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Direito Público e Privado

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1 INTRODUÇÃO
Partindo de uma revisão bibliográfica que abarcasse as discussões sobre a dicotomia entre Direito Público e Direito Privado, buscaram-se aportes teóricos nas mais recentes produções científicas que fundamentassem os propósitos almejados neste trabalho.
O enfoque científico sobre as delimitações dos vários ramos do Direito vem aumentando gradativamente dentro do âmbito acadêmico, fomentando pesquisas relevantes na área jurídica. Entretanto, no cerne de tais debates, o hiato entre a teoria e a prática ainda se faz presente, retardando a materialização das principais conclusões teóricas dentro do espaço jurídico propriamente dito, postergando decisões que influenciariam na práxis jurídica e, consequentemente, teriam repercussão na vida dos cidadãos brasileiros. 
2 CONCEITOS GERAIS
O Direito Público (ius publicum) é a parte da lei que rege as relações entre os indivíduos e o Estado. 
O Direito Público compreende o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito Internacional Público, o Direito Internacional Privado, o Direito Penal, o Direito Processual e o Direito Tributário.
As relações que governam o Direito Público são assimétricas e desiguais. Cabe aos órgãos do governo tomar decisões sobre os direitos dos indivíduos. No entanto, como consequência da doutrina do estado de direito, as autoridades só podem agir dentro da lei (secundum legem et intra). O governo deve obedecer à lei. Como decorrência disto, por exemplo, um cidadão descontente com uma decisão de uma autoridade administrativa pode pedir a um tribunal uma revisão judicial. 
A fronteira entre o Direito Público e o Direito Privado nem sempre é clara, dando origem a várias teorias que tentam compreender sua delimitação. 
O Direito Privado faz parte da comuna jus que envolve relações entre os indivíduos, tais como a lei de contratos, os atos ilícitos, a sucessão e as obrigações, dentre outros. Assim, ele deve ser distinguido do Direito Público, que lida com as relações entre pessoas naturais e o Estado.
Em termos gerais, o Direito Privado envolve interações entre os cidadãos, enquanto o Direito Público envolve inter-relações entre o Estado e a população em geral (NADER, 2004).
2.1 As origens romanas do Direito
O Direito Romano é o arcabouço ideológico de quase toda normatização jurídica existente no presente século. “Não que ele seja o primeiro sistema de normas jurídicas de que se tem registro” (ROBERTO, 2011), mas por ser o mais contundente no que tange à contribuição à instituição do Direito no Ocidente.
Outras civilizações, não menos importantes, já havia organizado códigos jurídicos; sejam elas: os egípcios, os hebreus, os babilônios, entre outros. Contudo, o Direito Romano foi adotado por grande parte da Europa Ocidental. Tal sistema de normas foi denominado como sistema jurídico romano-germânico.
O Direito brasileiro, com ascendência portuguesa, também, faz parte do sistema jurídico romano-germânico por filiação.
Ademais, os romanos deixaram um legado jurídico escrito para as gerações atuais; diferentemente de outras civilizações, em que há poucos registros de sua legislação.
Outro fator a salientar, é que muitos dos institutos, que são utilizados na sociedade globalizada do século XXI, sobretudo, no Direito Privado, foram herdados do Direito Romano, especialmente alguns contratos típicos, o penhor e a hipoteca (ROBERTO, 2011). 
3 TEORIAS CLASSIFICATÓRIAS DO DIREITO PÚBLICO E DO PRIVADO
	
3.1 Teoria monista
“Teoria Pura do Direito”  é um livro do jurista Hans Kelsen, publicado pela primeira vez em 1934 e teve uma edição expandida na segunda edição (efetivamente um novo livro), em 1960. A teoria proposta neste livro foi provavelmente a teoria mais influente na esfera jurídica durante o século 20. É, pelo menos, um dos pontos altos da teoria legal modernista.
A teoria monista defende a união de todas as leis, respeita o Direito internacional e nacional como fazendo parte do mesmo sistema legal (a mesma ordem).   Argumenta-se que ambas as leis são baseadas na mesma premissa: a de regular o comportamento e o bem-estar dos indivíduos.
Por outro lado, tal teoria afirma a supremacia do direito internacional sobre o direito nacional, mesmo na esfera nacional; no caso de um conflito entre as duas leis, o Direito Internacional é supremo.
Na primeira página, parágrafo primeiro da “Teoria Pura do Direito”, Kelsen introduz sua teoria como sendo uma teoria do Direito Positivo. Esta teoria da lei positiva é, então, apresentada por Kelsen como a formação de uma hierarquia de leis que começam a partir de uma norma básica, onde todas as outras normas estão relacionadas umas com as outras (NADER, 2004).
 
3.2 Teorias dualistas
A teoria dualista considera que o direito internacional e o direito interno são dois sistemas jurídicos diferentes que existem independentemente um do outro. Cada um destes dois sistemas regula diferentes assuntos, funcionam em níveis diferentes, e cada um é dominante em sua esfera.
O   Direito Público Internacional regula principalmente a conduta dos Estados soberanos, enquanto a   lei nacional regula a conduta das pessoas dentro de um Estado soberano.   Deste ponto de vista, nenhum sistema legal tem o poder de criar ou alterar regras do outro.
De maneira didática, podem-se classificar as teorias dualistas em duas etiologias distintas: teorias substancialistas e teorias formalistas (NADER, 2004).
3.2.1 Teorias substancialistas
Teoria dos Interesses em Jogo: também denominada de clássica ou romana. Segundo seu idealizador, Ulpiano, o “Direito Público é o que se liga ao interesse do Estado romano; Privado, o que corresponde à utilidade dos particulares” (Publicum ius est quod ad statum rei romanae spectat; privatum quod ad singulorum utilitatem pertinet) (NADER, 2004). Assim, se o interesse tutelado pela norma for público, a norma será de Direito Público; se for privado, a norma será de Direito Privado. A crítica que se faz ao modelo supracitado parte do pressuposto de que não deve haver um divórcio entre os interesses dos cidadãos e do Estado, uma vez que as duas esferas estão interligadas. 
Teoria do Fim: adotada por Savigny, jurista alemão, afirma que se o objetivo da norma for o Estado, o Direito será Público; caso seja o particular, o Direito será privado (NADER, 2004). 
3.2.2 Teorias formalistas
Teoria do Titular da Ação: defendida por Thon, diz esta teoria que o Direito só é concretizado por meio de uma ação. Ação esta realizada por alguém. Se, pela natureza do Direito, a iniciativa da ação couber ao Estado, o Direito será público; ao revés, se couber ao particular, o Direito será privado.
Teoria das normas distributivas e adaptativas: o objetivo precípuo do Direito é regular a utilização dos bens pelo homem. Neste sentido, as normas jurídicas podem ser distributivas, quando visam a distribuir os bens entre os indivíduos, ou adaptativas, quando se tratar de bens de impossível distribuição, como rios, ruas etc. Cabe ao Direito, então, adaptar o uso desses bens. Se a norma for distributiva, como as normas do Direito Civil, o Direito será privado. Se for, ao contrário, adaptativa, como as normas do Direito Constitucional, o Direito será público. Essa é a tese de Korkunoff.
Teoria das relações jurídicas: divide o Direito em Público e Privado, segundo a classe de relações jurídicas tuteladas. Dessa forma, Direito Público seria aquele que traça o perfil do Estado e de seu funcionamento e cuida das relações entre as pessoas jurídicas de Direito Público e das relações entre estas e os particulares. Já o Direito Privado regula as relações entre os particulares (NADER, 2004). 
3.2.3 Teorias trialistas
Os defensores da teoria trialista, como Paul Roubier e Paulo Dourado de Gusmão, concebem um terceiro ramo, ao lado do Direito Público e Privado. Seria o Direito Misto ou Direito Social, composto por normas reguladoras de interesses públicos e privados. 
Um dos ramos do Direito Misto é formado pelo Direito Profissional que compreendeo Direito do Trabalho, o Direito Comercial, o Direito Processual e Legislação social. Enquanto o Direito Misto Regulador é formado pelo Direito Penal e pelo Direito Processual (NADER, 2004). 
4 RAMOS DO DIREITO PÚBLICO
4.1 Direito Constitucional
É o ramo do Direito Público que dispõe sobre a organização Estatal e também estabelece os direitos fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro.
Nele, a Constituição Federal, documento legal em que estão presentes as disposições mencionadas, é chamada de lei maior, porque as normas constitucionais são hierarquicamente superiores a quaisquer outras normas jurídicas. Pelo fato da Constituição ser classificada como rígida, as normas constitucionais só podem ser alteradas através de um procedimento mais rigoroso do que o das outras normas jurídicas. 
As alterações ao texto constitucional são chamadas de Emenda Constitucional. 
Além do requisito formal de alteração mais severa do que as demais leis, a Constituição Federal possui também limites materiais constitucionais que jamais serão modificadas, estes limites materiais são denominados de cláusulas pétreas e estão previstos no artigo 60, § 4° da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. A saber: a forma Federativa de Estado; o voto direito, secreto universal e periódico; a separação de Poderes e; os Direitos e garantias individuais (direitos fundamentais) (NADER, 2004).
4.2 Direito Administrativo
É o ramo do Direito Público que estabelece as normas a respeito da administração ou do serviço público. Quando se pensa em administração pública, deve-se ter em mente duas concepções: a) um sentido material, que são as atividades necessárias à coletividade e b) um sentido formal, que são as pessoas ou órgãos que desempenham essas atividades.
Os princípios básicos que regulamentam a Administração Pública são: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. 
É preciso destacar que a legalidade para a Administração Pública não é a mesma do particular. Isto porque o particular pode fazer tudo que a lei não proíbe, enquanto, a administração pública só pode fazer o que está previsto em lei (NADER, 2004).
4.3 Direito Internacional Público
O Direito Internacional Público diz respeito à estrutura e conduta dos Estados soberanos; entidades análogas, tais como a  Santa Sé; e as  organizações intergovernamentais.
Em menor grau, o Direito Internacional também pode afetar empresas multinacionais e indivíduos.
O Direito Internacional Público aumentou substancialmente em uso e importância ao longo do século XXI, devido ao aumento do comércio mundial, a deterioração do meio ambiente em escala mundial, a consciência das violações dos direitos humanos, o aumento em larga escala do transporte internacional e das comunicações globais.
O campo de estudo combina dois ramos principais: o Direito Civil (jus gentium), e os acordos e convenções internacionais (inter gentes jus), que tem bases diferentes e não devem ser confundidos.
Em seu sentido mais geral, o direito internacional estabelece regras e princípios de aplicação geral que tratam da conduta dos Estados e das organizações intergovernamentais e com suas relações entre si, bem como com algumas de suas relações com as pessoas, seja física ou jurídica. 
Neste contexto, o Direito Internacional Público estabelece a estrutura e os critérios para identificar os Estados como os principais atores do sistema jurídico internacional. Como a existência de um estado pressupõe controle e jurisdição sobre o território, o direito internacional trata da aquisição de território, imunidade estatal e a responsabilidade jurídica dos Estados em sua conduta com o outro.
O Direito Internacional é igualmente preocupado com o tratamento de indivíduos dentro dos limites do Estado. Há, portanto, um regime abrangente que trata dos direitos de grupo, o tratamento de estrangeiros, os direitos dos refugiados, crimes internacionais e os direitos humanos, em geral. Ele inclui ainda as funções importantes da manutenção da paz e da segurança internacionais, o controle de armas, a solução pacífica das controvérsias e da regulação do uso da força nas relações internacionais. Mesmo quando a lei não é capaz de parar a eclosão da guerra, desenvolveram-se princípios que regem a condução das hostilidades e o tratamento de prisioneiros. O direito internacional também é usado para governar as questões relacionadas com o meio ambiente global, os bens comuns globais, tais como águas internacionais e espaço exterior, comunicação global e comércio mundial (NADER, 2004).
4.4 Direito Internacional Privado
O Direito Internacional Privado é ainda hoje, essencialmente, um Direito interno e um Direito Privado. Só é internacional pelas implicações na circulação internacional das pessoas, dos negócios jurídicos e dos bens.
A este respeito cabe aludir, ainda, a áreas ou disciplinas jurídicas homólogas do Direito Internacional Privado noutros ramos do Direito, produto do mesmo fenômeno da comunicação entre os povos; assim, o Direito Tributário Internacional (que se ocupa da problemática da dupla tributação ou da não-tributação) ou o Direito Penal Internacional (como, por exemplo, à qualificação e à punição de atos ilícitos criminais cometidos por cidadãos de um Estado no território de outro) (NADER, 2004).
4.5 Direito Penal
O Direito Penal abrange o corpo de leis que se relaciona com o crime. Ela regula a conduta social e proíbe a ameaça, o dano, ou qualquer forma que ponha em risco a saúde, a segurança e o bem-estar das pessoas. Ele inclui a punição de pessoas que violam as leis. 
O Direito Penal difere do Direito Civil, cuja ênfase é mais na resolução de litígios e indenização das vítimas do que na punição.
As infrações são geralmente classificadas como crimes ou contravenções, com base em sua natureza e a pena máxima que pode ser imposta (NADER, 2004).
4.6 Direito Processual
Este ramo do Direito compreende as regras pelas quais um tribunal determina o que acontece na ação judicial civil ou criminal, trabalhista, no processo administrativo, dentre outros.
As regras são projetadas para garantir uma aplicação justa e coerente do devido processo legal (NADER, 2004). 
4.7 Direito Tributário
O Direito Tributário é uma área do estudo jurídico que lida com as normas regulamentares, constitucionais e de direito comum legais que constituem o direito aplicável à tributação, que é o método pelo qual o governo aplica taxas e outros tributos sobre  transações financeiras (NADER, 2004).
5 RAMOS DO DIREITO PRIVADO
5.1 Direito Civil
Conceitualmente, o Direito Civil procede de abstrações, formula os princípios gerais, e distingue as regras substantivas de regras processuais. Possui jurisprudência a ser subordinada à lei ordinária.
O direito civil tem como principal inspiração clássica o Direito Romano, e, em particular, o Direito de Justiniano. As doutrinas do Código Justiniano forneceram um modelo sofisticado de contratos, normas de procedimento, direito de família, testamentos, e um sistema constitucional monárquico forte (NADER, 2004). 
5.2 Direito Comercial
O Direito Comercial refere-se ao corpo de leis que se aplicam aos direitos, relações e conduta das pessoas e empresas envolvidas no comércio eletrônico, merchandising, trade e vendas. É frequentemente considerado como um ramo de direito civil e lida com questões de tanto Direito Privado e Direito Público (NADER, 2004).
5.3 Direito do Trabalho
É o ramo da ciência do Direito que tem por objeto as normas, as instituições jurídicas e os princípios que disciplinam as relações de trabalho subordinado, determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas à proteção desse trabalho em sua estrutura e atividade.
As normas do Direito do Trabalho pertencem ao Direito Privado (as referentes ao contrato de trabalho) e ao Direito Público (as referentes ao processo trabalhista) (NADER, 2004). 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na elaboração das notas conclusivas, buscou-se alinhavarconceitos, fatos e dados delineados no decorrer do percurso escolhido e trilhado. 
Nesse contexto, é impossível não correlacionar a realidade com a teoria jurídica. De fato, nos últimos anos, fortemente marcados por instabilidades, impasses e desigualdades, a Magistratura foi desafiada a aplicar, em conflitos inéditos na história dos tribunais brasileiros, uma ordem legal fragmentada entre muitos institutos jurídicos anacrônicos e algumas leis de caráter social. 
Assim, exercer o Direito é percorrer um caminho único, previsto teoricamente pelo legislador e aplicado pragmaticamente por juízes e advogados em demandas que se tornam verdadeiras batalhas nos tribunais. 
REFERÊNCIAS
MACHADO, E.M. Elementos de Teoria Geral do Direito. 4. ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995.
NADER, P. Introdução ao Estudo de Direito. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
ROBERTO, G.B.S. Introdução à História do Direito Privado e da Codificação. 3. ed. Belo Horizonte: Initia Via, 2011.

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