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TROCA OU PERMUTA, DOAÇÃO, COMODATO E MUTUO

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Direito Civil IV
CONTRATOS EM ESPÉCIE
Prof.a Myriam Benarrós Clementoni
- J.F. SIMÃO. Direito Civil Contratos. São Paulo: Atlas, 2007
- P. STOLZE GAGLIANO-R. PAMPLONA FILHO. Novo Curso de Direito Civil. Contratos em espécie. 
São Paulo: Saraiva, 2009.
____________________________________________________________________________
Direito Civil IV
CONTRATOS EM ESPÉCIE
Prof.a Myriam Benarrós Clementoni
- J.F. SIMÃO. Direito Civil Contratos. São Paulo: Atlas, 2007
- P. STOLZE GAGLIANO-R. PAMPLONA FILHO. Novo Curso de Direito Civil. Contratos em espécie. 
São Paulo: Saraiva, 2009.
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Direito Civil IV
CONTRATOS EM ESPÉCIE
Prof.a Myriam Benarrós Clementoni
- J.F. SIMÃO. Direito Civil Contratos. São Paulo: Atlas, 2007
- P. STOLZE GAGLIANO-R. PAMPLONA FILHO. Novo Curso de Direito Civil. Contratos em espécie. 
São Paulo: Saraiva, 2009.
2. TROCA OU PERMUTA (Art. 533) 
 desde que não seja dinheiro. Se uma das prestações for dinheiro e outra coisa, estamos diante de compra e venda. A troca pressupõe duas obrigações de dar recíprocas (do ut des), e não obrigações de fazer (do ut facies).
Precedente histórico: o Direito Romano 
(J.C. Moreira Alves. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2010; T. Marky. 
Curso elementar de Direito Romano. São Paulo: Saraiva, 2010)
A permutatio no direito romano é um contrato inominado, o mais importante do tipo do ut des, pelo qual uma das partes transfere a propriedade de uma coisa, para receber, da outra parte a propriedade de outra coisa. No direito clássico os juristas divergiam sobre a natureza jurídica da permutatio: alguns pretendiam enquadrá-la na emptio venditio (contrato de compra e venda); outros entendiam que a permuta se distinguia da compra e venda, essa posição prevaleceu no direito pós-clássico; no direito justinianeu a permuta está colocada entre os contratos inominados. 
Trata-se de acordos em que ambas as partes se obrigam a prestações equivalentes. Eles são contratos bilaterais perfeitos, chamados também de contratos sinalagmáticos. Tais contratos adquiriam força jurídica, e a consequente tutela processual, quando uma das partes executava a sua prestação. Com isso a outra parte ficava automaticamente obrigada a efetuar a contraprestação. 
2.1 Natureza Jurídica
É um contrato bilateral, oneroso, consensual, típico e não solene. A troca não tem efeitos reais, pois com ela somente surge a obrigação de transferir o domínio. Isso decorre do fato de o contrato, para o direito brasileiro, não transferir a propriedade.
2.2 Regras da Troca ou Permuta
Aplicam-se ao contrato de Troca ou Permuta as mesmas regras, no que couber, que são aplicadas ao contrato de compra e venda, já que cada um dos contratantes é considerado reciprocamente comprador e vendedor (art. 533, CC). Duas são as diferenças entre as duas modalidades de contrato: 
a) Despesas decorrentes do instrumento de troca. As despesas do instrumento de troca serão divididas pela metade entre as partes (art. 533, I, C/C). Com relação à compra e venda, a lei determina que o comprador arque com as despesas de escritura e registro e o vendedor com as despesas da tradição (art. 490, C/C). Sendo assim, no que concerne à troca, se o contrato não contiver disposição em sentido contrário, todas as despesas do contrato serão rateadas na proporção de 50% para cada contratante, inclusive os gastos referentes aos tributos. Essa divisão em partes iguais decorre da premissa segundo a qual a troca se dá entre bens de idêntico valor. 
b) Troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes. Como já assinalado, a venda de ascendentes para descendentes é anulável se os demais descendentes e o cônjuge não anuírem, pois a lei entende que pode se tratar de verdadeira doação simulada em fraude à legitima dos herdeiros necessários (art. 496, CC). Em se tratando de troca de valores desiguais, a lei também infere uma possibilidade de fraude aos herdeiros necessários, posto que, se os valores fossem idênticos, não haveria qualquer prejuízo ao patrimônio do ascendente permutante. Destarte, também será anulável a troca de valores desiguais sem o devido consentimento dos demais descendentes e do cônjuge (art. 533, II, CC). Não serão chamados todos os descendentes, mas apenas aqueles que estariam na situação de herdeiros diretos do ascendente no momento da alienação e que poderiam sofrer prejuízos. O prazo de anulação é de natureza decadencial e será de dois anos, tendo em vista que a lei não traz qualquer disposição específica a esse respeito (art. 179, CC). 
2.3 Permuta de valores desiguais
Se a trocar ocorrer entre bens de valor desigual, cada contratante assumirá os gastos referentes ao bem que está adquirindo. Aquele que receber o bem de maior valor terá maiores ganhos e, portanto, pagará maiores despesas. 
A desigualdade de valores não desnatura a permuta. Ocorrerá quando, além do bem recebido, houver uma parte de pagamento em dinheiro, a chamada torna. A torna, entretanto, deve ser analisada em cada caso, pois, se for um valor expressivo, a permuta fica descaracterizada e estaremos diante do tipo compra e venda.
A questão que parece irrelevante ganha grande alcance quando se discute o problema da preferência concedida ao inquilino na venda da coisa locada. Em se tratando de venda, o inquilino terá a preferência garantida na aquisição do imóvel (Lei n. 8.245/91, art. 27), o que não ocorre em se tratando de permuta. Destarte, se a torna for relevante, o tipo contratual permuta ficará afastado, incidindo-se as regras referentes à compra e venda. 
3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (Arts. 534 a 537)
 Conceito. É o contrato pelo qual o consignante tradens entrega ao consignatário accipiens determinada coisa móvel de sua propriedade, ficando este último autorizado a vender a coisa, pagando ao consignante o preço ajustado, ou, se preferir, poderá, no término do contrato, restituir a coisa consignada (art. 534, C/C). Esse contrato é conhecido popularmente como venda em consignação. 
Ocorre, por ex., quando uma pessoa querendo vender o seu veículo o entrega a uma loja em consignação, fixando determinado preço que quer receber pela venda da coisa; se o dono conseguir vender por um preço maior ao fixado, poderá reter a diferença que constituirá o seu lucro. Pode, entretanto, o dono da loja, se não conseguir vender, restituir o bem ao seu proprietário. 
O contrato recebe o nome de estimatório porque o dono da coisa estima ou fixa o preço que pretende receber pela coisa consignada. O dono da coisa é o consignante e aquele que recebe sua posse o consignatário.
Trata-se de exemplo clássico de obrigação facultativa.
[Obrigação Facultativa. Ao devedor não é lícito substituir a prestação, mas excepcionalmente a faculdade de substituição lhe pode ser reservada no ato constitutivo da obrigação. Quando lhe assiste esse direito, a obrigação é chamada de facultativa. A obrigação facultativa distingue-se nitidamente da obrigação alternativa, que se caracteriza pela pluralidade de objetos, enquanto naquela o objeto é único. Na alternativa, duas ou mais coisas estão in obligatione e uma in solutione. Na facultativa, só uma está in obligatione; a outra in facultate solutione. Uma é composta, a outra simples. Uma tem objeto plural; a outra singular. (O. Gomes. Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 1978)] 
Isso porque a obrigação decorrente do contrato terá apenas uma prestação no vínculo obrigacional (in obligatione) e a segunda prestação aparecerá no momento da execução do contrato, ou seja, do pagamento (in facultate solutione). Em razão desta qualidade, o credor (dono da coisa) só poderá exigir a prestação contida no vínculo obrigacional e não aquela que aparece no momento da execução do contrato. Assim sendo, o dono do veículo consignado, ao término do contrato, só poderá exigir o pagamento do veículo (in obligatione), mas o consignatário, na execução, poderá devolver o próprio veículo ou pagar o valor estimado ao dono (duas prestações). 
Precedente histórico: o Direito Romano(J.C. Moreira Alves. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2010)
No Direito Romano o contrato estimatório estava incluído entre os contratos inominados e denomina-se aestimatum, podendo ser enquadrado entre as categorias do facio ut des ou facio ut facias. Era um contrato pelo qual uma das partes (fabricante ou atacadista) entregava à outra (vendedor a retalho) mercadoria para vender, obrigando-se esta, se não ocorrer a venda, a restituí-la, ou, em caso contrário, a pagar o preço previamente determinado.
O estado em que se encontram as fontes sobre o aestimatum não nos permitem conhecer sua disciplina no direito romano clássico.
3.1. Natureza Jurídica
Questão controvertida diz respeito à natureza bilateral ou unilateral do contrato estimatório, doutrina majoritária, diante da onerosidade do contrato em que ambas as partes buscam um proveito econômico, entende ser ele um contrato bilateral. Discorda J. F. Simão que entende ser o contrato estimatório unilateral já que com a entrega da coisa e o nascimento do contrato, todas as obrigações são do consignatário, sendo a principal delas o pagamento do preço estimado; não visualiza o autor nenhuma obrigação para o consignante.
É um contrato bilateral, oneroso, real, comutativo, de duração, fiduciário:
Bilateral. Impõe direitos e deveres para ambas as partes. A obrigação precípua do consignatário é remunerar o consignante, e o dever jurídico principal do primeiro é efetivar a venda da coisa. 
Oneroso. Ambas as partes, em linha de principio, experimentam, reciprocamente, sacrifícios patrimoniais e benefícios correspondentes.
Real. A entrega da coisa ao consignatário é verdadeiro elemento constitutivo ou existencial do contrato. Em outras palavras, assim como ocorre no penhor e no depósito, enquanto não operada a transferência da posse, o contrato não se considera formado.
Comutativo. Uma vez que as prestações impostas às partes são certas e determinadas no próprio contrato. 
De duração (prazo determinado ou não). Em geral, no próprio contrato já se estabelece o prazo dentro do qual deve o consignatário efetivar a venda dos bens, ou devolvê-los. Entretanto, caso não se pactue esse prazo, poderá o consignante, a qualquer tempo, notificar a parte adversa para que realize a devolução daquilo que recebeu.
Fiduciário. É um contrato pactuado em confiança, pois o consignante se sujeita a transferir coisas suas ao consignatário, sem a consequente translação do domínio, e em caráter temporário.
3.2 A propriedade da coisa consignada 
O consignatário não se transforma em proprietário da coisa consignada, mas em mero possuidor. Recebe do dono uma autorização para aliená-la a terceiros e pode também utilizá-la.
O consignante poderá perder a propriedade da coisa consignada em duas situações distintas: a) se o consignatário conseguir vendê-la, a propriedade sai das mãos do consignante e passa diretamente para o terceiro adquirente; b) se a coisa não é vendida, findo o prazo contratual, a propriedade do bem passa ao consignatário. Assim leciona Pontes de Miranda ao afirmar que dentro do prazo tem o consignatário o direito de pagar o preço ou restituir a coisa, mas, após o termo, o preço é devido, pois a propriedade se transferiu (t. 39, 1984, p. 424).
Em decorrência de o contrato estimatório não transferir a propriedade da coisa, os credores do consignatário não poderão penhorá-la ou sequestrá-la antes do pagamento ao consignante (art. 536, C/C). A penhora ou sequestro não poderão ocorrer antes do pagamento, no curso do contrato. Vencido o prazo sem que a coisa tenha sido vendida, sua propriedade se transfere ao consignatário e, então, será possível sua penhora ou sequestro. 
Nota-se que o dono da coisa poderá ser prejudicado nesta hipótese, pois será mais um credor quirografário (credor que não possui garantia real para o pagamento de seu crédito) do consignatário com relação à importância estimada em contrato. Se quiser evitar tais riscos, pode o consignante exigir do consignatário alguma forma de garantia real ou pessoal, para a hipótese de inadimplência. 
No que concerne ao consignante embora ele continue proprietário da coisa, não poderá aliená-la antes de sua restituição pelo consignatário ou do aviso de restituição (art. 537, C/C). 
 A lei prevê duas hipóteses em que o consignante fica liberado para a alienação da coisa: em caso de ocorrer a restituição real da coisa ou quando o consignatário avisa o consignante da restituição. om o aviso (declaração receptícia de vontade), a posse do consignatário passa a ser precária e o consignante poderá tomar as medidas cabíveis para reaver a coisa para si. 
 Enfim, sendo o contrato estimatório fonte de obrigação facultativa, a coisa consignada não está contida no vínculo obrigacional e, portanto, não poderá ser exigida pelo consignante ao termino do contrato. Então, ocorrendo a sua perda, ainda que sem culpa do consignatário, ou seja, em decorrência de caso fortuito ou força maior, persiste a obrigação do pagamento do valor estimado (art. 535, C/C). 
4. DOAÇÃO (Arts. 538 a 564)
Conceito. É o contrato pelo qual uma pessoa, doador, por liberalidade, transfere bens ou vantagens a outra, donatário (art. 538, CC).
Precedente histórico: o Direito Romano 
(J.C. Moreira Alves. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 2010)
A doação, no direito romano, é o ato pelo qual alguém (doador) diminui voluntariamente seu patrimônio e aumenta o de outrem 
(donatário). 
Quanto aos seus requisitos podemos assinalar que no direito clássico eram dois: 1. A diminuição voluntária do patrimônio do doador; 2. O aumento do patrimônio do donatário. No direito justinianeu, além desses dois requisitos, há um terceiro: o animus donandi (a intenção efetiva de doar). 
4.1. Natureza Jurídica
É um contrato unilateral, gratuito, típico e solene. A doação, em regra, é contrato solene, pois a lei exige forma para que se aperfeiçoe. Assim, Far-se-á por escritura pública ou particular (art. 541, CC). Sem a forma prescrita em lei, nula será a doação. Entretanto, se a doação tiver por objeto bens móveis e de pequeno valor, ocorrendo imediatamente a sua tradição, a doação poderá ser verbal (art. 541, parágrafo único, CC), por ex., a doação de uma bala ou de um biscoito. 
Na doação, estará presente o animus donandi, ou seja, a intenção de doar, exatamente o elemento que a diferencia dos demais contratos gratuitos, tais como o comodato e o depósito. 
A doação se caracteriza pelo animus donandi, i.e., a intenção de beneficiar ou favorecer o donatário por mera “liberalidade”. Diferentemente, da compra e venda, em que as partes são animadas por interesses antagônicos que se contemporizam, na doação prevalece o interesse do doador, convergente com a vontade do donatário. 
4.2. Espécies de doação
4.2.1 Doação pura e simples
É aquela que se traduz simplesmente em uma liberalidade, sem fixação de qualquer fator eficacial (condição, termo ou encargo). Ao lado dela podemos citar modalidades de doação, em que tenha sido estipulado um desses fatores, limitando a produção de seus efeitos. 
É o caso da doação condicional e da doação a termo, cujas denominações são auto-explicativas. De fato, no primeiro caso, é estipulada uma condição (evento futuro e incerto) ao negócio, e, no segundo, é estabelecido um termo (evento futuro e certo) que delimita um prazo, findo o qual o donatário passa a exercer o domínio sobre a coisa alienada. 
4.2.2 Doação à entidade futura 
A doação poderá ter como donatário uma pessoa jurídica que ainda não existe, mas que será constituída. Não importa se a pessoa jurídica será de direito público ou privado, com ou sem fins lucrativos, por isso a lei utiliza o vocábulo entidade (art. 554, CC). 
A lei concede um prazo de dois anos para a sua constituição, contados da data da doação, sob pena de caducidade. Neste dispositivo, a lei se afasta da terminologia decadência e utiliza termo sinônimo: a caducidade. 
Trata-se de doação sob condição suspensiva; se a pessoa jurídica vier a existir, a doação se aperfeiçoa e produz efeitos. 
4.2.3 Doação contemplativaÉ aquela feita em contemplação do merecimento do donatário e não se trata de contraprestação, mas de liberalidade (art. 540, CC). Ocorre quando determinada pessoa doa e declara o motivo de sua doação. Exemplo: se o doador declara que doa um bem a Fundação Ayrton Senna em razão de seus excelentes trabalhos com crianças carentes, a doação é contemplativa, mas não perde o caráter de doação. Em geral, é espécie de doação pura.
Deve-se atentar para o fato de que a doação contemplativa não se confunde com a declaração unilateral de vontade (Atos unilaterais, Da promessa de recompensa, art. 854, CC), uma vez que aquela é uma relação jurídica negocial, com concurso de vontades (doar e aceitar a doação), enquanto esta é uma manifestação volitiva unilateral, que obriga apenas o declarante, constituindo-se em fonte de obrigações. 
Importante mencionar, ainda, como uma subespécie, a doação feita em contemplação a casamento futuro (art. 546, CC):
Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, que por terceiros a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito de o casamento não se realizar.
 
Observe-se que o negócio jurídico segundo o artigo 546 do CC, ficará sem efeito se o casamento não se realizar. Conclui-se, portanto, e esse seria um erro grave, que a doação seria nula, na falta de casamento. Todavia, a doação não é nula posto que se trata de negativa de eficácia e não propriamente de validade. Com efeito, o negócio jurídico da doação feita em contemplação a casamento futuro é existente e válido, tendo apenas um fator eficacial pendente, qual seja, o referido matrimonio, evento futuro e incerto, como toda condição. Em todas as espécies de doação o caráter de liberalidade faz com que o doador não seja obrigado a pagar juros moratórios, nem esteja sujeito às consequências da evicção ou do vício redibitório, conforme consta do art. 552 do CC. Todavia, como consta da parte final do mencionado dispositivo, nas “doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário”. 
4.2.4 Doação remuneratória
É a doação feita em retribuição a um serviço prestado por uma pessoa que não se torna credora em razão deste, bem como um agradecimento por determinada atitude do donatário. Não se trata de pagamento por um serviço prestado, mas de simples gratidão, já que o donatário nada pode exigir do doador. É o caso de um primo que paga um almoço ao outro e este retribui, enviando um presente de valor superior àquele do almoço.
A doação não perde o caráter de liberalidade, mesmo se o valor do bem doado seja superior ao valor que se retribui (art. 540, CC). Então, ainda que o presente enviado seja muito mais caro do que o almoço pago, a doação remuneratória não perde o caráter de liberalidade.
4.2.5 Doação com encargo
4.2.5.1 Aspectos gerais
É aquela que vem acompanhada de um ônus ou gravame. É a mais comum espécie de doação onerosa. O gravame é determinada incumbência que adere à liberalidade e pode ser realizado em favor do próprio doador, de um terceiro ou no interesse geral (art. 553, CC). Trata-se de limitação trazida a uma liberalidade. Assim, aceita a doação, o encargo deve ser necessariamente cumprido. Não se trata de doação condicional (se o donatário erigir uma estatua em favor do doador, ganha a casa), pois a doação com encargo ou onerosa é perfeita e acabada desde a aceitação.
São exemplos de doação com encargo: a doação de uma casa com o encargo de o donatário erigir uma estatua em favor do doador, ou o donatário cuidar da tia idosa do doador que reside na cidade de Manacapuru ou, por fim, com o encargo de o donatário criar uma reserva ecológica para a preservação da fauna e flora brasileiras. 
Terão legitimidade para exigir o cumprimento do encargo o próprio doador, o terceiro beneficiado, ou mesmo o Ministério Público, se o encargo for em benefício de interesse geral (imaginemos que o ônus seja a construção de um hospital público), sendo que neste último caso o MP terá o poder de exigir somente após a morte do doador se este não o fez (art. 553, parágrafo único, CC). Contudo, para a demanda de revogação da doação em razão da inexecução do encargo, somente terá legitimidade o próprio doador, pois se trata de faculdade personalíssima. Caso a doação não estipule prazo certo para o cumprimento do encargo, pode o doador notificar judicialmente o donatário, constituindo-o em mora e concedendo-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida (art. 562, segunda parte, CC). 
4.2.5.2 A revogação da doação e o seu prazo 
Em razão do encargo a doação passa a ter um caráter oneroso e, então, aplicam-se as regras referentes aos vícios ocultos (art. 441, parágrafo único, CC), sendo que a doação pode ser revogada por inexecução do encargo (art. 555, CC).
[Vício oculto é aquele em que a identificação não ocorre no momento da aquisição da coisa, aparecendo apenas durante o seu uso. 
Vício aparente é aquele em que podemos identificar imediatamente, ou seja, desde a entrega do bem já apresenta um defeito, não estando de acordo com as funcionalidades a que se destina] 
Se o encargo for descumprido por força maior, a doação não poderá ser revogada, pois a lei exige mora do devedor, que inexiste sem a culpa deste (art. 396, CC). Em termos técnicos, estamos diante de resolução da doação em virtude da culpa do donatário que deixou de executar o encargo, estando, portanto, em mora (art. 562, CC). Fica claro que a inexecução do encargo é causa de resolução da doação por inadimplemento. Ainda que não se veja o encargo com a natureza de uma contraprestação, nem se diga que a doação assume um caráter sinalagmático, certamente se verifica a sua onerosidade, alterando o caráter classicamente unilateral da doação. 
Resta saber se o prazo para a “revogação” da doação por inexecução do encargo é aquele decadencial de um ano previsto no art. 559 do CC para a revogação por ingratidão (art. 555, CC). A questão é controvertida. O STJ decidiu (Resp. 1994/0029503-0, relator o Min. Carlos Alberto Menezes Direito, data do julgamento 10-9-2002, 3 turma), ainda na vigência do Código de 1916, que este prazo seria o vintenário, na forma do art. 177 do Código revogado. Na linha desse acórdão, e considerando-se não mais existir, no Código de 2002, prazo vintenário de prescrição extintiva, é forçoso convir que este será, agora, de dez anos, ex vi do disposto no art. 205 do novo diploma (correspondente ao revogado art. 177 do CC de 1916). 
4.2.6 Doação em forma de subvenção periódica 
É aquela doação que se destina à mantença de certa pessoa e, por isso, periodicamente, o doador doa certa quantia ao donatário, nos termos avençados pelo contrato. A doação nesta modalidade extinguese com a morte do doador, salvo se o contrato prevê que a obrigação se transfere a seus herdeiros (art. 545, CC). A ideia de transmissão ocorrerá nas forças da herança, ou seja, não vinculará os bens dos herdeiros, mas apenas o patrimônio do doador, e os frutos por este produzidos. Assim, se o contrato contiver previsão expressa, mesmo morrendo o doador, seus herdeiros continuarão a pagar, com os bens do espólio, os valores contratados. 
A subvenção pode se dar em favor de pessoa física ou jurídica, sendo que a periodicidade dependerá dos termos do contrato, podendo ser mensal, semestral ou mesmo anual. A obrigação não poderá ultrapassar a vida do donatário.
4.2.7 Doação com cláusula de reversão 
É uma modalidade de doação com previsão expressa pela qual o bem doado retorna ao patrimônio do doador, na hipótese de pré-morte do donatário (art. 547, CC). Normalmente, com a doação os bens passam a integrar o patrimônio do donatário e, no caso de morte deste, são transferidos para os seus herdeiros. Com a cláusula de reversão, em caso de morte do donatário ocorrer antes do doador, o bem retorna ao patrimônio do último. Trata-se de propriedade resolúvel,sujeita a uma condição: a pré-morte do donatário ao doador. Silvio Venosa afirma que a cláusula de reversão pode ser aposta ao contrato de doação estipulando a reversão mesmo antes da morte do donatário, aplica-se o princípio geral que admite os negócios a termo (S. VENOSA. Contratos em espécie. São Paulo: Atlas, 2001, vol. III, p.115). 
Em caso de comoriência das partes, a cláusula de reversão não produzirá efeitos, pois, a lei brasileira adota a teoria pela qual não há relação sucessória entre aqueles que morreram simultaneamente. 
Ademais, as partes não podem pactuar que, em caso de pré-morte do donatário ao doador, o bem reverterá em favor de terceiro (art. 547, parágrafo único, CC), posto que, se isso fosse possível, admitir-se-ia a existência de um pacto sucessório (pacta corvina), que é expressamente proibido pela lei (art. 426, CC). Assim sendo, será nula a cláusula que dispuser que, em caso de pré-morte do donatário, o bem reverterá ao filho do doador ou a determinada instituição de caridade. 
4.2.8 Doação Universal
É nula a doação de todos os bens do doador, sem reserva de parte ou renda suficiente para a subsistência do doador (art. 548, CC). Trata-se de nulidade absoluta que visa impedir que, num momento de afobamento, em razão de um forte senso de caridade, o doador realize doações sem pensar em sua subsistência. A preocupação legal é com a pessoa do doador que, sem bens, poderá vir a onerar o Poder Público com seu sustento. Se houver a reserva de usufruto ao doador, a doação é válida.
Stolze Gagliano-Pamplona Filho lecionam que se trata de hipótese de nulidade absoluta, por traduzir violação de preceito cogente, de ordem pública, que visa a resguardar rendimento mínimo para a existência digna do doador. O art. 548 do CC deve ser interpretado conjuntamente com o comando constitucional que prevê a dignidade da pessoa humana como um dos valores fundamentais no Estado 
Democrático de Direito. 
4.2.9 Doação de ascendente para descendente
A doação de ascendente para descendente é válida, sendo dispensada a anuência dos demais descendentes, desde que feita no limite da parte disponível. 
Se o pai doar sua fração ideal de 50% referente à parte oficiosa (disponível) para apenas um dos filhos, a doação será válida, já que não invadiu a parte inoficiosa (correspondente à legítima), e significará adiantamento de legítima (art. 544, CC). Assim, quando do falecimento do pai doador, o filho donatário deverá colacionar o bem para igualar a sua legitima com a de seu irmão. Note-se bem que, nesse caso, há um adiantamento de legítima, uma antecipação; assim, o ajuste entre os filhos deverá ocorrer no momento da morte do pai. A colação ocorrerá se o contrato de doação contiver cláusula informando que se trata de antecipação de legítima, assim como no caso de silêncio.
Contudo, se o doador, no próprio titulo (art. 2005, CC), dispensa a colação, seu propósito deliberado não foi antecipar a legítima, mas desigualar os quinhões hereditários em favor de um filho. Como a doação foi feita da parte disponível, na hora do falecimento, o filho donatário ficará com 50% da única casa de propriedade do de cujus, e a outra fração de 50% (que compõe a legítima) será dividida entre eles. Em suma, se a doação não invadir a parte inoficiosa (legítima), esta será válida e significará adiantamento de legítima. Só será considerada a doação como efetuada da parte disponível sem a necessidade de colação se o instrumento de doação assim dispuser. Tal doação independe de anuência dos demais descendentes.
 4.2.10 Doação entre cônjuges 
É permitida a doação entre cônjuges no direito brasileiro, desde que possível em razão do regime de bens do casamento. Assim, os bens comuns não poderão ser doados, pois já pertencem a ambos os cônjuges. A regra só terá incidência com relação aos bens particulares de cada cônjuge, que devem ser verificados de aco5rdo com o regime de bens adotado.
A doutrina não admite a doação entre cônjuges em todos os regimes de bens, já que na comunhão universal (arts. 1.667 a 1.671, CC), por exemplo, a doação não faria sentido em razão da sua estrutura; na separação obrigatória (art. 1.641, CC), a doação feriria norma de ordem pública; e também na comunhão parcial em que não há bens particulares, a norma não teria sentido, pois todos os bens são comuns.
Parte-se da premissa de que a doação efetivada entre cônjuges foi da porção disponível e, portanto, é válida. Se o contrato de doação nada informa ou expressamente determina tratar-se de antecipação de legítima, os bens deverão ser colacionados. Já se o contrato de doação informar que os bens são da parte disponível, não haverá necessidade de colação. 
Sintetizando: depois do casamento, só poderá haver doação de um cônjuge a outro (ou uma doação mútua), se o regime de bens for o da comunhão parcial ou o da separação convencional; jamais se for o da comunhão universal, ou o da separação obrigatória.
4.2.11 Doação inoficiosa
É nula a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento (art. 549, CC).
Deve-se deixar claro que a doação não poderá invadir a chamada parte inoficiosa, ou seja, aquela que não poderia ser deixada em testamento que corresponde a 50% dos bens do doador. A doação será válida na porção que não invadir a legítima. Na parte que invadir a legítima, a doação será considerada nula. 
Para calcular a validade da doação e se esta é ou não inoficiosa, deve-se verificar o patrimônio do doador no momento da liberalidade (art. 2.007, CC). Observe-se que se o doador era um homem rico e a doação foi de valor inferior à metade dos seus bens, o negócio é lícito, e eficaz, mesmo que haja empobrecido depois e morrido na miséria. 
4.2.12 Doação do cônjuge adúltero
 Na vigência do Código de 1916 o direito brasileiro utiliza o instituto do concubinato, expressão de raiz latina que significava cum cubere (dormir com), para caracterizar uma forma espúria de união entre pessoas de sexos diferentes, que passavam a conviver extramatrimonialmente, figura essa já conhecida desde o direito romano.
A Constituição Federal de 1988 modificou profundamente o instituto do concubinato, pois, reconheceu ao concubinato puro (entre pessoas desimpedidas ou separadas de fato) dignidade constitucional, alçando-o ao patamar de instituto do Direito de Família, consoante se depreende da leitura de seu art. 226, § 3.
Destarte, no que concerne à problemática da doação, deve-se notar que o ordenamento jurídico brasileiro tutela a relação familiar constituída entre companheiros (pessoas desimpedidas ou simplesmente separadas de fato), ao passo que, por outro lado, nega a tutela do Direito de Família aos concubinos (pessoas de convivência proibida).
Nesse diapasão, pode-se afirmar que o Código Civil, ao tratar do contrato de doação, proíbe a doação entre concubinos (especialmente a hipótese de quebra do dever de fidelidade por subsistência de outra relação amorosa, ao lado do casamento), e não entre companheiros (partes em uma união estável).
É, portanto, anulável a doação de cônjuge adúltero ao seu cúmplice, podendo ser anulada pelo cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros necessários, no prazo de até dois anos, depois de dissolvida a sociedade conjugal (art. 550, C/C). Aqui, como assinalado, não se trata de relação entre companheiros decorrente da união estável (art. 1.723, CC), mas de relação entre concubinos, ou seja, entre cônjuge casado e seu amante (art. 1.727, CC).
Ressalte-se que a lei 11.106/2005 revogou o art. 240 do Código Penal que continha a previsão do crime de adultério, assim sendo basta que se verifique a infidelidade (art. 1.566, I, CC) para que se aplique o disposto no artigo 550 do CC. 
O prazo de dois anos é decadencial, e a ação de anulação poderá ser proposta a partir do momento em que ocorrer a doação, extinguindose em dois anos contados do fim da sociedade conjugal (morte dos cônjuges, separação judicial, divórcio). Deve-se ressaltar que a legitimidade é do cônjuge prejudicado pela doação, só podendoos herdeiros intentar a ação em caso de falecimento deste.
4.2.13 Doação conjuntiva
É aquela realizada a mais de uma pessoa. Se a doação é realizada, mas o contrato não determina o quinhão de cada donatário, presume-se que essa ocorreu em partes iguais (art. 551, CC). Como regra, em havendo o falecimento de um dos donatários, o seu quinhão será transmitido a seus herdeiros. Contudo, excepcionalmente, se os donatários forem marido e mulher, surgirá entre eles o direito de acrescer, ou seja, em caso de morte, o quinhão não irá aos herdeiros do cônjuge morte (afasta-se a ordem de vocação hereditária), mas será acrescido ao do cônjuge sobrevivente (art. 551, parágrafo único, CC).
4.3. Aceitação do donatário 
 O caráter contratual da doação é evidente, não só porque vem elencada dentre os contratos em espécie, como também pelo fato de exigir-se a aceitação do donatário para que o contrato se aperfeiçoe. 
O fato de a lei exigir a aceitação do donatário não significa que esta será necessariamente expressa. A aceitação pode ser presumida em determinadas situações. Será presumida a aceitação se o doador fixar prazo para que o donatário aceite a doação sem encargo e este, no prazo concedido, não se manifestar (art. 539, CC). No caso em questão, o silencio produz efeitos jurídicos de aceitação. Isso porque, em se tratando de doação sem encargo, ou seja, sem ônus para o donatário, fixado o prazo para a aceitação, o silêncio significará aceitação presumida da coisa doada. Se não quiser a coisa, deve o oblato rejeitála no prazo fixado pelo proponente, contado tal prazo da data em que tiver ciência da proposta de doação. Assim, para rejeitar a coisa, a declaração do oblato deve ser feita no prazo concedido pelo proponente, ainda que o conhecimento da negativa chegue posteriormente ao proponente. Se contrariamente, a doação for sujeita a encargo, o silêncio não significará aceitação e a doação não produzirá efeitos.
No caso do nascituro, aquele já concebido (implantado no ventre materno, mas não nascido-art. 2 do CC), a aceitação deve ser feita pelo seu representante legal (art. 542, CC). Note-se que o representante do nascituro pode aceitar a doação, ainda que esta esteja gravada com encargo. A doação ao nascituro é direito condicional, já que depende de um evento futuro e incerto para produzir efeitos: o nascimento com vida. 
Se não nascer com vida, a doação não produzirá qualquer efeito.
A doação à pessoa absolutamente incapaz (art. 3, CC) considerase aceita desde que se rate de doação pura, ou seja, sem encaro (art. 543, CC). Há uma presunção de aceitação, pois esta doação beneficiará o incapaz. Entretanto, podem seus representantes recusar a coisa doada, hipótese em que a doação não produzirá efeito. 
Por fim, a doação em contemplação a um casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer realizada pelos nubentes entre si quer por um terceiro a um deles ou a ambos, bem como a filhos que eles terão, não pode ser impugnada por falta de aceitação (art. 546, CC).
4.4 Revogação da doação por ingratidão
É a retirada da voz por aquele que a deu, é ato pelo qual se desfaz, se invalida ou se retira a eficácia de ato anteriormente praticado, pois quem fez desfaz.
O direito de revogar a doação por ingratidão não pode ser renunciado antecipadamente, ou seja, antes de surgir o motivo que ensejaria a revogação (art. 556, CC). Ocorrido o motivo, a renúncia é válida se for expressa (o doador declara que não pretende revogar a doação, ou que perdoa o donatário ingrato), bem como tácita (o doador deixa o prazo decadencial se esgotar (1 ano, art. 559, CC).
4.4.1 Motivos para a revogação
A lista de motivos para a revogação da doação por ingratidão é taxativa e não admite interpretação extensiva. Trata-se de norma restritiva de direitos que, se ampliada, poderia gerar insegurança jurídica. 
São motivos para a revogação, a tentativa ou o homicídio doloso consumado contra o doador praticado pelo donatário (art. 557, I, CC). Deve haver o elemento dolo (intenção para que se caracterize a ingratidão). A prova deverá ser produzida pelo doador no Juízo Cível e independerá de prévia condenação penal. Também pode o doador revogar a doação se o donatário cometeu contra ele ofensa física (art. 557, II, CC), ou o injuriou ou caluniou gravemente (ofensa moral, art. 557, III, CC). Não será necessária a existência de marcas ou cicatrizes a serem produzidas pela agressão física, pois a lei só exige a agressão em si. Já o crime de calúnia significa que o donatário imputou fato criminoso ao doador. 
Por fim, o doador pode revogar a doação por ingratidão se o donatário, podendo, deixa de lhe fornecer os alimentos dos quais necessitava (art. 557, IV, CC). Não se trata aqui da noção de alimentos no sentido de dar comida ao doador faminto. São os alimentos no sentido amplo (art. 1.694, CC) e incluem-se a moradia, o vestuário e a própria alimentação.
As regras da revogação se aplicam também às hipóteses em que o ofendido pelo donatário for cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do doador (art. 558, CC). 
 4.4.2 Prazo e legitimidade para a revogação da doação
 O prazo para a revogação é de um ano (natureza decadencial) e terá início da data em que chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar.
A lei exige a conjunção de dois requisitos para que o prazo se inicie. O doador deverá ter conhecimento do fato previsto em lei que autorize a revogação da doação (art. 557, CC) e que tenha ciência de que o autor do fato é o donatário. Assim, se ocorrer uma tentativa de homicídio sem que se saiba quem foi o mandante, o prazo de decadência só iniciará quando o doador souber que foi o donatário responsável pelo crime tentado.
A revogação só poderá ocorrer por ação judicial e esta ação é personalíssima, podendo ser proposta apenas pelo doador. Da mesma forma, a ação deve ser proposta enquanto vivo for o donatário. Como a revogação tem caráter punitivo e se trata de verdadeira pena, após da morte do donatário, seus herdeiros não poderão ser responsabilizados. Contudo, se, proposta a ação, morrem o doador ou o donatário, os herdeiros do primeiro podem prosseguir com a demanda, continuando esta contra os herdeiros, no caso de falecimento do segundo (art. 560, CC).
Com exceção ao princípio, admite-se que, se o doador falecer em razão de homicídio doloso praticado pelo donatário, poderão os herdeiros propor a ação de revogação (art. 561, CC). Entretanto, se, antes de sua morte, em decorrência do homicídio doloso praticado pelo donatário, o doador perdoá-lo, os herdeiros não mais poderão propor a demanda. 
4.5. Efeitos da revogação
A revogação da doação produz efeitos ex nunc, ou seja, retroativamente apenas à data da citação (não retroage à data da doação em si), já que o donatário não está obrigado a restituir os frutos percebidos antes da citação válida. Entretanto, depois de citado, o donatário passa a ser considerado possuidor de má-fé e deverá restituir os frutos percebidos, bem como restituir a coisa doada (art. 563, CC). Aplicam-se ao donatário as regras referentes aos frutos e às benfeitorias realizadas pelo possuidor de má-fé (arts. 1.216 e 1.220, CC).
Contudo, cabe uma importante ponderação na hipótese de a coisa doada não mais ser de propriedade do donatário que já a vendeu a terceiros. Nesta hipótese devemos distinguir a boa ou a má-fé do terceiro adquirente. Se o terceiro sabia ou deveria saber que existia a ação entre doador e donatário com o objetivo de revogar a doação, e mesmo assim adquire a coisa, assume os riscos e poderá perdê-la se o doador for vitorioso na acaso de revogação da doação. 
Já na hipótese de o terceiro adquirente estar de boa-fé, pois desconhecia a ação de revogação, a alienação pelo donatário será considerada válida e o doador só terá direito a receber uma indenização pelo valor médio da coisa (mesma regra se aplica para o caso de a coisa ter sido destruída ou consumida), mas não poderá exigi-la do terceiro (art. 563, CC). 
Por fim, note-se que a lei determina, na hipótese de não-restituição da coisa doada, opagamento pelo meio-termo do seu valor, ou seja, o seu valor de mercado na data em que se perdeu. Não se trata do valor ideal, mas real da coisa doada. 
4.6 Doações que não poderão ser revogadas 
A lei não faculta ao doador o direito de revogação de qualquer tipo de doação. Em regra, a doação pura e simples poderá ser revogada pelo doador, por se tratar de uma liberalidade. Em se tratando de doação remuneratória ou onerosa em que o encargo já foi cumprido, não poderá ocorrer a revogação (art. 564, CC). Também não pode ser revogada a doação que se fez em cumprimento de obrigação natural (art. 564, III). A obrigação natural é aquela em que existe a dívida 
(Schuld), mas não há responsabilidade patrimonial do devedor 
(Haftung). São exemplos de obrigações naturais a dívida prescrita, a dívida de jogo (art. 814, CC), o empréstimo feito a menor de idade (art. 588, CC). 
Determina o Código Civil no capítulo referente ao pagamento indevido (arts. 876 a 883), que, se a obrigação natural for espontaneamente solvida pelo devedor, não poderá este pleitear a repetição do indébito, pois de indébito não se trata (art. 882, CC). Ora se o pagamento feito é válido e não admite repetição, a doação para saldar obrigação natural é considerada válida e não pode ser objeto de repetição, nem de revogação por ingratidão. 
5. COMODATO (Arts. 579 a 585, CC)
Conceito. Comodato é o empréstimo gratuito de um bem infungível pelo qual o comodante (dono da coisa) transfere sua posse ao comodatário por determinado período de tempo (art. 579, CC). Trata-se de modalidade de empréstimo, ao lado do mútuo.
Precedente histórico: o Direito Romano.
(T. Marky. Curso Elementar de Direito Romano, São Paulo: Saraiva, 2010)
No direito romano é a entrega de uma coisa para uso gratuito, com a obrigação do devedor de restituí-la. O credor que entrega a coisa e que pode exigir a sua restituição se chama comodante. O devedor que recebe a coisa para usá-la com a obrigação de restituíla, findo o comodato, se chama comodatário. Do ponto de vista econômico, o comodato é semelhante ao mútuo, mas difere dele quanto à sua estrutura jurídica. 
No mútuo, a coisa é fungível e o mutuário passa a ser seu dono. No comodato, o comodatário é mero detentor da coisa (possessio naturalis) Consequentemente, no primeiro, o mutuário é obrigado a devolver outro tanto do mesmo gênero, qualidade e quantidade da coisa recebida. No comodato, o comodatário terá que restituir especificamente a própria coisa recebida. Assim, a primeira é obrigação genérica, a segunda obrigação específica. Por isso, o objeto do comodato é normalmente uma coisa inconsumível. Pode, entretanto, recair, também, sobre coisa consumível, uma vez que esta não seja consumida pelo uso convencionado no contrato. Por exemplo, a entrega de garrafas de vinho estrangeiro não para ser bebido, mas para ser exposto na vitrina da loja do comodatário.
O comodato é um contrato no interesse exclusivo do devedor comodatário. Sendo gratuito, o comodante credor faz um favor ao comodatário devedor, cedendo-lhe o uso da coisa. A obrigação do comodatário é usar da coisa consoante o que foi estabelecido no contrato e de acordo com a bona fides. Findo o comodato, deve restituir a coisa ao comodante. De outro lado, o comodante é obrigado a permitir o uso da coisa pelo comodatário durante o prazo estabelecido no contrato, não podendo exigir a devolução da coisa antes do vencimento e devendo indenizar o comodatário não só pelo que este despendeu com a coisa, como também pelos danos que eventualmente sofrer na execução do contrato. Exemplo desses danos pode-se ter no caso de um animal com peste, dado em comodato, que infeste o rebanho do comodatário. 
5.1 Natureza jurídica 
É um contrato unilateral, gratuito, real típico e não solene. É unilateral, pois, somente gera obrigações para o comodatário. Cabe ressaltar que alguns autores classificam o contrato de comodato como bilateral imperfeito em razão de o comodante não poder exigir a devolução da coisa antes de findo o prazo estabelecido em contrato. J.F. Simão entende equivocada tal proposição, já que entregue a coisa e aperfeiçoado o comodato (a entrega não é obrigação do comodante, mas requisito de existência do comodato), nenhuma obrigação terá o comodante decorrente do contrato. A obrigação supramencionada não decorre do comodato em si, mas é própria a todos os contratos e significa respeito ao seu fim precípuo. 
5.2 Obrigações do comodatário 
A principal obrigação do comodatário é a de conservar a coisa como se sua fosse, não a utilizando de maneira danosa ou que a destrua (art. 582, CC). O Código Civil adota, ao utilizar a expressão a aferição da culpa in concreto e não in abstrato (standard jurídico do bônus pater famílias), como se sua própria fora. Assim, para a verificação de culpa em caso de dano ou perda da coisa, analisa-se a pessoa do comodatário, bem como a diligência que tem com as suas coisas. Se for uma pessoa normalmente negligente, sua culpa na perda ou dano à coisa será analisada sob esta ótica. Pelos danos causados, será responsável e deverá indenizar o comodante.
Desdobramento da obrigação de conservar a coisa é a obrigação de arcar com as despesas feitas com o uso da coisa emprestada (art. 584, CC). Deste modo, o comodatário deve arcar com as despesas de IPTU do imóvel, luz, água, taxa condominial e reparos no interior do imóvel.
Caso o objeto dado em comodato corra risco de perda ou deterioração, o comodatário tem obrigação de salvá-lo antes de seus próprios objetos (art. 583, CC). Essa regra tem sua razão de ser, pois, sendo o comodato um contrato gratuito, já que só traz vantagens ao comodatário, nada mais justo que este anteponha a salvação do bem emprestado à salvação de seus próprios. Se não o fizer, indenizará o comodante pelos prejuízos sofridos, ainda que em razão de caso fortuito ou força maior. É exceção à regra do art. 393 do Código Civil que prevê o não=pagamento de indenização em razão da perda da coisa por caso fortuito ou força maior.
Ainda o uso da coisa deve ser feito de acordo com os termos do contrato ou sua natureza (art. 582, CC). O carro de passeio emprestado não deve ser utilizado para transportes de animais e casa de família dada em comodato não deve ser utilizada para a realização de eventos com centenas de pessoas. Se o uso não for adequado, claro será o inadimplemento da obrigação do comodatário que não só responderá pelas perdas e danos, como também poderá ver o contrato resolvido em razão de sua culpa (resolução por inadimplemento do devedor). 
A última das obrigações do comodatário é a restituição da coisa, findo o prazo avençado pelas partes. Se o comodatário não restituir a coisa, como consequência de seu inadimplemento, pagará ao comodante aluguel da coisa a ser arbitrado pelo último (art. 582, CC). Com a mora do comodatário surge o dever de pagamento de aluguel e, portanto, o comodato perde sua gratuidade. A lei determina que o valor seja fixado pelo comodante, mas tal fixação deve ocorrer nos limites da razoabilidade e de acordo com o valor real de mercado. Se for abusivo, aplica-se ao comodato o disposto no art. 575 do Código Civil, referente à locação de coisas, podendo o juiz reduzi-lo a um valor adequado, levando em conta seu caráter de penalidade. Assim, foi a conclusão das III Jornadas de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal:
“Enunciado: A regra do parágrafo único do art. 575 do novo código civil, que autoriza a limitação pelo juiz do aluguel-pena arbitrado pelo locador, aplica-se também ao aluguel arbitrado pelo comodante, autorizado pelo art. 582, 2 parte, do novo CC.”
Ademais, findo o prazo, a posse do comodatário passa a ser injusta e o comodante poderá se valer das medidas possessórias cabíveis, tais como a reintegração de posse (bem imóvel) ou a busca e apreensão (bem móvel). Trata-se de posse precária, pois é baseada na confiança e não gerará direito de usucapião (arts. 1.238 a 1.247, CC).
Se o contrato de comodato não contiver prazo para devolução da coisa, presume-se que este será o necessáriopara o uso concedido, não podendo o comodante suspender o uso e o gozo da coisa emprestada (art. 581, CC). Trata-se de presunção em favor do comodatário, pois, no tipo contratual em questão, o prazo existe em favor do comodatário, já que é a parte que se beneficia do contrato. Assim, o comodante que empresta casa de praia sem prazo para a devolução só poderá exigi-la do comodatário quando findo o verão. É uma exceção à regra segundo a qual o cumprimento das obrigações sem termo certo pode ser exigido imediatamente pelo credor (art., 134, CC). 
Em que pese o fato de, no comodato, o prazo existir em favor do comodatário, que da coisa se utiliza, o art. 581 do CC admite que, em se tratando de necessidade urgente e imprevista, reconhecida pelo juiz, pode o comodante exigir a devolução da coisa, antes de findo o prazo contratual. Trata-se de situação excepcional. 
Imaginemos um fazendeiro que, tendo dois tratores, empresta um deles para seu vizinho realizar a aração da terra e mantém um consigo para utilizar em suas terras. Se, realizado o empréstimo, em razão de roubo (motivo imprevisto), o fazendeiro perde o trator e necessita urgentemente arar a terra, sob pena de perder a época da semeadura (motivo urgente), poderá requerer a devolução da coisa de imediato. Se o comodatário se negar a restituir, o juiz decidirá se há ou não razão imprevista e urgente que enseja a devolução da coisa.
Por fim, ressalta-se que, havendo mais de um comodatário todos são considerados solidariamente responsáveis perante o comodante (art. 585, CC). É regra fundamental do direito das obrigações que a solidariedade não se presume, vem da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC).
Na hipótese de haver mais de um comodatário, há solidariedade legal entre os comodatários, não só na hipótese de eventual dano causado à coisa e nos pagamentos das despesas feitas com a coisa, como também, por fim, na hipótese de mora na devolução, no pagamento dos aluguéis incidentes. Se um dos comodatários for responsável pelo dano à coisa, por exemplo, como há solidariedade legal, qualquer deles pode ser compelido a ressarcir o comodante, surgindo, então, direito de regresso do comodatário inocente contra o culpado.
5.3 Falta de legitimidade para dar bens em comodato
A lei determina (art. 580, CC) que certas pessoas não podem dar bens de terceiros em comodato, sem autorização especial. São elas: o tutor, com relação aos bens do pupilo; o curador, com relação aos bens do curatelado, e os administradores (síndico da massa falida, inventariante do espólio).
Aqui, não estamos diante de uma incapacidade, mas da falta de legitimidade, que é a proibição legal que determinadas pessoas sofrem para a prática de certos atos da vida civil. Não é uma incapacidade, que seria genérica, mas uma falta de legitimação, que é especifica. Isso porque o tutor, por exemplo, é plenamente capaz, podendo alienar, hipotecar, dar em comodato seus próprios bens. Contudo, em se tratando de bem do pupilo, o tutor só poderá dá-lo em comodato se devidamente autorizado.
Isso porque, como administram bens de terceiros, só podem praticar atos que beneficiem terceiro, e nunca atos que o prejudiquem. Como o comodato será um empréstimo gratuito, os terceiros não teriam qualquer vantagem. A autorização deverá ser concedida pelo juiz, sempre se verificado o interesse do terceiro em questão. Em se tratando de menor ou de interdito, a participação do Ministerio Público no processo será imprescindível.
6. MÚTUO (Arts. 586 a 592, CC) 
Conceito. É o contrato pelo qual o mutuante transfere a propriedade de determinada coisa móvel e fungível ao mutuário, que deverá restituir, findo o contrato, bem equivalente do mesmo gênero, qualidade e quantidade (art. 586, CC). É espécie do gênero empréstimo. 
Enquanto o comodato transfere a posse do bem, o mútuo transfere a propriedade, pois o bem mutuado poderá ser consumido, o que, em regra, acontece, e deverá ser restituído bem equivalente.
Exatamente em razão da transferência da propriedade, o risco da perda ou deterioração da coisa corre por conta do mutuário após a tradição (art. 587, CC). A regra decorre do brocardo res perit domino e, a partir da tradição, o dono da coisa é o mutuário, já que no sistema brasileiro o simples contrato não transfere a propriedade. Essa é a disposição do art. 1.267 do Código Civil.
Precedente histórico: o Direito Romano
(T. Marky. Curso Elementar de Direito Romano, São Paulo: Saraiva, 
2010)
No direito romano o Mutuum é um contrato real em que se verifica a entrega, com a consequente transferência da propriedade, de uma coisa fungível, especialmente dinheiro, com a obrigação para aquele que a recebe de restituir igual quantidade de coisa fungível do mesmo gênero e qualidade. O credor que empresta chama-se mutuante; o devedor que toma a coisa emprestado chama-se mutuário. Economicamente, o mutuo visa a proporcionar ao devedor o gozo completo do dinheiro ou de outra coisa fungível emprestada. Consequentemente, é preciso que o devedor possa dispor de maneira absoluta desta. Por isso, no mútuo se transfere a propriedade da coisa. Tratando-se de coisas fungíveis, que são res nec mancipi, a transferência opera-se pela traditio. 
A característica do mútuo é que gera uma única obrigação: a devolução de outro tanto recebido. Por isso, ele é um contrato unilateral. Sendo o mútuo gratuito, não admite cláusula referente à contraprestação do devedor, que seriam os juros. Eventualmente, juros podem ser convencionados, mas em contrato separado, por meio de stipulatio. 
6.1. Natureza jurídica
É um contrato real, unilateral, gratuito e não solene. É um contrato unilateral, porque só gera obrigações para o mutuário. O mutuante não tem obrigação de entregar a coisa, já que a entrega precede o próprio contrato e, por isto, é considerado um contrato real.
[Contrato real. É aquele que não se completa enquanto a coisa em que se funda o contrato não é entregue (traditio) ao contratante.] 
Em regra o mútuo é gratuito. A pessoa que pede um saco de carvão emprestado a seu vizinho para o churrasco deverá devolver apenas outro saco de carvão com idêntica quantidade daquele emprestado.
O mútuo será oneroso se for destinado a fins econômicos. Nessa hipótese, presumem-se devidos os juros, nos limites da taxa legal prevista no art. 406 do Código Civil (art. 591, CC). Mútuo com fins econômicos será, em regra, aquele de dinheiro, mormente os realizados por bancos e financeiras, cuja atividade consiste exatamente na prática de usura.
[Cabe fazer uma breve ressalva de que no direito romano a expressão “usurae”, derivada etimologicamente de “usus”, significava simplesmente juros, e não juros excessivos ou usurários como se entende atualmente. A usura ou juros no caso do mútuo correspondia então apenas ao preço atribuído ao uso da quantia ou coisa fungível emprestada ao devedor para compensar os riscos e à falta de benefícios que o mutuante tem com a privação do capital ou da coisa emprestada. Os juros podem ser convencionados pelas partes ou estabelecidos pela lei. E quanto ao seu fundamento, podem ser remuneratórios (ou compensatórios) e moratórios. Estes conceituam-se como um ressarcimento do devedor pelo descumprimento parcial da obrigação, mais frequentemente, pela demora na devolução do capital alheio, representando também uma penalidade ao devedor, que privou o credor da utilização de seu capital. Já os compensatórios decorrem do rendimento advindo do uso consentido do capital alheio
Com o advento do novo Código Civil, a disciplina de cobrança de juros moratórios sofreu alterações. Dispõe a este respeito o artigo 406, in verbis:
“Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.”
A partir da leitura deste artigo, alguns juízes passaram a aplicar a taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) para títulos federais, também como taxade juros moratórios nas condenações judiciais em todos os processos, qualquer que fosse a matéria discutida nos autos.
Entretanto, vale observar que a taxa SELIC não tem natureza de juros moratórios e sim de juros compensatórios. Além da finalidade da atualização monetária, essa taxa visa remunerar o capital representado pelos títulos federais.
Não obstante, existe controvérsia acerca da constitucionalidade da taxa SELIC, inclusive envolvendo julgados do Superior Tribunal de Justiça.
Independente da controvérsia acerca da sua natureza, uma coisa é certa: os juros calculados com base na taxa SELIC não podem ser considerados unicamente como juros moratórios, visto que sua composição também reflete os efeitos inflacionários da moeda.
O artigo 406 do novo Código Civil determina que os juros moratórios legais “serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”.
Tratando o dispositivo especificamente de juros moratórios, é evidente que a expressão “taxa que estiver em vigor” diz respeito à taxa de juros de mora, e não a qualquer outra.
O artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, dispõe que:
 “se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês”.
Tendo a SELIC natureza dúplice (juros + correção monetária), a solução mais razoável é a de que a única taxa de juros de mora prevista em lei, inclusive para fins de integração do artigo 406 do Código Civil, é aquela prevista no artigo retro mencionado, no percentual de 1% ao mês.
Ademais, o enunciado que resultou dos estudos durante o Seminário sobre o novo Código Civil, realizado pelo Conselho da Justiça Federal em Brasília, em setembro de 2002 confirmou tal entendimento.
Os juros de mora têm finalidade de desestimular o inadimplemento das obrigações. Não devem ser fixados em patamar extremamente baixo, de modo a que seja vantajosa para o devedor a discussão leviana do débito em juízo, ante a melhor remuneração do capital no mercado financeiro. Mas, por outro lado, não podem ser muito altos, inibindo até o devedor com direito discutível de pleitear a revisão da sua obrigação.
A questão de taxa de juros convencionada pelas partes também não deixa de ser um assunto controverso. A discussão acerca deste tema é sobre a vigência da Lei de Usura (Decreto nº 22.626, de 1933).
Parte da doutrina afirma que a Lei de Usura foi revogada tacitamente pelo novo Código Civil. Estes doutrinadores fundamentam a revogação da Lei de Usura no fato do Código Civil de 2002 regular novamente por inteiro a matéria de juros. Neste caso, a taxa convencionada entre as partes de juros moratórios não possuiria limites, desde que tivessem sido livremente acordadas.
Entretanto, outra parte da doutrina afirma que a Lei de Usura não foi revogada pelo novo Código Civil. Neste caso, a taxa convencionada entre as partes de juros moratórios não poderia ser superior ao dobro da taxa legal.
Conforme exposto acima, a taxa de juros moratórios legais é de 1% ao mês, i.e. 12% ao ano. Desta forma, o limite para a taxa convencionada seria de 2% ao mês, ou 24% ao ano.
O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) não dispõe de forma expressa sobre a taxa aplicável à juros de mora. A doutrina e a jurisprudência indicam o valor de 1% ao mês, ou 12% ao ano, a mesma taxa legal de juros moratórios estabelecida pelo artigo 406 do Código Civil vigente.]
6.2 Obrigação do mutuário
A obrigação do mutuário que surge com o contrato é a restituição da coisa equivalente à emprestada, de mesmo gênero, quantidade e qualidade.
O prazo estabelecido pelas partes em contrato para a restituição se dá sempre em favor do devedor mutuário, de acordo com a regra geral do art. 133 do Código Civil.
Entretanto, se o devedor sofrer notória mudança em sua situação econômica, ou seja, ocorrer uma piora, um decréscimo em seu patrimônio, por qualquer razão fática, poderá o mutuante exigir do mutuário garantias ao pagamento da dívida (art. 590, CC). O adjetivo notorio significa que se trata de uma mudança evidente, de conhecimento de todos, uma verdade irretorquível.
O mutuário deverá prestar garantia real (hipoteca, penhor ou anticrese) ou fidejussória (aval ou fiança), sob pena de, não fazendo, a dívida vencer antecipadamente, em analogia regra prevista no art. 333, III, CC:
“Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
[...]
III- se cessarem, ou se se tornarem insuficientes as garantias de débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçálas 
Se o contrato de mútuo não contiver prazo para a devolução, o credor poderá exigir seu pagamento imediatamente, nos termos do art. 331 do CC. Contudo, o art. 592 traz três exceções:
1. O mútuo em dinheiro só poderá ser cobrado pelo mutuante 
30 dias depois de realizado;
1. O mútuo de produtos agrícolas, quer seja destinado ao consumo do mutuário, quer seja de sementes para a semeadura, só poderá ser cobrado na próxima colheita, pois 
a lei entende que, antes de tal prazo, o mutuário não teria como devolver os bens mutuados;
1. No tocante às demais coisas fungíveis, não havendo prazo avençado, pode o mutuante fixá-lo, a seu critério.
 6.3. Mútuo a menor
O mútuo feito a pessoa menor, sem a devida autorização de seus representantes legais (pais ou tutores), não poderá ser reavido do mutuário (art. 588, CC, ver também art. 180 do CC; art. 824 do CC). Trata-se de obrigação natural em que há dívida (Schuld), mas não responsabilidade (Haftung). Em sendo obrigação natural, os fiadores também não poderão ser cobrados pelo emprestimo afiançado, pois não terão responsabilidade. O fiador demandado poderá invocar a incapacidade do devedor, que é uma exceção pessoal do mutuário, para se livrar do cumprimento da obrigação afiançada. 
Excepcionalmente, o empréstimo é considerado obrigação civil e poderá ser objeto de cobrança por parte do mutuante. São a exceções contidas no art. 589 do CC:
1. A primeira ocorre quando o representante do menor ratifica o empréstimo realizado. A ratificação do representante convalida o negócio, afastando qualquer nulidade;
1. Da mesma forma, será obrigação civil o empréstimo contraído pelo menor que, ausente a pessoa que o representa, tomou dinheiro para seus alimentos habituais, ou seja, aqueles necessários à sua sobrevivencia, tais como alimentação ou morada;
1. O mútuo também poderá ser cobrado se tiver revertido em favor do incapaz que, por exemplo, pagou suas contas e de sua família, não desperdiçando o dinheiro com jogos e diversões. Há regra análoga na parte Geral do Código Civil, art. 181.
1. Se o menor tiver ganhos com seu trabalho, o mútuo poderá ser cobrado, independentemente da destinação que o menor deu ao dinheiro mutuado, pois, nessa hipótese, se o menor já trabalha, tem mais responsabilidades e capacidade de discernimento. A cobrança da dívida, nesse caso, não será ilimitada, pois não poderá ultrapassar o montante dos valores ganhos pelo menor (art. 589, III, CC). 
Importante ressaltar que no caso do menor entre 16 e 18 anos que já trabalha, ou que tem um estabelecimento civil ou comercial, considera-se emancipado se em razão destes tiver economia própria, ou seja, obtiver seu próprio sustento (art. 5, parágrafo único, V, CC). Nessa hipótese, sendo emancipado, estamos diante de pessoa maior e capaz e a obrigação contraída será exigível, por se tratar de obrigação civil.
Por fim, se o menor obteve o empréstimo maliciosamente, identificando-se como maior, apresentando carteira de identidade falsa, o empréstimo poderá ser cobrado pelo mutuante, sob pena de se chancelar a má-fé do mutuário. 
 
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