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Fascículo 4 - Mídia e Controle Social

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GRATUIT
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BLICAÇÃ
O
NÃO POD
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IALIZADA
.
4
FASCÍCULO
BENITO TEIXEIRA
Mídia e 
Controle Social 
Introdução
Você já ouviu falar que, um dia, em 30 de outubro de 1954, na 
cidade de Nova York e em outras dos Estados Unidos, foram regis-
trados momentos de pânico coletivo por conta de uma notícia do 
rádio que afirmava estar ali acontecendo uma invasão marciana? 
Pois isso aconteceu mesmo! Orson Welles era ainda um jovem e 
desconhecido ator de cinema norte-americano, quando, diante dos 
microfones da rádio, fez uma atuação dramática de 62 minutos, 
lendo uma revista em quadrinhos. Apesar do absurdo da história, 
ou seja, habitantes de Marte invadindo os Estados Unidos, o rá-
dio, devido à confiança que inspirava por ser o principal veículo de 
comunicação da época (a televisão estava surgindo ainda), levou 
muitos a acreditarem que aquela simulação era real. Esse episódio 
pode ser considerado uma mostra concreta do poder que os meios 
de comunicação podiam e ainda podem exercer sobre a população, 
principalmente àqueles mais desinformados.
A credibilidade das empresas de comunicação, aliada à sua 
capacidade de atingir um grande e variado número de pessoas na 
sociedade, permite que as empresas midiáticas tenham forte po-
tencial de controle sobre o Estado, por serem as responsáveis por 
levarem (com o seu olhar) o dia a dia social, político, econômico e 
cultural do mundo, do país e mesmo de uma pequena região aos 
seus públicos, sejam eles os anunciantes, leito-
res, ouvintes, telespectadores etc. 
Os meios de comunicação podem, por-
tanto, exercer sobre o Estado um controle 
positivo, impedindo abusos e denuncian-
do irregularidades. Ou seja, o ambiente 
das comunicações sociais é de grande im-
portância para aqueles que desejam reforçar 
a participação popular e democrática nas 
decisões do Estado.
Este fascículo, o quarto do curso Cida-
dania ParticipATIVA, aborda o fundamental 
papel que a mídia exerce sobre a sociedade, 
incluindo aqui a imprensa e a indústria publi-
citária. Papel este que, muitas vezes, não pa-
rece tão claro para o cidadão comum. Nesse 
sentido, nos dedicaremos a refletir, em con-
junto com você, leitor, sobre a im-
portância dessa relação a três, 
a saber: empresas de mídia, 
Estado e sociedade. 
SUMÁRIO
1. Introdução 50
2. Mídia e o controle social 51
3. A influência da informação 
no processo de decisão
52
4. Controle social não é censura 54
5. O poder das redes sociais 
no processo democrático
58
6. Sociedade da informação versus 
tecnologia da informação
61
7. Considerações finais 63
OBJETIVOS DO FASCÍCULO
• Apresentar um panorama da sociedade atual pelo 
viés do desenvolvimento tecnológico dos meios 
de comunicação social (mídias), refletindo sobre as 
implicações que tais mudanças vêm representando;
• Conscientização das estratégias comunicacionais e 
mercadológicas das empresas de comunicação, buscando 
assim desenvolver uma maior consciência crítica;
• Incentivar uma maior participação popular por 
intermédio dos meios de comunicação; 
• Promover o controle social sobre a mídia e o seu 
fortalecimento sobre os gestores governamentais;
• Estimular a reflexão acerca da importância que as 
redes sociais vêm ganhando na difusão de informações.
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Cidadania ParticipATIVA. As inscrições 
continuarão abertas ao longo do curso 
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FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE50
Mídia e controle social
Para começar o nosso estudo, é inte-
ressante que façamos, neste primeiro mo-
mento, uma breve distinção entre os con-
ceitos de publicidade e jornalismo.
Publicidade
Publicidade é a arte de vender por 
meio de uma mensagem (anúncio), na 
maioria das vezes sutil, que desperte nas 
pessoas o desejo de consumir alguma coi-
sa, mas sem que pareça autoritário. Assim, 
a publicidade vai tentar convencê-lo(a) de 
que, por exemplo, aquele sabão em pó lava 
“mais branco”, ou que aquele xampu deixará 
seu cabelo mais brilhoso, ou que você deve 
tratar a sua pele com aquele sabonete ou 
creme que deixa aquela estrela de TV mais 
bela, ou que se você tiver aquele carro po-
tente e atraente as pessoas olharão mais 
para você. Enfim, percebemos que a publi-
cidade é claramente parcial, pois defende 
um ponto de vista, sem necessariamente 
ter que informar ou falar sobre qualquer 
verdade. Você deve ter essa consciência: a 
publicidade trata-se de propaganda. 
Jornalismo
Já o jornalismo diferencia-se da publi-
cidade, entre outros quesitos, por buscar, a 
rigor, a imparcialidade no discurso, o que, 
aliás, é o que dá suporte à credibilidade 
desta prática de comunicação. E, por conter 
essa posição de autoridade/credibilidade 
Controle Social: participação do cidadão 
na gestão pública, na fiscalização, no 
monitoramento e no controle das ações 
da administração pública. Trata-se de 
importante mecanismo de prevenção 
da corrupção e de fortalecimento da 
cidadania. (Controladoria Geral da União 
- CGU, 2012, p. 9)
na sociedade, acredita-se que representa, 
na maioria das vezes, a própria realidade, 
quando, por exemplo, buscamos informa-
ções sobre um fato ocorrido no passado. 
O papel da comunicação social no 
mundo moderno é tamanho que, para Pier-
re Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, 
a língua deve ser entendida não apenas 
como um instrumento de comunicação, 
mas também como instrumento de poder: 
“O discurso deve sempre suas característi-
cas mais importantes às relações de produ-
ção linguísticas nas quais ele é produzido”. 
Em outras palavras, dependendo de 
quem fala, de onde se fala e da forma como 
se fala, as pessoas recebem ou percebem 
essa mensagem de maneira diferente, ad-
quirindo mais ou menos credibilidade. Nes-
se sentido, analisaremos, no decorrer deste 
fascículo, o poder de “sugerir” determinada 
forma de interpretar a realidade ao nos-
so redor, característica fundamental dos 
meios de comunicação.
Saiba+
Pierre Bourdieu destacou-se como um 
dos principais nomes da sociologia no 
mundo. Estudou diversas áreas, entre 
elas linguística e poder. De sua vasta 
bibliografia podemos citar A distinção 
(1979), que aborda julgamentos 
estéticos e classe social; Sobre a 
televisão (1996); e Contrafogos (1998), 
a respeito do discurso pregado pelo 
neoliberalismo. Como se pode notar 
pelos títulos e assuntos abordados, 
o escritor destacou-se como um 
crítico às estruturas dominantes da 
sociedade, ou, para usar um conceito 
seu, ao Poder Simbólico – poder 
que, segundo Bourdieu, seria menos 
visível do que o poder real, emanado 
das instituições soberanas, que rege 
as relações humanas na atualidade. 
Esse poder simbólico é uma das 
principais marcas dos meios de 
comunicação na sociedade atual.
É dele a frase: “Não há 
democracia efetiva sem um 
verdadeiro poder crítico”.
51CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
A influência da 
informação no 
processo de decisão
Agora, você vai entender a razão pela qual 
a liberdade de imprensa e a democracia es-
tão intimamente ligadas. E, por falar nisso, 
você sabe onde e como surgiu a Democra-
cia? Não? Pois saiba, lendo a seguir:
Onde e como surgiu a Democracia
Na Grécia Antiga, onde surgiu o con-
ceito de “democracia” (governo do povo), o 
governante levava suas decisões políticas 
às praças públicas, chamadas de ágoras. 
Lá, ele submetia cada assunto do Estado à 
opinião da população, que possuía direito de 
voto. Era, portanto, uma das formas mais 
antigas da aplicação pura do conceito de 
democracia, ou seja, o povo decidindo di-
retamente sobre as propostas do Estado. 
Podemos chamar de democracia direta a 
essa forma de organizaçãopolítica. Era, en-
tretanto, um sistema político que tinha suas 
falhas. Por exemplo, apenas homens e de 
condição social mais abastada teriam po-
der de voto. Escravos, mulheres e crianças 
eram excluídos da votação. Outro fator que 
dificultava o bom andamento das decisões 
eram as demoradas e, por vezes bem con-
flituosas, discussões que surgiam na ágora.
Séculos depois, o conceito de demo-
cracia ressurgiria com uma nova roupa-
gem, por meio da chamada democracia 
Ágora: praça principal das antigas 
cidades gregas. Local em que se 
instalava o mercado e que muitas 
vezes servia para a realização das 
assembleias do povo. 
representativa. No caso, para facilitar e 
trazer mais rapidez ao processo decisório, 
as pessoas escolhem representantes que 
terão o poder de tomar as decisões por 
toda a sociedade. A democracia não seria 
mais exercida diretamente pelos indivíduos, 
mas indiretamente por meio de seus repre-
sentantes (vereadores, deputados etc) es-
colhidos pelo voto.
Ora, apesar de facilitar a condução do 
Estado, a democracia representativa tam-
bém traz algumas dificuldades, nem sem-
pre atuando como desejamos. Daí, pensa-
mos: como os eleitores podem fiscalizar o 
trabalho dos seus eleitos/representantes? 
Como as pessoas tomarão conhecimen-
to de que seus candidatos estão votando 
de acordo com o prometido no período de 
campanha eleitoral ou seguindo os princí-
pios por eles defendidos? Enfim, por meio 
de que canais a sociedade pode sentir-se 
mais segura de que seus representantes, 
de fato, as representam?
Um desses canais, que tem se mos-
trado cada vez mais crucial, é a Imprensa. 
Os meios de comunicação noticiam o dia 
a dia político, econômico, social e cultural 
das diversas regiões, funcionando como 
um verdadeiro instrumento de contro-
le social, pois, de acordo com o que é 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE52
noticiado, as autoridades e órgãos go-
vernamentais, por exemplo, podem subir 
ou cair no conceito do eleitorado. Essas 
notícias, as grandes manchetes, geram 
debates, polêmicas, formam opiniões, sur-
preendem a sua audiência, compartilham 
pensamentos diversos sobre as principais 
questões do momento. Não é assim?
Quando os jornais, emissoras de tele-
visão e de rádio não exercem ou não podem 
exercer livremente sua atividade primordial 
de informar livremente e de forma ver-
dadeira, ou seja, quando não usam de sua 
liberdade de expressão, cria-se uma grave 
distorção no processo democrático. 
Pelo contrário, ao permitir que a socie-
dade tenha conhecimento da informação, 
por meio da apuração, investigação e difu-
são de fatos verídicos, a mídia permite que a 
sociedade tenha acesso ao que realmente 
está acontecendo, coisas que na sua rotina 
diária de cidadão comum não o teria, o que 
acaba por fortalecer a capacidade de avalia-
ção crítica por parte cidadão(a)/eleitor(a). 
Em outras palavras, se a mídia informa que 
determinada gestão de governo está ruim, 
atuando de forma irregular, as pessoas ten-
dem a querer mudar a forma de governar, 
e/ou até mesmo a mudar as pessoas que 
estão à frente dessa gestão. Mas se as no-
tícias dão conta de um momento positivo 
e de crescimento, é natural que as pessoas 
desejem deixá-lo como está e até a apoiem.
Nesse sentido, para que a democracia 
seja realmente o “governo do povo”, as pes-
soas devem ter acesso ao máximo de infor-
mações possíveis, e a partir de diferentes 
fontes. Afinal, cada jornalista, cada empresa 
de comunicação têm o direito de interpretar 
determinado fato de acordo com seu ponto 
de vista, desde que sejam pautados pela 
verdade dos fatos. Seus leitores, ouvintes, 
telespectadores, consumidores de infor-
mação, enfim, também têm o direito de ler, 
ouvir e assistir a diferentes opiniões para, 
ao final, formar a sua. Só assim a socieda-
de terá o poder de analisar e julgar correta-
mente se os seus representantes políticos 
estão honrando o mandato provisório que 
lhes foi conferido.
O jornalismo investigativo, modo de 
apuração jornalística assumida ora mais ora 
menos pelas empresas de comunicação ao 
redor do mundo, ocupa um papel funda-
mental na busca por fatos que comprome-
tam o discurso de políticos e empresas. Ou 
seja, atuam como braço de controle social 
sobre as instituições. No Brasil, podemos 
citar como exemplo a Pública: Agência de 
Reportagem e Jornalismo Investigativo, 
que oferece aos seus leitores um amplo 
Para Refletir
É importante que você saiba que 
canais de televisão e de rádio são 
concessões públicas, outorgadas 
pelo Estado, com prazo de validade, 
e, portanto, devem ser, mais do 
que qualquer outro veículo de 
imprensa, submetidos ao controle 
da sociedade. Assim, devem 
atuar, sobretudo, de acordo com 
os interesses da população.
Pense Nisso
Você já observou como são comuns 
exemplos de regimes políticos e 
gestões governamentais, no Brasil 
e no mundo, que acabam sendo 
influenciados e mesmo modificados 
para melhor por práticas jornalísticas 
críticas e independentes? Esse 
trabalho positivo da imprensa acaba 
tornando-se um forte instrumento de 
controle social, pois incentiva ações 
transparentes, lícitas e rigorosas por 
parte de gestores nos três poderes: 
Legislativo, Executivo e Judiciário, 
além de fortalecer a atuação de 
órgãos e instituições fiscalizadoras. 
leque de análises sobre a política brasileira. 
Para aprofundamento, sugerimos acessar o 
site da Associação Brasileira de Jornalismo 
Investigativo (Abraji): abraji.org.br.
Nessa busca por mais controle social, 
foi fundamental a instituição no Brasil da 
Lei de Acesso à Informação, a LAI (Lei nº 
12.527/2011). A Lei passou a permitir que 
qualquer cidadão, pessoa física ou jurídica, 
possa receber informações sobre entida-
des ou órgãos públicos sem a necessidade 
de apresentar um motivo. Dessa forma, a 
legislação permitiu a jornalistas, políticos e 
sociedade em geral aumentar as formas de 
controle público sobre o Estado.
53CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
Controle social 
não é censura
Agora que você já entendeu como é im-
portante o papel da imprensa, independen-
temente do seu veículo (jornal, TV, rádio, 
internet) ou suporte (papel, smartphone, 
tablet), vamos agora pensar juntos sobre o 
porquê que a sociedade deve ler, acompa-
nhar e criticar abusos por parte das empre-
sas de comunicação. Aliás, você sabe onde e 
como surgiram os mecanismos de controle 
social sobre os meios de comunicação? 
Controle social sobre 
os meios de Comunicação
“Onde a imprensa é livre e todo 
homem capaz de ler, tudo está 
seguro.” (Thomas Jefferson, 3º 
presidente dos EUA e o principal 
autor da sua Declaração de 
Independência, em 1776) 
Em julho de 2011, a sociedade bri-
tânica ficou chocada ao saber que um 
detetive contratado pelo jornal News of 
the World, com 168 anos de atividade e 
cuja tiragem chegava a 2,8 milhões de 
exemplares a cada domingo (era o jornal 
mais vendido da Grã-Bretanha), havia in-
terceptado ilegalmente o celular de uma 
garota (13 anos) desaparecida, apagando 
mensagens deixadas na sua caixa de en-
trada, o que provocou esperanças na fa-
mília e na Polícia de que ela ainda estives-
se viva. Porém, ela foi encontrada morta 
pouco tempo depois, o “grampo” do ta-
bloide descoberto e o assassino preso. 
O News of the World, que não teria feito 
isso apenas dessa vez, tendo grampeado 
até telefones de membros da família Real 
e de celebridades, anunciou cooperar na 
investigação das interceptações e demi-
tir os responsáveis. Mesmo assim, muitos 
anunciantes e leitores o deixaram e ele 
acabou fechando as portas. O caso inspi-
rou uma grande discussão na Inglaterra e 
no mundo sobre os limites do jornalismo 
e a necessidade de regulamentação das 
empresas de comunicação.Você Sabia?
Que em março de 2017, foi sancionada 
pela Presidência da República a Lei nº 
13.424/17, que estabelece prazos e 
simplifica os processos de renovação de 
outorga de rádios e emissoras de TV? 
Agora, as emissoras de rádio e de TV podem 
funcionar em “caráter precário”, caso o 
prazo da concessão tenha vencido antes da 
decisão sobre o pedido de renovação. Ou 
seja, a emissora terá uma licença provisória 
de funcionamento até a definição da 
renovação da outorga pelo Ministério das 
Comunicações e pelo Congresso Nacional. 
O texto também retira um trecho do 
Código Brasileiro de Telecomunicações 
(Lei nº 4.117/62), que estipulava como 
requisito para a renovação o cumprimento 
de todas as obrigações legais e 
contratuais de emissoras e a manutenção 
de “idoneidade técnica, financeira e 
moral, atendido o interesse público”.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE54
O Relatório Levenson 
“A imprensa causou dificuldades reais 
e, algumas vezes, estragos na vida de pes-
soas inocentes, cujos direitos e liberdades 
foram desprezados” (trecho do inquérito 
judicial produzido pela Justiça Britânica 
após o escândalo das escutas ilegais).
Pressionado pelo escândalo, o gover-
no decidiu estimular a criação de um órgão 
de autorregulação do setor, ou seja, quan-
do as próprias empresas decidem como 
punir quem ferir seu código de conduta, 
nascendo, assim, o Press Recognition Pa-
nel, o PRP (“Painel de Autorregulação da 
Imprensa”, em tradução livre). Apesar da 
pressão pública pela intervenção estatal, 
o PRP foi muito criticado por jornalistas, 
acusando-o de se tratar de um atentado à 
liberdade de imprensa naquele país.
No Brasil, um caso emblemático de 
erro e abuso por parte da mídia atingiu 
uma escola particular de Educação Infan-
til de São Paulo, em 1994. Os proprietários 
dessa escola foram acusados de pedofilia. 
Sem provas ou qualquer chance de de-
fesa, os veículos de imprensa acusaram, 
julgaram e condenaram os proprietários 
da instituição (a notícia reverberou até no 
exterior), apenas com base nas acusações 
de pais e mães alarmados com as “denún-
cias” de seus próprios filhos. Os sócios do 
estabelecimento eram acusados ainda de 
drogarem as crianças e de fotografá-las 
nuas. As acusações se mostraram, tem-
pos depois, completamente infundadas, 
mas os proprietários, mesmo inocentes, 
tiveram a escola e a residência depreda-
dos, recebiam ameaças por telefonemas 
anônimos, foram condenados pela mídia 
e submetidos ao linchamento popular. 
Alguns professores da escola, então de-
sempregados, passaram a ser vistos com 
desconfiança. A diretora da escola, falida, 
faleceu 13 anos depois, de câncer. O ma-
rido dela, proprietário da escola, teve um 
infarto naquele ano e faleceu em 2014, es-
perando ainda receber indenizações pela 
injustiça sofrida. Uma grande emissora de 
TV foi condenada, em 2012, a pagar R$ 1,35 
milhão para tentar reparar os danos mo-
rais sofridos pelos donos e pelo motorista 
da escola. Da mesma forma, dois grandes 
jornais paulistas e uma revista de alcance 
nacional. Todos recorreram.
Há ainda abusos mais sutis que po-
dem ser cometidos pela mídia, alguns de-
les em contraposição a outros princípios 
constitucionais, como o da dignidade hu-
mana e da inviolabilidade da honra e da 
imagem das pessoas, não tão perceptí-
veis quanto o ocorrido no caso da referi-
da escola. Por exemplo, se utilizar de seu 
poder de autoridade na sociedade para 
perseguir, ignorar ou proteger determi-
nado(s) político(s) e/ou grupo(s) econô-
mico(s). Por isso, muitos especialistas e 
profissionais da comunicação defendem 
a importância de haver um órgão de regu-
lação para essa atividade, assim como já 
acontece com a medicina, a engenharia, o 
direito etc. Contudo, isto ainda está longe 
de se tornar realidade no Brasil.
Por outro lado, vamos imaginar agora 
exemplos positivos da capacidade infor-
mativa da mídia. É o caso de ações so-
ciais, educativas e culturais que ganham 
Linchar: executar sumariamente, sem 
julgamento regular e por decisão coletiva 
(criminoso ou alguém suspeito de sê-lo); 
praticar violência contra alguém por 
suspeita de algo, independentemente de 
ter provas ou não.
55CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
Você Sabia?
Alguns estudiosos argumentam que é 
tamanho o poder de influência da mídia, 
que esta poderia ser chamada de Quarto 
Poder, em alusão aos três poderes: 
Executivo, Legislativo e Judiciário? 
respaldo e força por meio da imprensa e de 
outras mídias. Campanhas de vacinação, 
de incentivo à reciclagem de lixo, para a 
economia de água, contra a violência, pela 
paz, de programação artístico-cultural, no 
intuito de angariar fundos para grupos ca-
rentes, campanhas exitosas de cunho edu-
cativo, entre outras de apelo fortemente 
social, quando divulgadas e incentivadas 
pela mídia, e com determinada regularida-
de, ganham grandes proporções e trazem 
resultados positivos e concretos. 
No estado do Ceará, as campanhas 
de combate à dengue ou ao uso das dro-
gas, por exemplo, por ganharem o apoio 
das diferentes mídias, têm surtido efei-
tos muito mais evidentes do que se não 
tivessem esse apoio. 
E por falar nisso, você já parou para 
pensar quais os limites da imparcialidade 
jornalística? Na prática, é difícil para um 
jornalista não imprimir em uma mensagem 
Para Refletir
“Esse processo de transformação dos 
fatos sociais em fatos jornalísticos 
envolve toda uma técnica que, 
como tudo, não é neutra, ou seja, 
envolve seleções, cortes, descartes, 
inversões, relações e desconexões, 
entre outras medidas.” (Valério 
C. Brittos e Édison Gastaldo). 
Nesta passagem, os autores explicam 
ser questionável a neutralidade 
jornalística, já que a produção da 
notícia sofre a influência dos fatores 
subjetivos. Assim, é natural que duas 
pessoas, dois jornais, possam contar 
determinada história de maneiras 
diferentes, com detalhes distintos, 
por se tratarem de contextos de 
vida e de visões diferentes. 
Para Refletir
“Por que um veículo é imparcial? 
Para levar informação da forma mais 
verdadeira e honesta possível ao 
seu leitor, telespectador, ouvinte ou 
internauta. Porém, se ele esconder sua 
parcialidade, não estará transmitindo 
uma notícia com interesses escusos 
escondidos? Não seria, então, mais 
honesto com seu público e com a 
sociedade que a sua política editorial 
seja revelada? Esta seria uma forma 
inclusive mais democrática de 
interagir com o público? Para muitos 
estudiosos da Comunicação, o mais 
correto é que os veículos assumam 
claramente a sua postura editorial: 
se for imparcial, que a mantenham; 
se for parcial, que a identifiquem. ” 
(Vitor Orlando Gagliardo, jornalista, 
chefe de reportagem na TV Brasil.)
para sua conclusão. Alguns candidatos na 
campanha eleitoral à presidência da Re-
pública em 2014 haviam se comprome-
tido, em caso de vitória, a abrir o debate 
sobre uma regulamentação para o setor. 
O assunto, entretanto, não ganhou corpo 
após as eleições.
sua visão de mundo. Entretanto, o texto 
jornalístico deveria distanciar-se de análi-
ses subjetivas por parte do jornalista, mas 
até quando isso é possível?
O Brasil não dispõe de um órgão de 
regulamentação da imprensa com o poder 
de evitar abusos. Quem se sentir ofendi-
do por algum veículo de comunicação 
deve buscar na Justiça uma reparação, por 
meio de processo que pode levar décadas 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE56
O que muda 
para você?
A partir do que você estudou aqui, 
reflita e leia mais sobre a diferença 
entre o ato de censurar e o de 
regulamentar a imprensa. Será mesmo 
necessária essa regulamentação? A que 
ponto ela pode ser usada como ato de 
censura? Quem tem mais a ganharcom 
isso? A sociedade pode ser beneficiada 
ou não com tal regulamentação?
Para se defender de qualquer inter-
ferência externa, as empresas jornalísti-
cas argumentam que não podem admitir 
qualquer forma de censura. Argumentam 
ainda que um órgão de regulação pode ser 
aproveitado por um político para impedir a 
divulgação de acusações lícitas. Entretanto, 
pelas razões aqui demonstradas, não pre-
ver qualquer instrumento de controle sobre 
os meios de comunicação também pode 
soar como um atentado à democracia.
No Brasil, apenas os jornais A Folha de 
S. Paulo (desde 1989) e O POVO (desde 1994) 
adotam a política de ter um ombudsman 
(ouvidor), ou seja, um profissional jornalis-
ta que, além de ler e analisar diariamente o 
seu próprio jornal em diversos aspectos, o 
critica (não é fácil criticar colegas), recebe e 
responde às críticas de assinantes e leitores, 
promovendo uma autorreflexão importante 
sobre o fazer jornalístico. Claro que a exis-
tência das redes sociais já provoca um gran-
de controle no que é produzido e defendido 
pelos jornais atualmente. Veremos isso já, já.
57CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
Você sabe como a interação oferecida 
pelas redes sociais vem influenciando a 
classe e o fazer político? Falaremos sobre 
isso, agora.
Como encaminhar denúncias, 
reclamações ou sugestões que dizem 
respeito a órgãos ou serviços do 
Governo do Ceará
Como um novo ambiente de convi-
vência social, o mundo virtual não poderia 
deixar de se transformar em um importante 
palco de participação política. Do item dis-
cutido anteriormente para este, sem que 
você piscasse, observamos que surge um 
novo personagem no cenário de canais de 
controle social, antes ocupado apenas pe-
los órgãos de imprensa, como jornais, rá-
dios e TVs: as redes sociais.
Não há dúvida sobre a democracia 
digital proporcionada por esse instrumen-
to que não disitingue as pessoas pela sua 
classe social, instrução, cor, credo nem por 
outro fator qualquer, e que, por outro lado, 
ainda incentiva a formação e a organização 
de grupos (leiam-se “comunidades”) e a sua 
mobilização, bastando, para tal, ter a condi-
ção de se conectar à internet, algo cada vez 
mais simples e acessível.
O poder das redes 
sociais no processo 
democrático
A possibilidade dos representantes 
eleitos, dos órgãos da administração pública 
e de controle, assim como também de toda 
e qualquer organização, inclusive as mili-
tantes defensoras dos direitos humanos ou 
as engajadas em qualquer outras causas e 
ideais, se comunicarem diretamente com o 
cidadão sem se utilizarem da mediação dos 
veículos da imprensa, provocou uma mu-
dança bastante considerável no panorama 
da informação social, e poderia ter se torna-
do uma “grande revolução”, o que ainda não 
ocorreu, até o momento pelo menos, e os 
motivos serão aqui discutidos. 
De início, a instituição de websites 
por políticos e pelos governos aumentou a 
possibilidade de sua exposição, mantendo 
ainda o conceito unilateral de comunica-
ção presente na televisão, por exemplo. Ou 
seja, você teria acesso à informação, mas 
não poderia responder, interagir, questio-
nar o seu conteúdo. Não havia diálogo, 
mas apenas a exposição. Alguém fala e 
você ouve. Assim, foi estruturada a pri-
meira fase da internet. 
Entretanto, com o surgimento das 
chamadas redes sociais, o canal de co-
municação passou, então, a ter duas vias, 
de ida e de volta. A partir de comentários 
e avaliações, a opinião da audiência não 
somente passou a contar, mas se tornou 
parte do próprio conteúdo veiculado. Nes-
se contexto de interatividade, a chamada 
segunda fase de expansão da internet, 
o(a) leitor(a) não procura apenas a notícia, 
mas também as reações de outros leitores 
expostas nos comentários e avaliações. Na 
verdade, esse consumidor de informação 
deixa de apenas consumir, mas também as-
sume o papel de produzir informação. Você 
ouve, mas você também fala.
O Facebook, uma das principais redes 
sociais utilizadas hoje no mundo, afirma 
que tem mais de 2 bilhões de pessoas com 
Interatividade: ato ou faculdade 
de diálogo, trato, contato; conjunto 
de ações e relações entre membros 
de um grupo, entre membros 
de uma comunidade ou entre a 
sociedade e o Estado, realizado 
presencial ou virtualmente. 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE58
acesso à sua plataforma (quase um terço 
dos habitantes do planeta). É sabido que a 
internet popularizou-se, em especial, a partir 
de seu fácil acesso em dispositivos móveis 
(mobile), como tablets e, principalmente, em 
aparelhos celulares (os smartphones). Hoje, 
os ativistas exercem pressão sobre o Estado, 
assim como exercem sobre as empresas, ce-
lebridades, instituições, através de recursos 
da internet. São os chamados militantes di-
gitais. Por meio de campanhas temporárias 
ou permanentes, essa nova geração une-se 
para defender determinada ideia. Utilizando-
se de hashtags (#) nasce uma nova forma 
de controle social pelo cidadão. Aliás, é bom 
ressaltar que esse espaço dialógico tem in-
tensificado a voz de grupos representativos 
de minorias formados por militantes e redes 
de organizações civis.
Um fator muito positivo no emprego 
dessa tecnologia, é que os aparelhos telefô-
nicos atuais nos permitem filmar, fotogra-
far, gravar áudios. Todo esse conteúdo co-
letado serve como “argumento/prova” para 
denúncias, sugestões, críticas etc., como a 
observação de uma viatura policial ou de 
um carro do governo estacionado em local 
irregular em dia ou horário não útil, o mal-
trato de um funcionário de órgão público, a 
presença de macas em corredores de hos-
pitais, o descumprimento das leis do trân-
sito, buracos em vias públicas, imagens que 
se tornaram bem comuns em telejornais.
Contudo, justamente por essa aces-
sibilidade e facilidade de operações, inclu-
sive do anonimato e desconhecimento de 
suas fontes, é fundamental que você aten-
te para os riscos inerentes a uma mídia tão 
volátil, imediatista e rápida como é o caso 
das redes sociais. 
De fato, redes conhecidas como Face-
book, Twitter e WhatsApp, por exemplo, 
podem ser consideradas verdadeiras revo-
luções da era digital, que alteraram e ain-
da alteram as formas de convivência e de 
cultura de uma sociedade. Mas o grande 
problema surge quando alguns usuários se 
fazem passar por outras pessoas ou insti-
tuições, criando páginas com perfis falsos 
(fakes), conduta extremamente fácil e co-
mum de ser praticada no meio eletrônico. 
Com as redes sociais, a sociedade, ao 
mesmo tempo em que tem mais acesso e 
de forma mais rápida a todo tipo de infor-
mação, também está sujeita em todo mo-
mento de receber informações inverídicas 
(boatos) e ilícitas (não nos deteremos aqui 
à complexa questão da ética nas redes so-
ciais), as denominadas fakenews, compar-
tilhadas por amigos e pessoas de boa-fé, 
que, por estarem ainda aprendendo a con-
viver com essa “nova cultura”, acreditam 
que tudo que vem das redes sociais seja 
verdadeiro, o que pode causar prejuízos 
incalculáveis, como no caso da escola que 
vimos anteriormente. E você já percebeu 
como esse tipo de postagem se alastra fácil 
e rapidamente? 
Bem, daí a importância de você apren-
der a consultar canais de comunicação e 
da imprensa de credibilidade, por meio dos 
veículos de massa, como rádio, TV e jornais 
impressos, mas também pelas suas redes 
sociais e portais eletrônicos, garantindo a 
informação de qualidade. Entretanto, não 
devemos nos deter apenas à consulta de 
redes vinculadas às empresas de comuni-
cação. Existem outros canais disponíveis no 
mundo digital que trazem informação segu-
ra. Afinal, o Governo Federal, com o intuito 
de intimidar a corrupção na esfera gover-
namental, promover a participação popular 
e fortalecer a cidadaniano país, assume 
políticas públicas que permitem obrigato-
riamente a disponibilização de informações 
e prestação de contas sobre as ações em to-
das as instâncias do Estado. É o exercício da 
transparência e do controle social que nos 
chega pela Lei de Acesso à Informação (LAI).
Outra fonte segura de informação da 
qual você não pode ficar de fora é o Portal da 
Transparência (transparencia.ce.gov.br). 
A cada ano, a quantidade de acessos ao 
Portal cresce, batendo recordes de partici-
pação social. 
59CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
Para Refletir
Sobre as mudanças no mercado de 
trabalho após as redes sociais: 
“Jovens em faculdades de Jornalismo 
ganham seu primeiro estágio não 
mais em redações, mas em pequenas 
agências que os contratam como 
analistas de redes sociais. Avaliam 
e classificam os humores da 
rede, pontuam as tendências dos 
argumentos favoráveis e desfavoráveis 
etc. Participam cada vez mais do jogo 
de avaliação e defesa de reputações, 
aptos a tentar controlar, a partir de 
uma boa mineração de dados, o que 
os outros estão fazendo.” (Sérgio A. 
Silveira, militante do software livre, é 
sociólogo, mestre e doutor em ciências 
políticas; Sérgio Braga, cientista 
político, doutor em desenvolvimento 
econômico e Cláudio Penteado, 
mestre e doutor em sociologia). 
Com este curso, cremos que esses 
números vão subir mais, pois você, ci-
dadão crítico, informado e participativo, 
também ficará, como a gente, de olho no 
Portal, não é verdade?
Muitas são as assessorias de comu-
nicação dos órgãos públicos que, cientes 
dessa realidade, e na tentativa de estrei-
tar os laços com o seu público, criaram seu 
perfil nas redes sociais e tentam por elas 
se comunicar, não se limitando a postar a 
informação em si, mas buscando provocar 
a interação com o cidadão, sabido que este 
pode contribuir muito na elaboração, na 
execução e na qualidade dos serviços públi-
cos prestados, opinando, compartilhando, 
denunciando irregularidades. As próprias 
respostas às postagens já trazem indicati-
vos importantes ao leitor atento.
Hoje, você, assim como nós, cidadãos/
cidadãs, temos mais recursos para sermos 
ouvidos e não podemos abrir mão disso. 
Em todo o país – mas aqui exemplificare-
mos utilizando o estado do Ceará – a Ouvi-
doria Pública, que você já conhece, recebe 
reclamações, sugestões, elogios, denúncias, 
entre outros. Pois bem, podemos apontar as 
ações da Controladoria e Ouvidoria Geral do 
Estado (CGE) como caminhos positivos no 
sentido de facilitar o acesso da população 
ao controle social sobre as práticas do Es-
tado. A CGE vem incentivando a participa-
ção popular na gestão pública, por meio de 
campanhas de conscientização e de outras 
ações, como este curso, por exemplo, no 
qual você já deve estar se tornando um ex-
pert e, esperamos, praticando a sua partici-
pação social. O exemplo da CGE mostra que 
os incentivos à participação popular têm 
avançado no Brasil, com apoio das diferen-
tes mídias, a exemplo das redes sociais.
Há ainda formas de militância digital 
que, embora consideradas positivas, são 
questionáveis quanto aos critérios da ética 
Redes Sociais da Controladoria 
e Ouvidoria Geral do 
Estado do Ceará (CGE)
Facebook: www.facebook.com/cgeceara
Twitter: @cgeceara
e da própria legalidade, como podemos ob-
servar na disputa entre Edward Snowden, 
Julian Assange e o Governo dos Estados 
Unidos. O ex-agente da CIA, agência de in-
teligência norte-americana, vazou para o 
portal Wikileaks, do ativista Julian Assange, 
documentos que comprovam que o gover-
no estadunidense mantinha um sistema de 
vigilância sobre todo o mundo, espionando, 
inclusive, chefes de Estado. Este tipo de 
ativismo digital, presente ainda em alguns 
ataques de hackers contra governos na-
cionais, aponta para a exigência de trans-
parência do Estado e para o total acesso a 
documentos sigilosos pela população.
Não podemos deixar de citar, ainda, a 
revolução que as redes sociais propiciaram 
à propaganda política, a partir, principal-
mente, da campanha de Barack Obama à 
Presidência dos Estados Unidos, em 2008. 
A equipe de campanha do então candidato 
democrata utilizou massivamente as redes 
sociais, obtendo com isso um grande su-
cesso. Esta campanha transformou o mar-
keting político, a tal ponto de, nos dias de 
hoje, não se conceber uma campanha sem 
uma forte presença nas redes. 
Consideremos também outra ferra-
menta que cresce a cada dia, que é a peti-
ção on-line, na qual milhares de brasileiros 
propõem pautas de discussões para os en-
tes federativos.
Julian Assange: jornalista e ativista 
da Informação Livre, é um dos 
responsáveis pelo portal Wikileaks, que 
revelou ao mundo as engrenagens da 
espionagem orquestrada pelo Governo 
dos EUA. Encontra-se, hoje, refugiado 
na embaixada do Equador em Londres, 
por receio de ser preso e extraditado 
aos Estados Unidos.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE60
Você Sabia?
Que o brasileiro passa mais tempo 
navegando na web do que à frente da TV? 
Só com o Facebook, os brasileiros gastam 
quase tanto tempo quanto ao dedicado a 
comer e a beber. Diante do visor do celular, 
passamos mais de três horas por dia. 
Considerando apenas os jovens, o número 
chega a quatro horas diárias. Se levarmos 
em conta que dormimos oito horas por 
dia, passamos quase 25% do nosso tempo 
disponível olhando essas pequenas telas. 
Para muitos jovens de hoje, parece difí-
cil imaginar um mundo sem internet. Você 
mesmo, que nasceu há mais tempo, brm 
antes desse “papo-web”, deve atualmente, 
diante de tantas facilidades, perguntar-
-se como era possível viver sem ela, não é? 
Tantas vantagens, tantos recursos... Pois 
é, mas apesar dessa importante ferramen-
ta estar totalmente inserida na sociedade 
atual, sua popularização só veio acontecer 
em meados da década de 1990, ou seja, há 
não mais de 20 e poucos anos. O próprio 
telefone celular e outros equipamentos ele-
trônicos, que até pouco tempo eram consi-
derados objetos de luxo, hoje alcançam os 
bolsos e as bolsas de quase a totalidade da 
sociedade, independentemente da classe 
social a que se pertence.
Vivemos hoje a era da informação. So-
mos, por assim dizer, somos a sociedade da 
informação. A dependência que adquirimos 
do mundo tecnológico, principalmente em 
termos de comunicação, com o surgimen-
to das tecnologias da informação, tem le-
vado pesquisadores a questionarem quais 
impactos esse novo estilo de vida poderia 
causar na sociedade e nos indivíduos desta 
e das futuras gerações.
Para uns, talvez os mais convencio-
nais, a tecnologia não deve ser entendida 
Sociedade da informação 
versus tecnologia 
da informação 
61CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
Você Sabia?
Que mais de 95% dos lares brasileiros 
possuem aparelho televisor? No Brasil, 
existem mais casas com televisor do 
que com geladeira. Apesar de uma 
queda em seu número registrada nos 
últimos dois anos, o Brasil possui 243 
milhões de linhas de celulares ativas, o 
que dá mais de uma por habitante. Mais 
de 90% dos lares brasileiros acessam 
internet pelo celular, percentagem 
maior do que via computadores.
(Ana Cristina Campos, em IBGE: celular 
se consolida como o principal meio de 
acesso à internet no Brasil, 2016).
como algo que transforma a sociedade, já 
que ela, por si só, não passa de um instru-
mento nas mãos dos homens. Para outros, 
está claro que o mundo tecnológico vem 
ditando mudanças em nosso meio social, e 
um bom exemplo disso vem de longe: a Re-
volução Industrial. Se considerarmos ver-
dadeira esta segunda afirmação, a questão 
passa a ser: quais impactos que tantas mu-
danças estariam gerando, e até que ponto 
elas seriam positivas?Nós, por exemplo, podemos apontar 
alguns impactos na sociedade causados 
pela presença da tecnologia da informação. 
Comecemos pelo impacto no mercado de 
trabalho. Sim, muitos jovens e adultos ti-
veram que se adaptar e integrar-se às tec-
nologias por necessidade profissional: “Al-
guns as recebem como algo externo (o que 
é exacerbado pela rapidez com que ocorre 
sua expansão), que chega e muda tanto a 
rotina pessoal quanto a profissional. Quem 
não se adapta corre o risco de ser excluído 
das relações interpessoais ou de trabalho, 
e quem se atualiza constantemente tem 
mais chances de compor os recursos hu-
manos da era da informação”. (Marconi Laia, 
Gerciana Lima e Liliam Pinto). 
Outro impacto significativo podemos 
literalmente assistir no setor de entreteni-
mento. Nunca tivemos acesso a tanto ma-
terial audiovisual, e nunca estivemos tanto 
tempo parados em frente a uma tela – seja 
de videogames de última geração, ou de 
serviços de programação via cabo, inter-
net ou satélite. Se, para alguns, a disponi-
bilidade de vídeos engrandece a cultura e 
a educação, para outros serve como pura 
distração, substituindo outras atividades 
importantes, como a leitura, exercícios fí-
sicos ou os relacionamentos interpessoais. 
Voltando às redes sociais, é importante 
acompanharmos seu movimento. Com elas, 
muitos estão aprendendo a se posicionar, 
a criticar, a ter conhecimentos sobre o que 
acontece em sua cidade ou no mundo. Mas 
Revolução Industrial: surgida ao 
final do século XVIII, é um divisor 
de águas na história. Esse processo 
de transição para novos processos 
de manufatura, pelo incremento da 
tecnologia, influenciou de alguma 
forma quase todos os aspectos da 
vida cotidiana da época.
podemos ser mais, nos envolvermos mais, 
a partir da seleção de informações com cre-
dibilidade e da postagem de conteúdo tam-
bém fiel. Podemos postar fotos, vídeos, áu-
dios. Sim, podemos. Entretanto, não seria 
melhor destinar esse conteúdo não apenas 
para o mundo de forma geral, disparando-o 
“às cegas”, mas enviando diretamente para 
aqueles canais que têm a missão de dire-
cionar esse mesmo conteúdo para aqueles 
que são responsáveis pelos diversos ser-
viços públicos e que podem resolver esse 
problema? Pense nisso! Pode ser que se 
surpreenda por não receber apenas outras 
lamentações e queixas, mas a solução ou o 
retorno que você espera e merece.
Considerações finais
As empresas de comunicação possuem 
uma função muito importante na socieda-
de, mantendo as pessoas informadas sobre 
os acontecimentos em nossa região, no país 
e no mundo, ao mesmo tempo que exercem 
uma atuação relevante de controle social 
sobre a administração pública, a classe po-
lítica e empresarial, denunciando abusos e 
irregularidades, como também anunciando 
e compartilhando iniciativas positivas. 
No entanto, também podem exercer 
uma influência negativa, utilizando-se 
de sua credibilidade e poder de penetra-
ção na sociedade para agirem em bene-
fício próprio. Por isso, a importância da 
pluralidade de opiniões e de instituirmos 
instrumentos de controle social sobre as 
empresas de comunicação, desde que 
este controle não se torne uma máscara 
de promoção da censura. 
Nesse fascículo, entre outros, com-
preendemos como a popularização da in-
ternet e das redes sociais modificaram a 
forma como o Estado, os políticos e a pró-
pria imprensa, entre outros, se relacionam 
com o cidadão, embora esse potencial de 
comunicação ainda seja subutilizado e, por 
vezes, usado de forma inadequada. 
Observamos aqui, como a publicidade 
e o jornalismo podem moldar, de certa for-
ma, nossa maneira de pensar, de ver e de se 
comportar no mundo, inclusive destruindo 
uns e reforçando outros preconceitos. 
Por fim, analisamos como a sociedade da 
informação, o mundo pós-internet em que vi-
vemos, trouxe mudanças para a nossa rotina 
social, ainda difíceis de serem percebidas por 
conta do seu caráter simbólico e difuso.
Contudo, o mais importante é que você 
compreendeu que existem diversas formas 
de potencializar a sua reclamação, direcio-
nar a sua crítica, ter a sua sugestão recebida 
e que pode e deve contribuir para a melho-
ria da qualidade dos serviços públicos. 
Pense coletivo!
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE62
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ibge-embardada-ate-amanha-10h-0604> 
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noticia/2012/09/numero-de-casas-com-tv-
supera-o-das-que-tem-geladeira.html>
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17. LAIA, Marconi Martins; LIMA, Gercina 
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18. CAVALCANTI, Tatiana. Internet vicia! 
Excesso pode causar doenças e depressão. 
Portal Terra, 03/07/2015. Disponível em 
<https://saude.terra.com.br/uso-excessivo-da-
internet-pode-causar-doencas-como-depress
ao,0689cd0f280c3ec5d3d4d954174c7e4696i
eRCRD.html>
19. LOURENÇO, Luana. Brasileiro passa 
mais tempo na internet do que vendo TV. 
Agência Brasil, 19/12/2014. Disponível em 
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/
noticia/2014-12/brasi leiro-passa-mais-
tempo-na-internet-que-vendo-tv> 
20. STEWART, James B. Pessoas gastam no 
Facebook quase o mesmo tempo que para comer 
e beber. In Folha de São Paulo, desde o New York 
Times. Disponível em <http://www1.folha.uol.
com.br/mercado/2016/05/1768613-pessoas-
gastam-no-facebook-quase-o-mesmo-tempo-
que-para-comer-e-beber.shtml>
21. AMARAL, Bruno do. Brasileiro usa celular 
por mais de três horas por dia. In Portal Exame. 
Disponível em <http://exame.abril.com.br/
tecnologia/brasileiro-usa-celular-por-mais-
de-tres-horas-por-dia/>
63CIDADANIA PARTICIPATIVA: CONTROLE SOCIAL AO ALCANCE DE TODOS
Benito Teixeira
Jornalista com 18 anos de experiência em reportagem, edição e assessoria de comunicação. 
Especialista em economia, mestre e doutorando em literatura pela Universidade 
Federal do Ceará. Tem experiência em redação e edição de livros, além de ser autor 
de outros conteúdos de cursos realizados pela Fundação Demócrito Rocha.
SOBRE O AUTOR
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) | Presidência João Dummar Neto | Direção Geral Marcos Tardin 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane) | Coordenação Geral Ana Paula Costa Salmin | Cidadania 
ParticipATIVA: controle social ao alcance de todos | Coordenação Geral e Editorial Raymundo Netto | Coordenação 
de Conteúdo Thais Pinheiro Holanda | Coordenação Pedagógica Ana Paula Costa Salmin | Edição de Design 
Amaurício Cortez | Projeto Gráfico Alessandro Muratore | Editoração Eletrônica Cristiane Frota | Ilustrações 
Rafael Limaverde | Audiofascículos Alexandra Souza | Catalogação na Fonte Cássia Barroso Alves
Este fascículo é parte integrante da coleção Cidadania ParticipATIVA: controle social ao alcance de todos, em 
decorrência do contrato celebrado entre a Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado do Ceará e a Fundação 
Demócrito Rocha, sob o nº 01/2017. | ISBN 978-85-7529-801-5
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP 60.055-402 - Fortaleza - Ceará
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 | Fax (85) 3255.6271
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