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1 DIREITO CIVIL III - CONTRATOS PROF. DANIEL PAIVA UNIDADE IX – CONTRATOS EM ESPÉCIE: DOAÇÃO 1. CONCEITO DE DOAÇÃO: Chama-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere de seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra pessoa que os aceita. Ver: Art. 538 CC/2002 De fato, é contrato mais antigo do que a compra e venda, pelo qual uma das partes, chamada doador, se obriga a transferir gratuitamente um bem de sua propriedade para outra pessoa, chamado donatário, que enriquece (obtém um ganho patrimonial) se aceitar a doação, enquanto o doador empobrece (suporta uma perda patrimonial). 2. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE DOAÇÃO: Em linhas gerais, o contrato de doação é: Gratuito – Em regra, é gratuito, pois gera benefício ou vantagem apenas para o donatário, sem que o doador fique na espera de qualquer contraprestação do donatário. A gratuidade é a diferença essencial para a compra e venda, pois na doação a circulação do bem de uma pessoa para outra é gratuita, enquanto na Compra e Venda existe o pagamento do preço como contraprestação. Unilateral – Em regra a doação é unilateral, pois se trata de contrato que só gera dever obrigacional para uma das partes. Eventualmente poderá ainda ser considerado “unilateral imperfeito” no caso de doação modal, ou seja, quando ocorre imposição para aquele que recebe a vantagem patrimonial de ônus/encargo (lembrete: encargo não é uma obrigação e sim requisito para o aperfeiçoamento e eficácia do contrato). Comutativo – As prestações são certas e as partes podem antever as vantagens e os sacrifícios da contratação. Formal – O contrato de doação tem de obedecer à forma prescrita em lei. O Código Civil estabelece obrigatoriamente a forma escrita, e por exceção a verbal. Ver: Art. 541 CC/2002 3. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO DE DOAÇÃO: O contrato de doação, pela sua própria natureza, exige ainda, como elementos: Contratualidade - Como todo contrato, a doação é fonte de obrigações, pela qual gera ao donatário o direito à propriedade e ao doador a obrigação de entregar a coisa doada ao donatário. Animus donandi - Vontade do doador de fazer uma liberalidade, proporcionando ao donatário certa vantagem à custa de seu patrimônio. 2 Aceitação do Donatário – A aceitação pode ser tácita ou expressa. A aceitação tácita só vale no caso da doação pura (sem encargos para o donatário). Se a doação for com encargo, a aceitação terá que ser expressa. Ver: Arts. 539 e 543 CC/2002 Transferência de bens ou vantagens para o patrimônio do donatário - Para que haja doação, é indispensável esta mutação ou movimento. Tem de haver um deslocamento do bem, com empobrecimento do doador e enriquecimento do donatário. 4. OBJETO DE DOAÇÃO: Não há restrições objetivas à doação. De princípio, todo bem passível de comércio pode ser doado: imóveis, móveis corpóreos, móveis incorpóreos, universalidades, direitos patrimoniais não acessórios. A coisa alheia não pode ser objeto de doação, mas a aquisição posterior do domínio convalida o ato. Ver: Art. 1.268, §1º, CC/2002 5. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE DOAÇÃO: Não há uniformidade de critérios entre os autores, variando a nomenclatura e classificação conforme o enfoque e a metodologia empregada pelo doutrinador. Doação Pura (ou típica) – Quando o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário, nem subordina a sua eficácia a qualquer condição. O ato constitui uma liberalidade plena. Doação Onerosa (também chamada de modal ou em encargo) – Aquela em que o doador impõe ao donatário uma incumbência ou onus. O encargo pode ser imposto em benefício do próprio doador, de terceiro, ou de interesse geral. É chamada de doação onerosa, pois existe uma incumbência por parte do donatário (que não chega a configurar uma contraprestação em pagamento à vantagem recebida). Se o encargo for grande, não teremos doação, mas troca ou outro contrato bilateral qualquer. O donatário que não executa o encargo corre o risco de a doação ser revogada. Ver: Arts. 553, 555 e 562 CC/2002 Doação Remuneratória – É feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário. É o caso, por exemplo, da pessoa que faz uma doação a quem lhe salvou a vida ou lhe deu apoio em momento de dificuldade. Se a dívida era exigível, a retribuição chama-se pagamento; se não era, denomina-se doação remuneratória. Doação Contemplativa - Quando o doador menciona, expressamente, o motivo da liberalidade, dizendo, por exemplo, que a faz porque o donatário tem determinada virtude, ou porque é seu amigo, ou renomado profissional etc. A doação é pura e como tal se rege, não exigindo que o donatário faça por merecer a dádiva. Ver: Art. 540 CC/2002 3 Doação Manual – É a doação verbal de bens móveis de pequeno valor. Será válida se lhe seguir, incontinenti a tradição. A doação manual constitui exceção à regra de que a doação deva ser por escrito (por instrumento público ou particular), pela qual poderá ser realizada verbalmente, desde que ocorra a efetiva tradição. Ver: Parágrafo Único do Art. 541 CC/2002 Doação Feita ao Nascituro – Pode o nascituro ser contemplado com doações, tendo em vista que o art. 2º do Código Civil põe a salvo os meus direitos desde a concepção. A aceitação será manifestada pelos pais, ou por seu curador, nesse caso com autorização judicial. Sendo titular de direito eventual, sob condição suspensiva, caducará a liberalidade, se não nascer com vida. Ver: Art. 542 CC/2002 Doação entre cônjuges – A doação de um cônjuge ao outro “importa adiantamento do que lhes cabe por herança”. A regra aplica-se às hipóteses em que o cônjuge participa da sucessão do outro na qualidade de herdeiro. Ver: Arts. 544 e art. 1829 CC/2002 Doação de Ascendentes para Descendentes – Em mesmo contexto com o item anterior, a doação de ascendentes a descendentes, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. Estes são obrigados a conferir, no inventário do doador, por meio de colação, os bens recebidos, pelo valor que lhes atribuir o ato de liberalidade ou a estimativa feita naquela época, para que sejam igualados os quinhões dos herdeiros necessários. Ver: Arts. 544 e §1º do art. 2004 CC/2002 Doação Em forma de subvenção periódica – Trata-se de uma pensão, como favor pessoal ao donatário, cujo pagamento termina com a morte do doador, não se transferindo a obrigação a seus herdeiros, salvo se o contrário houver, ele próprio, estipulado. Ver: art. 545 CC/2002 Doação em contemplação de casamento futuro (donatio propter nuptias) – É o presente de casamento, dado em consideração às núpcias próximas do donatário com certo e determinada pessoa. A sua eficácia subordina-se, pois, a uma condição suspensiva: a realização do casamento. O dispositivo permite tal espécie de doação quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, ao casal, ou aos filhos (que, no futuro, houverem um do outro). Ver: Art. 546 CC/2002 Doação com a cláusula de retorno ou reversão – O doador poderá estipular o retorno, ao seu patrimônio, dos bens doados, se sobreviver ao donatário. Não fosse essa cláusula, que configura condição resolutiva expressa, os referidos bens passariam aos herdeiros do último. Revela o propósito de doador de beneficiar somente o donatário e não os herdeiros deste. Ver: Art. 547 CC/2002 Doação Inoficiosa – É a que excede o limite de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade de seus bens, pois a outra pertence de pleno direito aos referidos herdeiros. Ver: Art. 549 CC/20024 6. RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE DOAR: A lei impõe algumas limitações à liberdade de doar, visando preservar o interesse social, o interesse das partes e de terceiros. Vejamos, algumas restrições: Doação de todos os bens do doador (a título universal) - O objetivo dessa restrição é proteger o doador e também a sociedade, evitando que o doador passe a ficar totalmente desamparado e tenha que ser assistido pelo Estado. Ver: Art. 548 CC/2002 Doação de parte que caberia à legítima (Doação inoficiosa) - Essa restrição visa proteger o patrimônio dos herdeiros. De acordo com o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens da herança. Sendo assim, se o doador tem herdeiros necessários, ele só pode doar metade de seus bens, tendo em vista que a outra metade constitui a “legítima”, e é assegurada aos herdeiros necessários. No momento da doação deve ser aferido se o bem a ser doado é superior à metade dos bens do doador. Por outro lado, se o doador não tiver herdeiros necessários, ele terá ampla liberdade de doar seus bens, observando-se apenas as demais restrições previstas no Código Civil. Os herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge (art. 1.845 do CC/2002). Ver: Art. 549 e Art. 1.846 CC/2002 Doação que prejudique os credores do doador (devedor já insolvente) - Embora esta restrição não esteja expressa no capítulo sobre doação, ela está prevista na parte do Código Civil, que trata da fraude contra credores. Para proteger os credores quirografários do doador, o Código prevê que eles podem anular a doação quando o doador estiver insolvente com eles ou ficar insolvente com os credores por ter doado bens a terceiros. Ver: Art. 158 CC/2002 Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice – Essa restrição tem como propósito proteger a família e repelir o adultério, que constitui afronta à moral e aos bons costumes. Ver: Art. 550 CC/2002 7. CAUSAS EXTINTIVAS DA DOAÇÃO: A doação pode ser desfeita: Por invalidação - Embora não estejam previstas no capítulo específico sobre doações, aplicam-se as regras gerais a todos os contratos, ou seja, os defeitos que podem macular o ato jurídico, como erro, dolo, coação, simulação e fraude, são motivos para anular a doação. Por ser resolúvel o negócio – Onde os contratantes, de comum acordo, estipulam o desfazimento do negócio. Ver: Art. 547 CC/2002 5 Noutros termos, a doação também poderá ser revogada: Por descumprimento do encargo – No caso de doação com encargo, se o donatário não cumprir o encargo no prazo assinalado pelo doador, o doador pode desfazer a doação. Ver: Arts. 555 e 562 CC/2002 Por ingratidão do donatário – Ao aceitar o benefício, o donatário assume, tacitamente, a obrigação moral de ser grato ao benfeitor e de se abster da prática de atos que demonstrem ingratidão e desapreço. A revogação tem, pois, caráter de pena pela insensibilidade moral demonstrada, onde o legislador visou punir o donatário, mas restringiu a possibilidade de revogar a doação por ingratidão a determinadas causas e regulou seus efeitos. Ver: Art. 557 CC/2002. QUESTÕES PARA REVISÃO DA UNIDADE 01. A doação de um bem imóvel feita por Ambrósio ao amigo Fernando, com o ônus deste último continuar a viver no imóvel e lá construir uma creche, é considerada: a) remuneratória; b) condicional; c) onerosa; d) inoficiosa. 02. Assinale a alternativa correta: a) O doador não pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, exceto se se tratar de todos os seus bens. b) É possível, no contrato de doação, cláusula de reversão em favor de terceiro, com a morte do doador; c) Com a cláusula de reversão, se o doador falecer antes do donatário, com a morte deste, os bens passam aos herdeiros do doador; d) O doador pode estipular que os bens doados voltem para seu patrimônio, se sobreviver ao donatário; 03. Considerando o contrato de doação, é INCORRETO afirmar que: a) a doação com reserva de usufruto, por ser onerosa, não poderá ser revogada por ingratidão; b) a doação de imóvel de pessoa casada, sem autorização do outro cônjuge, exceto se o regime for o de separação de bens, poderá ser anulada no prazo de até dois anos, após o término da sociedade conjugal c) a doação inoficiosa está vedada por lei, assim nula será a doação da parte excedente do que poderia dispor o doador; d) as doações remuneratórias, as indenizatórias, as propter nuptias e as que tiverem o objetivo de cumprir obrigação natural não são revogáveis por ingratidão. 04. João, por meio de doação gratuita, transmitiu todos os seus bens a seu filho, tornando-se insolvente. Posteriormente, celebrou contrato com José e não cumpriu, tornando-se devedor deste. Nesse caso, José: a) poderá pleitear a anulação da doação gratuita efetivada por João por fraude contra credores porque, em razão dela, João tornou- se insolvente; b) não poderá pleitear a anulação da doação por fraude contra credores porque não era credor de João ao tempo em que ela foi feita; c) só poderá pleitear a anulação da doação gratuita efetivada por João por fraude contra credores se for credor quirografário; d) só poderá pleitear a anulação da doação efetivada por João por fraude contra credores se este não tiver mencionado esse fato quando da celebração do contrato; e) só poderá pleitear a anulação da doação efetivada por João por fraude contra credores se o contrato com ele celebrado for escrito e estiver subscrito por duas testemunhas 05) Qual a consequência de um eventual descumprimento de encargo em uma doação modal? Fundamente sua resposta.
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