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GRATUIT O ESTA PU BLICAÇÃ O NÃO POD E SER COMERC IALIZADA . 4 FASCÍCULO BENITO TEIXEIRA Mídia e Controle Social Introdução Você já ouviu falar que, um dia, em 30 de outubro de 1954, na cidade de Nova York e em outras dos Estados Unidos, foram regis- trados momentos de pânico coletivo por conta de uma notícia do rádio que afirmava estar ali acontecendo uma invasão marciana? Pois isso aconteceu mesmo! Orson Welles era ainda um jovem e desconhecido ator de cinema norte-americano, quando, diante dos microfones da rádio, fez uma atuação dramática de 62 minutos, lendo uma revista em quadrinhos. Apesar do absurdo da história, ou seja, habitantes de Marte invadindo os Estados Unidos, o rá- dio, devido à confiança que inspirava por ser o principal veículo de comunicação da época (a televisão estava surgindo ainda), levou muitos a acreditarem que aquela simulação era real. Esse episódio pode ser considerado uma mostra concreta do poder que os meios de comunicação podiam e ainda podem exercer sobre a população, principalmente àqueles mais desinformados. A credibilidade das empresas de comunicação, aliada à sua capacidade de atingir um grande e variado número de pessoas na sociedade, permite que as empresas midiáticas tenham forte po- tencial de controle sobre o Estado, por serem as responsáveis por levarem (com o seu olhar) o dia a dia social, político, econômico e cultural do mundo, do país e mesmo de uma pequena região aos seus públicos, sejam eles os anunciantes, leito- res, ouvintes, telespectadores etc. Os meios de comunicação podem, por- tanto, exercer sobre o Estado um controle positivo, impedindo abusos e denuncian- do irregularidades. Ou seja, o ambiente das comunicações sociais é de grande im- portância para aqueles que desejam reforçar a participação popular e democrática nas decisões do Estado. Este fascículo, o quarto do curso Cida- dania ParticipATIVA, aborda o fundamental papel que a mídia exerce sobre a sociedade, incluindo aqui a imprensa e a indústria publi- citária. Papel este que, muitas vezes, não pa- rece tão claro para o cidadão comum. Nesse sentido, nos dedicaremos a refletir, em con- junto com você, leitor, sobre a im- portância dessa relação a três, a saber: empresas de mídia, Estado e sociedade. SUMÁRIO 1. Introdução 50 2. Mídia e o controle social 51 3. A influência da informação no processo de decisão 52 4. Controle social não é censura 54 5. O poder das redes sociais no processo democrático 58 6. Sociedade da informação versus tecnologia da informação 61 7. Considerações finais 63 OBJETIVOS DO FASCÍCULO • Apresentar um panorama da sociedade atual pelo viés do desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação social (mídias), refletindo sobre as implicações que tais mudanças vêm representando; • Conscientização das estratégias comunicacionais e mercadológicas das empresas de comunicação, buscando assim desenvolver uma maior consciência crítica; • Incentivar uma maior participação popular por intermédio dos meios de comunicação; • Promover o controle social sobre a mídia e o seu fortalecimento sobre os gestores governamentais; • Estimular a reflexão acerca da importância que as redes sociais vêm ganhando na difusão de informações. Participe e compartilhe o curso Cidadania ParticipATIVA. As inscrições continuarão abertas ao longo do curso e todo o conteúdo estará disponível no site (AVA). INSCREVA-SE: ava.fdr.org.br FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE50 Mídia e controle social Para começar o nosso estudo, é inte- ressante que façamos, neste primeiro mo- mento, uma breve distinção entre os con- ceitos de publicidade e jornalismo. Publicidade Publicidade é a arte de vender por meio de uma mensagem (anúncio), na maioria das vezes sutil, que desperte nas pessoas o desejo de consumir alguma coi- sa, mas sem que pareça autoritário. Assim, a publicidade vai tentar convencê-lo(a) de que, por exemplo, aquele sabão em pó lava “mais branco”, ou que aquele xampu deixará seu cabelo mais brilhoso, ou que você deve tratar a sua pele com aquele sabonete ou creme que deixa aquela estrela de TV mais bela, ou que se você tiver aquele carro po- tente e atraente as pessoas olharão mais para você. Enfim, percebemos que a publi- cidade é claramente parcial, pois defende um ponto de vista, sem necessariamente ter que informar ou falar sobre qualquer verdade. Você deve ter essa consciência: a publicidade trata-se de propaganda. Jornalismo Já o jornalismo diferencia-se da publi- cidade, entre outros quesitos, por buscar, a rigor, a imparcialidade no discurso, o que, aliás, é o que dá suporte à credibilidade desta prática de comunicação. E, por conter essa posição de autoridade/credibilidade Controle Social: participação do cidadão na gestão pública, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações da administração pública. Trata-se de importante mecanismo de prevenção da corrupção e de fortalecimento da cidadania. (Controladoria Geral da União - CGU, 2012, p. 9) na sociedade, acredita-se que representa, na maioria das vezes, a própria realidade, quando, por exemplo, buscamos informa- ções sobre um fato ocorrido no passado. O papel da comunicação social no mundo moderno é tamanho que, para Pier- re Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, a língua deve ser entendida não apenas como um instrumento de comunicação, mas também como instrumento de poder: “O discurso deve sempre suas característi- cas mais importantes às relações de produ- ção linguísticas nas quais ele é produzido”. Em outras palavras, dependendo de quem fala, de onde se fala e da forma como se fala, as pessoas recebem ou percebem essa mensagem de maneira diferente, ad- quirindo mais ou menos credibilidade. Nes- se sentido, analisaremos, no decorrer deste fascículo, o poder de “sugerir” determinada forma de interpretar a realidade ao nos- so redor, característica fundamental dos meios de comunicação. Saiba+ Pierre Bourdieu destacou-se como um dos principais nomes da sociologia no mundo. Estudou diversas áreas, entre elas linguística e poder. De sua vasta bibliografia podemos citar A distinção (1979), que aborda julgamentos estéticos e classe social; Sobre a televisão (1996); e Contrafogos (1998), a respeito do discurso pregado pelo neoliberalismo. Como se pode notar pelos títulos e assuntos abordados, o escritor destacou-se como um crítico às estruturas dominantes da sociedade, ou, para usar um conceito seu, ao Poder Simbólico – poder que, segundo Bourdieu, seria menos visível do que o poder real, emanado das instituições soberanas, que rege as relações humanas na atualidade. Esse poder simbólico é uma das principais marcas dos meios de comunicação na sociedade atual. É dele a frase: “Não há democracia efetiva sem um verdadeiro poder crítico”. 51CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS A influência da informação no processo de decisão Agora, você vai entender a razão pela qual a liberdade de imprensa e a democracia es- tão intimamente ligadas. E, por falar nisso, você sabe onde e como surgiu a Democra- cia? Não? Pois saiba, lendo a seguir: Onde e como surgiu a Democracia Na Grécia Antiga, onde surgiu o con- ceito de “democracia” (governo do povo), o governante levava suas decisões políticas às praças públicas, chamadas de ágoras. Lá, ele submetia cada assunto do Estado à opinião da população, que possuía direito de voto. Era, portanto, uma das formas mais antigas da aplicação pura do conceito de democracia, ou seja, o povo decidindo di- retamente sobre as propostas do Estado. Podemos chamar de democracia direta a essa forma de organizaçãopolítica. Era, en- tretanto, um sistema político que tinha suas falhas. Por exemplo, apenas homens e de condição social mais abastada teriam po- der de voto. Escravos, mulheres e crianças eram excluídos da votação. Outro fator que dificultava o bom andamento das decisões eram as demoradas e, por vezes bem con- flituosas, discussões que surgiam na ágora. Séculos depois, o conceito de demo- cracia ressurgiria com uma nova roupa- gem, por meio da chamada democracia Ágora: praça principal das antigas cidades gregas. Local em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a realização das assembleias do povo. representativa. No caso, para facilitar e trazer mais rapidez ao processo decisório, as pessoas escolhem representantes que terão o poder de tomar as decisões por toda a sociedade. A democracia não seria mais exercida diretamente pelos indivíduos, mas indiretamente por meio de seus repre- sentantes (vereadores, deputados etc) es- colhidos pelo voto. Ora, apesar de facilitar a condução do Estado, a democracia representativa tam- bém traz algumas dificuldades, nem sem- pre atuando como desejamos. Daí, pensa- mos: como os eleitores podem fiscalizar o trabalho dos seus eleitos/representantes? Como as pessoas tomarão conhecimen- to de que seus candidatos estão votando de acordo com o prometido no período de campanha eleitoral ou seguindo os princí- pios por eles defendidos? Enfim, por meio de que canais a sociedade pode sentir-se mais segura de que seus representantes, de fato, as representam? Um desses canais, que tem se mos- trado cada vez mais crucial, é a Imprensa. Os meios de comunicação noticiam o dia a dia político, econômico, social e cultural das diversas regiões, funcionando como um verdadeiro instrumento de contro- le social, pois, de acordo com o que é FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE52 noticiado, as autoridades e órgãos go- vernamentais, por exemplo, podem subir ou cair no conceito do eleitorado. Essas notícias, as grandes manchetes, geram debates, polêmicas, formam opiniões, sur- preendem a sua audiência, compartilham pensamentos diversos sobre as principais questões do momento. Não é assim? Quando os jornais, emissoras de tele- visão e de rádio não exercem ou não podem exercer livremente sua atividade primordial de informar livremente e de forma ver- dadeira, ou seja, quando não usam de sua liberdade de expressão, cria-se uma grave distorção no processo democrático. Pelo contrário, ao permitir que a socie- dade tenha conhecimento da informação, por meio da apuração, investigação e difu- são de fatos verídicos, a mídia permite que a sociedade tenha acesso ao que realmente está acontecendo, coisas que na sua rotina diária de cidadão comum não o teria, o que acaba por fortalecer a capacidade de avalia- ção crítica por parte cidadão(a)/eleitor(a). Em outras palavras, se a mídia informa que determinada gestão de governo está ruim, atuando de forma irregular, as pessoas ten- dem a querer mudar a forma de governar, e/ou até mesmo a mudar as pessoas que estão à frente dessa gestão. Mas se as no- tícias dão conta de um momento positivo e de crescimento, é natural que as pessoas desejem deixá-lo como está e até a apoiem. Nesse sentido, para que a democracia seja realmente o “governo do povo”, as pes- soas devem ter acesso ao máximo de infor- mações possíveis, e a partir de diferentes fontes. Afinal, cada jornalista, cada empresa de comunicação têm o direito de interpretar determinado fato de acordo com seu ponto de vista, desde que sejam pautados pela verdade dos fatos. Seus leitores, ouvintes, telespectadores, consumidores de infor- mação, enfim, também têm o direito de ler, ouvir e assistir a diferentes opiniões para, ao final, formar a sua. Só assim a socieda- de terá o poder de analisar e julgar correta- mente se os seus representantes políticos estão honrando o mandato provisório que lhes foi conferido. O jornalismo investigativo, modo de apuração jornalística assumida ora mais ora menos pelas empresas de comunicação ao redor do mundo, ocupa um papel funda- mental na busca por fatos que comprome- tam o discurso de políticos e empresas. Ou seja, atuam como braço de controle social sobre as instituições. No Brasil, podemos citar como exemplo a Pública: Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo, que oferece aos seus leitores um amplo Para Refletir É importante que você saiba que canais de televisão e de rádio são concessões públicas, outorgadas pelo Estado, com prazo de validade, e, portanto, devem ser, mais do que qualquer outro veículo de imprensa, submetidos ao controle da sociedade. Assim, devem atuar, sobretudo, de acordo com os interesses da população. Pense Nisso Você já observou como são comuns exemplos de regimes políticos e gestões governamentais, no Brasil e no mundo, que acabam sendo influenciados e mesmo modificados para melhor por práticas jornalísticas críticas e independentes? Esse trabalho positivo da imprensa acaba tornando-se um forte instrumento de controle social, pois incentiva ações transparentes, lícitas e rigorosas por parte de gestores nos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, além de fortalecer a atuação de órgãos e instituições fiscalizadoras. leque de análises sobre a política brasileira. Para aprofundamento, sugerimos acessar o site da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji): abraji.org.br. Nessa busca por mais controle social, foi fundamental a instituição no Brasil da Lei de Acesso à Informação, a LAI (Lei nº 12.527/2011). A Lei passou a permitir que qualquer cidadão, pessoa física ou jurídica, possa receber informações sobre entida- des ou órgãos públicos sem a necessidade de apresentar um motivo. Dessa forma, a legislação permitiu a jornalistas, políticos e sociedade em geral aumentar as formas de controle público sobre o Estado. 53CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS Controle social não é censura Agora que você já entendeu como é im- portante o papel da imprensa, independen- temente do seu veículo (jornal, TV, rádio, internet) ou suporte (papel, smartphone, tablet), vamos agora pensar juntos sobre o porquê que a sociedade deve ler, acompa- nhar e criticar abusos por parte das empre- sas de comunicação. Aliás, você sabe onde e como surgiram os mecanismos de controle social sobre os meios de comunicação? Controle social sobre os meios de Comunicação “Onde a imprensa é livre e todo homem capaz de ler, tudo está seguro.” (Thomas Jefferson, 3º presidente dos EUA e o principal autor da sua Declaração de Independência, em 1776) Em julho de 2011, a sociedade bri- tânica ficou chocada ao saber que um detetive contratado pelo jornal News of the World, com 168 anos de atividade e cuja tiragem chegava a 2,8 milhões de exemplares a cada domingo (era o jornal mais vendido da Grã-Bretanha), havia in- terceptado ilegalmente o celular de uma garota (13 anos) desaparecida, apagando mensagens deixadas na sua caixa de en- trada, o que provocou esperanças na fa- mília e na Polícia de que ela ainda estives- se viva. Porém, ela foi encontrada morta pouco tempo depois, o “grampo” do ta- bloide descoberto e o assassino preso. O News of the World, que não teria feito isso apenas dessa vez, tendo grampeado até telefones de membros da família Real e de celebridades, anunciou cooperar na investigação das interceptações e demi- tir os responsáveis. Mesmo assim, muitos anunciantes e leitores o deixaram e ele acabou fechando as portas. O caso inspi- rou uma grande discussão na Inglaterra e no mundo sobre os limites do jornalismo e a necessidade de regulamentação das empresas de comunicação.Você Sabia? Que em março de 2017, foi sancionada pela Presidência da República a Lei nº 13.424/17, que estabelece prazos e simplifica os processos de renovação de outorga de rádios e emissoras de TV? Agora, as emissoras de rádio e de TV podem funcionar em “caráter precário”, caso o prazo da concessão tenha vencido antes da decisão sobre o pedido de renovação. Ou seja, a emissora terá uma licença provisória de funcionamento até a definição da renovação da outorga pelo Ministério das Comunicações e pelo Congresso Nacional. O texto também retira um trecho do Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117/62), que estipulava como requisito para a renovação o cumprimento de todas as obrigações legais e contratuais de emissoras e a manutenção de “idoneidade técnica, financeira e moral, atendido o interesse público”. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE54 O Relatório Levenson “A imprensa causou dificuldades reais e, algumas vezes, estragos na vida de pes- soas inocentes, cujos direitos e liberdades foram desprezados” (trecho do inquérito judicial produzido pela Justiça Britânica após o escândalo das escutas ilegais). Pressionado pelo escândalo, o gover- no decidiu estimular a criação de um órgão de autorregulação do setor, ou seja, quan- do as próprias empresas decidem como punir quem ferir seu código de conduta, nascendo, assim, o Press Recognition Pa- nel, o PRP (“Painel de Autorregulação da Imprensa”, em tradução livre). Apesar da pressão pública pela intervenção estatal, o PRP foi muito criticado por jornalistas, acusando-o de se tratar de um atentado à liberdade de imprensa naquele país. No Brasil, um caso emblemático de erro e abuso por parte da mídia atingiu uma escola particular de Educação Infan- til de São Paulo, em 1994. Os proprietários dessa escola foram acusados de pedofilia. Sem provas ou qualquer chance de de- fesa, os veículos de imprensa acusaram, julgaram e condenaram os proprietários da instituição (a notícia reverberou até no exterior), apenas com base nas acusações de pais e mães alarmados com as “denún- cias” de seus próprios filhos. Os sócios do estabelecimento eram acusados ainda de drogarem as crianças e de fotografá-las nuas. As acusações se mostraram, tem- pos depois, completamente infundadas, mas os proprietários, mesmo inocentes, tiveram a escola e a residência depreda- dos, recebiam ameaças por telefonemas anônimos, foram condenados pela mídia e submetidos ao linchamento popular. Alguns professores da escola, então de- sempregados, passaram a ser vistos com desconfiança. A diretora da escola, falida, faleceu 13 anos depois, de câncer. O ma- rido dela, proprietário da escola, teve um infarto naquele ano e faleceu em 2014, es- perando ainda receber indenizações pela injustiça sofrida. Uma grande emissora de TV foi condenada, em 2012, a pagar R$ 1,35 milhão para tentar reparar os danos mo- rais sofridos pelos donos e pelo motorista da escola. Da mesma forma, dois grandes jornais paulistas e uma revista de alcance nacional. Todos recorreram. Há ainda abusos mais sutis que po- dem ser cometidos pela mídia, alguns de- les em contraposição a outros princípios constitucionais, como o da dignidade hu- mana e da inviolabilidade da honra e da imagem das pessoas, não tão perceptí- veis quanto o ocorrido no caso da referi- da escola. Por exemplo, se utilizar de seu poder de autoridade na sociedade para perseguir, ignorar ou proteger determi- nado(s) político(s) e/ou grupo(s) econô- mico(s). Por isso, muitos especialistas e profissionais da comunicação defendem a importância de haver um órgão de regu- lação para essa atividade, assim como já acontece com a medicina, a engenharia, o direito etc. Contudo, isto ainda está longe de se tornar realidade no Brasil. Por outro lado, vamos imaginar agora exemplos positivos da capacidade infor- mativa da mídia. É o caso de ações so- ciais, educativas e culturais que ganham Linchar: executar sumariamente, sem julgamento regular e por decisão coletiva (criminoso ou alguém suspeito de sê-lo); praticar violência contra alguém por suspeita de algo, independentemente de ter provas ou não. 55CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS Você Sabia? Alguns estudiosos argumentam que é tamanho o poder de influência da mídia, que esta poderia ser chamada de Quarto Poder, em alusão aos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário? respaldo e força por meio da imprensa e de outras mídias. Campanhas de vacinação, de incentivo à reciclagem de lixo, para a economia de água, contra a violência, pela paz, de programação artístico-cultural, no intuito de angariar fundos para grupos ca- rentes, campanhas exitosas de cunho edu- cativo, entre outras de apelo fortemente social, quando divulgadas e incentivadas pela mídia, e com determinada regularida- de, ganham grandes proporções e trazem resultados positivos e concretos. No estado do Ceará, as campanhas de combate à dengue ou ao uso das dro- gas, por exemplo, por ganharem o apoio das diferentes mídias, têm surtido efei- tos muito mais evidentes do que se não tivessem esse apoio. E por falar nisso, você já parou para pensar quais os limites da imparcialidade jornalística? Na prática, é difícil para um jornalista não imprimir em uma mensagem Para Refletir “Esse processo de transformação dos fatos sociais em fatos jornalísticos envolve toda uma técnica que, como tudo, não é neutra, ou seja, envolve seleções, cortes, descartes, inversões, relações e desconexões, entre outras medidas.” (Valério C. Brittos e Édison Gastaldo). Nesta passagem, os autores explicam ser questionável a neutralidade jornalística, já que a produção da notícia sofre a influência dos fatores subjetivos. Assim, é natural que duas pessoas, dois jornais, possam contar determinada história de maneiras diferentes, com detalhes distintos, por se tratarem de contextos de vida e de visões diferentes. Para Refletir “Por que um veículo é imparcial? Para levar informação da forma mais verdadeira e honesta possível ao seu leitor, telespectador, ouvinte ou internauta. Porém, se ele esconder sua parcialidade, não estará transmitindo uma notícia com interesses escusos escondidos? Não seria, então, mais honesto com seu público e com a sociedade que a sua política editorial seja revelada? Esta seria uma forma inclusive mais democrática de interagir com o público? Para muitos estudiosos da Comunicação, o mais correto é que os veículos assumam claramente a sua postura editorial: se for imparcial, que a mantenham; se for parcial, que a identifiquem. ” (Vitor Orlando Gagliardo, jornalista, chefe de reportagem na TV Brasil.) para sua conclusão. Alguns candidatos na campanha eleitoral à presidência da Re- pública em 2014 haviam se comprome- tido, em caso de vitória, a abrir o debate sobre uma regulamentação para o setor. O assunto, entretanto, não ganhou corpo após as eleições. sua visão de mundo. Entretanto, o texto jornalístico deveria distanciar-se de análi- ses subjetivas por parte do jornalista, mas até quando isso é possível? O Brasil não dispõe de um órgão de regulamentação da imprensa com o poder de evitar abusos. Quem se sentir ofendi- do por algum veículo de comunicação deve buscar na Justiça uma reparação, por meio de processo que pode levar décadas FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE56 O que muda para você? A partir do que você estudou aqui, reflita e leia mais sobre a diferença entre o ato de censurar e o de regulamentar a imprensa. Será mesmo necessária essa regulamentação? A que ponto ela pode ser usada como ato de censura? Quem tem mais a ganharcom isso? A sociedade pode ser beneficiada ou não com tal regulamentação? Para se defender de qualquer inter- ferência externa, as empresas jornalísti- cas argumentam que não podem admitir qualquer forma de censura. Argumentam ainda que um órgão de regulação pode ser aproveitado por um político para impedir a divulgação de acusações lícitas. Entretanto, pelas razões aqui demonstradas, não pre- ver qualquer instrumento de controle sobre os meios de comunicação também pode soar como um atentado à democracia. No Brasil, apenas os jornais A Folha de S. Paulo (desde 1989) e O POVO (desde 1994) adotam a política de ter um ombudsman (ouvidor), ou seja, um profissional jornalis- ta que, além de ler e analisar diariamente o seu próprio jornal em diversos aspectos, o critica (não é fácil criticar colegas), recebe e responde às críticas de assinantes e leitores, promovendo uma autorreflexão importante sobre o fazer jornalístico. Claro que a exis- tência das redes sociais já provoca um gran- de controle no que é produzido e defendido pelos jornais atualmente. Veremos isso já, já. 57CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS Você sabe como a interação oferecida pelas redes sociais vem influenciando a classe e o fazer político? Falaremos sobre isso, agora. Como encaminhar denúncias, reclamações ou sugestões que dizem respeito a órgãos ou serviços do Governo do Ceará Como um novo ambiente de convi- vência social, o mundo virtual não poderia deixar de se transformar em um importante palco de participação política. Do item dis- cutido anteriormente para este, sem que você piscasse, observamos que surge um novo personagem no cenário de canais de controle social, antes ocupado apenas pe- los órgãos de imprensa, como jornais, rá- dios e TVs: as redes sociais. Não há dúvida sobre a democracia digital proporcionada por esse instrumen- to que não disitingue as pessoas pela sua classe social, instrução, cor, credo nem por outro fator qualquer, e que, por outro lado, ainda incentiva a formação e a organização de grupos (leiam-se “comunidades”) e a sua mobilização, bastando, para tal, ter a condi- ção de se conectar à internet, algo cada vez mais simples e acessível. O poder das redes sociais no processo democrático A possibilidade dos representantes eleitos, dos órgãos da administração pública e de controle, assim como também de toda e qualquer organização, inclusive as mili- tantes defensoras dos direitos humanos ou as engajadas em qualquer outras causas e ideais, se comunicarem diretamente com o cidadão sem se utilizarem da mediação dos veículos da imprensa, provocou uma mu- dança bastante considerável no panorama da informação social, e poderia ter se torna- do uma “grande revolução”, o que ainda não ocorreu, até o momento pelo menos, e os motivos serão aqui discutidos. De início, a instituição de websites por políticos e pelos governos aumentou a possibilidade de sua exposição, mantendo ainda o conceito unilateral de comunica- ção presente na televisão, por exemplo. Ou seja, você teria acesso à informação, mas não poderia responder, interagir, questio- nar o seu conteúdo. Não havia diálogo, mas apenas a exposição. Alguém fala e você ouve. Assim, foi estruturada a pri- meira fase da internet. Entretanto, com o surgimento das chamadas redes sociais, o canal de co- municação passou, então, a ter duas vias, de ida e de volta. A partir de comentários e avaliações, a opinião da audiência não somente passou a contar, mas se tornou parte do próprio conteúdo veiculado. Nes- se contexto de interatividade, a chamada segunda fase de expansão da internet, o(a) leitor(a) não procura apenas a notícia, mas também as reações de outros leitores expostas nos comentários e avaliações. Na verdade, esse consumidor de informação deixa de apenas consumir, mas também as- sume o papel de produzir informação. Você ouve, mas você também fala. O Facebook, uma das principais redes sociais utilizadas hoje no mundo, afirma que tem mais de 2 bilhões de pessoas com Interatividade: ato ou faculdade de diálogo, trato, contato; conjunto de ações e relações entre membros de um grupo, entre membros de uma comunidade ou entre a sociedade e o Estado, realizado presencial ou virtualmente. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE58 acesso à sua plataforma (quase um terço dos habitantes do planeta). É sabido que a internet popularizou-se, em especial, a partir de seu fácil acesso em dispositivos móveis (mobile), como tablets e, principalmente, em aparelhos celulares (os smartphones). Hoje, os ativistas exercem pressão sobre o Estado, assim como exercem sobre as empresas, ce- lebridades, instituições, através de recursos da internet. São os chamados militantes di- gitais. Por meio de campanhas temporárias ou permanentes, essa nova geração une-se para defender determinada ideia. Utilizando- se de hashtags (#) nasce uma nova forma de controle social pelo cidadão. Aliás, é bom ressaltar que esse espaço dialógico tem in- tensificado a voz de grupos representativos de minorias formados por militantes e redes de organizações civis. Um fator muito positivo no emprego dessa tecnologia, é que os aparelhos telefô- nicos atuais nos permitem filmar, fotogra- far, gravar áudios. Todo esse conteúdo co- letado serve como “argumento/prova” para denúncias, sugestões, críticas etc., como a observação de uma viatura policial ou de um carro do governo estacionado em local irregular em dia ou horário não útil, o mal- trato de um funcionário de órgão público, a presença de macas em corredores de hos- pitais, o descumprimento das leis do trân- sito, buracos em vias públicas, imagens que se tornaram bem comuns em telejornais. Contudo, justamente por essa aces- sibilidade e facilidade de operações, inclu- sive do anonimato e desconhecimento de suas fontes, é fundamental que você aten- te para os riscos inerentes a uma mídia tão volátil, imediatista e rápida como é o caso das redes sociais. De fato, redes conhecidas como Face- book, Twitter e WhatsApp, por exemplo, podem ser consideradas verdadeiras revo- luções da era digital, que alteraram e ain- da alteram as formas de convivência e de cultura de uma sociedade. Mas o grande problema surge quando alguns usuários se fazem passar por outras pessoas ou insti- tuições, criando páginas com perfis falsos (fakes), conduta extremamente fácil e co- mum de ser praticada no meio eletrônico. Com as redes sociais, a sociedade, ao mesmo tempo em que tem mais acesso e de forma mais rápida a todo tipo de infor- mação, também está sujeita em todo mo- mento de receber informações inverídicas (boatos) e ilícitas (não nos deteremos aqui à complexa questão da ética nas redes so- ciais), as denominadas fakenews, compar- tilhadas por amigos e pessoas de boa-fé, que, por estarem ainda aprendendo a con- viver com essa “nova cultura”, acreditam que tudo que vem das redes sociais seja verdadeiro, o que pode causar prejuízos incalculáveis, como no caso da escola que vimos anteriormente. E você já percebeu como esse tipo de postagem se alastra fácil e rapidamente? Bem, daí a importância de você apren- der a consultar canais de comunicação e da imprensa de credibilidade, por meio dos veículos de massa, como rádio, TV e jornais impressos, mas também pelas suas redes sociais e portais eletrônicos, garantindo a informação de qualidade. Entretanto, não devemos nos deter apenas à consulta de redes vinculadas às empresas de comuni- cação. Existem outros canais disponíveis no mundo digital que trazem informação segu- ra. Afinal, o Governo Federal, com o intuito de intimidar a corrupção na esfera gover- namental, promover a participação popular e fortalecer a cidadaniano país, assume políticas públicas que permitem obrigato- riamente a disponibilização de informações e prestação de contas sobre as ações em to- das as instâncias do Estado. É o exercício da transparência e do controle social que nos chega pela Lei de Acesso à Informação (LAI). Outra fonte segura de informação da qual você não pode ficar de fora é o Portal da Transparência (transparencia.ce.gov.br). A cada ano, a quantidade de acessos ao Portal cresce, batendo recordes de partici- pação social. 59CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS Para Refletir Sobre as mudanças no mercado de trabalho após as redes sociais: “Jovens em faculdades de Jornalismo ganham seu primeiro estágio não mais em redações, mas em pequenas agências que os contratam como analistas de redes sociais. Avaliam e classificam os humores da rede, pontuam as tendências dos argumentos favoráveis e desfavoráveis etc. Participam cada vez mais do jogo de avaliação e defesa de reputações, aptos a tentar controlar, a partir de uma boa mineração de dados, o que os outros estão fazendo.” (Sérgio A. Silveira, militante do software livre, é sociólogo, mestre e doutor em ciências políticas; Sérgio Braga, cientista político, doutor em desenvolvimento econômico e Cláudio Penteado, mestre e doutor em sociologia). Com este curso, cremos que esses números vão subir mais, pois você, ci- dadão crítico, informado e participativo, também ficará, como a gente, de olho no Portal, não é verdade? Muitas são as assessorias de comu- nicação dos órgãos públicos que, cientes dessa realidade, e na tentativa de estrei- tar os laços com o seu público, criaram seu perfil nas redes sociais e tentam por elas se comunicar, não se limitando a postar a informação em si, mas buscando provocar a interação com o cidadão, sabido que este pode contribuir muito na elaboração, na execução e na qualidade dos serviços públi- cos prestados, opinando, compartilhando, denunciando irregularidades. As próprias respostas às postagens já trazem indicati- vos importantes ao leitor atento. Hoje, você, assim como nós, cidadãos/ cidadãs, temos mais recursos para sermos ouvidos e não podemos abrir mão disso. Em todo o país – mas aqui exemplificare- mos utilizando o estado do Ceará – a Ouvi- doria Pública, que você já conhece, recebe reclamações, sugestões, elogios, denúncias, entre outros. Pois bem, podemos apontar as ações da Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado (CGE) como caminhos positivos no sentido de facilitar o acesso da população ao controle social sobre as práticas do Es- tado. A CGE vem incentivando a participa- ção popular na gestão pública, por meio de campanhas de conscientização e de outras ações, como este curso, por exemplo, no qual você já deve estar se tornando um ex- pert e, esperamos, praticando a sua partici- pação social. O exemplo da CGE mostra que os incentivos à participação popular têm avançado no Brasil, com apoio das diferen- tes mídias, a exemplo das redes sociais. Há ainda formas de militância digital que, embora consideradas positivas, são questionáveis quanto aos critérios da ética Redes Sociais da Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado do Ceará (CGE) Facebook: www.facebook.com/cgeceara Twitter: @cgeceara e da própria legalidade, como podemos ob- servar na disputa entre Edward Snowden, Julian Assange e o Governo dos Estados Unidos. O ex-agente da CIA, agência de in- teligência norte-americana, vazou para o portal Wikileaks, do ativista Julian Assange, documentos que comprovam que o gover- no estadunidense mantinha um sistema de vigilância sobre todo o mundo, espionando, inclusive, chefes de Estado. Este tipo de ativismo digital, presente ainda em alguns ataques de hackers contra governos na- cionais, aponta para a exigência de trans- parência do Estado e para o total acesso a documentos sigilosos pela população. Não podemos deixar de citar, ainda, a revolução que as redes sociais propiciaram à propaganda política, a partir, principal- mente, da campanha de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos, em 2008. A equipe de campanha do então candidato democrata utilizou massivamente as redes sociais, obtendo com isso um grande su- cesso. Esta campanha transformou o mar- keting político, a tal ponto de, nos dias de hoje, não se conceber uma campanha sem uma forte presença nas redes. Consideremos também outra ferra- menta que cresce a cada dia, que é a peti- ção on-line, na qual milhares de brasileiros propõem pautas de discussões para os en- tes federativos. Julian Assange: jornalista e ativista da Informação Livre, é um dos responsáveis pelo portal Wikileaks, que revelou ao mundo as engrenagens da espionagem orquestrada pelo Governo dos EUA. Encontra-se, hoje, refugiado na embaixada do Equador em Londres, por receio de ser preso e extraditado aos Estados Unidos. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE60 Você Sabia? Que o brasileiro passa mais tempo navegando na web do que à frente da TV? Só com o Facebook, os brasileiros gastam quase tanto tempo quanto ao dedicado a comer e a beber. Diante do visor do celular, passamos mais de três horas por dia. Considerando apenas os jovens, o número chega a quatro horas diárias. Se levarmos em conta que dormimos oito horas por dia, passamos quase 25% do nosso tempo disponível olhando essas pequenas telas. Para muitos jovens de hoje, parece difí- cil imaginar um mundo sem internet. Você mesmo, que nasceu há mais tempo, brm antes desse “papo-web”, deve atualmente, diante de tantas facilidades, perguntar- -se como era possível viver sem ela, não é? Tantas vantagens, tantos recursos... Pois é, mas apesar dessa importante ferramen- ta estar totalmente inserida na sociedade atual, sua popularização só veio acontecer em meados da década de 1990, ou seja, há não mais de 20 e poucos anos. O próprio telefone celular e outros equipamentos ele- trônicos, que até pouco tempo eram consi- derados objetos de luxo, hoje alcançam os bolsos e as bolsas de quase a totalidade da sociedade, independentemente da classe social a que se pertence. Vivemos hoje a era da informação. So- mos, por assim dizer, somos a sociedade da informação. A dependência que adquirimos do mundo tecnológico, principalmente em termos de comunicação, com o surgimen- to das tecnologias da informação, tem le- vado pesquisadores a questionarem quais impactos esse novo estilo de vida poderia causar na sociedade e nos indivíduos desta e das futuras gerações. Para uns, talvez os mais convencio- nais, a tecnologia não deve ser entendida Sociedade da informação versus tecnologia da informação 61CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS Você Sabia? Que mais de 95% dos lares brasileiros possuem aparelho televisor? No Brasil, existem mais casas com televisor do que com geladeira. Apesar de uma queda em seu número registrada nos últimos dois anos, o Brasil possui 243 milhões de linhas de celulares ativas, o que dá mais de uma por habitante. Mais de 90% dos lares brasileiros acessam internet pelo celular, percentagem maior do que via computadores. (Ana Cristina Campos, em IBGE: celular se consolida como o principal meio de acesso à internet no Brasil, 2016). como algo que transforma a sociedade, já que ela, por si só, não passa de um instru- mento nas mãos dos homens. Para outros, está claro que o mundo tecnológico vem ditando mudanças em nosso meio social, e um bom exemplo disso vem de longe: a Re- volução Industrial. Se considerarmos ver- dadeira esta segunda afirmação, a questão passa a ser: quais impactos que tantas mu- danças estariam gerando, e até que ponto elas seriam positivas?Nós, por exemplo, podemos apontar alguns impactos na sociedade causados pela presença da tecnologia da informação. Comecemos pelo impacto no mercado de trabalho. Sim, muitos jovens e adultos ti- veram que se adaptar e integrar-se às tec- nologias por necessidade profissional: “Al- guns as recebem como algo externo (o que é exacerbado pela rapidez com que ocorre sua expansão), que chega e muda tanto a rotina pessoal quanto a profissional. Quem não se adapta corre o risco de ser excluído das relações interpessoais ou de trabalho, e quem se atualiza constantemente tem mais chances de compor os recursos hu- manos da era da informação”. (Marconi Laia, Gerciana Lima e Liliam Pinto). Outro impacto significativo podemos literalmente assistir no setor de entreteni- mento. Nunca tivemos acesso a tanto ma- terial audiovisual, e nunca estivemos tanto tempo parados em frente a uma tela – seja de videogames de última geração, ou de serviços de programação via cabo, inter- net ou satélite. Se, para alguns, a disponi- bilidade de vídeos engrandece a cultura e a educação, para outros serve como pura distração, substituindo outras atividades importantes, como a leitura, exercícios fí- sicos ou os relacionamentos interpessoais. Voltando às redes sociais, é importante acompanharmos seu movimento. Com elas, muitos estão aprendendo a se posicionar, a criticar, a ter conhecimentos sobre o que acontece em sua cidade ou no mundo. Mas Revolução Industrial: surgida ao final do século XVIII, é um divisor de águas na história. Esse processo de transição para novos processos de manufatura, pelo incremento da tecnologia, influenciou de alguma forma quase todos os aspectos da vida cotidiana da época. podemos ser mais, nos envolvermos mais, a partir da seleção de informações com cre- dibilidade e da postagem de conteúdo tam- bém fiel. Podemos postar fotos, vídeos, áu- dios. Sim, podemos. Entretanto, não seria melhor destinar esse conteúdo não apenas para o mundo de forma geral, disparando-o “às cegas”, mas enviando diretamente para aqueles canais que têm a missão de dire- cionar esse mesmo conteúdo para aqueles que são responsáveis pelos diversos ser- viços públicos e que podem resolver esse problema? Pense nisso! Pode ser que se surpreenda por não receber apenas outras lamentações e queixas, mas a solução ou o retorno que você espera e merece. Considerações finais As empresas de comunicação possuem uma função muito importante na socieda- de, mantendo as pessoas informadas sobre os acontecimentos em nossa região, no país e no mundo, ao mesmo tempo que exercem uma atuação relevante de controle social sobre a administração pública, a classe po- lítica e empresarial, denunciando abusos e irregularidades, como também anunciando e compartilhando iniciativas positivas. No entanto, também podem exercer uma influência negativa, utilizando-se de sua credibilidade e poder de penetra- ção na sociedade para agirem em bene- fício próprio. Por isso, a importância da pluralidade de opiniões e de instituirmos instrumentos de controle social sobre as empresas de comunicação, desde que este controle não se torne uma máscara de promoção da censura. Nesse fascículo, entre outros, com- preendemos como a popularização da in- ternet e das redes sociais modificaram a forma como o Estado, os políticos e a pró- pria imprensa, entre outros, se relacionam com o cidadão, embora esse potencial de comunicação ainda seja subutilizado e, por vezes, usado de forma inadequada. Observamos aqui, como a publicidade e o jornalismo podem moldar, de certa for- ma, nossa maneira de pensar, de ver e de se comportar no mundo, inclusive destruindo uns e reforçando outros preconceitos. Por fim, analisamos como a sociedade da informação, o mundo pós-internet em que vi- vemos, trouxe mudanças para a nossa rotina social, ainda difíceis de serem percebidas por conta do seu caráter simbólico e difuso. Contudo, o mais importante é que você compreendeu que existem diversas formas de potencializar a sua reclamação, direcio- nar a sua crítica, ter a sua sugestão recebida e que pode e deve contribuir para a melho- ria da qualidade dos serviços públicos. Pense coletivo! FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE62 Referências 1. CHILTON, Martin. The War of the Worlds panic was a myth. The Telegraph, 06/05/2016. disponível em http://www. telegraph.co.uk/radio/what-to-listen-to/ the-war-of-the-worlds-panic-was-a-myth/ 2. BOURDIEU, Pierre. A Economia das trocas linguísticas. Tradução: Paula Monteiro. Maio de 1977. 3. FERRARI, Márcio. Pierre Bourdieu, o investigador da desigualdade. Nova Escola, Outubro de 2008. 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Brasileiro usa celular por mais de três horas por dia. In Portal Exame. Disponível em <http://exame.abril.com.br/ tecnologia/brasileiro-usa-celular-por-mais- de-tres-horas-por-dia/> 63CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS Benito Teixeira Jornalista com 18 anos de experiência em reportagem, edição e assessoria de comunicação. Especialista em economia, mestre e doutorando em literatura pela Universidade Federal do Ceará. Tem experiência em redação e edição de livros, além de ser autor de outros conteúdos de cursos realizados pela Fundação Demócrito Rocha. SOBRE O AUTOR FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) | Presidência João Dummar Neto | Direção Geral Marcos Tardin UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane) | Coordenação Geral Ana Paula Costa Salmin | Cidadania ParticipATIVA: controle social ao alcance de todos | Coordenação Geral e Editorial Raymundo Netto | Coordenação de Conteúdo Thais Pinheiro Holanda | Coordenação Pedagógica Ana Paula Costa Salmin | Edição de Design Amaurício Cortez | Projeto Gráfico Alessandro Muratore | Editoração Eletrônica Cristiane Frota | Ilustrações Rafael Limaverde | Audiofascículos Alexandra Souza | Catalogação na Fonte Cássia Barroso Alves Este fascículo é parte integrante da coleção Cidadania ParticipATIVA: controle social ao alcance de todos, em decorrência do contrato celebrado entre a Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado do Ceará e a Fundação Demócrito Rocha, sob o nº 01/2017. | ISBN 978-85-7529-801-5 Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP 60.055-402 - Fortaleza - Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 | Fax (85) 3255.6271 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br Realização Apoio
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