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Bilirrubina Prof. Msc. Iangla Araujo Síntese e degradação A bilirrubina é o principal produto do metabolismo do heme da hemoglobina. Cerca de 70% a 80% da bilirrubina são provenientes da destruição das hemácias velhas, 15% de fontes hepáticas e o restante é proveniente da destruição de hemácias defeituosas na medula óssea e nos citocromos Após 120 dias de vida média, os glóbulos vermelhos “envelhecem” pelo esgotamento das enzimas eritrocitárias. Sendo a hemácia, uma célula anucleada, ela não renova o seu estoque de enzimas e, portanto, o metabolismo da glicose diminui com redução na formação de ATP. Há, em consequência, modificação da membrana e o glóbulo vermelho é retirado pelos macrófagos do sistema retículo endotelial, baço, fígado e medula óssea, onde é destruído. Síntese e degradação Parte do ferro retorna ao plasma e se liga à transferrina. A globina é degradada em seus aminoácidos, componentes para posterior reutilização. O anel heme é aberto, produzindo ferro livre e biliverdina, que é reduzida à bilirrubina indireta (insolúvel em água) pela enzima biliverdina redutase. Bilirrubina O metabolismo da bilirrubina pode ser subdividido em captação, armazenamento, conjugação e secreção hepática. A bilirrubina não-conjugada ou bilirrubina indireta produzida no SRE é apolar, insolúvel e é transportada para o fígado via corrente circulatória ligada de maneira firme, mas reversível à albumina (bilirrubina livre). A bilirrubina livre, quando chega ao fígado, é recolhida pelos hepatócitos por meio de sistemas protéicos, transportadores de membrana (proteínas X e Y), num processo chamado captação. O complexo bilirrubina-proteína é então levado ao retículo endoplasmático, onde a enzima uridina difosfato glicuronil transferase (UDPGT) catalisa a rápida conjugação da bilirrubina (bilirrubina conjugada ou bilirrubina direta). O derivado conjugado, solúvel em água, é excretado do hepatócito na forma de bile e constitui um dos pigmentos biliares. Devido à solubilidade em água, a bilirrubina conjugada é encontrada em pequenas quantidades tanto no plasma como na urina. A bilirrubina conjugada é transportada como complexo lipídico-micelar até o duodeno através do ducto biliar principal, sendo desconjugada e reduzida no cólon por ação das glicuronidases bacterianas, formando os urobilinogênios. Os compostos são oxidados com formação de urobilinas e estercobilinas. Quase toda a bilirrubina formada diariamente no adulto normal (250 a 300 mg/d-35g de hemoglobina) é eliminada nas fezes enquanto uma pequena quantidade é excretada na urina. Teores elevados de bilirrubina na urina indicam a presença de hiperbilirrubinemia conjugada. Urobilinogênio na urina e fezes Após secreção no intestino delgado, os glicuronídeos da bilirrubina (bilirrubina conjugada) são hidrolisados pela ação da -glicuronidase hepática, das células epiteliais intestinais e das bactérias intestinais. A bilirrubina livre formada é então reduzida pela flora microbiana intestinal anaeróbica para produzir um grupo chamados de urobilinogênios que reúnem o estercobilinogênio, o mesobilinogênio e o urobilinogênio. Mais de 20% dos urobilinogênios são reabsorvidos diariamente do intestino e entram na circulação entero hepática. A maior parte dos urobilinogênios reabsorvidos e captados pelo fígado são reexcretados na bile; somente 2-5% atingem a circulação geral e aparecem na urina (1 a 4mg/d). No trato intestinal, os três urobilinogênios espontaneamente oxidam e produzem os pigmentos biliares correspondentes: estercobilina, mesobilina e urobilina que fornecem aparência marrom às fezes. Aumento nas concentrações do urobilinogênio na urina e nas fezes são encontradas nas condições onde ocorrem elevada formação e excreção da bilirrubina, por exemplo, icterícia hemolítica. Concentrações reduzidas são encontradas nas doenças hepáticas, obstruções intra-hepáticas ou extra-hepáticas. Como os valores de referência para o urobilinogênio urinário são de 0-4 mg/dL, teores diminuídos são impossíveis de serem detectados. Hiperbilirrubinemia A icterícia é a pigmentação amarela da pele, esclerótica e membranas mucosas, resultante do acúmulo de bilirrubina ou de seus conjugados. Torna-se evidente clinicamente quando as concentrações plasmáticas de bilirrubina total excedem 2,0-3,0 mg/dL, apesar de graus menores também terem significância clínica. A icterícia é o sinal mais precoce de uma serie de patologias hepáticas e biliares. Em estágio mais avançado, a urina, a lágrima e até o suor podem se apresentar amarelados devido ao acúmulo de bilirrubina conjugada A medida da bilirrubina plasmática fornece um índice quantitativo da severidade da icterícia. Quando acompanhada de outros testes, pode ser definida a causa da icterícia. A concentração sérica da bilirrubina representa um equilíbrio entre sua produção e sua excreção; os níveis podem estar elevados em consequência da maior produção de bilirrubina ou da deficiência na excreção hepática. A concentração é composta da fração conjugada (direta) e da não-conjugada (indireta). Vários estados patofisiológicos afetam uma ou mais fases envolvidas na produção, captação, armazenamento, metabolismo e excreção da bilirrubina. Dependendo da desordem, a bilirrubina conjugada e/ou a bilirrubina não-conjugada, são responsáveis pela hiperbilirrubinemia. Hiperbilirrubinemia predominantemente não-conjugada (indireta). A icterícia pré-hepática resulta da presença excessiva de bilirrubina não-conjugada no sangue circulante, provocando maior oferta ao hepatócito que não consegue captá-la em velocidade compatível com sua produção, ocasionando icterícia. A bilirrubina não-conjugada não é hidrossolúvel e está ligada à albumina não conseguindo ultrapassar a barreira renal e, portanto, não é excretada na urina. Entretanto, dissolve-se rapidamente em ambientes ricos em lipídeos e atravessa a barreira hematoencefálica. Quando em níveis elevados tende a depositar no tecido nervoso levando ao risco de lesão neurológica denominada kernicterus. As principais causas são: Icterícia fisiológica do recém-nascido: Como existe pouca ou nenhuma atividade da UDPGT no fígado do feto, há uma habilidade muita limitada para a conjugação da bilirrubina. Por isso, a bilirrubina isolada é transferida através da placenta à circulação materna onde é processada pelo fígado da mãe. Em crianças nascidas a termo as concentrações de bilirrubina no soro estão ao redor de 4-6 mg/dL durante as primeiras 48h de vida extra-uterina, voltando, espontaneamente, ao normal em 7-10 dias. A incidência da hiperbilirrubinemia é muito maior entre prematuros e neonatos de baixo peso corporal. Crianças nascidas prematuramente atingem uma concentração média de bilirrubina no soro entre 10-12 mg/dL, entre 5 e 6 dias de vida. As causas da hiperbilirrubinemia neonatal são: (a) produção excessiva de bilirrubina, (b) transporte insuficiente de bilirrubina; (c) formação deficiente de bilirrubina, (d) acoplamento inapropriado de bilirrubina. A hiperbilirrubinemia é comumente encontrada em neonatos podendo ser considerada, na maioria dos casos, fisiológica. Contudo, a bilirrubina pode ser tóxica ao sistema nervoso central, merecendo cuidados, pois existe possibilidade de sua origem ser patológica. Os critérios para a definição da icterícia patológica no recém nascido são: Aumento nos níveis de bilirrubina sérica a taxas de >5 mg/dL por dia. Bilirrubina sérica excedendo 12,9 mg/dL em bebês nascidos a termo. Bilirrubina sérica excedendo 15 mg/dL em bebês nascidos prematuramente; Valores da bilirrubina direta excedendo 1,5 mg/dL a qualquer momento; Persistência da icterícia após o décimo dia de vida em nascimentos a termo; Persistência da icterícia após duas semanas de vida em prematuros. Icterícia hemolítica: Destruição excessiva de hemácias circulantes. Pode ser devida à exposição a produtos químicos, reações hemolíticas antígeno-anticorpo, tumores e fármacos; Síndrome de Crigler-Najjar: É uma desordem hereditária autossômica recessiva rara causada pela deficiência total (tipo I, muito raro) ou parcial (tipo II) da enzima UDP-glicoroniltransferase. Síndrome de Gilbert: É uma condição hereditária relativamente comum (afeta até 7% da população), caracterizada pela redução em 20-50% da atividade da UDP-glicuroniltransferase ou por defeitos do transporte de membrana. Hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada (direta). Indica um comprometimento na captação, no armazenamento ou na excreção da bilirrubina. Assim, tanto a bilirrubina conjugada como a não-conjugada são retidas, aparecendo em variadas concentrações no soro. Disfunção hepatocelular aguda ou crônica: Infecção: Hepatite viral A-E, hepatite por citomegalovírus (CMV), hepatite por vírus Epstein-Barr ... Inflamação sem infecção: Lesão hepatocelular tóxica, toxicidade por fármacos. Disfunção metabólica: Isquemia (choque hepático), fígado gorduroso agudo da gravidez, deficiência de -1 antitripsina, pré-eclâmpsia... Síndromes colestáticas hereditárias: Dubin-Johnson, Rotor (desordens hereditárias raras caracterizadas por deficiência na excreção da bilirrubina conjugada pela célula hepática para os capilares biliares), colestase recorrente benigna e icterícia intermitente da gravidez. Doenças que interferem no fluxo biliar para o intestino: Colestases intra-hepáticas: Cirrose biliar primária, colelitíase, carcinoma dos ductos biliares, desordens dos ductos biliares. Obstrução extra-hepática: Atresia biliar, colelitíase, carcinoma dos ductos biliares, pancreatite e compressão externa do ducto comum. Laboratório na icterícia Os testes laboratoriais apropriados dependem da historia clínica e do exame físico realizado no paciente. Em geral, os exames iniciais de avaliação são: Eritrograma: para a pesquisa de hemólise. Transaminases (aminotransferases): TGO e TGP. Fosfatase alcalina: quando elevada avaliar também a gama-glutamil transpeptidase (-GT) para diferenciar as fontes de aumento da fosfatase alcalina. Exames sorológicos: HbsAg (Antígeno de superfície do vírus B da hepatite); Anti-HBc (Anticorpos contra o antígeno core do vírus B da hepatite); Anti-HVC (Anticorpos contra o vírus C da hepatite); Fracionamento da bilirrubina: Forma de distinção entre bilirrubina conjugada da não-conjugada. VALORES DE REFERÊNCIA 1- Adultos, adolescentes e crianças Bilirrubina Total: até 1,2 mg/dL Bilirrubina Direta até 0,4 mg/dL 2- Recém-nascidos Bilirrubina Direta: até 0,4 mg/dL 3- Recém-nascidos Bilirrubina Total 1 dia: até 5,1 mg/dL 1 a 2 dias: até 7,2 mg/dL 3 a 5 dias: até 10,3 mg/dL Resumo A icterícia torna-se evidente quando as concentrações de bilirrubina sérica sobem acima de 2,5 a 3,0 mg/dL, ocorrendo quando o equilíbrio entre a produção e a remoção é perturbado por um ou mais dos seguintes mecanismos: Produção excessiva de bilirrubinas: pode ocorrer nas anemias hemolíticas, reabsorção de sangue de hemorragias internas e nas síndromes de eritropoese ineficaz. Captação reduzida pelo hepatócito: nas interferências de drogas com sistemas de transportes na membrana e alguns casos na síndrome de Gilbert. Conjugação prejudicada: aparece nas icterícias fisiológicas do recém-nascido, nas deficiências genéticas da atividade de UGT1A1 (síndrome de Crigler-Najjar I e II, síndrome de Gilbert) e na doença hepacelular difusa Hiperbilirrubinemia não conjugada Excreção hepatocelular reduzida: pode ocorrer na deficiência de transportadores na membrana canalicular (síndrome de Dubin-Johnson); fluxo biliar prejudicado: nas colestases Hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada. Obrigada
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