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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA - CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA AVALIAÇÃO DO COEFICIENTE DE DIFUSIBILIDADE DE ÁGUA EM PAPÉIS ABSORVENTES Grupo: Ana Carolina Almeida Andrade – 82612 Bruno de Lima Santos - 83022 Heytor Fabricio Arantes Frauches Reis - 83046 Matheus Franciole Madureira - 82992 Ninna Alves Gouvêa - 78130 Thalles Mercês Carreiro - 83020 PROFESSOR: Antônio Marcos de Oliveira Siqueira Artigo científico, referente à terceira avaliação, apresenta- do ao professor e coordenador como parte das exigências da disciplina de ENQ 222 – Fenômenos de Transporte III. VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................... 4 3. MATERIAIS ................................................................................................................................... 6 4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .......................................................................................... 6 5. Análise de Propagação de Incertezas .............................................................................................. 7 6. RESULTADOS ............................................................................................................................... 8 6.1. Papel toalha ................................................................................................................................. 8 6.2 Guardanapo ................................................................................................................................. 9 7. CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 12 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO A indústria de papel tem se desenvolvido cada vez mais para oferecer produtos de qualidade e de ampla adesão dos consumidores. O papel absorvente de uso geral (papel toalha) é um exemplo disso. De acordo com o site Consumer Reports, desde 2009, o tamanho médio dos rolos de papel toalha diminuíram seu tamanho entre 9% e 23%. Isso se deve ao interesse das indústrias gastar menos matéria prima para oferecer seu produto com qualidade igual ou superior. Além disso, a diminuição do tamanho dos rolos veio acompanhada da aparição de opções do produto em folhas duplas ou triplas. Para oferecer um produto como este, é necessário observar-se vários parâmetros do material seco e úmido, a fim de se ter uma qualidade superior de papel, otimizando gastos e consumo de matéria prima. Um dos parâmetros a ser observado, que também é o foco deste artigo, é o coeficiente de difusão (DAB) de um líquido na folha de papel, que está relacionado a características de cada tipo de papel, o meio difusivo, e diferentes tipos de líquido ou substância difundida. Existem bibliografias científicas que trazem poucos valores tabelados ou correlações para o cálculo do DAB, como o Perry's Chemical Engineers' Handbook. Porém, é inegável o fato de que tais fontes são pouco ou nunca consultadas por alunos de graduação, principalmente por desvios das condições experimentais em geral com as tabeladas. Este artigo tem como objetivo desenvolver uma alternativa para contornar este problema e promover mais estímulo para o processo prático de aprendizagem através de um experimento simples e formulação matemática descomplicada. , o objetivo é propor uma modelagem que possa despertar no aluno as três fases da prática científica, citadas por Praia et al. (2002): levantamento de hipótese, execução de testes e discussão dos resultados e registro do conhecimento. Como dito por Cachapuz et al. (2004), o caráter extremamente teórico das disciplinas das ciências naturais faz com que o estudante não se interesse muito pela mesma, frente a outras tantas outras possibilidades existentes ao redor em um século de intensa produção e transmissão de informação. Essa estratégia de ensino formal, com aulas contadas e ementas rígidas podem, de certa forma, “podar” o instinto científico dos alunos. Por exemplo, perguntas do tipo “e se mudar a substância?”, “e se mudar o meio?”, “e se for feito de outro jeito?”, acabam por ter respostas vagas ou demasiadamente teóricas e intangíveis, pois as vezes o tempo em laboratórios é curto ou em situações piores, mas não tão incomuns no país, nem existe um laboratório de ensino adequados, o que é um fator que contribui para a baixa taxa de aprovação em cursos de ciência (Censo da Educação Superior, 2015). A proposta de experimento é uma montagem simples que permite obter dados de posição e tempo, para serem utilizados em equações específicas da transferência de massa, com o intuito de avaliar o DAB e, indiretamente, avaliar a “facilidade” da transferência de massa no meio utilizado. Serão utilizados apenas materiais comuns e de fácil acesso, e a modelagem matemática desenvolvida será a mais simples, de modo que quaisquer estudantes ou professores possam realizar a experiência sem a necessidade de uma maior estrutura tanto laboratorial como de métodos numéricos computacionais ou calculadoras gráficas. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Ao se realizar o balanço de massa para um componente A sobre um volume de controle com coordenadas retangulares se obtêm a Equação 1 (CREMASCO, 2009). O primeiro termo a esquerda representa o acúmulo, uma variação da concentração de A com o tempo. Os outros termos do lado esquerdo representam o divergente do fluxo da espécie A ao longo das coordenadas x, y e z. Por último, a parcela do lado direito corresponde à taxa de reação química em termos volumétricos. (Equação 1) Em que, CA = Concentração molar da espécie A (mol m -3) t = Tempo (s) N ’’ A = Fluxo molar da espécie A x, y e z = Coordenadas (m) R ’’’ A = Taxa de reação química (mol m -3 s-1) Do modo que se encontra, é complicado utilizá-la em um cálculo, sendo necessário trabalhar com simplificações diferentes para cada tipo de situação. Para o regime transiente, a forma mais simplificada é apresentada por Welty et al. (2008) a partir das seguintes observações: transferência de massa unidirecional na coordenada z, não há reação química homogênea, concentração total do sistema constante (a quantidade de matéria da espécie A que se difunde em B é muito pequena se comparada com a quantidade de matéria total inicial), coeficiente de difusão constante, não há contribuição convectiva para a transferência de massa (meio globalmente estacionário) e o meio avaliado é semi-infinito. A Equação 2, conhecida como Segunda Lei de Fick, é obtida para esse caso e a sua resolução analítica necessita de duas condições de contorno e uma condição inicial. A condição inicial é para t = 0 a concentração é igual a CA0 (concentração inicial). Como condições de contorno, assume-se que na posição z = 0 em qualquer tempo a concentração é igual a CAS (concentração superficial) e em z = ∞ e para qualquer instante de tempo a concentração é igual a CA0. O desenvolvimento matemático resulta nas Equações3 e 4, também apresentada por Welty et al. (2008). (Equação 2) (Equação 3) (Equação 4) Em que, DAB = Coeficiente de difusão de A em B (m 2 s-1) z = Posição em relação à origem (m) Com estas equações é possível se encontrar o perfil de concentração para a situação descrita anteriormente, utilizando como auxílio uma tabela para os valores da função erro (erf) ou uma calculadora gráfica que possua esta função em sua biblioteca. Porém, uma forma mais conveniente é utilizar concentração mássica (ρA) no lugar de concentração molar, obtendo-se assim a Equação 5. Outra modificação útil é dividir toda a equação pela concentração mássica total, de forma que a equação resultante fique em função da fração mássica do componente A (wA). Após executar os rearranjos, chega-se a Equação 6. (Equação 5) (Equação 6) 3. MATERIAIS 1 régua escolar de 20 cm ou maior; 3 tiras de papel de 20 cm ou superior para cada tipo de papel; 100 mL ou mais de cada líquido a ser estudado; Cronômetro; Placa de petri ou outro objeto que sirva de reservatório para o líquido; Durex ou fita crepe; Papel e caneta para anotações. 4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL A modelagem proposta para o experimento é utilizar uma fita de papel longa e fina, para aproximar como um meio semi-infinito, apoiada em uma régua e presa em uma extremidade para não se mover, para que a posição zero fique sempre em contato com o líquido e possa garantir a saturação do papel com vinho neste ponto. O líquido percorrerá por transferência de massa o comprimento da fita até uma certa posição em que atingirá o máximo de penetração. Essa posição será identificada quando o tempo para se percorrer a menor unidade de medida da régua for muito superior ao tempo anterior gasto para percorrer a mesma distância. Um esquema da montagem é dado pela Figura 1. Figura 1. Desenho esquemático do experimento. Nessas condições, todas as suposições feitas para se chegar a Equação 2 são verdadeiras, de modo que o sistema pode ser descrito pela Equação 6. Para prosseguir é necessário determinar os valores das frações wA0 e wAS. Porém, como o objetivo é determinar o coeficiente de difusão, a segunda fração não será necessária. Na posição de penetração máxima wA é igual a wA0, ou seja, é igual a zero. Substituindo os valores já conhecidos na Equação 6 se encontra que a função erf(ϕ) deve ser igual à unidade. Pela tabela apresentada no apêndice L em Welty et al. (2008), a função erro assume o valor de 1 quando o seu argumento é igual a 3. Assim, transportando esse valor para a Equação 4 se chega na Equação 7, utilizada para encontrar o coeficiente de difusão na configuração deste experimento, sendo necessário apenas a medida da distância de penetração máxima e o tempo gasto para atingi-la. (Equação 7) De fato, ao observar a Equação 7 se percebe que um dos objetivos da modelagem se cumpre, com uma formulação matemática aproximada pelo experimento de fácil manipulação e que não exige muito esforço para resolução. A equação também possibilita a avaliação de várias situações com alteração do tipo de papel ou substância, sem uma maior complicação de cálculo, pois as características dos componentes não são parte das simplificações para deduzir a mesma. 5. ANÁLISE DE PROPAGAÇÃO DE INCERTEZAS A análise de propagação de incertezas foi realizada utilizando a metodologia de Kline e McClintock (GUM, 2008; FOX e MCDONALD, 2006; MILLS e CHANG, 2004; DONATELLI e KONRATH, 2005; HOLMAN, 1994), através da Equação (X). (Equação 8) Onde é a incerteza associada à função em que ( são os desvios padrões das médias associados às respectivas grandezas mensuradas . Esses desvios são intrínsecos aos instrumentos utilizados para as medições. Aplicando a análise de incertezas à Equação (Y), a qual corresponde à função para o cálculo do , é obtida a Equação (Z). (Equação 7) (Equação 9) Resolvendo-se as derivadas encontra-se a Equação (θ) final para o calculo da incerteza associado ao coeficiente difusivo. (Equação 10) 6. RESULTADOS 6.1. Papel toalha A Figura 2 mostra os dados coletados relacionados na Tabela 1, de posição da inter- face úmida com vinho em função do tempo para o papel toalha. O valor final obtido foi de 243,0 segundos em uma cota de 3 cm. Os desvios padrões da régua e do cronômetro utili- zados eram, respectivamente, de 0,5 cm e 0,5 segundos. Dessa forma, através da Equa- ção 7, foi obtido o valor do coeficiente de difusão do vinho no guardanapo e a incerteza associada, através da Equação 10. O ajuste logaritmo dos dados, apresentados no gráfico da Figura 2 confirma que o ponto final foi coletado quando a posição da cota não apresentava variação apreciável em relação ao tempo. Distância vertical (cm) Tempo decorrido (s) 0.0 0.00 0.5 1.94 1.0 4.92 1.5 13.44 1.6 17.79 1.7 19.18 1.8 20.78 1.9 28.49 2.0 45.13 2.1 57.20 2.2 73.28 2.3 87.90 2.4 97.03 2.5 62.50 2.6 122.60 2.7 182.70 2.8 242.80 2.9 242.90 3.0 243.00 Tabela 1: Posição da interface úmida e tempo decorrido para o papel toalha. Figura 2: Posição da interface úmida em função do tempo. 6.2 Guardanapo Para o guardanapo foram feito dois ensaios, mostrados na Figura 3 e 4. Os valores finais obtidos para o primeiro ensaio foram de 212,0 segundos em uma cota de 2,8 cm. Já para o segundo a cota obtida foi de 2 cm em 88 segundos. Os desvios padrões da régua e 0 50 100 150 200 250 300 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 Segundos C e n tí m e tr o s do cronômetro utilizados eram os mesmos anteriores. Dessa forma, através da Equação 7 foi obtido o valor do coeficiente de difusão do vinho no guardanapo e da Equação 10 a in- certeza associada, utilizando a média dos dois ensaios. O ajuste logaritmo dos dados, apresentados na Tabela 2 e nos gráficos da Figura 3 e 4 confirmar que o ponto final foi coletado quando a posição da cota não apresentava va- riação apreciável em relação ao tempo. Experimento 1 Experimento 2 Distância vertical (cm) Tempo decorrido (s) Distância vertical (cm) Tempo decorrido (s) 0.0 0 0 0.0 0.1 1 0.1 1.0 0.2 2 0.2 1.0 0.3 3 0.3 1.5 0.5 4 0.4 2.0 0.6 5 0.5 2.0 0.7 6 0.6 3.1 0.8 7 0.8 3.5 0.9 9 0.9 4.2 1.0 14 1.0 4.8 1.1 23 1.3 8.0 1.2 30 1.4 14 1.3 35 1.5 18 1.4 48 1.6 25 1.5 53 1.7 29 1.6 58 1.8 40 1.7 70 1.9 47 1.8 76 2.0 55 1.9 81 2.1 66 2.0 88 2.2 77 Tabela 1: Posição da interface úmida e tempodecorrido para o guardanapo. Figura 3: Posição da interface úmida em função do tempo para primeiro ensaio Figura 4: Posição da interface úmida em função do tempo para segundo ensaio Observa-se uma pequena diferença entre os valores de difusividade para o papel toalha e guardanapo. Isso se deve ao fato de os dois papéis terem a mesma função e por isso, apresentarem estrutura e composição semelhantes. A principal dificuldade de obtenção dos dados se encontra nos primeiros segundos da difusão do vinho no papel, por esta transferência de massa ser muito rápida e portanto, estar sujeita a erros de marcação de tempo. 0 50 100 150 200 250 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 Segundos C e n tí m e tr o s 0 20 40 60 80 100 0 0.5 1 1.5 2 2.5 Segundos C e n tí m e tr o s 7. CONCLUSÃO Pode-se concluir que é possível obter resultados satisfatórios para parâmetros da literatura através de experimentos simples e formulações matemáticas de fácil manipulação. Observa-se porém a necessidade de mais ensaios e repetições para que os dados de difusividade sejam mais precisos. Variações entre produtos utilizados, como por exemplo o tipo de vinho ou a marca do papel absorvente podem causar variações nos resultados. A possibilidade de estender os métodos empregados neste artigo para obtenção do coeficiente de transferência de massa de outros líquidos em outros meios torna o estudo de interesse para futuros experimentos. Espera-se que o incentivo a compreensão dos fenômenos estudados em cursos de engenharia de modo simples e facilitado corrobore para o crescimento científico no cenário nacional. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CACHAPUZ, António; PRAIA, João; JORGE, Manuela. Da Educação em Ciência às Orientações para o Ensino das Ciências: Um Repensar Epistemológico. Ciência & Educação, Bauru – SP, v. 10, n. 3, p. 363-381, 2004. Censo da Educação Superior. Disponível em: <inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas- da-educacao-superior>. Acesso em: 16 de junho de 2017. CREMASCO, Marco Aurélio. Fundamentos de transferência de massa. 2ª edição revisada, 2ª reimpressão. Campinas: UNICAMP, 2009. 725 p. PRAIA, João; CACHAPUZ, António; GIL-PÉREZ, Daniel. A Hipótese e a Experiência Científica em Educação em Ciência: Contributos para Uma Reorientação Epistemológica. Ciência & Educação, Bauru – SP, v. 8, n. 2, p. 253-262, 2002. Site Consumer Reports. Disponível em: <http://www.consumerreports.org/cro/toilet- paper/buying-guide.htm>. Acesso em: 16 de junho de 2017. WELTY, James; WICKS, Charles E.; RORRER, Gregory L.; WILSON, Robert E.; FOSTER, David G. Fundamentals of momentum, heat, and mass transfer. 5th ed. New York: John Wiley & Sons, 2008. 711 p.
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