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Tognolli, Claudio Julio. O Século do Crime. 2ª ed. Editorial Boitempo, 2004.
Uso geopolítico do crime (p.I, prefácio à segunda parte)
Luis Fernando da Costa (Fernandinho Beira-Mar) montou uma lavanderia para lavagem de dinheiro nas cidades de Guarapari e Alfredo Alves (ES). Conforme inquérito da Polícia Federal, ele receptava carros roubados no Espírito Santo e enviava cocaína do Paraguai para o território capixaba. O lucro era aplicado em contas bancárias da Caixa Econômica Federal em nome de uma empregada doméstica em Alfrdedo Chaves e Guarapari. Uma outra rota de drogas, manipulada pelo Cartel de Cali (Colômbia), usava o porto de Vitória como escoadouro. (p. VIII, prefácio à segunda edição )
A lavagem de dinheiro e os crimes financeiros podem resultar mudanças inexplicáveis na demanda por dinheiro e no aumento da volatilidade do fluxo de capital internacional, taxas de juros e de câmbio. A natureza imprevisível da lavagem de dinheiro, acoplada à consequente perda de controle político, pode dificultar o estabelecimento de uma política econômica saudável”. (p. XIII – XIV, prefácio à segunda edição)
Os grandes traficantes são empresários de sucesso. Os banqueiros fazem fortuna com a lavagem de dinheiro. (p.9)
No Brasil, desde 1992, a Yamaguchi-Gami a partir de comunidades de imgrantes japoneses em Londrina no Paraná e do bairro da liberdade em São Paulo. (p.18 - 19)
Em 1987, o Banqueiro Antonio Gauber é condenado nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro. A tática de Gauber seria adotada por mafiosos italianos no Rio de Janeiro a partir de 1990. Advogados de narcotraficantes e banqueiros mafiosos estudam o caso para aprender como não serem apanhados comentendo os mesmos “erros” de Gauber. (p.19)
Em 1987, o Ex-agente da CIA, Philip Agee revela que os Estados Unidos “estimulam a guerra e ações de terrorismo”, via ações da Central de Inteligência. As armas fornecidas aos movimentos populares da América Central, Oriente médio e Angola passam a ser revendidas, a preço de ouro, aos grupos mafiosos. (p.20)
Em 1989, O exército Vietnamita se retira paulatinamento do Camboja, sendo substituído por um novo organização criminoza militarizada de narcotrficantes de heroína, os barões do Triângulo de Ouro. Começa a surgir ligação entre as máfias orientais e os cartéis colombianos. Representantes de Cali e Medellin vão para o Camboja e para a Tailândia trocar cocaína por mudas de papoula. As rotas interncaionais com saídas do Camboja serão usadas por soldados das mais novas máfias, a russa e a nigeriana. (p. 20 - 21)
Em 1989, os mafiosos chineses, das Tríades, passam a estreitar contatos com as máfias italianas do sul da Itália e dos Estados Unidos. Infiltram representantes no Partido Comunista Chinês. Querem se converter no maior conglomerado mafioso do mundo, mandando cocaína colombiana para a Europa em troca de heroína a ser enviada ao mercado norte-americano. (p.21)
Em 1991, a máfia nigeriana se instala no Brasil, infiltrando jovens nigerianos sob o pretexto de cursarem universidades, estabelecendo uma rede que traz cocaína da Colômbia para mandá-la a Lagos, capital nigeriana,e dali para Moscou. (p.21)
Em 1991, as máfias do Afeganistão se unem para, com os narcodólares, tornar o país independente da ex-URSS e livrá-lo da vigilância anti-narcóticos do poder russo. (p.21)
Em 1992, as máfias russas haviam asumido o controle da maior parte das empresas estatais privatizadas após o fim da União Soviética em 1991, aproveitando-se das leis ambíguas e do caos político , econômico e social no país, abriram mais de 2 mil casas de crédito e instituições financeiras, amplamente utilizadas para lavar dinheiro. (p.22)
Em 1992, o DEA deflagra operação GREEN ICE em seis países, decobrindo no Rio de Janeiro uma conexão mafiosa italiana, responsável pela lavagem de R$ 1 bilhão, sob o comando do italiano naturalizado brasileiro Sebastiano Sampietri. O dinheiro lavado pertencia ao Cartel de Cali. (p.22)
Em 1992, Agentes do DEA constatam que pelo Brasil passa a maior parte da cocaína a ser traficada par ao mundo inteiro. “No passado o Brasil não lavava dinheiro. Mas agora serve como elo entre os maiores produores de drogas da Colômbia e os maiores distribuidores dos Estados Unidos”. Os agentes sustentam que no Brasil “a corrupção vem dificultando o combate ao narcotráfico”. (p.22)
Em 1992, a quadrilah do mafioso italiano Rocco Morabitto é presa no porto de fortaleza com cocaína que seria enviada para a Europa e Eurásia pós-soviética. Surge o primeiro vínculo entre brasileiros, italianos e mafiosos do Oriente. O responsávl pelo carregamento, o jordaniano Walid Issa Khmaysis, é ex-integrnate da Juventude Estudantil Palestina, de Milão, aproveitando-se d eseu passado político para colocar-se acime de suspeitas. (p.22 - 23)
Em 1993, a Kroll entregar à CPI do Orçamento um dossiê sobre lavagem de dinheiro no Brasil, e uso do sistema de leasing para lavagem de dinheiro público desviado, denucnando deputados que se beneficiavam desse esquema. (p.23)
Em 1994, a ONU realiza uma reunião de cúpula com representantes de 140 países. Declara que, em caráter de emergência, as máfias devem ser combatidas com novas políticas.
Em 1995, a ONU realiza reunião para debater sobre Crime Organizado, onde distribui dissiês sobre as narcocracias, democracias coms eleições cujos candidatos foram patrocinados por mafiosos internacionais. (p.24)
Em 1995, a Interpol divulga dossiê revelando que 50 chefes mafiosos italianos estariam vivendo no Brasil, 25 deles em São Paulo. Os nigerianso narcotraficantes presos até essa data, no país, qusase cem, estariam ajudando os capos italianos. (p.25)
Em 1996, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal recebeu um dossiê sobre a Scuderie Detetive LeCocq, organização criminosa interestadual do Espírito Santo, com ramificações em Brasília, Minas Gerias e Rio de Janeiro. (p.25 - 26)
A primeira parte, A organização internacional do crime, trata da estrutura das principais organizações mafiosas em todo o mundo, aí incluindo as suas ramificações no Brasil e os processos de lavagen de dinheiro “sujo”. (p.26)
Na conclusão, O Crime como Ícone do Mal, uma discussão sobre a natureza teórica-histórica sobre o lugar simbólico que o crime, em particular o narcotráfico, ocupa na cultura contemporânea, sobre as responsabilidades da doutrina neoliberal e do sistema de globalização da economia na disseminação de uma mentalidade essencialmente utilitarista, que coloca a eficácia e o lucro acima de qualquer outra consideração, estimulando assim a prática criminosa. (p.27)
Tanto em Nápoles, em novembro de 1994, quanto no Cairo, em maio de 1995, a ONU realizou conferências internacionais sobre o crime organizado e seus problemas decorrentes, concluindo que máfias internacionais, baseadas em 23 países, estariam faturando, por ano, alo entre US$ 750 bilhões, ou o equivalente a quase o dobro do PIB do Brasil. (p.31-32)
A preocupação com as dimensões do crime organizado vem suscitando debates na ONU desde 1950. À época, a Assembléia Geral da organização determinou a necessidade de realização, a cada cinco anos, de um Congresso Internaciono para a Prevenção do Crime e Punição dos Criminosos. O problema é que, quatro décadas depois, a ONU constatou o crime organizado atingiu as dimensões que desafiam a própria noção de uma ordem jurídica internacional reguladora da relação entre os Estados, gerando cifras que superam os PIBs da grande maioria dos países, as “máfias” deixaram de ser um assunto de polícia para se tornar uma questão geopolítica e financeira de primeira grandeza. (p.32)
Um fervilhante mundo clandestino, não submetido a nenhuma espécie de lei ou regulamentação democrática, emprega centenas de milhares de pessoas. Os “negócios” incluem o comércio de drogas, armas (eventualmente, até nucleares), tecnologias sofisticadas obtidas mediante espionagem industrial ou compra de segredo, de escravas brancas e crianças, de órgãos humanos utilizados em transplantes, de transporte,passaportes e vistos de entrada falsificados para imigrantes ilegais, passaportes e vistos de entrada falsificados para imigrantes ilegais, além das práticas “tradicionais” de suborno de autoridades e políticos, extorsão, exploração da prostituição adulta e infantil e controle de cidades ou regiões inteiras com base na força e no terror de cidades por quadrilhas bem armadas e organizadas segundo uma estrutura paramilitar. (p.32)
Grupos mafiosos que tinham uma tradição de atividades ligadas às suas próprias regiões começaram a se associar, provavelmente no final dos anos 80, no sentido de estender sua influência às mais longínquas regiões do planeta. Estão incluídos nesse quadro as antigas máfias italianas e americanas, a Yakusa japonesa, as Tríades baseadas em Hong Kong e Sudeste asiático, assim como os novos grupos mafiosos em rápida expansão na África ocidental e as novíssimas máfias russas (surgidas com o desmantelamento do Estado soviético), todas “alimentadas” pela produção dos cartéis colombianos do narcotráfico e, em menor escala, por outros centros de produção, como o Sudeste asiático. Em outros termos, a estrutura do crime organizado passa a ter, predominantemente, um caráter transnacional, ao passo que os mecaismos de policiamento e repressão preservaram e ainda preservam um caráter nacional. (p.33)
Isso faz com que as organizações criminosas tenham muito mais agilidade e capacidade de burlar as leis do que os Estados nacionais, relativamente morosos e muitas vezes limitados por antigas convenções internacionais, formuladas, em alguns casos, há décadas. (p.33)
A proliferação e o crescimento das máfias foram estimulados pela era neoliberal, cuja marca principal é a desregulamentação das transações econômicas e financeiras, combinada com a facilidade de deslocamento de imensos capitais via sistemas de computador. Operando a partir de “paraísos financeiros”, onde ninguém indaga a origem do dinheiro, as máfias injetam seus recursos no mescado de capitais, criando e sustentando corporações internacionais e respeitáveis organizações de fachada “limpa”. O “dinheiro sujo” é, assim, transformado em capital especulativo, ansiosamente esperado e, em geral, muito bem recebido, em especial pelos países “emergentes”, como Rússia, Brasil, México e Argentina. O resultado óbvio disso é que passa a haver uma interpenetração crescente entre o dinheiro das máfias e o mercado financeiro institucional. Podemos afirmar, com tranquilidade, que se todas as máfias fossem subitamente destruídas, isso causaria uma catástrofe no mercado de valores mundial. (p.33)
Em 1991, a “explosão” da antiga União Soviética, cujas empresas, comércio e instituições de crédito eram totalmente controladas pelo Estado, criou um caos econômico no país. Com o fim das antigas leis estaduais, criou-se um período “selvagem” de transição social, econômica e política, ideologicamente dominado pela busca da “economia de mercado”. Iniciou-se um processo acelerado de privatização, em que gigantes conglomerados foram liquidados a preço irrisórios. (...) O resultado é que nos primeiros meses de 1992 existiam mais de 2 mil bancos operando na Rússia, a grande maioria dos quais servindo apenas de fachada para os negócios das máfias. O processo desenfreado de privatizaçãotornou-se, assim, um excelente meio de “lavar” dinheiro sujo, ao mesmo tempo que deu às máfias um poder tremendo sobre a política interna da Rússia. (p.34)
A situação na Rússia chegou a um grau tão extremo que os especialistas internacionais em mercado de capitais e crédito chegaram a afirmar em 1994, que a totalidade do sistema fianceiro russo era “refén” das máfias. Outros especialistas afirmam, que na Rússia, depois de tudo, houve apenas a passagem do controle da economia das mãos do Estado para as mãos das máfias. (p.34)
O tráfico nuclear merece atenção especial dos serviços de inteligência do mundo inteiro. Em 1992, a Interpol detectou e interceptou um grupo formado por dois espanhóis e um colombiano que transportavam plutônio ilegalmente, num voo entre Moscou e Munique. Em 1993, foi apreendida em Vilna, Lituânia uma carga ilegal de 4,4 toneladas de berílio. (p.35)
As máfias russas não se limitam a traficar drogas e armas em seu próprio país. Ao contrário, já controlam as atividades do crime organizado na quase totalidade da Europa oriental (em particular, Polônia) e em boa parte da Europa ocidental (Itália, Alemanha e França) e Américas (Estados Unidos, Canadá, Colômbia e Brasil), além de manterem associação com os grupos mafiosos do Cáucaso (Geórgia, Armênia e Azerbaijão) e Ásia central (as antigas repúblicas soviéticas islâmicas, Afeganistão, Paquistão, estes últimos importantes centros de distribuição e produção de heroína). Uma das atividades mais lucrativas e intensas é a “importação” anual, para a Rússia, de 250 mil carros roubados. (p.35)
O enorme capital gerado pelo crime organizado raramente tem uma destinação produtiva. Ao contrário, em geral é empregado em especulação, aquisição de bens de luxo e setores de serviço, como restaurantes, clubes noturnos e áreas de alzer. Quando esse capital especulativo cricula num país cuja economia está em crise, é natural que ele crie tremendos abismos sociais. (p.35)
Alguns números de 1994 indicam graves distorções geradas pelo crime organizado na Rússia: naquele ano, o PIB russo caiu 18% e a produção industrial 25%, em contraste, houve um crescimento de 10% na renda individual média. É claro que esse crescimento médio só foi possível graças aos dólares das máfias. (p.35)
A China comunista é outra região altamente lucrativa para grupos mafiosos. As Tríades, com base em Hong Kong, algumas com raízes no tráfico de ópio, faturam anualmente algo em torno de R$ 200 bihões, obtidos mediante tráfico de heroína, tráfico de pessoas, exploração da prostituição, indústria do lazer e entretenimento, mídias e bancos. (...) Com frequência as Tríades se associam à Yakusa e às máfias russas para fazer comércio através do extremo-oriental russo de Vladivostok, rota de exportação para grandes cidades russas e repúblicas vizinhas. Essas operações conjuntas são acertadas em reuniões de cúpula, duas das quais foram realizadas em Varsóvia e Praga. (p.36)
Um número muito grande de estudantes e profissionais recém-formados nas universidades, temendo desemprego e pobreza, se colocam a serviço dos cartéis colombianos. Com o passar do tempo, criam suas próprias organizações. (...) A formação de uma elite financeira vinculada ao narcotráfico e ao crime organizado ... estimulou a formação de grupos semelhantes em outros países. (...) A política de austeridade do FMI inibi os esforços de repressão e contenção da atividade das máfias. (p.37)
Cria-se assim, um quadro propício à multiplicação de “narcocracias”, traficantes que assumem diretamente o governo de seu país, como o regime em vigor na Bolívia no início dos anos 80. (p.38)
A prisão ou execução dos antigos “chefões” apenas inaugura uma nova fese, de reorganização das atividades , como mostra, amplamente a história: enquanto houver demando pelo produto, a qual cresce sem parar, haverá gente para fabricá-lo e distribuí-lo em larga escala. (p.38)
Além de seu significado econômico e financeiro, o poder do narcotráfico na Colômbia, no coração geográfico da América Latina, adquiriu um significado geopolítico. (p.39)
Nem só do apelo ao dinheiro fácil vive o crime organizado. Vive, também, de uma dimensão ideológica que exerce um certo fascínio, especialmente sobre camadas mais jovens e pobres da população. Não raro, as organizações mafiosas aparecem como alternativa de organização e luta contra um Estado opressor, preocupado unicamente com a defesa dos mais ricos e associados aos interesses do capital multinacional. (...) Basta lembrar o prestígio que alguns traficantes do Comando Vermelho tinham junto às populações faveladas nos morros do Rio. O CV mantinha, nos morros sob seu controle, um “fundo de assistência social” que atuava com maior eficácia do que qualquer órgão previdenciário.Além disso, oferecia emprego, mesmo se fosse de vigilante contra a presença de estranhos, e bons salários. (p.39)
O “apelo ideológico” também foi reforçado, nos anos 70 e 80, pela associação entre grupos narcotraficantes e a guerrilha nacionalista de esquerda na América Latna, Ásia central, e Sudeste asiático. (p.39)
A Casa Branca, várias vezes, acusou o dirigente cubano Fidel Castro de envolvimento com o narcotráfico, com o objetivo de “corromper” a juventude americana, “abalar os valores democráticos” dos Estados Unidos e ganhar dinheiro. (...) A frase mais emblemática como caracterização da droga como ideologia foi proferifa pelo traficante Carlos Lehder Rivas, fundador do Cartel de Medellín, no decorrer do julgamento de Manoel Antônio Noriega, realizado em Miami, meses depois da invasão do Panamá: “Nós, povos pobres da América Latina, temos sido explorados durante anos pelo imperialismo ianque. Mas nossa vingança está chegando: senhor juiz William Hoeveler, a cocaína é nossa vingança, é a bomba atômica da América Latina”. (...) A frese é didática para indicar, na retórica do crime, a tentativa de angariar simpatizantes em nome de uma suposta ideologia libertadora. (p.40)
A interpenetração entre máfias e o poder político e econômico é uma característica marcante deste fim de século. Ajuda a explicar o descrédito na política e nas instituições. É nesse sentido, uma ameaça concreta à democracia. (p.41)
As máfias chinesas estão invadindo Seattle e buscam refugiados de outras nacionalidades, que não orientais, para fazer o tráfico e praticar crimes. (p.42)
“a nova hecatombe social” (p.42)
Vulnerabilidade social dos refugiados e imigrantes ilegais (p.43)
As máfias oferem emprego, proteção pela estrutura da organização, e redes sociais, tomando o lugar dos serviços sociais dos Estados (p.43)
Há nos EUA 150 organzações ligadas à mafia italiana, chinesa, nigeriana, russa, mexicana, e mesmo do Camboja. A novidade é que agora, essas organizações criminosas estão se unindo contra o governo (p. 43)
Internacionalização das atividades das organizações criminosas italianas, que buscam nos anos 90 outras frentes de investimento, no Bradil, Japão, Rússia, Colômbia, Tchechênia e até na China, oferecendo esquemas de lavagem de dinheiro em troca de droagas e armas (p. 44-45)
A máfia italiana vem crescendo segundo métodos de empreendimento das grandes corporações multinacionais, e é a base logística de todo capital amealhado pelas dez maiores máfias do mundo. (p.45)
As máfias tradicionais são a Cosa Nostra, Siciliana, Camorra, a Ndranghetta e a Sacra Carona Unita, que têm mantido contatos entre si, incorporando novas metodologias de ação e organização. (p.45)
Na carreira: após obter sucesso e confiança dos outros “honrados”, torna-se capodecina, chefe de um grupo de dez homens. Na sequência, pode se tornanr chefe de um vilarejo ou município, membro ou conselheiro do comando-geral. (...)No código penal mafioso, a pena d emorte é o assassinato dos herdeiros. (p.46)
Máfias italianas adotaram estratégia de alianças com demais organizações (p.47)
Fecham contratos geopolíticos (p.49)
Em 1991, as máfias italianas começam a abandonar sua estrutura quase medieval, e essencialmente paternalista, e atrelada ao núcleo familiar, merecia sacríficos e lealdade. O “omertà”, código de silêncio entre os criminosos ganha maior presença na organização. (p.50)
Adotavam rituais, códigos cifrados, e símbolos ocultos, herdados de sociedades secretas medievais. (p.50)
O internacionalismo os leva, a partir do início dos anos 90, ao tráfico internacional de drogas, sobretudo o estabelecimento de rotas de tráfico na Turquia (heroína) e a colômbia (cocaína), e Canadá. (p.51)
A estrutura vertical, no topo do poder, uma comissão que aplaca e avalia as rusgas internas, planeja assassinatos e inventa esquemas para corrupção e infiltração (...), em quadros políticos do governo e manipular organizações públicas. (p.52)
A Cosa Nostra Americana, conhecida no país como LCN, é bem hierarquizada. Nos Estados Unidos, a estrutura de poder é vertical, mas caminhando num desenho “piramidal”. Na base estão os soldados e no vértice o capo. (...) O capo de cada família costuma manter um séquito de especialistas em sua companhia: em transferência internacional de fundos, no mercado de ações, advogados criminalistas e tributários, contadors e técnicos em telecomunicações e informática. Trata-se de uma das mais tradicionais práticas da máfia. Foi idealizada por salvatore Lucania, o “lucy Luciano”, que chegou a comandar 25 famílias. Notabilizou-se por ter fornecido à inteligência miliitar dos Estados Unidos apoio e informações de seus comandados sobre movimentação de tropas aemãs na Itália. Ultimamente, a Cosa Nostra dos Estados Unidos tem mantido comissões especiais para negociar com membros de outras máfias, em todo o mundo. (p.53)
Em 1994, com tantos líderes na cadeia, a Camorra funda uma subsidiária batizada de a nova família, cuja missão era ampliar os negócios para a América Latina, Eurásia pós-soviética e Oriente. Os mais procurados são herdeiros dos aprisionados, que agora tentam estabelecer bases para lavagem de dinheiro no exterior. (p.55)
Em 1994, planejam a diversificação das atividades em offshores, inicialmente com os cartéis colombianos (p.56)
Em 1994, compram terrenos no litoral Brasileiro como forma de lavagem dos narcodólares (p.56)
Em 1994, diversificaão offshore inicialmente de narcodólares colombianos. (p.56)
Em 1993, aproveitando-se da lenta e caótica transição para economia de mercado, começaram a se organizar em busca de dinheiro fácil e logo abandonaram o papel de “atravessadores” de marcadorias para, em 1994, controladores do sistema bancário e financeiro, com investimento em emprasas estatais privatizadas, bancos e instituições de crédito, hotéis, turismo, com conexão mais de 29 países do mundo, num efetivo, àquela época, de mais de 03(três) milhões de criminosos. (p.57)
Nos anos 90, começou a se modificar estrutura das organizações criminosas, que antes comonadavam negócios, monopilizando comércio em limites geográficos “conquistados”, em ramos ou atividades delimitados ou específicos. (p.57)
Agora, monopolizam rotas internacionais, com atividades diversificadas, pois tais rotam compartilhadas por diferentes organizações criminosas, podem servir simultaneamente para tráfico de drogas, armas, animais, pessoas, bem como outros bens de consumo de luxo e “descaminho”. Além da ampliação de sua esfera de atuação a transnacionais, as organizações criminosas contam agora com a diversificação de seus investimentos e atividades, bem como podem compartilhar ou contratar serviços de um especialista como por exemplo, contratar um especialista em homicídio, um advogado tributário ou criminal, ou ainda, os “segurança”, que são “cidadãos acima de qualquer suspeita” como jornalistas, banqueiros, atletas, políticos, para fornecer informações, ajuda legal, prestígio social, cobertura política ou até para auxiliar na lavagem de dinheiro. (p.58)
As organizações criminosas contam ainda com um batalhão de especialistas em investimentos internacionais, gerando especulações. (p.59)
Ao lado de sua antiga estrutura feudal, com verdadeiros rituais de iniciação, onde se promete lealdade, e submissão a um código de comportamento coercitivo-patriarcal, com grave punição física imposta aos que cometem erros. (p.61)
Investimentos no setor de construção civil e empreitagem, bem como especulação financeira e imobiliária. (p.61)
Organizações criminosoas fizaram-se, nos anos 60, de informantes dos serviços secretos. A Yakuza por exemplo, informante do G-2 japonês e da CIA, fundando o Partido Liberal Japonês, aproximando-o do Partido Democrático. (p.62)
Falta de controle do governo brasileiro em relação ao fluxo internacional de capitais, na importação e exportação de produtos químicos (p.65), 
Em 1994, segundo relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos, organizações criminosas narcotraficntesestariam procurando “uma atmosfera política que fosse mais condizente com seus negócios”. (p.66-67)
Em 1995, Relatório da Polícia Federal informando Cartel de São Paulo, responsável pela distribuição de drogas no país e do Brasil para todo o mundo, comandada por 18 chefões, que segundo dossiê da Associação Nacional de Policiais Federais, através de empresas de fachada, e com 2 principais chefões de ascendência espanhola, que circulam no eixo Rio-São Paulo, como empresários da noite. (p.69)
O Brasil como uma das principais base de operações de lavagem de dinheiro e de tráfico de drogas das organizações criminosas (p.73)
Restauantes, clubes náuticos, navegação, imóveis, agropecuária e exportação de carne (p.75 - 76)
Pulverização de dinheiro em nome de “fantasmas”, por transferências internacionais de fundos para contas em paraísos fiscais, de onde eram definitivamente transferidos para vultosas contas de narcotaficantes em bancos internacionais. (p.77)
Compra de aviões e barcos (p.77)
Sindicatos policiais, sindicatos de rodoviários, associações ruralistas. (p.80)
Mídias para publicidade e repesentatividade (p.81)
Linhas excusivas de rádio comunicação (p.83)
A influência da máfia rrusa não começou, portanto, nos anos 90. Ela já existia, sob outra forma, no regime czarista soviético e, antes dele, no interior da nobreza czarista, organizava gangues que estedniam seus tentáculos aos cnfins do império russo. (p.85)
A corrupção e a fragilidade das instituições políticas, jurídicas e sociais como catalizadores. (p.86-87)
Num cenário de absoluto caos político, econômico e social, com a dissolução da União Soviética, e o acelerado processo de privatização das empresas estatais soviéticas, as máfias russas “associadas ao capital internacional”, tinham dinheiro para comprá-las. (p.88)
As máfias russas passaram a além de traficar drogas, a centralizar o contrabando em larga escala, e até mesmo a exportação de matérias-primas e produtos industriais pesados, e até mesmo da indústria de defesa. (p.89)
Estabeleceu-se um fluxo contínuo entre obtenção de dinheiro por todos os meios (narcotráfico, prostituição, contrabando, extorsão ...) e a “lavagem” do dinheiro por instituições bancárias. (p.90)
Fauta de estrutura jurídica adequada à realidade do mercado. (p.91)
Outros países como Estados Unidos, também enfrentaram fases históricas em que o crime organizado era um elemento constitutivo do processo de formação das grandes capitais financeiras. (p.92)
Os lucros são lavados e reinjetados na rede financeira internacional, e aí multiplicam-se inacreditavelmente. Em 1982, o Departamento de Finanças Estatísticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) calculou que as finanças mudiais perdiam, em decorrência dessas lavagens, de R$ 80 a R$ 100 bilhões a cada ano. (p.95)
Em 1987, o FMI denunciou o “buraco-negro” de 25 bilhões na economia mundial, graças à lavagem de dinheiro. (p. 95)
Em 1990, o Instituto warton estima que a Cosa Nostra americana tenha faturado US$ 52 bilhões. (p.95)
A primeira etapa da “lavagem” começa nas ruas: o fornecedor pega as notas dos clientes e as deposita no banco mais próximo. (p.95)
Na década de 80, uma taxa de 06% era cobrada pelos lavadores sobre o montante abluído. Em 1994, um serviço completo de lavagem de dinheiro cobrava 26%, incluindo serviço de aplicação dos narcodólares em fontes ilegais de investimento. (p.96)
Para reduzir o peso do dinheiro vivo, os especialistas em lavagem de dinheiro o transformam em ordens de pagamento, via empresas tradicionais, como o U.S. Postal e American Express. Essas ordens de pagamento conrabandeadas por avião ou remetidas por serviços privados de courier. (p.96)
Em 1987, escândalos envolvendo a CIA em operações clandestinas no Irã e na Niacrágua. (p.137)
Em 1987, escândalo Irã-Contras, a CIA praticava ações de torrorismo e de estímulo à Guerra em diversos países no mundo. Durante a Administração REAGAN concentrou operações secretas e ilegais, muitas vezes, alianças com os mesmos narcotraficantes contra os quais voltava-se oficialmente, a retórica Reagan. (p.140) Exemplo, o próprio Manoel Antônio Noriega, homem forte do Panamá, que seria deposto em dezembro de 1989, mediante a invasão do país pelos Estados Unidos. O detalhe é que Noriega estava na folha de pagamentos da CIA desde, pelo menos 1967. (p.141)
Assistencialismo (p.141)
Financiamento de clubes de futebol (p.142)
Dorgas do Turcão, Rio de Janeiro, em 1989.
Noriega foi agente da CIA entre 1970 e 1983. O então presidente Bush havia sido diretor da CIA entre 1976 e 1977, bem na épca em que Noriega estava na folha de pagamento dos agentes da CIA. (p.159)
Donald Winter, ex-agente da CIA: “Prestei trinta anos de serviço à CIA e sei que Noriega colaborou com a agência, e muito, entre 1971 e 1986”. (p.163)... Nas operações de combate a cartéis. (p.164), na chamada “Operação Negócios”, fornecendo registros bancários dos distribuidores de drogas dos Cartéis de Medelin e de Cali, que resultou numa apreensão de 5,8 milhões de dólares do narcotráfico em 1985. Em 1992, o general Noriega foi condenado por 8 acusações de tráfico e produção de drogas. (p.164)
O Brasil, segundo a Interpol, é o país em que ocorre o maior trânsito mundial de éter e acetona, empregados para refinar a paste de coca. (p.175)
O álcool foi para os anos 20 aquilo que a cocaína foi para os anos 90. (p.199)Os anos 30 e 40 foram pródigos na ciração de ícones do mal pelos mais variados regimes políticos, em todas as partes do mundo. ... A identidade totalitária, enfim tinha base na criação de ícones do mal que representariam tudo aquilo que não fazia parte da ideologia do Estado e que, por isso, deveria ser sumariamente eliminado. (p.201)
Nos Estados Unidos, o combate ao “demônio” comunista assumiu, nos anos 50, a forma absolutamente caricatural do macartismo. ... Não é de se espantar que os acusados de suposto envolvimento com o comunismo fossem, invariavelmente, também suspeitos de consumo de drogas e/ou homossexualismo. (p.203)
A contracultura e retórica politica de tolerância dos anos 60, produzida por Wodstock, foi absorvida pela “tecnicização” da inteligência americana, que absorveu boa parte dos jovens daquela época, ao mesmo tempo que uma violenta crise econômica e do petróleo em meados de 70, diminui a classe média e aumenta o número de pobres e desempregados. (p.205)
Em 1980, à época das eleições Reagan, representando interesses do “Grupo da Califórnia” – conglomerado de da indústrias bélicas e de tecnologia de ponta – fortalecido pela corrida armamentista à época da Guerra Fria, discurso fundamentalista contra o comunismo, então ícone do mal. O personagem Rambo foi o herói e ícone da era Reagan. (p.205) O neoliberalismo foi sua prática e sua ideologia. (p.206) Sua marca foi definida por uma lei que em 1981 isentou de impostos os ricos que financiaram sua campanha. (p.206)
Com a nova era “neoliberal” inaugurada por Reagan, entre 1977 e 1992, houve maior concentração de renda e riqueza, e crescimento da pobreza. Para conter os distúrbios e conflitos internos relacionados a intolerância, racismo, pobreza, e liberalismo econômico, a administração Reagan, lançou sua campanha contra o narcotráfico. Ela funcionava como um dos pilares da “revitalização” da América Latina preconizada por Rambo. Era um componente necessário à campanha de “moralização” de uma sociedade desmoralizada por derrotas militares e escândalos políticos, da mesma forma que a campanha contra o álcool, nos anos 20, pretendia “moralizar” que ameaçava escapar ao controle dos wasps. (p.206-207)
O Estado invedia a vida privada dos cidadãos e estimulava a delação, como na pior fase do stalinismo. (p.207)
Em 1987, em uma reunião de altos comandos dos exércitos latino-americanos, patrocinada pelos Estados Unidos, conclui que o narcotráfico “constitui um meio de guerra revolucionária”, já que “o comunismo usa o narcoterrorismo para provocar desequilíbrios sociais, enfraquecer a moral comunitáriae desintegrar a sociedade ocidental”. (p.208)
Mas, para além de qualquer consideração moral, a cruzada contra as drogas oferecia a Washington um valioso pretexto para prolongar e acentuar sua presença militar na américa Latina, em especial, após o fima da “ameça comunista”. De fato, a única justificativa para o Comando Sul (base militar no Canal do Panamá) era a atividade de guerrilha comunista na América Central. Com o fim do comunismo, a desativação do Comando Sul estava prevista conforme acordo assinado em 1977, para 1990. Em dezembro de 1989, três meses antes de expirar o prazo para a devolução do Canal, os Estados Unidos invadiram o Panamá com o pretexto de combater o General Noriega, acusado de narcotráfico. O Panamá assumiu assim o provilégio de ter sido o primeiro país militarmente invadido no quadro da “cruzada” antidroga. Noriega foi deposto, mas o tráfico de drogas na região aumentou. (p.208)
A estratégia da Casa Branca não se limitou ao Panamá, Reagan enviou marines à Amazônia Internacional (Colômbia, Peru, Bolívia, Equador e Brasil), iniciando um processo de ocupação militar daquela região. Forças armadas Brasileiras chegaram a denunciar a violação da soberania nacional por parte dos militares americanos. ... A ação de ambientalistas na região, e a chantagem econômica e financeira também faz parte dessa estratégia global. Em troca de novos empréstimos e de assistência tecnológica para projetos de desenvolvimento, a Casa Branca impôs, como condição, a militarização do combate ao narcotráfico, com a devida ingerência de “assessores” americanos nos assuntos dos países latino-americanos. Em alguns casos e “operações especiais” isso colocou setores dos Exércitos nacionais latino-americanos sob o comando de marines e agentes dos Estados Unidos. (p.209)
Mas o significado estratégico, geopolítico da “guerra às drogas”, é o controle interno do país. (p.209-210)
Tanto capitalistas como comunismas, à época da guerra fria, viam as drogas como “arma” associada a improdutividade contrária ao modelo social e de produção, e imoralidade contrária aos valores e costumes tradicionais. (p.210)
Esse sentido do uso da droga foi exposto de forma muito clara no festival de Woodstock e na produção intelectual e artística da contracultura. (p.210)
Ora, um compeonente fundamental da economia globalizada é a tendência ao crescimento do capital especulativo. Os jogos financeiros das grandes corporações e escritórios de investimento colocam em circulação eletrônica (via computador) bilhões de dólares que constituem “capital fictício” – dinheiro que não tem correspondência nem em outro nem em bens materias. As corporações multinacionais jogam esse capital como se estivessem à mesa de pôquer: blefam, apostam, compram e vendem milhões em títulos para criar, artificialmente, flutuações de valores. Tornam-se aliás muito tênues, nesse nível, as fronteiras entre os procedimentos “legítimos” e os adotados pelas máfias. É um smbiente financeiro que favorece a proliferação de criminosos de colarinho branco, de gente sem escrúpulos mas com muita agilidade e inteligência. (p.212)
Boa parte do capital que circula no sitema financeiro mundial está nas mãos das máfias. Só há, portanto, uma forma de conciliar o liberalismo econômico com a retórica antigrogas: a mais completa e toal hipocrisia. As grandes instituições financeiras mundiais, ao mesmo tempo em que lançam mão de dinheiro oriundo do crime, exacerbam os ataques aos criminosos. As regras de sigilo bancário e a tradição de segredo que cerca os negócios financeiros, mesmo fora dos “paraísos”, são o calde de cultura para o florescimento dos vínculos entre as máfias e os bancos. Obviamente, é muito raro que essas instituições permitam o “vazamento” de dados estabelecendo sua conexão com o crime organizado. Uma dessas situações aconteceu em 1991. O Banqueiro saudita Gaith Pharaon, à época um dos quiépoca um dos quinze homens mais ricos do mundo, declarou em Buenos Aires, que todos os grnades bancos lavavam dinheiro do narcotráfico, incluindo instituições do First Bank of Boston e o Crédit Suiédit Suisse. Pharaon se ressentia do fato de que apenas o seu Bank of Credit and Comerce International, estopim de um grande escândalo em 1992, fosse citado com frequência por suas vinculações com o narcotráfico. (p.213)
No Brasil é, simplesmente impossível calcular com exatidão o impacto do dinheiro “sujo” no mercado formal. Uma das razões para isso foi explicada durante o escândalo Colo – PC Farias: as autoridades não têm o menor controle sobre as atividade sbancárias, já que como se viu, é muito fácil abrir contas em nome de “depositantes fantasmas”, tendo como titulares pessoas de nome e CPF falsos. Assim, por exemplo, se um narcotraficante quiser movimentar grandes quantidades de dinheiro sem chamar a atenção, só terá que abrir várias contas falsas e dividir as somas movimentadas entre depositantes fictícios. A falta de controle foi agravada pelas leis aprovadas no início de 1992, permitindo que capitais estrangeiros comprassem títulos e ações na bolsa de valores. Em julho de 1992, os investimentos estrangeiros já ultrapassavam a ordem de US$ 05, bilhões menais. (p.213)
Dissemos, anteriormente, que as organizações criminosas se ajustaram ao processo de globalização da economia, o qual implica um fluxo relativamente livre de capitais através de sistemas informatizados. Em outros termos, as dimensões e as formas de organização do crime no mundo contemporâneo nada têm a ver com aquilo que existia a duas ou três décadas. (p.214)
As organizações criminosas atuais possuem vínculos internacionais e informatizados, com capacidade de influir nos rumos da política financeiroa de um país. Já não se trata de “famílias” cuidando da jogatina, da prostituição e da distribuição de drogas nos bairros. É claro que certas figuras consagradas, como o mafioso de óculos escuros e fumando charuto, continuam existindo. Mas estes são apenas os “peixes pequenos”, a parte mais visível de um edifício complexo e multinacional. É mais provável que o grande mafioso se paresente como honrado executivo de alguma respeitada corporação. (p.214)
Quanto maior a desorganização da opinião pública, quanto menor a democracia e a consciência da cidadania, maior a desenvoltura com que atuam as organizações criminosas. (p.215)
“os traficantes conquistam simpatias entre favelados mediante organização de serviço spúblicos que o Estado Brasileiro jamais foi capaz de garantir; entre eles, as “caixinhas previdenciárias” instituídas pelo Comando Vermelho. (p.215)
O dinheiro dado ao carnaval pelos “bicheiros” do Rio de Janeiro é outro exemplo de manobra destinada a angariar a simpatia da opinião pública. (p.215)
Nenhum país pode, isoladamente, combater o crime organizado. (p.215) Não se trata mais de caso de polícia, mas sim de assunto de Estado. (p.216)
Existe aí, certa analogia com o “equilíbrio do terror” vigente à época da guerra fria. (...) Se por um lado temos o aumento das características policialescas do Estado, por outro, temo so aumento do crime organizado. (p.217)
A indústria cinematográfica apropriou-se dessa perversão. De um lado temos o herói policial, cada vez mais programado ou robotizado, sem conflitos de consciência, cuja aventura está na opção diariamente testada de cumprir e fazer cumprir, na opção por manter princípios éticos acima de corrupção, que emprega facilmente a violência como, modo de resolução de conflitos no dia-a-dia. É o caso do Robocop. Por outro lado, o criminoso representa a quebra de paradigmas e da rotina, a superação e rompmento do tecido social que só existe para ser rompido. É o próprio mal que passa a ser glamourizado. (p.218)
Exatamente porque o crime, no mundo comtemporâneo deixou de ser uma questão policial para se tornar um assunto cultural, financeiro e geopolítico, a solução passa por uma reflexão que contemple esses componentes. (p.218)