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PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Ao estudarmos os princípios do Direito Administrativo, terminamos por verificar que o regime jurídico administrativo é caracterizado por prerrogativas e sujeições impostas à Administração Pública. Lembrem-se! Em razão da supremacia do interesse público e da indisponibilidade do interesse público. As prerrogativas são privilégios concedidos à Administração para oferecer-lhe meios, a fim de assegurar o exercício de suas atividades, enquanto as sujeições representam limites opostos à atuação administrativa em benefício dos direitos dos cidadãos. Outrossim, dentre as prerrogativas da Administração Pública, encontram-se os poderes administrativos, tendo como características: Caráter instrumental » os poderes da administração pública são os instrumentos pelos quais a mesma busca atingir seu fim, qual seja, a proteção e promoção do interesse público; Poder-dever » estes poderes não possuem a conotação de poder-faculdade, e sim poder-dever, já que o administrador tem o dever de utilizá-los, não podendo dispor de seu exercício » princípio da indisponibilidade do interesse público. Como conseqüência desta característica, podemos afirmar que “os poderes da Administração são irrenunciáveis” Limites definidos em lei » como toda atividade administrativa, os poderes têm seu exercício condicionado ao disposto em lei. Pois bem, como a utilização do poder deve guardar conformidade com o que a lei dispuser, se o exercício destes ultrapassar os limites da mesma e afastar-se do interesse público, ocorrerá abuso de poder. O abuso de poder se divide em: Excesso de poder » acontece toda vez que o administrador atua além dos limites de sua competência estabelecida em lei; Ex: suponha que determinado agente não tenha competência para interditar estabelecimentos comercias, mas mesmo assim o faz. Desvio de poder » ocorre quando o agente atua nos limites da competência legalmente definida, mas visando finalidade diversa a do interesse público. Ex: determinada autoridade administrativa diante de suposta “ineficiência” de servidor “X” decide removê-lo ex ofício com o objetivo de puni-lo. Ocorre que, mesmo que fique comprovada a ineficiência e falta de produtividade do servidor, a remoção não é uma espécie de penalidade, mas, sim, um meio que dispõe a administração para suprir a carência de servidores em determinadas localidades. Desse modo, como a remoção foi utilizada com finalidade diversa (punição) daquela para qual foi criada (suprir carência de pessoal), deverá ser anulada pela própria Administração ou pelo Judiciário. Vejam que o excesso de poder é mais fácil de ser constatado, já que basta cotejar a autoridade que praticou a conduta e a lei que atribui à competência. Já o desvio de poder revela-se mais difícil de ser comprovado. Por isso, diz a literatura que o desvio de poder é passível de prova por meio de traços ou sintomas presentes no ato inquinado do vício. A lei 4717/65 permite o ajuizamento de ação popular para sanar o desvio de finalidade, conforme o art. 2º, parágrafo único, alínea “e”. Ressalte-se ainda que o abuso de poder, em qualquer de suas modalidades (excesso ou desvio) pode ser sanado por meio do mandado de segurança ou outros remédios constitucionais pertinentes. Abuso de poder por omissão A omissão dos administradores também pode caracterizar o abuso de poder. Entretanto, faz-se necessário distinguir a omissão genérica da omissão específica. No primeiro caso, não há como configurar abuso de poder, porque a omissão está relacionada ao momento mais oportuno para a implementação das políticas públicas, que dependem de recursos financeiros quase sempre escassos (doutrina moderna fala em “reserva do possível”) e não possuem prazo determinado. Por outro lado, na omissão específica, a Administração tem o dever de agir diante de um caso concreto, podendo a lei prever, ou não, prazo para a prática do ato, que não havendo, deverá ser razoável. Aqui, o que não se admite e configura abuso de poder é a ausência de manifestação de vontade da Administração quando ela está obrigada a agir. DEVERES DOS ADMINISTRADORES PÚBLICOS O direito positivo não confere apenas poderes aos administradores públicos. Ao contrário, estabelece certos deveres que devem ser por eles cumpridos para evitar que sejam responsabilizados. Probidade O administrador público deve gerenciar os bens e interesses coletivos com ética, honestidade e moralidade. Não deve cometer favorecimentos, desvios de conduta, tampouco nepotismo, cabendo-lhe optar sempre pelo que melhor servir ao interesse público. (Lei 8.429/92; Lei 4.717/65; Art. 85, V da CF/88). Prestação de Contas Como é encargo dos administradores públicos a gestão de bens e interesses da coletividade, decorre daí o natural dever, a eles cometido, de prestar contas de sua atividade (dever de transparência). (Art. 70 e ss. da CF/88; Art. 84, XXIV da CF/88; LC 101/00). Eficiência O dever de eficiência dos administradores públicos reside na necessidade de tornar cada vez mais qualitativa a atividade administrativa. Pessoal qualificado, técnica, especialização, economia, celeridade, desempenho, resultado, todos esses fatores que qualificam a própria atividade pública e traduzem maior eficiência. (Princípio da eficiência - art. 37, caput, CF/88). OBS* - O art. 6º do DL 200/67 aponta as melhores atividades para que o administrador público alcance a eficiência. PODERES ADMINISTRATIVOS � Quanto à margem de liberdade: I – vinculado; II – discricionário. Quanto às espécies: I – Hierárquico; II – Disciplinar; III – Normativo ou Regulamentar; IV – De Polícia. � PODER VINCULADO OU REGRADO Poder vinculado ou regrado deve ser entendido como aquele que estabelece um único comportamento possível a ser tomado pelo administrador diante do caso concreto, sem nenhuma liberdade, para um juízo de conveniência e oportunidade. Não há margem de escolha na atuação! Exs: lançamento de crédito tributário pelo agente fazendário; licença para construir; concessão de aposentadoria. PODER DISCRICIONÁRIO No poder discricionário, o administrador também está subordinado à lei, diferenciando-se do vinculado, por que o agente tem liberdade para atuar de acordo com um juízo de conveniência e oportunidade, de tal forma que, duas ou mais alternativas, o administrador poderá optar por uma delas, escolhendo a que, em seu entendimento, preserve melhor o interesse público. Nas palavras de Carvalho Filho, poder discricionário é “a prerrogativa concedida aos agentes administrativos de eleger, entre várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público”. Tal poder encontra-se enraizado em dois elementos dos atos administrativos » motivo e o objeto » e consubstancia o que doutrinariamente se denomina mérito administrativo. Ex: administrador pode alienar bem imóvel adquirido por meio de decisão judicial através de concorrência ou leilão. Também existe discricionariedade quando a lei utiliza conceitos jurídicos vagos (ou indeterminados) o que dá margem ao administrador fazer juízo de valor. Ex: a administração pode dissolver passeata se houver “tumulto”. O que é tumulto? O mesmo raciocínio vale para “boa-fé”; “decoro”; “bons costumes”? Importante não confundir margem de liberdade com arbitrariedade. Ex: para determinada infração a lei prevê suspensão de 30 a 60 dias e o agente suspende por 90 – este ato é arbitrário, ilegal e não discricionário. Atenção! O judiciário pode analisar os limites do mérito administrativo, uma vez que são impostos pela lei. De fato, a análise dos limites do mérito não é mérito, mas sim legalidade. Por exemplo, quando se trata de conceitos jurídicos vagos. Há uma zona de incerteza na qual o administrador decide dentro do interesse público. Ocorre que a interpretação destes conceitos deve ser feita dentro dos limites da razoabilidade (proibição de excessos).OBS* - Parte da doutrina, com base no escólio de Hely Lopes Meirelles, afirma que três requisitos dos atos administrativos são sempre vinculados, quais sejam: competência, finalidade e forma.
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