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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE DIREITO INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO II EXERCÍCIOS BASEADOS NO LIVRO DIE GEISTESGESCHICHLICHE LAGE DES HEUTIGEN PARLAMENTARISMUS - SOBRE EL PARLAMENTARISMO 1- Explique porque Schmitt diferencia Democracia de Liberalismo(Parlamentarismo). Em meio a crise política e institucional da Weimarer Republik , Carl Schmitt publica 1 a sua obra intitulada “Politische Romantik” , no qual o liberalismo é a expressão do 2 romantismo na esfera política. Desta forma, o indivíduo liberal vislumbra na política a oportunidade de manifestar o seu juízo subjetivo, com debates intermináveis, sem assumir a responsabilidade pela resolução eficaz de tais conflitos. Assim, o liberalismo baseia-se na heterogeneidade social que, por sua vez, divide-se em classes ou grupos com interesses distintos, proporcionando, desta feita, um conflito de interesses. Consequentemente, a representação política parlamentar assenta-se na pluralidade de interesses e na tensão política, não conseguindo, desta maneira, expressar a vontade da nação: “es preciso separar ambos, democracia y parlamentarismo, a fin de comprender la heterongénea contrucción que consitue a la moderna democracia de massas”. Dessa maneira, Schmitt se baseia em uma forma política constituída de uma determinada unificação política de um Estado, na qual, visa uma sociedade homogênea e não na liberdade. Desta feita, só será possível uma democracia representativa quando a nação for homogênea, isto é, quando se há um interesse em comum. Assim, a democracia não é conciliável com o 'pluralismo', mas apenas com homogeneidade. Quando a própria sociedade é 'plural', a única maneira de viabilizar a democracia reside na negação de 'pluralidade', destruindo-a ou silenciando-a, ou seja, excluindo a representação. Com efeito a democracia parece ser um princípio ideológico e abstrato de modalidades específicas de poder. Numa democracia entende-se que o povo tem que existir e ser 1 A República de Weimar foi uma forma de governo estabelecida na Alemanha logo após a Primeira Grande Guerra, na qual tinha como sistema de governo a Democracia Parlamentar. 2 Romantismo político - Obra pela qual Schmitt interpreta o Parlamentarisches Regierungssystem (Governo Parlamentarista) como um conceito estético, no qual torna-se um conceito da vida humana. Nesta obra, o autor analisa e critica os efeitos desta expansão do estético sobre a ação política. suposto como unidade se há de ser sujeito de um Poder Constituinte. Em assim sendo, a democracia é uma forma política estruturada no princípio da identidade, pressupondo uma igualdade substancial na qual unifique um determinado povo, sobrepondo-se a igualdade universal, que tem como critério simplesmente a humanidade, isto é, a simples ‘forma humana’ não podendo consistir num critério para considerar um indivíduo como membro de um corpo político, visto que toda igualdade recebe sua significação e sentido mediante o correlato de uma possível desigualdade. A igualdade democrática precisa caracterizar de tal forma um determinado povo, que o direcione sempre para o interior e não para o exterior, ou seja, trata-se de uma igualdade que tende a excluir, afastar e tratar de forma diferente tudo aquilo que não é igual. 2- Explicite as características do conceito de Democracia de Massas, exposto no texto, distinguindo-o do conceito de Democracia Representativa. Conceituando ainda a democracia, Schmitt vislumbra dois princípios político-formais, sobre os quais se fundamentam todas as autênticas formas políticas, a saber: identidade e representação. No que diz respeito ao princípio da identidade, Carl Schmitt salienta que essa forma política tem como pilar a existência de um povo com a capacidade de atuação política em sua realidade imediata, pressupondo que o povo seja uma unidade política com uma magnitude real imediatamente existente. Em relação ao princípio da representação, o autor parte da ideia de que a unidade política do povo nunca pode se achar presente em uma identidade real e, por conta disso, tem que estar representada pessoalmente por homens. Com efeito, “la igualdad de todas las personas em su calidad de tales no es uma democracia, sino um determinado tipo de liberalismo; no es uma forma de estado, sino uma moral y uma concepción del mundo individualista-humanitaria. En la oscura unión de ambos esta fundada la moderna democracia de massas”. Portanto a democracia de massas é um Estado de concepções liberais e individualistas, que conquista o povo através da propaganda, estando esta apelando para as paixões e emoções do povo. Além do mais, Schmitt afirma que a democracia de massas tornou a discussão pública em mera formalidade vazia. Com relação à democracia representativa, o texto a caracteriza como uma forma de governo, no qual não há espaço nem tempo para que todos exerçam a vida política, então é escolhido um líder, para representar o povo e governar por ele, na medida em que esse líder é aclamado pelo povo e visto por esse como um igual, através de uma identidade orgânica, emocional e, em alguns casos irracional. Vale ressaltar que a legitimidade desse líder vem da identificação do povo com ele, uma vez que essa acabe ou enfraqueça o líder não pode mais ser líder. Além do mais, Carl Schmitt arguia que a democracia é um regime político originário da Antiga Grécia e que, na sua essência, configura-se justamente como o regime no qual vivencia a identidade entre governante e governado. Já o governo representativo, ao contrário, é uma invenção burguesa, mais recente, que encontra suas origens nas assembleias medievais das castas, os denominados Estados Gerais. 3- Segundo Schmitt quais são os problemas envoltos nos conceitos: Discussão, Publicidade, Separação de Poderes e Legislação. Vale ressaltar que Schmitt tinha uma perspectiva em relação aos princípios de discussão, publicidade, separação de poderes e legislação, a saber: Publicidade, neste tocante, o autor versa sobre o que pertence ao povo ou ao Estado, quanto o que está aberto ao escrutínio da sociedade, isto é, que a publicidade e a fé que se coloca nas informações publicadas apresentam um forte poder, na medida em que informações negativas a um governo, por exemplo, pode fazer com que esse se desfaça, e por outro lado, a veiculação de informações positivas a um governo, ou a um governador, pode legitimar e perpetuar essa forma de organização; Em relação ao principio da Discussão, trata sobre as transparências das discussões no Parlamento, ou seja, discussão publica de argumentos e contra argumentos, os debates e conversações públicas e a parlamentação. Discussão é a oposição continua entre opiniões que busca, se levada a sério, encontrar o certo e o verdadeiro, estando as partes prontas para convencer o outro do verdadeiro e certo e para serem convencidas do mesmo. No entanto, o autor afirma que se não levadas a sério as discussões acabampor se tornar cálculos de ganhos e perdas entre poderosos grupos econômicos e sociais, que deixam de lado a busca pelo certo e verdadeiro para negociar seus próprios interesses; No que diz respeito a Separação de Poderes, atenta para a definição de poderes e sua busca pela manutenção do equilíbrio, tendo em vista que uma concentração de poderes seria demasiadamente perigosa (pode transformar o governante em um tirano). Além disso, o autor também faz comentários sobre o conceito que liga separação de poderes à Constituição; No que confere a Legislação, explora a definição de lei enquanto ordem geral a ser aplicada em casos particulares. Além disso atribui à representação do povo, o parlamento, a competência de fazer as leis, através do processo de argumentação e contra argumentação. E ainda explora o dilema sobre a opção de se abrir exceções nas leis. 4- Como Carl Schmitt explica a relação entre desenvolvimento histórico, socialismo científico, racionalismo e ditadura no pensamento marxista? Historicamente a consciência do caráter científico fomenta-se em 1848, quando o socialismo conquista uma dimensão política, na qual se esperava a implementação de suas ideologias. Desta feita, o socialismo sairia da condição de utopia à ciência, prescindindo, desta forma, a ditadura. Tal sintoma, significativo desde a Segunda Guerra Mundial, promoveu alguns socialistas radicais, como também, alguns anarquistas, resgatando o valor necessário para estabelecer uma ditadura ao socialismo. No entanto, eles não demonstravam que o socialismo científico não é dado a possibilidade de uma ditadura. Não compreendiam que a ciência não se limita as características científicas de meras ciências naturais, isto é, que tais argumentos não fundamentam nenhuma ditadura, nem a qualquer instituição política ou o governo político. Assim, socialismo científico significa apenas algo negativo, a rejeição da utopia. A única coisa que se pode afirmar é que ele está preparado para intervir na realidade política e social. Em assim sendo, o marxismo está consciente da compreensão adequada do social, econômico e da vida política, como também, da prática adequada, resultando a partir daí, na compreensão da vida social, desde a sua imanência em todas as suas reais necessidades. Mesmo com suscetíveis preconceitos intelectuais marxista, está viva a consciência da particularidade da evolução histórica, em que o seu caráter científico não pode ser comparado com várias tentativas para transferir seu método e o rigor das ciências naturais aos problemas de filosofia social e política. Embora alguns marxistas gostam de escrever sobre a precisão científica inerente ao seu modo de pensar, a 'necessidade de ferro' de acordo com a que devem ocorrer os fatos, em virtude de leis historicamente materialistas, sendo refutado por muitos filósofos burgueses, na qual expuseram repetidamente que não é possível determinar os fatos históricos, como a astronomia determina o curso das estrelas. Mas o racionalismo das concepções marxista abriga ainda um outro papel importante no conceito de ditadura. Não se esgota o carácter científico que pretende alcançar um método por meio de uma cosmovisão altamente determinístico, usando as leis naturais em favor de seres humanos, quase da mesma forma em que é ligado a uma certa técnica a qualquer ciência natural exata. Se há a construção de um caráter científico do socialismo, há um o salto à tecnologia. Assim, o racionalismo não seria mais tratado como os métodos que surgiram desde o século XVIII, por alcançar uma política equipada com precisão física e matematica, com a diferença que teria abandonado o moralismo e o forte nível teórico que ainda prevaleceu no século XVIII. O resultado deve ser, como no caso de qualquer racionalismo, uma ditadura de racionalistas de líderes. 5 - Na sua crítica as teorias racionalistas Schmitt escreve e avalia os problemas da obra de Georges Sorel. Quais são os argumentos que Schmitt levanta para afastar a Teoria dos Mitos? No entender de Carl Schmitt, Georges Sorel salienta que a força do mito se baseia no heroísmo, de qualquer atividade história mundial. Aludindo, ainda, a concepção da glória e a fama dos gregos; a crença na virtú e a liberdade revolucionária durante a revolução francesa; bem como, o nacionalismo entusiasmado alemão das guerras de libertação de 1813. Desta Feita, só mesmo no mito que se encontra o critério de um grupo social ter uma missão histórica. Com efeito, a partir dessa profundidade vital real de instintos - não havendo raciocínio ou reflexão sobre a oportunidade - surge o grande entusiasmo, a grande decisão moral e, assim, o grande mito. Desta feita, a massa se anima criando imagens míticas na qual empurram o seu poder para a frente, dando a ambos a força para o martírio do uso da violência. Assim, só um povo ou uma classe torna-se o motor da história mundial. Quando este está ausente, qualquer dispositivo mecânico pode levantar uma barreira quando ele aciona uma nova corrente histórica. Depois disso, tudo depende de saber como reconhecer exatamente onde hoje vive esse recurso para o mito e essa força vital. Certamente não se encontra na burguesia hodierna, diz Schmitt fazendo referência a Sorel, esse degenerado de classe social, pelo medo de perder dinheiro e bens, moralmente abalados pelo ceticismo, relativismo, como também, pelo parlamentarismo. Como consequência disso, continua Schmitt, a forma de governo dessa classe - democracia liberal - é uma 'plutocracia demagógica'. Quem é o portador do grande mito de hoje? Visando responder a essa pergunta, Carl Schmitt diz que Georges Sorel tenta demonstrar que só com um socialismo de massas do proletariado industrial têm um mito, e isso é a greve geral em que eles acreditam. É em parte irrelevante, o que significa realmente hoje é uma regra geral. O que importa é que ideias associados a ele, o proletariado, para que ações e sacrifícios traz entusiasmo e se ela é capaz de criar uma nova moralidade. A Fé em greve geral e o cataclismo tremendo de toda a vida econômica e social por ela gerados pertence, portanto, a vida do socialismo. Ele emana das massas, da experiência direta da vida do proletariado industrial. Não é uma invenção de intelectuais e escritores, não é uma utopia; porque também a utopia é o produto de uma mente racionalista, de acordo com um esquema mecânico.
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