Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 335 PÉ TORTO CONGÊNITO Pé torto congênito Congenital club foot ROBERTO ATTILIO LIMA SANTIN1, JOSÉ SOARES HUNGRIA FILHO2 1. Assistant Professor, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Head of Foot Surgery Team, Pavilhão “Fernandinho Simonsen”. 2. Head of Orthopedics Service, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 1. Professor Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Chefe do Grupo de Pé do Pavilhão “Fernandinho Simonsen”. 2. Chefe do Serviço de Ortopedia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Copyright RBO2004 CLÁSSICOS DA RBO / RBO CLASSICS RESUMO Definição: Atitude viciosa permanente condicionando apoio anormal. Vamos estudar apenas o pé eqüinovaro. Etiologia: Alterações primitivas no esboço cartilaginoso do talo e do calcâneo, de origem genética, como possível gene dominante de baixa penetrância ou poligênica com efeito “threshold”; influência de fatores ambientais. Ana- tomia patológica: 1) adução-supinação do antepé na arti- culação mediotársica; 2) varo do calcâneo, na articulação subtalar. A associação de 1) e 2) dá a inversão do pé; 3) eqüinismo do pé – na articulação tibiotársica (um pouco na subtalar); 4) cavismo – na articulação mediotársica; 5) alterações esqueléticas: diminuição do ângulo entre corpo e colo do talo que tem direção medial e plantar; abertura do seio do tarso, diminuição de tamanho do navicular; 6) alterações de partes moles: (secundárias) – retração dos elementos posteriores, mediais, subtalares e plantares; dis- tensão dos laterais e atrofia da panturrilha. Pé, perna e coxa menores. Fisiopatologia: Subtalar e mediotársica são solidárias à tibiotársica: na flexão plantar, o antepé supi- na e o calcâneo variza; na flexão dorsal, o antepé prona e o calcâneo valgiza. Quadro clínico: Tipos rígido e flexível, conforme a gravidade das deformidades e a redutibilida- de. Períodos evolutivos: Redutibilidade nos primeiros meses; redutibilidade relativa na segunda infância; irre- dutibilidade em torno dos cinco anos. Radiologia: Útil na avaliação do grau de desvios e critério de redução. Em ântero-posterior (AP) o ângulo de abertura da subtalar é menor que 20º e os eixos do calcâneo e talo são quase pa- ralelos. Em perfil o ângulo talocalcaneano é maior que 35º. No pé em “mata-borrão” a linha do solo cruza a cal- câneo-cubóide e na torção lateral a superfície sup. do talo ABSTRACT Definition: Permanent, vicious posture creating abnor- mal weight bearing. We will only study talipes equinovarus. Etiology: Primitive changes of genetic origin of talar and calcaneal cartilaginous contours, as a possible low-pene- trance dominating gene or polygenic trait with threshold effect; influence of environmental factors. Pathoanatomy: 1) forefoot adduction-supination at mediotarsal joint; 2) subtalar joint calcaneus valgus. The association of 1) and 2) gives off foot inversion; 3) foot equinus – at tibiotarsal joint (slightly subtalar as well); 4) cavus at mediotarsal joint; 5) skeletal changes: angle reduction between talar body and neck, with medial and plantar direction; sinus tarsae open- ing, navicular bone size reduction; 6) soft tissue changes: (secondary) – posterior, medial, subtalar, and plantar ele- ment retraction; lateral element distension; calf atrophy. Smaller foot, leg, and thigh. Pathophysiology: Subtalar and midtarsal joint are solidary to tibiotarsal joint: upon plantar flexion, forefoot supinates and calcaneus goes to varus; upon dorsal flexion, forefoot pronates, and calcaneus goes to val- gus. Clinical picture: Rigid- and flexible-types, according to deformity severity and reducibility. Evolution periods: Re- ducibility within first months; relative reducibility during childhood; irreducible around five years of age. Radiology: Useful for the assessment of deviation degree and reduction criteria. The anteroposterior (AP) view shows subtalar open- ing angle below 20°, and calcaneus and talar bones axis nearly parallel. The lateral view shows talocalcaneal angle above 35º. The floor line crosses the calcanealcuboid joint, and upon lateral torsion the upper talar surface seems flat on the “rocker-bottom” foot. Treatment: To be started as early as possible. Non-surgical: Manipulation, only within Clássico publicado na Revista Brasileira de Ortopedia 12: 1-15, 1977. A classical published on Revista Brasileira de Ortopedia 12: 1-15, 1977. R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 336 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 aparece plana. Tratamento: Iniciar o mais precocemente possível. Incruento: Manipulação, só nos primeiros dias; bandagens adesivas, menos usadas; aparelhos ortopédi- cos, só para manter redução; aparelhos gessados (cunhas de Kite), começa pela adução e varismo e depois o eqüino, para evitar “mata-borrão”. Em vez de cunha pode-se tro- car o gesso. Aparelho de Denis-Browne para manutenção. Cruento: Em casos difíceis ou recidivas. Alongamento do Aquiles e capsulotomia aos 12 meses: operação de Codi- villa de um a quatro anos e operação de Evans de quatro a oito anos. Complicações: Imediatas – distúrbios vascula- res; tardias – deiscência de suturas, necrose de pele. Le- sões residuais: Eqüinismo do calcâneo: libertação poste- rior (incluindo ligamentos perônio e talocalcaneanos); varismo do calcâneo: operação de Dwyer (nos calcâneos pequenos fazer cunha medial com incisão longitudinal da pele); eqüino-varismo do calcâneo: operar em dois tem- pos; varismo do calcâneo e adução da articulação de Cho- part: operação de Evans; adução da articulação de Lis- franc; operação de Heyman; torção tibial: osteotomia transversa infratuberositária. Complicações iatrogênicas: Não cirúrgicas – achatamento superior do talo; pé em “mata-borrão”; desvios tibiofibulares; fraturas metafisá- rias; escaras. Cirúrgicas – hipercorreção; correção insufi- ciente. Unitermos – Mono; mono INTRODUÇÃO Genericamente podemos definir “pé torto” como uma ati- tude viciosa e permanente do pé em relação à perna, na qual o pé repousa no solo fora de seus pontos normais de apoio. Esta definição engloba todas as deformidades permanentes do pé, sejam elas adquiridas ou congênitas. As formas de pé torto congênito (PTC) encontradas na prá- tica médica são: pé eqüinovaro, pé talo-valgo, pé talo-vertical e pé metatarso-varo. O pé eqüinovaro (PEV) é a deformidade mais conhecida e estudada, por muitos confundida com o termo “pé torto con- gênito”, embora esta última terminologia deva ser usada sem- pre em caráter geral, e nunca para significar pé torto eqüino- varo. Etiologia – A causa exata do aparecimento do PEV continua indeterminada. À medida que novas informações são obtidas, novas teorias sobre a etiologia são propostas e logo descarta- das pelo acúmulo de novos conhecimentos. Alterações gené- the first days; adhesive bandages are less used. Orthopedic devices only to keep reduction; casting (Kite wedges), start- ing by adduction and varus, and then equinus, to avoid “rock- er-bottom”. Instead of wedging, casting can be changed. De- nis-Browne orthosis for maintenance. Surgical: For difficult or recurrent cases. Achilles lengthening and capsulotomy at 12 months: Codivilla’s procedure from one to four years of age, and Evans’ procedure from four to eight years. Com- plications: Immediate – vascular disturbances; late – suture dehiscence, skin necrosis. Residual lesions: Equinus of cal- caneus: posterior release (including fibular and talocalca- neal ligaments); calcaneal varus: Dwyer’s procedure (a medial wedge with longitudinal skin incision should be per- formed in cases of small os calcis); calcaneus equinovarus: two-stage operation; varus of calcaneus and Chopart’s joint adduction: Evans’ procedure; Lisfranc’s joint adduction; Heyman’s procedure; tibial torsion: infratuberositytrans- verse osteotomy. Iatrogenic complications: non surgical – upper talar flattening; “rocker-bottom” foot; tibiofibular de- viations; metaphyseal fractures; sores. Surgical – hypercor- rection; insufficient correction. Key words – Mono; mono INTRODUCTION “Clubfoot” can be generically defined as a vicious, per- manent foot posture in relation to the leg, where the foot touch- es the floor out of its normal weight bearing sites. Such defi- nition involves all permanent foot deformities, both acquired and congenital. Congenital club foot (CCF) forms that are found in medical practice include: equinovarus foot, talovalgus foot, vertical talus foot, and metatarsal varus foot. The talipes equinovarus foot (TEV) is the most widespread and studied deformity, confused by many with the term “con- genital club foot”, although the former terminology should be always employed in general sense, but never meaning equinovarus club foot. Etiology – TEV exact etiology remains undetermined. With new information arrival, newer theories on the etiology are proposed and soon disposed off due to the accumulation of new knowledge. Genetic or acquired changes of muscles, ten- dons, and nerves have been suggested as primary pathogenic factors, but no defect with a significant frequency has been found within such tissues. Thus, to the moment, no theory based on soft tissue changes has been enthusiastically received. Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 337 PÉ TORTO CONGÊNITO ticas ou adquiridas de músculos, tendões e nervos têm sido sugeridas como fatores patogênicos primários, mas nenhum defeito nestes tecidos foi encontrado com freqüência signifi- cativa. Assim, até o momento, nenhuma teoria baseada em alterações de partes moles foi recebida com entusiasmo. Os trabalhos de Irani e Sherman, dissecando fetos de várias idades (de 22 a 36 semanas), demonstraram não haver altera- ções de partes moles em nenhum dos espécimes estudados(1). A alteração realmente consistente foi com relação ao talo, que em todos os casos apresentava um defeito mais ou menos in- tenso: colo mais curto com desvio medial e plantar da super- fície articular da cabeça. Após a retirada de todas as partes moles e da cápsula articular do tornozelo, só deixando intac- tas as articulações subtalar e mediotársica, o pé permanecia com a mesma deformidade. Somente após a secção das cáp- sulas e ligamentos das articulações subtalar e mediotársica é que foi possível a correção das deformidades. Portanto, pode- mos concluir que não há provavelmente alterações de múscu- los, nervos, vasos e de inserções tendinosas no PEV dito idio- pático. As alterações são do esboço cartilaginoso do calcâneo e do talo, em especial deste último e principalmente na sua porção anterior. Os estudos de Wynne-Davies dão uma noção bem clara da influência dos fatores genéticos no aparecimento do PEV(2). Em geral a incidência é de 1/1000 nascimentos vivos. Em alguns locais a incidência é maior: Havaí – 6,81/1000. Em outros ela é menor: Oriente (Japão, Coréia, etc.) – 0,57/1000. São também comuns as associações de outras malformações com PEV, indicando que a deformidade em questão pode ser somente uma parte de uma alteração generalizada do desen- volvimento. As malformações associadas mais freqüentes são: displasia congênita do quadril, deformidades dos membros em geral, alterações do tecido conjuntivo (hérnias, frouxidão capsuloligamentar generalizada), lábio leporino e palato fen- dido, alterações mentais, etc. O PEV é mais freqüente no ho- mem que na mulher numa proporção de 2:1; não se conhece as causas desta diferença. Não há evidência da influência de fatores pré e perinatais no aparecimento do PEV. A consangüi- nidade parece não ter nenhuma influência. Quanto aos fatores genéticos, sabemos não haver padrão de hereditariedade bem definido. Há fatos que sugerem um gene dominante de baixa penetrância, enquanto outros sugerem uma hereditariedade poligênica com efeito “threshold”. Em termos simples, pode- mos afirmar que quanto maior o número de casos de PEV hou- ver numa família, mais provável o aparecimento de novos e mais graves de PTC. Todavia, até o momento, o mecanismo da transmissão genética permanece objeto de especulação. Irani and Sherman’s studies, upon dissection of fetuses of variable ages (from 22 to 36 weeks) showed no soft tissue changes in any specimens(1). The really consistent change was related to the talus, which presented defect with variable in- tensity in all cases: a shorter neck with medial and plantar deviation of head joint surface. After removal of all ankle soft tissue and joint capsule, leaving intact only subtalar and mid- tarsal joints, the foot had remained with the same deformity. Deformity correction was possible only after capsule and lig- ament section from subtalar and midtarsal joints. Hence, we may conclude for the absence of muscle, nerve, vascularity, and tendon insertion changes on the so-called TEV. Changes correspond to calcaneal and talar buds, especially the latter, and mainly at its anterior portion. Wynne-Davis studies provided a clear notion of genetic fac- tors upon TEV appearance(2). In general, the incidence is 1/ 1000 live births. In some places the incidence is higher: Ha- waii – 6.81/1000. Other places show lower incidences: Ori- ent (Japan, Korea, etc.) – 0.57/1000. Other malformations are commonly associated to TEV, pointing that such deformity may only be a part of developmental generalized change. Most commonly associated malformations include: hip congenital dysplasia, general limb deformities, connective tissue chang- es (herniations, generalized capsule and ligament laxity), hare lip, cleft palate, mental changes, etc. TEV is more frequent in male gender than in female gender in a proportion of 2:1; causes of such difference are unknown. There is no evidence of antenatal or perinatal factors influencing the appearance of TEV. Consanguinity seems to have no influence. There are no well-defined genetic factors. There are facts suggesting a low-penetrance dominating gene, whereas others suggest a polygenic inheritance with threshold effect. Simply stating, we may say that the higher number of TEV in one particular family, the higher probability of new, and more severe cases of TEV. However, so far, the mechanism of genetic transmis- sion remains an object of speculation. More than one century ago, Huter had claimed that TEV resulted from a fetal development halt during the second and third intra-uterine months, a phase where feet present ana- tomical features very similar to an equinovarus. Irani and Sherman studies do deny such theory(1). Idelberger, another author, studied 174 pairs of twins; he had noticed that TEV incidence in both twins was 1:3 (33%) in identical twins, and 1:35 (2.9%) in non-identical twins, show- ing that TEV cause is not only genetic, but also incurring in environmental factors that influence its appearance(3). R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 338 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 Há mais de um século, Huter dizia que o PEV resultava de uma parada do desenvolvimento fetal na altura do segundo e terceiro meses de vida intra-uterina, fase esta em que os pés apresentam aspecto anatômico bem parecido com o eqüino- varo. Os estudos de Irani e Sherman contradizem esta teo- ria(1). Um outro autor, Idelberger, estudou 174 pares de gêmeos; notou que a incidência de PEV em ambos os gêmeos era de 1:3 (33%) nos univitelinos e 1:35 (2,9%) nos bivitelinos de- monstrando com isso que a causa do PEV não é somente ge- nética, havendo fatores ambientais que influenciam em seu aparecimento(3). Na grande maioria dos casos, o PEV é dito “idiopático”, de causa indefinida. Numa pequena percentagem de casos a etio- logia é bem definida. Dentre as causas mais freqüentes en- contramos a artrogripose e a mielodisplasia.Finalizando, podemos dizer que embora a causa do PEV idiopático permaneça no terreno da especulação, os fatores genéticos e ambientais desempenham importante papel no seu aparecimento. Anatomia patológica – As deformidades fundamentais do PEV são: 1) Adução-supinação do antepé – o componente “adução” significa desvio medial do pé anterior, que ocorre principal- mente na articulação mediotársica e em menor grau na articu- lação tarsometatarsiana. A supinação se traduz por uma ele- vação da cabeça do primeiro metatarsiano em relação à cabeça do quinto, de modo que a face plantar do antepé está voltada para o lado medial. 2) Varo do calcâneo – esta deformidade ocorre ao nível da articulação subtalar com o calcâneo “girando” sob o talo, co- locando-se em situação tal que sua face plantar está voltada para o lado medial. Como veremos mais tarde, este movi- mento está intimamente relacionado com a adução do antepé ao nível da articulação talonavicular, constituindo a articula- ção calcâneo-talonavicular. Ao conjunto de varo do calcâneo e adução-supinação do antepé denominamos “inversão” do pé. 3) Eqüinismo – essa deformidade, na qual o pé está em flexão plantar fixa, ocorre principalmente ao nível da articu- lação tibiotársica, havendo também um componente ao nível da articulação subtalar na qual há um eqüinismo do talo em relação ao calcâneo. Como veremos mais tarde, os eixos do calcâneo e do talo, no RX normal de perfil formam um ângulo de 45º, enquanto que no PEV se tornam paralelos. 4) Cavismo – freqüentemente há uma flexão plantar do antepé em relação ao retropé e portanto ao nível da articula- In most cases, TEV is said to be “idiopathic”, of unknown cause. The etiology is well defined in a small percentage of cases. Among most frequent causes, we find arthrogryposis and myelodysplasia. Hence, we may claim that, despite the cause of idiopathic TEV remains speculative, genetic and environmental factors play an important role in the appearance. Pathoanatomy – TEV main deformities are: 1) Forefoot adduction-supination – the “adduction” com- ponent means a forefoot medial deviation, especially at mid- tarsal joint, and at a lesser extent at tarsometatarsal joint. Supination is translated by first metatarsal head elevation in relation to fifth metatarsal head, so that the forefoot plantar aspect is medially shifted. 2) Calcaneal varus – this deformity occurs at subtalar joint level, with the os calcis “rolling” under the talus, so that its plantar aspect is medially shifted. As we will see below, such motion is intimately related to forefoot adduction at talonav- icular joint level, forming the calcaneal-talonavicular joint. The result of calcaneal varus and forefoot adduction-supina- tion is called foot “inversion”. 3) Equinus – this deformity has a fixed plantar flexion, oc- curring mainly at tibiotarsal joint level, though with a com- ponent at subtalar joint level, with a talar equinus in relation to the os calcis. As we will see below, calcaneal and talar axis on common lateral X-rays form a 45-degree angle, whilst in TEV they become parallel. 4) Cavus – there is often a forefoot plantar flexion in rela- tion to hindfoot, then to midtarsal joint level (talonavicular and calcanealcuboid), yielding the appearance of a “cavus”. We can separately study skeletal and soft tissue changes of TEV pathoanatomy. 5) Skeletal changes – the primary deformity is a medial, plantar shift of the anterior talus. The normal angle formed by head-neck long axis and body long axis measures from 150° to 155°; in TEV this angle is reduced, between 115° and 135°. Normally, the talar head joint surface is forwardly di- rected in the frontal plane; in TEV it “looks” in a medial and plantar direction. Equinus position turns the talar anterior- superior joint surface away from tibiotarsal joint. Lower talar joint surfaces are also changed, especially at anterior aspect. Medially shifted talar head “articulates” with medial surface of calcaneal anterior aspect. Tarsal sinus is enlarged. Calcaneal contour is hardly normal, although such bone has a varus deviation in relation to the talus. Such ab- normal calcaneal position in relation to talus disappears af- Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 339 PÉ TORTO CONGÊNITO ção mediotársica (talonavicular e calcâneo-cubóide), deter- minando o aparecimento de um “cavismo”. Na anatomia pa- tológica do PEV podemos estudar em separado as alterações esqueléticas e as alterações das partes moles. 5) Alterações esqueléticas – a deformidade primária é um desvio medial e plantar da parte anterior do talo. O ângulo normal formado entre o longo eixo da cabeça-colo e o longo eixo do corpo do talo mede de 150º a 155º, enquanto que no PEV este ângulo está bem diminuído, situando-se entre 115º e 135º. Normalmente a superfície articular da cabeça do talo “olha” para frente no plano frontal; no PEV ela “olha” em direção medial e plantar. A posição de eqüino faz com que a superfície articular ântero-superior do talo fique fora da arti- culação tibiotársica. As superfícies articulares inferiores do talo estão também alteradas, principalmente na parte anterior. A cabeça do talo desviada medialmente se “articula” com a superfície medial da parte anterior do calcâneo. O seio do tarso apresenta-se alargado. O contorno do calcâneo mantém-se mais ou menos normal, embora este osso esteja desviado em varo em relação ao talo. Esta posição anormal do calcâneo em relação ao talo desaparece após a libertação capsuloligamentar da subtalar e talonavicular, indicando com isto que é deformidade secun- dária de posição. A superfície articular do calcâneo que se articula com o cubóide, que normalmente tem direção para frente e para fora, passa a ter no PEV uma direção medial e plantar. O navicular apresenta sempre menor tamanho embora com contornos normais. Este osso se articula com a face me- dial da cabeça do talo, ficando em íntimo contato com o maléo- lo medial, chegando às vezes a se “articular” com o mesmo. Os demais ossos do pé, isto é, cubóide, cuneiformes e me- tatarsianos, não apresentam alterações significativas. O maléolo peroneiro situa-se numa posição mais posterior que o normal, provavelmente por acompanhar o retropé no seu desvio. A tíbia em geral não apresenta alterações. Kite afirma que na maioria dos casos a tíbia apresenta torção me- dial acentuada, o que não nos parece certo(4). Notamos uma acentuada torção medial da tíbia em casos inveterados, isto é, de longa duração, e em raros casos de curta evolução. Na gran- de maioria, notamos uma torção tibial discreta que simula às vezes um joelho valgo, porém sem provocar prejuízo estético ou funcional. Swan et al afirmam que no PEV inveterado há uma rotação lateral da porção anterior do talo e do antepé em relação à pinça tibioperoneira(5). Preconizam uma osteotomia desrota- tiva medial do terço distal da tíbia para corrigir tal situação. O retropé fica então bem posicionado, ocorrendo aumento apa- ter subtalar and talonavicular joint capsule and ligament re- lease, thus indicating a positional secondary deformity. The calcaneal joint surface that articulates with the cuboid bone has a forward and outward direction, but in TEV it shifts in a medial and plantar direction. The navicular bone is always smaller, although with normal contours. This bone articulates with talar head medial aspect, remaining in close contact with the medial malleolus, and eventually “articulating” with the medial malleolus. The remaining bones of the foot, that is, cuboid, cuneiform, and metatarsal bones do not present significant changes. The fibular malleolus is more posteriorly sited than nor- mal, probably to follow hindfoot deviation. The tibia usually does not present changes. Kite says that in most cases the tibia presents a marked medial torsion, with which we dis- agree(4).We have noticed a marked medial tibial torsion in irreducible cases, those with long duration, and seldom in short evolution cases. In most cases there is a mild tibial tor- sion that eventually mimics a valgus knee, although with no esthetic or functional jeopardy. Swan et al claim that in established TEV there is a lateral rotation of talar bone anterior portion and forefoot in rela- tion to the tibiofibular mortise(5). They advocate a derotation- al medial osteotomy of distal tibia to correct that situation. The hindfoot is then positioned, with apparent increase of fore- foot adduction, which should then be corrected by Evans’ tech- nique. We must emphasize that tibiofibular mortise rotational changes are adaptive, and happen during evolution of inap- propriately or untreated TEV. 6) Soft tissue changes – we again note that there is a dis- cussion whether they would be primary or adaptive. Nowa- days, most authors believe that such changes are secondary in idiopathic TEV, as all studies did not show either anatomi- cal or histological local changes in muscles, nerves, and ten- dons. TEV existing deformities lead to soft tissue retraction that may be described as: – Posterior retractions: the elements involved include Achil- les tendon, tibiotarsal and subtalar joints posterior capsule, calcaneofibular ligament, and posterior talofibular ligament. Achilles tendon is attached in more medial and anterior fash- ion at the calcaneal tuberosity, increasing its varus. – Medial retractions: tibialis posterior, flexor hallucis lon- gus, and flexor digitorum longus muscles, along with deltoid and spring (calcaneonavicular) ligaments are shortened. The posterior tibialis tendon, deltoid ligament, spring ligament, and talonavicular joint capsule are usually fused in a fibrous R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 340 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 rente da adução do antepé que deve ser então corrigida pela técnica de Evans. Devemos enfatizar que as modificações ro- tacionais ao nível da pinça tibioperoneira são adaptativas e que surgem no curso da evolução de um PEV inadequadamen- te ou mesmo não tratado. 6. Alterações das partes moles – novamente devemos assi- nalar que a discussão se as alterações das partes moles são primárias ou adaptativas ainda persiste. Atualmente a maior parte dos autores acredita que estas alterações sejam secundá- rias no PEV idiopático, pois todos os estudos realizados não demonstraram alterações anatômicas ou histológicas dos músculos, nervos e tendões da região. As deformidades existentes no PEV levam a retrações das partes moles que podem ser assim sistematizadas: – Retrações posteriores: os elementos aqui envolvidos são o tendão de Aquiles, a parte posterior da cápsula das articula- ções tibiotársica e subtalar, o ligamento calcâneo-fibular e o ligamento talofibular posterior. O tendão de Aquiles se insere mais medial e anteriormente na tuberosidade do calcâneo, aumentando o varo deste osso. – Retrações mediais: os músculos tibial posterior, flexor longo do hálux e flexor longo dos dedos, e os ligamentos del- tóide e ligamento “em mola” (calcâneo-navicular) estão en- curtados. O tendão do tibial posterior com o ligamento deltóide e o ligamento “em mola” mais a cápsula articular talonavi- cular estão usualmente fundidos numa massa fibrosa que tra- ciona o navicular em direção ao maléolo medial e ao “susten- taculum tali”. – Retração da subtalar: envolve o ligamento interósseo da subtalar e o ligamento em Y ou bifurcado que se estende do calcâneo à borda lateral do navicular e borda medial do cubói- de. – Retrações plantares: os elementos aqui encurtados são a fáscia plantar, os curtos flexores dos dedos, abdutor do quinto dedo e o abdutor do hálux. Na face lateral, ao contrário da medial, encontramos os ele- mentos distendidos, principalmente os músculos peroneiros curto e longo. No PEV podemos evidenciar também alterações no restante do membro inferior. Isto é particularmente visível nos casos unilaterais, onde notamos diminuição da massa muscular da panturrilha, menor tamanho do pé envolvido, encurtamento da perna e mesmo do fêmur. O encurtamento de todo o mem- bro pode variar de 1,25 a 6cm(2). Fisiopatologia – Os estudos mais recentes enfatizam a ín- tima relação entre os movimentos das articulações subtalar e mediotársica de modo a constituir uma articulação única de- mass that pulls the navicular bone towards the medial malle- olus and sustentaculum tali. – Subtalar joint retraction: it involves the subtalar in- terosseous ligament and Y-shaped ligament, extending from the calcaneal bone to the navicular lateral border and cuboid medial border. – Plantar retractions: shortened elements here include plantar fascia, flexor digitorum brevis, abductor of fifth toe, and abductor hallucis. Conversely to the medial aspect, on the lateral aspect the elements are distended, especially peroneus longus and brevis muscles. There are also other lower limb changes in TEV. This is par- ticularly visible in unilateral cases, where calf muscle bulk is reduced, smaller size of involved foot, leg and even femoral shortening are noticed. The whole lower limb shortening may range from 1.25 to 6 cm(2). Pathophysiology – Most recent studies emphasize the close relation between subtalar and midtarsal joint motion, form- ing a sole unit named talocalcaneonavicular joint. Such joint complex is made of subtalar joint, midtarsal joint excluding calcanealcuboid, and plantar calcaneonavicular ligament (spring ligament). It is a complex ball-and-socket formation and, despite there is no direct joint between the calcaneal and navicular bones, they move as a whole due to strong ligament links. During dorsal flexion and plantar flexion, there is mo- tion at ankle and talocalcaneonavicular joints, so that, upon plantar flexion, forefoot supinates, and the calcaneal bone goes to varus. Foot pronates on dorsal flexion (navicular bone shift laterally in relation to talar head), and the calcaneal bone goes to valgus. Hence, when planning on either conser- vative or surgical treatment of TEV, we must consider that equi- nus, adduction, and varus occur simultaneously, and should be addressed as such. The application of such knowledge is shown on the treatment chapter. Clinical picture – The clinical aspect of TEV is quite char- acteristic (fig. 1), although there may be a diagnostic confu- sion with metatarsus varus club foot. The main difference be- tween both is that, on metatarsus varus, hindfoot does not have either varus or equinus fixed position, a constant find- ing in TEV. Such deformity presents a wide clinical variation, leading to TEV classification in two types: the rigid-type, and the flexible-type. There is a severe deformity in the rigid type, the calcaneal bone is hypodeveloped, with marked equinus and varus; the forefoot presents marked adduction-supina- tion. There is a fixed deformity that does correct very little with manipulation. It is usually accompanied with a more or Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 341 PÉ TORTO CONGÊNITO nominada talocalcâneo-navicular. Este complexo articular é composto pela articulação subtalar, pela mediotársica excluin- do o calcâneo-cubóide, e pelo ligamento calcâneo-navicular plantar (“Spring ligament”). É um complexo tipo encaixe “ball- and-socket” e embora o calcâneo e o navicular não se articu- lem diretamente eles se movem como uma unidade devido aos fortes ligamentos que o ligam. Durante a flexão dorsal e a flexão plantar verificam-se movimentos ao nível do tornozelo e da articulação talocalcâneo-navicular de modo que na fle- xão plantar o antepé supina e o calcâneo variza. Na flexão dorsal o pé prona (o navicular gira lateralmente em relação à cabeça do talo) e o calcâneo valgiza. Portanto no planejamen- to do tratamento do PEV, querincruento que cruento, temos que considerar que o eqüinismo, a adução e o varo ocorrem concomitantemente e como tal devem ser tratados. Veremos a aplicação desses conhecimentos no capítulo do tratamento. Quadro clínico – O aspecto clínico do PEV é característico (fig. 1), podendo no entanto haver confusão diagnóstica com o pé torto metatarso-varo. A diferença fundamental entre am- bos é que o retropé no pé metatarso-varo não tem posição fixa de varo nem de eqüino, o que é achado constante no PEV. Esta deformidade apresenta uma gama de variações muito grande na clínica, ao que nos leva a classificar o PEV em dois grandes tipos: o rígido e o flexível. No tipo rígido a deformidade é grave, o calcanhar é hipodesenvolvido com eqüino e varo acen- tuados; o antepé apresenta marcada adução-supinação. A de- formidade é fixa e se corrige muito pouco com a manipula- ção. Geralmente é acompanhada de atrofia mais ou menos acentuada da panturrilha. Felizmente constitui a minoria dos casos, pois respondem mal ao tratamento. No tipo flexível a deformidade é menos grave, pode ser corrigida até a posição neutra com certa facilidade, o calcanhar tem tamanho normal e a circunferência da perna é também normal ou ligeiramente hipotrófica; este tipo responde bem ao tratamento e corres- ponde à maioria dos casos. Clinicamente, nem sempre pode- mos classificar um PEV em grave ou leve, pois às vezes um tipo flexível responde mal ao tratamento, enquanto que um tipo rígido pode responder bem. Além disso, somente a evo- lução clínica pode às vezes evidenciar a presença de uma al- teração de fundo, como por exemplo uma artrogripose, uma mielodisplasia, ou moléstias neuromusculares. Em geral podemos descrever três períodos na evolução clí- nica do PEV. Período de redutibilidade – ocorre no recém- nascido e nos primeiros meses de vida. Neste período o pé responde bem ao tratamento incruento. Período de redutibili- dade relativa – ocorre alguns meses após o nascimento. Já notamos aqui uma retratação mais ou menos acentuada das less calf wasting. It is fortunately a minority, as it does not respond well to the treatment. The deformity is less severe in the flexible type, which may be corrected to neutral with a certain ease, the calcaneal bone has a normal size, and leg circumference is also normal or slightly hypotrophic; that type responds well to the treatment and corresponds to the major- ity of cases. It is not always possible to clinically classify TEV in severe or mild, as a flexible type may respond little to treat- ment, whereas a rigid type may respond well. Besides, only clinical evolution may sometimes display the presence of un- derlying changes such as arthrogryposis, myelodysplasia, or neuromuscular diseases. There are usually three periods in TEV clinical evolution. Reducibility period – it happens in neonates and during the first months of life. The foot responds well to conservative treatment during this period. Relative reducibility period – it happens a few months after delivery. We can notice a more or less severe soft tissue retraction, with harder conservative management. Absolute irreducibility period – this period ini- tiates after four or five years of life, with irreducibility due to adaptive bone changes from Wolff-Delpech law. The foot me- dial column (concave, submitted to stronger pressures) is ill- developed, while the lateral column (pressure-free) is devel- oped more than normal. The reduction must be surgical in this period, with bone resections. Finally, we must add that gait initiation is an adjuvant fac- tor of deformity maintenance and worsening. Thus, TEV must be corrected before weight bearing, so that gait becomes a deformity improvement factor, and not a deformity aggravat- ing factor. Fig. 1 – Pé eqüinovaro de recém-nascido Fig. 1 – Newborn talipes equinovarus R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 342 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 partes moles e o tratamento incruento é mais difícil. Período de irredutibilidade absoluta – neste período, que se inicia após quatro ou cinco anos de vida, há irredutibilidade devido às alterações ósseas adaptativas que obedeceram a lei de Wolff- Delpech. A coluna medial do pé (concavidade, submetida a pressões mais fortes) se desenvolve mal enquanto a coluna lateral (livre de pressões) desenvolve mais que o normal. Nes- te período a redução tem que ser cirúrgica à custa de ressec- ções ósseas. Finalmente devemos acrescentar que o início da marcha é um fator coadjuvante na manutenção e agravamento das de- formidades. Por isso devemos procurar corrigir o PEV antes do início da marcha, com a finalidade desta ser um fator de melhora e não de agravamento das deformidades. Quadro radiográfico – O valor do RX no PEV reside não na determinação do diagnóstico, mas sim na avaliação do grau das deformidades e no estabelecimento exato da correção obtida. No recém-nascido observamos os seguintes núcleos de os- sificação: calcâneo, talo, cubóide, metatarsianos e falanges. O terceiro cuneiforme às vezes está presente. O navicular só aparece a partir dos três anos de idade. Devemos recordar que nas primeiras fases só é visível um pequeno núcleo de ossifi- cação que na realidade está circundado por grande massa car- tilaginosa. Desse modo a tomada das radiografias deve seguir sempre um padrão determinado, para que as sucessivas toma- das possam ser comparadas. As posições importantes para as avaliações radiográficas são duas: 1. Ântero-posterior: o pé é apoiado no chassis na menor flexão plantar possível, com o tubo do RX dirigido cranial- mente e com 30º a partir da perpendicular. Traçados os eixos do calcâneo e do talo obtém-se uma figura em V cujo ângulo é chamado “ângulo de abertura da subtalar”, cujos valores normais são de 20º e 40º. O prolongamento do longo eixo do calcâneo passa entre o quarto e quinto metatarsianos, enquanto o do talo entre o primeiro e segundo metatarsianos. No PEV este ângulo apresenta-se bastante diminuído aproximando-se do zero (fig. 2). Nos casos mais graves ambos os eixos se superpõem passando lateralmente ao quarto e quinto metatar- sianos. À medida que a correção da adução do antepé e varo do retropé vão se processando observa-se a gradativa abertu- ra do ângulo da subtalar. 2. Perfil: é tomado com a criança deitada sobre o lado afe- tado, com o joelho fletido e com o maléolo lateral e quinto metatarsiano repousando sobre o chassis. O tubo de RX é cen- trado no retropé ao nível do maléolo. O RX de perfil deve ser tomado em máximo de flexão plantar e em máximo de flexão Radiographic picture – The value of X-rays in TEV is not diagnostic, but to assess deformity degrees, and to establish the exact correction. The following ossification nuclei are observed in the neo- nate: calcaneal, talar, cuboid, metatarsal, and phalangeal bones. The third cuneiform is eventually present. The navicu- lar bone only appears after three years of age. We must recall that during the first phases there is only a small ossification nucleus that is surrounded by a large, cartilaginous mass. Then, the X-rays must always be taken with a predetermined pattern, so that successive views can be compared. There are two important views for radiographic evaluation: 1) Anteroposterior: the foot is placed on the film with the least-possible planter flexion, having the X-rays cranially and 30° inclined from the perpendicular plane. After drawing cal- caneal and talar axis we obtain a V-shaped figure, so-called “subtalar opening angle”, with normal values ranging from 20° to 40°. The calcaneal long axis projection passes between the fourth and fifth metatarsals, whilst the projection of talar long axis passes between the first and second metatarsals. Such angle is markedly reduced in TEV, nearing zero (figure 2). Both axis are overlapped in more severe cases, traveling laterally to the fourthand fifth metatarsals. Upon forefoot adduction and hindfoot varus correction, there is a gradual subtalar angle opening. 2) Lateral: it is performed with the child lying onto the affected side, with the knee flexed, lateral malleolus and fifth metatarsal on the film. X-ray tube is centered on the hindfoot at malleolar level. Lateral X-rays should be made in maxi- Fig. 2 – Ângulo de abertura da articulação subtalar num pé nor- mal e no PEV posição AP Fig. 2 – AP view from subtalar joint opening angle of normal foot and TEV Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 343 PÉ TORTO CONGÊNITO dorsal. No pé normal o eixo que une a face plantar das tubero- sidades anterior e posterior do calcâneo, juntamente com o eixo que divide ao meio o corpo e cabeça do talo, formam um ângulo que varia de 35º sendo sempre maior em dorsiflexão. No PEV o citado ângulo é sempre inferior a 35º, sendo menor na posição de flexão plantar forçada. É óbvia a importância do RX em perfil como guia do grau de correção obtido (fig. 3). No decurso do tratamento do PEV pode haver uma dorsifle- xão do antepé ao nível da articulação mediotársica com o cal- câneo permanecendo na posição de eqüino. Neste caso uma deformidade iatrogênica denominada “pé em mata-borrão” se produziu. Normalmente a linha do solo passa abaixo da articulação calcâneo-cubóide; quando esta linha do solo pas- sa através da articulação citada um pé em mata-borrão foi ou está sendo produzido. Wynne-Davies e mais recentemente Swann et al enfatiza- ram a possibilidade de uma “quebra longitudinal” ao nível da articulação mediotársica que se mantém não corrigida no pla- no horizontal(2,5). A força corretiva de abdução é transmitida ao retropé, o qual sofre uma rotação lateral. Desse modo uma “quebra longitudinal” se produziu com uma valgização de retropé antes da correção da adução do antepé. Isto é eviden- ciado no RX em perfil através do desvio posterior do maléolo lateral. Para diagnosticá-lo radiograficamente o tubo de RX deve ser centrado no tornozelo com o pé mais próximo possí- vel do ângulo reto em relação à perna. Freqüentemente apare- ce uma falsa imagem de “achatamento” da superfície articu- lar superior ao talo, que resulta de uma rotação lateral do talo, de modo que o RX de perfil na realidade incide obliquamente no mesmo, isto é, o perfil do talo na verdade quase é um RX de frente. Com a rotação lateral do talo sua superfície articu- lar medial sai da pinça tibioperoneira entrando em contato com a extremidade anterior da tíbia, o que impede a dorsifle- xão do pé e não o alargamento da porção anterior do talo como sempre se acreditou. Tratamento – O tratamento do PEV deve ser iniciado o mais precocemente possível, preferivelmente logo após o nas- cimento. Um adágio freqüentemente citado neste tema é que “o prognóstico do PEV num parto de nádegas é melhor do que num parto cefálico porque os exercícios corretivos podem ser iniciados enquanto se aguarda a cabeça derradeira”. É melhor para o ortopedista falar com os pais logo após o nascimento explicando a natureza e o curso do tratamento e o que eles podem esperar. O tratamento incruento deve ser sempre utilizado em pri- meiro lugar. Inicia-se no berçário através de manipulações suaves no sentido de correção da adução do antepé e varo de mum plantar flexion and maximum dorsal flexion. The axis that joins plantar aspect of anterior and posterior calcaneal tuberosities, along with the axis that divides in half the talar body and head form an angle that around 35° that increases in dorsiflexion. In TEV such angle is always below 35°, and it is even lower in forced, plantar flexion position. It is obvious the importance of lateral X-rays as a guide for the correction degree (figure 3). There may be forefoot dorsiflexion at the midtarsal joint level, with calcaneus bone remaining in equinus during TEV treatment. In that case, an iatrogenic deformity named “rock- er-bottom foot” was produced. Usually, the floor line passes below cubocalcaneal joint. Whenever such line passes through the aforementioned joint, a rocker-bottom foot was produced or is being produced. Wynne-Davies and more recently Swann et al emphasized the possibility of a “longitudinal breakage” at mid-tarsal joint level that remains uncorrected horizontally(2,5). The abduc- tion corrective force is transmitted to the hindfoot, suffering a lateral rotation. Hence, a “longitudinal break” has been pro- duced with hind foot valgus before the correction of forefoot adduction. That is evidenced in lateral X-rays by lateral mal- leolus posterior deviation. For the radiographic diagnosis, the X-ray tube should be centered on the ankle, with the foot as close as possible to a straight angle in relation to the leg. There is often a false image of talus upper joint surface “flat- tening”, which results from talar lateral rotation, so that the lateral beam actually penetrates obliquely, that is, the lateral talar incidence is actually almost an anterolateral X-ray. With talar lateral rotation, its medial joint surface leaves the ti- biofibular mortise, contacting the anterior tibial edge, which Fig. 3 – Perfil de um pé normal comparado com o de um PEV Fig. 3 – Lateral view of normal foot as compared to TEV R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 344 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 retropé. Não devemos fazer exercícios forçados de correção do eqüinismo, pois este só deve ser corrigido após a correção da adução-supinação do antepé e varo de retropé. Incruento – O tratamento incruento do PEV pode ser reali- zado através de: Manipulação: só a utilizamos de modo bem suave nos pri- meiros dias de vida, enquanto o recém-nascido aguarda a do- cumentação foto e radiográfica. Imediatamente após inicia- mos o aparelho gessado. Bandagens adesivas: embora alguns autores usem, nunca fomos partidários das mesmas e nunca usamos este tipo de tratamento. Aparelhos ortopédicos: dentre os vários aparelhos ortopé- dicos o mais usado é o de Denis-Browne, que é também o mais conhecido. Nunca lançamos mão deste método de início a não ser após findo o tratamento com aparelho gessado, e para a manutenção da correção obtida. Aparelhos gessados: este é o tratamento que utilizamos e o método seguido é o de Kite em todos os seus detalhes(4). Segundo Kite, o PEV pode ser tratado com sucesso através de aparelhos gessados e cunhas, sem o uso de anestésicos, manipulações forçadas e procedimentos cirúrgicos(6). A deformidade do PEV pode ser dividida em três compo- nentes: adução, varo e eqüino. A adução ocorre ao nível do antepé acompanhada de supinação; o antepé está voltado para a face medial, assim como a planta do antepé “olha” para este mesmo lado. O varo ocorre ao nível do calcâneo que “gira” medialmente sob o talo, fazendo com que sua face plantar “olhe” para o lado medial. O eqüino pode ser subdividido em duas partes: o antepé está em flexão plantar em relação ao retropé, produzindo um cavismo; todo o pé está em flexão plantar produzindo um eqüinismo de tornozelo. Quanto a adu- ção do antepé é corrigida, o navicular que se situava medial à cabeça do talo, é colocado em frente a mesma. Assim, a força peso é transmitida da tíbia para o talo, deste para o navicular, e do navicular em linha reta ao primeiro metatarsiano. Se um esforço foi feito para dorsifletir o pé com o navicular fora de posição normal, provoca-se um desvio ainda maior, e com o tempo, o navicular fica tão fixado à face medial da cabeça do talo que se torna extremamente difícil movê-lo. Se a criança deambular com o navicular fora de posição, a força peso cairá obliquamente por fora do mesmo, empurrando o antepé em mais adução. Se a adução for hipercorrigida, o navicular gira em torno da cabeça do talo indo situar-se lateral à mesma, transformando o pé em um “pé chato” indesejável. A correção do varo do calcâneo deveser sempre obtida antes de iniciar a dorsiflexão do pé. Inicialmente o eqüinismo hinders foot dorsiflexion, but not the talar anterior portion widening, as previously thought. Treatment – TEV treatment should be started as early as possible, preferably soon after the birth. A proverb frequently cited on this subject is that “TEV prognosis of a pelvic deliv- ery is better than the prognosis of a cephalic delivery because corrective exercises can be initiated while the head is await- ed”. It is best for the orthopedic surgeon to discuss with the par- ents soon after the birth to explain the nature and the course of treatment, and what they can expect. Conservative treatment should always be used first. It is started in the nursery by gentle manipulations in order to cor- rect forefoot adduction and hindfoot varus. We should not perform forceful equinus correction exercises, as it shall only be corrected after forefoot adduction-supination and hind- foot varus correction. Conservative – The conservative treatment of TEV can be performed by: Manipulation: we use only gentle manipulation, and just in the first few days of life, while the newborn awaits the photo- graphic and radiographic documentation. Immediately after we start casting. Adhesive bandages: although used by some authors, we have never favored them, and we never employ this type of treatment. Orthopedic devices: the Denis-Browne splint is the most widely employed amongst several orthopedic devices. We have never used this method in the beginning, except after casting treatment, and for maintenance of the correction. Plaster casting: this is the treatment we choose and we fol- low Kite’s method in all of its details(4). According to Kite, TEV can be successfully treated by plas- ter casting and wedging, precluding the use of anesthesia, forceful manipulations, and surgical procedures(6). TEV deformity can be divided into three components: ad- duction, varus, and equinus. The adduction occurs at the fore- foot level with supination; the forefoot is turned medially, as well as the forefoot plantar aspect “looks at” the same side. Varus occurs at calcaneal level, which “rotates” medially under the talus, making its plantar aspect to “look” medially. Equinus may be further subdivided into two parts: forefoot is in plantar flexion in relation to hindfoot, producing cavus; the entire foot is in plantar flexion, producing an ankle equi- nus. When forefoot adduction is corrected, the foot scaphoid bone – located medially to the talar head – is positioned in front of it. Thus, the weight force is transmitted from the tibia Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 345 PÉ TORTO CONGÊNITO do calcâneo, com o tendão de Aquiles, colabora na correção da adução-supinação do antepé e varo do retropé, pois “fixa” o pé facilitando as correções. O eqüinismo do tornozelo só pode ser corrigido após a correção do varo da subtalar, pois esta articulação só permite a dorsiflexão do pé, quando está na posição em valgo. Assim se forçarmos a dorsiflexão do pé com a subtalar em varo vamos provocar uma deformidade iatrogênica denominada “mata-borrão”, pois o pé cede à for- ça ao nível da mediotársica, com o antepé em dorsiflexão e o calcâneo permanecendo em eqüino e varo. Portanto é obriga- tória a correção da adução do antepé e do varo do retropé antes de se iniciar a dorsiflexão do pé. Após a correção da adução e do varo devemos sempre radiografar o pé para veri- ficação da “abertura da subtalar” no RX de frente, a qual sig- nifica a correção do varo subtalar. O eqüinismo é corrigido através de uma gradual colocação do pé em dorsiflexão. Quando se realizam os movimentos de flexão plantar e flexão dorsal, além do varo e valgo respecti- vos da subtalar, há um movimento de deslize para trás e para frente do calcâneo de modo que na dorsiflexão o calcâneo desliza para frente, e na flexão plantar ele desliza para trás. Isto pode ser comprovado pelas posições relativas do calcâ- neo no pé não corrigido e naquele já em posição normal. O RX de perfil do PEV antes da correção mostra o núcleo de ossificação do talo situado distalmente em relação ao calcâ- neo. No pé corrigido os extremos distais de ambos os núcleos de ossificação estão no mesmo nível, significando que à me- dida que a dorsiflexão ocorre com a correção do eqüinismo o calcâneo vai se situando em posição para frente (distal) em relação ao talo. Ao mesmo tempo o talo é empurrado para trás restabelecendo suas relações normais com a pinça tibiopero- neira. A pressão em dorsiflexão, com o calcâneo em varo, so- mente pressiona mais ainda o calcâneo contra o talo de modo a ligá-lo mais firmemente ainda. Quando esta pressão prosse- gue, a articulação mediotársica cede, originando o pé em “mata-borrão”. Se esta situação não é reconhecida e se o pé é mantido por longo período em “dorsiflexão” com o calcâneo em varo, a fibrose que se forma entre os dois ossos os liga tão firmemente que só podem readquirir suas posições normais com cirurgia. Mesmo aqui se torna difícil introduzir uma ala- vanca entre o calcâneo e o talo devido à íntima relação entre eles. Do que foi dito podemos tirar as seguintes conclusões: – Quando uma pressão contínua é exercida sobre os ossos que formam uma articulação, na direção em que esta articula- ção possa se mover, pouca lesão é provocada nesta articula- ção. to the talus, from the talus to the scaphoid, and on a straight- line to the first metatarsal bone. If there has been made an effort for foot dorsiflexion, with the scaphoid out of normal position, there will be an even larger deviation and, as time goes by, the scaphoid gets so fixed to the medial aspect of talar head that becomes extremely difficult to move it. If the child walks with the scaphoid out of position, the weight force will obliquely fall outside, pushing the forefoot in further ad- duction. If the adduction is hypercorrected, the scaphoid ro- tates around the head of talus, placing itself laterally, and transforming the foot into an “undesirable flat foot”. Calcaneal varus correction should always be obtained be- fore initiating foot dorsiflexion. Initially, calcaneal equinus with Achilles tendon collaborates in the correction of forefoot adduction-supination and hindfoot varus, as it “fixes” the foot, facilitating corrections. Ankle equinus can only be corrected after subtalar joint varus correction, as such joint yields foot dorsiflexion just in valgus position. Hence, we will produce an iatrogenic deformity called “rocker-bottom” foot if we perform a foot forceful dorsiflexion with subtalar joint in varus, as the foot collapses at mid-tarsal joint, with forefoot dorsi- flexed and calcaneal bone remaining in equinus and varus. Therefore, forefoot adduction and hindfoot varus correction is mandatory before initiating foot dorsiflexion. After adduc- tion and varus correction, we must always obtain a foot X-ray to check AP view “subtalar opening”, which means the cor- rection of subtalar varus. The equinus is corrected by a foot gradual dorsiflexion positioning. When plantar flexion and dorsal flexion motions are performed, there is a calcaneal back and front gliding motion, besides subtalar varus and valgus, so that the calca- neus glides forward in dorsiflexion, and glides backward in plantar flexion. This can be proved comparing relative calca- neal positions between the uncorrected foot and the normally positioned foot. TEV lateral X-rays before correction show ta- lar ossification nucleus distally located to the calcaneus. In the corrected foot, the distal ends of both ossification nuclei are at the same level, meaning that with dorsiflexion there is correction of calcaneal equinus, which goes forward (distal) in relation to the talus. At the same time, the talus is pushed backwards, reestablishing its normal relation with the tibiofib-ular mortise. The pressure in dorsiflexion, with the calcaneus in varus, pushes further the calcaneus against the talus, strongly bind- ing them. Upon pressure continuation, the mid-tarsal joint collapses, originating the “rocker-bottom” foot. If this situa- tion is not recognized and the foot is kept “dorsiflexed” for a R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 346 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 – Quando a direção da força é tal que a articulação não pode se mover ou que este movimento seja bloqueado, há uma atrofia e fibrose ligando os ossos desta articulação (au- mento ou diminuição da nutrição da cartilagem, segundo Sal- ter). É por esta razão que o PEV recidivado responde mal ao tratamento; ele possui muitas adesões fibrosas interarticula- res que em alguns casos chegam a ser verdadeiras anquiloses ósseas. No PEV há um desequilíbrio muscular. Os núcleos tibiais estão encurtados, o que aumenta sua força de contração; além disso, a deformidade favorece a direção de ação dos mesmos pois atuam praticamente em linha reta. Os músculos peronei- ros ao contrários estão alongados, o que diminui a sua força de ação; por outro lado, a ação dos peroneiros se faz em linha curva, o que também diminui a sua força. Por conseguinte, no PEV os tibiais estão em grande vantagem mecânica em rela- ção aos peroneiros, o que favorece a manutenção do desequi- líbrio. O tratamento gradual com gessos e cunhas permite a readaptação progressiva destes músculos, de forma que quan- do o pé estiver corrigido haverá equilíbrio entre os músculos eversores e inversores. Portanto voltamos a enfatizar que a correção do PEV tem que ser lenta, gradual, passo a passo. Na correção do PEV com gessos e cunhas existem muitos e pequenos detalhes que não são importantes isoladamente mas que juntos conduzem ao sucesso do tratamento. Em primeiro lugar há necessidade de um indivíduo bem treinado para segurar o pé em posição adequada, na posição desejada, para que o cirurgião possa aplicar o gesso de modo correto. Devemos ter para uso imediato ataduras gessadas de 4, 6, 8 e 10cm, de secagem rápida. Devemos ter da mesma largura, flanelas que servem como proteção. Após a proteção da pele com tintura de Benjoim envolve- se o pé e a perna com a flanela de modo a cobrir toda superfí- cie e bem ajustada para não ficar solta. A seguir com atadura gessada de largura adequada molda- mos o pé até o nível do tornozelo de modo a forçar a abdução do antepé e o valgo do retropé tomando como ponto de apoio a articulação calcâneo-cubóide onde deve ficar uma impres- são bem nítida no gesso. A seguir, depois de devidamente recortado ao nível do tornozelo, o gesso é completado até acima do joelho, mantendo esta articulação com 90º de fle- xão. Após cinco a sete dias fazemos uma cunha de base late- ral ao nível da articulação calcâneo-cubóide e forçamos o an- tepé no sentido da abdução. Um mesmo gesso suporta bem a feitura de duas cunhas. Após a correção da supinação do ante- pé e do varo do retropé iniciamos a dorsiflexão. A mesma long period with the calcaneus in a varus position, there is a tight fibrosis formation that firmly bonds both bones together, which can only recover their normal positions with surgery. However, it is hard to position a lever between the calcaneus and the talus due to their intimate relation. From what has been said, we can conclude: – Whenever continuous pressure is exerted on the bones that form a certain joint in a movable direction, there is not much of a joint lesion. – When the direction of the force is such that the joint can- not be moved or that motion is blocked, there will be an atro- phy and fibrosis linking the bones of that joint (an increase or reduction of cartilage nutrition, according to Salter). That is why recurred TEV responds badly to treatment; it possesses many interarticular fibrous adhesions that in some cases became true bone ankylosis. In TEV there is a muscle imbalance. The tibial nuclei are shortened, which increases their contraction force; moreover, the deformity favors their direction of action, as they practi- cally act on a straight line. Conversely, fibular muscles are lengthened, which reduces their force of action; on the other hand, the action of fibular muscles takes place in a curved shape, which also reduces their force. Therefore, in TEV, the tibial muscles are positioned in high mechanical advantage in relation to the fibular muscles, favoring imbalance mainte- nance. The gradual treatment with casting and wedges yields gradual readjustment of those muscles, so that when the foot is corrected, there will be balance between the eversor and inversor muscles. Therefore, we reemphasize that TEV correc- tion has to be slow, gradual, and stepwise. TEV correction with casting and wedges has many and small details that are not important in isolation, but together lead to treatment success. In first place, there is the need of a well-trained individual to hold the foot in the adequate, desired position, so that the surgeon can correctly apply the plaster. There must be fast drying, plaster bandages of sizes 4, 6, 8, and 10 cm for imme- diate use. There must have also flannel cloths of the same width to serve as protection. After skin protection with Benzoin tincture, the foot and leg are wrapped with flannel cloth to cover the whole surface so that it is well adjusted and not loose. Next, a plaster bandage of adequate width is molded around foot up to the ankle level to force forefoot abduction and hind- foot valgus, using the cubocalcaneal joint as a buttress, which should leave a clear impression within the plaster. Then, after carefully cutting at the ankle level, the plaster is completed Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 347 PÉ TORTO CONGÊNITO técnica da sapatilha gessada é utilizada e, após bem recortado o gesso ao nível do tornozelo, força-se gradativamente o pé no sentido da dorsiflexão. Podemos utilizar cunhas no gesso para colaborar na correção do eqüinismo, mas atualmente pre- ferimos a troca semanal de gesso. O próprio Kite após longos anos de experiência optou para troca sucessiva de aparelhos gessados sem a utilização de cu- nhas no gesso(6). Durante a secagem de gesso moldamos bem a parte posterior da perna, comprimindo levemente uma con- tra a outra. Com isso facilitamos a retirada do gesso pelas faces medial ou lateral que ficam mais afastadas da pele. Em geral, a média de duração do tratamento é de seis me- ses, sendo dois meses para a correção da adução do antepé e varo do retropé, dois meses para a correção do eqüinismo e finalmente dois meses de manutenção para os músculos e li- gamentos se adaptarem à posição de correção (figs. 4A e B). O controle de correção é feito através do aspecto clínico, do exame radiográfico e do equilíbrio muscular entre os ever- sores e inversores. Quando este equilíbrio é atingido, estimu- lando a planta do pé da criança, o mesmo entra em dorsifle- xão ativa. Após o período de manutenção adotamos o uso do apare- lho de Denis-Browne que mantém o pé em dorsiflexão, mais a realização de exercícios diários no sentido da abdução e dorsiflexão. O controle ambulatorial da criança deve ser trimestral. Sem- pre que houver tendência à recidiva de qualquer das três de- formidades principais, deve-se retornar imediatamente ao apa- relho gessado. Finalmente, devemos lembrar que o tratamento incruento do PEV repousa nas três palavras mágicas citadas por Kite: conhecimento, paciência e entusiasmo(6). up to above the knee, keeping the joint in 90º of flexion. After five to seven days we make a lateral-based wedge at the level of the cubocalcaneal joint and then we force the forefoot to- wards abduction. A very same plaster may well withhold the making of two wedges. We start dorsiflexion after correcting forefoot supination and hindfoot varus. Thesame technique of plastered shoe is employed and, after cutting the plaster at the level of the ankle, the foot is gradually pushed towards dorsiflexion. We can employ plaster wedges to collaborate in the correction of equinus, but we currently prefer a weekly plaster change. Kite, after long years of experience, chose successive plas- ter changes, precluding the use of plaster wedges(6). During plaster drying we mold well the posterior part of leg, with a slight compression of one against the other. That facilitates medial or lateral aspect plaster removal, where the distant from skin is larger. In general, treatment lasts for six months, with two months for forefoot adduction and hindfoot varus correction, two months for equinus correction, and then two months of main- tenance to adapt muscles and ligaments to the correction po- sition (figures 4A and B). The correction control is performed clinically, radiologi- cally, and by the balance between eversion- and inversion- acting muscles. When this balance is achieved, with the child’s foot plantar stimulation, it starts active dorsiflexion. After maintenance period we adopt Denis-Browne splint, which keeps the foot in dorsiflexion, besides daily exercises towards abduction and dorsiflexion. The child’s follow-up visit should be at every three months. We must return at once to plaster casting whenever a tenden- cy towards recurrence of those three deformities comes up. Fig. 4A – Pé E eqüinovaro ao nascimento Fig. 4A – Newborn left talipes equinovarus Fig. 4B – Aspecto após tratamento pelo método de Kite Fig. 4B – Aspect after treatment by Kite’s method R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 348 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 Cruento – A má formação PEV foi pela primeira vez descri- ta por Hipócrates cerca do ano 250 a.C. Embora investiga- ções arqueológicas tenham demonstrado que os Astecas conhe- ciam e tratavam o PEV, foi somente em 1782 que Lorenz, de Frankfurt, realizou a primeira tenotomia do tendão de Aquiles. Esta foi muito utilizada por Delpech, Stromeyer e mais tarde por Little(7). Em 1836, Guérin descreveu o uso de gessos cor- retivos. Em 1880, Phelps, Duval e Diffenback, entre outros, faziam operações nas partes moles e nas estruturas ósseas. O grande avanço no campo do tratamento cruento do PEV foi dado por Codivilla que, em 1906, publicou sua técnica de alongamento de partes moles mediais do pé, com a finalidade de reduzir o tempo de tratamento assim como solucionar o grave problema das recidivas(8). Na história do tratamento cirúrgico do PEV, numerosas téc- nicas surgiram, sendo as mais importantes: – Dupla artrodese modelante: iniciada por Hoke, teve vá- rios seguidores – Bado, Garceau, Ducroquet, Dwyer e ou- tros(9,10). Kite, discípulo de Hoke, admite a dupla artrodese nos 10% de insucesso com o tratamento incruento(4,6). Esta operação assim como as ressecções cuneiformes ao nível do tarso só devem ser realizadas após findo o crescimento ósseo (em torno dos 12 anos). – Neurectomia seletiva dos ramos do nervo plantar medial (Garceau(9)), mobilização tarsometatarsiana (Heyman et al(11)), tração transcalcâneas para correção do eqüinismo (Marique) etc. – Esclocleação dos ossos do tarso (Lamy, Nove-Josserand, etc.). – Atuação simultânea em partes moles e partes ósseas (Evans(12), Nove-Josserand, etc.). O tratamento cruento está reservado para os casos recalci- trantes, de difícil correção, e para os recidivados. A indicação cirúrgica só surge durante o desenrolar do tratamento incruen- to, embora certos tipos de pés já ao nascer levantem a dúvida do bom resultado com gesso e cunhas. São aqueles pés roli- ços, pequenos, com tuberosidade posterior do calcâneo bas- tante pequena e em eqüino acentuado. Vários autores (Brockman, 1930; Ponseti e Smoley, 1963; Salter, 1965; Dangelmajer, 1961; Turco, 1971(13)) referem uma alta incidência de recidivas no PEV da ordem de 50% a 60% o que choca frontalmente contra os 90% de bons resultados de Kite com o tratamento incruento(6). O tratamento cruento deve ser iniciado em geral a partir de um ano de idade, quando então o pé tem proporções mais favoráveis e a anestesia geral tem melhores condições para ser realizada. Até um ano de idade geralmente preferimos insistir com aparelhos gessados. Finally, we must remember that the conservative treatment of TEV rests in those three magical words mentioned by Kite: knowledge, patience, and enthusiasm(6). Surgical – Hyppocrates first described TEV malformation around year 250 B.C. Despite archaeological investigations have demonstrated that the Aztecs knew and treated TEV, it was only in 1782 that Lorenz of Frankfurt performed the first Achilles tendon tenotomy. Such technique was widely employed by Delpech, Stromeyer and, later, by Little(7). In 1836, Guérin described the use of corrective plaster. In 1880, Phelps, Du- val, and Diffenback, among others, performed operations on soft tissue and bone structures. The large advancement in TEV surgical treatment was giv- en by Codivilla who, in 1906, published his technique of me- dial foot soft tissue lengthening, aiming to reduce the time of treatment, as well as solving the serious problem of recur- rences(8). Several techniques have appeared in the history of TEV sur- gical treatment, and the most important include: – Double modeling arthrodesis: initiated by Hoke, had sev- eral followers – Bado, Garceau, Ducroquet, Dwyer, and oth- ers(9,10). Kite, a disciple of Hoke, admits the double arthrodesis in those 10% failed cases with the conservative treatment(4,6). This operation, as well as wedge resection at tarsal level, should only be performed after the end of bone growth (around 12 years of age). – Selective neurectomy of medial plantar nerve branches (Garceau(9)); tarsometatarsal mobilization (Heyman et al(11)); transcalcaneal traction for equinus correction (Marique), etc. – Tarsal bone excocleation (Lamy, Nove-Josserand, etc.). – Simultaneous procedures in soft tissue and bone parts (Evans(12), Nove-Josserand, etc.). The surgical treatment is reserved for recalcitrant, poorly controlled cases, and for recurred cases. Although certain types of feet at the time of delivery raise the doubt on good results with plaster and wedges, surgical indication appears only during ongoing conservative treatment. They include those round, small feet, with a fairly small calcaneal posterior tu- berosity and marked equinus. Several authors (Brockman, 1930; Ponseti and Smoley, 1963; Salter, 1965; Dangelmajer, 1961; Turco, 1971(13)) report a high incidence of TEV recurrence (from 50% to 60%), which is very different from those 90% of Kite’s good results with conservative treatment(6). The surgical treatment must usual- ly be initiated at one year of age, when then the foot presents more favorable proportions, and general anesthesia offers Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 349 PÉ TORTO CONGÊNITO A libertação medial de partes moles tem indicação quando todas as deformidades que constituem o PEV estão presentes. Dada a importância da operação de Codivilla, assim como de suas modificações e detalhes de técnica, vamos simplificada- mente descrevê-la(8): – Incisão medial em L no terço distal póstero-medial da perna face medial do pé contornando por trás o maléolo me- dial. A dissecação deve incluir a pele e todo subcutâneo para evitar sofrimento do tecido de revestimento. – Alongamento em Z do tendão de Aquiles e capsuloto- mia posterior com secção dos ligamentos fíbulo-calcâneo e tibiotalar posterior (porção posterior do ligamento deltóide). – Alongamento em Z retrotibial dos tendões tibial poste- rior e flexor longo dos dedos. – Alongamento do flexor longo do hálux na região plan- tar, seccionando o vínculo existente entre este tendão e o fle- xor longo dos dedos. Atualmente estamos preferindoo alon- gamento do LFD na região retrotibial. – Secção dos ligamentos deltóide anterior (tibiotalar), ta- lonavicular, ligamento em Y, calcâneo-navicular (ligamento em mola), subtalar e interósseo, navículo-cuneiforme e cu- neo-metatarsiano com secção das cápsulas articulares subja- centes. Não seccionar o ligamento deltóide médio e cápsula talocrural medial a fim de evitar o valgo excessivo do calcâ- neo devido à abertura da articulação talocrural. – Aponeurectomia plantar tipo Steindler. – Tenectonia do adutor do hálux. – Alongamento do tibial anterior (raramente necessário). – Fechamento da pele em um só plano com mononáilon 4- 0 ou 5-0 em pontos separados. – Gesso “tipo papelão”: várias camadas de algodão, cura- tivo compressivo suave com faixa de crepe e duas camadas externas de gesso circular. Alguns cuidados pós-operatórios merecem ser menciona- dos: – Não imobilizar o pé em posição máxima de correção obtida no ato operatório, pois pode haver sofrimento vasculo- nervoso desnecessário. – Após oito ou 10 dias retira-se o gesso e os pontos. Inicia- se então o reposicionamento gradativo do pé até a posição de correção. Isto é conseguido após três ou quatro trocas de ges- so (figs. 5A, B e C). A operação de liberação medial de partes moles tem sua indicação entre um e quatro anos. Nas crianças com idade acima de quatro anos a deformidade óssea está bastante estru- turada, de modo que indicamos a operação de Codivilla asso- ciada à operação de Evans que consta de uma artrodese calcâ- better conditions to be performed. We usually prefer to insist with casting until one year of age. Medial soft tissue release is indicated when all deformities that form TEV are present. Due to the importance of Codivilla’s operation, as well as its tech- nique modifications and details, we will describe it in a sim- plified way(8): – A medial L-shaped incision is made at the distal poster- omedial third of the leg and foot, passing behind the medial malleolus. Dissection should include skin and subcutaneous tissue to avoid tension of lining tissue. – Z-shaped lengthening of calcaneal tendon and posterior capsulotomy with fibulocalcaneal ligament and posterior ti- biotalar ligament (the posterior part of deltoid ligament). – Z-shaped, retrotibial lengthening of tibialis posterior and flexor digitorum longus tendons. – Flexor hallucis longus plantar lengthening, sectioning the link between this tendon and the flexor digitorum longus. We nowadays have favored FDL lengthening at retrotibial re- gion. – Section of anterior deltoid (tibiotalar) ligament, talonav- icular ligament, Y ligament, calcaneonavicular (spring) liga- ment, subtalar and interosseous ligaments, naviculocuneiform and cuneometatarsal ligaments, with underlying joint cap- sule sections. Do not sever either the mid-deltoid ligament or the medial talocrural capsule to avoid excessive calcaneus valgus due to talocrural joint opening. – Steindler-type plantar fascia excision. – Adductor hallucis tendon removal. – Tibialis anterior lengthening (seldom needed). – In-bloc skin closure with 4-0 or 5-0 monofilament nylon with separate stitches. – Multilayer plaster: several wool layers with a gently com- pressive bandage dressing, and two outer layers of circular plaster. Some postoperative care aspect should be mentioned: – Do not immobilize the foot in maximum correction posi- tion, as there may be unnecessary neurovascular compromis- ing. – After eight to ten days plaster and stitches are removed. The gradual foot repositioning is then started to correction position. That is achieved after three or four plaster changes (figures 5A, B, and C). Medial soft tissue release is indicated between one and four years of age. The bone deformity is sufficiently structured in children above four years of age, so that we indicate Codivil- la’s operation associated with Evans’s operation, which con- sists of calcanealcuboid arthrodesis with a lateral approach R.A.L. SANTIN & J.S. HUNGRIA FO 350 Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 neo-cubóide feita através de uma abordagem lateral sobre esta articulação(8,12). A técnica de Evans permite a correção das deformidades existentes no antepé (adução, supinação) e no retropé (varo) assim como eventualmente do “pé em mata- borrão”(12). A operação de Evans dá bom resultado nos casos de PEV recidivado ou inveterado na faixa etária de quatro a oito anos (figs. 6A e B)(12). Acima dos sete ou oito anos de idade, é preferível aguardar o crescimento completo do pé e aos 12 ou 13 anos realizar a dupla artrodese modelante de Hoke que propicia resultados satisfatórios com um pé anatômico e funcionalmente aceitá- vel. Complicações pós-operatórias – As principais complica- ções pós-operatórias são: Imediatas – dor e edema, provocados por distúrbios vascu- lonervosos geralmente devido a insistência em imobilização do pé com aparelho gessado bem moldado ou manutenção da hipercorreção no pós-operatório imediato. Tardias – deiscência de sutura com necrose de bordas e necroses extensas com comprometimento e exposição ósseas, como conseqüência do sofrimento mais ou menos intenso de feixe vasculonervoso; podem ser evitadas impedindo o sofri- mento vasculonervoso pós-operatório por meio do uso do “gesso papelão” com o pé em posição indiferente ou mesmo em discreta inversão. Lesões residuais – No curso do tratamento do PEV, pode- mos ter lesões residuais que podem ser assim sistematizadas: Eqüinismo do calcâneo – é a lesão residual mais comum. Em muitos casos a forte tensão do tendão de Aquiles e os ligamentos e cápsula articular posteriores impedem a dorsi- flexão; no intento de impedir o achatamento da superfície ar- ticular superior do talo, o qual compromete em definitivo a Fig. 5A – PEV bilateral grave renitente ao tratamento incruento Fig. 5A – Severe bilateral TEV refractory to conservative treat- ment Fig. 5B – Aspecto 10 meses após operação de Codivilla Fig. 5B – Ten months after Codivilla’s operative procedure Fig. 5C – Aspecto de perfil Fig. 5C – Lateral view Rev Bras Ortop _ Vol. 39, No 7 – Julho, 2004 351 PÉ TORTO CONGÊNITO articulação talocrural, a libertação posterior é a técnica opera- tória indicada e consta do alongamento em Z do tendão de Aquiles, capsulotomias posteriores talocrural e subtalar mais secção dos ligamentos perineocalcanear e talocalcanear e ta- localcanear posterior. Temos observado que todos os citados elementos são importantes na manutenção do eqüinismo da articulação do tornozelo e por vezes somente após a secção dos ligamentos posteriores é que conseguimos a dorsiflexão do pé (figs. 7A e B). Varismo do calcâneo – o varismo residual como qualquer outra das lesões residuais pode, como já vimos, existir isola- damente, mas por vezes ele constitui a deformidade mais sa- liente, que uma análise clínica põe em evidência e justifica sua correção. over this joint(8,12). The technique of Evans allows correction of existing forefoot (adduction, supination) and hindfoot (varus) deformities, as well as eventually the “rocker-bottom foot”(12). Evans’s operation offers good results in cases of re- curred or inveterate TEV at the four to eight years old group (figures 6A and B)(12). Above seven or eight years of age, it is preferable to wait for complete foot growth, and at 12 or 13 years to perform Hoke’s double modeling arthrodesis, which offers satisfacto- Fig. 6B – Aspecto após operação de Evans – observar a fusão completa da articulação calcâneo-cubóide Fig. 6B – After Evans’ procedure: note complete fusion of cub- ocalcaneous joint Fig. 6A – PEV recidivado – todas deformidades presentes Fig. 6A – Recurred TEV: all deformities are present Fig. 7A – Equinismo residual muito resistente ao tratamento ges- sado Fig. 7A – Residual equinus resistant to casting Fig.
Compartilhar