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Obsolescencia programada e discussão no tribunal superior

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Aluno igor LuizLeoncio da Silva Miranda.
Obsolescência programada (ou planejada) significa reduzir a vida útil de um produto para aumentar o consumo de versões mais recentes. Planejar o envelhecimento de um produto é uma ação praticada deliberadamente por diversos setores da indústria.
Funciona da seguinte forma: o produto é desenvolvido para durar apenas um período programado pelo seu fabricante. Com esta prática, o consumidor já compra um produto que tem validade mais curta do que deveria. O próximo passo é não funcionar adequadamente após o limite estabelecido pela fábrica ou parar de funcionar.
Essa estratégia aplicada pelas empresas estimula o consumismo através do forte apelo do Marketing que induz à compra de modelos modernos e atrativos, e não ao conserto do produto. Em alguns casos, o conserto se torna propositadamente mais caro para que o cliente não tenha alternativa.
Os equipamentos eletrônicos são campeões da prática de obsolescência programada. Por exemplo, os computadores pessoais. Após determinado período começam a ficar extremamente lentos e já não funcionam como era esperado ou se tornam obsoletos.
A obsolescência programada é uma técnica utilizada por fabricantes. Ela consiste em produzir itens já estabelecendo o término da vida útil deles. Esse conceito surgiu entre 1929 e 1930, tendo como pano de fundo a Grande Depressão, e visava incentivar um modelo de mercado baseado na produção em série e no consumo, a fim de recuperar a economia dos países naquele período - algo parecido ao que ocorre atualmente, em que o crédito é facilitado e os governantes incentivam o consumo. Um caso emblemático dessa prática foi o Cartel Phoebus, que, sediado em Genebra, teve a participação das principais fabricantes de lâmpadas da Europa e dos Estados Unidos, que propuseram a redução de custos e da expectativa de vida das lâmpadas de 2,5 mil horas para mil horas.
Algumas vozes, contudo, vêm surgindo e alertando sobre essa prática. Um exemplo é o empresário espanhol Benito Muros, fundador da empresa OEP Electrics e do movimento Sem Obsolescência Programada (SOP). O movimento SOP, diz Muros, tem três objetivos: “Difundir o que é a obsolescência programada e como isso nos afeta; tentar colocar no mercado mais produtos com duração mais longa, a fim de forçar a competição; e tentar unir todos os movimentos sociais para tentar mudar o modelo econômico atual”. Ele diz ser possível comprar produtos que tenham vida útil prolongada e cita o exemplo da lâmpada que brilha na sede de bombeiros de Livermore, na Califórnia, há mais de 100 anos.
Conforme Muros, geralmente os fabricantes planejam um produto já antevendo o fim de seu funcionamento, obrigando, assim, o consumidor a comprar outro ou consertá-lo. O caso da primeira geração do iPod ilustra esse problema. Casey Neistat, um artista de Nova York, pagou US$ 500 por um iPod cuja bateria parou de funcionar 18 meses depois. Ele reclamou. A resposta da Apple foi: “vale mais a pena comprar um iPod novo”. O caso virou uma ação de rua, com vários cartazes publicitários da Apple pichados, como mostra o vídeo "iPod’s Dirty Secret". Depois de toda a repercussão negativa desse caso, a Apple fez um acordo com os consumidores. Elaborou um programa de substituição das baterias e estendeu a garantia dos iPods por US$ 59.
Hábitos como este não trazem prejuízos apenas ao estilo de consumo. O impacto ambiental é diretamente afetado, já que em 2014 foram registrados 400 partes por milhão (PPM) de partículas de CO2 na atmosfera terrestre, maior nível já registrado na história. O questionamento gira em torno de haver tecnologia suficiente para produzirmos bens duráveis para uma vida toda, e a questão esbarra em interesses comerciais. Então, como fazer para aliar progresso e necessidade ao consumo? Este será o desafio não do século, mas do milênio, e espero estar vivo para presenciá-lo.
Poucos precedentes
Apesar da importância do assunto, há pouquíssimos precedentes judiciais sobre obsolescência programada. A razão disso é a dificuldade de comprovar a prática, avalia Salomão: “É uma questão muito delicada de identificar no caso concreto. A obsolescência programada depende de prova pericial e de uma série de requisitos para sua caracterização. Também não há muita literatura sobre o assunto”.
Uma das únicas decisões sobre o tema foi do STJ, de relatoria do próprio Salomão (REsp 984.106). No caso, uma fabricante de tratores cobrava o comprador de um veículo desse tipo por reparos do bem, uma vez que a garantia já tinha expirado. Porém, ele contestou a cobrança, afirmando que o defeito da máquina não decorria de desgaste natural ou mau uso, mas que era um defeito de projeto proposital, tratando-se de vício oculto.
Em sua decisão, o ministro entendeu que, em caso de vício oculto relativo ao projeto do item, o prazo para reclamar reparação se inicia no momento em que ficar evidenciado o defeito, mesmo que a garantia já tenha terminado.
Salomão ainda afirmou na decisão que “a venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se esperava, além de configurar um defeito de adequação (artigo 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam de consumo, sejam de direito comum”.
Com isso, ele votou pelo desprovimento do recurso da fabricante de tratores, e foi seguido pelos seus colegas da 4ª Turma do STJ.
Leia abaixo as propostas de Salomão para reformar o CDC:
- Inclusão de dispositivo que preveja expressamente a abusividade da obsolescência programada;
- Inclusão de dispositivo que preveja expressamente que a responsabilidade do fornecedor de bens duráveis deve observar o critério da vida útil do produto, e não o da garantia contratual;
- Inclusão de dispositivo referente à obrigação de os fornecedores indicarem nos próprios produtos a vida útil ou o número de utilizações previstas;
- Como medida socioambiental, a partir da ideia de um consumo ecologicamente equilibrado, inclusão de dispositivo que impunha aos fornecedores de produtos maléficos ao meio ambiente a obrigação de coleta de equipamentos obsoletos;
- Regulamentação legal ou infralegal acerca da aplicação de multas administrativas a empresas que comprovadamente praticarem a obsolescência programada em suas diversas formas;
- Certificação por órgão oficial (Inmetro, Secretaria de Direito Econômico/Ministério da Justiça e órgãos ambientais) de empresas comprometidas em combater a obsolescência programada (uma espécie de certificado anti-obsolescência, como o que ocorre com a ISO);
- Regulamentação pela Secretaria de Direito Econômico/Ministério da Justiça e/ou Inmetro (artigo 7º do CDC) sobre a vida útil esperada de produtos em setores industriais estratégicos, como o de eletroeletrônicos e de peças automotivas, com a obrigação de garantia durante esse prazo;
- Contratos públicos: critério de preferência na contratação, pela Administração Pública, de empresas que tenham certificação anti-obsolescência. Alteração da lei de licitações e contratos administrativos;
- Fomentar a existência de disciplinas escolares relacionadas à educação para um consumo sustentável e equilibrado;
- Informação clara ao consumidor acerca dos impactos da atualização de programas ou troca de componentes no que concerne ao desempenho do produto (por exemplo, informar que a atualização da nova versão de softwares pode deixar os aparelhos celulares antigos mais lentos).

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