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Direito Civil SEÇÃO 4 ESPELHO DE CORREÇÃO Seção 4 Direito Civil Na prática! Após o estudo do caso e a resolução das questões propostas no Livro Didático, vamos juntos confeccionar a peça cabível. Lembre-se de que o objetivo é a reforma do pronunciamento judicial que põe termo à fase cognitiva do procedimento comum (art. 203, §1º do CPC/15), ou seja, sentença. Em conformidade com o disposto no art. 1.009 do CPC/15, o instrumento viável para desafi ar a sentença é o recurso de apelação, o qual passamos à elaboração. O recurso de apelação é estruturado em duas peças: a primeira, uma petição (peça de interposição) na qual são lançados o endereçamento, a identifi cação da causa, a qualifi cação das partes e a solicitação para remessa ao tribunal competente para o seu julgamento; a segunda consiste nas “razões recursais”, onde consta a exposição do fato e do direito e as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade, bem como o pedido de nova decisão. Vamos aos principais pontos do caso ora enfrentado: (I) Peça de interposição a. Endereçamento: Vara de Registros Públicos da Comarca de Belo Horizonte: juízo prolator da decisão e que será responsável pelo juízo de admissibilidade do recurso. 2 NPJ - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA DIREITO CIVIL - ESPELHO DE CORREÇÃO - SEÇÃO 4 b. Identificação do processo. c. Requerentes: qualificação dos apelantes, bastando a identificação dos nomes pelo fato de sua qualificação constar dos documentos colacionados aos autos – Breno Santos Bernardes e sua mulher Marta Guimarães Bernardes, já qualificados nos autos da ação de usucapião ordinário, processo em epígrafe. d. Requeridos: Juliana Faria Rodrigues e Raimundo Dutra Rodrigues, divorciados, também já qualificados no processo em epígrafe. e. Solicitação para remessa ao tribunal competente: Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, tendo em vista que a decisão foi proferida pela Vara de Registros Públicos da Comarca de Belo Horizonte. (II) Razões recursais a. Apelantes: Breno Santos Bernardes e sua mulher Marta Guimarães Bernardes. b. Apelados: Juliana Faria Rodrigues e Raimundo Dutra Rodrigues, divorciados. c. Processo de origem: xxxx.xxxx.xxx.xxx.xx. d. Saudação: Egrégio Tribunal, Colenda Câmara (ou outra 33 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ saudação respeitosa e condizente com a instância em que tramita o procedimento). e. Exposição dos fatos: expor o ajuizamento da ação de usucapião ordinário e o seu indeferimento, com fundamento na ausência de justo título. f. Razões de fato e de direito que legitimam a reforma da decisão: expor o fato de doutrina e jurisprudência entenderem e enquadrarem a promessa de compra e venda enquanto justo título hábil a ensejar a aquisição do domínio via usucapião. g. Requerimento de reforma da sentença recorrida: solicitar o provimento do recurso para reforma da decisão de primeira instância e acolhimento dos pedidos formulados na inicial. h. Fecho: termos em que pede deferimento, local e data, nome e assinatura do advogado, número de inscrição na OAB. Questão de ordem! Excelentíssimo Sr. Juiz de Direito da Vara de Registros Públicos da Comarca de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais Protocolo nº.... Requerente: Breno Santos Bernardes e sua mulher Marta Guimarães Bernardes. 44 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ Requeridos: Juliana Faria Rodrigues e Raimundo Dutra Rodrigues Breno Santos Bernardes e sua mulher Marta Guimarães Bernardes, já qualificados nos autos da ação de usucapião ordinário, processo em epígrafe, proposta em face de Juliana Faria Rodrigues e Raimundo Dutra Rodrigues, divorciados, também já qualificados nos autos, vem, por intermédio de seu procurador infra-assinado, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro nos arts. 1.009 e seguintes do Código de Processo Civil. Requer a intimação dos recorridos para, querendo, apresentar contrarrazões. Requer ainda, a remessa do presente ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Termos em que pede deferimento. Local e data. Nome e assinatura do advogado Número de inscrição na OAB Razões do recurso de apelação Apelante: Breno Santos Bernardes e sua mulher Marta Guimarães Bernardes. Apelados: Juliana Faria Rodrigues e Raimundo Dutra Rodrigues 55 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ Processo de origem: xxxx.xxxx.xxx.xxx.xx (Vara de Registros Públicos da Comarca de Belo Horizonte Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, I – Exposição dos fatos Trata-se de ação de usucapião ordinário movida por Breno Santos Bernardes e sua mulher Marta Guimarães Bernardes em face de Juliana Faria Rodrigues e Raimundo Dutra Rodrigues, para reconhecimento do domínio sobre o bem imóvel objeto da matrícula nº xxx do Cartório do xxx Ofício de Registro de Imóveis de Belo Horizonte, com a consequente formação de título para regularização da situação registral. Os apelantes celebraram com os apelados promessa de compra e venda tendo por objeto o imóvel supracitado, contrato que não foi definitivamente cumprido com a consequente outorga da escritura definitiva em razão da ausência da outorga conjugal, a ser prestada por Juliana Faria Rodrigues, que à época da celebração do contrato era casada com o réu Raimundo Dutra Rodrigues. Uma vez superado o período de 10 (dez) anos, necessário ao reconhecimento da usucapião ordinário, previsto no art. 1.242, caput, do Código Civil, os apelantes ajuizaram ação para o reconhecimento do domínio, ante o preenchimento dos requisitos necessários, a saber: posse por, no mínimo, 10 anos e justo título. 66 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ Ocorre que a ação foi julgada improcedente, sob o argumento de que o contrato de promessa de compra e venda não é justo título hábil a ensejar a aquisição do domínio por via do usucapião. Contudo, conforme demonstrado abaixo, esse não é o entendimento que prevalece na comunidade jurídica nem mesmo nas decisões judiciais proferidas por este Tribunal, sendo necessária a reforma da decisão. II – Das razões de fato e de direito Conforme previsto no art. 1.242, caput, do Código Civil, a aquisição do domínio sobre bem imóvel se dá pelo exercício de posse por período não inferior a 10 (dez) anos, de forma contínua e ininterrupta, desde que o possuidor tenha justo título capaz de legitimar esta posse e corroborar sua boa-fé. Os autores demonstraram e comprovaram documentalmente, por meio dos lançamentos tributários (IPTU) do imóvel e suas quitações, que exercem de fato a posse sobre o bem há mais de 10 (anos) e pleitearam o reconhecimento do usucapião, fortes no contrato celebrado com os réus. É tema já pacificado neste Tribunal a viabilidade de contrato particular de promessa de compra e venda, desde que quitado, configurar justo título ensejador à aquisição via usucapião. É que a impossibilidade de obtenção de escritura pública definitiva não pode ser oposta ao promitente comprador que arca com suas prestações, devendo-lhe ser reconhecido o domínio sobre o bem imóvel. Portanto, em consonância com as decisões já proferidas por 77 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ esta Câmara, necessária se faz a reforma da decisão proferida pelo juiz a quo, para o provimento dos requerimentos contidos na petição inicial, os quais são ora reiterados. III – Dos pedidos Diante do exposto, os recorrentes requerem que o presente recurso seja conhecido e, no mérito provido para reforma da decisão de primeira instância, com o objetivo de acolhimento do pedido de reconhecimento do domínio sobre o bem imóvel litigado, tal como consta da petição inicial desta ação. Nestes termos, pede deferimento. Local e data.Nome e assinatura do advogado. Número de inscrição na OAB. Questão 1 P.: Explique de forma esquematizada a estruturação do recurso de apelação. R.: O recurso de apelação será interposto por meio de petição direcionada ao juízo prolator da decisão combatida. Este juiz será responsável pelo juízo de admissibilidade (regularidade formal: competência, preparo, etc.) da peça e efetuará a remessa ao Resolução comentada 88 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ Tribunal competente para a apreciação da apelação. Questão 2 P.: Qual o conteúdo das razões recursais? R.: Como dito acima, o recurso da apelação será estruturado por meio de petição direcionada ao juízo prolator da decisão, acompanhada das respectivas razões recursais. Nesta segunda peça, dirigida ao Tribunal competente pelo seu julgamento, por isto necessário a inserção da saudação (Egrégio Tribunal, Srs. Desembargadores), serão detalhadas as razões de fato e de direito que legitimam a pretensão recursal, bem como o pedido de reforma ou cassação da sentença. Pelo exposto acima, a peça em questão foi endereçada ao juiz da Vara de Registros Públicos da Comarca de Belo Horizonte, prolator da sentença que julgou improcedente a ação de usucapião ajuizada pelos recorrentes, o qual se ocupará do juízo de admissibilidade, e as razões recursais dirigidas ao Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que efetuará a análise meritória do mesmo. Questão 3 P.: Considerando o caso enfrentado, qual o conteúdo das razões de fato e de direito que legitimam a pretensão dos recorrentes? R.: O recurso de apelação ora elaborado tem por objetivo a reforma da decisão que julgou improcedente o pedido de reconhecimento do domínio sobre bem imóvel, cuja posse era exercida por um período correspondente a 10 anos. Parte-se do pressuposto de que a promessa de compra e venda titularizada 99 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ pelos recorrentes é aceita pela doutrina e jurisprudência como justo título, requisito que somado ao tempo de posse (10 anos) viabiliza a caracterização do usucapião ordinário – art. 1.242 do CC/02. Desta forma, as razões fáticas da pretensão, ou seja, o fundamento de fato que legitima a interposição do recurso de apelação consiste no preenchimento dos requisitos necessários ao usucapião. As razões de direito consistem na previsão contida no art. 1.242, bem como no Enunciado 86 da I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, que apesar de não ser lei vinculativa, corresponde ao entendimento majoritário aplicado na comunidade jurídica. Questão 4 P.: No tocante ao pedido do recurso de apelação poderá ser solicitada a reforma ou cassação da sentença. Diferencie as duas hipóteses e aponte qual corresponde ao caso ora enfrentado. R.: O recurso de apelação tem por objetivo enfrentar sentença judicial desfavorável. Esta sentença pode estar viciada, contendo algum vício que justifique sua cassação (hipóteses de nulidade), ou apenas legitimar a pretensão à sua reforma, porque, apesar de não conter vício formal, o seu conteúdo merece alteração. No caso do recurso interposto por Breno e sua mulher, não se trata de cassação da decisão, não foi fornecido qualquer elemento que levasse à conclusão pela sua nulidade, sendo hipótese de reforma. Deste modo, o pedido do recurso ora elaborado é no sentido de reforma da decisão, para que o Tribunal julgue procedente o pedido de reconhecimento do domínio sobre bem imóvel via instituto do usucapião. 1010 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ Questão 5 P.: Detalhe os efeitos devolutivo e suspensivo do recurso de apelação, apontando em quais (ou qual) serão recebidos a peça ora elaborada. R.: Como regra o recurso de apelação é recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo. Existem hipóteses em que o efeito suspensivo demanda manifestação judicial expressa (art. 1.012, §1º do CPC/15), dentre as quais não se enquadra o recurso que combate sentença que julga improcedente ação de usucapião quando houve julgamento de mérito da lide. O efeito devolutivo devolve ao Tribunal o julgamento de todo o capítulo da sentença impugnada e o efeito suspensivo suspende os efeitos da sentença impugnada até a decisão do recurso. No caso em apreço, o recurso será recebido em seus efeitos devolutivo e suspensivo, obstando a produção dos efeitos inerentes à sentença de 1ª instância até o julgamento e trânsito em julgado na esfera recursal. 111111 Direito Civil - Espelho de Correção - Seção 4NPJ
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