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Comunicação Política na Esfera Pública: Democracia, Eleições e Cidadania no Brasil Sociedade Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político – POLITICOM Comunicação Política na Esfera Pública: Democracia, Eleições e Cidadania no Brasil (Organizadores) Alessandra de Castilho Daniela Rocha Roberto Gondo Macedo POLITICOM São Paulo | SP | Brasil 2013 Comunicação Política na Esfera Pública: Democracia, eleições e cidadania no Brasil Copyright © 2013 Autores Diretoria POLITICOM (Gestão 2011 – 2014) Presidente – Prof. Dr. Roberto Gondo Macedo (Mackenzie) Vice-Presidente – Profa. Dra. Luciana Panke (UFPR) Diretor Financeiro – Prof. Dr. Paulo Cezar Rosa (UMESP) Diretora Editorial – Prfa. Ms. Daniela Rocha (UMESP) Diretora de Planejamento – Profa. Gil Castilho (ABCOP) Diretor de Tecnologia e Documentação - Prof. Ms. Victor Kraide Corte Real (PUC, Campinas) Diretor Científico – Prof. Dr. Luiz Ademir (UFSJ) Diretor de Relações Internacionais - Prof. Ms. Carlos Manhanelli (ABCOP) Diretora Cultural – Profa. Ms. Rose Vidal (UVV) Diretores Regionais Norte – Francisco Pinheiro (UFAC) Centro Oeste – Paulo Taques (ABCOP) Sudeste – Prof. Dr. Marcelo Serpa (UFRJ) Sul – Prof. Dr. Sérgio Trein (UNISINOS) Assessoria de Comunicação POLITICOM - Coordenação Alessandra de Castilho (UMESP) Comitê Científico Adolpho Carlos Françoso Queiroz (Mackenzie) Luciana Panke (UFPR) Luiz Ademir de Oliveira (UFSJ) Roberto Gondo Macedo (Mackenzie) Sérgio Roberto Trein (UniSinos) Sylvia Iasulaitis (UFG) Comunicação Política na Esfera Pública: Democracia, eleições e cidadania no Brasil Copyright © 2013 Autores Créditos Institucionais Universidade Metodista de São Paulo Reitor: Marcio de Moraes Pró-Reitora de Graduação: Vera Lúcia Gouvêa Stivaletti Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Fábio Botelho Josgrilberg FACULDADE DE COMUNICAÇÃO DIRETOR: Paulo Rogério Tarsitano COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL: Marli dos Santos UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciências, a Cultura Diretor Geral: Irina Bokova. Assistente do Diretor Geral para a Divisão de Comunicação e Informação: Abdul Waheed Khan Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional Equipe Executiva Diretor Titular: Prof. Dr. José Marques de Melo; Assistente Acadêmica: Francisca Rônia Barbosa; Capa: Victor Kraide Corte Real Diagramação: Daniela Rocha / Alessandra de Castilho Revisão: Roberto Gondo Macedo As informações e opiniões emitidas nos artigos são de inteira responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, posição oficial da Sociedade de Pesquisa POLITICOM e Cátedra UNESCO de Comunicação para Desenvolvimento Regional. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO CASTILHO, Alessandra de; MACEDO, Roberto Gondo; ROCHA, Daniela PREFÁCIO SANTOS, Marli dos (UMESP) PARTE I – DEMOCRACIA: O DEBATE CONCEITUAL NA POLÍTI CA REPRESENTATIVA A relação entre mídia e política à luz dos conceitos de indústria cultural e de esfera pública LEAL, Paulo (UFJF); TENÓRIO, Giiard (UERJ) Revisitando os conceitos de propaganda política em Jean Marie Domenach e seu impacto durante o governo militar de Costa e Silva QUEIROZ, Adolpho (Mackenzie); CIACCIA, Fábio (UMESP) Mobilizar é comunicar estruturas interpretativas: apontamentos para discussão e pesquisa sobre a comunicaçao dos atores coletivos PRUDÊNCIO, Kelly Cristina de Souza (UFPR) Por uma dialética da virtualidade: Reflexões sobre o uso de uma esfera pública virtual como conceito NARDIN, Daniel; ARAÚJO, Luisa (UnB) O letramento político construído pela mídia no Brasil TREIN, Sérgio (UNISINOS) PARTE II – ELEIÇÕES: A LUPA SOB AS ESTRATÉGIAS Blindagem como estratégia comunicacional em política PESSONI, Arquimedes (USCS); AMORIS, Valéria (USCS) Aspectos retóricos da atuação dos media training na campanha de Dilma Rousseff BAZANINI, Homero Memórias do Jornalismo Político no Governo de Fernando Collor de Mello CRUZ, Luciano; PERAZZO, Priscila “Telejornalismo e Eleições": o enquadramento de candidatos nos noticiários televisivos KUROVSKI, Alexandro A oligarquia perde o poder: o preço das sombras do passado! ROCHA, Daniela (UMESP) Características do discurso eleitoral no Facebook PANKE, Luciana (UFPR); THAUNY, Jeferson (UFPR) 08 09 12 25 39 52 63 77 94 107 131 149 165 PARTE III – CIDADANIA: O QUE OS ESTUDOS EMPÍRICOS T ÊM A DIZER? Tecno-governança: a profusão tecnológica e o controle sociopolítico VIDAL, Rose (UVV) Desafios para uma comunicação política na administração pública de pequenos municípios brasileiros DALBOSCO, Vagner (UNOCHAPECÓ) Tu és Pedro, e sob esta pedra edificarei minha igreja: a bancada evangélica e a imposição da moral cristã em projetos de lei em trâmite no Congresso GANDIN, Lucas; BUBNIAK, Taiana Loise Comunicação governamental como base para a comunicação eleitoral: o caso de Guarulhos (2000 a 2012) ANDRELINO, Elaides Comunicação governamental, cidadania e novos hábitos: uma análise do projeto “respeite o pedestre” na cidade de São Paulo MACEDO, Roberto Gondo (Mackenzie) A esfera pública de comunicação online: perfis oficiais da Rio+20 nas mídias sociais da internet CASTILHO, Alessandra de (UMESP); MIAN, Mariella Batarra (UFABC) O ciberespaço como uma nova dimensão da esfera pública: a cobertura da campanha presidencial de 2010 nos blogs de Josias de Souza e Luis Nassif OLIVEIRA, Luiz Ademir de (UFSJ); NASCIMENTO, Wanderson Antônio do (UFSJ) SOBRE OS AUTORES 183 194 208 227 236 248 261 277 8 APRESENTAÇÃO Alessandra de Castilho Daniela Rocha Roberto Gondo As ações comunicacionais na contemporaneidade estão cada vez mais convergentes e interligadas com o contexto tecnológico digital. Nesse sentido, as duas esferas de poder: pública e privada devem compreender os fenômenos de mudança da sociedade, com vistas em desenvolver ações factualmente exitosas e com grande capacidade para gerar resultados. O objetivo da obra é apresentar um panorama de investigações que versem acerca da comunicação política no dinamismo da Esfera Pública nacional. Com análises regionais, a Organização pretende corroborar para o fomento do debate científico na área comunicacional e amparada nos pilares da política e democracia. A obra também representa o esforço coletivo de pesquisadores participantes da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político – POLITICOM, provenientes de diversas Universidades de vários estados da federação brasileira, representando a importância de compreensão regional no momento de estabelecer análises da conjuntura política e importância da comunicação nesse cenário. A aliança com a Cátedra UNESCO de Comunicação para o desenvolvimento regional também representa uma coroação no trabalho de pesquisa, visto sua representatividade nacional e internacional. Poder desenvolver projetos editoriais integrados com a Cátedra UNESCO de Comunicação e uma forma de construir futuro sempre se relacionando com os bons momentos do passado, já que foi por estímulo do Catedrático José Marques de Melo, que a POLITICOM iniciou sua trajetória de trabalho, pelo articulador e atual Presidente de Honra da entidade, Adolpho Queiroz. As vertentes: democracia, eleições e cidadania foram colocadas em foco, visto a importância do conceito cidadão em sociedades democráticas que visam consolidação e aperfeiçoamento do processo de participação social. Ainda mais em um momento da história política brasileira tão representativacomo as manifestações ocorridas no primeiro semestre de 2013, representando um novo olhar e compreensão no dinamismo político nacional. A leitura dos artigos nos remete em uma reflexão profunda acerca dos estímulos sociais mais importantes e necessários para a construção de uma sociedade mais integradora e participativa. As abordagens e focos específicos são de alta pertinência vista a importância das ações de análises regionais e compreensão das especificidades dos blocos e espaços. Desejamos uma ótima leitura e que nossa rede de pesquisa possa evoluir e crescer de modo sustentável e acolhedor, com vistas a promover uma qualidade de análise importante para o desempenho cívico de ser um agente multiplicador do senso democrático e participativo. 9 PREFÁCIO Ao nos depararmos com o título desta obra, “Comunicação Política na Esfera Pública: democracia, eleições e cidadania no Brasil”, nos vem à mente, obrigatoriamente, o conceito de esfera pública proposto por Jürguen Habermas. A esfera pública surge após a revolução burguesa, no final do século XVIII e início do XIX, em que as relações de forças entre Estado e Sociedade se dão. A esfera pública, então, constitui esse lugar de debate, em que a sociedade civil organizada se coloca diante das questões públicas. É o berço da opinião pública tal qual a conhecemos hoje, um lugar em que as ideias, os argumentos, o direito da livre expressão devem ocorrer. Não à toa, o jornalismo ganha impulso nesse período. As publicações que surgiram nesse momento histórico ganharam força e importância por serem palco de disputas de ideias e de ações políticas e pela agilidade em disseminar tais ações. Embora o DNA da democracia tenha origem mais longínqua, na ágora grega, a opinião pública ganhou outro sentido a partir desses acontecimentos e foi crucial para a consolidação das democracias. Até chegar aos dias atuais, quando vemos surgir a internet, que influenciou o modo de se fazer política, de chegar à opinião pública. O pesquisador Massimo Di Felice, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que a tecnologia digital e a internet nos levam a pensar em uma nova esfera pública. Talvez uma ágora virtual, na qual há um comportamento colaborativo, de adesão às causas de interesse público, e onde o cidadão pode se manifestar, sem recorrer unicamente aos veículos de comunicação de massa. Assim temos uma comunicação política mais colaborativa. Democracia, cidadania e esfera pública são condições preciosas para o exercício político, e esta obra, organizada por Roberto Gondo, Alessandra Castilho e Daniela Rocha, parte do princípio fundamental: discutir conceitos preciosos sobre e para a comunicação política. Nessa primeira parte, “Democracia: o debate conceitual na política representativa”, há o debate sobre a indústria cultural e a esfera pública; a respeito da propaganda política e seu impacto nos eleitores; o papel da comunicação na mobililização e engajamento político; e por fim reflexões acerca da “esfera pública virtual”. As tecnologias digitais estão presentes no dia a dia do brasileiro, porém, não há como negar a importância dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública no Brasil, especialmente da televisão. Não à toa as disputas pelo horário gratuito eleitoral no rádio e na TV pelos partidos políticos são acirradas. Os políticos se articulam rapidamente, sabem que é preciso se comunicar com o eleitor. Em um segundo momento no livro, “Eleições: a lupa sob as estratégias”, os organizadores reúnem autores que vão discutir as estratégias comunicacionais na política do dia a dia e em campanhas eleitorais. Blindagem, retórica, relacionamento com a imprensa, cobertura política, atuação em redes sociais, fora as oligarquias! São as estratégias comunicacionais focadas em disputar a atenção do cidadão. Mas nem sempre as estratégias dão certo, porque se não forem pautadas pela ética perdem o seu sentido fundamental. Não há democracia sem ética, sem respeito ao povo. No Brasil, apesar de muitos profissionais de marketing e de comunicação produzirem campanhas competentes e honestas, não há como esquecer dos “mensalões” e de tantos escândalos de corrupção relacionados a partidos, candidatos e representantes do povo nas diversas instâncias governamentais. A competência profissional tem levado comunicadores e marqueteiros a ter em mente que não se pode simplesmente “fabricar” candidatos. Há algum tempo os “magos” do marketing político saíram de moda, e o que deve valer mesmo nesse cenário tão robusto de informação e comunicação, é que os políticos precisam saber se comunicar, e que a comunicação 10 política é essencial para o fortalecimento da democracia, não só em período eleitoral, mas como compromisso dos governos transparentes. Por fim, a obra nos remete às pesquisas de campo, ou seja, partimos dos conceitos para adentrar nas estratégias comunicacionais e em seguida saber o que efetivamente está acontecendo na prática. “Cidadania: o que os estudos empíricos têm a dizer?” Tem muito a dizer! Como demonstram os pesquisadores que compõem esta terceira e última parte do livro. Sob vários ângulos e circunstâncias, os autores dos artigos reunidos nessa seção mostram como a comunicação política ocorre em metrópoles, como São Paulo, em grandes cidades, como Guarulhos, ou mesmo em pequenas cidades, em momentos diferentes: períodos eleitorais, cotidiano ou mesmo relacionada a grandes eventos, como a Rio + 20. Redes sociais e a tecno-governança como forma de controle social e político também são temas desse bloco. Salta aos olhos a coerência na estrutura e nos temas propostos em cada artigo presente nesta obra. As três partes, que abarcam conceitos, estratégias e estudos de caso, propõem reflexões com base em análises comprometidas com o conhecimento já consolidado no campo da comunicação política e de novas abordagens sobre a área no espaço virtual. Parabéns aos autores. Marli dos Santos, Jornalista e doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo 11 12 A RELAÇÃO ENTRE MÍDIA E POLÍTICA À LUZ DOS CONCEITOS DE INDÚSTRIA CULTURAL E DE ESFERA PÚBLICA Paulo Roberto Figueira Leal Universidade Federal de Juiz de Fora Giliard Gomes Tenório Universidade Estadual do Rio de Janeiro INTRODUÇÃO A interface surgida entre os campos da política e comunicação adquire particular importância nos dias atuais. Mediante os avanços tecnológicos contemporâneos, as mensagens veiculadas pelas mídias atingem um público cada vez maior, numa velocidade nunca antes imaginada. Mesmo as comunidades mais distantes têm hoje a possibilidade de se verem incluídas nos principais debates da atualidade, recebendo diretamente em suas casas as principais informações e notícias sobre o que ocorre no mundo político. O fazer político é cada vez mais associado e dependente do fazer comunicacional. Cada vez mais as rotinas de produção e de ação política passam a necessitar da linguagem e dos mecanismos dos meios de comunicação de massa. Assiste-se aqui a um aprofundamento da relação entre estes dois campos, trazendo como consequência a crescente necessidade de se estudar e compreender esta interface. O presente trabalho alinha-se a essa perspectiva de estudar as interconexões entre comunicação e política, tentando articular conceitos formulados em ambas as áreas a fim de compreender suas relações recíprocas. Diante da análise desse processo, permite-se a discussão dos imperativos que fizeram o campo político assumir de vez a utilização da linguagem e dos suportes comunicacionais como uma ferramenta para dar conta de seus objetivos - a tarefa de “conquistar corações e mentes”. Alinguagem do mundo político utiliza-se de mecanismos tradicionalmente empregados no mercado publicitário convencional, paralelamente ao declínio do discurso ideológico e partidário, ou seja, dos elementos que (ao menos em tese) faziam da discussão política um exercício de racionalidade. A questão tratada diz respeito a como esse processo de transformação da política em mercadoria assemelha-se à lógica de produção industrial de bens culturais, tal como estudado pela Escola de Frankfurt - produtos marcados por características como estandartização e fabricação em larga escala. Que consequências estão associadas a esse fenômeno e que impactos isso traz para a 13 constituição de uma verdadeira esfera pública, tal como conceituada por Habermas? É o que se discute a seguir. O DEBATE SOBRE MÍDIA E ELEIÇÕES À LUZ DOS CONCEITOS DE INDÚSTRIA CULTURAL E ESFERA PÚBLICA Os processos trazidos pela espetacularização da política têm em seu eixo central as mudanças ocorridas nos campos da comunicação e da política, e principalmente na interface que há entre ambos. O fenômeno eleitoral desenha-se hoje com a inegável hegemonia da mídia. Um primeiro fator de clara evidência nesse sentido é a mediação realizada pela comunicação entre os atores políticos e os cidadãos/eleitores. As mensagens políticas são emitidas aqui não mais como mero conjunto de informações, mas como produto planejado, construído em massa e com dados minuciosamente escolhidos em vista de um público já diagnosticado em suas características e, principalmente, em seus gostos e desejos. Estas mensagens surgem agora como mercadoria, especificadamente produzida em vista de um público consumidor. O fazer político passa a depender então dessa indústria a fim de atingir seus objetivos. Planejamento, produção em massa, projeção de mercado consumidor. Estas e outras características presentes na comunicação política guardam grande identidade com um outro conceito muito bem conhecido no campo comunicacional: o de indústria cultural. A mídia surge aqui, assim como na definição de Theodor Adorno e Max Horkheimer (1985), como uma verdadeira fábrica de conteúdos (informações, notícias etc.), tudo isso inserido num mercado maior, com produtores e consumidores bem definidos. Afinal, a participação política hoje pode ser definida como uma mera relação de consumo de mercadorias simbólicas previamente produzidas? Como, de fato, o público em questão, o coletivo de cidadãos que compõem a sociedade, se relaciona com as informações emitidas pelos atores políticos por meio da mídia, num contexto de produção industrial e consumo de massa da informação política? A lógica trazida por essa indústria da comunicação política pode ser considerada contraditória ao que inicialmente pensou-se ser sua meta. A comunicação na política surgiu com o objetivo claro de melhor informar os indivíduos que compõem a sociedade, a fim de que assim elas tivessem condições de pensar e discutir as posições colocadas e finalmente tomar uma posição. Teoricamente, através dos meios comunicacionais, abre-se a possibilidade de existência de contraditório, de debate, de um verdadeiro espaço público, a partir do qual os cidadãos/eleitores terão sua participação política definida e baseada numa postura reflexiva. Mas, para Adorno e Horkheimer, a hegemonia da racionalidade técnica não reconhece limites. Está presente em todas as formas de predomínio do homem sobre o mundo, sobre as coisas 14 e sobre si próprio. Com a ascensão dos meios de comunicação, ela atingiu definitivamente a cultura, impondo a estas sua dominação e características. Sob "o louvor ao ritmo do aço", imprensa, rádio, cinema e TV se tornam um sistema da indústria cultural e, sob esta, aceitam-se como mercadoria, como produto de uma cultura única, que não permite variações. É a padronização imposta pela racionalidade de quem tem que produzir em massa. Todos os produtos culturais passam então a trazer dentro de si a marca dessa nova indústria. Qualquer que seja a obra, ela acaba por se inserir dentro da lógica de produção capitalista. Tudo é passível de cópia e reprodução em larga escala: "[...] apesar de toda a atividade trepidante, o pão com o que a indústria cultural alimenta os homens continua a ser a pedra da estereotipia" (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 139). Mesmo os objetos de arte não comunicam hoje outra coisa senão sua transformação em mercadoria. Inserida no regime econômico do capitalismo e produzida em larga escala, a cultura assume definitivamente seu caráter de mercadoria, mediando as relações entre a indústria cultural e o público, agora consumidor. Para atuar enquanto mercadoria, a cultura passa a necessitar de publicidade, não a fim de orientar sobre que produto buscar, mas para reiterar o quão importante é aquele bem para as pessoas. Da mesma forma intempestiva com que alcançou os bens culturais, assim também a indústria cultural procedeu com os homens. A estes coube primeiramente o papel do consumidor, aquele a quem os produtos e as mercadorias se destinam. "A violência da sociedade industrial instalou-se nos homens de uma vez por todas. Os produtos da indústria cultural podem ter a certeza de que até mesmo os distraídos vão consumi-los alertamente." (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 119). Além disso, o processo de produção visa fazer com que todos os tipos de gostos e desejos estejam previamente disponibilizados a todo o público no mercado. Para o consumidor, não há nada mais a classificar que não tenha sido antecipado no esquematismo da produção.(ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 117). Dessa forma, toda pessoa torna-se um potencial consumidor, reproduzindo mais uma vez a lógica de dominação da racionalidade: de estar em tudo e em todos. A partir de então, a indústria cultural, através principalmente dos meios de comunicação de massa, passa a ter um papel preponderante na vida cotidiana das pessoas. A dominação imposta pela racionalidade técnica foi facilmente assimilada pelas massas, obrigadas a se inserir nas engrenagens do capitalismo e do esclarecimento: "Quem não se conforma é punido com uma impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do individualista" (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 125). Os produtos dispostos no mercado cumprem a função de seduzir os homens, atraídos pela promessa de prazer, mas impedidos de usufruí-lo. 15 A lógica dos produtos oferecidos pela indústria cultural muda completamente a forma como os homens interagem entre si e com o mundo. Uma vez tornados meros espectadores, perde-se qualquer possibilidade de reflexão sobre as obras. A imaginação e a espontaneidade das pessoas se atrofiam pela dominação imposta sobre a atenção. "Os próprios produtos – e entre eles em primeiro lugar o mais característico, o filme sonoro – paralisam essas capacidades em virtude de sua própria constituição objetiva" (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 119). Uma das melhores formas de mediação entre os produtos culturais de massa e o público é a diversão. Divertir-se significa esquecer-se do mundo e do que ele tem de pior: as obrigações do trabalho, baixos salários, problemas pessoais. Mas é também ela quem abre caminho para a dominação exercida. "A verdade em tudo isso é que o poder da indústria cultural provém de sua identificação com a necessidade produzida" (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 128). Dessa forma, conjuga-se o viver e suas dificuldades com a promessa de futuramente divertir-se, ou melhor, conjuga-se o viver com a busca pela diversão contida nas mercadorias oferecidas pela indústria cultural. "Divertir-se significa estar de acordo. [...] É na verdade uma fuga, mas não, como afirma, uma fuga da realidade ruim, mas da última ideia de resistência que essa realidade ainda deixa subsistir" (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 135). A diversão torna-se ainda um prolongamento dotrabalho sob o capitalismo tardio. Surge então como uma forma de escape, procurada por aqueles que desejam distanciar-se, ainda que momentaneamente, do processo de trabalho mecanizado, a fim de pôr-se novamente em condições de enfrentá-lo. O ESPAÇO PÚBLICO E O PAPEL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Se os autores seminais da teoria crítica – os apocalípticos Adorno e Horkeimer – traçam o sombrio panorama acima discutido (de certo modo demonizando os meios de comunicação de massa e os conteúdos que por eles circulam), ainda na tradição frankfurtiana surgem outras perspectivas mais matizadas. É o caso de Jürgen Habermas. De suma importância na tentativa de compreensão da atual sociedade, os termos público e esfera pública guardam hoje em dia uma complexa multiplicidade de significados, sem que se consiga uma definição mais precisa. Eles fazem referência aquilo tudo que está aberto ou de pertencimento de todas as pessoas. Assim, diz-se que um evento é público quando não há restrições para sua participação; ou que determinado prédio é público por ele pertencer ao Estado, espécie de organismo dotado de poder por meio da concordância de todas as pessoas da sociedade, e com possibilidade de ação sobre a organização da vida das mesmas. Estas constituem assim uma esfera pública, e cada uma individualmente é portadora de uma opinião – opinião pública (HABERMAS, 1984, p. 14). 16 Inicialmente, é difícil apontar quais são os limites que separam uma esfera pública de uma outra privada, referente à individualidade e à intimidade de cada pessoa, uma vez que no modelo clássico ou mesmo no moderno não há uma clara antítese entre estes espaços. Tais liames só começam a ser melhor percebidos por meio da análise da evolução histórica da sociedade. Uma das primeiras referências feitas a um “espaço público” está na ágora grega, local da definição comum, pública, dos destinos da pólis. Em contraposição a esta encontra-se a koiné, a casa onde reside a família do cidadão grego, esfera íntima mas que o credencia a participar das discussões públicas que constituem a cidadania grega. É nos tempos do feudalismo que a esfera pública começa a despontar com maior precisão. A partir de então, o elemento público passa a ser uma das principais chaves de compreensão da estrutura política e de sua justificação. Todos os adereços, toda a suntosidade, todo o cerimonial, revestem-se, a partir de então, de um caráter de publicidade. E o que se torna público é outra coisa senão a dominação exercida pelos príncipes e reis, que se assumem como “o país”. Mais: ao invés de fazer pelo povo, fazem-no perante o povo [grifos do autor] (HABERMAS, 1984, p.20). Uma vida propriamente pública passa a acontecer no entorno das autoridades, mas também em sua casa. Os palácios não representam a intimidade dos monarcas, mas sim onde a vida social do reino tem seu espaço, seja ele para decisões importantes, seja ele para festas. De toda forma, o conceito de publicidade vai cada vez mais ligando-se ao Estado, o que será determinante para sua compreensão frente aos conceitos de esfera privada. É este o momento quando, impulsionado pelo crescimento das cidades e, principalmente, da economia das cidades, o aparato estatal reage com a criação de estruturas de burocraciae mediação, tais como o dinheiro e os impostos. É este o momento de formação de um modo capitalista de produção. As medidas do Estado voltam-se para a administração e regulamentação dessa produção. As mercadorias produzidas ganham cada dia mais um público consumidor, e nesse sentido necessitam circular, sair de seu local de produção e atingir os “pontos de venda”. Concomitantemente às mercadorias, desenvolve-se também uma grande circulação de informações, a grande maioria delasa respeito mesmo de assuntos mercantis, e por isso mesmo de grande interesse dos mercantilistas. Uma imprensa se forma, dando conta dessa nova necessidade e de uma nova realidade para o conceito de espaço público. Assiste-se à transformação de jornais e informações em mercadorias. Estes adquirem uma maior importância à medida que se tornam veículo para a publicação dos decretos do poder público. Mas não se pode dizer que estas notícias atingissem uma grande quantidade de pessoas. Pelo contrário, “[...] comumente, ela não atinge, assim, o ‘homem comum’, mas, se muito, as ‘camadas cultas’” (HABERMAS, 1984, p.37). “Camadas cultas” fazem aqui referência a uma população predominantemente burguesa, seja a origem desta na burocracia estatal ou no mundo do comércio. 17 Inicialmente, na sociedade capitalista, o ciclo de discussões ocorre em torno de uma esfera pública literária, e não propriamente política. Ela encontra espaço nos cafés, onde as discussões avançam sobre a arte e a literatura, encontrando grande força nas opiniões expressas nos primeiros veículos impressos, que nesta época começam a circular. Ali se instituiu o julgamento leigo sobre o teatro, a música e a pintura. Os debates possuíam critérios de participação, a fim de que isso possibilitasse acesso a todos. Pressupunha-se uma igualdade de status, que eliminava supostas diferenças que nobreza ou riqueza trariam; e universalização dos temas, além de pleno acesso aos locais das disputas. Este processo fez com que se aumentasse o consumo dos produtos culturais e de arte, criando para estes um “público consumidor”. Os críticos especializados dos cafés e dos jornais opinativos reivindicam-se como que o grande público destas obras, ou pelo menos “seu porta-voz, talvez até mesmo seu educador” (HABERMAS, 1984, p.53). Aos poucos, o público dos cafés torna-se também crítico da política e da economia do país. Seu primeiro foco é o controle dos desmandos da monarquia absolutista. “A tarefa política da esfera pública burguesa é a regulamentação da sociedade civil” (HABERMAS, 1984, p.69). A burguesia desenvolve um pensamento político que aprende a se “auto-afirmar”, ou melhor, afirmar seus interesses. A exigência básica é a de leis abstratas e genéricas, pautadas na opinião pública, única fonte legítima. Desde lá, a opinião pública surge como fonte legitimadora de toda e qualquer decisão sobre o Estado. Caracterizada como o senso do povo, a voz comum ou mesmo o espírito público, ela passa a ser assediada pelas diversas correntes de interesse e partidos de então, como forma de se garantir respaldo para a posição de cada um destes. Os jornais também aqui adquirem suma importância, constituídos num dos principais veículos de crítica ao poder público. De toda maneira, a opinião pública converte-se em elemento fundamental para todo posicionamento político. O passo seguinte foi garantir o direito ao exercício da opinião pública – o direito de pensar e expressar-se livremente – dentro da Constituição de cada país, considerando-a fundamental para o bom funcionamento deste. Não bastasse o Estado ver surgir o espaço público funcionando dentro e contra si, agora cabe a ele ser seu guardião legal. Toda posição colocada por esse public spirit deve ser levada a tal ponto em consideração que se torna impossível legislar ou governar sem que se consulte o posicionamento popular. O fim do século XIX marca uma profunda mudança na esfera pública burguesa. Um novo intervencionismo do Estado tem vez, acompanhado da conquista de uma competência de autoridade pública pela esfera privada, e de uma competência social por parte do poder público. É desta forma que se constitui então uma esfera pública politicamente ativa, ou seja, onde diversos conflitos e antagonismos econômicos privados, inclusive o das grandes massas, são levados para o âmbito 18 político para disputa. Além disso, o Estado assume, “além das atividades administrativas habituais, inclusive prestações de serviços que até então eram deixadas à iniciativa privada” (HABERMAS, 1984, p. 176). É a partir da imprensa que se dá a reestruturaçãoda esfera pública. Apaga-se por meio dela a delimitação entre esfera pública e privada, inclusive deixando de ser uma exclusividade desta última. Assim, estes meios têm sua principal atribuição alterada: “Os jornais passaram de meras instituições publicadoras de notícias para, além disso, serem porta-vozes e condutores da opinião pública” (HABERMAS, 1984, p. 214). Tornam-se assim um mecanismo a mais para a inserção das pessoas no mundo da política. As inovações técnicas não são a única novidade pela qual passa a imprensa neste momento. Assumindo-se enquanto mercadoria, ela ingressa no mundo da circulação comercial. Agora, não se vendem propriamente jornais, mas informações e opiniões, objetos de interesse do público consumidor. Mediante o estabelecimento do Estado burguês de Direito, ou seja, livre de qualquer pressão contra a liberdade de expressão, a imprensa pode definitivamente assumir seu papel de instituição de crítica e ao mesmo tempo “assumir as chances de lucro de uma empresa comercial” (HABERMAS, 1984, p. 216). Jornais se tornam assim empreendimentos comerciais, cuja parte vendável alicerça-se nas notícias e opiniões colocadas. Os anúncios surgem como uma outra forma de se a imprensa conseguir dinheiro com seu produto: “[...] o jornal acaba entrando numa situação em que ele evolui para um empreendimento capitalista, caindo no campo de interesses estranhos à empresa jornalística e que procuram influenciá-la” (HABERMAS, 1984, p. 217). As novas necessidades de mercado trazem profundas mudanças no jornalismo. O grande interesse por notícias bem apuradas, de um jornal mais bem elaborado e produzido, solapa o espaço da opinião e do artigo de fundo dos jornais. O fazer jornalístico deixa sua característica mais literária, assumindo-se de fato como agência empresarial. A função que a imprensa exercia de instância da esfera pública é então profundamente alterada. A partir deste momento, a publicidade tem cada vez mais importância e participação dentro das mídias. Por outro lado, não se pode afirmar que houve uma completa separação entre os interesses privados, sejam econômicos ou políticos, e a área do jornalismo. Prova disso é o surgimento da função de relações públicas, pela qual empresas e personalidades passam a interagir de forma muito mais profunda com a sociedade. Relacionar-se publicamente é "trabalhar a opinião pública", de modo a que esta lhe seja favorável. Aqui também cresce o desenvolvimento técnico da publicidade. No momento em que os mais diversos setores passam a se utilizar da publicidade e das relações públicas como forma de satisfazer seus interesses e conquista de prestígio, a esfera pública 19 perde seu caráter de crítica e de espaço para desenvolver-se uma opinião pública pautada no debate. As pessoas que constituem a esfera pública tornam-se mera quantificação da aprovação ou reprovação a certa matéria, resumem-se a um sim ou não. Concorrendo com os interesses privados estão os interesses do Estado. Este insere-se na disputa que ocorre dentro da esfera pública política, porém de uma forma diferente. Ao tentar colocar suas opiniões perante a opinião pública, o Estado deixa de tratar esta como o agrupamento de cidadãos que constitui a sociedade, preferindo considerá-los mais uma massa de consumidores. Essa subversão do princípio de publicidade estende as mudanças para a própria disputa política. Os interesses privados, organizados numa configuração política, passam a concorrer com as ações do Estado. Uma série de acordos e decisões deixam de passar pelo processo institucionalizado da esfera pública. A discussão em torno da opinião pública é substituída pelo apelo argumentativo realizado feito por meio do recorte publicitário. "As organizações buscam conquistar junto ao público intermediado por elas uma entusiástica aprovação que ratifique formações de compromissos sujeitos ao crédito público" (HABERMAS, 1984, p. 234). Mesmo os processos políticos que ocorrem dentro do aparelho institucional, nos governos, tribunais e parlamentos, têm seus processos alterados por causa da esfera pública ampliada pelas mídias. Estas arenas políticas passam a ser espaço de disputas espetacularizadas, transformadas num "show", em vez de momentos para crítica (HABERMAS, 1984, p. 241). Nos períodos eleitorais, é atribuido ao eleitor um certo nível de capacitação, de modo a que ele "participe interessadamente em discussões públicas para, de forma racional e orientado pelo interesse geral, ele ajude a encontrar o certo e o correto como escala obrigatória para toda a ação política" (HABERMAS, 1984, p. 247). No entanto, a publicidade faz com que as disputas eleitorais já não transcorram no âmbito de uma esfera pública institucionalmente garantida, com a disputa plena de qualquer tipo de opinião. A propaganda torna-se a principal ferramenta para forjar opiniões favoráveis. Em vez de uma opinião pública crítica, o que se verifica na esfera pública manipulada é uma atmosfera pronta para a aclamação, um clima de opinião, sem que esta tenha sido de fato alcançada. As atribuições políticas originalmente previstas cessam. Público torna-se apenas um referencial distante a ser conquistado. Recuperar essa função crítica, no entanto, requer certas mudanças na própria organização dos interesses políticos. “Essa esfera pública só pode exercer funções de crítica política e de controle à medida que, além da co-gestão de compromissos políticos, está ela mesma sujeita, sem limitações, às condições de coisa pública e da "publicidade", ou seja, tornando-se novamente esfera pública em sentido estrito” (HABERMAS, 1984 p. 243-244). 20 AS CONTRADIÇÕES DO ESPAÇO PÚBLICO MIDIATIZADO Democracia e esfera pública passaram por um processo em comum no último século. Auxiliados pela mídia, eles agora se colocam como de massas, atingindo um gigantesco espectro de pessoas, associações e organizações. Nesta situação a presença eficaz de um dos elementos é extremamente necessária para o outro. Como sustenta o autor francês Dominique Wolton: A democracia pressupõe a existência de um espaço público onde sejam debatidos, de forma contraditória, os grandes problemas do momento. Este espaço simbólico, inseparável do princípio de "publicidade" e de "secularização", é uma das condições estruturais do funcionamento da democracia (WOLTON, 1995, p. 167). Diferentemente de seu surgimento, quando estava localizado de modo restrito, ligado à existência de uma elite iluminada, diminuta, além de homogênea social e culturalmente, o espaço público coloca-se hoje num contexto urbanizado, de sociedade aberta, individualizada no plano do trabalho, do consumo, dos tempos livre e da educação. Trata-se de uma sociedade que oferece prioridade "a tudo aquilo que facilita a expressão, a identidade e a liberdade do indivíduo - mais que da pessoa - e ao mesmo tempo, uma sociedade que, no plano econômico, político e cultural, se baseia no grande número" (WOLTON, 1995, p. 168). Neste contexto, democracia e espaço público adquirem uma grande importância para a sociedade, na opinião de Wolton. Para ele, constituem-se uma série de contradições em torno dessa esfera, que prejudicam a formação e atuação de uma real opinião pública e de um local "onde sejam debatidos, de forma contraditória, os grandes problemas do momento" (WOLTON, 1995, p. 167). O autor lista dez situações onde a proeminência da mídia afeta a constituição da esfera e da opinião pública. Em primeiro lugar, Wolton destaca a tirania do acontecimento, particularmente percebida nas mídias eletrônicas. Define-se uma redução de todas as escalas de tempo ao acontecimento, à durabilidade do urgente. "É o imperialismo do news, do instante e do directo" (WOLTON, 1995, p. 169). Para o autor, este fenômeno advém da vitória da democracia, o que permitiu o livre trânsito de informações, especialmenteas políticas, e do avanço técnico dos meios de comunicação. Dessa forma, o ideal do informar-se tornou-se para as pessoas o pão de cada dia, porém banalizado. A preponderância de um modelo de informação caracterizado pela urgência e pelo acontecimento tem necessariamente um impacto considerável sobre toda a concepção da informação: a honestidade de uma emissão seria avaliada simplesmente pelo facto de ser "em directo". A valorização do instante já é muito forte, visto que tudo o que é novo é privilegiado, enquanto tudo o que é lento e complexo tem tendência a ser abandonado (WOLTON, 1995, p. 167). 21 Até que ponto essa velocidade é favorável à democracia? Para Wolton, só a duração permitiu àquela encontrar, pouco a pouco, as suas características. Ainda que não tenhamos encontrado um momento ideal de espaço democrático, fica claro que nesse triunfo da informação e do acontecimento "é extremamente difícil preservar o tempo da história e da sociedade" (WOLTON, 1995, p. 170). A segunda contradição exposta por Wolton refere-se a uma onipresença da mídia e de suas sondagens de opinião, o que garantiria um saber generalizado sobre tudo e sobre todos. Cada vez mais, há o sentimento que cada notícia trazida, cada reportagem, cada pesquisa de opinião estenderia o conhecimento de cada pessoa sobre o que há e acontece no mundo. No entanto, esta suposição é combatida pelo autor: O grau de conhecimento não se alargou proporcionalmente ao número de acontecimentos cobertos pelos media [grifo do autor], embora o acesso aos acontecimentos, fora do campo da experiência pessoal, seja, simultaneamente, maior do que antigamente e dependente da mediação jornalística. A esta distorção junta-se outra: a omnipresença dos media e da informação nada podem contra o facto de ser impossível saber tudo sobre a realidade (WOLTON, 1995, p. 171). A seguir, o autor aponta para o surgimento de uma reintrodução de limitações ao fazer comunicacional, na forma de regulamentações, normas e valores, principalmente no que se refere aos usos que se faz dele. A comunicação passou por um processo de grande liberdade para fazer-se, em muito auxiliada pelo liberalismo econômico, que ocasionou uma grande abertura de mercador e incremento das possibilidades técnicas. Wolton acredita que, devido à grande expansão obtida pela mídia, cresce cada vez mais a necessidade de sua regulamentação, principalmente na medida em que se percebe que ele "contribui, de forma directa, para a representação que os cidadãos têm da realidade histórica" (WOLTON, 1995, p. 173). É cada vez mais difícil reconhecer que o espaço público é o lugar central da democracia, em termos de emissão e discussão de mensagens, e não admitir a necessidade imperiosa de um mínimo de regulamentação no que diz respeito ao seu funcionamento e, em particular, no caso dos media [grifo do autor] (WOLTON, 1995, p. 173). Este tipo de regulamentação quer impedir ou ao menos reduzir as coações estatais e políticas, além dos interesses privados. Liberdade de imprensa não é o mesmo que liberdade total. "A comunicação não visa apenas vender técnicas e mensagens, mas também unir cidadãos e comunidades, reflectindo sobre as condições para que, ao lado dos receptores, exista uma possibilidade de interlocução” (WOLTON, 1995, p. 174). 22 O quarto ponto trazido por Wolton é o da estandartização. Assiste-se aqui ao predomínio de um mesmo código na linguagem da comunicação, em particular da linguagem política, cobrindo todos os temas da sociedade. Isto contradiz uma noção de que a mídia provê um "enriquecimento cultural"; muito pelo contrário, os frutos disso são a limitação e o empobrecimento das opiniões, acentuação de oposições e desvalorização dos discursos, muitas das vezes colocados de forma dicotomizada, o que na maioria das vezes não reproduz com fidelidade a natureza das posições conflituais. Na verdade, o funcionamento do espaço público é indissociável da existência de conflitos, mas nem todos se traduzem necessariamente num vocabulário e num modo de acção políticos. Se é preciso falar, de certa maneira, a mesma linguagem para comunicar, a questão está em saber a partir de que momento esta predominância de um código - o político, por hipótese, já não será sinónimo de liberdade, mas de empobrecimento (WOLTON, 1995, p. 175). A personalização é a contradição seguinte apontada por Wolton. Percebe-se que cada vez mais partidos e ideologias são suplantados nas disputas políticas por indivíduos que passam a simbolizar as posições colocadas. O autor considera que este fenômeno é natural dentro da política, mas que foi acentuado com a ascensão das mídias. Para ele, há a possibilidade de perda de definição e de foco sobre qual é o tema das discussões, que acabam ficando atrás das pessoas que representam a disputa. "O que se ganha em personalização e no curto prazo, perde-se na complexidade e da duração dos problemas"(WOLTON, 1995, p. 177). A seguir, Wolton indica o fato de política e comunicação caminharem juntos, ou melhor, de que toda ação implementada deve ser acompanhada por ações de comunicação que a expliquem e justifiquem. Trata-se de uma busca de se atingir os cidadãos, para que estes compreendam as proposições dos políticos, mesmo com a incerteza trazida pela comunicação. No entanto, assiste-se ao crescimento exponencial da comunicação em vez da ação. O fazer político tornou-se muito mais o "dar visibilidade ao político" do que propriamente o agir. O resultado de que os políticos dedicam entre 20 e 40 por centro do seu tempo às estratégias da comunicação, seja para valorizar a sua acção, seja para expor e melhorar a sua imagem junto do público, seja ainda para neutralizar os concorrentes que também aderem a esta lógica da comunicação (WOLTON, 1995, p. 178). A sétima contradição exposta por Wolton refere-se ao tema da transparência. Cabe à mídia dar visibilidade às temáticas mais importantes para a sociedade, por meio da informação colhida e também por meio das pesquisas de opinião. Aqui se espera não exatamente uma transparência, mas no mínimo uma representação de como a sociedade funciona. 23 Os números trazidos pela estatística são aceitos como a mais fiel explicação dos acontecimentos. A contradição aparece quando se espera que essa fotografia da realidade implique uma antecipação do que está por vir. Os media [grifo do autor] e as sondagens produzem as informações sobre o que acontece no momento, mesmo se, confusamente, esperamos também encontra, na sua informação, a antecipação dos problemas futuros, o que não sucede com frequência, porque não é essa a sua função (WOLTON, 1995, p. 180). O oitavo, nono e décimo pontos apontados por Wolton fazem referência a um mesmo tema: a necessidade de se constituir na democracia, por meio das mídias, uma verdadeira comunidade, onde exista uma linguagem em comum, uma compreensão em comum, uma partilha de valores em comum, de um espaço público sem fronteiras, tudo isso atingindo todas as pessoas. Somente assim, as oposições ideológicas teriam local para um real confronto, realizado de forma madura e em benefício da sociedade. Isso não pressupõe a extinção dos antagonismos, nem de que todos terão a obrigação de conhecer tudo o que ocorre, mas sim de que o espaço público finalmente cumprirá com sua função de levar as informações básicas, de modo a gerar o interesse sobre as temáticas mundiais, a discussão e uma conclusão em comum (WOLTON, 1995, p. 182-183). A existência desse espaço público, local onde se desenvolve verdadeiramente a opinião pública, é, por fim, o local privilegiado onde os cidadãos dos mais variados lugares poderão se encontrar, trocar informações e dessa forma, construir uma linha de pensamento e intervenção na sociedade: People who express the same opinion become aware of the similarity of their views, and thus gives them capacitiesfor action that would have not been avaible had they kelt that opinion to themselves. The less isolated people feel, the more they realize their potencial strength, and the more capable they are to organize themselves and exercise pressure on the government. Awareness of similarity of views may not always result in organization and action, but it ir usually a necessary condition (MANIN, 1997, p. 171). Ou seja, à luz dos conceitos frankfurtianos clássicos, como os de indústria cultural (demonstrando como o conteúdo midiático pode estar empobrecido de verdadeira capacidade de reflexão) e de esfera pública (que pressuporia, para seu efetivo funcionamento, o contraditório - que, na prática, nem sempre está devidamente ofertado pela mídia), Wolton e outros autores apontam os paradoxos em que se envolvem hoje mídia e política. Por um lado, é impossível pensar num modelo democrático sem a publicização de debates e discussões que os meios de comunicação permitiriam. De outro, percebe-se que eles nem sempre vêm cumprindo este papel. 24 REFERÊNCIAS ALDÉ, Alessandra. A construção da política: cidadão comum, mídia e atitude política. Tese de doutorado, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Rio de Janeiro, 2001. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1989. DOMENACH, Jean Marie. Propaganda Política. Rio de Janeiro: Difel (Difusão Européia do Livro), 1952. DUVERGER, Maurice. Os partidos políticos. 2º ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; Brasília: Universidade de Brasília, 1980. GOMES, Wilson. Transformações da política na era da Comunicação de Massa. São Paulo: Paulus, 2004 HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública – Investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984 LEAL, Paulo Roberto Figueira. A nova ambiência eleitoral e seus impactos na comunicação política. In: Lumina, www.facom.ufjf.br. _______________. O PT e o dilema da representação política. Rio de Janeiro: FGV, 2005. LIMA, Venício Artur de Lima (org). A mídia nas eleições de 2006. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007. MANIN, Bernard. The principles of representative government.Cambridge: Cambridge University Press, 1997. MIRANDA, José A. Bragança de. Espaço público, política e mediação. In: Revista de Comunicação e Linguagem. Lisboa: Edições Cosmos, 1995. SHUDSON, Michel. A “esfera pública” e os seus problemas. Reintroduzir a questão do Estado. In: Revista de Comunicação e Linguagem. Lisboa: Edições Cosmos, 1995. SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard. O Estado espetáculo. São Paulo: Ed. Círculo do Livro S.A., 1977. WOLTON, Dominique. As contradições do espaço público mediatizado. In: Revista de Comunicação e Linguagem. Lisboa: Edições Cosmos, 1995. 25 REVISITANDO OS CONCEITOS DE PROPAGANDA POLÍTICA EM JEAN MARIE DOMENACH E SEU IMPACTO DURANTE O GOVERNO MILITAR DE COSTA E SILVA Adolpho Queiroz Universidade Presbiteriana Mackenzie Fabio Ciaccia Universidade Metodista de São Paulo INTRODUÇÃO A partir desta base teórica, procuramos inventariar, tendo como base a dissertação de mestrado de Fábio Ciaccia, “A festa da democracia autoritária”, defendida na UMESP em 2009, de que forma o governo militar do Marechal Artur da Costa e silva apoderou-se das dimensões teóricas de Domenach para comunicar-se com a sociedade brasileira naquele período. E confirmar, a partir de elementos empíricos, de que forma estas ideias foram apropriadas durante o regime militar no Brasil. Embora essa comunicação do poder na Antiguidade não tivesse ainda os instrumentais de planejamento e pesquisa presentes nas grandes campanhas do século XX, DOMENACH (1963, p.8) diz que “desde que existem competições políticas, isto é, desde o início do mundo, a propaganda existe e desempenha seu papel. Foram, por certo, uma espécie de campanha de propaganda, aquelas movidas por Demóstenes contra Filipe ou por Cícero contra Catilina”. Ao mesmo tempo, DOMENACH também demonstra que novamente a comunicação religiosa foi responsável pela utilização do termo que hoje usamos para os mais diversos tipos de comunicação persuasiva, seja ela a política, a de venda ou a religiosa: a propaganda. A palavra que a designa é ela também, contemporânea do fenômeno: propaganda é um dos termos que destacamos arbitrariamente das fórmulas do latim pontifical; empregada pela Igreja ao tempo da Contrarreforma (De Propaganda Fide) é mais ou menos reservada ao vocabulário eclesiástico até irromper na língua comum, no curso do século XVIII (DOMENACH, 1963, p.10). Nota-se aí novamente a estreita relação histórica entre política e religião no desenvolvimento da comunicação persuasiva. Essa preocupação com a opinião pública e com a importância de conseguir o apoio popular através de uma comunicação bem desenvolvida foi também de enorme importância na França, já entre os séculos XVII e XVIII, quando o “Rei Sol” Luís XIV, em seu grande período no trono, desenvolveu táticas bastante arrojadas. BURKE (1992) diz que ele foi o precursor do marketing político moderno. 26 QUEIROZ (1999, p.70) ressalta que Luís XIV, para isso, foi o. Indutor da criação de pinturas, tapeçarias, medalhas comemorativas, moedas, livros, construção de palácios, como o de Versalhes, ou monumentos, como o Arco do Triunfo, além de ter sido ator teatral, entre outras ações desenvolvidas como o objetivo de torná-lo popular perante a sociedade francesa da época. Já no final do século XVIII, durante o movimento de independência e de formação dos Estados Unidos da América, a utilização da comunicação persuasiva, principalmente através da imprensa, foi muito grande, com o intuito desenvolver uma formação política ao povo norte- americano. Pode-se ainda verificar a utilização de aparatos de comunicação de massa para a conquista da população também durante a Revolução Francesa, pelos mais diversos grupos que a desenvolveram. De acordo com DOMENACH (1963, p. 20-21), Os primeiros discursos de propaganda, os primeiros encarregados de propaganda (entre outros, os comissários junto aos exércitos) partiram dos clubes, das assembleias, das comissões revolucionárias; foram eles que empreenderam a primeira guerra de propaganda e a primeira propaganda de guerra. Uma nação, pela primeira vez, libertava-se e organizava-se em nome de uma doutrina subitamente considerada universal. Uma política interior e exterior, pela primeira vez, fazia-se acompanhar pela expansão de uma ideologia e, por isso mesmo, segregava a propaganda. Surgiram, então, todos os recursos da propaganda moderna: a Marselhesa, o barrete frígio, a festa da Federação, a do Ser Supremo, a rede dos clubes jacobinos, a marcha sobre Versalhes, as manifestações de massa contra as Assembleias, o cadafalso nas praças públicas, as críticas violentas de L’Ami du Peuple, as injúrias de Père Duchêne. Mais tarde, durante o século XIX, os diversos movimentos de caráter socialista usaram muito os veículos de comunicação de massa para conquistar trabalhadores de toda a Europa, o que resultaria num desenvolvimento ainda maior da propaganda no mais importante regime comunista resultante desse período, como se verá adiante. De acordo com Marx, era “preciso tornar a opressão real ainda mais dura, ajuntando-lhe a consciência da opressão, e tornar a vergonha ainda mais humilhante, dando-a publicidade” (apud DOMENACH, 1963, p.26). E, nesses regimes, a propaganda sempre foi de extrema importância, com a intenção de legitimar o poder, visando ainda à propagação de ideias do grupo que governava, a fim de que toda a população as aceitasse. A propaganda como “uma empresa organizada para influenciar a opinião pública e dirigi-la” (DOMENACH, 1963, p.13) surgiu no século XX, com o intuito de amparar esses regimes. Para isso, utilizou-se de uma evoluçãoque trouxe seu campo de ação, a massa, e os meios de ação, representada pelas técnicas recém-inventadas de informação e comunicação. DOMENACH (1963, p.13-17) traz ainda alguns fatos fundamentais para que isso fosse possível: a formação de noções de estrutura e espírito cada vez mais unificados e ainda uma 27 revolução na demografia e no hábitat. Com isso, e mais ainda com o progresso dos meios de comunicação, a formação de grandes conglomerados urbanos, a insegurança da condição industrial, as ameaças de crise e de guerra, a que se juntavam vários fatores de unificação, como a língua e os costumes, houve uma criação de massas famintas por informação. Essas massas recém-formadas eram facilmente influenciáveis, suscetíveis a reações coletivas das mais diversas. As inovações tecnológicas vinham dar uma dimensão aos três sustentáculos da propaganda: a escrita, a palavra e a imagem. O emprego deles, anteriormente limitados, pois a palavra não passava do alcance da voz humana ou de processos de impressão caros, assim como a reprodução de imagens, deu novas possibilidades à conquista das opiniões das massas. Para DOMENACH (1963, p.15), a difusão da escrita impressa no século XVIII possibilitou o emprego de panfletos, jornais, livros e até mesmo de uma enciclopédia como forma de propaganda revolucionária. Com a invenção da rotativa, os valores de impressão ficaram muito menores, com uma capacidade de tiragem muito superior a preços menores. Além disso, a utilização da publicidade comercial nos jornais fez com que houvesse maiores recursos para sua confecção, sem a necessidade de contar com ajuda governamental para realizá- los. Quanto à distribuição, as estradas de ferro, os automóveis, e logo depois os aviões, possibilitaram a chegada de exemplares nos mais diversos cantos dos países e até mesmo do mundo, levando mensagens que anteriormente eram impossíveis de chegar. Também como inovação tecnológica, houve uma grande aceleração do tráfego de informações, com o telégrafo e o telefone, que substituíram os processos antigos dos correios e dos pombos-correios. Com isso, era criado o jornal moderno, “cujo baixo preço e cuja apresentação o transformam em um instrumento popular e uma formidável potência de opinião”. Então, ao mesmo tempo em que se popularizam, os jornais (juntamente com as agências de notícias) se tornam grandes negócios, a serviço também de seus anunciantes e dos detentores do poder (DOMENACH, 1963, p.16). Também com as inovações tecnológicas, não só a escrita chegou a todos os cantos. A palavra falada, que também era limitada, libertou-se. Segundo DOMENACH (1963, p.17), enquanto oradores antigos, como Demóstenes, tinham que competir nas suas falas com o barulho do mar, a invenção do microfone pôde ampliar a voz para grandes salas e estádios. Outra invenção fez com que as vozes do poder pudessem ser ouvidas em todos os cantos do mundo: o rádio. No início do século XX, um grande número de estações de rádio se formou e principalmente na formação do nazi-fascismo e durante a Segunda Guerra Mundial, sua utilização foi de extrema importância. Quanto à imagem, também as inovações tecnológicas fizeram com que ela fosse muito utilizada como peça de propaganda para as massas. Primeiramente, com novos processos de 28 reprodução de gravuras, juntamente com a imprensa. Depois, com a invenção da fotografia e sua possibilidade de tiragens ilimitadas, o público passou a ter a sensação de presenciar a verdade, como se estivesse presente no momento dos acontecimentos. Ainda de acordo com DOMENACH (1963, p.18), “o cinema oferece uma imagem mais verídica e surpreendente, que se afasta da realidade apenas pela ausência do relevo”. Porém, a televisão ainda viria para realizar com a imagem a mesma mágica que o rádio realizou com o som: transmiti-la de forma instantânea à casa das pessoas. TIPOS DE PROPAGANDA POLÍTICA A partir do novo momento e das possibilidades para desenvolver a propaganda política, TCHAKHOTINE (1967) demonstra dois tipos de propaganda política: a propaganda por persuasão (racio-propaganda) e a propaganda por sugestão (senso-propaganda) (apud PICOLIN, 2001, p.20- 21). Sobre a propaganda por persuasão, TCHAKHOTINE (1967, p.353) diz que. suas modalidades são conhecidas: jornais, discursos pelo rádio, reuniões com debates, brochuras e boletins, enfim, a propaganda pessoal ou de porta em porta, quando os propagandistas vão às portas das pessoas que lhes interessam para tentar demonstrar-lhes os fundamentos de seus programas e persuadi-las a se inscrever no partido que representam ou a votar nele. Para isso, é necessário que haja um planejamento de acordo com os grupos que se quer influenciar, além de se estabelecer objetivos a ser atingido, formar órgãos para realizar as ações coordenadamente e controlar os resultados, verificando seus efeitos no público escolhido. Já a propaganda por sugestão é aquela utilizada de maneira mais direta em momentos de grande importância: Por meio de símbolos e ações que atuam sobre os sentidos, que causam emoções, procura-se impressionar as massas, aterrorizar os inimigos, despertar agressividade de seus próprios partidários. Além dos símbolos gráficos, plásticos e sonoros (...) são especificamente o emprego de bandeiras, uniformes, grandes manifestações, desfiles estrepitosos que caracterizam a propaganda deste tipo, empregada pelos ditadores (TCHAKOTINE, 1967, p.354). Ainda nas definições de tipos de propaganda política, pode-se encontrar a tipificação definida por MUCHIAELLI (1978), como citada também por PICOLIN (2001, p.22): Propaganda de doutrinação, de expansão e de recrutamento – é a que visa conquistar a opinião pública e ampliar o espaço da doutrina política no momento em que conquistar o poder.Propaganda de agitação – tem a intenção de explorar as reivindicações e as aspirações frustradas dos grupos sociais, conhecendo bem suas necessidades.Propaganda de integração – tem 29 como função criar uma unidade ideológica a fim de propiciar, ao grupo ou indivíduo que está no poder, legitimidade e autoridade, integrando o cidadão ao poder, fazendo-o sentir como mais um decisor.Propaganda de subversão – é a que visa realizar uma revolução tomando por base as condições psicológicas dos elementos do corpo social. DOMENACH (1963) também desenvolve uma divisão da propaganda política em dois tipos, a partir de dois grandes momentos da história do século XX: a Revolução Russa de 1917 e a ascensão do nazismo na década de 1930. São a propaganda de tipo leninista e a propaganda de tipo hitlerista. MEIOS, LEIS E TÉCNICAS DA PROPAGANDA POLÍTICA. Depois de relatar os diversos suportes para a propaganda política, DOMENACH (1963, p.40-45) desenvolve as principais leis de seu funcionamento, suas “regras de uso”: Lei de simplificação e do inimigo único – a propaganda deve sempre se empenhar na busca da simplificação, dividindo a doutrina e a argumentação em alguns pontos, definidos o mais claramente possível, traduzindo-os em slogans ou símbolos, para que sejam utilizados um de cada vez, atacando a cada fase um só objetivo e um só “inimigo”. Lei de ampliação e desfiguração – a ampliação exagerada de notícias, que é um processo jornalístico empregado de forma corrente pela imprensa de todos os partidos, colocando em evidência todas as informações favoráveis aos seus objetivos. As promessas, nesse caso, não devem ser pormenorizadas, mas sim desenvolvidas de modo mais surpreendente. Lei de orquestração – a repetição incansável das ideias simplificadas, através de formas diversas e em todos os meios possíveis, para que o receptor se veja cercado por elas. Também devem ser desenvolvidas versões para que todos os tipos de público compreendam plenamente o que está sendo afirmado. Lei da transfusão – a exploração, nos temas apresentados, do gosto popular, de sua mitologia,de seu complexo de preconceitos, de seus ódios, de seus amores, para que as pessoas vejam nas mensagens referências ao que elas, consciente ou inconscientemente, desejam ou concordam. Lei da unanimidade e de contágio – como as pessoas tendem a ter comportamentos e opiniões diferenciadas quando agem como indivíduos ou como membros de um grupo, deve-se preocupar para que haja na propaganda a impressão ou a ilusão de unanimidade, fazendo com que as pessoas creiam que estão ao lado da maioria de seu grupo. Isso também funciona com contágio, através de grandes manifestações populares. 30 AS LEIS DE DOMENACH APLICADAS DURANTE O GOVERNO MIL ITAR DE COSTA E SILVA No livro “A propaganda política”, Jean-Marie Domenach apresenta as bases do pensamento do marketing político. É importante destacar que o autor não trata apenas de ações eleitorais, mas sim formas de controle da opinião pública e estratégias políticas para a chegada e manutenção do poder. O primeiro conceito que defende é a necessidade de concentrar os esforços da campanha em apenas um inimigo, deixando assim de gastar forças em várias frentes. Os militares tinham um alvo certeiro: os comunistas. As ações tomadas a partir do Movimento de 1964 são baseadas na luta para evitar que a esquerda chegasse ao poder, transformando o país em uma nova União Soviética ou China. Em discurso feito na convenção da Arena, partido pelo qual disputou as eleições, Costa e Silva defendeu o governo do Presidente Castello Branco citando como uma de suas vitórias a “dissolução do dispositivo comunista que, nos ameaçando, ameaçava todo o continente” (COSTA E SILVA, 1967, p. 171). O dispositivo comunista aparece em inúmeros discursos feitos pelo candidato, personificando o inimigo único. Para os militares todos os objetivos do Movimento de 1964 tinham como ponto central afastar da estrutura de poder as pessoas ligadas à esquerda, que colocavam em risco seu projeto de poder. Domenach (1955, p. 58) continua sua defesa apontando que “a forma simplificadora mais elementar e rendosa é evidentemente a de concentrar sobre uma única pessoa as esperanças do campo a que pertencemos ou o ódio pelo campo adverso”. Como exemplo de que os militares seguiram este aspecto da teoria do autor está o discurso de Costa e Silva feito às classes produtoras de Porto Alegre em julho de 1966. Neste, o candidato é duro no ataque ao antigo regime, acusando o governo deposto de aproveitador e corrupto: O que a Revolução teve, tem e terá em mira inflexivelmente é o combate à corrupção e à subversão. Não era possível que o país continuasse entregue a um bando de aproveitadores que, em vez de a ele servirem, serviam-se dele como de causa própria e, apesar de sua tenaz, irremediável reincidência, continuavam impunes e cada vez mais prestigiosos e prósperos. Não era possível, de outra parte, permitir a proliferação de focos subversivos, que tinham em mira a desagregação da forma constitucional do governo e, pior do que tudo, a sua substituição por um regime comunista (COSTA E SILVA, 1967, p. 173). Domenach defende que “a boa propaganda não visa mais de um objetivo de cada vez. Trata- se de concentrar o tiro em um só alvo durante dado período” (Domenach, 1955, p. 56). Para o autor a campanha não deve estar ligada a apenas um mote. Pelo contrário. Afirma apenas a necessidade de não dividir esforços, atacando vários pontos ao mesmo tempo. Em 1966 o Brasil enfrentava sérias dificuldades econômicas e o governo de Castello Branco enfrentava baixos índices de 31 popularidade, como afirma Ronaldo Costa Couto (2003, p. 75), quando analisa a postura do Presidente Castello Branco, que trabalhava para aumentar a discussão a respeito do nome do futuro governante, adiando a decisão: [...] Ainda que a eleição fosse, de fato, um problema castrense – quem os militares indicassem seria eleito -, o comportamento do presidente pode ter sido influenciado pela impopularidade política do seu governo, decorrente, como visto, dos desgastes oriundos da política econômica recessiva e da própria ação revolucionária. Assim, o discurso central da campanha tinha que ser pela defesa do país contra o comunismo, ponto de apoio do Movimento de 1964 e pela recuperação econômica, caminho seguido pelo candidato em seus discursos. Ainda na convenção da Arena, realizada em maio de 1966, no Rio de Janeiro, o candidato afirma que Castello recebeu do governo deposto uma herança catastrófica e mesmo assim conseguiu uma “retomada da marca do desenvolvimento econômico em bases mais conformes à realidade, mais estáveis e mais duradouras” (COSTA E SILVA, 1967, p. 172). Outro ponto defendido por Domenach (1955, p.61) que podemos verificar na campanha presidencial de Costa e Silva é a lei de amplificação e desfiguração. Segundo o autor, A amplificação exagerada das notícias é um processo jornalístico empregado corretamente pela imprensa de todos os partidos, que coloca em evidência todas as informações favoráveis aos seus objetivos: a frase casual de um político, a passagem de um avião ou de um navio desconhecidos, transformam-se em provas ameaçadoras. A hábil utilização de citações destacadas do contexto constitui também processo frequente. Os atos de violência adotados pela esquerda como forma de combater o regime em vigência foram aproveitados pelo governo como armas para a manutenção do poder. Após o atentado em Guararapes, a notícia foi amplamente veiculada e em seus discursos o candidato acusava a esquerda e reforçava a necessidade de luta contra o terrorismo. O atentado que tinha como objetivo atingir o futuro Presidente foi na verdade uma senha para que o governo acentuasse o discurso da necessidade de perseguição aos comunistas, taxados como pessoas que seguiam o interesse estrangeiro e apenas colaboravam para aumentar o sentimento de insegurança da população. A discussão deixava o terreno ideológico para ganhar as páginas policiais. Ronaldo Costa Couto (2003, p. 79) relata o conteúdo de uma entrevista com o General Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército no período de 1985 a 1990 em que a importância deste atentado é levantada: Nós fizemos uma revolução, não botamos ninguém no paredão, não matamos ninguém. O máximo que fizemos foi cassar, com dois “esses”. Quem é que começou com a violência? Guararapes, uma bomba colocada por eles! Mataram 32 um almirante, que era irmão do sogro de um general meu. Quem começa não sabe onde vai acabar. Isto é como se fosse uma avalanche. Nós tínhamos plena convicção de que estávamos fazendo o melhor para o Brasil. Não cabe aqui a análise do que foi dito pelo General, mas sim a certeza de que com o atentado os militares sentiram-se no direito de revidar e ainda por cima passavam a ter uma justificativa para o uso da força. A partir de então as forças armadas eram as vítimas de um processo terrorista que não queria as mudanças que vinham sendo implantadas no sentido de evitar a ameaça comunista no Brasil. Curiosamente, passados mais de trinta anos do atentado um integrante de movimento esquerdista admitiu que a ação de Guararapes fosse realmente realizada por pessoas ligadas ao grupo. A organização era a Ação Popular e quem falou a respeito foi o sociólogo Herbert de Souza: O atentado foi obra de dois militantes que resolveram. Soubemos logo depois. Ficamos em pânico: morreu um almirante, morreu um jornalista. Se eles descobrem e vêm em cima, destroem a Ação Popular em dias. (MORAIS NETO, 1997, p. 240)Costa e Silva ainda explorou o atentado em discurso proferido em agosto de 1966 na cidade de Goiânia : Perturbar o processo revolucionário – eis o que tinha em mira o atentado do Recife – que foi, sem dúvida, um primeiro tempo de ação, a que outros se seguiriam ou – sabe Deus! – se seguirão. Perturbar o processo revolucionário equivaleria, em última análise, a perturbar a imensaobra de restauração nacional iniciada pelo insigne homem de Estado que é o Marechal Castello Branco e a regredir ao caos político, administrativo, econômico e financeiro (COSTA E SILVA, 1967, p. 19). Costa e Silva destaca o estado de medo que a oposição tentava instalar no país por meio de atentados daquele tipo. Faz um aviso - quase soando como uma ameaça – de que as ações violentas por parte da esquerda tinham tudo para continuar. Esta afirmação reforça a ideia de que era necessário um governo forte para controlar esta situação de perigo iminente. E como dito anteriormente Costa e Silva se apresentava como o líder que conduziria o país à paz e prosperidade. Outro ponto a destacar é o elogio ao avanço conseguido pelo atual Presidente que recebera um país com enormes problemas e não podia voltar ao estado anterior ao Movimento de 1964. O país devia continuar seu caminho de ajustes e desenvolvimento e os militares estavam ali para garantir isso. Fica assim claro o uso da lei da ampliação. O atentado de Guararapes é apenas um exemplo de como os líderes militares buscaram fazer uma leitura dos acontecimentos que beneficiassem suas intenções e como detinham pleno controle da mídia tinham seu caminho facilitado. A terceira lei de Domenach (1955, p. 63) que encontramos na campanha de Costa e Silva é a Lei da Orquestração. Consiste da repetição exaustiva dos principais temas da campanha, como explica o autor: “A orquestração de dado tema consiste na sua repetição por todos os órgãos de propaganda, nas formas adaptadas aos diversos públicos e tão variadas quanto possível”. No entanto 33 o autor destaca que o político deve cuidar para que a campanha não fique monótona, uma vez que poucos temas serão abordados com grande frequência. A diversidade de meios existente hoje colabora para que uma campanha consiga esta disseminação da mensagem de diferentes formas. O conteúdo é o mesmo, mas a forma como o tema é abordado no rádio, na televisão e cada vez mais na internet é absolutamente diferente. No entanto, tratamos aqui de uma eleição ocorrida em 1966, período no qual a televisão ainda não tinha grande penetração popular, os jornais eram destinados à elite intelectual, uma vez que a gama de analfabetos no país era muito alta, sobrando assim o rádio e os discursos do candidato nos eventos promovidos pela campanha. Assim, a forma do discurso pouco mudava, sendo apenas dada diferente ênfase de acordo com o público a ser atingido. O autor passa aqui dois pilares de uma boa campanha de comunicação eleitoral: a necessidade de fazer com que o tema central da campanha seja constantemente debatido pela sociedade, mas principalmente selecionar tal tema das questões que mais afligem os eleitores. O tema deve sair da população e não ser imposto pelo candidato. Por fim, Domenach (1955, p. 69) coloca que “a condição essencial para uma boa orquestração, em todos os casos, é a cuidadosa adaptação do tom e da argumentação aos diversos públicos”. Costa e Silva tinha esta habilidade. Seu discurso podia ter o mesmo tema, mas quando tratava com a tropa usava um tom, transformando-se no general; quando falava com o povo ajustava os detalhes para tornar-se próximo, era o futuro Presidente. Em junho de 1965, na formatura do curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio de Janeiro, Costa e Silva dá um exemplo do tipo de discurso que usava com a tropa. Nele, o então Ministro da Guerra indica aos jovens oficiais a importância do respeito à hierarquia na instituição militar. O recado era claro. Ninguém no exército deveria discutir as ordens dos superiores. Quando este discurso foi proferido, a candidatura de Costa e Silva ainda não era oficial. Mas, na posição de Ministro da Guerra, cabia a ele controlar o exército. A mesma instabilidade na tropa que desgastava a figura do Presidente Castello Branco, poderia tornar-se um problema em seu futuro governo. Como já destacado, Costa e Silva era um homem de tropa e sabia exatamente como se dirigir aos soldados ganhando assim sua confiança e apoio político e militar. Em um discurso proferido em sua cidade natal, Taquari, no Rio Grande do Sul, o então candidato à Presidência fala sobre a volta da democracia: Almejo, portanto, sem prejuízo dos interesses supremos da Revolução de março de 1964, que salvou o Brasil do pior que poderia acontecer-lhe, almejo, dizia, encaminhar o processo da redemocratização completa do país, de sorte que ao povo sejam restituídos tão rapidamente quanto possível os seus direitos primordiais, dele retirados em hora dificultosa, que exigia tal providência como medida de salvação nacional, a fim de evitar-se a desordem ardentemente desejada por aqueles que 34 armavam e continuam armando, por todos os meios, a impossível restauração de um ignominioso estado de coisas. Contai, pois, comigo e anotai o compromisso que assumo, aqui e agora, de promover a redemocratização completa do nosso sistema político e de resguardar decididamente as conquistas da Revolução (COSTA E SILVA, 1967, p. 164). Observando os detalhes deste discurso podemos reparar que o candidato falava com seus dois públicos. Quando garantia que o Movimento de 1964 não regrediria estava mandando um recado aos militares que não aceitavam a volta aos quartéis, uma vez que na visão deles ainda existia o perigo comunista pairando na sociedade brasileira, fato este ressaltado por Costa e Silva quando cita a existência de algumas pessoas com interesse de tentar a retomada da situação pré- março de 1964. A quarta lei de Domenach (1955, p. 73) que podemos verificar na campanha de Costa e Silva é a da “unanimidade e de contágio”. Segundo o autor, A maioria dos homens tende, antes de tudo a “harmonizar-se” com seus semelhantes; raramente ousarão perturbar a concordância reinante em torno deles, ao emitir ideia contrária à ideia geral. Decorre desse fato que inúmeras opiniões não passam, na realidade, de uma soma de conformismos, e se mantém apenas por ter o indivíduo a impressão de que a sua opinião é esposada unanimemente por todos no seu meio. Em consequência, será tarefa de a propaganda reforçar essa unanimidade e mesmo criá-la artificialmente. No regime militar a imprensa não seguiu um rumo único em suas ações e opiniões. Não são raros os exemplos de meios de comunicação que apoiaram o regime e outros que foram frontalmente contrários. Existem também os casos de veículos que passaram de um lado para o outro ao sabor dos acontecimentos. Um bom exemplo disso é o jornal Correio da Manhã, que defendera a posse de Jango, quando da renúncia do então Presidente Jânio Quadros, e lançou em 31 de março de 1964 um editorial com o título “Basta”, onde atacava as posições do governo, (GASPARI, 2002, p.64). Entretanto, com o passar do tempo à posição do jornal foi se afastando dos ideais militares e este sofreu forte perseguição do governo. Obviamente não podemos afirmar que a posição da mídia foi responsável pelos acontecimentos de março de 1964, porém sua participação foi importante, uma vez que afirmou o sentimento contrário ao crescimento do comunismo. Este efeito é mais forte na classe média, já que os mais pobres tinham pouco acesso aos jornais, principalmente por conta do analfabetismo. Os militares aproveitaram o vento a favor do período anterior à tomada do poder contando com o apoio de parte da mídia. Posteriormente, quando ocorreu o afastamento dos veículos de comunicação que discordavam das atitudes do novo regime usaram a censura como arma para controlar o conteúdo veiculado. Ora, a formação da opinião pública ficava toda ao lado das intenções dos militares, uma vez que a população ficou sem acesso às informações contrárias ao regime. O controle da mídia é essencial para a manutenção de um regime autoritário, caso contrário às ações que ocorriam nos 35 porões da ditadura seriam divulgadas abertamente
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