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2 PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO O objetivo desse curso é promover uma visão geral e ampla sobre a teologia, a história, a estrutura e os temas do Novo Testamento. Para isso, dividimos o estudo em quatro seções que serão discutidas em seis encontros. 1ª Seção Panorama Teológico Que discute o significado e a necessidade da existência de um Novo Testamento. 2ª Seção Panorama Histórico Ambiente e antecedentes históricos do Novo Testamento 3ª Seção Panorama dos Livros Qual é a estrutura literária do Novo Testamento? 4ª Seção Panorama Temático Quais os temas e assuntos abordados no Novo Testamento? Esperamos que você compreenda a força e a importância desse conjunto de Escritos sagrados, aplicando-os em sua vida e nas vidas das pessoas que lhe cercam. A nossa oração é que este estudo, feito com uma leitura integrada das Escrituras, possa aprofundar os seus conhecimentos sobre a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2b), capacitando-lhe para as boas obras que “Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:10b). 3 Sumário CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO ........................................................ 4 1.1 Por que um Novo Testamento? ........................................... 4 1.2 Características da Antiga Aliança ..................................... 5 1.3 Voltando à questão ............................................................... 6 CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO .......................................................... 9 2.1 Antecedentes Históricos do Novo Testamento .............. 9 2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.) ............... 10 2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura (331 a 167 a.C.) ..................................................................................................................... 12 2.4 Influências Religiosas dos Judeus ...................................... 12 2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo) ............................................................................................................................... 14 CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS ..................................................... 15 3.1 Características e estrutura .................................................. 16 3.2 Um pouco dos Evangelhos ................................................. 17 3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos .......... 18 3.2.2 O Evangelho de João ...................................................... 20 3.3 As cartas e epístolas ............................................................. 21 3.3.1 Epístolas Paulinas ................................................................ 22 3.3.2 Cartas Paulinas ................................................................... 25 3.3.3 Epístolas Não-Paulinas ...................................................... 27 3.3.4 Demais escritos joaninos .................................................. 30 CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO ....................................................... 32 4.1 Humanidade e divindade de Cristo ................................ 33 4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito ............................... 34 4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor ................................... 36 4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível .................. 37 4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos ............................................................................................................................... 37 4.2.1 Revelando o sonho do Reino ......................................... 38 4.2.2 Pescando “pecadores” ................................................... 39 4.2.3 Um homem maltrapilho .................................................... 40 4.2.4 A paralisia dos que não são perdoados ..................... 41 4.2.5 Por que estes pecadores estão celebrando? ........... 42 4.3 A Comunhão com o corpo de Cristo ............................. 43 4.3.1 Unidade na diversidade .................................................. 44 4.3.2 A vida em comum ............................................................. 45 4.3.3 Os mandamentos recíprocos ......................................... 46 4.4 A Grande Comissão ............................................................. 51 4.4.1 A grande ordem do homem-Deus ............................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 55 4 CAPÍTULO I - PANORAMA TEOLÓGICO Um breve panorama teológico do Novo Testamento nos ajudará a entender o que significa a palavra Testamento, por que esse testamento é considerado Novo, qual a sua relação com o Antigo Testamento e o que mudou de um testamento para outro. 1.1 Por que um Novo Testamento? A palavra ‘testamento’1 é uma das traduções possíveis para o termo grego ‘diathekes’ e para termo hebraico ‘berith’. Outras possibilidades de tradução para esses mesmos termos seriam as palavras ‘aliança’ ou ‘pacto’. Creio, inclusive, que essas duas últimas traduções possam demonstrar com maior clareza que o termo ‘Novo Testamento’ não se refere apenas a um conjunto de livros, mas sim a uma nova Aliança, ou um novo Pacto, realizado entre Deus e os homens. Você já deve ter percebido, contudo, que é mais comum encontrarmos a expressão ‘Novo Testamento’ do que ‘Nova Aliança’ ou ‘Novo Pacto’. Por que essa preferência? Por que associamos ao significado de diathekes e berith o termo grego kleronomias que segundo Luz (2003, p. 785) se refere à ‘ação de lei de partilha’, mas é mais comumente traduzida como herança. Assim, como veremos adiante, a palavra ‘aliança’ se associa à ‘herança’ e nos faz optar pelo uso da palavra testamento2 que, em nossa língua e cultura, representa um ato jurídico por meio do qual uma pessoa dispõe de seus bens (herança) em favor de outrem (herdeiro) para depois de sua morte (ver Hb 9:16-17). Esse esclarecimento sobre o significado da palavra ‘testamento’, entretanto, suscita uma nova dúvida: por que Deus precisaria fazer uma nova aliança com a humanidade? Por que um Novo Testamento seria necessário? 1 Utilizarei no decorrer desse material as aspas simples (‘...’) para enfatizar determinadas palavras e as aspas duplas (“...”) quando estiver fazendo uma citação direta de outros autores. 2 No nosso material, usarei indistintamente as palavras testamento, aliança ou pacto, considerando apenas aquela que me der melhor fluidez no texto e que se encaixe melhor com o que precisamos compreender. Mas, especificamente, quando me referir ao conjunto de livros utilizarei sempre a palavra Testamento. 5 Algo teria falhado no projeto divino? Vamos buscar a resposta para essas perguntas no lugar mais propício para um esclarecimento legítimo, a saber: nas Escrituras. 1.2 Características da Antiga Aliança Uma aliança, mesmo quando feita sob a forma de testamento, é um tratado entre duas partes, onde cada um dos envolvidostem que cumprir suas obrigações sob pena de torná-la sem efeito (ver Tg 2:10). A aliança que chamamos de antiga está registrada no livro de Êxodo. Particularmente na passagem Êx 20:3-17, estão registrados os chamados 10 Mandamentos, os quais funcionam como um resumo da Lei. Em Êxodo 24, Moisés leu a Lei para o povo de Israel e eles responderam: “Faremos tudo que o Senhor ordenou” (v.3), firmando, assim, um pacto, um contrato, com o Deus. Essa aliança tinha as seguintes características: 1) A aliança que Deus fez com o seu povo consistia de duas partes: Deus e os israelitas firmaram um compromisso solene com base no conteúdo do Livro da Aliança (Êx 24:7). 2) A aliança foi selada pela morte de animais que foram oferecidos a Deus. O sangue desses animais foi aspergido sobre o altar e sobre o povo (Êx 24:8). 3) A aliança foi ratificada pelo povo que prometeu obediência a Deus (Êx 24:3 e 7). Adaptado de KISTEMAKER, 2003, p. 357. Essa aliança foi, portanto, firmada com o cumprimento de todos os pressupostos de um acordo válido: foi registrada (Dt 31:24; Js 8:32); foi ditada por Deus (Êx 20:1) e foi solenemente aceita pelo povo israelita (Êx 24:3,7). Não haveria como descaracterizar a sua validade sob qualquer alegação. No entanto, essa Lei não era capaz de libertar a consciência do pecador (ver Hebreus, capítulos 8 e 9), não era capaz de fazê-lo perceber a presença de Deus em todos os seus passos e o deixava sem o amparo do Espírito Santo. Em outras palavras, a Lei não é capaz de aliviar as lutas internas, que 6 acontecem nas profundezas de nossa alma e consciência (ver Rm 7), assim, precisamos da graça que veio por meio de Cristo na nova aliança. 1.3 Voltando à questão Jesus, na última ceia com os seus discípulos “tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: ‘Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da [nova] aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados’” (Mt 26:27,28; Lc 22:20), estabelecendo, portanto, uma nova aliança, firmada no seu próprio sangue e sustentada pela sua mediação (Hb 12:24). A questão que nos persegue é: por que foi necessário realizar essa nova aliança? O autor da Carta aos Hebreus, fazendo uma longa citação de Jeremias 31, nos oferece uma explicação nos capítulos 8 e 9. Ali, ele nos ensina que “as regras para adoração e o tabernáculo terreno” (Hb 9:1) são “uma ilustração para os nossos dias, indicando que as ofertas e os sacrifícios oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente limpa” (Hb 9:9). Entendendo que antes mesmo da Lei, a vinda de Jesus e a nova aliança firmada através do seu sangue já estava nos projetos de Deus (conforme Gn 3:15), podemos compreender em que sentido a palavra ‘ilustração’ é utilizada nesse contexto. O autor quer nos mostrar que a Lei, com todas as suas regras de adoração e de conduta pessoal e social, serviu, e serve até hoje, para mostrar a incapacidade do ser humano de ser santo pelos seus próprios esforços. Assim, ela ‘ilustra’, simultaneamente, a santidade de Deus e a incapacidade humana de restaurar, por si mesmo, a imagem e semelhança com a Trindade. Assim, era necessário que um sacrifício único e definitivo fosse feito para que o Plano de Salvação dos Filhos de Deus fosse cumprido em sua totalidade. Em Hb 9:22, aprendemos que “quase todas as coisas são purificadas com sangue, e, sem derramamento de sangue, não há perdão”. 7 13Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam de forma que se tornam exteriormente puros, 14quanto mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo! 15Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira aliança. (Hb 9:13-15, grifo nosso). Na primeira aliança, o sacrifício era de bodes e touros, e tinha efeito exterior, sem atingir as mentes e corações humanos; na nova aliança, o sacrifício é feito com o sangue do próprio Filho de Deus e tem, por meio do Espírito Santo, efeito eterno na purificação da nossa consciência, tornando-nos servos de Deus. Os grifos do versículo 15 foram feitos para chamar a nossa atenção para algumas questões importantes: 1) Há uma distinção clara entre aquilo que o autor chama de ‘nova aliança’ e ‘primeira aliança’. Logo, podemos entender que as duas porções das Escrituras estão separadas de maneira coerente com a própria Palavra de Deus; 2) A ‘nova aliança’ é realizada através um ‘Mediador’ por meio de quem ela ganha eficácia. Assim, sendo Cristo o Mediador, é impossível se falar de uma aliança com Deus sem a presença d’Ele; 3) A ‘nova aliança’ tem um objetivo claro, “que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna”. Entendemos, então, que a nova aliança está relacionada com a primeira aliança naquilo que se remete ao seu objetivo final: a salvação dos filhos de Deus. Sobre a nova aliança firmada em Cristo, Kistemaker (2003, p. 358) escreveu: Qual é o significado da palavra “nova” na expressão nova aliança? Primeiro, a nova vem da antiga, isto é, a nova aliança tem a mesma base e características da antiga aliança. E, em ambas as alianças, sacrifícios foram apresentados a Deus; mas enquanto os sacrifícios oferecidos para expiar as transgressões do povo na época da primeira aliança não podia libertar o pecador, o supremo sacrifício da morte de Cristo redimiu o povo 8 de Deus e pagou por seus pecados. Além do mais, na estrutura da primeira aliança, o mediador (isto é, o sumo sacerdote) era imperfeito. Na nova aliança Cristo é o mediador que garante a promessa da salvação. Deus põe suas leis na mente e as escreve no coração de seu povo redimido, para que como resultado eles conheçam a Deus, experimentem remissão de pecados e gozem uma comunhão pactual com ele. Por esta razão, não podemos dizer que a antiga aliança está invalidada, mas que ela está sendo perfeitamente cumprida em Cristo Jesus que se torna o perfeito mediador e, ao mesmo tempo, o perfeito sacrifício. “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mt 5:17). Em que medida a antiga aliança continua válida? Na concepção moral do povo de Deus, no exemplo prático de vida dos seus personagens, na doutrina profética, na comprovação histórica dos feitos divinos e ilustração para sempre lembrarmos que não seremos capazes de alcançar a Deus sem a graça. 9 CAPÍTULO II - PANORAMA HISTÓRICO Quando “Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes” (Mt 2:1), ele encontrou um ambiente social, político cultural estabelecido através de fortes influências dos povos que dominaram Israel nos últimos quatrocentos anos. Esse ambiente foi determinante para a propagação do evangelho e para a expansão da igreja cristã no mundo antigo. Assim, vamos começar esse capítulo estudando os antecedentes históricos do Novo Testamento. 2.1 Antecedentes Históricos do Novo Testamento Durante os três anos do seu ministério, Jesus ficou conhecido em todo o território de Israel. E menos de trinta anos depois da sua morte já havia igrejas cristãs em um vasto território (Grécia, Ásia e Europa). Você já se perguntou como a mensagem de Cristo pode ter se expandido tão ampla erapidamente em uma época em que não havia rádio, televisão, jornais ou Internet? Ou como Paulo e seus amigos viajavam distâncias tão grandes para pregar o evangelho e fundar novas igrejas? Deus criou um ambiente propício para que o seu Reino se expandisse de acordo com os seus planos. Uma grande sucessão de importantes eventos históricos preparou o caminho do Messias. Alguns fatores que Favoreceram o Ministério de Jesus Retorno do povo judeu, que estava cativo na Babilônia, a Israel; Desenvolvimento logístico do sistema de correios; Globalização da língua grega; Propagação da cultura e filosofia gregas; Construção de um grande número de estradas; Dispersão dos judeus e estabelecimento de várias sinagogas no mundo antigo; Anseio de liberdade dos judeus. 10 A conjuntura que possibilitou tudo isso foi criada no chamado período Interbíblico, também conhecido como Intertestamentário ou período do Silêncio de Deus. Esse último nome se deve ao fato de que os acontecimentos aos quais nos referimos ocorreram entre o final do ministério do profeta Malaquias (último profeta do Antigo Testamento) e o início do ministério de João Batista (profeta que precede à chegada de Cristo). Cronologia Panorâmica das Escrituras Antigo Testamento Período Interbíblico Novo Testamento 1700 a.C. – 430 a.C. 430 a.C. – 30 d.C. 30 d.C. – 100 d.C. Embora muitos historiadores e teólogos chamem os quatrocentos e sessenta anos que separam o livro de Malaquias do início do ministério de João Batista de Período de Silêncio, o que podemos perceber é que Deus preparou tudo para que o Messias viesse; e para que a Sua presença fosse rapidamente anunciada. Nessa época, Israel passou por quatro períodos políticos importantíssimos, incluindo três dominações por outros povos e um tempo de independência promovido pelos Macabeus. Veja o quadro abaixo: Situação Política Datas Domínio Persa 3555-331 a.C. Domínio Grego 331-167 a.C. Independência (Período dos Macabeus) 167-63 a.C. Domínio Romano 63 a.C. ao tempo de Cristo. Cada uma das situações políticas vividas pelo povo de Israel teve importantes influências para a preparação do ambiente em que o nosso Salvador nasceria, vamos a elas: 2.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C.) 3 O Império Persa, ou Medo-persa, teve início antes do início do período intertestamentário. Esse, como se verá mais adiante, é um importante fato para a história do povo de Deus e para a formação do ambiente do Novo Testamento. 11 O Império Persa teve seu início muito antes do Período Interbíblico, por volta do ano 555 a.C., quando começaram as grandes conquistas do rei Ciro. No entanto, Deus já tinha planos muito especiais para eles Em 588/7 a.C., por causa da sua grande idolatria, o povo de Deus foi dominado pelos babilônios e levado cativo, cumprindo a profecia anunciada por Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-11). Mas, era necessário que o povo voltasse para a terra de Israel, pois o Messias deveria nascer em Belém, segundo vaticinaria mais tarde o profeta Miqueias (Mq 5:2). Então, Deus usou o Império Persa da seguinte forma: 1) Libertando os judeus do cativeiro na Babilônia, que durou 70 anos, conforme havia sido prenunciado pelo profeta Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-11); 2) Permitindo que o povo judeu reconstruísse o Templo de Jerusalém na época de Esdras; 3) Autorizaram o povo judeu a restaurar a Lei e o Sinédrio (Ed 6-10); 4) Permitindo que os muros da Cidade Santa fossem reconstruídos por Neemias; 5) Desenvolvendo um avançado sistema de correios. Todas essas ações do Império Persa tiveram reflexos importantes no cumprimento dos planos de Deus para a formação do ambiente em que o Messias viria a nascer e para a rápida propagação da sua Santa Igreja. Cronologia do Império Persa em relação ao Povo de Deus • 930 a.C. – Morre o Rei Salomão e o seu reino é dividido em dois: Israel e Judá; • 911 a.C. – Início do Império Assírio; • 722 a.C. – Samaria (capital do Reino do Norte) foi invadida pelos Assírios e o Reino de Israel destruído. O Reino do Sul se mantém vivo, porém paga pesados tributos aos assírios; • 620 a.C. – Ascenção do Império Babilônico; • 588/7 a.C. – A Babilônia conquista Israel e lhe impõe 70 anos de terrível cativeiro; • 555 a.C. – Ascenção do Império Persa, primeiras conquistas de Ciro; • 539 a.C. – Os Persas invadem a Babilônia; • 517 a.C. – O povo de Deus volta para Jerusalém, é o fim do cativeiro. 12 2.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura (331 a 167 a.C.) O Império Grego teve início com as conquistas de Alexandre, o Grande (também conhecido como Alexandre Magno). E se caracterizou por uma administração diferente de todos os grandes impérios que o antecederam. Se os persas foram usados por Deus para permitir que o povo voltasse a Jerusalém e restaurasse a sua religião, criando a atmosfera religiosa4 e geográfica adequada para o nascimento de Jesus, os gregos deram as seguintes colaborações: 1) A Língua Grega – A rápida propagação do Evangelho carecia de uma língua universal que permitisse a circulação da Palavra sem necessidade de transmitir para outras línguas; 2) A Filosofia Grega –os filósofos gregos desmascararam as falsas ideias religiosas daquela época, levando as pessoas a procurarem uma religião que não fosse baseada em mitos. Eles ensinaram, também, que: 2.1) A realidade não era temporal, nem material; mas, eterna e espiritual (ver o Timeu de Platão); 2.2) Há uma forte distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado; isto é, já discutiam sobre ética e moral; 2.3) o futuro eterno do homem é uma reflexão importante para o ser humano (ver Apologia a Sócrates e Críton de Platão). 3) Enfraquecimento do politeísmo e do misticismo através da racionalidade materialista, criando um ambiente perfeito para a mensagem de Cristo, oferece uma perspectiva espiritual que não abandona a razão. Enfim, os gregos cooperaram para a criação de um ambiente intelectual propício à fé cristã. A valorização do conhecimento lógico e do caráter crítico de avaliação do mundo colaborou com o desenvolvimento de uma mensagem que supre, de fato, as necessidades espirituais e racionais do povo antigo e de todas as épocas. 2.4 Influências Religiosas dos Judeus Embora seja um período de grande importância histórica, a influência religiosa dos judeus não está restrita ao período de independência política (167 4 Depoisde serem libertos do cativeiro na Babilônia, os Israelitas nunca mais cometeram o pecado da idolatria. Veremos a importância disso mais adiante. 13 a 63 a.C.). Nessa época, o povo já estava restabelecido no território de Israel, Jerusalém estava murada e protegida, o Templo estava reconstruído e em pleno funcionamento. Então, as colaborações dos judeus foram as seguintes: 1) Monoteísmo – O judaísmo estava solidamente vinculado ao Deus único, que lhes falou por meio da Lei (Moisés) e dos profetas; 2) O Antigo Testamento – O alicerce fundamental do cristianismo está no AT, com seus ensinos morais e suas profecias acerca da vinda de Cristo; 3) Sistema Ético – Diferentemente da ética prevalecente na Grécia, os judeus não consideravam que o pecado fosse apenas um fracasso moral externo, mas a violação da vontade de Deus; 4) As Sinagogas – Para os judeus o lugar certo para adorar era o Templo (Único), mas, no tempo do cativeiro babilônico, as sinagogas se tornaram lugar de adoração, dando início à doutrina que ensina que Deus pode ser adorado em todo lugar; 5) A Esperança Messiânica – O judaísmo, embora não tenha reconhecido a Cristo, acreditava vigorosamente na vinda do Messias que estabeleceria justiça sobre a terra; 6) a Filosofia da História – Para o judeu a história tem significado. Para eles, o Soberano Deus triunfará na história a despeito da falha humana, trazendo a era duradoura e o triunfo eterno. Se os gregos e os persas trouxeram uma estrutura ambiental e cultural para o Novo Testamento, os judeus nos deram as raízes da teologia neotestamentária. O AT, contando a história da relação de Deus com o Povo; a Lei, formando o mais perfeito sistema ético de todos os tempos; a profecia, antecipando o ensino e a história do Messias, e a Esperança na vinda de Cristo e no Triunfo eterno de Deus dão sustentação à doutrina que aprendemos no Novo Testamento. 14 2.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo) O Império Romano foi o sistema político prevalecente durante todo o período do Novo Testamento. Manteve um sistema escravocrata. Teve característica essencialmente comercial, deixando a agricultura em segundo plano, fato que gerou desemprego rural, trazendo as famílias para as cidades. Organizou-se politicamente em um modelo de república, parecido com o nosso, dividindo o império em províncias que tinham seus próprios governadores. As principais colaborações desse império para o ambiente do NT e para a propagação da mensagem de Jesus foram: 1) A Cidadania Romana – Os romanos desenvolveram um sentido de unidade e pertencimento que serviu de luz para a agregação do povo de Deus. Além disso, a cidadania romana possibilitava a circulação do povo de Deus em todo o Império, facilitando a pregação da Palavra; 2) A Paz Romana – Além da cidadania que dava o direito legal da livre circulação, o exército romano garantia a paz e a segurança nas estradas da Ásia, África e Europa, tornando as viagens mais seguras para todos; 3) O Sistema de Estradas – As estradas romanas eram feitas de estruturas que duraram séculos (ainda se pode trafegar pela Via Appia nos dias atuais) e facilitaram as viagens dos comerciantes, das tropas militares e, também, dos missionários na sua época; 4) O Exército Romano – Roma recebia como soldados os homens das áreas conquistadas, fazendo deles soldados romanos. Isso ajudou a propagar a mensagem do cristianismo dentro do próprio exército5; 5) A Tolerância Religiosa dos Romanos – Os romanos permitiam que os povos conquistados mantivessem os seus cultos. Muitos desses povos não conseguiram sustentar as suas crenças diante da filosofia greco-romana e acabaram entrando em ‘vácuo’ espiritual que foi, mais tarde, em larga medida, preenchido pelo cristianismo. O Império Romano abrangeu todo o período da vida de Cristo e dos autores do Novo Testamento e, também, de grande parte dos chamados Pais da Igreja. As estruturas, a cultura e o sistema político-religioso desenvolvido por 5 A ‘infiltração’ de cristãos no exército romano foi tão forte e significativa para a propagação do Reino de Deus que alguns políticos da época atribuíram ao comportamento cristão (misericórdia e respeito à vida alheia) a responsabilidade pela queda do império romano. Fato que Santo Agostinho contesta no seu livro A Cidade de Deus, no século IV d.C. 15 Roma foi crucial para que o Novo Testamento alcançasse tamanha amplitude em tão pouco tempo. CAPÍTULO III – PANORAMA DOS LIVROS 16 A Bíblia é uma biblioteca! Ela é composta por 39 livros do Antigo Testamento e por 27 livros do Novo Testamento, totalizando 66 livros. Com temáticas especialmente desenvolvidas por Deus para servirem de orientação para a Igreja e para cada indivíduo em todos os tempos. 3.1 Características e estrutura A Tabela 1 nos ajuda a compreender as principais características das duas coleções que compõem a biblioteca completa: Tabela 1 – Características dos Testamentos Antigo Testamento Novo Testamento Livros 39 livros 27 livros Língua Hebraico e aramaico Grego Aliança Lei Graça Local da Aliança Sinai Calvário Selo Sangue de animais Sangue de Cristo Ministério Deus Pai O Filho e o Espírito Santo Os livros do Novo Testamento são centralizados na pessoa de Cristo, mas mantém profunda relação com o Antigo Testamento. Eles são uma continuação da história do Povo de Deus e do ensino perfeito de Deus para toda a humanidade. Os focos na Lei e na Graça são a grande distinção entre os dois testamentos, mas isso não implica que não haja graça no AT. Apenas que o AT mostra o quanto a graça é necessária para pecadores que não podem alcançar as exigências da Lei. Quando afirmamos que no AT encontramos o Ministério de Deus Pai e no NT o de Jesus e do Espírito Santo, estamos fazendo menção ao fato de que cada pessoa da Trindade se mostra mais presente em determinados momentos da história e do ensino. Evidentemente, os três, como indissolúveis, estão juntos em todos os tempos e lugares, gozando dos mesmos atributos, do mesmo poder e da mesma glória. 17 No que tange à forma e a ideia principal, os 27 livros do Novo Testamento estão dispostos em seis seções, conforme mostra a Tabela 2. Tabela 2 – Seções de distribuição dos livros do Novo Testamento Livros Autores Ideia Principal6 Evangelhos Mateus Mateus Jesus, o Messias Prometido Marcos Marcos Jesus, o Servo de Deus Lucas Lucas, o médico Jesus, o Filho do Homem João João7 Jesus, o Filho de Deus Histórico Atos dos Apóstolos Lucas, o médico A Igreja EP ÍS TO LA S Pa ul in as G er ai s Romanos Paulo A vida pela fé I Coríntios As desordens na Igreja II Coríntios A autoridade apostólica Gálatas A graça Efésios Unidade da Igreja Filipenses Alegria em Cristo Colossenses Caráter de Jesus I Tessalonicenses A segunda vinda de Cristo II Tessalonicenses A segunda vinda de Cristo Pa st or ai s I Timóteo Orientações para liderança II Timóteo Cuidado com o falso ensino Tito Orientação para liderançaFilemon Conversão de um fugitivo N ão -p au lin as Hebreus Desconhecido Cristo, mediador de uma nova aliança. Tiago Tiago, irmão de Jesus8 A verdadeira religião I Pedro Pedro Carta a uma igreja perseguida II Pedro Pedro Alerta contra o perigo dentro da igreja I João João, o evangelista Vida de comunhão com Deus II João João, o evangelista Precação com os falsos mestres III João João, o evangelista Orientações de liderança Judas Judas9 Alerta contra a apostasia Profecia Apocalipse João, o evangelista Triunfo final de Cristo 3.2 Um pouco dos Evangelhos 6 Essa visão sobre a ideia geral de um livro pode variar de autor para autor. 7 Embora haja divergências entre teólogos e historiadores, o Evangelho, as três cartas e Apocalipse são atribuídos ao mesmo autor; 8 É quase unânime a teoria de que se trata, realmente, do irmão de Jesus. 9 Ver detalhes sobre a autoria dessa epístola nos comentários finais da seção 3.3.3. 18 A palavra evangelho (euaggeloj) significa o ‘anúncio de boas novas’. Então, quando, por exemplo, falamos no Evangelho de Lucas, estamos falando das boas novas contadas por Lucas. Assim, entendemos que os quatro evangelistas contaram, cada um da sua própria forma, as boas novas que receberam de Deus para deixar para todos nós. O evangelho de João segue uma estrutura diferente, por isso costuma ser estudado à parte. João, talvez por ter sido o apóstolo mais próximo de Cristo, é o evangelho que apresenta o maior conteúdo exclusivo, isto é, no evangelho de João encontramos o maior volume de ensinos e histórias que não estão presentes nos outros três evangelhos. 3.2.1 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos Chamamos de Sinóticos os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, pois eles narram a boa nova de Cristo dentro de uma mesma estrutura que, acredita-se, tenha sido desenvolvida por Marcos. Assim, ao ler esses três evangelhos, podemos encontrar as mesmas histórias e os mesmo ensinamentos de Jesus sendo contados sob pontos de vista diferentes, mas divinamente inspirados. Mas, é importante lembrar que cada um desses evangelhos, também, possui conteúdos exclusivos. Atos dos Apóstolos é incluso nesse grupo, por que se trata de uma continuação do Evangelho de Lucas (veja Lc 1:1-4 e At 1:1-3). Em Atos, Lucas busca apresentar a forma como os ‘doze’, juntamente com os demais discípulos de Cristo, deram continuidade à propagação do Reino de Deus. É a história magna do início da Igreja. Onde o treinamento que Jesus lhes deu durante os três anos de ministério é aplicado na vida da nova comunidade que se inicia. Vejamos algumas análises sobre cada um dos livros que compõem esse grupo. a) Evangelho segundo Mateus 19 Conteúdo: a história de Jesus, incluindo seções extensas de ensino, indo do anúncio do seu nascimento até o comissionamento dos discípulos para fazer discípulos entre os gentios10. Autor: anônimo11; Papias (125 d.C.) atribui o “primeiro Evangelho” ao apóstolo Mateus. Alguns estudiosos discordam. Data: desconhecida (visto que ele usou Marcos, muito provavelmente foi na década de 70 ou 80 d.C.). Receptores: desconhecidos; mas quase certamente cristãos judeus comprometidos com a missão aos gentios, sendo a opinião mais comum que tenham vivido em Antioquia da Síria e arredores. Ênfase: Jesus é o Filho de Deus, Rei (messiânico) dos judeus; Jesus é Deus presente conosco (Emanuel) em poder milagroso; Jesus é o Senhor da igreja; o ensino de Jesus tem importância contínua para o povo de Deus; o evangelho do reino é para todos os povos – judeus e gentios igualmente. Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 318). b) Evangelho segundo Marcos Conteúdo: história de Jesus, do batismo até a ressurreição. Dois terços da narrativa relatam seu ministério na Galileia, enquanto o último terço relata a sua última semana em Jerusalém. Autor: anônimo, atribuído (por Papias, 125 d.C.) a João Marcos, um antigo companheiro de Paulo (Cl 4:10), e depois de Pedro (I Pe 5:13). Data: cerca de 65 d.C. ( de acordo com Papias, logo depois da morte de Paulo e de Pedro em Roma). Receptores: a igreja em Roma (de acordo com Papias), o que explica sua preservação junto com os Evangelhos de Mateus e de Lucas, mais extensos. Ênfase: o tempo do governo de Deus (o reino de Deus) chegou, com Jesus; Jesus realizou o novo êxodo prometido em Isaías; o Messias real veio em fraqueza, sua identidade sendo um segredo exceto para aqueles a quem ela é revelada; o caminho do novo êxodo leva à morte de Jesus em Jerusalém; o caminho do discipulado consistem em carregar a cruz e segui-lo. Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 328). c) Evangelho segundo Lucas Conteúdo: a história de Jesus como a primeira parte de Lucas-Atos, que é a 10 Gentio é o termo usado pelos judeus para se referir a todos aqueles que não têm origem israelita. Algumas vezes, funciona como sinônimo de incrédulos. 11 Afirmar que o autor é anônimo, implica dizer que ele não assinou a carta. Mas, as análises históricas e a tradição da igreja nos dão sustentação suficiente para confiar na autoria atribuída. 20 história da salvação de “Israel”, que Cristo e o Espírito realizaram; essa parte começa com o anúncio do nascimento de Jesus e continua até a sua ascensão. Autor: de acordo com uma tradição muito antiga, Lucas, o médico e antigo companheiro do apóstolo Paulo (Cl 4:14), o único autor gentio da Bíblia. Data: incerta; os estudiosos se dividem entre uma data anterior à morte de Paulo (64 d.C., ver At 28:30-31) e outra depois da queda de Jerusalém (70 d.C., pelo uso que o autor faz do Evangelho de Marcos). Receptor(es): Teófilo é de outro modo desconhecido; seguindo o costume dos prefácios desse gênero na literatura greco-romana, ele provavelmente foi o patrocinador do livro de Lucas-Atos, subscrevendo portanto a sua publicação; os leitores implícitos são cristãos gentios, cujo lugar na história de Deus é assegurado por meio da obra de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Ênfase: O Messias de Deus veio até seu povo, Israel, com a prometida inclusão dos gentios; Jesus veio para salvar os perdidos, incluindo todos os tipos de pessoas marginalizadas que para a religião tradicional estariam fora dos limites; o ministério de Jesus é executado sob o poder do Espírito Santo; a necessidade de morte e ressurreição de Jesus (que cumpriram promessas do AT) para o perdão dos pecados. Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 338). d) Atos dos Apóstolos Conteúdo: a parte 2 do relato de Lucas sobre as boas-novas de Jesus; de que maneira, pelo poder do Espírito, as boas-novas se espalharam de Jesus até Roma. Autor: ver o Evangelho segundo Lucas (Lc 1:1-4 e At 1:1-3). Data: ver informações sobre o Evangelho de Lucas. Receptores: ver Lucas. Ênfase: as boas-novas da salvação de Deus por meio de Jesus são para os judeus e os gentios igualmente, cumprindo assim as expectativas do AT; o Espírito Santo guia a igreja para disseminar as boas-novas; a igreja tem o bom senso de se ajuntara Deus com respeito à salvação que ele realiza e à inclusão dos gentios; a salvação para fora dos muros judaicos é atividade de Deus e nada pode impedi-la; alguns aceitam as boas-novas com alegria e outro as as rejeitam com ira. Adaptado de: FEE, G. & STUART, D. (2013, p. 349). 3.2.2 O Evangelho de João 21 O evangelho segundo João narra a história de Jesus em uma perspectiva posterior à ressurreição e à dádiva do Espírito Santo. “Depois que ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito. Então creram na Escritura e na palavra que Jesus dissera” (Jo 2:22; ver também: 12:6; 14:26; 16:13-14). João escreveu atestando a veracidade da encarnação de Deus. Assim, João apresenta, logo no primeiro capítulo, Jesus como a Palavra, o autor da criação (vs. 1:1-4, 10) e como aquele que veio ao mundo em missão de amor ao mundo criado (3:16). Outra figura forte que João apresenta, ainda no primeiro capítulo, é a de “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1:29), indicando o caminho sacrificial do Deus encarnado. Conteúdo: a história de Jesus, Messias e Filho de Deus, contada a partir de uma perspectiva pós-ressurreição; na sua encarnação, Jesus revelou a Deus e tornou sua vida disponível a todos por meio da cruz. Autor: as evidências internas apontam para João, o discípulo amado, aquele “que escreveu essas coisas” (21:24; cf 13:23; 19:25-27; 20:2; 21:7). Data: provavelmente entre 90-95 d.C. Receptores: parece-nos ter sido enviada a uma comunidade cristã bastante conhecida do apóstolo, provavelmente a mesma a quem se dirige em I João. Ênfase: Jesus é o Messias, o filho de Deus; em sua encarnação ele tanto revelou o amor de Deus como redimiu a humanidade; discipulado significa “permanecer na videira” (que é Jesus) e dar fruto (amar como ele amou); o Espírito Santo será concedido ao seu povo para continuar sua obra. 3.3 As cartas e epístolas É comum, mas não pacífico, entre os estudiosos aceitar que cartas são aquelas correspondências que são enviadas a uma pessoa específica sem a intensão de que deva ser mostrada à comunidade. Enquanto epístolas seriam justamente o contrário, aquelas correspondências que se destinam a uma comunidade, sem direcionamento pessoal. As cartas e epístolas são um subconjunto precioso no NT, são nove epístolas e quatro cartas atribuídas a Paulo; mais Hebreus, Tiago, I e II Pedro e I 22 e II João que são epístolas e III João que é uma carta endereçada a Gaio. Vamos dividi-las da seguinte maneira: 3.3.1 Epístolas Paulinas As epístolas Paulinas são, sem dúvida, a maior fonte de ensino do Novo Testamento, toda a doutrina cristã emerge desse conjunto de livros. Obviamente, elas são um complemento aos evangelhos e somam-se com as outras obras da Bíblia. Enfatizo, portanto, a grande importância desse pequeno grupo de livros para o amadurecimento da fé cristã nos corações dos dias atuais. Romanos Conteúdo: instrução e exortação apresentando a compreensão que Paulo tem do evangelho – de que judeus e gentios, juntos, formam o povo de Deus, com base na justiça recebida pela fé em Jesus Cristo e na dádiva do Espírito. Receptores: a igreja em Roma, que não foi fundada por Paulo nem estava sob sua jurisdição – embora ele saúde ao menos vinte e seis pessoas conhecidas suas (16:3-16). Ocasião: uma combinação de três fatores: 1) a visita que Febe tinha intenção de fazer a Roma (16:1-2); 2)a visita de Paulo a Roma e o desejo de ir até a Espanha com a ajuda dos irmãos romanos (15:17-29); e, 3) informações sobre tensões entre os cristãos judeus e gentios ali. Ênfase: judeus e gentios como povo único de Deus; o papel dos judeus na salvação de Deus por meio de Cristo; a salvação somente por meio da graça, recebida pela fé me Jesus Cristo e efetuada pelo Espírito; o fracasso da Lei e o êxito do Espírito em produzir justiça verdadeira; a necessidade de ser transformado pelo Espírito para viver em unidade como o povo de Deus no presente. I Coríntios Conteúdo: uma carta de correção, uma exortação ao comportamento dos membros daquela igreja que afrontava o evangelho de Cristo e a vida no Espírito. Receptores: a igreja em Corinto, composta principalmente por gentios (12:2; 8:7). Ocasião: Paulo responde a uma carta da igreja (7:1) e para relatar que a recebeu (1:11; 5:1). 23 Ênfase: o Messias crucificado como a mensagem central do evangelho; a cruz como a sabedoria e o poder de Deus; o comportamento cristão que se conforma ao evangelho; a verdadeira natureza da vida no Espírito; a futura ressurreição corporal dos cristãos mortos. II Coríntios Conteúdo: é possível que se trate de duas cartas (1-9 e 10- 13) combinadas em uma, tratando principalmente do relacionamento tênue de Paulo com a igreja coríntia, e de várias outras questões: o ministério de Paulo, a coleta para os pobres de Jerusalém e a questão referente a alguns cristãos judeus itinerantes que invadiram a igreja. Receptores: os mesmos de I Coríntios Ocasião: o retorno de Tito de uma visita recente (7:5-7) e a esperada terceira visita de Paulo à igreja (13:1) à luz da necessidade de a igreja estar com a coleta pronta antes de Paulo chegar e da prontidão deles em acolher “falsos apóstolos [...] disfarçando-se de apóstolos de Cristo” (11:13). Ênfase: o ministério cristão como serviço, refletindo o de Cristo; a glória maior da nova aliança em contraste com a antiga; a glória do evangelho exibida na franqueza dos seus ministros; o evangelho como reconciliação; dar aos pobres como uma expressão de generosidade, não de obrigação. Gálatas Conteúdo: uma argumentação contra alguns ‘missionários’ cristãos judeus que insistem em que os gálatas (por serem originalmente gentios) deviam se circuncidar para ser parte do povo de Deus. Receptores: cristãos gentios da Galácia. Ocasião: as igrejas da Galácia foram invadidas por alguns agitadores (5:12) que questionaram o evangelho de Paulo e seu apostolado; alguns gálatas, aparentemente, estão prestes a se render ao ensino deles, o que desencadeia uma vigorosa defesa por parte de Paulo de seu evangelho e chamado. Ênfase: o apostolado e o evangelho de Paulo vêm diretamente de Deus e de Cristo, não por mediação humana; a morte de Jesus deu fim às observâncias étnicas; o Espírito produz a justiça que a Lei não podia produzir; o Espírito capacita os cristãos a não ceder aos desejos pecaminosos; recebe-se o Espírito por meio da fé em Cristo Jesus. Efésios Conteúdo: encorajamento e exortação, situada contra o pano de fundo dos ‘poderes’ (6:12 NVI, outras versões trazem poderios ou potestades), que retrata Cristo unindo judeus e gentios como o único povo de Deus e como seu triunfo e glória máximos. Receptores: talvez uma epístola circular para muitas igrejas na província da Ásia, de que Éfeso é a capital. 24 Ocasião: Tíquico, que está levando a carta (6:21-22), também está levando duas outras cartas a Colossos (Colossenses e Filemon, ver Cl 4:7-9); talvez depois de refletir mais sobre a situação dessa cidade e a glória de Cristo, e conhecendo o temor asiático dos ‘príncipes deste mundo de trevas’, Paulo tenha escrito essa carta como uma epístola geral para os pastores das igrejas dessa área. Ênfase: o alcance cósmico da obra de Cristo; a reconciliação efetuada por Cristo entre judeus e gentios por meio da cruz; a supremacia de Cristo sobre ‘as potestades’ em prol da igreja; o comportamento cristão que reflete a unidade do Espírito. Filipenses Conteúdo: ação de graças, encorajamento e exortação da parte de Paulo à comunidade de cristãos emFilipos, que passa por aflição e experimenta alguns conflitos internos. Receptores: a igreja em Filipos, fundada por Paulo, Silas e Timóteo. Ocasião: Epafrodito, que havia trazido informações sobre a igreja a Paulo na prisão, e entregue ao apóstolo a oferta dela (2:30; 4:18), está prestes a retornar a Filipos, tendo acabado de se recuperar de uma enfermidade quase fatal (2:26-27). Ênfase: a parceria de Paulo e dos filipenses no evangelho; Cristo absolutamente fundamental para toda a vida, do início ao fim; conhecer a Cristo, tornando-se como ele em sua morte; alegrar-se em Cristo até mesmo no sofrimento; unidade por meio da humildade e do amor; a certeza e a busca do prêmio final. Colossenses Conteúdo: encorajamento aos cristãos relativamente novos a continuar na verdade de Cristo que recebera, e os advertindo contra influências religiosas externas. Receptores: os cristãos (principalmente gentios) em Colossos e Laodiceia (Cl 4:16). Ocasião: Epafras, colaborador de Paulo que fundou as igrejas no vale do Lico, recentemente veio a Paulo trazendo notícias da igreja, em geral boas, mas algumas nem tanto. Ênfase: A absoluta supremacia e total suficiência de Cristo, o Filho de Deus; o fato de que Cristo tanto perdoa o pecado como liberta a pessoa do terror dos poderes (ou potestades); regras e regulamentos religiosos não contam para nada, mas a vida ética que reflete a imagem do próprio Deus conta para tudo; a vida à semelhança de Cristo afeta todo tipo de relacionamentos. I Tessalonicenses Conteúdo: ações de graças, encorajamento, exortação e informação para cristãos gentios recém-convertidos. Receptores: recém-convertidos a Cristo tem Tessalônica, a maioria deles gentios (I Ts1:9-10). Ocasião: o retorno de Timóteo a Paulo e Silas em Corinto, Timóteo tinha sido enviado a Tessalônica para ver como estavam os novos cristãos (I Ts 3:5-7). Ênfase: a preocupação amorosa de Paulo pelos seus amigos em Tessalônica; o sofrimento como parte da vida cristã; a 25 necessidade de se realizar o próprio trabalho, não vivendo da generosidade alheia; a ressurreição dos cristãos que morreram; a prontidão para a vinda de Cristo. II Tessalonicenses Conteúdo: Paulo continua a encorajar a congregação em face do sofrimento; é também uma advertência contra ser confundido com respeito à vinda do Senhor, e de exortação a certos indivíduos a trabalhar com as próprias mãos em vez de abusar da generosidade alheia. Receptores: veja I Tessalonicenses Ocasião: Paulo recebeu informações de que certos indivíduos (provavelmente por meio de palavra profética) falaram em nome do apóstolo no sentido de que o dia do Senhor (a vinda de Cristo) já teria ocorrido; além disso, que os ociosos problemáticos a quem ele já havia se dirigido em I Tessalonicenses ainda não haviam corrigido seus hábitos. Ênfase: a salvação certa dos cristãos tessalonicenses e o julgamento certo de seus perseguidores; o dia do Senhor ainda está por vir e será precedido pela ‘apostasia’; aqueles que são preguiçosos e causam transtorno devem trabalhar por seu próprio sustento. Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 374-440) Nas epístolas Paulo se dirigiu com ênfase à Igreja de Cristo em sua coletividade, ele nos ensinou a ser Igreja. Sua mensagem permeou temas importantes como, por exemplo, os dons do Espírito (I Co 12-14 e Ef 4) como forma permanente da ação da Trindade na evangelização dos povos (cf. At 1:8); a necessidade da pregação aos gentios (Gl 1:16; 2:7-9) de um evangelho exclusivamente vindo de Deus (Gl 1:6-9; 2:2; Cl 1:5-6). Seu ensino sempre teve como fundamento e alvo o Cristo crucificado e ressuscitado (I Co 2:2; 15:3-4; Gl 3:1) e a expectativa da Segunda vinda (I Ts 4:13-511; II Ts 2). 3.3.2 Cartas Paulinas As cartas formam um conjunto de correspondências íntimas, em que Paulo, sob a divina inspiração (ver I Tm 1:1-2; II Tm 1:1-2; Tt 1:1-4; Fl 1-2), se reporta diretamente aos amigos/discípulos, trazendo orientações sobre caráter, vida prática, serviço cristão, ânimo para enfrentar as dificuldades, exercício de liderança e muito mais. Essas cartas são atualmente lidas por todas as igrejas cristãs e, obviamente, não se trata de invasão de privacidade, nem de curiosidade 26 sobre a vida dos outros, mas de profundos ensinos sobre temas de extrema relevância para a nossa ‘cidadania celestial’. Basicamente, posso dizer, nessas cartas, Paulo nos ensina a ser cristãos na nossa intimidade, já que nas suas epístolas ele havia nos ensinado a ser cristão na igreja e na sociedade. Vamos a elas: I Timóteo Conteúdo: uma acusação contra alguns falsos mestres – reprovando o seu caráter e ensino -, com instruções quanto a várias questões comunitárias que esses mestres colocaram em crise, intercaladas com palavras de encorajamento. Receptores: Timóteo, jovem companheiro de longa data do apóstolo. Ocasião: Paulo havia deixado Timóteo encarregado de uma situação muito difícil na igreja em Éfeso, onde falsos mestres (possivelmente presbíteros locais) estão desencaminhando algumas igrejas nas casas; Paulo escreve a Timóteo, visando capacitá-lo para por um fim à obra desses presbíteros desviados e de algumas viúvas que os seguiam. Ênfase: a verdade do evangelho como a misericórdia de Deus demonstrada a todas as pessoas; o caráter que precisam ter os líderes da igreja; os ensinos especulativos, o ascetismo e o amor à polêmica e o amor ao dinheiro desqualificam a pessoa para a liderança da igreja; Timóteo, firmando-se no evangelho, deve dar exemplo de liderança e caráter cristãos genuínos. II Timóteo Conteúdo: um apelo a Timóteo para que se mantenha fiel a Cristo, ao evangelho e a Paulo, incluindo uma última investida contra os falsos mestres de quem ele falou na primeira carta. Receptores: ver I Timóteo. Ocasião: Paulo foi novamente preso e levado a Roma (o mais provável é que ele tenha escrito de Trôade, e sob instigação de Alexandre, 4:13-15 [talvez, o mesmo homem que foi excomungado em I Tm 1:19-20]); a carta pede que Timóteo venha em auxílio Paulo, mas principalmente lhe oferece uma espécie de testamento. Ênfase: a obra salvadora de Cristo, que “tornou inoperante a morte e trouxe luz à vida e a imortalidade por meio do evangelho” (1:10); lealdade a Cristo pela perseverança no sofrimento e na privação; lealdade a Paulo pela lembrança de seu relacionamento de longa data; lealdade ao evangelho pela fidelidade em proclamar/ensinar ‘a palavra’ (mensagem do evangelho); a difusão legal, mas o fim certo, do falso ensino; a salvação daqueles que são de Cristo. Tito Conteúdo: instruções a Tito para colocar em ordem as igrejas em Creta, incluindo a designação de presbíteros qualificados e instruções a vários grupos sociais, situadas em contraste com os falsos mestres. Receptores: Tito, um gentio e antigo companheiro de viagem de Paulo (v. Gl 2:1-3; II Co 7:6-16). Ocasião: Paulo havia deixado Tito em Creta para terminar de ordenar e estruturar as igrejas, enquanto ele e Timóteo 27 (aparentemente) foram a Éfeso, onde se depararam com uma situação bastante complicada (v. I Tm). Paulo, contudo, teve de prosseguir até a Macedônia (I tm 1:3; cf. Fp 2:19-24); talvez o Espírito Santo o tenha lembrado, enquanto ele escrevia I Timóteo, de que problemas semelhantes haviam surgido em Creta, de modo que ele se dirige às igrejas por meio de Tito. Ênfase: o povo de Deus precisa ser bom e fazer o bem – e isso se aplicada especialmente aos líderes da igreja; o evangelho da graça se contrapõe aos falsos ensinos baseados na lei judaica. Filemon Conteúdo: o propósito exclusivo dessa carta é garantir o perdão a um escravo(provavelmente fugitivo) chamado Onésimo. Uma grande lição de restauração de relacionamentos. Receptores: Filemon é um cristão gentio em Colossos (Cl 4:9), em cuja casa a igreja se reúne. Ocasião: Onésimo se converteu recentemente e tem servido a Paulo, que está na prisão; ele agora está sendo enviado de volta a Filemon, acompanhado por Tíquico; este também leva consigo cartas às igrejas em Colossos (Colossenses) e na Ásia (Efésios). Ênfase: O evangelho reconcilia as pessoas umas com as outras, não apenas judeus (Paulo) e gentios (Filemon), mas, também, escravos e seus senhores, tornando todos irmãos. Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 441-461) Os relacionamentos de Paulo com Timóteo, Tito e Filemon têm, obviamente, graus de intimidade distintos, porém as cartas exalam amor e cuidado com cada um deles na mesma intensidade. Aos jovens Timóteo e Tito, que estão na liderança de igrejas locais, Paulo dá conselhos sobre vida, caráter e doutrina que devem ser absorvidos por todos os líderes das igrejas cristãs. Mas, no bilhetinho que Paulo escreve a Filemon, hospedeiro e, provavelmente líder, da igreja na cidade de Colossos, contém um pedido que só pode ser feito a quem possui Cristo no coração e na consciência. Paulo pede que Filemon receba de volta um escravo que fugiu da sua casa, que o trate com a mesma dignidade que trataria o próprio Paulo (v. 17) e que lhe perdoe os prejuízos causados (v. 18, provavelmente roubo). É o bilhete do perdão radical. Uma linda lição de cristianismo. 3.3.3 Epístolas Não-Paulinas Vou chamar de epístolas não-paulinas aquelas escritas por Pedro, Tiago e Judas, bem como a epístola aos Hebreus. Excluo, também, as epístolas de 28 João, pois serão tratadas separadamente. Não é uma nomenclatura a que se deva nenhuma explicação, mas apenas uma forma de separar os livros do Novo Testamento. Esse conjunto de epístolas é especialmente diverso, dificilmente caberia dentro de qualquer outra classificação que tentassem lhe atribuir. O que podemos encontrar em comum entre elas? Muito pouco, mas, nessas epístolas, de maneira geral, o Senhor nos comunica a profunda mudança da relação entre Deus e a sua criação, ocorrida por ocasião do sacrifício de Cristo. Os temas centrais dessas epístolas estão ligados ao abandono da visão imperfeita da religião judaica e à aproximação com a plenitude de Deus em Cristo. Vamos conhecê-las melhor? Hebreus Conteúdo: uma “palavra de exortação” (Hb 13:22) enviada na forma de epístola, encorajando à perseverança fiel à luz da suprema palavra final que Deus falou por meio de Cristo. Receptores: um grupo desconhecido, mas específico de cristãos de origem judaica, por isso, chamados hebreus; não se sabe se esses cristãos estavam em Roma (13:24), mas, aparentemente, estavam cortando relações com a comunidade cristã mais ampla (10:25; 13:7,17) e, por esta razão, são exortados. Ocasião: a comunidade está desencorajada por causa do sofrimento (10:35-39), e talvez devido a dúvida quanto a se Jesus realmente resolveu o problema do pecado; o autor escreve para convencê-los: “não abram mão da confiança que vocês têm, ela será ricamente recompensada” (10:35, cf. 2:1 e 4:14). Ênfase: Deus pronunciou a sua palavra final absoluta por meio de seu Filho; abandonar a Cristo é abandonar a Deus completamente; Cristo é superior a tudo o que veio antes – a antiga revelação, seus mediadores angélicos, o primeiro xodó (Moisés e Josué) e todo o sistema sacerdotal; o povo de Deus pode ter plena confiança no Filho de Deus, o perfeito sumo sacerdote, que oferece a todas as pessoas o acesso imediato a Deus. Tiago Conteúdo: um tratado consistindo em uma série de pequenos ensaios morais, enfatizando a perseverança no sofrimento e a vida cristã responsável, com uma preocupação especial no sentido de que os cristãos pratiquem o que pregam e vivam em harmonia. Receptores: os fiéis em Cristo entre os judeus da Diáspora. Ocasião: desconhecida, mas o tratado mostra uma preocupação quanto à situação real nas igrejas, incluindo diversas provações, discórdias causadas por palavras duras e de julgamento e abuso dos pobres pelos ricos. Ênfase: a fé prática por parte dos cristãos; alegria e paciência em meio 29 às provocações; a natureza da verdadeira sabedoria (cristã); as atitudes dos ricos em relação aos pobres; o bom e o mau uso da língua. I Pedro Conteúdo: encorajamento aos cristãos passando por sofrimento, instruindo-os sobre como responder de maneira cristã aos perseguidores e exortando-os a viver uma vida digna do seu chamado. Receptores: aos cristãos da dispersão, nas cinco províncias da Ásia Menor (a Turquia moderna). Ocasião: provavelmente uma preocupação quanto ao surto de perseguição local que alguns cristãos recentes estavam experimentando como resultado direto de sua fé em Cristo. Ênfase: o sofrimento por causa da justiça não deve nos surpreender; os cristãos devem se submeter ao sofrimento injusto da mesma forma que Cristo se submeteu; Cristo sofreu em nosso favor para nos libertar do pecado; o povo de Deus deve viver de modo justo em todas as épocas, mas principalmente em face da hostilidade; a nossa esperança para o futuro se baseia na certeza da ressurreição de Cristo. II Pedro Conteúdo: um discurso de despedida enviado em forma epistolar, exortando ao crescimento e à perseverança dos cristãos no contexto de alguns falsos mestres que quanto negam a segunda vinda de Cristo como vivem descaradamente no pecado. Receptores: um grupo de cristãos desconhecido, mas específico. Ocasião: o desejo de firmar os leitores na fé e na vida santa e piedosa, e ao mesmo tempo de adverti-los quanto aos falsos mestres e seu modo de vida. Ênfase: interesse em que o povo de Deus cresça em santidade e a demonstre em sua vida; o julgamento inevitável dos falsos mestres devido à conduta pecaminosa deles; a certeza da vinda do Senhor, apesar da zombaria dos falsos mestres. Judas Conteúdo: uma carta pastoral de exortação, advertindo severamente acerca de alguns falsos mestres que “se infiltraram” entre eles. Receptores: desconhecidos, provavelmente uma congregação constituída predominantemente de cristãos judeus, em algum lugar na Palestina, bastante familiarizado com o Antigo Testamento e com a literatura apocalíptica judaica. Ocasião: uma ameaça apresentada por alguns ministros itinerantes que transformaram a graça em libertinagem e se introduziram entre eles com dissimulação. Ênfase: o julgamento inevitável daqueles que vivem de forma negligente e ensinam outros a fazer o mesmo; a importância da vida santa e piedosa; o amor de Deus pelos seus fieis e sua preservação deles. Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 462-487) A autoria de três dessas epístolas precisa de cuidados especiais, vamos entender melhor: a) a autoria da epístola de Tiago: a tradição nos informa de que o autor dessa epístola é mesmo o irmão de Jesus Cristo. Durante o ministério terrenos de Jesus, Tiago e seus irmãos não criam nele (Jo 7:5). Tiago provavelmente passou a crer depois que Jesus ressurreto apareceu a ele (I Co 15:7). Depois a 30 ascensão de Jesus, Tiago estava no cenáculo junto com os seus irmãos e os apóstolos (At 1:13-14). Ele assumiu a liderança da igreja em Jerusalém (At 12:17; 15:13) e foi reconhecido como líder da igreja (Gl 1:19; 2:9, 12) e até encontrou- se com Paulo para ouvir os seus relatos missionários (At 21:18). b) a autoria da carta aos Hebreus: embora haja uma insistência por parte de alguns leigos em afirmar que esta carta foi escrita por Paulo, é senso comum, entre os eruditos, que não foi. Já no ano 225 d.C. Orígenes,um dos pais da igreja, dizia que só Deus sabe quem escreveu esse texto. Obviamente, a única coisa que precisamos saber é que se trata de um material divinamente inspirado; c) a autoria da carta de Judas: para que não haja confusão, não é de Judas Iscariotes, o traidor. Esse Judas se apresenta humildemente como irmão de Tiago, portanto, estamos nos referindo a mais um irmão do próprio Jesus. 3.3.4 Demais escritos joaninos Além do evangelho, já comentado, João, também, escreveu três epístolas, ou cartas, e o livro de Apocalipse. Uma de suas principais características é o uso da experiência particular com Jesus e a ênfase no fato de que Ele é a Palavra encarnada (veja Jo 1:1-14; I Jo 1:4), que Ele é a Verdade (Jo 14:6; II Jo 1,2; III Jo 1) e que Ele voltará (Ap 1:1-3). As palavras emotivas, a abordagem mais sobrenatural e a ênfase nos relacionamento, também, são características joaninas. O Apocalipse é um escrito particularmente diferente de todos os outros da própria Bíblia. Ali, João registra uma mensagem recebida de Deus por meio oral e visual. Figuras estranhas, aterrorizantes mesmo, aparecem no livro que revela “aos seus servos o que em breve há de acontecer” (Ap 1:1). Amor descrito de forma quase poética e a mais espantosa profecia sobre a segunda vinda de Jesus são componentes marcantes dos escritos joaninos. I João Conteúdo: um tratado que oferece segurança a alguns cristãos específicos, encorajando-os a serem leais à fé e prática cristãs – em resposta a alguns 31 falsos profetas que deixaram a comunidade. Receptores: uma comunidade cristã, bem conhecida do autor, a quem ele se reporta como ‘filhinhos’. A tradição aponta para Éfeso. Ocasião: a apostasia dos falsos profetas e seus seguidores, que colocaram em questão a ortodoxia – tanto na fé quanto na prática – daqueles que permaneceram leais àquilo que remonta ao ‘princípio’. Ênfase: Jesus, que veio em carne, é o Filho de Deus; Jesus mostrou o amor de Deus por nós por meio de sua encarnação e crucificação; os verdadeiros cristãos amam uns aos outros assim como Deus os amou em Cristo; os filhos de Deus não pecam habitualmente, mas quando pecam, recebem o perdão; os cristãos podem ter plena confiança no Deus que os ama; porque cremos em Cristo, agora temos a vida eterna. II João Conteúdo: advertência contra os falsos mestres que negam a encarnação de Cristo. Receptores: veja I João Ocasião: a ‘senhora eleita’ é ou uma igreja local específica ou uma mulher que hospeda uma igreja na sua casa; ‘seus filhos’ são os membros da comunidade cristã. Ênfase: a mesma de I João. III João Conteúdo: a alegria de João em razão da fidelidade de Gaio, seu filho na fé. Receptores: Gaio, filho na fé de João, que vive em outra cidade. Ocasião: uma carta anterior à mesma igreja havia sido ridicularizada por Diótrefes, que, também, recusou hospitalidade aos amigos de João, além de excluir da igreja quem lhes desse guarita. Consequentemente, João escreve a Gaio, pedindo-lhe que receba Demétrio. Ênfase: as obrigações de hospitalidade cristã, especialmente para com os ministros itinerantes aprovados. Apocalipse Conteúdo: uma profecia cristã, apresentada na forma de epístola, tratando dos dias vindouros e trazendo os temas da grande tribulação (sofrimento) e do juízo que se abaterá sobre toda a terra. Receptores: igrejas da província romana da Ásia (atual Turquia). Ocasião: João escreve em meio a um clima politicamente tenso entre os cristãos e o Império Romano, advertindo que as coisas ainda iriam piorar muito antes de melhorar. Exortando e animando o povo para manter-se fiel a Jesus Cristo a pesar de todas as dificuldades. Ênfase: o controle absoluto de Deus sobre a história; o contraste entre o sofrimento terreno e a salvação garantida para todos os cristãos que perseveram; o julgamento de Deus virá sobre os responsáveis pelo sofrimento da Igreja; a restauração por parte do Senhor (Ap 21-22) de tudo aquilo que foi perdido ou distorcido no princípio (Gn 1-3). Adaptado de Fee & Stuart (2013, p. 488-518) A abordagem joanina, em todos os seus escritos, é fundamentalmente voltada para salvação e vida eterna. É nos escritos joaninos que encontramos a centralidade da missão de Jesus. João é o único que registra o diálogo do Messias com Nicodemos, em que Jesus declara que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3:16). 32 É João que reiteradas vezes registra as declarações mais veementes do Cristo sobre quem Ele é e o que veio fazer aqui: “eu vim para que tenham vida, e que a tenham plenamente” (Jo 10:10). As suas epístolas, definitivamente, têm teor confirmatório da mensagem do seu evangelho. E sua base está na certeza da vida eterna. João 20:31 I João 5:13 Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome. Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna. Nesses dois trechos, vemos que o propósito de João, tanto no evangelho quanto nas cartas é o mesmo: comunicar que todo aquele que crê já tem a vida eterna. Esse propósito não é distinto em Apocalipse, pois nele João anuncia aquilo que “em breve há de acontecer” (Ap 1:1). E que razão haveria para uma profecia sobre o fim dos tempos, se não para nos proteger do mal e nos guiar para a eternidade? CAPÍTULO IV – PANORAMA TEMÁTICO O tema dominante do Novo Testamento é a pessoa de Cristo apresentada como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6) e como a “luz do mundo” (Jo 8:12), vinda para guiar os nossos passos fora das trevas. Mas, na pessoa de Jesus, outros temas se tornam vivos no Novo Testamento, a salvação 33 pela fé, a perseverança como evidência da salvação e a expectativa do Dia Triunfal do Senhor. Esses temas estão permeando todo o Novo Testamento, não se encontram sistematizados nas Escrituras, pois eles emergem juntamente com vivência de Cristo e dos seus discípulos. Isso nos faz perceber os temas do Novo Testamento como ensinos totalmente entranhados no sentido e significado de nossas próprias vidas. Afinal, todas as profecias ali contidas estão diretamente vinculadas ao desenvolvimento do nosso caráter por meio da santificação (Fl 2:12). 4.1 Humanidade e divindade de Cristo O cristão deposita toda a sua esperança em Cristo, a salvação, a eternidade da alma, a vida comunitária baseada em justiça e amor, o fim do sofrimento terreno, o triunfo da vida sobre a morte; enfim, o cristão deposita muitas expectativas na pessoa de Jesus Cristo. Essas expectativas, evidentemente, só podem ser alcançadas se estivermos falando de Deus e não de um simples homem. Por outro lado, ao mesmo tempo, não podemos negar que Jesus Cristo foi plenamente humano, ele andou pela terra, viveu um tempo cronológico como qualquer um de nós, comeu, bebeu, sorriu, chorou e conviveu com pessoas. O fato, contudo, é que Jesus realizou uma obra que seria impossível a um homem que não fosse Deus e inacessível a um Deus que não fosse homem. Brunner (1950, p. 339), citado por Boice (2011, p. 231) diz: Somente quando eles [os discípulos] o entenderam como Senhor absoluto, a quem pertence a plena soberania divina, a Páscoa, como vitória, e a Paixão, como um fato da salvação, tornaram-se inteligíveis. Somente quando conheceram Jesus como o Senhor celestial do presente, entenderam-se como aqueles que teriam o seu quinhãono Reino messiânico como homens do novo, da Era messiânica. 34 A Páscoa como vitória, a que Brunner (1939) se refere, é a entrega do sacrifício único e perfeito que selaria toda a história cosmológica da obra divina sobre a terra. Era necessário que a mais perfeita auto revelação de Deus viesse em amor, pois essa é a sua essência (I Jo 4:8), para “dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10:45b), a saber, de todos os que creem (Jo 3:16). Assim, Cristo se revela como o que veio para “buscar e salvar os que estavam perdidos” (Lc 19:10). Fazendo da sua encarnação (Jo 1:14) o meio para que Ele pudesse ser, simultaneamente, o redentor e o sacrifício perfeito e inequívoco que tiraria o pecado do mundo (Jo 1:29). Vamos entender como Ele pode ser, ao mesmo tempo, homem e Deus. 4.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito Os evangelhos escritos por Mateus e Lucas iniciam a narrativa das boas novas de Cristo a partir do seu nascimento virginal, dando certa ênfase à genealogia de Cristo. A narrativa apresentada por Marcos ignora a infância do Senhor Jesus e já começa com o ensinamento moral do seu evangelho, convocando a todos, na voz de João Batista, para o arrependimento dos pecados. O quarto evangelho, narrado por João, surpreende por uma narrativa inteiramente voltada para o reconhecimento da natureza divina de Jesus e da espiritualidade da Sua obra, mas, considera fundamental a informação de que Cristo foi homem. Vejamos, então, quais os aspectos da humanidade de Cristo. a) Sua vida plenamente humana Jesus Cristo, como já mencionado, está nas listas das genealogias humanas (Mt 1:1-16; Lc 3:23-38). Excetuando-se a concepção divina, seu nascimento foi totalmente humano (Mt 1:25; Lc 2:7; Gl 4:4). Ele cresceu e se desenvolveu como qualquer pessoa (Lc 2:40-52; Hb 5:8). Ele apresentou as mesmas limitações que qualquer um de nós: cansaço (Jo 4:6); fome (Mt 21:18), sede (Mt 11:19). O sofrimento o afligiu como a qualquer outro ser humano (Mc 35 14:33-36; Lc 22:63; 23:33). Emocionou-se como qualquer um, demonstrando: tristeza (Mt 26:37); supresa (Lc 7:9); alegria (Lc 10:21), compaixão (Mt 9:36) e até ira (Mc 3:5). E a última prova de sua vida plenamente humana é o fato de ele ter padecido em virtude de armas e de torturas humanas (Lc 22:44; Jo 19:33). b) Sua vida de devoção ao Pai Outra evidência da plena humanidade de Cristo é que Ele estudou, meditou e explicou as Escrituras (Mt 4:4; 19:4; Lc 2:46; 24:47). Ele orava publicamente (Lc 3:21) e participava das cerimônias públicas de adoração (Lc 4:16). Apresentava-se ao Pai na sua devoção íntima e pessoal (Lc 6:12). c) Seu conhecimento limitado Apesar de sua superioridade em relação à sabedoria de qualquer ser humano (Jo 1:47; 4:29; Lc 6:8; 9:47) e de ser um exímio conhecedor das Escrituras (Mt 22:29; 26:54,56; Lc 4:21ss; 24:27, 44ss), Jesus Cristo tinha limitações de conhecimento (Mc 5:30ss; 6:38; 9:21; Lc 2:46; Mc 13:22). d) Suas tentações Apesar de jamais haver pecado, Cristo foi tentado em todas as coisas, assim como qualquer um de nós (Hb 4:15). Mas, em tudo, é preciso ressaltar, Jesus jamais pecou, apesar de ser plenamente humano. Ele foi o substituto perfeito de Adão, o primeiro homem, que introduziu o pecado no mundo (Rm 5). Ele nunca sucumbiu à depravação moral oriunda da Queda (Hb 4:15; 7:26; II Co 5:21). Por isso, Ele foi o sacrifício perfeito, o único que poderia tirar o pecado do mundo (Jo 1:29), levar sobre si as nossas culpas (Is 53), trazendo-nos a paz que era impossível por meio da nossa fragilidade humana (Ef 2). 36 4.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor As Escrituras também nos revelam a divindade de Cristo. Mostrando que além de sacrifício perfeito, Ele foi um soberano que teve a ousadia de sofrer como um servo por seu povo. As Escrituras apresentam a sua divindade da seguinte forma: a) Os milagres de Cristo Os milagres de Cristo, considerando apenas os que foram narrados no Novo Testamento - pois muitos não foram escritos (Jo 21:25)- tomariam muito espaço aqui. Mas, a sua concepção divina (Mt 1:20; Lc 1:34, 35) e a sua ressurreição testemunhada por muitos (Atos 1:3; veja Lucas 24:36-43) são provas inquestionáveis da divindade e de Cristo. b) As palavras de Cristo sobre a sua própria divindade Severa (2010, p. 231) ensina: o próprio Cristo tinha consciência da sua divindade. Ele mesmo se iguala ao Pai na vida (Jo 5:26), na honra (Jo 5:23), na glória (Jo 17:5), na eternidade (Jo 8:58), no nome (Jo 8:24), na fórmula batismal (Mt 28:19). Ele declara sua união com o Pai (Jo 5:18; 10:33, 38). Portanto, não foram só os discípulos que creram ser Jesus o Filho de Deus. O próprio Cristo sabia da sua natureza divina. c) Jesus tinha os atributos divinos Severa (2010, p. 231-232), também, nos lembra que: Jesus Cristo exerce atribuições que só cabem à divindade. Ele tem autoridade para perdoar pecados (Mc 2:10), tem autoridade sobre o sábado (Mc 2:28); sobre a vida dos homens (Mt 16:24-26), e tem poder para salvar os homens dos seus pecados (Mt 1:21; Jo 8:34-36). 37 Estas são algumas das demonstrações de que, segundo a Bíblia, Jesus realmente é Deus. Mesmo dotado de tamanho poder, Ele “embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fl 2:6-8). 4.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível A dupla natureza de Cristo é fruto da encarnação. Quando “aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” (Jo 1:14a), o mundo mudou eternamente e a própria concepção de história foi alterada, pois a eternidade ganhou, definitivamente, espaço na vida cotidiana. Assim, “vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14b). Desta forma, a encarnação e a imagem de Deus se revelam de maneira única na pessoa de Cristo, que tornou a nossa salvação possível por meio da sua entrega e nos deu pleno acesso ao Pai, quando nos ensinou a orar em seu nome. Ele nos deu o sacerdócio santo (I Pe 2:9). 4.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos12 A expressão grega basileia tou~ Qeou~ (basileia tou Theo) diz respeito ao governo, ou domínio, absoluto de Deus sobre todas as coisas. Um reino que estende por todo o céu e por toda a terra. Quando ouvimos falar de algo assim, pensamos sobre a forma como o Senhor vai comandar tudo isso e que grande exército Ele vai convocar. Mas, estranhamente, o Senhor tem convocado um exército bastante diferente do que se imaginava. De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando. Simão e seus 12 Adaptado do livro: GIRARD, R. C. & RICHARDS, L. Guia fácil para entender a vida de Jesus. Ed. Thomas Nelson Brasil: Rio de Janeiro, 2013. 38 companheiros foram procurá-lo e, ao encontrá-lo, disseram: "Todos estão te procurando!" Jesus respondeu:
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