão dar subsídios à defesa dos ambientes naturais, e grosso modo há leis, uma gama de leis, decretos e medidas provisórias que visam à proteção de áreas de preservação permanente, bem como áreas naturais degradadas com passivos ambientais, porém possíveis a ou passíveis de medidas de mitigação. É visto também que são contraditórios alguns aspectos nos marcos legais, como por exemplo, o que se vislumbra no Código Florestal (Lei Federal Nº 12.651/2012), que remete às mesmas medidas nas leis Estaduais e Municipais, como por exemplo, a supressão de áreas de preservação permanente para fins de utilidade pública; e dessa maneira, tanto Estados quanto Municípios, diante da expansão da malha urbana, diante de tal medida, tem permissividade para desmatar, deslocar fluxosfluviais, entre outros impactos ambientais, necessários para uma determinada obra estatal, como por exemplo, a construção de uma rodovia, ponte, entre outros. Nesse contexto, muitas leis são criadas sob a égide das adequações, e em grande parte não configuram como normas suficientemente necessárias para materializar de fato uma proteção efetiva dos recursos naturais. Levando em consideração o objeto de estudo dessa pesquisa, Sobrinho e Andrade (2009, p.2) afirmam que: “Verifica-se, então, a existência de leis de proteção a esse ecossistema, oriundos dos órgãos ambientais, que não se configuram como suficientes para impedir a degradação do manguezal.” 25 � Pode-se dizer também que o Estado, apesar dos aspectos contraditórios, diante das demandas ambientais nos tempos atuais, tem um papel bastante importante no que se refere à gestão ambiental, Milaré (2004, p.91) ressalta que: “O Poder Público passa a figurar não como proprietário dos bens ambientais, mas como gestor ou gerente, que administra bens que não são dele, e por isso, deve explicar convincentemente sua gestão. Essa concepção jurídica vai conduzi-lo a ter que prestar contas, sobre a utilização dos bens de uso comum do povo”. Por todos os aspectos mencionados, fica evidenciada a incumbência do Poder Público quanto ao seu papel perante os recursos naturais dispostos no espaço urbano; é fundamental a preservação, conservação e proteção do meio natural, tendo como premissa a associação direta das políticas públicas associadas às políticas ambientais. Sabe-se também o quão desafiador é tratar das contradições, tanto no que se refere às leis como no que se refere a uma efetivação de uma política ambiental mais objetiva e permanente. Contudo cada vez mais o Estado passa a ser coadjuvante no tocante ao planejamento urbano e, sobretudo, ambiental. 2.5. Aspectos gerais do EIA/RIMA e da Via Mangue Será realizada a seguir uma breve análise dos pontos mais relevantes do EIA/ RIMA do Projeto de implantação da via expressa “Via Mangue”, que tem o objetivo de melhorar o tráfego nos bairros de Pina e Boa Viagem, como também melhorar o potencial turístico desses bairros, trazer mais investimentos privados para os mesmos, e, além disso, evitar as especulações sobre a área onde está localizado o Parque dos Manguezais que é uma Zona de Proteção ambiental desde o ano de 2010, através do Decreto Municipal Nº 25.565/10. O bairro do Pina é tido como estratégico para a formação urbana e histórica da cidade do Recife, sobretudo, tendo em vista sua lócus geográfico, que interliga a zona sul a outra áreas de cidade, e além disso há um considerável ecossistema de mangue que está acerca do adensamento urbano de Boa Viagem. O bairro do Pina vem sendo motivo para grandes debates entre os atores sociais da região, trazendo como pauta as políticas públicas que devem ser implementadas na localidade (SERAFIM, 2001) Sendo assim, percebe-se a importância da área em questão, e nesse contexto será realizado, além da análise do documento norteador da implantação da via 26 � expressa, um breve destaque a projetos anteriores que especulavam a utilidade da região em que está inserido o Parque dos Manguezais. 2.5.1. Histórico: Alternativas de melhoramento da mobilidade na zona sul do Recife Diante dos aspectos já mencionados, o bairro do Pina é tido como uma região estratégica para a cidade do Recife, por estar acerca do bairro de Boa Viagem, e sobretudo, por dispor de uma área de ecossistema pouco alterado pela ação antrópica, o que faz gerar especulações entre o poder público e privado, sendo alvo de projetos e diferentes dinâmicas de planejamento e ocupação desses espaços. Nesse contexto, antes da implementação do Projeto da “Via Mangue”, outros projetos tiveram notoriedade, contudo não chegaram a ser de fato executados. São eles: A Ecovia, a Via Verde, o Metrô S.M.I.L.E e a linha verde (URB-PCR. 2009, p.19). O Ecovia previa a ocupação da parte oeste dos estuários do rio Pina e Jordão; seria uma paralela da Avenida Mascarenhas de Moraes, margeando o ecossistema. Já a via Verde tratava-se de um projeto que viria a implantar uma via expressa que cortaria o Parque dos Manguezais. “Embora fosse a alternativa que permitia o menor tempo de percurso, possuía o inconveniente de cortar o mangue ao meio, com todas as implicações ambientais e paisagísticas que daí decorreriam. Além disso, não contemplava derivações estratégicas de entrada e saída tão necessárias para se atingirem os diversos pontos do Pina e de Boa Viagem” (URB- PCR, 2009, p.19). No que se refere ao Projeto de Metrô S.M.I.L.E (Sistema de Metrô Integrado Leve Elevado), atravessaria a bacia do Pina ao centro, e tinha como objetivo interligar os Shoppings Tacaruna ao Recife, bem como ao Guararapes; porém não foi visto como uma alternativa para a redução do tráfego na zona sul, bem como os custos elevados para os cofres públicos. Por último, o Projeto Linha Verde, foi tido como uma nova alternativa para a mobilidade na região, com a proposta de redução dos transtornos provocados pelo congestionamento das principais vias que ligam a zona sul a outras regiões do Recife. A construção da via é bastante próxima a última proposta implantada, construção de 27 � uma via margeando o mangue, contudo as contradições estavam nos impactos socioambientais que a mesma causariam à região, bem como dúvidas sobre a sua real eficácia; outro aspecto negativo seria a cobrança de pedágios na via, que seria construída com capital privado, em que o pagamento dos pedágios custeariam o financiamento de tal construção. 2.5.2. Via Mangue: O Estudo de Impactos Ambientais (EIA) O Projeto via Mangue foi proposto pela Empresa de Urbanização do Recife (URB), tendo a coordenação e o desenvolvimento do mesmo pela empresa Consultoria e Planejamento (CONSUPLAN); o projeto tem como objetivo a construção de uma via expressa exclusiva para carros, com cerca de 5,1 km de extensão, e além disso, visa à promoção e desenvolvimento de um polo turístico, ambiental, econômico e cultural, sendo construídas áreas de lazer, de cunho turístico, como também ambiental, assim como a construção de um jardim botânico e áreas destinadas a trilhas e caminhadas. As áreas de intervenção No Tocante às áreas de intervenções, foram subdivididas no projeto sob dois aspectos: as áreas de influência direta e as áreas de influências indiretas. Nas áreas de influência direta o relatório apresenta os meios a ser interferidos em questão (físico e biológico), citando os impactos da obra nas bacias hidrográficas que estão inseridos na área do Parque dos Manguezais tais como: Estuário do Rio Jordão, do Rio Pina e Canal de Setúbal. São consideradas as áreas onde se sentirão mais impactos na implantação e operacionalização da obra, uma vez que as modificações poderão acarretar na supressão de vegetação, bem como mudanças na dinâmica do estuário, o que afetaria parcialmente a bacia hidrográfica. Já os impactos de ordem socioeconômica: “Nestas áreas o empreendimento refletirá no uso do solo e nos componentes de ordem econômica e cultural, impactando a ocupação territorial, a população em si e sua renda, além do mercado imobiliário, o turismo, o comércio; repercutindo no município, em termos de receita pública, infraestrutura e serviços” (URB-PCR, 2009, p.23). 28 � No tocante às áreas de influência indireta, há uma projeção de impactos físicos e biológicos a parte da jusante do rio Tejipió, visto como remotas as possibilidades de impactos. No meio socioeconômico, atinge os bairros do Paissandu, Coque, Joana Bezerra, São José, Cabanga, Pina, Boa Viagem e Imbiribeira. Fluxo de Veículos Aborda que o sistema de circulação nos bairrosdo Pina e Boa Vigem são ineficientes, isso em todos os aspectos: “É realizada através de estruturas suportadas pelo sistema viário da região que não têm condições para atender aos requisitos mínimos de trafegabilidade para os veículos e pedestres que dele se utilizam. As vias componentes desse sistema viário são inadequadas para dar passagem ao fluxo de veículos que demandam a região” (URB-PCR, 2009, p.63). Segundo a CONSUPLAM, é argumentado que as condições de deslocamento de veículos na zona sul de Recife, estão cada vez mais críticas; mesmo após alterações no trânsito promovidas pela CTTU, há um alto número de veículos que transitam na região diariamente, o transporte individual se sobressai com relação ao transporte coletivo de forma exacerbada, e a capacidade do sistema viário da região de absorver tal carga é ineficiente, promovendo assim, os impactos de congestionamentos diários; ainda são remetidos problemas no que se refere às condições físicas do sistema viário, pavimentação, sinalização, calçadas, entre outros, que o estudo aponta como: “[...] inadequadas para suportar uma quantidade de veículos com essa composição, tornando a circulação de veículos e pedestres bastante deficiente. O atrito verificado pelo uso inadequado das instalações existentes repercute desfavoravelmente no desempenho do sistema” (URB- PCR, 2009, p.63). Análise econômica ambiental Nesse contexto o EIA/RIMA aponta que a Via Mangue poderá promover uma melhoria no que se refere ao meio ambiente, bem como uma maior dinâmica econômica à cidade, destacando as possibilidades de redução da poluição atmosférica, diminuição do número de acidentes, e ainda uma forma de proteção do Parque dos Manguezais para futuros aterros e pressões acerca da região. Coloca também o fator de redução de tempo para deslocamento, bem como promoção de benefícios econômicos para a cidade. 29 � Traz neste bojo a necessidade e a obrigatoriedade dos estudos e relatórios prévios dos impactos ambientais que farão parte da implantação do projeto; contudo, devendo-se conhecê-los, mas também potencializar as possibilidades positivas, como forma de se detectar os riscos, recomendar as medidas mitigadoras, e reparando danos. O estudo adverte para que no Projeto Via Mangue se tenha precaução em alguns aspectos: “No Projeto da Via Mangue, deve-se tomar o cuidado de incorporar todos os aspectos e custos que afetam o meio ambiente e a população da cidade. É importante que seja do interesse da população, não prejudique qualquer grupo social em particular e nem pressione, exagerada e negativamente, a área de manguezais, rios e lagoas que compõem o sistema estuarino das bacias do Pina e do Jordão” (URB-PCR, 2009, p.63). Algumas recomendações Sob a égide do meio ambiente e da economia, a Via Mangue é vista como uma boa alternativa para a melhoria do trânsito nos bairros do Pina e Boa Viagem. No tocante à supressão do manguezal, é visto que o projeto deverá fazer a reconversão de determinadas áreas para mitigar tais impactos. Além disso, é colocado como argumento que a Via poderá propiciar proteção do ecossistema tendo em vista que se torna uma barreira de contenção contra especulações de ocupações. 2.5.3. Via Mangue: Interpretação do Estudo de Impacto Ambiental • É notória a necessidade que urge para melhoria do fluxo de veículos na cidade do Recife como um todo, e a zona sul da cidade é um dos pontos mais conturbados pelo trânsito diante da demanda de automóveis que se deslocam diariamente na região, tendo em vista ser uma das áreas de maiores concentrações de renda no município. Contudo, os aspectos socioambientais deveriam ser levados em consideração de forma mais ampla, diante da grande magnitude do projeto. Além disso, a cidade deve primar pela melhoria substancial do transporte público, acessibilidade através de ciclofaixas, por exemplo, entre outros mecanismos que venha a facilitar o deslocamento da 30 � população. A via contraditoriamente não contempla faixas especiais para transportes coletivos. • De acordo com o projeto 8,52 há de vegetação de mangue estão sendo suprimidas/ aterradas para a implantação da via, que gerará impactos consideráveis no que concerne, por exemplo, à danificação da originalidade da área, interferindo em todo ecossistema. • O EIA/RIMA traz na via a perspectiva de propiciar uma linha de contenção quanto a futuras agressões ao mangue, De acordo com os aspectos mencionados acima, o que garante que a implantação da Via Mangue venha significar proteção às futuras supressões do mangue? Está sendo visualizada, atualmente, na região, uma gama de empreendimentos que estão sendo especulados, alguns empresariais, outros residenciais, tendo em vista que a via está favorecendo um fluxo de interligação entre os dois maiores shoppings da região Metropolitana (Recife e Rio Mar). • Além disso, não se pode ter certeza plena de que uma via especulada há quase 20 anos (com mudanças de projetos, trajetos e objetivos), vai conseguir suprir a carga de veículos que a cidade do Recife hoje possui, tendo em vista que as demandas e os estudos realizados nessa década, por exemplo, são diferentes das demandas e da realidade que se tem atualmente. Segundo a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano - CTTU, a cidade do Recife hoje tem uma frota com cerca de 400 mil veículos registrados na Prefeitura; se contar com o fluxo de veículos da Região Metropolitana do Recife, que circulam diariamente na cidade chegam aos 620 mil veículos diários, devido à polaridade de serviços da metrópole. Ainda, segundo pesquisa da CTTU, na última década a cidade teve um aumento de 44% de sua frota, uma média de três mil novos veículos ao mês, números estes, exacerbadamente alarmantes. • A especulação imobiliária não foi levada em consideração no projeto; mesmo com a grande magnitude da implantação da Via Mangue, foi desprezado o contexto da valorização da região, e a especulação imobiliária, principalmente nas áreas lindeiras ao Parque, o que aumentará a pressão sobre os recursos naturais remanescentes, e até mesmo, de acordo com o crescimento natural desordenado, a ocupação de áreas do próprio Parque, tornando-se cada vez mais difícil a proteção e preservação do manguezal. 31 � 3. METODOLOGIA 3.1. A natureza do estudo A metodologia desse trabalho está pautada nos parâmetros de uma pesquisa descritivo-explicativa, utilizando procedimento de análise iconografia do objeto de estudo em momentos diferentes, através de orfofotos digitais, para poder ter-se uma noção mais ampla da problemática em questão. O conceito de iconografia é opositivo ao de iconologia, trazendo para uma análise etimológica, nesse sentido cabe afirmar que a distinção dos conceitos se deve ao fato de a iconologia ser uma análise descritiva e classificatória de imagens, trabalhando com temas específicos, como por exemplo, a etnografia, que é a classificação das raças humanas, caracterizando assim um estudo limitado, já a iconografia estuda aspectos vinculados análise temporal, da gênese, bem como da autenticidade, trazendo subsídios para as mais diversas formas de interpretações, contudo essa análise interpretativa depende de um estudo diagnóstico dos aspectos em questão (PANOFSKY, 1991). A ortofoto digital é conceituada como uma imagem digital que é sobrepujada à projeção cartográfica, e pode ser armazenada de forma eletrônica ou impressa em papel. São, contudo, representações que podem ser tratadas com diversas ferramentas disponíveis, sobretudo no tocante ao processo digital de imagens (PDI) (ANDRADE, J. 1998). Dessa forma, o método da iconografia no contexto dessa pesquisa visa buscar reconhecer através de imagens as dinâmicas da região onde é localizada a área do Parquedos Manguezais, o fluxo de uso e ocupação do solo de acordo com os anos e as perspectivas futuras após a implantação da Via Mangue. Com relação ao método dialético de pesquisa, Diniz (2008, p.1) ressalta que ele possibilita: “[...] caminho na construção do saber científico no campo das ciências humanas. Ele torna-se a trajetória percorrida pelo sujeito (pesquisador) na busca de conhecer e perceber-se na construção desse conhecimento do objeto (fenômeno/fato investigado) que se constrói e (des) constrói nas interações entre o sujeito e o objeto.” Nesse contexto, o método dialético na pesquisa realizada tem como proposição fazer uma interpretação com dinamicidade e que consiga totalizar a realidade, 32 � ressaltando que os fundamentos dessa pesquisa não podem desconsiderar os contextos sociais, políticos, econômicos, e, sobretudo, ambiental, tornando dessa forma uma pesquisa de âmbito qualitativo. 3.2. A construção do corpus Serão utilizadas imagens aerofotométricas, ou seja, fotografias aéreas, do objeto de estudo, ortofotos produzidas nos anos de 1974, 1981, 1997 e 2007, todas as imagens são partilhadas devidas ao tamanho das escalas utilizadas, e precisam ser editadas para formação de um mosaico, imagem única. Dessa forma, serão realizados alguns procedimentos para obtenção da imagem única. Sendo assim, as etapas de iconografia seguiram tais processos: Fonte: Marxwell Albuquerque, 2014. 1. Junção das imagens partilhadas: Software Corel Drawn X6; 2. Edição do mosaico: Software Adobe Photoshop; 3. Projeção georeferenciamento e mapeamento: O software Arcgis 9.2. Também foram coletadas imagens a partir de visitas in loco (anos de 2009 e 2014), bem como em sites especializados. 33 � 3.3. Caracterização do lócus5 O Parque dos Manguezais está localizado na porção sul da cidade do Recife, entre os bairros de Boa Viagem e do Pina, numa área conhecida como antiga “Estação Rádio Pina” da Marinha do Brasil. Possui uma área total de 307,83 ha. E tem seu acesso principal feito pela Avenida Domingos Ferreira. � Figura 1: Localização do Parque dos Manguezais. Fonte: Google Earth 2014. A Figura 01 apresentada mostra a situação geografia desta área de mangue. Como é possível observar, o Parque está espremido numa área bastante edificada, próxima à beira mar (praia), localização bem valorizada da cidade, situação que faz aumentar a pressão sobre o parque, principalmente pelo setor imobiliário. A Figura 02 a seguir mostra a situação dessa região de manguezais no que tange a ocupações que margeiam essa área, bem como em que localização geográfica está situada na cidade do Recife. ���������������������������������������� ������������������� ������ � �� � ����� �������������� ������� �� �� ��������� ���������� �� �� ���� �� ���������� ������ ��� �������!������"#�����$��%��$&'�#�"(()*+� 34 � Figura 2: Situação da ZEPA 2 – Parque dos Manguezais. Fonte: Prefeitura do Recife (2004) 35 � O parque possui aspecto essencialmente aquático, com manguezais e ilhas envolvidas por braços dos rios Jordão e Pina, mas com influência de outros dois rios, Tejipió e Capibaribe. Segundo a Prefeitura do Recife (RECIFE, 2004) “o espaço urbano do Parque dos Manguezais encontra-se ainda bem conservado e pode ser considerado um verdadeiro santuário ecológico tão especialmente característico do panorama da c idade do Recife”. A região do entorno onde se localiza o Parque dos Manguezais é composta por dez comunidades denominadas como: Bacardi, Beira Rio, Bode, Pantanal, Ilha do Destino, Paraíso, Deus nos Acuda, Xuxa-Pelé, Beira da Maré e Valdir Pessoa. Segundo a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), a estimativa é de que 10 mil pessoas vivam no entorno do Parque, região esta carente de políticas públicas essenciais, tais como saúde, educação e saneamento básico, desprovidas economicamente, bem como habitacionalmente, que como consequência desse desprovimento, ocupam por falta de opção e necessidade as áreas alagadas da região (MARTINS, 2007). 36 � Figura 3: Divisão das comunidades que circundam o Parque dos Manguezais. Fonte: Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano – PCR (2007). Em contraponto as ocupações das áreas lindeiras do Parque pela população de menor poder aquisitivo, a localização geográfica da região que está entre o bairro de Boa Viagem e o Centro da Cidade, com o diferencial do ecossistema mangue em um bom estágio de conservação, tornou-se um dos motivos de atenção para o destino espacial da área (SERAFIM, 2001). Isso se dá tanto por parte do poder público, como pelo setor privado, exercendo desse modo pressão, no tocante às especulações imobiliárias e projetos de mobilidade. � � ����� ������ � �� ��� �� �� ���������� ���� ��������� ����� �������� ��������� �� ��������� ��� ��������������� 37 � � 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Análise temporal da área do Parque dos Manguezais Foram coletadas ortofotos dos anos de 1974, 1981, 1997 e 2007 (representadas nas figuras 03, 04, 05 e 06 respectivamente), onde serão destacadas e analisadas as ocupações dos solos da região do Parque de acordo com esses anos. Além disso, serão referenciados autores que trabalharam correlatamente esta área. Será utilizada como parâmetro de análise comparativa a ortofoto do ano de 1974. 38 � Figura 4: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (1974). Fonte: CONDEPE/FIDEM 39 � Figura 5: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (1981). Fonte: CONDEPE/FIDEM. 40 � Fazendo uma comparação da figura 04 com a figura 05, é possível observar as primeiras diferenciações entre as ortofotos de 1974 e 1981, no tocante às ocupações ao norte da região, que se se refere à ampliação dos viveiros de camarões. Já na porção oeste há ocupações residenciais que margeiam a Avenida Mascarenhas de Morais, na parte sudoeste o início das construções de edifícios, bem como construções irregulares na margem do Parque. Nesse período também se intensifica o aumento da pressão imobiliária na porção leste, proximidades da Avenida Domingos Ferreiras, e entrada da Estação de Rádio da Marinha. Especialmente ocupações direcionadas ao comércio (supermercados, lojas, etc). Figura 6: Ramificação do comércio e verticalização na margem leste do Parque dos Manguezais (imediações da Av. Domingos Ferreira). Fonte: Lady Nascimento (2010). 41 � Figura 7: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (1997). Fonte: CONDEPE/FIDEM ����� ��������� �� ������� ����� ������ ������������������� 42 � Em 1995 a Estação de Rádio da Marinha foi desativada, assim como o aeroclube, sendo apenas a área resguardada como propriedade da Marinha; contudo, o aumento da pressão sob a região tornou-se eminente, e na ortofoto de 1997 (figura 7), pode-se perceber o aumento da ocupação territorial na porção sudoeste da região (imediações da Antônio Falcão), outro aspecto importante é o grande fluxo de veículos nessa região devido à cadeia de grandes escolas inseridas na área, como os Colégios Santa Maria, Boa Viagem e Motivo, o fluxo nessa região é intenso, sobretudo nos horários escolares, outro aspecto que foi influenciado por essas unidades de ensino, foi a densificação e a verticalização do uso do solo, com a presença de muitas unidades de residências multifamiliares. Figura 8: Colégios Boa Viagem, Santa Maria e Motivo exercem pressão no fluxo de veículos na região. Fonte: Eduardo Lins Cardoso/ Bobby Fabisak/ Eudes Santana Na faixa do rio próximo a Mascarenhas de Morais (Imbiribeira) ocorre o estreitamento de um dos braços do rio Jordão (figura 7) oestedo Parque, e ocupações irregulares na região noroeste (comunidade Valdir Pessoa), na porção leste se consolidam as áreas de expansão imobiliária, com a verticalização de muitas áreas; outras ocupações irregulares tornam-se mais efusivas na região sudoeste, como é o caso das comunidades Deus nos Acuda, Pantanal e Paraíso. No extremo norte é possível observar o estreitamento do braço do rio Pina. 43 � � Figura 9: Imagens aéreas do Parque dos Manguezais (2007). Fonte: Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano – Prefeitura do Recife 44 � A figura 09 já caracteriza uma região bastante adensada; Boa Viagem já é um bairro praticamente verticalizado, e a pressão imobiliária torna-se mais efetiva na Porção Sul do Parque dos Manguezais, com a perspectiva da continuação do Projeto da Via Mangue, cujos dois viadutos cortarão o sul da região (imediações da Antônio Falcão e Av. General Mac Arthur), a região Sul é vista pelos empreendimentos imobiliários como área de forte potencial para adensamento populacional, bem como potencial para os empreendimentos empresariais: o Condomínio Residencial Le´Parc, por exemplo, é lançado às margens da parte sul do Parque dos Manguezais e outros empreendimentos vêm sendo lançados próximos à região, na premissa de visualizar no futuro próximo a malha viária expressa que ligará o Centro da cidade/Pina a essa região. Figura 10: Região Sul do Parque dos Manguezais, Condomínio L’Parc margeando a área que pertence a ZEPA – Parque dos Manguezais (2012). Fonte: Raul Lopes 45 � � Figura 11: Alça Sul da Via Mangue, ligando o centro ao Sul de Boa Viagem (à esquerda construção do L´Parc em estágio avançado, e à direito surgimento de novos empreendimentos imobiliários). Fonte: Diário de Pernambuco (2014). 4.2. Ocupações territoriais, especulação imobiliária e impactos ambientais na área do Parque dos Manguezais A área que concerne ao Parque dos Manguezais vem sofrendo especulações e ocupações de acordo com os anos; pode-se observar que, sobretudo, após desativação da Estação de Rádio da Marinha, esta região passa a ser alvo de pressões, tanto por parte governamental no que tange à implantação de Via Expressa, áreas de lazer e promoção do turismo, como por parte privada, referindo-se à construções de imóveis, verticalização, áreas comerciais, dentre outros. Com a confirmação da cidade do Recife como sub-sede da Copa do Mundo de 2014, o Projeto de Mobilidade na área (outubro de 2012), volta a ser tônica e prioridade dos gestores públicos, e a partir de 2011, o projeto da Via Mangue, tendo como um dos seus principais objetivos tornar eficiente a mobilidade na Zona Sul da cidade do Recife. 46 � Figura 12: Área de Intervenção da Via Mangue. Fonte: CONSUPLAM, 2011. Dessa forma, muitos empreendimentos imobiliários vieram a se estabelecer, como produto da confirmação de implantação da Via Expressa, dentre os de maiores repercussões está o Shopping Rio Mar, inaugurado no ano de 2012, está inserido na ramificação de início da Via Expressa, e que estabelecerá o acesso do Shopping a demais áreas da Zona Sul, e praticamente interligado ao outro grande mall da região, o Shopping Center Recife. Vale ressaltar que outro aspecto importante no projeto de implantação da Via Expressa foi à estruturação da via que liga o centro da cidade a Zona Sul. O Viaduto Capitão Temudo passou pelo processo de alargamento para atender as demandas viárias na região sul da cidade, uma das primeiras etapas concluídas do Projeto de Mobilidade Urbana da Zona Sul da cidade do Recife. 47 � Figura 13: Viaduto Capitão Temudo (principal ligação do Centro a Zona Sul). Fonte: Bernardo Soares/Jornal do Comércio (2011). Apesar de concluída, a obra até o momento não consegue suprir a demanda automotiva que se desloca para a região Sul, e constantemente é alvo de grandes congestionamentos, a expectativa para melhoramento do trânsito é a conclusão da nova ponte que está sendo ligada a Ponte Paulo Guerra, com a perspectiva de dar opção aos condutores seguirem pela Via Mangue. Figura 14: Ponte que ligará dará mobilidade à localidade sentido Via Mangue, entre outras localidades (construção e projeção de sua conclusão). Fonte: Bobby Fabisak/Jornal do Comércio 48 � Figura 15: Início da construção da nova ponte, bem como as perspectivas de mobilidade ao Shopping/ empreendimentos e a Via Mangue. Fonte: Prefeitura do Recife (2012). 49 � � Figura 16: Shopping Rio Mar, e ao sul aeroclube e Parque dos Manguezais (2012). Fonte: Roberto Almeida. Além do Shopping Rio Mar, vários edifícios empresariais estão sendo construídos na região, e como num processo comum da expansão imobiliária, abarcando também empreendimentos residenciais na região. No que se refere aos impactos da obra da Via Expressa, pode-se observar a agressividade da mesma à paisagem do ecossistema manguezal, é o primeiro aspecto a ser observado. As figuras 16 e 17 refletem bem esse aspecto, tendo em vista que apresentam duas realidades dessa região em anos distintos. � Figura 17: Região Leste do Parque dos Manguezais, a imagem à esquerda registrada em 2009, e a direita a via já em fase de implantação 2014. Fonte: Marxwell Albuquerque (2009 e 2014). 50 � Observa-se assim que a via cortará em grande parte regiões que margeiam os rios que cortam o Parque, na sua porção leste, o que poderá agravar ainda mais os impactos no que tange a alagamentos na região da Avenida Domingos Ferreira. Há no margeamento da Via Mangue a impermeabilização do solo e consequentemente restritos espaços para o escoamento das águas pluviais. Figura 18: Contraste na redução das matas ciliares da margem leste do Parque dos Manguezais (análise comparativa 2009 e 2014). Fonte: Marxwell Albuquerque (2009 e 2014).� No contexto de uso e ocupação do espaço urbano, a especulação imobiliária é um dos fatores principais para a degradação de ecossistemas, sobretudo nas grandes metrópoles, uma nova via em áreas de ecossistema preservado de modo geral agrega consigo empreendimentos de ordem residencial, empresarial e industrial, além da pressão ocasionada por ocupações irregulares. No caso da implantação da Via Mangue, veem-se as ocupações das áreas lindeiras do Parque do Manguezal associada às ocupações irregulares pré-existentes em detrimento da impermeabilização do solo do Parque, bem como os projetos imobiliários na região. � � � � 51 � Figura 19: Impermeabilização da margem leste do Parque dos Manguezais. Fonte: Diário Pernambuco (2013).� � � Figura 20: Alagamento no túnel do Pina (uma das consequências impermeabilização do solo). Fonte: Jornal do Comércio (2013) De acordo com a URB-PCR, 963 famílias foram cadastradas e realocadas nas 03 etapas da obra da Via Mangue; contudo, vários aspectos negativos vieram associados a esses reassentamentos, sobretudo, questões relacionadas à assistência dessas famílias após relocação. 52 � Nas figuras 20 e 21 são evidenciadas todos os aspectos mencionados e fotos áreas de anos distintos que a especulação imobiliária e a área do Parque dos Manguezais já estavam em degradação, muito antes da implantação da Via Expressa; essa construção só fez com que tal aspecto fosse materializado. Denota-se assim, o sentido da antecipação espacial, ou seja, o território fragmentado é tido como uma reserva territorial, na perspectiva da garantia do controle na organização espacial, que vai garantir possibilidades de expansão do espaço de atuação em questão, reproduzindo condições de reprodução, seja através dos empreendimentos empresariais ou residenciais, vai nesse ponto consolidar a gestão do
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