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C AS CONDIÇÕES SÓCIO- HISTÓRICAS DO SURGIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL MODERNA Psicologia Social II As raízes da Psicologia Social Moderna – Robert Farr A flor e suas raízes: “Embora as raízes da psicologia social possam ser encontradas no solo intelectual de toda a tradição ocidental, seu atual florescimento é reconhecido como sendo um fenômeno caracteristicamente americano.” – Gordon Allport (1954) As raízes da Psicologia Social Moderna – Robert Farr Formação da Psicologia Social moderna após a 2ªGGM – tanto na Europa quanto nos EUA. O Behaviorismo não é mais a força dominante, mas o positivismo, como a filosofia da ciência, continua a influenciar a historiografia tanto da Psicologia como da Psicologia Social. Psicologia Social Moderna 1954 – início da Psicologia Social Moderna: impulso para o desenvolvimento da Psicologia Social – pesquisas sociais sobre a participação dos soldados na guerra: 1) Propiciou um modelo para o desenvolvimento de programas de doutorados interdisciplinares em Psicologia Social no período pós-guerra. 2) Formação de grupos de pesquisa que continuam a colaborar além do pós 2ªGGM – COMUNICAÇÃO E MUDANÇA DE ATITUDE. As raízes da Psicologia Social Moderna – Robert Farr 1945 – Lewin cria o Centro de Pesquisa para Dinâmica de Grupo: desenvolvimento de uma Psicologia Social Cognitiva. A Psicologia Social, na Era Moderna, é caracteristicamente um fenômeno americano – a contribuição europeia acontece com o surgimento do Nazismo e antissemitismo – muitos intelectuais migram para a américa. As raízes da Psicologia Social Moderna – Robert Farr Explicação mais etnocêntrica da Psicologia Social Moderna que apoiada pelos fatos históricos: as raízes são vistas como europeias e as flores como especificamente americanas. As raízes da Psicologia Social Moderna – Robert Farr Migração dos psicólogos da Gestalt da Áustria e da Alemanha para a América. As raízes da Psicologia Social Moderna devem ser buscadas na fenomenologia, diferente do positivismo que tinha se estabelecido na América na forma do Behaviorismo no período entre guerras mundiais. Foi do conflito entre duas filosofias rivais, mas incompatíveis (fenomenologia e positivismo) que a Psicologia Social emergiu na América. As raízes da Psicologia Social Moderna – Robert Farr A Ciência Cognitiva (não humana) surgiu da colaboração, durante a guerra, entre psicólogos, engenheiros de telecomunicações e cientistas da computação. Principal produto do pós-guerra: teoria da informação. A Psicologia Cognitiva (humana) deriva de uma perspectiva fenomenológica do mundo, o modo de comunicação é interpessoal, isto é, social. A linguagem é especificamente humana. EUA Forma Psicológica de Psicologia Social Uma forma de Psicologia Cognitiva diferente de Ciência Cognitiva: suas raízes são distintas diferentes das formas sociológicas de Psicologia Social. Durante o período moderno o modelo dominante de exportação foi a forma de Psicologia Social Psicológica e não a forma Sociológica. Após a 2ªGGM os EUA ajudaram a reerguer as Universidades do Japão e da Alemanha. EUROPA Tradições de pesquisa em Psicologia Social: duas mais influentes. 1) Teoria de Identidade Social – Tajfel (+psicológica) 2) Teoria das Representações Sociais – Moscovici (+sociológica) A primeira mais ligada a Psicologia Social Americana do que segunda. EUROPA A Teoria de Identidade Social de Tajfel se constitui em uma contribuição significativa a uma Psicologia Social já altamente cognitiva – contribuição para a individualização do social, mais do que para a socialização do indivíduo. EUROPA A Teoria das Representações Sociais de Moscovici foi influenciada por Durkheim, uma tradição francesa de pesquisa em Psicologia Social – forma Sociológica de Psicologia Social e não como uma forma Psicológica. Surge como uma importante crítica sobre a natureza individual da tradição psicológica dominante da Psicologia Social no EUA. A pesquisa em Representações Sociais é um diálogo multilíngue. Há um aumento no intercâmbio transatlântico. EUROPA – AMERICA DO SUL CANADÁ Os canadenses perceberam a falta de diálogo nos EUA entre as formas sociológicas e psicológicas de Psicologia Social. A importância da linguagem e da cultura como fenômenos sociais. Trouxeram contribuições importantes para a teoria das Representações Sociais, especialmente no que concerne à maneira como ela se relaciona com os meios de comunicação em massa. O Positivismo na História e Historiografia da Psicologia Social A transmissão da Psicologia Social se deu por meio dos manuais de pós-graduação. O papel do Positivismo na conformação das explicações históricas que nós temos atualmente disponíveis na Psicologia Social moderna. O Positivismo na História e Historiografia da Psicologia Social Jones X Allport O primeiro se limitou a analisar a história da Psicologia Social dos EUA. O segundo propõe que a Psicologia Social Moderna é caracteristicamente um fenômeno estadunidense. O Positivismo na História e Historiografia da Psicologia Social Jones X Allport • Jones traça o desenvolvimento da Psicologia Social como uma subdisciplina da Psicologia. Crê que as formas sociais de Psicologia Social são menos científicas que a tradição americana de Psicologia Social. Cobre a curta história, desde que tornou ciência experimental. •Allport cobre o passado metafísico da Psicologia Social, defendendo-a como uma ciência social. •Ambos fundamentam suas explicações históricas em termos de uma filosofia positivista de ciência. O Positivismo na História e Historiografia da Psicologia Social Farr aponta que devemos incluir as formas sociológicas, bem como psicológicas, de Psicologia Social. As raízes da Psicologia Social são tratadas separadas de sua flor. As raízes da Psicologia Social moderna jazem em solo intelectual de toda tradição ocidental. Não é sábio separar o passado de uma disciplina de seu presente. O passado é sempre reconstruído da perspectiva do presente. Não há um fim nesse processo. O Positivismo na História e Historiografia da Psicologia Social Farr compartilha a crença de Jones e Allport de que a era moderna da Psicologia Social iniciou no fim da 2ªGGM. O seu interesse se liga à história das instituições e não à história das ideias. O seu interesse está nos fundamentos históricos da Psicologia Social Moderna. O positivismo é uma força importante dentro e sobre a história da Psicologia Social. O behaviorismo é a forma que ele assumiu na história da Psicologia Social. A Psicologia Social no Brasil Até meados da década de 1970 a Psicologia teve forte influencia da Psicologia Americana, tendo como objetivo o estudo do comportamento na presença do outro. Porém durante o período de governos militares na América do Sul, com a grande movimentação de intelectuais devido ao exílio, abriu-se as portas para a entrada do pensamento marxista. Maior organização social para combater a Ditadura. A Psicologia Social no Brasil - ABRAPSO A ABRAPSO era uma proposta que buscava fortalecer a organização dos psicólogos ligados a Psicologia Social, apareceu como uma possibilidade de rompimento com a Psicologia Social Americana e europeia. Era preciso rever, criticamente, o conhecimento científico como práxis, ou seja, a unidade entre saber e fazer. A Psicologia Social no Brasil A ideia de uma Psicologia Social crítica e comprometida com a realidade brasileira. PsicologiaSocial com orientação marxista. Aprender com o individuo como um ser concreto, como manifestação de totalidade histórico-social. Era fundamental rever a Psicologia Social concebendo uma nova visão de ser humano – produto de sua materialidade histórica e ao mesmo tempo produtor dessa mesma história. A Psicologia Social no Brasil O marxismo trouxe uma nova visão de homem que constitui historicamente, por meio da transformação da natureza, de forma consciente, para garantir a produção de sua existência. E ao produzir bens materiais de forma consciente, produz também o campo simbólico – produz ideias. A Psicologia Social no Brasil Homem • Ser ativo • Social • Histórico Sociedade – produção histórica dos homens. Ideias – representações da realidade material – movimento contraditório constante do fazer humano, no qual deve ser compreendida toda produção de ideias, incluindo a ciência e a também a Psicologia. NOVAS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL: PERSPECTIVAS TEÓRICAS PSICOLOGIA SOCIAL II NOVAS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Essas novas abordagens procuram superar as críticas e limitações da psicologia social que se fundamentava em descrever, observar e medir encontros sociais, privilegiando as interações e a adequação de comportamentos dos indivíduos no ambiente social, tema que foi objeto de estudo da disciplina psicologia social I. As novas abordagens traçam uma trajetória voltando sua atenção para a interface da ciência com o contexto social em que o indivíduo está inserido, e a interdisciplinaridade com as outras ciências que tratam do homem em seus diferentes contextos sociais. NOVAS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Adota posição mais crítica à realidade social e à construção da ciência para a transformação da sociedade; Área da Psicologia que procura aprofundar o conhecimento da natureza social do fenômeno psíquico, ou seja, como se dá a construção do mundo interno do sujeito a partir das relações sociais vividas pelo homem; Pretende ir além do observável. Quer compreender o mundo invisível do homem; NOVAS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Entende o homem como ser de relações sociais, em permanente movimento; Psicologia compreensiva ou explicativa da relação que o indivíduo mantém com a sociedade e os processos subjetivos que ocorrem nessa relação; Baseada em concepção de homem como ser social, que constrói a si próprio, ao mesmo tempo que constrói, com os outros homens, a sociedade e sua história; Ciência comprometida com a transformação. NOVAS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Vertentes estudadas: Representações Sociais & Psicologia Crítica Temas tratados: Identidade; Ideologia; Gênero; Família; Subjetividade. Áreas de aplicação: Movimentos Sociais; Escolas; Saúde do Trabalhador; Promoção de Saúde e Cidadania; Assistência Social NOVAS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA SOCIAL Se o positivismo, ao enfrentar a contradição entre objetividade e subjetividade, perdeu o ser humano, produto e produtor da História, se tornou necessário recuperar o subjetivismo enquanto materialidade psicológica. É dentro do materialismo histórico e da lógica dialética que vamos encontrar os pressupostos epistemológicos para a reconstrução de um conhecimento que atenda a realidade social e ao cotidiano de cada indivíduo e que permita uma intervenção efetiva na rede de relações sociais que define cada indivíduo – objeto da Psicologia Social. E a abordagem para esta perspectiva é a Sócio-Histórica – Vygotsky. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA A perspectiva da psicologia sócio-histórica fundamentada na concepção histórico-cultural de Vygotsky (1896-1934) revela a possibilidade de delinear uma psicologia social diferenciando-a das demais correntes teóricas da psicologia. É imbuída de uma intenção crítica fundamentada por sua origem, gênese epistemológica, na teoria marxista e o filosófico materialismo histórico e dialético: concepção filosófica que discute, critica e defende a relação mútua entre o organismo, o ambiente e os fenômenos físicos que moldam os comportamentos, a sociedade e a cultura; opondo-se a visão filosófica do idealismo que atribui a forças divinas e sobrenaturais aos eventos socioambientais. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA “Toda a natureza, de suas partículas mais minúsculas até seus corpos mais gigantescos, do grão de areia até o sol, do protozoário até o homem, se acha em estado perene de nascimento e morte, em fluxo constante, sujeita a incessantes mudanças e movimentos." (ENGELS, 1979, p. 491). ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA A concepção filosófica proposta pelo materialismo dialético é aplicada por Marx e Engels na explicação das transformações políticas e sociais oriundas do sistema capitalista, que tem entre seus fatos históricos fundamentais a ascensão da burguesia, que promoveu uma mudança social, política e econômica na condição humana de estar no mundo, possibilitando a liberdade de ação dos indivíduos nas transformações da realidade social. A liberdade na transformação da realidade social acarreta também mudanças nas relações entre as pessoas, nos conceitos de coletivo e privado, implicando segundo o materialismo histórico dialético um novo modelo de sociedade. Sociedade esta em que o que é material, econômico está presente no ambiente, na construção psicológica do indivíduo e nas relações sociais. Vygotsky, alicerçado na teoria marxista e no materialismo histórico e dialético, elabora suas convicções teóricas apontando para o contexto social como um elemento preponderante na produção científica da psicologia. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA O materialismo histórico de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) metodologicamente investiga a sociedade nos seus aspectos econômicos e históricos. A concepção filosófica do materialismo dialético postula que o organismo, os fenômenos físicos e o ambiente são mutualmente modeladores da sociedade e da cultura, isto é, existe uma relação dialética entre a matéria, o psicológico e o social. Como aponta em Contribuição à crítica da economia política: "Não é a consciência do homem que determina a sua existência, mas, ao contrário, sua existência social é que determina a sua consciência.“ (MARX, 1978, p. 339). Quanto à psicologia, Vygotsky concebe o homem como produto histórico e social de seu tempo, e a sociedade é o resultado da produção histórica do homem por meio do trabalho, que constrói a vida material e as ideias. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA As representações da realidade material e a própria realidade material se retroalimentam do processo histórico, da diversidade humana, das peculiaridades e do dinamismo na produção de novas convicções e das ciências, em que a psicologia é parte integrante desse contexto. Nessas circunstâncias, a visão do fenômeno psicológico como algo abstrato é abandonada e criticada. O liberalismo, componente histórico e ideológico do sistema capitalista, fruto da ascensão da burguesia, opõe-se em que o homem era sujeito a uma hierarquia universal estabelecida pela ordem suprema do divino. O homem da nova ordem social, liberal, capitalista é um sujeito, com sua individualidade valorizada pelo sistema e não mais um sujeito subordinado a doutrinas e dogmas religiosos impostos por uma hierarquia que determinava seus valores. Um dos aspectos críticos da psicologia, é que para este homem de “valores que lhe foram impostos”, não precisava psicologia. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA Por outro lado, o homem da “nova ordem”, capitalista, liberal, é um “ser” livre,cuja moral é dotada de direitos oriundos de sua natureza humana, com igualdade de direitos à prosperidade, segurança, liberdade e fraternidade, e em seu exercício de individualidade, a psicologia se faz importante. O sistema capitalista se abastecia deste novo homem, “ser produtivo e consumidor”, que vislumbrava as possibilidades de “ser”, “pensar” e “fazer”, a consciência da “escolha” é parte da condição humana. O mundo em seu constante movimento começa a instituir a ideia de “privacidade”, e este homem que é parte de uma coletividade passa por mudanças que se impõem em todos os campos humanos. Por exemplo, na arquitetura constroem-se lugares reservados, distinguindo-os do que é público, estabelecendo diferenças como “a casa é da família” e em seu interior há locais íntimos e privados, “a rua é pública”, “fábrica é o local de trabalho”; cada objeto ganha sua própria identidade, sua marca, delimitando o que é público e o que é privado, o que é individual e o que é coletivo. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA A individualidade é um “bem” do sistema capitalista, e o homem em sua individuação apropria-se da ideia de “mundo interno do sujeito” e do sentimento de EU. A história conduz à necessidade de uma ciência que investigue os fenômenos psicológicos, eis a psicologia. Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Ora é processo, ora é estrutura, ora manifestação, ora relação, ora é conteúdo, ora é distúrbio, ora experiência. É interno, mas tem relação com o externo. É biológico, é psíquico e é social; É agente e é resultado; É fenômeno humano, relacionado ao que denominamos “eu”. ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA Buscar entender o fenômeno psicológico é uma investigação da ciência psicologia. Considerando o contexto da história da humanidade, a proposta da psicologia sócio-histórica é constantemente atualizada, pois sua essência crítica é abastecida pelo dinamismo da historicidade, que produz fenômenos de múltiplas dimensões, diariamente capazes de mudar o ser e o estar no mundo. Entretanto cabe ressaltar, que segundo a concepção de Vygotsky, a reflexão permanece, o homem é um produto sócio, histórico e cultural de seu tempo, e como tal, é preciso que a ciência tenha um olhar crítico atento às transformações sociais que demandam diferentes fenômenos individuais e coletivos em diferentes grupos humanos. TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Psicologia Social II SERGE MOSCOVICI • Psicólogo Social, judeu de origem romena, pai do político Pierre Moscovici, Serge sofreu com o nazismo e o combateu, tendo sido posto em trabalhos forçados durante a II Guerra Mundial. Autodidata em francês, emigrou para Paris, onde se licenciou em Psicologia em 1949, e publicou em 1961 o livro "La Psychanalyse, son image et son public", resultado de sua tese sobre a representação social da Psicanálise. • Foi diretor do Laboratório de Psicologia Social da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), fundador do Laboratório Europeu de Psicologia Social da Maison des Sciences de L'Homme e figura central do movimento transnacional de criação da Psicologia Social, história que pode ser conhecida no livro que ele publicou com Ivana Marková, "The making of modern Social Psychology: the hidden story of how an international social science was created". 2 1925 - 2014 CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL • De que ordem é o saber que norteia nossas escolhas e nossas ações? • Quando fazemos escolhas ou praticamos determinadas ações, somos motivados por questões lógicas, racionais ou cognitivas e também por questões afetivas, simbólicas, míticas ou religiosas. • Estes motivos decorrem dos “saberes” que construímos a partir de processos mentais carregados de sentido simbólico. Eles são originados nas trocas do dia-a-dia. 3 “A um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana, no curso das comunicações interpessoais, e que expressam a identidade do grupo social, chamamos representações sociais. Elas surgem da interligação entre cognição, afeto e ação.” CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL 4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • O conceito de representações sociais teve sua origem na sociologia de Émile Durkheim (1858-1917), que sob a influência do positivismo, dedicou sua produção acadêmica a uma sociologia que investigava por meio do método científico e da observação empírica os fatos sociais, conceituando-os como “coisa”, força/pressão coerciva exercida sobre os indivíduos que transformam comportamentos singulares em comportamentos sociais, coletivos. “Um fato social reconhece-se pelo seu poder de coação externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder reconhece-se, por sua vez, pela existência de uma sanção determinada ou pela resistência que o fato opõe a qualquer iniciativa individual que tenda a violentá-lo.” (DURKHEIM, 1895, 2007, p. 10). 5 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • As contribuições de Durkheim foram referenciais para Moscovici, a partir da década de 1960 e Denise Jodelet, contemporaneamente. • A teoria das representações sociais de Moscovici com a publicação de A psicanálise, sua imagem e seu público, em 1961, indica um conjunto de conhecimentos, crenças e valores comuns entre indivíduos que interagem e constroem uma realidade, cuja experiência, permite posicionamentos individuais, embora seja fruto de um conhecimento compartilhado pelo grupo. 6 O ATO DE REPRESENTAR ENVOLVE CINCO CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS: 1. Representa sempre um objeto. Faz referência a alguém ou a alguma coisa; 2. É imagem. Com isso pode alterar a sensação e a ideia, a percepção e o conceito; 3. Tem um caráter eminentemente simbólico; 4. Tem poder ativo e construtivo; 5. Possui um caráter autônomo e generativo. 7 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • Por meio do estudo da Teoria das Representações Sociais podemos compreender e mapear o campo de significações que define como um determinado objeto foi representado no registro das experiências simbólicas de um determinado grupo social. • O saber do senso comum, tão desprezado pela Ciência, ganhou novo tratamento a partir do surgimento da Teoria das Representações Sociais. • RS – forma de criação coletiva; sentido dinâmico; forma de conhecimento prático, conectando um sujeito a um objeto; são sempre um produto de integração e comunicação. 8 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS “As Representações Sociais são , então, „teorias‟ sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas espontaneamente e partilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar dados reais antes incompreensíveis. São dinâmicas e levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio. Seus ingredientes são cognição, afeto ação.” • Um sistema de valores, ideias e práticas com uma dupla função: primeiro estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controla-lo, segundo possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu mundo e de sua história individual e social. 9 O CORPO DE ESTUDOS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 10 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • Muitas vezes não nos damos conta de nossos „saberes‟ porque eles são compostos por elementos fortemente impregnados de afeto e simbolismo. • É por intermédio do estudo das R.S. que podemos compreender e identificar como tais saberes atuamna motivação das pessoas ao fazerem suas escolhas (comprar, votar, agir, etc.). • O papel da Psicologia Social é estudar as Representações Sociais, suas propriedades, suas origens e seu impacto. • A representação iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem. 11 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS É VERSÁTIL E PODE SER ATRELADO A TRÊS POSTULADOS: 1) É um conceito abrangente e compreende outros conceitos, atitudes, opiniões, imagens e ramos do conhecimento; 2) Possui poder explanatório: não substitui, mas incorpora os conceitos, indo mais a fundo na explicação causal dos fenômenos; 3) A Teoria das Representações Sociais é constituída pelo elemento social. O ser humano é aqui entendido como essencialmente social. Segundo ela, o social é coletivamente edificado e o ser humano é construído através do social. 12 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • Isto significa que a Teoria das Representações Sociais é abrangente e dinâmica. Pode nos ajudar a entender as várias dimensões da realidade. Por isso as representações sociais são um valioso e imprescindível instrumento no campo da Psicologia Social. • Criamos as representações sociais, ou seja, construímos estes saberes espontâneos para tornar familiar o que não é familiar, para trazer para o senso comum assuntos “estranhos”. • O senso comum rejeita o estranho e o diferente. Para assimilação do não familiar, dois processos básicos são geradores das representações sociais: ancoragem e objetivação. 13 ANCORAGEM • A ancoragem é o processo pelo qual procuramos classificar, encontrar um lugar para encaixar o não familiar. • Como o estranho é percebido como ameaçador, precisamos encaixá-lo em categorias internas e por nós já conhecidas, ou seja, em uma realidade conhecida e institucionalizada. • Ancorar é classificar e dar nome a alguma coisa. 14 ANCORAGEM • Quando nós classificamos, nós sempre fazemos comparações com um protótipo, sempre nos perguntamos se o objeto comparado é normal ou anormal, em relação a ele e tentamos responder a questão: “É ele como deve ser ou não?” • Classificar e dar nomes são dois aspectos dessa ancoragem, teoria das RS traz duas consequências: 1) Ela exclui a ideia de pensamento ou percepção que não possua ancoragem. 2) Sistemas de classificação e de nomeação não são, simplesmente, meios de graduar e de rotular pessoas ou objetos considerados como entidades discretas. Seu objetivo principal é facilitar a interpretação de características, a compreensão de intenções e motivos subjacentes à ações das pessoas, na realidade, formar opiniões. 15 ANCORAGEM • Mesmo quando algo não se encaixa exatamente a um modelo conhecido, nós o forçamos a assumir determinada forma, ou o forçamos a entrar em determinada categoria, sob pena de não poder ser decodificado. Um exemplo deste processo ocorreu no início da década de 1980 com o surgimento da AIDS. • Por ser uma doença fatal e pouco compreendida até mesmo no meio científico, passou a ser comparada a uma forma de câncer que se manifestava sobretudo em homoafetivos. Ganhou, então, o apelido de “câncer gay”. Ainda que tal denominação tenha gerado enganos e preconceitos, foi deste modo que a AIDS entrou no universo simbólico do mundo ocidental na década de 1980. 16 OBJETIVAÇÃO • A objetivação é o processo pelo qual procuramos tornar concreta, visível, uma realidade. Procuramos aliar um conceito com uma imagem, descobrir a qualidade icônica, material, de uma ideia ou de algo duvidoso. • A imagem deixa de ser signo (significante + significado) e passa a ser uma cópia da realidade. • Une a ideia de não-familiaridade com a realidade, torna-se a verdadeira essência da realidade; transforma-se uma representação na realidade da representação. • Transformar a palavra que substitui a coisa, na coisa que substitui a palavra. • Objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma ideia, ou ser impreciso. É reproduzir um conceito em uma imagem. 17 OBJETIVAÇÃO • Serge Moscovici exemplifica o processo de objetivação: ao ser chamar Deus de “pai”, objetiva-se a ideia abstrata de Deus numa imagem conhecida (pai). Isso proporciona uma compreensão mais concreta do que seja “Deus”. 18 ANCORAGEM E OBJETIVAÇÃO • A ancoragem e a objetivação são formas específicas em que as Representações Sociais estabelecem mediações, trazendo para um nível quase material (concreto) a produção simbólica de uma comunidade e dando conta do caráter concreto das R.S. na vida social. • São, pois, maneiras de lidar com memória. A ancoragem mantem a memória em movimento e a memória é dirigida para dentro, está sempre colocando e tirando objetos, pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo com tipo e os rotula com um nome. A objetivação, sendo mais ou menos direcionada para fora (para os outros), tira daí conceitos e imagens para juntá-los e reproduzi-los no mundo exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já conhecido. • As R.S. emergem como processo que ao mesmo tempo desafia e reproduz, repete e supera, que é formado, mas que também forma a vida social de uma comunidade. 19 20 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • As Representações Sociais são formas de conhecimento prático e inserem-se entre as correntes que estudam o conhecimento do senso comum. • Trata-se de uma ampliação do olhar, de modo a ver o senso comum como conhecimento legítimo e motor de transformações sociais. • O senso comum passa a ser tratado enquanto teia de significações capaz de criar efetivamente a realidade social. 21 • O sujeito da elaboração das Representações Sociais é um sujeito adulto, inscrito numa situação social e cultural definida, tendo uma história pessoal e social. Ou seja, é um sujeito concreto, que existe. “Não é um indivíduo isolado que é tomado em consideração, mas sim as respostas individuais enquanto manifestações de tendências do grupo de pertença ou de afiliação do qual os indivíduos participam.” 22 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS “As Representações Sociais são, ao mesmo tempo, campos socialmente estruturados e expressão da realidade intraindividual que exterioriza o afeto e revela poder de criação e de transformação da realidade social. As Representações Sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos, mentais e sociais que integram cognição, linguagem e comunicação às relações sociais.” 23 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS METODOLOGIA • A análise das Representações Sociais deve concentrar-se naqueles processos de comunicação e vida que não somente as produzem, mas que também lhe conferem uma estrutura peculiar. Esses processos são de mediação social. • Comunicação é mediação entre um mundo de perspectivas diferentes; trabalho é mediação entre necessidades humanas e é material bruto da natureza; ritos, mitos, símbolos são mediações entre a alteridade de um mundo frequentemente misterioso e o mundo da intersubjetividade humana. 24 • Todos revelam a procura de sentido e significado que marca a existência humana no mundo. • As mediações geram as Representações Sociais, que são estratégias desenvolvidas por atores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de um mundo que, embora pertença a todos, transcende a cada um individualmente. 25 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • As Representações Sociais são um espaço potencial de fabricação comum, onde cada sujeito vai além de sua própria individualidade para entrar em domínio diferente, ainda que fundamentalmente relacionado: o domínio da vidacomum. • As Representações Sociais surgem por meio de mediações sociais e são, elas próprias, mediações sociais. 26 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • Como as Representações Sociais são “teorias” do senso comum, as técnicas de análise empregadas em seu estudo procuram desvendar a associação de ideias aí subjacentes, ou seja, mapear o campo de significações que um determinado grupo social construiu acerca de um objeto. • Aqui são possíveis diferentes vertentes analíticas com diferentes exigências formais quanto ao número de sujeitos necessários para efetuar as operações estatísticas. 27 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • A análise pode ser feita por meio de programas de análise multifatorial (computador) ou à mão. • Utilizando metodologia quantitativa ganha-se visibilidade do consenso e das permanências e diversidades, graças à agregação de casos. • Utilizando metodologia qualitativa preserva-se a lógica intrínseca da construção das Representações Sociais, mas perde-se a visão de conjunto. • Qualquer que seja a opção metodológica, ela está pautada nas necessidades específicas do objeto de pesquisa em Representações Sociais e em critérios de construção do conhecimento (epistemológicos). 28 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS O SURGIMENTO DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • Na década de 1950 a prática da psicanálise apresentava expressiva penetração na sociedade francesa. • Serge Moscovici estudou, então, os saberes que tal sociedade havia construído acerca das ideias e da prática da psicanálise. • A partir deste estudo, lançou as bases para a iniciação da Teoria das Representações Sociais. 29 • Moscovici inspirou-se nos conceitos de representação coletiva da Sociologia, proposto por Durkheim, e da Antrolpologia, proposto por Lévi-Bruhl. • Para Moscovici, a lacuna essencial da maioria das outras teorias em Psicologia Social é que elas negligenciam a produção de conhecimento e o pensamento dos antropólogos, o que implica em ingenuidade e superficialidade para a produção em Psicologia Social. 30 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • A Teoria das Representações Sociais conduz um modo de olhar a Psicologia Social que exige a manutenção de um laço estreito entre as ciências psicológicas e sociais. • É a partir das conversações que se elaboram os saberes populares e do senso comum. • São estes os fenômenos sociais que nos permitem identificar de maneira concreta as representações e trabalhar com elas. 31 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS •Não apenas as conversações do senso comum expressam as representações sociais. •Elas também podem ser encontradas, sob outras formas, nas ciências, nas religiões, nas ideologias e em outras circunstâncias. 32 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • O saber do senso comum e os saberes populares passaram a ser considerados como fenômenos sociais que permitem identificar de maneira concreta as representações e de trabalhar sobre elas. • Considerado válido e conhecimento legítimo e útil, o saber do senso comum torna possível o entendimento dos processos de decisão e para as práticas dos grupos sociais. 33 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS • Para a Psicologia Social, a iniciação da Teoria das Representações Sociais significou um marco fundamental, a partir do qual as ciências psicológicas passaram a estabelecer estreitos laços com as ciências sociais. • É um teoria complexa e elástica, que pode atender a inúmeras demandas da Psicologia Social. 34 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS IDENTIDADE Psicologia Social II 2 QUEM É VOCÊ? •Como você se mostra para as pessoas? •O que você não mostra ou o que não gostaria de mostrar? •O que você faz ou é apenas para agradar? •O que você não conhece em você? 3 IDENTIDADE •Todas essas respostas fazem parte de quem você é. •Para compreender o processo de produção do sujeito, que lhe permite apresentar-se ao mundo e reconhecer- se como alguém único, a Psicologia construiu o conceito de identidade. 4 IDENTIDADE Para o antropólogo Carlos R. Brandão, identidade explica o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu, de uma realidade individual que torna cada um de nós um sujeito único diante dos outros eus; 5 IDENTIDADE •E é, ao mesmo tempo, o reconhecimento individual dessa exclusividade: a consciência de uma continuidade em mim mesmo. •É em relação ao outro que nos constituímos e nos reconhecemos como sujeito único. 6 IDENTIDADE •Para o psicanalista André Green, o conceito de identidade agrupa várias ideias, como a noção de permanência, de manutenção de pontos de referência que não mudam com o passar do tempo, como o nome de uma pessoa, suas relações de parentesco, sua nacionalidade – aspectos que geralmente não mudam. •Identidade permite a distinção de uma unidade e o reconhecimento de si. 7 IDENTIDADE •O reconhecimento do eu e a diferenciação do outro; •O primeiro outro: a mãe; •Identificação: processo por meio do qual elegemos pessoas significativas como ‘modelo’ em relação ao qual o sujeito vai se apropriando de algumas características, pelo mecanismo de introjeção, e formando sua identidade. 8 IDENTIDADE •Além disso, o conjunto de experiências ao longo de minha vida me permite ‘montar’ meu próprio modelo do que pretendo ser como ser humano, como profissional, como cidadã/cidadão etc. •O que queremos ser é um amálgama de características de tudo o que é significativo e atravessa a nossa vida. 9 TÉCNICA DESIDERATIVO VOCACIONAL 1. Como quem você gostaria de ser? Por que? 2. Que personagem histórico você gostaria de ser? Por que? 3. Quando você era adolescente, que adulto lhe inspirava como modelo a ser seguido? Por que? 4. Que tarefa mais característica do mundo do sexo oposto você gostaria de fazer? 5. Que profissão você escolheria para um irmão? 10 IDENTIDADE: ESTABILIDADE E TRANSFORMAÇÃO •Mas, ao mesmo tempo que identidade remete a algo permanente, também remete a algo em transformação. É possível que eu mude e continue sendo eu mesma! •Para o psicólogo Antônio Carlos Ciampa, identidade tem um caráter de metamorfose, está em constante mudança. 11 Metamorfose Ambulante Raul Seixas Prefiro ser Essa metamorfose ambulante Eu prefiro ser Essa metamorfose ambulante Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo Eu quero dizer Agora o oposto do que eu disse antes Eu prefiro ser Essa metamorfose ambulante Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo Sobre o que é o amor Sobre o que eu nem sei quem sou Se hoje eu sou estrela Amanhã já se apagou Se hoje eu te odeio Amanhã lhe tenho amor Lhe tenho amor Lhe tenho horror Lhe faço amor Eu sou um ator É chato chegar A um objetivo num instante Eu quero viver Nessa metamorfose ambulante Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo 12 IDENTIDADE •Nossa atividade no mundo constrói nossa identidade. •Eu sou _____, nascido(a) em _____, vivendo em _____... •A identidade ‘coisifica-se’ sob a forma de personagem. E a construção da personagem congela a atividade e camufla a dinâmica de nossas próprias transformações. 13 IDENTIDADE E CRISE •Identidade é um processo de construção permanente, em contínua transformação. •E o novo – quem sou agora – amalgama-se com o velho – quem fui ontem. E isto que dáo fio da história de cada um. •Mas quando o processo de mudança é intenso, confuso, angustiante e doloroso, trata-se de crise de identidade. •São períodos importantes da vida de uma pessoa em que ela procura, com maior ou menor grau de consciência dessa crise, redefinir ou ratificar seu modo de ser e estar no mundo. 14 IDENTIDADE 15 IDENTIDADE SER OU NÃO SER? EIS A QUESTÃO! 16 IDENTIDADE E CRISE •Um caso exemplar de crise de identidade é a adolescência. •Embora essa crise seja marcada por intensa turbulência interna, pode significar um período de “confusão” criadora. •Luto pela perda do corpo infantil e a estranheza quanto aquele corpo adulto (ele mesmo!) que o adolescente desconhece e deseja. •Às mudanças no corpo correspondem mudanças em sua subjetividade. 17 IDENTIDADE E ESTIGMA •Estigma: refere-se às marcas – atributos sociais que um indivíduo ou povo carregam e cujo valor pode ser negativo ou pejorativo. •São atributos facilmente reconhecíveis como carregados de um valor negativo para a maioria das pessoas e determinam, para o indivíduo, um destino de exclusão ou a perspectiva de reivindicação que um direito de ser bem tratado e ter oportunidades iguais. •O estigma revela que a sociedade tem dificuldade de lidar com o diferente. 18 IDENTIDADE E ESTIGMA •Na formação de identidade é muito importante pensar os processos de estigmatização que pode permear a vida cotidiana. •A palavra cria realidade – saber poder, que engendram formas de ser, estar, pensar, agir e sentir no mundo. •Os discursos que nos atravessam e fazem com sejamos quem somos e como lidamos com o mundo. 19 IDENTIDADE 20 IDENTIDADE 21 IDENTIDADE 22 IDENTIDADE 23 24 Ideologia O que você pensa, valoriza, sente e faz é determinado por você mesmo ou será que aquilo que você pensa, valoriza, sente e faz é estabelecido por outros? Conhecemos verdadeiramente a realidade que nos cerca? 2 Ideologia Substantivo feminino 1. fil ciência proposta pelo filósofo francês Destutt de Tracy 1754- 1836, que atribui a origem das ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo. 2. p.ex. fil no marxismo, totalidade das formas de consciência social, o que abrange o sistema de ideias que legitima o poder econômico da classe dominante (ideologia burguesa) e o que expressa os interesses revolucionários da classe dominada (ideologia proletária ou socialista). 3. p.ex. soc sistema de ideias sustentadas por um grupo social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos. 4. p.ex. conjunto de convicções filosóficas, sociais, políticas etc. de um indivíduo ou grupo de indivíduos. 3 Ideologia Conceito do campo das Ciências Sociais. Conceito complexo e multifacetado, podendo ser usado em diferentes sentidos. Apresenta importância crescente devido à imaterialidade do mundo e da sociedade. 4 Sentidos possíveis: Sentido positivo: conjunto de valores, ideias, ideais e filosofias de uma pessoa ou grupo; Sentido negativo ou crítico: ideias distorcidas, enganadoras e mistificadoras que obscurecem a realidade em prol de interesses de dominação; 5 Sentidos possíveis: Sentido materializado ou concreto: ideologia corporificada numa ideia / forma simbólica ou concretizada numa instituição. Ex.: escola ou família; Sentido prático: produção e manutenção de relações sociais pelas formas simbólicas. 6 Ideologia As visões de mundo das pessoas Maneira de se criar e manter relações sociais de qualquer tipo Ideias da classe dominante Prática que serve para criar e manter relações assimétricas, desiguais e injustas, a partir de formas simbólicas que circulam na vida social, aprisionando pessoas e orientando-as para certas direções. 7 De que ideologia Mafalda fala? 8 Ideologia (sentido negativo e prático): Maneiras como o sentido serve para sustentar relações de dominação. 9 Sentido das formas simbólicas: Amplo espectro de ações e falas, imagens e textos que são produzidos por pessoas e reconhecidos por elas como tendo um significado. 10 11 Dominação: Relação que se dá quando determinada pessoa expropria poder (capacidades) do outro ou quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas (grupos privados/excluídos de determinados benefícios). 12 13 Formas simbólicas: Aquelas que têm dimensões intencional, convencional, estrutural (exibem estrutura articulada), referencial (representam algo de modo específico), contextual (inseridas em processos sócio- históricos) – por meio das quais são produzidas, transmitidas e recebidas. 14 Por que estudamos ideologia? Na visão de Marx, os seres humanos fazem a história mas não têm consciência disso. Um exemplo: a pobreza deve ser explicada pelas relações sociais e econômicas, e não pela vontade de Deus ou apenas pela vontade individual. “Os pobres são assim porque querem”. 15 Por que estudamos ideologia? Isso ocorre porque há alienação. Ou seja, desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. 16 Há uma dupla alienação: 1. As pessoas não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições; 2. As pessoas se julgam plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações. 17Por que estudamos ideologia? Podemos falar em três grandes formas de alienação na sociedade moderna ou capitalista: 1. A alienação social, na qual os humanos não se reconhecem como produtores das instituições sociopolíticas. Não há preocupação com o outro (alienus). 2. A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Os trabalhadores são reduzidos a coisas, são reificados ou desumanizados. Ex.: construtor – prédio. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece). As mercadorias são um outro, que não o trabalhador. 3. A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz ideias). 18Por que estudamos ideologia? Os intelectuais alienam-se de três formas: a) Esquecem que suas ideias estão ligadas às opiniões da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante. Imaginam que suas ideias são universais; b) Esquecem que as ideias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas são a própria realidade; c) Passam a acreditar que as ideias se produzem umas às outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. 19Por que estudamos ideologia? As três grandes formas da alienação (social, econômica e intelectual) são a causa do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia. A ideologia capitalista força a diferença entre as classes, o olhar diferente sobre o outro, o consumismo. A alienação social se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seuintermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida. A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. 20Por que estudamos ideologia? A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê- las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias. Como procede a ideologia para obter esse fantástico resultado? Em primeiro lugar, opera por inversão, isto é, coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em efeitos. Ela opera como o inconsciente: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica ideias e falsas causalidades. 21Por que estudamos ideologia? A segunda maneira de operar da ideologia é a produção do imaginário social, por meio da imaginação reprodutora. A ideologia transforma-se num conjunto coerente, lógico e sistemático de ideias que funcionam em dois registros: como representações da realidade e como normas e regras de conduta e comportamento. Representações, normas e valores formam um tecido de imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a sociedade o que ela deve e como deve pensar, falar, sentir e agir. 22Por que estudamos ideologia? A ideologia é semelhante ao inconsciente freudiano pelo seguinte: 1. Adotamos crenças, opiniões, ideias sem saber de onde vieram; 2. Ideologia e inconsciente operam por meio do imaginário (as representações e regras saídas da experiência imediata) e do silêncio, realizando-se indiretamente perante a consciência. Inconsciente e ideologia não são deliberações voluntárias. O inconsciente precisa de imagens, substitutos, sonhos, lapsos, atos falhos, sintomas, sublimação para manifestar-se e, ao mesmo tempo, esconder-se da consciência. A ideologia precisa das ideias-imagens, da inversão de causas e efeitos, do silêncio para manifestar os interesses da classe dominante e escondê-los como interesse de uma única classe social. 23 Por que estudamos ideologia? Por que estudamos ideologia? O estudo da ideologia contribui para o estabelecimento de práticas emancipadoras, de construção de uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, culturalmente plural e eticamente solidária. 24 Por que estudamos ideologia? 25 GÊNERO Psicologia Social II GÊNERO •O que significa ser homem? •E o que significa ser mulher? •Como mulheres e homens supostamente se relacionam uns com os outros? 2 GÊNERO 3 GÊNERO 4 Substantivo masculino 1. Conceito geral que abarca todas as características comuns de um determinado grupo, classe etc. 2. Conjunto de seres com a mesma origem ou que apresentam características comuns; espécie, família, raça. 1. Estilo, tipo; 2. Diferenciação social entre homens e mulheres, que varia cosonante a cultura que influência o estatuto, o papel social e a identidade sexual de cada indivíuo o seio da comunidade em eu se insere. 3. BIOLOGIA. Categoria taxionômica, utilizada na classificação dos seres vivos, que só pode ser designada em latim e que consiste num número de espécies semelhantes ou estreitamente relacionadas. GÊNERO 5 6. Gramática. Categoria morfossintática baseada na distinção dos sexos (masculino ou feminino, no caso de seres animados) ou atribuída por convenção (no caso de seres não animados). 7. Artes Plásticas. Categoria em que se agrupam abras artísticas em função d estilo ou técnicas utilizadas. 8. Lógica. Ideia ou classe que abrange várias espécies. 9. Literatura.Categoria em se agrupam obras ou composições em função das suas características formais ou de conteúdo. 10. Plural. Produtos, especialmente agrícolas, usados na alimentação humana. GÊNERO 6 • Ser homem e ser mulher varia conforme a época e a sociedade – remete a construção cultural, no sentido de como cada sociedade, em determinada época, transforma um macho em homem e uma fêmea em mulher. •As diferenças sexuais são experimentadas simbolicamente e são vividas como gênero, enquanto sexo diz respeito às características fisiológicas relativas à reprodução biológica. GÊNERO 7 • Os humanos interpretam e atribuem nova dimensão ao seu ambiente físico e social através da simbolização. • Comportamentos, interesses, estilos de vida, tendências das mais diversas índoles, responsabilidades ou papéis a desempenhar, sentimento ou consciência de si mesmo, características da personalidade (afetivas, intelectuais e emocionais): o sexo biológico não determina, em si, o desenvolvimento posterior desses itens. • Eles são determinados pelo processo de socialização e por outros aspectos da vida em sociedade, decorrentes da cultura, que abrange homens e mulheres desde o nascimento e ao longo de toda a vida, em estreita conexão com as diferentes circunstâncias socioculturais e históricas. GÊNERO 8 GÊNERO E CIÊNCIAS SOCIAIS •Gênero passou a ser estudado pela Psicologia, Antropologia, Sociologia e História. •Em Psicologia, principalmente pela Psicologia Social, que lança seu olhar para a história, para a sociedade e para a cultura e só entende o ser humano a partir dessas instâncias. 9 O MOVIMENTO FEMINISTA •Constantemente associado aos estudos de gênero, o Movimento Feminista está associado ao pensamento e à luta pela igualdade para as mulheres. 10 •Originou-se nas tentativas históricas na Europa e nos EUA, no século XVIII, que permitiram a luta pela igualdade de direitos políticos e educativos para as mulheres. O MOVIMENTO FEMINISTA 11 • Desencadeou mudanças conceituais importantes no século XIX como a presença das mulheres na política e também reformulações e conquistas individuais e coletivas, na legislação, na arte e no pensamento. O MOVIMENTO FEMINISTA 12 SISTEMA DE GÊNERO •Na década de 1970 autoras postularam que toda sociedade possui não apenas um sistema de produção, mas também um sistema de gênero, ou seja, um conjunto de arranjos por meio dos quais a sociedade transforma a biologia sexual em produtos da atividade humana, e nos quais essas necessidades são transformadas e satisfeitas. 13 SISTEMA DE GÊNERO •Esse sistema é composto de: Divisão sexual do trabalho; Definições sociais para os sexos; Mundos sociais que eles conformam 14 HIERARQUIA DE GÊNERO •Situação em que o poder e o controle social sobre trabalho, recursos e produtos são associados à masculinidade; 15 •Patriarcado; •O poder social é, ainda hoje, identificados com atributos considerados masculinos; HIERARQUIA DE GÊNERO 16 •A explicação das hierarquias sociais de gênero se dá por meio de origens divinas, de costumes ou de natureza (típico das sociedades contemporâneas). HIERARQUIA DE GÊNERO 17 QUAL É A TAREFA DA PSICOLOGIA SOCIAL? • Buscar explicação histórica ou cultural para a situação das mulheres e dos homens nas sociedades. • Por meio de estudos transculturais gênero: • Não é idêntico a sexo; Fornece a base para a divisão sexual do trabalho em todas as sociedades. Não há um conteúdo universal para os papéis de gênero. 18 • Subordinação = falta de poder •Com a criação do Estadoe a estratificação, deu-se a divisão do trabalho por gênero, bem como as relações de propriedade. •Passou a haver controle sobre o trabalho e perda da importância das relações de parentesco. Por ter menos força, a mulher ficou em desvantagem. GÊNERO 19 O PODER PODE FICAR COM ELES... 20 E O PODER PODE MUDAR DE MÃOS... 21 •Cada grupo cria ideologia para justificar as desigualdades de classe, sexo e raça, normalmente com base em diferenças inatas. •Para a Psicologia Histórico-Crítica, gênero é compreendido como construção histórica. •Busca-se o reparto do poder e a revisão das relações de dominação. GÊNERO 22 IDENTIDADE DE GÊNERO • Na sociedade, identidade de gênero se refere ao gênero em que a pessoa se identifica (i.e, se ela se identifica como sendo um homem, uma mulher ou se ela vê a si como fora do convencional), mas pode também ser usado para referir-se ao gênero que certa pessoa atribui ao indivíduo tendo como base o que tal pessoa reconhece como indicações de papel social de gênero (roupas, corte de cabelo, etc.). • Do primeiro uso, acredita-se que a identidade de gênero se constitui como fixa e como tal não sofrendo variações, independente do papel social de gênero que a pessoa apresente pra ela. • Do segundo, acredita-se que a identidade de gênero possa ser afetada por uma variedade de estruturas sociais, incluindo etnicidade, trabalho, religião ou irreligião, e família. 23 IDENTIDADE DE GÊNERO • O conceito identidade de gênero remete a outras categorias, sem as quais seu entendimento pode ficar incompleto. • Deve-se ter em mente que sexo e gênero são conceitos distintos. • Em 1968, Robert Stoller, psicólogo americano, define a diferença conceitual entre sexo e gênero: Sexo refere-se aos aspectos anatômicos, morfológicos e fisiológicos (genitália, cromossomos sexuais, hormônios) da espécie humana. Ou seja, a categoria sexo é definida por aspectos biológicos: quando falamos em sexo, estamos nos referindo a fêmeas e machos. Gênero remete aos significados sociais, culturais e históricos associados aos sexos. 24 IDENTIDADE DE GÊNERO • Robert Stoller estudou casos de crianças Intersexo (na época classificados como "hermafroditas" ou como tendo "genitais escondidos") que foram educadas de acordo com um gênero que lhes fora designado no nascimento. • Essas crianças, mesmo depois de saberem que suas genitálias eram ambíguas, parciais, duplicadas, ausentes ou sofreram alguma intervenção cirúrgica compulsória, empenhavam- se em manter os padrões de comportamento de acordo com os quais haviam sido educados, o que levou Stoller à conclusão de que seria " mais fácil mudar o genital do que o gênero de uma pessoa“. 25 IDENTIDADE DE GÊNERO • Destaca-se que a identidade de gênero nem sempre corresponde ao sexo do nascimento: uma pessoa pode nascer com o sexo feminino e sentir-se um homem ou vice- versa, como acontece com travestis e pessoas transexuais. • A identidade de gênero também não deve ser confundida com orientação sexual: a primeira remete à forma como as pessoas se autodefinem (como mulheres ou como homens), a segunda remete à questão da sexualidade, do desejo, da atração afetivo-sexual por alguém de algum gênero (homossexualidade, bissexualidade e heterossexualidade). • A vivência discordante de um gênero (que é cultural, social) com o que se esperaria de alguém de determinado sexo (que é biológico) não deve ser tratada como um transtorno, mas sim como uma questão de identidade, como acontece com travestis e pessoas transexuais, que compõem o grupo de transgêneros. 26 O QUE TEMOS A VER COM ISSO? O Dia Internacional da Mulher se refere a qual “mulher”? O Movimento Feminista apoia qual “mulher”? Podemos falar em “a mulher” ou “mulheres? E a Psicologia o que tem a ver com a liberdade de gênero? 27 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Psicologia Social II Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade A palavra “indivíduo”, e alguns de seus sinônimos: pessoa, sujeito, gente, criatura, ser, cidadão, entre outros, é designada para tratar particularmente dos aspectos singulares do homem. Mas, quem é este homem? No senso comum, nos referimos ao indivíduo como: animal racional, ser social, cidadão, ser pensante, gente como a gente, entre outras. São tantas nomeações populares e definições científicas para nomear, explicar e problematizar o homem, suas características singulares, suas contradições e idiossincrasias humanas. 2 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Todavia, questões como: “O homem é um ser pensante”, isto é indubitavelmente presente. O homem é um ser dotado de uma inteligência superior aos outros habitantes do planeta; e é um “ser social”, vive em grupo, é parte constituinte da sociedade. Ao destacarmos estas questões contextuais, podemos citar além da psicologia, diferentes ciências, tais como a filosofia, a sociologia, a história; cada uma na sua especificidade, direta ou indiretamente investigando que é composto o processo de humanização. Seja no campo cognitivo, seja no campo social. 3 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade O indivíduo, sob a óptica da psicologia social e da sociologia, é um ser social, nasce afiliado a um grupo primário – a família, e seu processo de desenvolvimento é pautado na apreensão das normas socioculturais dos grupos aos quais pertence. Estas regras de convívio social são transmitidas por meio dos agentes socializadores: família, escola, religião, instituições sociais etc. Strey (2002, p. 59), afirma: o indivíduo “encontra-se num sistema social criado por meio de gerações já existentes e que é assimilado por meio de inter-relações sociais”. 4 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade O ser humano não nasce “pronto”, o homem nasce com uma carga genética hereditária e inata, em que os processos biofisiológicos maturacionais farão a “natureza” se encarregar de seu desenvolvimento fisiológico, entretanto, para que esse desenvolvimento seja pleno, é fundamental que ele interaja com o meio social, como já nos referimos antes, essa interação promove a “humanização” o “tornar-se humano”. O que chamamos de humanização é o processo de socialização, são as trocas sociais, a “interação”, a aprendizagem social à qual o homem é submetido desde o seu nascimento. A interação promove a construção do sujeito, permitindo que ele se aproprie dos mecanismos de funcionamento da coletividade a qual está inserido. 5 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Essa apropriação será a responsável pelas características humanizantes do ser, tais como a consciência, a personalidade, a identidade, a identidade sociocultural, o comportamento, as atitudes, a autodiferenciação entre “eu” e “os outros”; enfim, todas as peculiaridades do ser humano. A capacidade inata de elaboração dos processos cognitivos organiza os padrões socioculturais oriundos do meio, transformando-os em um sistema simbólico subjetivo, por meio de conteúdos provenientes da realidade objetiva. A linguagem, por exemplo, enfatizada por Vygotsky, em sua construção teórica em psicologia do desenvolvimento, é o processo cognitivo responsável pela formação do sistema de símbolos que abastecem o pensamento. 6 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Outros teóricos que investigam o desenvolvimento humano como Piaget, Freud, Erik Erikson, entre outros enfatizaram no contextode suas teorias diferentes aspectos do desenvolvimento humano. A linguagem é um dos processos cognitivos que contribuem para a construção cognitiva de representações da realidade e esse processo acontece ao logo do desenvolvimento humano, entretanto não pretendemos discorrer sobre desenvolvimento humano, porque esta não é a proposta do tema em discussão. 7 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade As representações simbólicas da cognição humana são construídas a partir das influências culturais de seu grupo social, no qual acontece o “intercâmbio cultural’, o homem gera cultura, cria, frutifica suas ideias e recebe de seu grupo social os padrões socioculturais produzidos pelo próprio grupo. Dessa forma, o comportamento humano é estabelecido, segundo as normas sociais do grupo com o qual se identifica, como já mencionado, esta é a base da identidade social. 8 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade A percepção do mundo produz um conhecimento subjetivo, particular; pela interpretação que fazemos do que é exterior a nós, ao mesmo tempo em que produz um conhecimento objetivo por meio da percepção de mundo que é compartilhada coletivamente, essas percepções são refletidas e elaboradas, armazenadas em nossa memória e transmitidas à sociedade, em processo ativo do ato de existir. Dessa forma, a consciência que é um conceito abstrato também é constituída de representações da realidade, seus processos criativos produzem a singularidade humana e a sua subjetividade. 9 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Conceituamos subjetividade como o que nos diferencia de outro ser humano e dos outros animais, nela estão contidas nossas crenças, valores, interpretação do mundo, experiências, sentimentos, história de vida e escolhas, ou seja, o mais íntimo de nós, nossa individualidade. Contudo, a subjetividade abrange uma ampla dimensão conceitual, que permite compreender a psique e sua complexidade. 10 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade A subjetividade representa um macroconceito orientado à compreensão da psique como sistema complexo, que de forma simultânea se apresenta como processo e como organização. O macroconceito representa realidades que aparecem de múltiplas formas, que em suas próprias dinâmicas modificam sua auto-organização, o que conduz de forma permanente a uma tensão entre os processos gerados pelo sistema e suas formas de auto-organização, as quais estão comprometidas de forma permanente com todos os processos do sistema. A subjetividade coloca a definição da psique num nível histórico-cultural, no qual as funções psíquicas são entendidas como processos permanentes de significação e sentidos. O tema da subjetividade nos conduz a colocar o indivíduo e a sociedade numa relação indivisível, em que ambos aparecem como momentos da subjetividade social e da subjetividade individual. 11 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade A nossa subjetividade e a consciência de quem somos fazem parte da nossa personalidade, preservamos o que nos é mais caro e íntimo, e permitimos que o ambiente, a sociedade perceba de nós, as características que transparecem na personalidade em forma de atitudes. Atitude é a capacidade de julgamento que permite que nos comportemos de forma positiva ou negativa diante de uma determinada circunstância, como define, atitudes são a “disposição relativamente estável, avaliativa, que faz uma pessoa pensar, sentir ou comportar-se, positiva ou negativamente em relação à determinada pessoa, a determinado grupo ou problema social”. As atitudes são formadas pelos processos cognitivos elaborados, o que pensamos, o que percebemos, o que foi aprendido, quais valores e crenças foram formados e como esses conteúdos formaram os critérios de avaliação das diferentes circunstâncias vivenciadas, qual conduta adotada para “esta” ou “aquela” situação. O comportamento é a via pela qual nos posicionamos. 12 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Todavia, cabe destacar o dinamismo deste processo, embora o caráter intrínseco da individualidade seja o posicionamento pessoal, não somos imutáveis, somos suscetíveis às transformações sociais e culturais. E as transformações às quais somos suscetíveis são adquiridas a partir dos processos socializadores que vivemos em diferentes etapas da vida, como por exemplo: os primários do início da vida, na infância a “educação familiar”; os secundários, que acontecem com o amadurecimento na idade adulta, como por exemplo, o “mundo do trabalho”; e aos terciários como por exemplo, as novas “condições” de vida na velhice. 13 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade As transformações históricas, sociais, afetivas, econômicas, profissionais, geográficas, de papéis sociais, entre outros; aos quais estamos sujeitos ampliam nossas relações sociais e possibilitam as constantes transformações na identidade; ou seja, agregamos novos valores e crenças, nos desfazemos de outros, adotamos novas atitudes e comportamentos. “Apenas quando formos capazes de [...] encontrar razões históricas da nossa sociedade e do nosso grupo social que explicam por que agimos hoje da forma como o fazemos é que estaremos desenvolvendo a consciência de nós mesmos”. Isso nos faz entender que a consciência de si pode alterar a identidade social, na medida em que interrogamos os papéis que desempenhamos e suas funções históricas (LANE, 2006, p. 22). 14 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Para Silvia Lane, a influência das transformações históricas, em nossas ações, atribui o autoentendimento e a consciência do poder de alterar a identidade social, a partir do questionamento dos nossos papéis sociais e de suas funções históricas. A consciência que temos de nós constitui a nossa subjetividade, autoconceito é: “o autoconceito que o indivíduo adquire de si mesmo decorre das experiências sociais vivenciadas, que influem no papel que ele desempenha nos julgamentos sobre si e sobre outras pessoas e as diversidades culturais”. Isto é, as experiências sociais são elementos constitutivos de quem somos. 15 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade Estes acontecimentos incidem sobre o fenômeno psicológico, o conceito de Vygotsky explica que a subjetividade se processa do social para o individual, construindo estreita relação entre a individualidade e o pertencimento ao grupo social; a via dupla em que o indivíduo é “agente e sujeito” das influências e implicações da interação. Quanto ao fenômeno social, este abrange uma dimensão mais ampla, está presente no contexto do indivíduo e da sua subjetividade e no contexto de uma coletividade. Abrange as ações, os comportamentos e fatos que ocorrem em determinados grupos sociais, organizações e sociedades, está relacionado ao momento histórico em que o evento ocorre, ao contexto político, cultural, demográfico, econômico e ideológico. 16 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade O fenômeno social é multifatorial e pode gerar efeitos benéficos ou nocivos para uma coletividade, grupo social, organização ou sociedade. Pensemos em um exemplo sob o ponto de vista político: uma epidemia pode ter como aspecto positivo novas políticas públicas de combate ao agente causador de uma doença, ou como aspecto negativo o retrocesso nas práticas preventivas de uma doença.Em ambos os contextos de resolução do problema epidêmico, os membros da coletividade em que se vivenciou o problema, seriam implicados por ele e a passagem pelo fato passará a fazer parte da subjetividade coletiva do grupo, seus membros partilham a experiência vivida na participação de um mesmo evento. 17 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade É importante destacar que cada indivíduo irá construir a sua percepção pessoal do evento, entretanto como a experiência foi vivenciada por todos os membros do grupo, também será construída uma percepção coletiva do mesmo evento. Essa percepção pessoal e interpretação particular de um evento é parte integrante de nossa subjetividade e também é parte integrante da subjetividade do grupo que compartilhou a experiência do mesmo evento, esta subjetividade é social e vivenciada por indivíduos em suas singularidades. 18 Indivíduo, Fenômeno Social e Subjetividade A subjetividade coletiva não é um aglomerado de subjetividades individuais, mas sim uma subjetividade formada por diversos agenciamentos que, em alguns contextos sociais, podem se individuar. “Ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares”. Em um contexto amplificado, a pluridimensionalidade da realidade social não se limita a uma ciência ou a uma interpretação, admite a interdisciplinaridade de um fato social e a interdependência das ciências ao investigar os diferentes fenômenos, sejam particulares ou coletivos. 19
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