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VALVOPATIAS MSc Sóstynis Albuquerque FISIOPATOLOGIA CLÍNICA APLICADA Á CARDIOLOGIA E VASCULAR Valvopatias • Valvopatia é uma doença na qual uma ou mais válvulas cardíacas não funcionam adequadamente; • As válvulas fazem com que o sangue flua na direção correta através das quatro câmaras cardíacas e para o resto do corpo. Epidemiologia • No Brasil, a doença valvar representa uma significativa parcela das internações por doença cardiovascular; • Diferentemente de países mais desenvolvidos, a febre reumática é a principal etiologia das valvopatias no território brasileiro, responsável por até 70% dos casos; • A valvopatia mitral reumática mais comum é a dupla disfunção não balanceada (insuficiência e estenose em diferentes estágios de evolução); • Caracteristicamente, a insuficiência mitral (IM) corresponde à lesão aguda, enquanto a estenose, às lesões crônicas. Valvopatias • Podem-se considerar três alterações valvares: • Obstrução ao fluxo anterógrado (estenose); • Incompetência na manutenção do fluxo anterógrado (insuficiência); • Associação das duas disfunções. Estruturas valvares • Estruturas que tornam possível a abertura e fechamento dos canais de comunicação entre as câmaras e as grandes artérias do coração; • Formadas por: • Anel fibroso: sustentação às cúspides; • Cúspides: membranas de tecido conjuntivo, ligadas ao anel fibroso e às demais cúspides (conjunto de cúspides: valva); • Cordas tendíneas: filamentos de tecido conjuntivo que prendem as cúspides aos músculos papilares; • Músculos papilares: evitam a inversão das cúspides durante a sístole. Estruturas valvares Tipos de valvopatias • A existência de lesões em qualquer válvula pode provocar dois tipos de alterações do fluxo sanguíneo no interior do coração e nos grandes vasos: • Estenose: impede a abertura de uma válvula; o sangue tende a acumular-se na câmara que a antecede, provocando espessamento do tecido muscular; • Insuficiência: não permite o encerramento valvular normal; o sangue que passou para a cavidade cardíaca ou segmento arterial posterior à válvula tende a retroceder, provocando acúmulo de sangue, o que origina sua dilatação. Causas • Febre reumática; • Cardiopatias congênitas; • Endocardites; • Miocardiopatias. Quadro clínico • Dispneia; • Tosse; • Sibilo; • Fadiga; • Náuseas; • Palpitações; • Edemas de MMII; • Degradação do estado geral; • Edema agudo de pulmão; • Hemoptise; • Embolia sistêmica; • Endocardite infecciosa; • Fadiga; • Ascite; • Sensação de batimento no pescoço. Estenose • Impedimento da adequada abertura da válvula, devido à alguma lesão; • O sangue fica propenso a acumular-se na câmara cardíaca anterior à cavidade em questão; • Leva à hipertrofia da parede desta, na tentativa de aumentar sua potência e vencer a estenose. Reabilitação nas valvopatias • Os pacientes que necessitam de reparo ou de troca valvar comumente se encontram em classe funcional III ou IV da NYHA, apresentando considerável redução da capacidade funcional; • Nesses pacientes, as características hemodinâmicas e os sintomas referidos apresenta semelhança com às dos portadores de insuficiência cardíaca; • Após os 6 primeiros meses de cirurgia valvar de sucesso, observa-se melhora na classe funcional e parâmetros hemodinâmicos, os quais tendem a evoluir até 12 meses após a cirurgia; • O exercício físico constitui um estresse fisiológico em razão do aumento da demanda energética, o que provoca grande liberação de calor e intensa modificação do ambiente químico muscular e sistêmico. Mecanismos compensatórios • Os mecanismos de dilatação e hipertrofia da musculatura cardíaca geralmente compensam os problemas presentes na circulação sanguínea gerados pelas lesões vasculares menos graves; • Todavia, quando se tratar de lesões valvulares severas, esses mecanismos compensatórios não são eficazes. Estenose mitral • Estenose mitral: • Mais prevalente; Obstrução do enchimento ventricular; • Aumento da pressão do AE; Hipertensão pulmonar; Congestão pulmonar; • DC subnormal ao repouso e insuficiente ao esforço; Estenose aórtica • Valvopatia de evolução progressiva, necessitando de frequentes reavaliações; Insuficiência aórtica Insuficiência tricúspide Fisiopatologia • 1) Resposta imunológica; • 2) Destruição de colágeno; • 3) Proliferação de fibroblastos (célula constituinte do tecido conjuntivo); • 4) Reposição de colágeno (estenose) ou de elastina (insuficiência); • 5) Espessamento do anel fibroso (estenose) ou degeneração fibrinoide (insuficiência). Prolapso da válvula mitral • As atividades físicas de baixa intensidade estão indicadas a indivíduos com: • Prolapso da válvula mitral; • História familiar de morte súbita associada à síncope por arritmia; • Formas repetitivas de taquicardia supraventricular; • Arritmias ventriculares complexas; • Insuficiência mitral moderada ou severa; • Episódio embólico prévio. Tratamento • Medicamentoso: • Redutores de pós carga (antihipertensivos e diuréticos); • Drogas inotrópicas, cardiotônicos e digitálicos; • Cirúrgico: • Comissurotomia e papilarotomia: aumento da área em estenoses; • Anuloplastia e cateter balão: diminuição da área em insuficiências; • Substituição da valva por prótese metálica ou biológica. Febre Reumática • Juntamente com a Cardiopatia Reumática Crônica, são complicações não supurativas da faringoamigdalite causada pelo Estreptococos Beta-Hemolítico do Grupo A e decorrem de resposta imune tardia a esta infecção em populações geneticamente predispostas Diretrizes Brasileiras para o diagnóstico, Tratamento e Prevenção da febre Reumática - 2009 Febre Reumática • É uma complicação tardia, não supurativa de estreptococcia pelos germes do grupo A de Lancefield (Estreptococo B-hemolítico) possivelmente surgido em indivíduos que se comportam como portadores de hipersensibilidade a produtos liberados pelas bactérias. Febre Reumática • Complicação porque não decorre diretamente das estreptococcitas como manifestação habitual • Tardia só se apresenta 3 semanas após a infecção inicial • Não supurativa porque não se exterioriza pela reação tipo purulenta Outro conceito Doença auto-imune decorrente da reação imunitária anormal contra antígenos do estreptococo, surgida após infecção da orofaringe, desencadeadas pelas cepas reumatogênicas do Estreptococo B-hemolítico do grupo A de Lancefield em indivíduos geneticamente predispostos Febre Reumática Epidemiologia • Idêntica à das infecções das vias respiratórias superiores por estreptococos do grupo A: • Mais freqüente em crianças (5 – 15 anos) • Adultos – final da 2ª a início da 3ª década de vida • Fatores de risco epidemiológico: • Baixo padrão socioeconômico • Aglomerações • Faringite por estreptococo do grupo A • Sorotipos 1, 3, 5, 6 e 18 (mais associadas à FR) Febre Reumática Patogenia • A FR está associada à infecção, pelo estreptococo β- hemolítico do grupo A, de vias aéreas superiores (não de pele) • Mecanismo patogênico obscuro • 03 hipóteses: • Infecção direta pelo estreptococodo grupo A • Efeito tóxico de produtos extracelulares da bactéria • Resposta imune anormal Febre Reumática Patogenia Hipótese mais aceita: • Resposta imune anormal ou disfuncional. • Produção de anticorpos contra a proteína M de certas cepas estreptocócicas, os quais exibem reação cruzada com glicoproteínas teciduais no coração, articulações e outros tecidos. • Reforça esta hipótese: • Período de latência entre infecção e início dos sintomas de FR de 1 a 3 semanas. História Natural da Doença Reumatismal IVAS streptococo B-hemolítico 5 – 15 anos 3:1000 FR 1/3 CRC IVAS • Temperatura 38ºC, início recente e súbito • Adenopatia • Dor de garganta • Hiperemia da faringe • Presença de exudato • Petéquias no pálato • Escoriações nas bordas das narinas • Duvidoso conjuntivite, coriza, rouquidão, tosse BACTÉRIA -- cápsula -- parede celular -- membrana protoplasmática Cápsula rica em HIALURONIDASE 3 camadas externa – média – interna EXTERNA: proteínas antigênicas M-T-R MÉDIA: especificidade dos grupos A até O INTERNA: morfologia da bactéria A Proteína M é altamente antigênica!! M 1-3-5-6-14-18-19-24-27-29 FISIOPATOLOGIA • Lesão inflamatória exsudativa tecido conjuntivo – coração – articulações – tec. Subcutâneo • Coração – Pancardite (pericardite em pão/manteiga) Miocárdio Lesões perivasculares – NódulosAschoff Miócitos de Anitschkow (células multinucleadas olho de coruja) • Valvas – mitral, aórtica, tricúspide, raro na pulmonar • Artrite – derrame estéril • SNC • Pneumonite - raro Febre Reumática Diagnóstico • Diagnóstico ainda se baseia em um grupo de critérios: Critérios de Jones • De acordo com a última revisão, realizada em 1992 pela American Heart Association (AHA), ter-se-á alta probabilidade de febre reumática quando: Evidência de infecção prévia pelo Streptococcus β-hemolítico do grupo A associada a: • 2 critérios maiores ou • 1 critério maior e 2 menores. Critérios de Jones (Atualizados em 1992 – AHA) Critérios Maiores Critérios Menores Cardite Poliartrite Migratória Coréia de Sydenham Nódulos Subcutâneos Eritema Marginado Febre Artralgia VHS ou PCR elevados PR prolongado no ECG Mais: Evidências de infecção recente por estreptococos do grupo A (cultura positiva de faringe, teste rápido de detecção de antígenos ou título de anticorpos antiestreptocócicos elevado ou crescente. Exceção: Coréia isolada, de etiologia não definida. (diagnóstico de febre reumática independe de outros achados) Febre Reumática Manifestações Clínicas • Cardite (40 a 60%) • Pancardite (pericárdio, miocárdio e endocárdio) • Varia de leve a intensa • Mais grave e a única que pode deixar sequelas • Sinais de cardite: Taquicardia sinusal Arritmias (Bloqueio AV de 1ºgrau e até 3º grau) Sopro de Regurgitação Mitral B3 com galope Atrito pericárdico Cardiomegalia Sinais de ICC Febre Reumática Manifestações Clínicas • Cardite • Valvulite reumática: • Cicatrização pode causar espessamento fibroso e aderência resultando em estenose e/ou insuficiência valvares • Valva Mitral é a mais acometida • Valva Aórtica (simultaneamente à Mitral) • Valvas Tricúspide e Pulmonar raramente são acometidas. • Mesmo pequenos graus de comprometimento valvar predispõe à endocardite infecciosa Febre Reumática Diagnóstico Laboratorial • Cultura de orofaringe • VHS • PCR • Leucocitose e leve anemia • Antiestreptolisina-O (ASLO) = pico 3 – 6 sem. • Crianças: elevadas quando > 320 U Todd • Antidesoxirribonuclease B (ADB) = pico 6 – 8 sem. Inespecíficos Febre Reumática Diagnóstico • ECG • Intervalo PR prolongado • Bloqueio AV de 1º, 2º ou 3º grau • Raio X de tórax • Nenhum achado específico • Cardiomegalia é comum • EcoDopplerCardiograma • detectar lesões cardíacas valvulares na fase aguda da doença (mais sensível ) • Solicitar em todos casos suspeitos de FR => detectar lesões valvulares “silenciosas” Febre Reumática Diagnóstico Diferencial • Artrite Reumatóide infantil • Doenças do tecido conjuntivo • Endocardite infecciosa • Doença de Lyme (exantema ) Febre Reumática Tratamento • Primeira conduta: Erradicação do Streptococcus β-hemolítico do grupo A: • Penicilina G benzatina, IM • 1.200.000 U, crianças com peso > 20 kg; • 600.000 U, crianças com peso até 20 kg. Febre Reumática Tratamento • Aternativas: • Doenças Hemorrágicas: não usar IM • Penicilina-V oral (50mg/kg/dia, 6/6 h) por 10 dias ou • Amoxicilina VO (50mg/kg/dia, 8/8 h), por 10 dias. • Alergia à Penicilina e derivados: • Eritromicina (40mg/kg/dia, 6/6 h, por 10 dias). • Macrolídeos (azitromicina, VO, por cinco dias) e cefalosporinas orais (por 10 dias) também podem ser utilizados (custo muito maior). • Não usar: • Tetraciclinas (alta prevalência de resistência); • Sulfonamidas (não erradicam o agente); • Cloranfenicol (alta toxicidade). Febre Reumática Tratamento das Manifestações • Cardite: • Prednisona, 1 a 2,5 mg/kg/dia (máx. 60mg/dia) VO, Dose plena, fracionada , 2 ou 3 tomadas diárias, durante 15 dias; depois, reduzir 20% a 25% da dose, por semana. • Obs: • Caso de artrite e cardite concomitantes, não é necessário o uso de AINEs; • durante redução gradual da prednisona, não é necessário introduzir AINE, desde que redução semanal não ultrapasse 25%.
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