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2017 INFORME DE BIOGÁS Y BIOMETANO DEL MERCOSUR Grupo Ad Hoc de Biocombustibles del Mercosur - GAHB BIOGAS AND BIOMETHANE REPORT IN MERCOSUR Mercosur Ad Hoc Group on Biofuels - GAHB relatório DE BIOGÁS e BIOMETANO Do MERCOSUl Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do Mercosul - GAHB relatório de biogás e biometano do mercosul 2017 Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do Mercosul - GAHB Para referência a este documento: Relatório de Biogás e Biometano do Mercosul / GAHB - Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do Mercosul - Vol. 1, n. 1 (2017) CIBiogás: Foz do Iguaçu, 2017. ISSN 2526-9534 INFORME DE BIOGÁS Y BIOMETANO DEL MERCOSUR Grupo Ad Hoc de Biocombustibles del Mercosur - GAHB BIOGAS AND BIOMETHANE REPORT IN MERCOSUR Mercosur Ad Hoc Group on Biofuels - GAHB CRÉDITOS Argentina Coordenação Nacional Miguel Almada (Ministério da Agroindústria da Nação) Produção de conteúdos Agustina Branzini Hugo Zilocchi Brasil Coordenação Nacional Rodrigo Augusto Rodrigues (Casa Civil) Renato Domith Godinho (Ministério de Relações Exteriores) Produção de conteúdos Leidiane Ferronato Mariani Felipe Souza Marques Natali Nunes dos Reis da Silva Rodrigo Regis de Almeida Galvão Rafael Hernando de Aguiar González Paraguai Coordenação nacional Juan Cabral (Ministério da Industria e Comércio) Produção de conteúdos Andrea Fernandez Gustavo Collar Carlos Servín Uruguai Coordenação nacional Wilson Sierra (Ministério da Industria, Energia e Mineração) Produção de conteúdo Verónica Perna Florencia Benzano Víctor Emmer María José González Wilson Sierra Coordenação Geral Rodrigo Regis de Almeida Galvão (CIBiogás) Marcelo Alves de Sousa (CIBiogás) Produção e Diagramação Rafael Gomes Cardoso (CIBiogás) Bruno Terao (CIBiogás) Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás www.cibiogas.org | cibiogas@cibiogas.org Apoio: Parceiros: ÍNDICE apresentação o GAHB o BIOGÁS argentina Prefácio O país Participação das energias renováveis Biogás na argentina Potencial de produção de biogás Produção real de biogás Aplicações do biogás Mecanismos de incentivo e investimento para biogás Casos de sucesso brasil Prefácio I Prefácio II o país biogás no brasil potencial de produção de biogás produção atual de biogás aplicações do biogás mecanismos de incentivo e INVESTIMENTO PARA BIOGÁS CASOS DE SUCESSO paraguaI Prefácio O país Biogás no Paraguai Mecanismos de incentivo e investimento para biogás APLICAÇÕES DO BIOGÁS Casos de sucesso uruguaI PREFÁCIO O país Biogás no Uruguai Potencial de Produção de biogás Produção real de biogás Aplicações do biogás Mecanismos de incentivo e investimento para biogás 06 07 08 09 10 11 12 13 13 14 16 17 18 21 22 23 24 24 25 28 29 30 32 37 38 39 39 40 41 42 45 46 47 49 50 52 53 53 55 58 Casos de sucesso Comentários FInais 06 Apresentação O biogás é uma fonte de energia renovável que vem despertando interesse do setor energético mundial por seus benefícios ambientais, econômicos e sociais. No entanto, diversos atores desse setor indicam a falta de informações como uma barreira ao desenvolvimento do mercado do biogás e do biometano. Assim, esse relatório tem como objetivo divulgar dados sobre o setor de biogás e de biometano dos países que compõe o Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do MERCOSUL (GAHB). Os dados e informações dos países foram repassados pelos pontos focais do GAHB. O CIBiogás é responsável pelas informações referentes ao Brasil. CONDOMÍNIO AJURICABA Marechal Cândido Rondon (PR) 07 o GAHB O Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do MERCOSUL (GAHB) foi criado em 2007 por decisão do Conselho do Mercado Comum (Dec. 049/2007, Ata 03/2007, vigente desde o 17/12/2007), com objetivo de desenvolver critérios e instrumentos para implementação da cooperação regional em biocombustíveis. Na ocasião, também foi aprovado o Plano de Ação do MERCOSUL para Cooperação em Matéria de Bicombustíveis". O GAHB está subordinado ao Grupo Mercado Comum (GMC). Os países-membros do MERCOSUL vêm conferindo relevo à bioenergia em suas agendas externas. A harmonização de normas e padrões técnicos, tema que ocupou espaço prioritário na agenda do Grupo, visa a estimular a produção e o uso de biocombustíveis em âmbito regional e contribuir com o objetivo de torná-los um produto comoditizado. Na XIV Reunião do GAHB, realizada em Montevidéu, nos dias 14 e 15 de junho de 2016, as delegações de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai acordaram a realização de trabalho de sistematização sobre o estado da arte dos desenvolvimentos relativos ao biogás em cada país. Coube ao Centro Internacional de Energias Renováveis - Biogás (CIBiogás), presente na reunião, auxiliar na publicação desta primeira edição do Relatório do Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do MERCOSUL (GAHB) sobre Biogás e Biometano. 08 O BIOGÁS No âmbito do planejamento energético mundial fala-se cada vez mais em eficiência energética no consumo, redução de emissões de carbono e, principalmente, em diversificação e inserção de fontes alternativas na matriz energética. Dentre as fontes de energia alternativas disponíveis está o biogás, gás proveniente da biodigestão de matéria orgânica, como resíduos e efluentes industriais, urbanos e rurais. Esse gás tem cerca de 60% de metano em sua composição que, em virtude do elevado poder calorífico, permite a sua utilização na geração de energia térmica e elétrica. Além disso, submetendo o biogás a um processo de separação ou refino é possível obter biometano e gás carbônico. O biometano é considerado similar ao gás natural e, assim, pode ser utilizado para os mesmos fins. Além dos benefícios do uso energético do biogás, seu processo de produção possibilita o tratamento de efluentes e resíduos para reduzir seu potencial poluidor e a produção do digestato, efluente do processo que tem propriedades fertilizantes do solo. Ademais, muitas vezes o biogás já é produzido naturalmente no tratamento de efluentes ou em aterros sanitários, sendo emitido para a atmosfera sem ter sido queimado (em queimadores ou em motogeradores). Essas emissões estão relacionadas à mudança climática, já que o metano contido no biogás é um dos principais gases do efeito estufa, 21 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono (CO2). Outras vantagens do uso energético do biogás dizem respeito ao desenvolvimento de um mercado em torno dessa fonte de energia com incentivo à criação de empregos e geração de renda. Os benefícios com a redução de custos produtivos ou aumento de receitas das indústrias, propriedades rurais, estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários também devem ser destacados como uma grande vantagem do biogás e do biometano. argentina 09 10 PREFÁCIO A República Argentina enfrenta o grande desafio de ampliar a participação das energias renováveis em de seu consumo enérgico, aproveitando seu enorme potencial proporcionado principalmente por sua alta diversidade de condições agroecológicas. Do ponto de vista agroindustrial, a contribuição da biomassa derivada das atividades agrícolas, pecuárias, florestais, assim como de suas indústrias associadas, para seu aproveitamento energético, é uma oportunidade para superar esse desafio. Especificamente, a valorização dos resíduos frigoríficos, os efluentes derivados da produção de leite e dos sistemas estabulados bovinos, o estrume e chorume suínos e o esterco de aves são recursos ideais para gerar bioenergia a partir do biogás. A digestão anaeróbica é uma tecnologia que permite gerar energia distribuída, o que melhora a eficácia do sistema. Além de oferecer potência firme e de base e contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, permite agregar valor em origem a matérias primas, gerar empregolocal, e favorece o desenvolvimento de áreas rurais. A República Argentina aposta na geração de valor agregado em origem e em uma maior oferta de energias limpas renováveis, com redução das emissões de carbono. Assim, o desenvolvimento da tecnologia de digestão anaeróbica em nosso território é fundamental para continuar alavancando a incorporação das energias renováveis em nossa matriz energética. Mariano Lechardoy Subsecretário de Bioindustria do Ministério de Agroindústria da Nação O PAÍS A República Argentina conta com uma superfície total de 2.780.400 km2 e possui 11.968 km de fronteira, dos quais 4.989 km são costeiros. Por sua vez, ocupa o 8º lugar no mundo em termos de dimensão territorial. Trata-se do segundo maior país da América do Sul (depois do Brasil); tem uma localização estratégica em relação aos canais marítimos entre o Atlântico Sul e Pacífico Sul (Estreito de Magalhães, Canal de Beagle, Passagem de Drake); apresenta diversas paisagens geofísicas que vão dos climas tropicais, no Norte, à tundra, no extremo sul; O Monte Aconcágua é a montanha mais alta do Hemisfério Ocidental, com 6.960 m (localizado na esquina noroeste da província de Mendoza, ponto mais alto da América do Sul), enquanto que a Laguna del Carbón (Lagoa do Carvão) é o ponto mais baixo no Hemisfério Ocidental. O clima é principalmente temperado; árido no Sudeste; subantártico no Sudoeste. Seu território está composto por ricas planícies na região dos pampas, localizada na metade norte, planos a ondulados platôs na Patagônia, ao Sul, e acidentado relevo na Cordilheira dos Andes, ao longo da fronteira ocidental. No que diz respeito a seus recursos naturais, conta com solos férteis na planície dos pampas, com alta capacidade produtiva. Cabe destacar que do total de sua superfície cultivada, 23.600 km2 são cultivados com irrigação. Dispõe de riqueza mineral baseada em chumbo, zinco, estanho, cobre, minério de ferro, magnésio, petróleo e urânio. Com uma população de 43.886.748 habitantes, é o 33º país mais habitado do mundo, sendo que um terço de sua população vive em Buenos Aires. Os centros de maior concentração populacional se encontram nas regiões do norte e centro do país. No Sul, a Patagônia continua sendo escassamente povoada. Politicamente seu território está dividido em 23 províncias: Buenos Aires, Catamarca, Chaco, Chubut, Cidade Autônoma de Buenos Aires (Capital), Córdoba, Corrientes, Entre Ríos, Formosa, Jujuy, La Pampa, La Rioja, Mendoza, Misiones, Neuquén, Rio Negro, Salta, San Juan, San Luis, Santa Cruz, Santa Fe, Santiago del Estero, Tierra del Fuego, - Antártida, Ilhas Malvinas e Ilhas do Atlântico Sul e Tucumán. Seu PIB é de 550 bilhões de dólares (2016), dos quais 11,4% provém da atividade agropecuária, 30,2% da atividade industrial e 58,4% do setor de serviços. Seu PIB por habitante é de US$ 12.260. As principais atividades agropecuárias são o cultivo da soja, milho, trigo, girassol, amendoim, limão, uva, tabaco, chá e as atividades pecuárias leiteiras, de criação e invernada. Dentre as principais indústrias estão o processamento de alimentos, veículos, bens de consumo duradouro, têxteis, produtos químicos e petroquímicos, metalurgia e aço. No que diz respeito a seu comércio exterior, as exportações alcançaram 57 bilhões de dólares (2016), destacando-se entre os principais produtos a soja e derivados, petróleo e gás, veículos, milho e trigo. Os principais países de destino são o Brasil (17%), a China (8,6%)e os Estados Unidos (5,9%) (dados de 2015). As importações em 2016 foram de 55,6 bilhões, principalmente nos ramos de maquinaria, veículos de motor, petróleo e gás natural, produtos químicos orgânicos e plásticos, provenientes do Brasil (22,4%), Estados Unidos (16,3%), China (15,5%) e Alemanha (5,1%) (dados de 2015). 11 argentina PARTICIPAÇÃO NAS ENERGIAS RENOVÁVEIS A matriz energética argentina se divide n a seguinte forma: 87,3% de geração a partir de combustíveis fósseis; 9,4% a partir de energias renováveis e 3,3% a partir de energia nuclear. No que diz respeito à matriz elétrica, aproximadamente 60% depende da geração com base em hidrocarbonetos. As energias renováveis representam um valor próximo a 2% na geração de energia elétrica. Este cenário revela a necessidade de ampliar a participação das energias renováveis na matriz energética. Entre elas, a bioenergia ou energia derivada de biomassa, que consiste na obtenção de energia química (gás metano, biodiesel ou bioetanol, etc.) a partir de resíduos animais ou vegetais, principalmente, utilizadas como fonte de energia elétrica ou como combustível. A República Argentina tem um grande potencial como produtor de dita matéria prima para sua utilização como fonte energética, gerando benefícios para o setor energético, agropecuário e florestal, assim como para a sociedade em seu conjunto. 12 argentina matriz energética argentina leNHa 51,4% 4,0% 3,3% 0,8% 1,1% 1,1% 3,0% 0,5% 34,9% gÁs natural hidrÁulica nuclear bagaÇO carVÃO mineral ÓLEOS oUTRAS primÁrias petróleo matriz elétrica argentina | 2015 33% 28% 14% 14% 5% 4% 2% hidráulica ciclos combinados turbina a gÁs turbo vapor nuclear motor A diesel renovÁVEIS fO n te : c a m m es a Biogás NA argentina O desenvolvimento do biogás na República Argentina teve início nos anos 80, quando se instalou o debate da tecnologia; em 1993 se instalou um biodigestor na escola rural de Los Cerrillos, que alimenta as fornalhas da cozinha do refeitório escolar. Em 1995, outro biodigestor foi instalado em Alto Verde, permitindo a preparação da comida de 400 crianças por dia, economizando recursos no consumo de gás engarrafado. Nesse mesmo ano, outro biodigestor, instalado em Monte Vera, começou a utilizar, pela primeira vez, a fração orgânica dos resíduos urbanos coletados de forma seletiva pelos vizinhos, utilizando o biogás para a granja de exploração avícola, o que permitiu diminuir o gasto de consumo de gás engarrafado. Desde então mais de vinte instalações demonstrativas foram implantadas em creches, asilos, centros comunitários e refeitórios escolares nas províncias de Santa Fé, Buenos Aires, Córdoba e San Juan. Em 199, em Governador Crespo, foi concluída a montagem da primeira planta do país para tratamento de resíduos sólidos urbanos mediante um biodigestor de 150 m3 com produção de biogás para uma população de 10 mil habitantes. Em princípios dos anos 2000, a tecnologia recebeu outro estímulo: em outubro de 2002, na localidade de Emilia, um povoado de aproximadamente mil habitantes situado 85 quilômetros ao norte da cidade de Santa Fe, na província homônima, a Universidade Nacional do Litoral desenvolveu um biodigestor para transformar resíduos orgânicos gerados pela população. Em 2006, consolidou-se a ideia de utilizar o biogás como uma contribuição mais ao esquema energético. Em 2008, a empresa Citrusvil inaugurou a primeira planta de biogás da Argentina, com o objetivo de tratar todos os efluentes derivados do processamento industrial de limões que a empresa desenvolve e gerar parte do gás requerido em seus processos produtivos. A Argentina se destaca por ter um sólido setor agropecuário e agroindustrial, por sua produção de grãos, carnes, laticínios, alimentos, etc. Ditas atividades geram uma grande quantidade e variedade de resíduos e subprodutos agropecuários. Em tal sentido, a Argentina conta com um grande potencial para a produção e obtenção de biogás com seu consequente aproveitamento elétrico ou térmico. A fim de consolidar o fomento para o desenvolvimento dos biocombustíveis no país, em 2006 foi sancionada a Lei Nacional Nº 26.093, “Regime de Regulação e Promoção para a Produção e Uso Sustentáveis de Biocombustíveis” pelo termo de 15 anos,na qual se inclui o biogás dentro dos biocombustíveis que se deseja fomentar no território da Nação Argentina (Artigo 5). POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE BIOGÁS O potencial de biogás que a Argentina apresenta é significativo se considerarmos as produções agropecuárias intensivas, o setor agroindustrial e o setor urbano. Especificamente, se forem considerados os setores pecuários, é possível intensificar bacias produtivas ao longo do território. No que diz respeito aos estabelecimentos com curral de engorda, atualmente a Argentina conta com um total de 2.796 confinamentos de diversos tamanhos, localizados em diferentes zonas do país, os 13 argentina 53 55 58 Casos de sucesso Comentários FInais quais mostram um potencial concentrado principalmente nas províncias de Buenos Aires, Santa Fe e Córdoba (Figura 3.1 (a)). O desenvolvimento da atividade suína se localiza principalmente na Bacia do Rio Salado, que faz parte do sistema hidrográfico da Bacia do Rio da Prata, e engloba uma área de 186.000 km2, mais da metade da superfície da província de Buenos Aires. A Bacia do Salado se caracteriza por ter condições agroecológicas propícias para a criação de porcos e produção de cereais e oleaginosas, que são os principais insumos da atividade suína. Embora a produção suína esteja majoritariamente concentrada na Pampa Úmida, encontra-se dispersa em todo o território nacional, o que indica uma tendência de aparição de novos bolsões produtivos em regiões onde a atividade tem crescido significativamente, especificamente nas províncias de San Luis e La Pampa (Figura 3.1 (b)). A produção de leite mostra toda sua potencialidade na Região dos Pampas (superfície de aproximadamente 500.000 km2), onde se concentram as principais bacias leiteiras e quase a totalidade das fazendas leiteiras e industrias do setor. Apesar de também haver produção de laticínios fora da Região dos Pampas, também se identificaram produções de laticínios, quase 80% da produção se concentra nas províncias de Santa Fe, Buenos Aires e Córdoba (Figura 3.1 (c)). PRODUÇÃO REAL DE BIOGÁS No país existe evidência da utilização da biodigestão anaeróbica há mais de 20 anos. No entanto, a tecnologia do biogás não alcançou um grau de maturidade equivalente à sua potencialidade no país, principalmente pelos recursos de biomassa (virgens ou subproduto) disponíveis no território. Cabe esclarecer que além da alta disponibilidade de recursos, a tecnologia vai adquirindo maior relevância com o incremento da necessidade energética tanto no âmbito industrial quanto residencial e do desenvolvimento e aplicação das energias renováveis. 14 argentina Figura 3.1: Distribuição territorial nacional de estabelecimentos de curral de engorda, de exploração de suínos e leiteiros, em função dos seus tamanhos. a) Curral de engorda. b) Explorações de suínos. c) Leiteiros. Fonte PROBIOMASA, elaborado com dados do SENASA. Segundo um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI/FAO, 2016), na República Argentina existem aproximadamente 105 plantas de biodigestão de diferentes tamanhos, grau de tecnologia, usos e aplicações (Figura 4.1). Figura 4.1: Figura 4.1: Distribuição por província de plantas de digestão anaeróbicas detectadas no território argentino. FOnte INTI/FAO, 2016 Se considerarmos a distribuição das 62 plantas identificadas de acordo com a propriedade, 53,1% pertencem ao setor privado; depois vem o setor público, com 37,5%; as cooperativas e ONGs somam em conjunto 4,7% do total. Os substratos mais utilizados para a alimentação dos biodigestores instalados na República Argentina se classificam em quatro grandes grupos: resíduos agrícolas, resíduos da atividade pecuária, resíduos industriais e resíduos urbanos (Modelo 1). Como podemos observar, os mais utilizados são os resíduos procedentes da indústria, seguidos em ordem de importância pelos resíduos sólidos urbanos e pelos resíduos provenientes da 15 argentina modelo 1 categoria da planta BIOMASSA VIRGEM 1 1% resÍduo urbano 17 28% resÍduo indÚstria 24 38% resÍduo PECUÁRIA 16 27% resÍduo agricultura 4 6% total 62 100% QUANTIDADE de plantas 18 c o r d o b a b u en o s a ir es en tr e r io s la p a m pa m en d o za s a lt a s a n l u is s a n ta f e tu c u m á n c o r r ie n te s m is s io n es ju ju y n eu q u én r io n eg r o c h u b u t s a n ti a g o d el e s te r eo 7 8 5 1 5 5 28 4 10 4 2 2 23 1 Aplicações do biogás Na Argentina, de acordo com um levantamento realizado no último ano, a maior produção das plantas está destinada ao tratamento de resíduos, em contraposição com 4% das plantas de biogás que foram implementadas para cobrir uma demanda energética (Tabela 2). atividade pecuária. Cabe destacar que os resíduos agrícolas são os menos utilizados para a produção de biogás na Argentina. Dentro de cada uma das categorias de substratos, foram identificadas diferentes matérias primas para alimentar os biodigestores (Tabela 1). Tabela 1: Substratos utilizados na Argentina para alimentar biodigestores. Fonte INTI/FAO, 2016 Tabela 2: Objetivo do total de plantas identificadas. Fonte INTI/FAO, 2016 16 argentina resÍduos urbanos forsu SEDIMENTO DE ESGOTO EFLUENTES DE ESGOTO resÍduos agrícolas DESCARTES DE MOENDA MILHO DE ENSILAGEM RESÍDUOS HORTIFRUTÍCOLAS resÍduos industriaIs EFLUENTE CITRÍCOLA EFLUENTE DE CERVEJARIA EFLUENTE DE FRIGORÍFICO residuos DA ATIVIDADE PECUÁRIA EFLUENTES AVÍCOLAS ESTRUME BOVINO ESTRUME SUÍNO EFLUENTES INDÚSTRIA DO PAPEL EFLUENTES INDÚSTRIA LÁCTEA EFLUENTES PRODUÇÃO DE FERMENTOS EFLUENTES PRODUÇÃO DE ERVA-MATE glicerina RESÍDUOS PRODUÇÃO DE MANDIOCA SORO PRODUÇÃO DE QUEIJO VINHAÇA DESCARTES DE MOENDA EFLUENTES DE FAZENDAS LEITEIRAS (DE BOVINOS) MISTURA DE ESTRUME objetivo da planta educativo NECESSIDADE energética oUTRO presSÃO pública tratamento participaÇÃO 28% 4% 12% 4% 52% Ao analisar a utilização do biogás gerado nas plantas, constatou-se que uma elevada porcentagem das plantas identificadas não emprega o biogás como fonte energética para seus processos produtivos (Modelo 2). Por outro lado, 44,3% do biogás que se aproveita é utilizado com fins térmicos e somente 12% restante se destina à geração de energia elétrica. MECANISMOS DE INCENTIVO E INVESTIMENTOS PARA BIOGÁS Políticas e fontes de investimento LEI N° 26.093 (2006) – Regime de Regulação, Promoção e Uso de Biocombustíveis (Regulamentada pelo Decreto 109/07). LEI N° 26.190 (2006) – Regime de Fomento Nacional para Uso de Fontes Renováveis de Energia Destinada à Geração Elétrica. Dita Lei visa cumprir com 8% do consumo de fontes renováveis em 10 anos e trata-se de uma normativa que busca criar incentivos para a geração elétrica a partir de fontes renováveis de energia. LEI N° 27.191 (2016) – Nova Lei de Fontes Renováveis de Energia na Geração Elétrica – Regime Nacional de Fomento 2016 – 2025. Por meio da mencionada lei – e seu correspondente Decreto Regulamentar 531/2016 – pretende-se instrumentar uma política de Estado tendente à diversificação da matriz energética nacional, à expansão da potência instalada em prazos curtos, à redução de custos de geração de energia, à previsibilidade de preços a médio e longo prazos, e à contribuição para a mitigação das mudanças climáticas. Esta nova lei estabelece que em 2017 o país deverá contar com 8% de sua geração elétrica a partir de eletricidade gerada pelo vento, pelo sol, pela biomassa e por pequenas centrais hidrelétricas,entre outras fontes. A norma pretende também que em 2025 essa porcentagem suba a 20%. 17 argentina modelo 2 APLICAÇÃO DO BIOGÁS energia elétrica + térmica 5 energia elétrica rt + térmica 2 3,3% 8,2% SEM USO 26 42,6% térmica 27 44,3% 27%elétrica rt 1 total 62 100% QUANTIDADE DE PLANTAS 1,6% 18 argentina AÇÕES DA INICIATIVA PRIVADA, DA SOCIEDADE CIVIL E DE PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO PROBIOMASA – Projeto para a Promoção da Energia derivada de biomassa, que visa a incrementar a produção de energia derivada de biomassa nos níveis local, provincial e nacional para assegurar à sociedade um crescente abastecimento de energia renovável, limpa, confiável e competitiva enquanto são abertas novas oportunidades para o desenvolvimento do setor agropecuário, florestal e agroindustrial do país. O projeto consta de três componentes: • Fortalecimento Institucional, mediante o qual se formam recursos humanos e se estabelece a infraestrutura necessária para alavancar o uso sustentável da biomassa com fins de produção de energia; • Estratégias Bioenergéticas, componente orientado a desenvolver estratégias provinciais para o estabelecimento de empreendimentos mediante uma incubadora de projetos bioenergéticos; • Sensibilização e Comunicação, focada na realização de campanhas de comunicação, sensibilização, extensão e disseminação de informações para os tomadores de decisão políticos, empresariais, de associações civis e públicas em geral, para o fortalecimento da política bioenergética nacional. Casos DE SUCESSO Bioeléctrica é uma associação de produtores regionais que adotou tecnologia alemã para oferecer soluções sustentáveis no território argentino. Sua primeira planta foi construída em Río Cuarto, sendo esta a planta modelo para logo ser replicada em outras localidades produtivas do país. O principal produto é a energia elétrica, gerada a partir do biogás como combustível, obtido a partir da digestão anaeróbica de milho de silagem com dejetos pecuários. Os subprodutos obtidos são o biofertilizante e a energia térmica em forma de água. A energia elétrica (1 MW de potência) pode ser lançada à rede de distribuição de energia elétrica ou consumida por uma indústria vizinha. A energia térmica gerada é utilizada em parte para o aquecimento do processo de geração de biogás, enquanto que o excedente pode ser vendido a uma indústria vizinha.A energia está disponível em forma de água quente a aproximadamente 90 graus centígrados. O biofertilizante é utilizado para fertilizar as plantações e é armazenado no biodigestor secundário e/ou lagoas até o momento de ser aplicado. Fonte: www.bioelectrica.com Bioeléctrica ACA - Yanquetruz YANQUETRUZ é uma exploração suína localizada na zona rural da província de San Luis. A exploração conta com 48 hectares, os quais estão divididos em uma área de Gestação e Maternidade e outra que completa a engorda. A área do projeto é uma zona rural onde predominam as instalações agropecuárias, que conta com serviços de água potável de rede e disponibilidade restrita de energia elétrica. Por isso, o aproveitamento dos resíduos de origem animal está destinado a produção de eletricidade e de energia térmica para o estabelecimento. O projeto de produção de biogás foi desenvolvido por uma cooperativa de produtores que decidiram utilizar estrume de 1.500 porcos e 50 toneladas de milho para produzir energia com plantas de biogeração na exploração suína Yanquetruz, de San Luis, considerada como uma planta modelo em escala internacional. A planta tem uma potência instalada de 1,5 MW e gera energia de forma distribuída. A planta produz 8.000 megawatts de emergia anuais – com capacidade de exportar à rede – energia térmica para aquecer o estabelecimento e, por sua vez, obtém do efluente e da forragem fertilizante para ser distribuído em 1.500 hectares. La Micaela – Carlos Tejedor La Micaela é um estabelecimento pecuário localizado em Carlos Tejedor, província de Buenos Aires, que produz energia elétrica a partir de estrume animal, abastecendo aproximadamente 200 famílias dessa localidade de aproximadamente 800 pessoas das 5.000 que residem no município de Carlos Tejedor. O estabelecimento é um confinamento com capacidade instalada para 500 cabeças simultâneas, motivo pelo qual a planta de biogás foi desenhada para utilizar as 13,5 toneladas de dejetos mais a urina dos animais de engorda. Para obter uma coleta eficiente do estrume animal, foi desenhada e construída uma plataforma de concreto para o piso dos currais. A planta de biogás gera 800 metros cúbicos diários de biogás. O biogás gerado alimenta um motor de cogeração elétrica de 70 KWh de potência instalada e a energia elétrica gerada é vendida à cooperativa elétrica local. O campo tem 258 hectares, mas somente 120 hectares estão destinados à produção agrícola, de milho e sorgo, que a fazenda consome. O digestato, coproduto do processo, é aplicado no campo agrícola, gerando um incremento no rendimento dos plantios. FOnte: www.tecnoredconsultores.com.ar/yanque FONte: www.biogas-argentina.com/trabajos/ establecimiento-la-micaela 19 argentina brasil 21 22 PREFÁCIO I Hidrelétrica que detém o recorde mundial de produção anual de energia elétrica, a Itaipu Binacional pôde confirmar com estudos e experimentos práticos a viabilidade técnica e econômica da produção de biogás no Oeste do Paraná. Grande geradora de divisas para o país, a região concentra intensas atividades agropecuárias. É nelas que se originam dejetos e resíduos em grande escala que, sem o devido tratamento, tornam-se um grave problema ambiental. Daí a importância do trabalho no qual a Itaipu tem participação pioneira. A poluição de nascentes, córregos e rios - e o consequente assoreamento do reservatório de Itaipu, a longo prazo - pode ser amenizada com o aproveitamento desses dejetos e resíduos para produzir biogás. Já numa primeira fase, o biogás se transforma em eletricidade e energia térmica para as propriedades agrícolas e serve de combustível para os veículos dos produtores. Portanto, a partir dos bons resultados iniciais, foi criado o Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás – CIBiogás, com sede no Parque Tecnológico Itaipu – PTI, nas premissas da Usina de Itaipu. Hoje, o CIBiogás conta com a parceria de 20 instituições, entre as quais a Itaipu Binacional, o PTI, cooperativas, empresas do setor elétrico e de gás e duas agências das Nações Unidas. O CIBiogás conta com 11 unidades de produção de biogás, implantadas ou monitoradas pelo Centro. As Unidades são um ambiente de estudos e comprovação da viabilidade técnica e econômica das aplicações do biogás. O aproveitamento de dejetos, principalmente de animais pode, ainda, ser uma fonte de renda importante para os produtores, em especial os pequenos. Nas palavras de Claudete Volkweiss, produtora agrícola do município de Toledo "para a gente, o biogás vale ouro". Luiz Fernando Leone Vianna Diretor-Geral Brasileiro da Itaipu Binacional 23 PREFÁCIO II O Grupo Ad Hoc de Biocombustíveis do Mercosul – GAHB foi formalmente constituído no final de 2007, para implementar um Plano de Ação do Mercosul para a Cooperação em Matéria de Biocombustíveis, proposto, debatido e elaborado ao longo de 2007. O referido Plano de Ação, revisto e ampliado, tem sido implementado com êxito. Dentre as atividades propostas e implementadas, estão o intercâmbio de experiências entre instituições públicas e privadas com competências em investigação, financiamento e extensão rural; a articulação entre as entidades relacionadas com o desenvolvimento tecnológico nas cadeias de produção de biocombustíveis do Mercosul; o impulso às oportunidades de pesquisas conjuntas e intercâmbio depesquisadores e a capacitação industrial na produção industrial de biocombustíveis; o levantamento dos marcos regulatórios vigentes nos Estados Partes do Mercosul e o intercâmbio de informações técnicas do impacto do uso de biocombustíveis em fontes móveis e estacionárias. Elaborado por uma competente equipe coordenada pelo Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás, o Informe de Biogás e Biometano do Mercosul representa uma síntese de todas as atividades mencionadas no Plano de Ação, focadas no biogás, conjugando o estado da arte da produção e consumo dessa fonte renovável na Argentina, no Brasil, no Paraguai e no Uruguai. O biogás, assim como os biocombustíveis líquidos, é um potencial indutor de desenvolvimento sustentável, com vantagens competitivas e comparativas para todos os países que integram o Mercosul. Rodrigo Augusto Rodrigues Gerente de Projeto da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República Coordenador Nacional, pelo Brasil, no GAHB o país O Brasil tem uma área de 8,5 milhões km2 e 204 milhões de habitantes em 2015, aproximadamente. O Produto Interno Bruto do país em 2015 foi de R$ 5,9 trilhões. Em relação ao setor energético, o Brasil se destaca pela grande participação de fontes renováveis em sua matriz, destacando-se a hidroeletricidade, a biomassa e a eólica. biogás no brasil Em novembro de 1979, com base em um relatório técnico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o primeiro biodigestor modelo chinês foi instalado na Granja do Torto em Brasília motivado pela crise resultante do segundo choque de preços do petróleo. Entre as medidas adotadas pelo governo para reduzir a dependência deste insumo destacava-se um amplo programa de investimento voltado para substituição e conservação de derivados de petróleo (Programa de Mobilização Energética - PME, iniciado em 1980). Entre 1980-1984, foram utilizadas diversas formas de estímulo à instalação de biodigestores. Assim foram concedidos estímulos materiais, seja através de financiamentos ou mesmo de doações dos recursos necessários à instalação. Em 1984, mesmo que ainda inexistissem dados precisos quanto ao número de biodigestores no país, o Instituto Paranaense de Assistência Técnica de Extensão Rural (EMATER) estimou que havia 3.000 biodigestores instalados, principalmente do modelo Indiano, utilizados para biodigestão de dejetos de bovinos. Contudo, a adoção de uma nova tecnologia, por mais simples que seja, trouxe consigo, invariavelmente, muitas dificuldades. Problemas operacionais levaram muitos agricultores a abandonar, anos depois, a tecnologia. Na época, as canaletas extratoras de dejetos eram instaladas na parte externa dos galpões e os telhados projetavam o escoamento das águas das chuvas em cima das canaletas, na pretensão de obter uma descarga com essas águas. Conectados a elas, os biodigestores recebiam água fria e limpa, quando deveriam ser carregados com águas quentes e sujas dos dejetos. Não havia cuidado com os desperdícios das águas de manejo e inclusive o conceito do conforto térmico obtido por grandes quantidades de água utilizadas. Estas ocorrências aconteceram mesmo após a desativação dos biodigestores, porque também estouravam esterqueiras por volumes de água não considerados em seus dimensionamentos e só foram sanadas após a adoção de práticas poupadoras orientadas pela Embrapa Suínos e Aves – Concórdia. Além dos aspectos do manejo de águas, também foi decisiva para a justificativa dos biodigestores a queda dos preços do petróleo, ao qual a aplicação do biogás em energia térmica estava atrelada. A segunda fase na história do biogás se deu vinte anos depois, na década de 90, quando o mundo despertou para os impactos das emissões de Gases do Efeito Estufa, a partir da Rio 92, quando a ONU, através do então criado IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, aceitou com metodologias específicas, a queima do biogás como medida mitigadora de emissões. Nesta época, várias instituições surgiram no mercado brasileiro “comprando” créditos antecipados e via de regra os trocando por biodigestores, como os potenciais produtores principalmente de suínos, que por sua vez, encontravam nesta questionável transação financeira uma saída para resolver seus problemas ambientais. Mais controverso ainda foi o conceito de que para obter créditos de carbono 24 BRASIL por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) bastava queimar o biogás gerado. Com a crise europeia, os países compradores saíram do mercado e o preço pago pela redução equivalente literalmente despencou, até chegar a patamares que inviabilizaram os contratos. Em ambos os casos o biogás apareceu e acumulou indicadores negativos, para em seguida, carregado de passivos e dúvidas, desaparecer. Nenhuma instituição brasileira, seja pública ou privada, se interessou em manter o biogás como uma fonte de energia inerente aos processos produtivos, cuja renda poderia sustentar verdadeiramente os investimentos na infraestrutura da biodigestão. Nos últimos anos, o uso de biodigestores para a produção de biogás voltou a ser discutida no Brasil, no embalo de projetos de visionários que acreditavam no potencial dessa fonte energética na busca pela sustentabilidade e de empresas que buscavam melhorias ambientais. Paralelo a isso, o setor de biogás na Europa, principalmente Alemanha, passou por um rápido desenvolvimento motivado pelas leis de incentivo e subsídios à geração de energias renováveis. Assim, o retorno do tema biogás e o grande potencial de produção do Brasil atraiu a atenção de instituições de governo, de empresas brasileiras e internacionais e centros de pesquisa e desenvolvimento. Isso gerou várias iniciativas desde 2008 no sentido de desenvolver e consolidar essa fonte de energia e de inseri-la definitivamente na matriz energética nacional. Destaca-se o papel de liderança da hidrelétrica Itaipu Binacional nessa retomada do setor de biogás no Brasil. A empresa tem diversos projetos de pesquisa e desenvolvimento na área de biogás em parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás (CIBiogás), uma instituição científica, tecnológica e de inovação criada com seu apoio. O Centro é formado por 17 instituições que desenvolvem e/ou apoiam projetos relacionados às energias renováveis. Sua estrutura conta com um laboratório de biogás, no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu, e com 11 unidades de produção de biogás no Brasil. Sua missão é promover o desenvolvimento sustentável da cadeia do biogás e outras energias renováveis. potencial de produção de biogás O potencial técnico atual para os resíduos agrícolas é de cerca de 14,3 milhões de m3/dia de biometano combustível e de 3.478 MW de capacidade elétrica instalada (EPE, 2014b). Para os resíduos sólidos urbanos, o potencial técnico atual é de 4,2 milhões m3/dia de biometano combustível e capacidade elétrica instalada de 868 MW, EPE (2014c). Isso totaliza um potencial técnico de 18,5 milhões de m3/dia de biometano combustível e 4.346 MW de capacidade instalada para a geração de energia elétrica. Destaca-se que esses valores desconsideram o potencial do esgoto sanitário e os resíduos industrias, como da indústria sucroenergética. Como forma de comparação, o mercado de gás natural no país é de 38 milhões m3/dia (EPE (2014b), o que mostra que a oferta desse gás poderia ser ampliada em 50% com a produção de biogás. Esses estudos indicam um potencial significativo de produção e uso energético do biogás, destacando-se as regiões agrícolas do país. Na Figura 1 é apresentado um mapa do Brasil com o potencial disponível de biogás dos resíduos agrícolas, onde é possível observar o potencial considerável no interior do país. 25 BRASIL Figura 1. Mapa dopotencial disponível de biogás de resíduos pecuários. Fonte: EPE (2014) Figura 2. Projeção da penetração do biogás como fonte para geração de energia elétrica até 2050, em capacidade instalada (MW). Fonte: EPE (2014a) Outro estudo da EPE que aborda o potencial do biogás para o setor energético brasileiro é Nota Técnica 13/2014 - Demanda de Energia 2050 (EPE, 2014a). Nele é considerado o potencial de produção de biogás total do país e não apenas resíduos agrícolas e urbanos e, além disso, é calculado o potencial econômico, que é menor que o técnico por considerar as dificuldades para viabilização econômica da fonte de energia. Outro ponto interessante do estudo é a previsão do potencial de produção e de inserção do biogás até 2050 na matriz energética brasileira. No caso da geração de energia elétrica a partir do biogás, as projeções indicam que a capacidade instalada das usinas termelétricas será de 2.850 MW em um cenário base e poderá se converter em 5.188 MW em um cenário de “Novas Políticas”, ou seja, com maiores incentivos. Essa capacidade convertida em biometano seria, em 2050, equivalente a 15,25 milhões de m3/dia para o cenário base e de 28,39 m3/dia de biometano no cenário “Novas Políticas”. As curvas de projeção de inserção do biogás na geração de energia elétrica podem ser observadas na Figura 2 e Figura 3, inclusive com a curva de potencial teórico total de biometano. 26 BRASIL Figura 3. Projeção da penetração do biogás como fonte para energia elétrica até 2050, em biometano equivalente versus potencial teórico. Fonte: EPE (2014a) Figura 4. Projeção da penetração do biogás para a produção de biometano combustível até 2050 versus potencial teórico. Fonte: EPE (2014a) Em relação ao biogás para a produção de biometano combustível, a perspectiva é que, no cenário base, a inserção em 2030 seja de 4% (5,78 milhões m3/dia dos 140,81 milhões m3/dia de potencial teórico) e, em 2050, de aproximadamente 17% (36 milhões m3/dia dos 217,52 milhões m3/dia de potencial teórico). Analisando o cenário “Novas Políticas” espera-se que a inserção do biometano combustível seja de quase o dobro em 2050, demonstrando a importância de políticas públicas para incentivo a essa fonte de energia. Na Figura 4 pode ser observada a curva da projeção da inserção do biometano combustível até 2050 no Brasil, versus o potencial teórico total de biometano. Já a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás) considera que o potencial nacional é de cerca de 20 bilhões de metros cúbicos ao ano nos setores sucroalcooleiro e na produção de alimentos. No setor de saneamento básico, resíduos sólidos e esgotos domésticos é de três bilhões de metros cúbicos ao ano. 27 BRASIL Figura 5. Localização das unidades conforme situação. Tabela 1. Quantidade de unidades e produção de biogás para energia por categoria no Brasil (valores de 2015) Produção atual de biogás Segundo dados do Cadastro Nacional do Biogás, mantido pelo CIBiogás - Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás, em 2015 existiam 127 unidades no Brasil que produziam energia a partir de biogás com uma produção aproximada de 1,6 milhões de m3 de biogás/dia. Além dessas, havia 22 unidades em planejamento ou instalação e 10 em reforma, totalizando 153 unidades cadastradas. Na Figura 1 é apresentada uma imagem com a distribuição espacial das unidades no território brasileiro, sendo que as 153 unidades cadastradas estão localizadas principalmente nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do país. Analisando as categorias das unidades da Tabela 1, das unidades em operação, 47% utilizavam substratos da agropecuária e 34% substratos da indústria. No entanto, em relação à quantidade de biogás produzido para fins energéticos, 43% são provenientes de aterros sanitários, 29% de substratos da agropecuária e 22% da indústria. 28 BRASIL categoria da unidade estação de tratamento de esgoto codigestão agropecuária indústria aterro sanitário quantidade de unidades 7 8 60 43 9 5% 6% 47% 34% 7% 85.052 13.905 469.038 368.206 705.190 5% 1% 29% 22% 43% total 127 1.641,391 produçaõ de biogás (m³/dia) Tabela 2. Aplicação do biogás no Brasil (valores de 2015)* *Considera-se que todo o biogás produzido na planta é utilizado na principal aplicação do biogás da unidade, apesar de haver casos em que o uso é diversificado. 16 No Brasil há três plantas que tem como principal aplicação do biogás a produção de biometano (Tabela 2), porém há quatro plantas com unidades de refino (upgrading) de biometano, sendo três localizadas na região sul e 1 na região sudeste (Tabela 3). Duas dessas plantas tem postos de abastecimento de veículos a biometano, uma aproveita na geração de energia elétrica e outro para geração de calor. Estima-se que haja 99 veículos convertidos para uso do biometano como combustível no país, sendo 59 na região de Foz do Iguaçu/PR e 40 na região de Montenegro/RS. A planta “Granja Haacke” tem a produção de biogás e refino de biometano em Santa Helena/PR e o posto de abastecimento de biometano na Itaipu Binacional em Foz do Iguaçu/PR, com cerca de 120 km de distância entre as duas cidades. Assim, Itaipu Binacional tem 57 veículos aptos para receber biometano. São 49 Sienas Tetrafuel, que já vêm da fábrica com o kit para gás veicular, e dez adaptados em oficina certificada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), sete caminhonetes Mitsubishi L200 Triton flex e três Chevrolet Cobalt flex. A planta do Consórcio Verde Brasil tem um posto de abastecimento de biometano para os veículos da frota da empresa e dos parceiros. São 40 veículos sendo: 4 Kombi para transporte de pessoal; 1 Kombi para transporte de carga; 5 veículos leves do projeto; e 30 veículos leves dos sócios agricultores e terceiros. APLICAÇÕES DO BIOGÁS Em relação à principal aplicação energética do biogás nas unidades em operação no Brasil, das 127 unidades, 49% aplicam o biogás na geração de energia térmica e 44% na geração de energia elétrica. Porém, a maior parte do biogás produzido para energia é utilizado na geração de energia elétrica ou cerca de 65%, e cerca de 31% é aplicado na geração de energia térmica. Esses dados podem ser observados na Tabela 2. 29 BRASIL aplicação do biogás ENERGIA ELÉTRICA ENERGIA TÉRMICA eNERGIA MECÂNICA BIOMETANO TOTAL quantidade de unidades 56 62 6 3 - 44% 49% 5% 2% - 1.075.626 513.507 45.377 6.880 1.641.391 65,5% 31,3% 2,8% 0,4% - produçaõ de biogás (m³/dia) Tabela 3. Aplicação do biogás no Brasil (valores de 2015)* unidade Substrato utilizado na biodigestão Granja Haacke Santa Helena/PR Foz do Iguaçu/PR Condomínio Ajuricaba Marechal Candido Rondon/PR Consórcio Verde Brasil Montenegro/RS Granja Genética Pomerode Pomedoro/SC Codigestão - Efluente da avicultura de postura e da bovinocultura de leite Codigestão - Efluente da suinocultura e da bovinocultura de leite Codigestão - Efluente da avicultura de postura e da bovinocultura de leite, efluente da indústria de celulose e de sucos cítricos, e efluentes de abatedouros Codigestão - Efluente da suinocultura, resíduos orgânicos de restaurantes e resíduos da industriali- zação de arros aplicação do biometano Combustível Veicular Energia Elétrica Combustível Veicular Energia Térmica em Indústria > 96,5% > 96,5% 97% - Quantidade de metano após refino CH (%) Adsorção com modulação de pressão (PSA) Lavagem com água pressurizada (Water Scrubber) Adsorção com modulação de pressão (PSA) Lavagem com água pressurizada (Water Scrubber) TECNOLOGIA DE REFINO 42 50 500125 Capacidade de planta (Nm3 de biogás bruto/h) 2013 2009 2012 2014 EM OPERAÇÃO DESDE MECANISMOS DE INCENTIVO E INVESTIMENTO PARA BIOGÁS O setor de biogás vem crescendo no Brasil graças a um conjunto de políticas, pesquisas e iniciativas ligadas direta ou indiretamente ao setor, que são descritas a seguir. Bases políticas e Fontes de f • Política Nacional de Resíduos Sólidos: prevê a gestão integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos e assegura o aproveitamento de biomassa na produção de energia. • Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura: política pública que apresenta o detalhamento das ações de mitigação e adaptação às mudanças do clima pela agropecuária. • Resolução Normativa nº687/2015 que alterou a Resolução Normativa nº 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL: estabelece as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuídas aos sistemas de distribuição de energia elétrica e o sistema de compensação de energia elétrica. • Resolução 08/2015 da ANP: que regulamentou o biometano oriundo de produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris destinado ao uso veicular (GNV) e às instalações residenciais e comerciais. • Programa ABC (Programa Agricultura de Baixo Carbono): Disponibiliza crédito para as ações do Plano Agricultura de Baixo Carbono, com uma linha para tratamento de dejetos animais. 30 BRASIL 4 inanciamento • PRONAF Sustentável: linha de crédito para questões de sustentabilidade ambiental para agricultura familiar dentro das linhas do Programa Nacional para Agricultura Familiar – PRONAF. • Leilão de energia elétrica A-5: pela primeira vez um projeto de grande escala de biogás ganhou um leilão A-5 (deve entrar em operação em 5 anos) de geração de energia promovido pela ANEEL. O projeto vencedor é da empresa Raízen com a empresa Biogás Bonfim com uma capacidade instalada de 20,8 MW a R$ 251,00/MWh. O substrato que será utilizado será o efluente da industrial sucroenergética. • Chamada pública para compra de biometano pela Sulgás: a concessionária de gás do estado do Rio Grande do Sul iniciou o processo de divulgação para uma chamada pública de compra de biometano, que ocorrerá em 2017. • Programa RenovaBio: o Ministério de Minas e Energia (MME) lançou em fevereiro de 2017 uma consulta pública para um programa para incentivo da expansão e produção de biocombustíveis no Brasil, denominado RenovaBio. O biogás é um dos combustíveis que será incentivado por esse programa. Ações da iniciativa privada e sociedade civil e de Pesquisa, desenvolvimento e inovação • CIBiogás: criado em 2013, é uma instituição de pesquisa, desenvolvimento e inovação que tem como objetivo tornar o biogás um produto por meio do desenvolvimento de novos negócios e sua efetiva implementação na matriz energética brasileira. • Associação Brasileira do Biogás e Biometano (ABiogás): fundada em 2013, é composta por empresas e instituições públicas e privadas que atuam em diferentes segmentos do biogás. Em 2015 a ABiogas lançou a proposta de Programa Nacional do Biogás e Biometano, que propõe uma política pública específica para o biogás e o biometano e pretende estabelecer condições específicas para que os investimentos nessas fontes de energia sejam atrativos para potenciais produtores e usuários e que se estabeleçam como fontes de energia seguras, oficialmente inseridas na matriz energética, com qualidade e disponibilidade firme. A ABiogás realizou três fóruns para discutir o desenvolvimento de biogás no Brasil. • Projeto Brasil-Alemanha de Fomento ao Aproveitamento Energético de Biogás no Brasil PROBIOGAS: O Ministério das Cidades tem desenvolvido ações, com o Governo Alemão, no âmbito da GIZ, para o aproveitamento energético de biogás no Brasil. • Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (SBERA): foi criada em 2008 e vem apoiando a pesquisa e a difusão do tema de tratamento de resíduos e de biogás e promovendo eventos técnicos científicos internacionais importantes para o setor. • Associação Brasileira de Biogás e Metano (ABBM): foi lançada em 2013 e conta com empresários, produtores rurais, professores, pesquisadores e consultores. A busca por uma maior representação do biogás e biometano na matriz energética é um dos propósitos da associação. 31 BRASIL FOnte: www.CIBIOGAS.ORG/GRANJA_HAACKE • Chamada 014/2012 - P&D ANEEL: Chamada de projetos de pesquisa e desenvolvimento no tema biogás: “Projeto Estratégico: Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração de Energia Elétrica a partir do Biogás oriundo de Resíduos e Efluentes Líquidos na Matriz Energética Brasileira”. • Rede BiogasFert: ou Projeto “Tecnologias para produção e uso de biogás e fertilizantes a partir do tratamento de dejetos animais no âmbito do Plano ABC”, parceria entre EMBRAPA e ITAIPU, reúne pesquisadores em biogás e em fertilizantes de diversas universidades e institutos de pesquisa do país. • Fórum Internacional de biogás: o evento reuniu representantes de 16 países da América Latina, quatro ministérios brasileiros e duas agências das Nações Unidas, que apresentaram uma proposta de políticas públicas para a América Latina para desenvolver o biogás. O Seminário foi realizado no Parque Tecnológico Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), em 2014. • Destaca-se que há diversas iniciativas de utilização do biogás produzido no processo de tratamento de esgoto urbano, como das empresas Sanepar, Copasa, Sabesp, Embasa dentre tantas outras. Além disso, há também diversas iniciativas inovadoras de aproveitamento energético do biogás de aterros de resíduos sólidos urbanos e de estações de tratamento de efluentes de agroindústrias e da pecuária. CASOS DE SUCESSO Granja Haacke e Projeto Mobilidade a Biometano A Granja Haacke está localizada em Santa Helena, oeste do Paraná, e conta com 84 mil galinhas poedeiras e 750 bovinos de corte. Desde de 2013, são encaminhados cerca de 100 m3 por dia de efluente líquido para um biodigestor, modelo lagoa coberta, que realiza a digestão anaeróbia dos resíduos, produzindo diariamente mil m3 de biogás. A unidade aproveita o biogás para produzir biometano – biocombustível para automóveis – e para gerar energia elétrica, por meio de um motogerador 112 kVA aspirado (sem turbina). A granja também tem um sistema de stand by que garante a perenidade de energia elétrica na refrigeração das aves, evitando quedas repentinas e consequente morte dos animais. 32 BRASIL Consórcio Verde Brasil – Codigestão e biometano O Consórcio Verde Brasil é formado pela Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí - Ecocitrus e pela empresa Naturovos, com apoio da Sulgás. Esse consórcio apresentou, em 2013, sua planta de geração de biogás e biometano instalada no município de Montenegro/RS, com tecnologias de produção e upgrading nacionais. O substrato é formado por resíduos da indústria de sucos cítricos, laticínios e celulose, resíduos de frigoríficos e de avicultura de postura. O sistema de biodigestão é composto por biodigestores de modelo lagoa coberta com aquecimento e agitação, e produzia, até 2015, cerca de 1200 m3/dia de biometano, com as tecnolgias de upgrading (PSA e lavagem com água), para ser utilizado como gás veicular em escala piloto na frota do consórcio. Está em processo de negociação a utilização em larga escala em automóveis e indústrias. O excedente é utilizado na geração de energia elétrica para consumo interno da planta de compostagem de resíduos e produção de biometano. Planta de biogás Tamboara/Paraná - Geoenergética No Brasil há um grande potencial de produção de biogás a partir dos efluentes do setor sucroenergético,como a vinhaça e a torta de filtro, porém até 2016 havia apenas 4 plantas em operação. Assim, a planta de biogás existente no município de Tamboara/Paraná desde 2011 é considerada inovadora por comprovar a viabilidade técnica e econômica do uso energético do biogás nesse setor. Os 1300 m3/dia de efluentes utilizados na planta, de propriedade da empresa Geonérgetica, são provenientes da Usina Coopcana e produziam, em 2015, 4.000 m3/dia de biogás para geração de energia elétrica e venda para o mercado livre e capacidade elétrica instalada de 4 MW. A planta já está em ampliação, sendo que a empresa recebeu financiamento do governo federal para pesquisa e desenvolvimento. O biodigestor utilizado é circular em concreto com mistura completa. Fonte: www.consorcioverdebrasil.com.br 28 33 BRASIL A Granja Haacke participa do projeto de Mobilidade a Biometano, desenvolvido pelo CIBiogás, em parceria com a Scania do Brasil, Itaipu Binacional e Fundação PTI, com o objetivo de fomentar a mobilidade a biometano, produzido a partir de dejetos de animais e resíduos da agricultura. A qualidade do biometano produzido foi testada e aprovada com base na experiência do abastecimento de um ônibus Scania Euro 6, que durante 21 dias circulou nas dependências da Itaipu. Como resultado desse projeto, foi instalado, na Itaipu Binacional, um posto de abastecimento de biometano, que supre parte da sua frota. Fonte: www.geoenergetica.com.br 34 BRASIL Amidonaria Navegantes – Biogás para energia termica A Cooperativa de Produtores Rurais (C.Vale), localizada em Assis Chateaubriand, estado do Paraná, processa até 400 toneladas de raiz de mandioca por dia, planta tuberosa típica do Brasil. Produz amido modificado, que é destinado ao branqueamento de papel, e amido alimentício para panificadoras e indústrias de embutidos (salsichas e mortadelas). No processo industrial são gerados entre 570 e 1620 m3/dia de efluentes líquidos, dependendo da época do ano e dos produtos em produção, que são direcionados a um biodigestor de modelo lagoa coberta para a fase de tratamento anaeróbio, operando desde 2012. Os 20.000 m3/dia de biogás produzidos geram energia térmica para a indústria, permitindo uma redução de até 90% na demanda por lenha. Essa indústria foi uma das pioneiras no uso do efluente do processamento da mandioca para a produção de biogás em larga escala no Brasil e, em 2015, existiam mais 28 indústrias como essa fazendo uso do biogás para geração de energia térmica. Fonte: www.cvale.com.br/amidonarias.html WWW.cibiogas.org/uds 35 BRASIL FOnte: www.CIBIOGAS.ORG/UPCIB Unidade de Produção CIBiogás/ITAIPU O projeto UPCIBiogás consiste na construção de um complexo industrial para tratamento de biomassa (matéria orgânica, que pode ser utilizada na produção de energia e de biofertilizante), composta por: parte do esgoto produzido no complexo Itaipu, resíduos orgânicos gerados nos restaurantes da Usina e restos de poda de grama. O biogás gerado a partir do tratamento desses resíduos, é refinado e o biometano oriundo desse refino, utilizado como biocombustível para abastecer parte da frota de veículos da Itaipu Binacional. Para aproveitar ao máximo esse potencial os biorreatores foram pensados como sistemas com tecnologia adequada para alcançar a maior eficiência do processo biológico, além de custos adequados para o mercado brasileiro. Um ponto crítico é a construção de reator com características adequadas para agitação dos substratos e aquecimento. A tecnologia disponível atualmente é o concreto armado, com alto custo de implantação. Para isso buscou-se uma solução diferente do existente no mercado europeu, onde são construídos com concreto armado ou aço, ambos materiais que representam um custo elevado para implantação. Sendo assim, por meio de um processo de inovação, buscou-se a fibra de vidro, mesmo material utilizado em embarcações e que se mostrou viável, com um método de produção pré-fabricado e um material leve, que não sobrecarrega as fundações. O biorreator foi produzido em placas, que foram transportadas até o local da planta, onde foram montadas. Além disso, esse sistema tem o fator modularidade, permitindo a remontagem do reator ou adaptações, apenas trocando uma placa. 36 BRASIL Os benefícios são: - Ampliar os indicadores de sustentabilidade da Itaipu; - Reduzir a emissão de GEE no consumo de combustíveis da frota da usina; - Reduzir os custos com combustíveis; - Aproveitar os resíduos orgânicos gerados nos restaurantes; - Reduzir o volume de esgoto da Estação de Tratamento (ETE), aumentando sua vida útil; - Fornecer biofertilizante para manutenção das áreas verdes de Itaipu; - Possibilitar a replicação da planta industrial em outros lugares e fornecer dados para pesquisas e tecnologias para universidades e centros de pesquisa. A implantação foi realizada pelo CIBiogás e seus fornecedores. O acompanhamento técnico, a operação e o monitoramento são realizados pelo CIBiogás. paraguaI 37 38 PREFÁCIO O presente material constitui um importante compêndio sobre o estado atual do desenvolvimento do biogás no Mercosul, os mecanismos de incentivo, os investimentos realizados, as projeções e os casos de sucesso que estão sendo registrados. Embora o Paraguai conte com grande quantidade de energia elétrica proveniente das hidrelétricas, no tocante a combustíveis para o transporte importa-se 90% dos combustíveis líquidos. Da mesma forma, o gás liquefeito de petróleo (GLP) utilizado para a cocção de alimentos é totalmente importado. A política energética do país tem como objetivos superiores a segurança energética e visa ao autoabastecimento e à ampliação da utilização das fontes de energia renováveis de origem nacional, motivo pelo qual consideramos que a incorporação de novos combustíveis renováveis como o biogás poderia servir inicialmente para a utilização na cocção de alimentos e para mobilidade sustentável a médio prazo. Gustavo Collar Benavente Diretor Diretoria de Combustiveis Alternativos e Renováveis Diretoria Geral de Combustíveis Vice Ministro de Comércio Ministério de Indústria e Comércio O PAÍS O Paraguai possui uma superfície total de 406.752 km2, com uma população de 6.854.536 (estimativa da DGEEC para o ano 2016). O Produto Interno Bruto estimado pelo BCP para o ano 2016 foi de US$ 27.982,3 milhões. A matriz energética do Paraguai se caracteriza por uma elevada oferta de energia primaria de origem renovável e local, especificamente a hidrelétrica e a biomassa. Conforme a auditoria energética de 2015, 68,4% da produção de energia elétrica corresponde a hidroeletricidade e 31,6% a biomassa (lenha, carvão vegetal e resíduos vegetais). No entanto, analisando o consumo final, a biomassa representa 42,6% da energia consumida no país, 18,4% provém da eletricidade 39% dos hidrocarbonetos. O Paraguai é um país rico em recursos naturais. Sua riqueza hídrica em águas superficiais e subterrâneas é uma das maiores do mundo e conta com uma importante possibilidade de aproveitamento, o que proporciona uma ampla margem para o investimento nacional e estrangeiro. A produção de energia primaria está composta exclusivamente por fontes renováveis, (hidroeletricidade e biomassa). Não tem extração de petróleo e a produção de gás natural é de caráter local, não representando na atualidade uma contribuição importante para a matriz energética nacional. As Centrais Hidrelétricas Binacionais de Itaipu e Yacyreta atendem o 95% do consumo local. Além disso, o alto excedente de energia disponível para a exportação o coloca numa posição privilegiada para o planejamento do futuro energético por meio de um marco jurídico que facilite e consolide o uso eficiente das energias, além da inclusão de outras fontes de geração limpas como uma alternativa. BIOGÁS NO PARAGUAINo Paraguai, traçaram-se vários projetos para implantar o uso de biodigestores para a obtenção de biogás. Por motivos pouco claros, ou talvez pela inexistência de incentivos ou geração de consciência sobre os benefícios que poderiam se obter com esse sistema, na atualidade nenhum dos biodigestores são utilizados. Outro componente importante no tema da Bioenergia é o Biogás, que em nosso País ainda tem pouco desenvolvimento, principalmente, pelo excesso de energia proveniente das hidrelétricas. No entanto, utiliza-se o gás liquefeito de petróleo (GLP), que é importado. É preciso destacar que no País, está sendo pesquisada a tecnologia adequada para o uso do Biogás proveniente de distintas fontes, já que a base da economia nacional é acima de tudo agropecuária, o que faz com que se disponha de grande quantidade de resíduos provenientes do setor agrícola e pecuário. Existem alguns empreendimentos importantes que utilizaram esta tecnologia, porém, na atualidade, ditos empreendimentos não estão operando: A Granja San Bernardo, o Frigorífico BERTIN (San Antonio) e El Farol e Itaipu com a ANDE chegaram a um acordo para desenvolver projetos para produzir energia eléctrica alternativa a base de biogás. 39 PARAGUAI A empresa de frigorífico Bertín S.A. dispõe de um biodigestor cuja capacidade é de 640 m3 de biogás/dia. 80% do biogás gerado foi o metano, que se utilizou como combustível de um motor-gerador para fornecer energia elétrica a várias indústrias. Foram efetuadas negociações para a firma de um acordo entre a ANDE – BERTIN S.A. – ITAIPU BINACIONA. Para que o frigorífico possa produzir energia e injetar na rede do sistema elétrico, especificamente no horário de ponta, a produção deveria ser de 900 kW/h/dia. No entanto, aparentemente a geração não ocorreu como estava planejado. Outra produtora de biogás é a granja San Bernardo, que está localizada na região do Alto Paraná. Esta granja produz 1000 m3 de biogás/dia, motivo pelo qual poderia gerar 250 kW durante 14 horas/dia e fornecer energia elétrica para a própria fábrica. Na atualidade produz biogás que é liberado à atmosfera. Projeto em Comunidade de Piribebuy, umas 20 famílias rurais de Paso Hu, por meio da Faculdade de Ciências Agrárias e com o financiamento da PNUD, foram beneficiadas com a instalação e assistência técnica no uso dos biodigestores. O Centro de Criação de Porcos, com a Cooperação da Missão Técnica de Taiwan, tem uma planta de biogás com 4 biodigestores com uma projeção anual de 1.040.836 m3 de biogás. No início, pretendia-se que esta planta de biogás produzisse energia para a fábrica de alimentos, para o matadouro e também calefação para porcos. Na atualidade, em épocas de frio, o biogás é utilizado para a calefação do galpão de maternidade. Mecanismos de incentivo e investimentos para biogás Programa “Aprimoramento das bases de dados para uma política energética mais Sustentável no Paraguai – Construção e Instalação de um biodigestor em famílias rurais em Piribebuy” Promoção do uso de biodigestores que propiciem a conservação dos recursos florestais, a fixação de carbono, a proteção e o uso racional dos recursos hídricos, para a sustentabilidade ambiental e econômica das unidades de produção agropecuária das famílias de camponeses de Paso Jhú, Distrito de Piribebuy, Departamento de Cordillera”; proposto pela Associação de Docentes Pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias da UNA (ADIFCA), entidade sem fins lucrativos (Decreto Lei 20.751/98). Para esse projeto foi analisado o potencial de produção de biogás a partir de resíduos domésticos e esterco fresco, principalmente bovino, em 20 sítios rurais do município de Piribebuy, a cidade homônima, localizada a 87 km de Asunción, será a base da operação. Nessas chácaras é comum encontrar pelos menos dois bois e de duas a quatro vacas leiteiras, o que gera resíduos orgânicos suficientes para a produção em pequena escala de biogás. Projeto “Porcino da Missão Técnica Taiwan” - Centro de Criação de Porcos O projeto destinado ao melhoramento da criação, no âmbito de pequenos produtores, está no contexto de um convênio de cooperação da Missão Técnica de Taiwan, com o Ministério da Agricultura e Pecuária e a Faculdade de Ciências Veterinárias da Universidade Nacional de Asunção. 40 PARAGUAI Calcula-se que a granja produz por dia 7.129 kg de esterco, tem a capacidade de criar 1.675 cabeças de porco, o que significa que pode produzir 2.602,09 toneladas de esterco, sendo que cada tonelada poderá produzir 0,4 m3 de biogás, somando em um ano uma produção total de 1.040.836 m3 de biogás. A Assessoria de Energias Renováveis dependente da Direção Geral da Itaipu Binacional do lado Paraguaio é a encarregada de difundir, apoiar e desenvolver projetos de energias renováveis através da sensibilização de pessoas por meio de atividades específicas conforme o público alvo, assim como instalar unidades demonstrativas de tecnologias geradoras de energia limpa, renovável e amigável com o meio ambiente, adaptadas às potencialidades do país tudo isso visando a atingir um dos objetivos institucionais que é “defender e valorizar a hidroeletricidade e todas as fontes renováveis de energia, em suas diferentes expressões” e assim desenvolver uma consciência ecológica sobre a importância das energias renováveis para o desenvolvimento sustentável no país”. APLICAÇÕES DO BIOGÁS Bioenergia Projeto “Obtenção de energia renovável a partir de efluentes suínos” Alavancado pela Itaipu Binacional em parceria com a Fundação Parque Tecnológico Itaipu, a Administração Nacional de Eletricidade e a empresa Granja San Bernardo S.A., por intermédio de uma aliança público-privada que tem aproveitado o gás metano produzido através de um biodigestor que decompõe de forma anaeróbica os efluentes provenientes do confinamento de porco na GSB. Dito aproveitamento consiste em utilizar o gás metano para a geração de energia elétrica através de um motogerador disponibilizado pela ANDE. O gás é filtrado por meio de uma torre de lavagem que o adequa para que o motor tenha una vida útil mais prolongada e os gases de combustão não sejam contaminantes para o ambiente, de modo que encerre o princípio de aproveitamento de resíduos e geração de energia limpa. Na atualidade estão sendo feitos os últimos ajustes e controle de funcionamento para a inauguração do projeto. Projeto “Obtenção de Energia Renovável a Partir de Resíduos Industriais” Alavancado pela Itaipu Binacional em parceria com a Fundação Parque Tecnológico Itaipu, a Administração Nacional de Eletricidade e a empresa JBS Paraguai S.A., por intermédio de uma aliança público-privada que tem aproveitado o gás metano produzido através de um biodigestor que descompõe de forma anaeróbica os resíduos industriais provenientes do frigorífico JBS Paraguai. Este aproveitamento consiste em utilizar o gás metano para a geração de energia elétrica através de um motogerador disponibilizado pela ANDE. O gás é filtrado por meio de uma torre de lavagem que o adequa para que o motor tenha uma vida útil mais prolongada e os gases de combustão não sejam contaminantes para o ambiente, de modo que encerre o princípio de aproveitamento de resíduos e geração de energia limpa. Na atualidade estão sendo feitos os últimos ajustes e controles de funcionamento para a inauguração do projeto. 41 PARAGUAI Projeto “Biodigestores para Chácaras de Agricultores” Projeto foi alavancado pela Itaipu Binacional, pela Prefeitura de Juan E. Oleary e pelo Comité de Agricultores San Isidro do mesmo município. Este projeto tem como objetivo utilizar uma chácara como unidade demonstrativa na utilização de biodigestores anaeróbicos, para a obtenção de biogás a partir de resíduos e efluentes de animais da propriedade. Este biogás será utilizado como energia térmica para o cozimento de alimentos.O projeto também contemplava a capacitação de todos os membros do comitê, a fim de que eles possam reproduzir a experiência em suas chácaras. Dependendo dos resultados, o projeto poderá ser ampliado, incorporando a interconexão das chácaras através de um gasoduto, que interligará os biodigestores para o aprovisionamento do gás e sua posterior venda a potenciais usuários, seja como combustível, seja para suprir necessidades térmicas dos silos e secadores da área. CASOS DE SUCESSO 42 PARAGUAi Granja San Bernardo Biodigestores instalados no Centro de Criação de Porcos da Faculdade de Ciências Veterinárias. 43 PARAGUAi Produção de Biogás a partir de esterco de porcos - Centro de Criação de Porcos Faculdade de Ciências Veterinárias. URUGUAI 45 46 PREFÁCIO As energias renováveis têm se desenvolvido exponencialmente no Uruguai, fato que posiciona o País como caso de estudo no contexto internacional. Tal desenvolvimento tem sido possível por meio da aplicação de uma política energética liderada pela Direção Nacional de Energia do Ministério de Indústria, Energia e Minera- ção, política essa desenhada com uma visão de longo prazo, aprovada em 2008 e corroborada por todos os partidos políticos em 2010. Entre seus objetivos encontra-se a diversificação da matriz energética, com especial ênfase nas energias renováveis, a alavancagem da eficiência energética e o acesso universal e seguro à energia para todos os setores sociais. Atualmente já é possível observar os resultados de sua aplicação, constituindo, no último ano, a energia a partir de recursos tais com a água, o vento, a biomassa e o sol 97% da matriz elétrica e 62% da matriz primária de abastecimento. Paralelamente, esforços para a valorização de resíduos, entre outros destinos, transformando-os em energia, encontram-se em curso. Exemplo disso é o projeto Biovalor, que faz foco na valorização de resíduos agroindus- triais mediante alternativas que permitam reduzir emissões, e encontra-se atualmente apoiando o desenvol- vimento de vários projetos que aplicam diferentes tecnologias, entre elas a produção de biogás. A digestão anaeróbica constitui uma alternativa atraente não só para o tratamento de efluentes mas também para a geração de energia térmica ou elétrica a partir do biogás gerado e da utilização do digestato como fertilizante. A utilização do biogás como recurso energético está, sem dúvida, alinhada com as ações que têm sido realiza- das pelo Uruguai para a transformação de sua matriz energética, motivo pelo qual está trabalhando para apoiar sua produção de forma sustentável. Engenheira Agrônoma Olga Otegui Diretora Nacional de Energia Ministério de Indústria, Energia e Mineração Tabela 1: Uruguai - Resumo de cifras-chave em 2015 O PAÍS O Uruguai é um dos menores países da América do Sul e sua população é de aproximadamente 3,5 milhões de habitantes. No contexto regional e internacional mostra um desenvolvimento relativamente interessante em matéria de democracia, desenvolvimento humano e equidade, além de contar com uma agenda de direitos inclusiva. Dados tomados do relatório Oportunidades de investimento em Energias Renováveis no Uruguai (Uruguai XXI, fevereiro de 2016). Do ponto de vista energético, o Uruguai carece de reservas comprovadas de gás, petróleo e carvão, porém dispõe de abundantes recursos naturais autóctones passíveis de serem utilizados com fins energéticos. Nos últimos dez anos, este pequeno país experimentou uma autêntica revolução energética. Graças a uma mudança política ocorrida em 2005, formulou-se a revisão do paradigma vigente até aquele momento no setor energético (substituindo a visão da energia como bem de mercado por sua identificação como bem estratégico e, consequentemente, objeto de planificação por parte do Estado). Em tal contexto, em 2008 foi aprovada uma política energética que continha uma perspectiva de longo prazo e que incorporava à clássica abordagem técnico-econômica o ponto de vista ambiental, social, ético e cultural do tema energia. Esta política de governo que contempla o compromisso com a incorporação de fontes renováveis, a eficiência energética e a energia como direito, alcança em 2010 o status de Política de Estado ao ser acordada com todos os partidos políticos com representação parlamentar. 47 uruGUAI NOME OFICIAL LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA capital SUPERFÍCIE POPULAÇÃO (2015) CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO (2015) pib per cápita (2015) moeda taXa de ANALFABETISMO ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER forma de GOVERNO DIVISÃO POLÍTICA zona horÁria idioma oFIcial república oriental DO uruguaI américa dO suL, limítrofe coM argentina E brasil montevidÉU 176.215 km² - 95% dO territÓrio É SOLO PRODUTIVO apto para a exploRAÇÃO agropecuÁria 3,47 MILHÕES 0,4% (anual) US$ 15.854 peso uruguaIo 0,98 77 aNos REPÚBLICA DEMOCRÁTICA PRESIDENCIALISTA 19 departamentos gmt - 03:00 espaNHol Para sua implementação desenvolveu-se um marco normativo transparente e estável, habilitador da radicação de investimentos, recorrendo-se a procedimentos competitivos para a adjudicação de contratos de compra-venda de longo prazo de energia com a empresa estatal. Um elemento diferenciador é que a transformação energética foi desenvolvida sem o aporte específico de subsídios, apostando na sustentabilidade do processo. Os resultados não se fizeram esperar e pouco mais de sete anos dos mencionados delineamentos estratégicos permitiram: - Reduzir significativamente os combustíveis fósseis do misto de geração, atingindo em 2015 uma participação de fontes renováveis superior a 97% (segundo estimativas preliminares de fins de 2016). - Executar um processo mediante o qual o recurso eólico será superior a 37% de participação na matriz elétrica, colocando o sistema elétrico na fronteira tecnológica no que se refere à gestão de fontes intermitentes. - Alcançar na matriz primária de abastecimento uma participação de fontes renováveis de 62% no fechamento de 2016 (segundo estimativas preliminares). - Quadriplicar a participação de fontes renováveis com relação à média global (tanto na matriz global quanto na elétrica). - Gerar um marco normativo tendente à promoção do conceito de “prosumer” (produtor consumidor). As figuras 1 e 2 tomadas do Balanço Energético Nacional, processado pela Direção Nacional de Energia do Ministério de Indústria Energética e Mineração, correspondentes ao ano 2015 (último ano com estatísticas oficiais publicadas) permitem observar o nível de participação dos recursos renováveis e sua evolução histórica tanto na Matriz Primária de Abastecimento quanto na Matriz Elétrica. 48 uruGUAI Figura 1: Abastecimento primário por fonte ano 2015 e evolução desde 1990. Dados tomados do Balanço Energético Nacional 2015, DNE-MIEM Eletricidade de origem eólica Eletricidade importada Gás natural Petróleo e derivados Biomassa Eletricidade de origem hidrelétrica É nesse contexto que se identifica a necessidade de avançar na geração de condições para a incorporação à matriz energética de novas fontes autóctones e renováveis, apostando, entre outros recursos, na valorização de resíduos industriais com fins energéticos, recorrendo a diversas tecnologias, entre as quais a produção de biogás. BIOGÁS NO URUGUAI A utilização do biogás no Uruguai não é algo recente. Na primeira, e mais especificamente, na segunda crise internacional do petróleo, estendeu-se o uso de dita tecnologia como fonte alternativa, particularmente visando ao uso térmico no âmbito rural. Muitos dos empreendimentos desenvolvidos em tal contexto foram interrompidos por dificuldades técnicas não previstas inicialmente, já que a ideia predominante no momento da instalação era de que se tratava de “um equipamento extremamente
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