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Fichamento Prisioneiras, por Drauzio Varella

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FICHAMENTO 
VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. Epílogo, págs. 259 a 277. 
São Paulo, Companhia das Letras, 2017 
 
 
Identificação do Aluno 
Nome Matrícula Turma 
HELSON NUNES DA SILVA T2AA 
Identificação da Disciplina 
Código e Descrição Fichamento Professor 
DIR112 – DIREITO PENAL I Número 1 Nestor Távora 
 
 
Drauzio Varella nasceu em São Paulo, em 1943 e graduou-se em medicina 
pela USP. Atuou por vinte anos no Hospital do Câncer, foi voluntário na Casa de 
Detenção de São Paulo (Carandiru) por treze anos e hoje atende na Penitenciária 
Feminina da Capital. Seu livro Estação Carandiru (1999) ganhou os prêmios Jabuti de 
Não-Ficção e Livro do Ano. Nas ruas do Brás recebeu o Prêmio Novos Horizontes, da 
Bienal de Bolonha, e Revelação Infantil, da Bienal do Rio de Janeiro. Atualmente 
apresenta uma série no Fantástico (“Corpo Humano - o que acontece dentro da gente”). 
 
PRISIONEIRAS 
O Livro 
Prisioneiras integra a trilogia do autor acerca do sistema carcerário 
brasileiro, apesentando seus mais diversos aspectos a partir de histórias relatadas por 
mulheres que cumprem penas na Penitenciária Feminina da Capital de São Paulo, e que 
se tornaram as verdadeiras protagonistas da obra. 
 
Epílogo 
O autor abriu o epílogo descrevendo onde, com quem e como viveu sua 
infância e adolescência. As características relatadas da dinâmica social revelam uma 
comunidade de extrato social bem simples, com famílias residindo em casas coletivas 
modestas – e os conflitos comuns entre seus membros –, pais de família que 
trabalhavam o dia inteiro – não raro também à noite –, crianças brincando soltas na rua, 
muitas vezes sem os cuidados das mães, além de adolescentes que abandonavam as 
escolas para aventurar um “ganha pão” nas fábricas da região. 
Drauzio experimentou uma liberdade precoce para sua idade, 
desencadeada pela perda de sua mãe quando ele tinha apenas quatro anos, combinada 
com o fato de o pai trabalhar em dois empregos para sustentar a família e manter seu 
sonho de levar os filhos à universidade. 
Foi frequentando a casa de um tio que ele despertou um fascínio infantil 
pelo mundo marginal. Mantinha-se sempre atento aos episódios de um programa de 
rádio chamado “O crime não compensa”, no qual eram apresentadas histórias de 
criminosos que invariavelmente eram presos pela polícia paulista. 
FICHAMENTO 
VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. Epílogo, págs. 259 a 277 
 
 
Em seguida, pautada pela atração e curiosidade do então adolescente que 
se aventurava pelas ruas de São Paulo e seguia até a boca, o epílogo passou a tratar da 
evolução histórica do crime na periferia paulistana, contextualizando os aspectos de 
desenvolvimento socioeconômico da cidade que mais crescia na América Latina: os 
criminosos deixaram de ser aqueles personagens das histórias de rádio que se 
limitavam a roubos em casas na calada da noite, furtos de carteiras em ônibus e bondes 
e brigas em bares, sendo substituídos por uma mistura de ladrões, boêmios, 
contrabandistas, traficantes de entorpecentes. 
Mas foi com crescimento desordenado da periferia nos anos 60, período 
em que a cidade foi invadida por hordas de migrantes em busca de trabalho, que a 
situação da periferia agravou. Vulnerabilidades como a pobreza, a falta de escolas 
dignas, a precariedade do saneamento básico, de serviços básicos de assistência 
médica e policiamento, bem como a falta de oportunidades dignas de emprego 
culminaram em uma falta de perspectiva que favoreceu a disseminação da violência e 
o surgimento dos criminosos anônimos. 
Segundo o relato do autor, o passo seguinte foi o desenvolvimento de rotas 
de tráfico para transportar cocaína da Colômbia e Bolívia, o que fez o preço da droga 
reduzir e se alastrar pela cidade. Daí surgiu o crime organizado, as guerras entre as 
facções do tráfico dentro dos presídios, assassinatos de parte a parte, como se os 
integrantes das quadrilhas fossem peças descartáveis. Os bandidos personalizados do 
passado foram substituídos por instituições fortemente hierarquizadas, com códigos 
éticos do crime bem definidos e cruéis. 
Neste ponto, o autor fez uma constatação de que o Código Penal estava 
antiquado para fazer frente à nova realidade e apresentou os principais fatores de 
risco que favorecem ao cometimento dos crimes: a) infância negligenciada; b) falta de 
orientações firmes; e c) convivência com pares que vivem na marginalidade. 
Logo após, demonstrou que esses fatores estão perversamente presentes 
nas comunidades menos favorecidas, razão pela qual a periferia é quem mais sofre com 
a violência e a perda de seus jovens para o crime organizado. Para embasar suas 
conclusões, apresentou estatísticas alarmantes, como as taxas de gravidez na 
adolescência e as consequências imediatas no empobrecimento da família e na evasão 
escolar, que realimentam o ciclo de miséria e a falta de perspectiva. 
No segundo bloco, Drauzio fez uma crítica pesada à política de leis para 
condenar crimes, asseverando que as leis que pretendem criminalizar o uso e o tráfico 
de drogas são tão ineficazes quanto à Lei Seca, apontando que ambas têm impacto 
desprezível no combate às respectivas condutas ilícitas (ao contrário, as estimulam), 
além de corromper a sociedade. 
Na opinião do autor, essa legislação conduz a um mundo pior: roubos, 
assassinatos, quadrilhas organizadas que disputam as rotas e os pontos de vendas. A 
consequência é a morte de inocentes, corrupção na polícia, judiciário e legislativo, sem 
que haja qualquer resultado positivo efetivo no controle social pretendido, que seria a 
redução no consumo das drogas. Concluiu afirmando que não há como separar o tráfico 
de drogas da violência urbana e criminalidade. 
FICHAMENTO 
VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. Epílogo, págs. 259 a 277 
 
 
Argumentou, então, que a falta de clareza da legislação confunde os 
policiais honestos e facilita a ação dos corruptos. Isso porque as leis brasileiras não são 
claras na distinção entre usuários e traficantes, ficando ao encargo das autoridades 
enquadrar os suspeitos em uma ou outra categoria. 
Assim, as leis que, em tese, teriam a finalidade de reintegrar os 
transgressores após a punição, atendem a tão somente ao desejo generalizado de 
retirar das ruas os que oferecem perigo aos cidadãos e à ordem social, fato confirmado 
pelo alto índice de reincidência e a superlotação dos presídios brasileiros. 
Não é à toa que os presídios se tornaram verdadeiras faculdades do crime, 
comandadas por líderes de facções que arregimentam novos integrantes nas celas 
lotadas. Os encarcerados são atraídos pelas organizações na tentativa de sobreviver, de 
ascender na hierarquia do crime e ganhar respeito quando se tornar um egresso. 
Uma constatação: O aprisionamento em massa tornou o Brasil o quarto 
país do mundo em população carcerária, sendo que essa estatística caminhou de mãos 
dadas com o aumento da violência urbana e do consumo de drogas ilícitas. 
A narrativa seguiu com uma colocação surpreendente sobre uma possível 
solução: ninguém sabe o que fazer! 
Em seguida, foram apresentados números que demonstram quantos 
presídios seria necessário construir para atender à realidade atual da população 
carcerária. Mais uma vez, a conclusão foi sobre a inviabilidade, reforçando a tese de que 
criminalizar simplesmente a conduta não é o caminho adequado. 
O terceiro bloco foi dedicado a apresentar os aspectos históricos, 
características sociais e relatos sobre a presença feminina nos presídios. 
No que tange à evolução histórica, relatou que antigamente as mulheres 
eram encarceradas por crimes como furto, repentes passionais e um ou outro assalto. 
As vulnerabilidades já citadas anteriormente acentuaram as desigualdades de gênero e 
expuseram as mulheres a todo tipo de violência, principalmente as mulheres inseridas 
nas comunidades mais pobres.O convívio e o relacionamento com bandidos favoreceram que essas 
mulheres aderissem às drogas ilícitas e se integrassem definitivamente ao crime 
organizado. 
No geral, as mulheres ocupam a base da pirâmide, devendo subserviência 
aos chefes e sendo responsáveis por tarefas secundárias. Contudo, algumas alcançam 
escalões intermediários, galgando autonomia para resolver pequenos conflitos entre 
namoradas, furtos e cobrança de dívidas. No mais, são utilizadas para transportar 
drogas e equipamentos para os homens da facção criminosa. 
Outro aspecto abordado foi a questão da submissão feminina, imposta a 
mão pesada. Como exemplo, citou o relato de uma presa que afirma que as mulheres 
têm que fazer visita intima todo fim de semana para os homens da facção, mas quando 
são elas que estão presas o tratamento é diferente. 
Seguiram-se relatos de várias presas que fizeram o autor destacar a 
diversidade do universo feminino, principalmente no que concerne às questões 
FICHAMENTO 
VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. Epílogo, págs. 259 a 277 
 
 
psicológicas. Ressaltou a generosidade das mulheres e o amor materno, arraigado ao 
instinto da mãe. 
Prosseguiu avaliando as razões que levam as famílias a visitar o parente 
homem preso, enquanto que esquecem a irmã, a filha ou a mãe no cárcere. Dentre as 
hipóteses ventiladas, citou o preconceito rotulado sobre a mulher: elas deveriam viver no 
“seu lugar”, obedientes, recatadas. A sociedade rechaça a sua prisão por vergonha. 
Outros fatores apontados foram, resumidamente, preconceito sexual e falta de 
condições financeiras, quando comparado aos homens em geral. 
Discorreu ainda sobre os relacionamentos homossexuais entre as 
mulheres, motivados pelo confinamento, pelo distanciamento e olhar repressivo da 
comunidade que fazem aumentar as carências afetivas. 
No bloco seguinte, Drauzio retomou a discussão acerca do sistema punitivo 
adotado no Brasil. Trancar um sem-número de pessoas atrás das grades tem seu preço. 
Os prisioneiros formam grupos com códigos de comportamento e leis próprias, 
igualmente ao que faziam os seres humanos há milhões de anos atrás. 
A justificativa para isso está no instinto de sobrevivência e isso foi 
percebido pelo Comando que impôs uma ideologia que reprimiu a violência entre os 
detentos. O que se assegura é o direito de não morrer, algo que o Estado não consegue 
oferecer em prisão alguma. 
O código de ética adotado nas cadeias foi propagado para as ruas, já que 
os assassinatos, roubos e tumultos atraem a polícia e a imprensa, afastando a freguesia, 
o que é ruim para o negócio. 
Por fim, Drauzio fez um relato sobre sua experiência ao longo de tantos 
anos atuando como médico em um sistema prisional, destacando a importância do 
tratamento mais humanizado com os detentos, pois a valorização da subjetividade e um 
pouco de atenção faz desarmar os espíritos atormentados e evocar a gratidão. Para ele, 
trabalhar em Carandiru propiciou conhecer aspectos da vida humana nunca antes 
vivenciado, o que manteve aceso o interesse pela complexidade das interações 
humanas.

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