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60 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Unidade II 5 Literatura infantiL No século XVII, surge a Literatura Infantil, período em que houve a Revolução Industrial, e a burguesia se firmou como classe social urbana. Se até o início do século XVII a criança era vista como um adulto em miniatura, no final deste século e no início do século XVIII ela adquire um novo status, é considerada como um ser frágil, desprotegido, dependente, que necessita de valorização e proteção. Torna-se necessário, portanto, o surgimento de instituições que preservem o lugar da criança e do jovem na sociedade; nesses locais, deve ocorrer a mediação entre a criança e o mundo. Isso é feito por meio da alfabetização, o que exige o consumo de obras impressas. Muitas tipografias são abertas e estas determinam o início dos laços entre literatura e a escola. Na França, desde o século XVII, (monarquia de Luiz XIV), já havia uma preocupação com a literatura para crianças. As fábulas (1668), de La Fontaine e os Contos da Mamãe Gansa (1691-1697), de Charles Perrault são algumas das obras pioneiras do mundo literário infantil. Jean La Fontaine (1621-1692) deu forma às fábulas. Estas foram difundidas em Roma, na Grécia e depois retomadas pela corrente humanista. Também foram cultivadas nas literaturas orientais. La Fontaine nasceu em Paris, foi um poeta e fabulista e seu grande interesse, sempre recaiu na literatura. Em 1668, publicou suas primeiras fábulas, intituladas Fábulas escolhidas, as quais continham histórias de animais com características humanas e terminavam com o trabalho da moral. Conquistou os leitores facilmente por sua forma delicada, divertida, simples e atraente de expressão. Durante sua vida, foi reescrevendo suas fábulas e acrescentando novas narrativas em suas obras. A última edição de suas fábulas foi publicada em 1693. Algumas fábulas escritas e reescritas por ele são: A lebre e a tartaruga; O leão e o rato; e O carvalho e o caniço. Este autor foi considerado o pai da fábula moderna. Está sepultado no cemitério Père-Lachaise, em Paris, ao lado do dramaturgo Molière. Agora, vamos saber um pouco mais sobre Charles Perrault, considerado o precursor da Literatura Infantil. Perrault foi um escritor preocupado com a situação da mulher, a temática de seus contos era a injustiça com o público feminino. 61 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Após sua terceira adaptação do livro A pele de asno, história que mostrava a luta psicológica de uma jovem após ter sido assediada por seu pai, é que ele direciona sua escrita para a Literatura Infantil. Encanta-se ao perceber que tais narrativas poderiam não só maravilhar as crianças, como também orientá-las em sua formação moral, uma vez que, os contos, quando direcionados, podem trabalhar as virtudes e os bons sentimentos na infância. A Literatura Infantil nasce com a publicação dos oito contos da Mamãe Gansa: A bela adormecida no bosque; O barba azul; O gato de botas; As fadas; Chapeuzinho vermelho; A gata borralheira; Henrique do topete; e O pequeno polegar. Estes textos têm origem em antigos romances céltico-bretões e de antigas narrativas indianas. Quem foi a Mamãe Gansa? Segundo Coelho (1991), a Mãe Gansa contava diferentes histórias aos seus filhotes todos os dias, eles sempre estavam prontos para ouvi-las fascinados. Na verdade, ela representava as mães, que, durante os longos dias de inverno, contavam histórias para passar o tempo enquanto teciam. Assim, o nome Mãe Gansa passou a se referir a uma velha contadora de histórias. Citam-se também os irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm Grimm (1786), nascidos na Alemanha. Eles escreveram várias fábulas infantis e ganharam notoriedade na área. Retrataram as lendas e as narrativas conservadas pela tradição oral da memória popular. Wilhelm Grimm publicou seu primeiro livro em 1811, que apresentava traduções de lendas dinamarquesas antigas. Em 1812, eles publicam a primeira coletânea Contos da criança e do lar (Kinder und Hausmärchen), com tiragem de 900 exemplares. Mais tarde, em 1815, os irmãos Grimm produzem o segundo volume dessa obra. Uma nova publicação, que abrangia os outros três volumes, surge em 1825 e contribui muito para a popularidade dos contos. Os contos dos irmãos Grimm não são exatamente contos de fadas, apresentam-se como: contos de encantamento — as histórias apresentam metamorfoses, isto é, transformações ocasionadas por encantamento; os contos jocosos — predomina-se o humor; os contos maravilhosos — o elemento mágico norteia toda a história; as fábulas — histórias vividas por animais; os contos de mistério — apresentam um enigma a ser desvendado; e as lendas — histórias que sempre tinham ligação a alguma divindade. Alguns dos contos mais famosos dos irmãos Grimm são: A protegida de Maria; João e Maria, e Branca de neve. Outro escritor de renome foi Hans Christian Andersen (Odense, 2 de abril de 1805 — Copenhague, 4 de agosto de 1875), um dinamarquês mundialmente conhecido. 62 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Foi escritor de peças de teatro, canções patrióticas, histórias e de contos de fadas. Destacava-se por inventar contos que envolviam crianças e jovens. Suas principais obras foram: O abeto; O patinho feio; e A pequena sereia. Nos dias atuais, é comemorado o Dia Internacional do Livro (23 de abril), data do nascimento de Hans Chirstian Andresen. Agora, citamos José Bento Marcondes Monteiro Lobato (1882-1948). Ele foi o homem que desencadeou as mudanças na Literatura Infantil. Rompeu com o racionalismo tradicional e liberou toda a criatividade que a literatura precisava. Sua maior preocupação era com a renovação da Literatura Brasileira e principalmente com a linguagem brasileira na literatura. Lobato buscava uma dimensão verdadeiramente “brasileira” em sua obra. O sucesso das obras de Lobato com as crianças teve um fator decisivo: apontar a realidade comum e familiar à criança em seu cotidiano. Apresentava o maravilhoso e o mágico de uma forma natural e verossímil, o real e o maravilhoso se misturam em uma só realidade. Segundo Coelho (1982), algumas personagens reais — Lúcia, Pedrinho, Dona Benta, — têm a mesma “contextura” das personagens “inventadas” — a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa, o Pequeno Polegar e todas as dezenas de personagens que povoam o universo literário lobatiano. Todas elas fazem parte do universo faz de conta criado pelo autor e sempre encantam as crianças e os adolescentes. Monteiro Lobato mostrou como a função lúdica é importante na formação da criança e no seu desenvolvimento moral. Nós, como adultos, professores ou pais, podemos e devemos, por meio dessas obras, inserir as crianças no mundo literário infantil, a fim de estimulá-las a refletir sobre os livros, bem como desenvolver sua criatividade. As personagens de Monteiro Lobato marcaram época e foram utilizadas por outros escritores em suas obras. Por exemplo, cita-se o cartunista Ruy Jobim Neto, que fez três historinhas sobre o Sítio do pica-pau-amarelo. Lobato preocupou-se com a nacionalização da literatura, buscando abrir as portas para a criatividade da Literatura Infantil. Trouxe o mágico à realidade comum e familiar da criança com absoluta naturalidade, dando vida aos aspectos culturais do nosso cotidiano por meio da criação de seus heróis reais ou fictícios, seus mitos, conquistas da Ciência etc. Saiba mais Para saber mais sobre Monteiro Lobato Monteiro Lobato, leia: CECCANTINI, J. L.; LAJOLO, M. Monteiro Lobato - livro a livro. São Paulo: UNESP, 2008. 63 Re vi sã o: V ito r -Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Observação Apesar de Monteiro Lobato ser considerado racista e o MEC ter recebido solicitações para retirada de seus livros das escolas, Nelly Novaes Coelho, estudiosa de autores infantojuvenis, o defende, alegando que a literatura tem a função de explorar a realidade, e não se pode apagar a escravidão da história brasileira. 5.1 Literatura infantojuvenil e escola 5.1.1 A construção da infância e a Literatura Infantil Somente com a ascensão da burguesia, quando surge a necessidade de se estabelecer novos laços familiares, é que a infância passa a ser respeitada. Nessa época, há grande preocupação com os laços afetivos que unem a família, a fim de impedir que terceiros entrem nos negócios internos, evitando, assim, a divisão de bens. A criança é analisada de acordo com sua faixa etária, para que a classe dominante possa exercer influência em sua formação e manipular suas emoções. Para essa nova estruturação social, a Literatura Infantil e a escola serão de fundamental importância. Essa nova família: foi estimulada ideologicamente pelo estado absolutista e, depois, pelo liberalismo burguês, que encontraram neste núcleo o suporte necessário para centralizar o poder político e contrabalançar a rivalidade da nobreza feudal, ela recebeu o aval político para irradiar seus principais valores: a primazia da vida doméstica, fundada no casamento e na educação dos herdeiros; a importância do afeto e da solidariedade de seus membros; a privacidade e o intimismo enquanto condições de uma identidade familiar (ZILBERMAN, 1985, p. 14). A Literatura Infantil nasce com a missão de educar e de transmitir valores, portanto, não é vista como arte, e sim como um instrumento didático para servir à multiplicação da norma em vigor. Assim, é dever da escola participar do processo de manipulação da criança, para conduzi-la a acatar a norma vigente, a da classe dominante, a burguesia. Aspectos importantes da Literatura Infantil: • os primeiros livros para crianças foram elaborados e publicados somente no final século XVII e no século XVIII, pois, até então, não respeitavam a infância tal como ela é; • a valorização da infância é uma característica fundamental do modelo familiar burguês; 64 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 • a nova valorização da infância permitiu maior união familiar, bem como o controle do seu desenvolvimento emocional e intelectual; • foram as modificações sociais e políticas acontecidas na Idade Moderna que propiciaram o surgimento da escola, e, assim, a Literatura Infantil passa a ser utilizada como um instrumento de manipulação. Atualmente, segundo Zilbermam (1985), a literatura e a escola devem se tornar um espaço para a criança refletir sobre sua condição pessoal, despertando seu potencial criador, “[...] a Literatura Infantil deve ser levada a realizar sua função formadora, que não se confunde com uma missão pedagógica” (ZILBERMAN, 1985, p. 25). A autora ainda destaca como o docente deve trabalhar com a Literatura Infantojuvenil: o professor que se utiliza do livro em sala de aula não pode ser igualmente um redutor, transformando o sentido do texto num número limitado de observações vistas como corretas (procedimento que encontra seu limiar nas fichas de leitura, cujas respostas devem ser uniformizadas), para que possam passar pelo crivo do certo e do errado; [...] ao professor, cabe o detonar das múltiplas visões que cada criação literária sugere, enfatizando as variadas interpretações pessoais, porque estas decorrem da compreensão que o leitor alcançou do objeto artístico, em razão de sua percepção singular do universo representado (ZILBERMAM, 1985, p. 24). Sendo assim, podemos inferir que o professor, ao trabalhar a Literatura Infantojuvenil em sala de aula, deverá escolher a literatura ideal para cada faixa etária. Assim, o educador deverá propiciar formas de motivação, despertar na criança ou jovem o interesse e a compreensão do assunto em foco. Quando o professor conta histórias, ele transforma coisas sérias em brincadeiras, e essas narrativas estimulam a análise das crianças, por isso é preciso o docente teatralizar sua voz, mudando seu tom e sua entonação durante sua exposição. Zilberman (1985) destaca que o professor deve dominar critérios de julgamento estético que permitam a seleção de obras de valor, além de ter conhecimento do conjunto literário destinado às crianças, considerando a trajetória histórica (origem e evolução), os autores atuais, nacionais e estrangeiros mais representativos. A criança é influenciada por sua leitura, por isso o professor deve fazer uma escolha criteriosa dos assuntos que serão abordados em sala de aula. Existem vários sites na internet que sugerem critérios para uma boa seleção de livros infantojuvenis. Vale a pena consultar. 65 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Saiba mais Para saber mais sobre como selecionar livros infantojuvenis, acesse os sites: <www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article>; <www.miniweb.com.br/literatura/artigos/leitura.html>; e <www. pedagogiaaopedaletra.com/.../literatura>. 5.2 a importância da Literatura infantojuvenil para o pedagogo Para muitos professores, a Literatura Infantojuvenil não precisa ser trabalhada em sala de aula. Basta listar os livros que deverão ser lidos no semestre, e, posteriormente, cobrá-los na avaliação. A magia dessa leitura, a viagem para dentro do livro e a compreensão dos símbolos contidos ficam para outro momento ou outro professor. O hábito da leitura é desenvolvido nos primeiros 12 anos de vida, e se faz necessário que professores e pais se conscientizem do importante papel que terão: incentivar esses jovens a se concentrar nessa jornada. Sem dúvida, o meio social terá grande influência também, mas, por outro lado, hoje as escolas recebem inúmeros livros didáticos e paradidáticos. Mesmo as classes menos privilegiadas podem ter acesso à Literatura Infantojuvenil, porém é necessário que a escola disponibilize espaço e tempo para que os alunos tenham oportunidade de tocar, cheirar, ler e viajar nas histórias que encontrarão. Sendo assim, cabe ao professor desenvolver um trabalho criativo e sedutor, que desperte o interesse do educando para a leitura, porque é por meio deste veículo que poderá desenvolver suas habilidades na escrita e na leitura. Portanto, a leitura é uma ferramenta importante para a construção do conhecimento, do desenvolvimento intelectual, ético e estético do ser humano. A dificuldade em desenvolver a leitura está relacionada ao acervo, à experiência dos docentes e ao escasso apoio da equipe escolar. Aprender as diferentes formas de leitura corresponde a saber interpretar os textos de vários tipos e gêneros textuais que circulam. Para que se estimule a leitura, é necessário deixar que os alunos tenham acesso às informações, aos jornais, aos livros, aos vídeos, às histórias em quadrinhos, às poesias etc. 5.2.1 A Literatura Infantojuvenil na sala de aula Você já pensou na importância da Literatura Infantojuvenil para seus alunos? Literatura é uma arte que desperta as emoções. Sensibilizar é fundamental para estimular o gosto estético. Assim, precisamos descobrir esse caminho, aprendendo a apreciar, a sentir, a interpretar, a criar etc. A Literatura Infantojuvenil é a chave para a construção desse processo. 66 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 A Literatura Infantojuvenil se justifica no curso de graduação de Pedagogia pela necessidade dofuturo docente estar preparado e dotado de instrumentos adequados ao cumprimento de sua função didática. Assim, essa disciplina tem o intuito de despertar no futuro professor o gosto literário, para que ele possa pôr em prática suas experiências. Com isso, o professor estará mais consciente frente ao essencial e precioso universo da literatura. O docente, sentindo-se capaz de criar e estando consciente da importância dos benefícios que o processo criador atribui à formação da criança e do adolescente, terá condições de oferecer oportunidades para que o aluno liberte sua imaginação, desenvolvendo e despertando sua curiosidade para a realidade que o cerca. [...] o fazer literário pode ser muito bem explorado desde cedo, despertando a criança, inclusive, para o caráter socializante da literatura: autor-leitor. Então, por que não oferecer ao aluno a possibilidade de se posicionar como autor – desenvolver seu livro, nele criar a sua realidade, seus anseios, e, por meio de sua linguagem, descobrir seu gosto estético? Assim, teremos uma literatura criada pelos próprios alunos [...] (ANGELINI, 1991, p. 13). Usando o fazer literário com intencionalidade, podemos, então, propiciar à criança e ao jovem o seu desenvolvimento de forma harmoniosa, intervindo em seu aspecto físico, psíquico e espiritual. Ainda, por meio do trabalho com a Literatura Infantojuvenil, outros objetivos podem ser alcançados como o desenvolvimento de sua capacidade de comunicação verbal e não verbal, pois, o educando, à medida que pensa e escreve, desenvolve a linguagem oral e escrita, além de adquirir conhecimentos culturais e artísticos. Será que somente esses aspectos são trabalhados nesta área? A leitura estimula a observação, o pensamento reflexivo, o senso crítico e também aprimora seu gosto estético. Para a prática dessa proposta, não existem obstáculos, desde que o professor queira apoiar o aluno no processo da criação. É importante, então, que o próprio professor vivencie essa caminhada para poder despertar e possibilitar a formação de seres modificadores, que possam responder ativamente. Para tanto, o tom autoritário que desvaloriza, desmerece e oprime tem que ser banido da sala de aula, cedendo lugar à integração e à valorização no próprio processo educativo — formativo e criativo do aluno (ANGELINI, 1991, p. 14). 5.3 Literatura infantojuvenil — arte literária ou recurso pedagógico? Ainda hoje uma questão tem sido levantada acerca da Literatura Infantil: ela pertence à arte literária ou à área pedagógica? 67 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar [...] se analisarmos as grandes obras que através dos tempos se impuseram como “Literatura Infantil”, veremos que pertencem simultaneamente a essas duas áreas distintas: a da Arte e da Pedagogia. Sob esse aspecto, podemos dizer que, como “objeto” que provoca emoções, dá prazer ou diverte, e, acima de tudo, “modifica” a consciência de mundo de seu leitor, a Literatura Infantil é arte. Por outro lado, como “instrumento” manipulado por uma intenção “educativa”, ela se inscreve na área de Pedagogia (COELHO, 1982, p. 24, grifo do autor). Não podemos deixar de compreender que a escola e a literatura devem se tornar o lugar para a criança refletir sobre sua condição pessoal. A literatura não deve ser trabalhada apenas com fins pedagógicos, ela deve possibilitar a ampliação de uma visão crítica e desencadear uma postura reflexiva perante a realidade, bem como desenvolver a sensibilidade da criança, seu gosto estético, a criatividade e a autoria. [...] Felizmente, para equilibrar a balança, há já uma produção infantil e juvenil de alto ou muito bom nível, que conseguiu, com rara felicidade, equacionar os dois termos do problema: literatura para divertir, dar prazer, emocionar [...] e que, ao mesmo tempo, ensina modos novos de ver o mundo, de viver, de pensar, de reagir, de criar [...] E, principalmente, mostra-se consciente de que é pela invenção da linguagem que essa intencionalidade básica é atingida [...] (COELHO, 1982, p. 25-26). A Literatura Infantojuvenil deve propiciar à criança o sonho, a imaginação, a fantasia, a possibilidade de interpretar e recriar o mundo à sua volta. Quanto à leitura, é preciso orientar a criança para o sentido lúdico e prazeroso de ler, não se deve coagi-la, isto é, não forçá-la para que ela possa ter uma relação gostosa, de lazer com o seu universo literário. Para que os futuros professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental possam utilizar em suas aulas os recursos estéticos, lúdicos e pedagógicos da Literatura Infantojuvenil, é preciso que eles tenham subsídios necessários. O docente deve ter em mente que, ao trabalhar a leitura de histórias com frequência, o prazer da leitura se consolidará. Ressalta-se que, para a escolha das leituras para crianças, jovens e adolescentes, o professor deverá obedecer aos estágios de desenvolvimento psicológico dos estudantes. Obedecer às diversas etapas do desenvolvimento infantil (estabelecidas pelas pesquisas da Psicologia Experimental) vem sendo a preocupação fundamental de todos que têm a seu cargo a educação de crianças. [...] Apesar das óbvias diferenças que existem entre as crianças da mesma idade (pois o crescimento físico, o desenvolvimento psíquico-intelectual, a evolução da afetividade, da sensibilidade e dos interesses em geral dependem diretamente de várias causas interligadas), conseguiu-se estabelecer fases que são consideradas normais no desenvolvimento da criança (COELHO, 1982, p. 11). 68 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 O caminho para a compreensão da criança será realizado por meio dos estudos de Piaget — os estágios de desenvolvimento psicológico da criança. Assim, o mestre deve sintetizar as diferentes interpretações de cada etapa no desenvolvimento da criança e o tipo de literatura mais adequada. A seguir, estudaremos essas fases de desenvolvimento e os estágios psicológicos da criança descritos por Coelho (1982). 6 eStágiOS pSicOLógicOS da criança e a Literatura 6.1 primeira infância: movimento e emotividade (dos 15/18 meses aos 3 anos) Neste momento, a criança interage com o meio por meio do tato, e é interessante o professor trabalhar com livrinhos que possuam figuras com diferentes texturas; deve-se incentivar a criança a manuseá-los, a fim de perceber as lisuras ou asperezas do material. A criança necessita da expansão da motricidade, e esta descoberta dar-se-á não só pela descoberta de si mesma, mas também pelo incentivo e participação de outras pessoas com as quais convive (COELHO, 1982). Cabe lembrar que, se a criança aprende pela imitação, é de suma importância o “outro social”. A natureza do próprio desenvolvimento se transforma do biológico para o sócio-histórico. O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inato, mas é determinado por um processo histórico-cultural e tem propriedades e leis específicas (VYGOTSKY, 1989, p. 44). Portanto, se o meio sócio-histórico-cultural é que irá influenciar no desenvolvimento da linguagem, e é esta que irá organizar as formas de pensamento, o “outro social”, os livros, as pessoas e os contadores de histórias serão imprescindíveis nesta etapa de aquisição. A literatura mais adequada é a que se identifica com o jogo. Livros de imagens (álbuns de figuras) que estimulam a percepção visual e motriz, livros de pano etc. são desejáveis. A música e o canto fazem parte da iniciação literária ou cultural dessa fase. Saiba mais Para saber mais sobre a linguagem, leia: VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 6.2 Segunda infância: fantasia e imaginação (dos 3 aos 6anos) Esta fase é marcada pelo uso do faz de conta, é a fase lúdica; o pensamento mágico se torna realidade. As coisas são dotadas de vida, vontade e de intencionalidade, é a “fase do animismo” (COELHO, 1982). 69 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Os livros devem apresentar elementos familiares ao mundo da criança. Recomendam-se textos que tratem de situações cotidianas, os contos de animais, as fábulas simples os contos maravilhosos e alguns vídeos. Saiba mais Um bom exemplo de filme para a fase apresentada é: Alice no país das maravilhas. Direção de Tim Burton. EUA: 2010 (108 minutos). O filme Alice no país das maravilhas relata a história de uma menina curiosa, de imaginação muito fértil, que, ao adormecer embaixo de uma árvore, viaja ao País das Maravilhas. Lá, encontra o coelho branco, que será seu cicerone naquele mundo diferente e cheio de magia. Lá, conhece o Gato Risonho e a Lagarta, toma chá com a Lebre Maluca e o Chapeleiro Louco, e também participa de um jogo de croquet com a Rainha de Copas. Exemplo de aplicação Com base no filme citado anteriormente, elabore um plano de aula respondendo às seguintes questões: • por que trabalhar com esse filme? • quais conteúdos serão trabalhados com o filme? • qual o objetivo a ser atingido? 6.3 terceira infância: pensamento racional e socialização (dos 7 aos 11 anos) Neste estágio, o faz de conta aos poucos vai sendo substituído pelo pensamento racional. É apenas o início da racionalidade, porque a criança ainda não abandonou de vez suas características infantis. Gradativamente, ela toma consciência do ego, e, então, surge a capacidade de estabelecer novas relações entre si e com os outros (COELHO, 1982). O aparecimento do raciocínio lógico irá permitir o desenvolvimento das operações mentais, o que favorecerá o aprendizado da leitura e da escrita. A imaginação e a realidade se fundem. Sendo assim, os livros mais adequados são aqueles que realçam as situações de aventura ou mistério (a presença do heroico é essencial); histórias alegres; narrativas populares; novelas policiais e narrativas do cotidiano. 70 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 6.4 pré-adolescência: pensamento reflexivo e idealismo (dos 11 aos 16 anos) Neste período, a capacidade de abstração e o pensamento hipotético-dedutivo da criança estarão prontos para assimilar o mundo que a rodeia. Por esse motivo, aprofunda-se o conhecimento do mundo com as noções abstratas: de tempo; de espaço; de causalidade; de número; e de semelhanças ou diferenças entre os elementos que compõem o seu universo concreto (COELHO, 1982). A literatura adequada é a que realça a ação dos heróis ou heroínas — personagens que lutam por um ideal humanitário. Recomendam-se também os romances com grandes aventuras, os mitos, as lendas, as novelas de ficção científica, os contos realistas etc. 6.5 adolescência: ânsia de viver — aventura — busca e revolta (a partir dos 17/18 anos) As mudanças psicossociais farão que os jovens busquem a compreensão da essência das coisas, o porquê dos fenômenos. Surgirá também a necessidade de ajustamento social do mundo “adulto”. Haverá mudanças no corpo do adolescente bem como oscilações hormonais, o que favorecerá o despertar da sexualidade e o surgimento dos conflitos existenciais entre a ânsia de viver com a ânsia de saber. É difícil delimitar a literatura mais adequada a essa fase. Diferentes gêneros literários podem atrair o jovem nessa fase, como: poesia, aventuras que envolvam a realização do ser; histórias humorísticas; livro de mistério; romances policiais; ficção científica; livros que tratem das relações sexuais; teatro etc. (COELHO, 1982). Nesta aula, você observou como é importante o professor conhecer a criança e seu desenvolvimento. É fundamental que o docente conheça seu aluno e saiba trabalhar com textos mais adequados aos estudantes. Ainda, é imprescindível proporcionar oportunidade de o futuro professor conhecer, estudar, analisar e valorizar os autores brasileiros da Literatura Infantojuvenil. 7 cOmO avaLiar O textO LiteráriO — critériOS de anáLiSe 7.1 Literatura infantil — aspectos a serem desenvolvidos A Literatura Infantil não pode trair seu leitor com livros que sejam meramente educativos. Sua função é entreter e instruir o leitor para que este tire suas próprias conclusões das obras trabalhadas. Ser infantil não significa ser “menor”, ingênuo, fraco ou ser indiferente aos sentimentos. É muito importante trabalhar com textos polissêmicos, ou seja, que apresentem diversos significados. Tendo por objetivo desenvolver o gosto estético, o prazer pela leitura, a valorização da cultura — costumes e tradições, a Literatura Infantojuvenil influirá diretamente no processo educativo e formativo do ser. Dessa forma, o futuro professor deve ter consciência da importância dos critérios de análise dos livros para crianças, bem como conhecer seu desenvolvimento psicológico. 71 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Mas como levar o futuro professor a avaliar uma obra infantil? É preciso que o docente conheça e leia diferentes textos infantojuvenis, verificando, seja no texto em prosa ou em verso: suas características; seu valor artístico; a consciência de mundo do autor; a mensagem etc. O texto muito ingênuo, tolo, torna a leitura cansativa, a história fica sem expressão — não atraente, e a criança o rejeita por ser limitado, pois não abre caminhos à sua imaginação. Dessa forma, o valor artístico se perde com o empobrecimento da matéria literária. Há muitos poemas que apresentam apenas a rima, não possuem muito conteúdo e oferecem valores ultrapassados que reforçam apenas as aparências e uma ingenuidade tola. Por isso, torna-se imprescindível esclarecer o futuro professor sobre os critérios a utilizar para a avaliação do texto literário. 7.2 como avaliar o texto literário? A análise do texto procura todas as possíveis relações entre a escrita literária e o universo criado por ela (que é a obra em seu todo). Também busca as relações entre a obra e seu momento histórico, social, político, econômico e cultural. Com esse processo, tentamos descobrir: em que medida a obra difere ou não dos esquemas consagrados em seu tempo; e em que medida sua matéria literária pode ser diluidora (fórmulas de textos já desgastadas, sem nenhuma preocupação com a arte literária). Uma análise literária avança a partir de uma série de perguntas: a) O que a obra transmite? b) Qual seu enredo, assunto, trama? c) Como isso é expresso em escritura literária? Quais os recursos de linguagem ou de estrutura escolhidos pelo autor? d) Qual a intenção que predomina nessa escolha: a estética ou a ética? (a primeira dá ênfase ao fazer literário; a segunda, aos padrões de comportamento [...]). e) Qual a consciência de mundo (ou sistema de valores) ali presente ou latente? Há ou não coerência orgânica na construção da obra entre estilo, recursos expressivos, problemática e consciência de mundo? (é essa organicidade que lhe dá o valor de obra literária). f) Qual a intencionalidade do autor que pode ser percebida na obra? g) Qual seria sua finalidade em relação ao leitor? Divertir, instruir, educar, emocionar, conscientizar? (COELHO, 1982, p. 27) Coelho está apenas sugerindo algumas questões para trabalhar com textos literários, estas serão úteis no momento de se fazer a avaliação; elas indicam um caminho para o futuro professor poder 72 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06/2 01 2 realizar uma leitura, reflexiva, pois isso o levará a perceber melhor o texto, suas ideias e intenções em relação ao seu discurso literário. Esses aspectos são fundamentais para uma leitura crítica, o docente poderá desvendar o “currículo oculto”, isto é, quais as intenções verdadeiras existentes por trás dos textos, que, aparentemente, inocentes; também será possível levar o leitor a encontrar o “belo” na obra literária, o seu valor estético, um princípio básico da Arte. A análise da obra literária ajuda o professor a perceber a consciência de mundo implícita a ela e o seu valor literário e a avaliar a obra literária infantojuvenil, pois a criança ainda é um leitor imaturo intelectualmente. O docente precisa cultivar na criança, por meio da leitura e da interpretação, um espírito crítico e reflexivo. 7.3 como avaliar a imagem da obra literária infantojuvenil? A ilustração de um texto ocorre fundamentalmente em livros para pequenos leitores, para aqueles que ainda não sabem ler as palavras, pois é um símbolo complexo e depende de um aprendizado para a relação convencionalmente estabelecida entre a palavra e o ser a que se refere. Para que se desenvolva o gosto pela futura leitura e o prazer pelas histórias que são lidas para as crianças, a ilustração é um recurso essencial a essa fase. A imagem possibilita à criança mergulhar no universo encantado da Literatura Infantil; o ilustrador, o editor e mesmo o professor têm grande responsabilidade ao escolher um livro para as crianças que ainda não construíram seu processo de leitura e escrita. O livro de Literatura Infantil, quando escrito e ilustrado com arte, é o encontro de pelo menos dois artistas, que propiciam à criança o prazer por ler a imagem e contar sua história. [...] ilustrar não significa desenhar e pintar com perfeição para reproduzir o texto, o que deve ser ressaltado é o valor artístico da técnica a ser utilizada: desenho, pintura, colagem etc. É essencial saber jogar criativamente com cores e formas, pois a imagem deve ser um caminho para o despertar da imaginação; portanto, não deve reproduzir o texto escrito nem se distanciar da história. Os dois tipos se limitam, não dão chance ao leitor de imaginar. A ilustração, como o texto, com valor artístico, aflora a sensibilidade e leva a criança ao gosto estético, permitindo que mergulhem no mundo da fantasia (ANGELINI, 1991, p. 27-28). A ilustração estereotipada, a qual não oferece ao leitor qualquer possibilidade de imaginar, por não apresentar inovação, torna-se muito simples, e, geralmente, sua intenção é reproduzir o texto ou se apoiar no colorido para chamar a atenção. Ainda há ilustrações que se distanciam do texto e outras que o traduzem. As duas propostas estão equivocadas por não apresentarem nada de criativo e sugestivo à criança. Outro aspecto a considerar é o exagero de detalhes: Um engano muito frequente nas edições infantis é supor que o número de elementos e a superposição de detalhes sejam dados positivos com relação 73 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar à criança. Muitas vezes, a ilustração perde a unidade, desintegra o texto e torna-se um amontoado de mau gosto. Há livros que chegam a apresentar, nas linhas do próprio texto, desenhos “traduzindo” as palavras da história. Diferem das cartas enigmáticas, porque trazem as palavras escritas ao lado do desenho. As cartas enigmáticas são mais interessantes, porque pelo menos são como um jogo (CUNHA, 2004, p. 76). Portanto, a ilustração deve ser pensada e repensada em sua aplicação, porque é um elemento que poderá desenvolver o gosto ou não pela leitura. 8 a iLuStraçãO e O pequenO LeitOr — aSpectOS impOrtanteS Para crianças bem pequenas, é interessante trabalhar com livros em que prevaleça a ilustração; o texto deve ser curto e levar a criança ao encontro das imagens. Nessa fase, pode-se apresentar à criança os “livros-vivos” (nomenclatura usada na França) ou livros-brinquedo. Estes são livros que têm apelo visual, suas imagens são ferramentas que entram no universo lúdico da criança, possibilitando o prazer com o texto. Os “livros-vivos” funcionam também como estratégia para atingir os não leitores; são os livros com diferentes texturas, formatos, sons, que propõem uma interação maior com a criança, pois se identificam com os jogos. Destacam-se também os “álbuns de figuras” ou os livros de imagens, que estimulam a percepção visual e motriz das crianças e atendem às necessidades básicas da primeira infância. O material desses livros pode ser de pano, plástico, papel grosso etc. Esse é o momento em que, ao mesmo tempo em que as crianças descobrem as formas concretas do mundo e dos seres à sua volta, ela também começa a conquista da linguagem. Veja algumas dicas: • para crianças que já iniciaram seu processo de leitura, deve-se predominar a ilustração, o texto deve ser curto e apresentar letras grandes, como no “álbum de figuras”; • para crianças que já desenvolveram sua leitura, é importante reduzir as ilustrações e colocar o texto em evidência; • para crianças de nove, dez anos e que já são leitoras, os livros podem conter imagens, mas o professor deve incentivá-las a ler livros sem imagem. Se o texto for suficientemente interessante e o livro tiver uma boa diagramação, a leitura não “pesará” à criança. Se for difícil, devemos tomar o fato como um alerta: talvez ela tenha sido exageradamente “poupada” pelas leituras muito fáceis e cheias de gravuras. O excesso de ilustrações nessa fase é sinal do quanto subestimamos a criança, não considerando que seja capaz de qualquer esforço intelectual (CUNHA, 2004, p. 75). 74 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 8.1 paginação e diagramação A relação texto-imagem-espaço é que vai dar ao livro momentos especiais, marcar diferentes sentimentos que se queira sugerir, como suspense, expectativa, surpresas; são momentos cruciais e envolventes à história. Outros elementos também são essenciais: o tipo de papel, de capa e a forma de acabamento do livro. Tais aspectos vão determinar a qualidade artística do livro, bem como o seu custo. Quanto à editoração de livros infantojuvenis, é preciso cuidar da ilustração com o mesmo cuidado em relação ao texto. Há muitos aspectos que devemos avaliar para a indicação de um bom livro na Literatura Infantojuvenil. Dessa forma, compete aos educadores ampliar sua visão frente ao universo da Literatura Infantojuvenil como arte. Aspectos relevantes: • as ilustrações dos livros infantis devem ser reduzidas à medida que as crianças evoluam na leitura; • a ilustração nasce da leitura que um artista fez de outro artista, o escritor; • a ilustração artística deve ser conotativa; • para as crianças pequenas, é preciso prevalecer a ilustração no livro, cujo objetivo é desenvolver seu interesse pela leitura; • para crianças que começaram a ler há pouco tempo, ainda se deve trabalhar com livros em que as imagens predominam; • a ilustração no campo da Literatura Infantil só é válida se for artística; • à medida que a criança evolui na leitura, as ilustrações devem ser reduzidas. 8.2 como e por que desenvolver a criação de um livro infantojuvenil? Essa pergunta é fundamental para que o professor possa se ver como um agente transformador, ser capaz de ousar e possibilitar a seus alunos espaços de autoria e criatividade. Acredito que criar é essencial à natureza humana; dentro desse princípio e de minha função – ser professora. Soltei as amarras, mergulhando numa grande aventura e descobri dentro do magistério que, antes do professor ensinar, ele tem muito a aprender, a criar, desde que esteja aberto a uma postura de troca,onde todos têm algo a aprender. O aluno traz riquíssimas experiências quando solicitados a participar de seu processo formativo e educativo, apresentando uma infinidade de caminhos, por meio de técnicas, jogos vivenciados e renovados de acordo com suas necessidades; assim, engajado no processo, o aprender torna-se agradável e rico a ambos (ANGELINI, 1991, p. 5). 75 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Atualmente, temos a necessidade de encarar a construção dos processos de leitura e escrita como autoria e criatividade, e a literatura infantojuvenil – a arte da palavra – pode propiciar essa aventura. Aventura no sentido de levar o aluno ao mundo da imaginação, da subjetividade, da estética, pelo prazer de ler, escrever e ser autor de sua história de vida. Nossa proposta é sensibilizar o aluno frente à vida, à sua história. A criança é essencialmente narradora, gosta de ouvir e contar histórias, principalmente de ouvir sobre sua história. Isso está se perdendo por conta do desencontro entre pais e filhos. Dessa forma, a escola pode propiciar esses espaços e aproximá-las da literatura, das artes. A criança é inventiva, adora criar — para ela, o ato de criar se identifica com o de brincar. 8.3 como envolver o aluno no processo criador? A criança precisa ser estimulada para ler, contar e escrever. O professor é a chave para que esse processo se desenvolva. Envolver o aluno no processo criador é essencial, por isso, antes da criação do livro, ele deve vivenciar algumas técnicas para se inserir no mundo da arte da palavra. Introduzir, num primeiro momento, o cantar, o gosto por ouvir músicas, poesias e histórias para levar o aluno ao encanto do ritmo das palavras é importante. O caminho da literatura oral dará condições à criança e ao adolescente de desenvolver a linguagem oral, corporal, plástica, e, consequentemente, a escrita; o prazer em ouvir a levará a contar, e, na infância, a criança é essencialmente narradora (ANGELINI, 1991, p. 33). Dessa maneira, cabe ao professor desenvolver propostas que sensibilizem seu aluno para a leitura e a escrita. É sempre muito importante conduzir os estudantes à leitura e à análise de diferentes livros e gêneros literários da Literatura Infantojuvenil: histórias, poesias, crônicas, imagens, quadrinhos etc. É importante fazer que os alunos observem a construção de um livro: texto, ilustrações, paginação, diagramação, a forma do livro, tipo e tamanho das letras, a montagem do livro, sua encadernação, bem como observar a capa, autor, ilustrador e editora. O objetivo é instigá-lo a criar o seu livro, a escrever e a ilustrar sua própria história. À medida que o aluno se envolve com a atividade, mais vontade tem de criar. Depois de todo um trabalho prévio de motivação, está na hora do aluno ser autor, criar seu livro. Quanto à organização e montagem do livro, são necessárias algumas orientações, como: dados sobre a capa – título do livro; nome do autor; e uma ilustração sugestiva e atraente, que se prenda à essência da história. O aluno pode usar o material que quiser, e, quanto à ilustração, pode trabalhar com a técnica que melhor dominar: desenho, colagem, fotografia, pintura etc. Em relação à produção do texto, cabe ao professor ajudar o aluno em sua revisão e torná-lo consciente que tudo que escrevemos é para um leitor, e, assim, devemos escrever com cuidado e respeitar as normas gramaticais de nossa língua. É preciso orientá-lo na organização do texto, se usará narrativa ou 76 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 poesia, pois a maneira de escrever deve obedecer a critérios da modalidade de texto. Esse é um trabalho fascinante; o aluno se realiza enquanto autor e expressa em seus livros sua realidade, e, ao discutir seus problemas, facilita seu processo educativo, formativo e criativo. Uma satisfação imensa invade a sala de aula — é o poder da palavra nas mãos. O importante é que o trabalho que nasce da Literatura Infantil deixa marcas importantes para a vida da criança e de todo aquele que experimenta o ato de criar. Veja as palavras de uma aluna de onze anos, de uma escola da rede pública da cidade de Diadema, onde foi vivenciada a criação dos livros: Eu adoro escrever, porque é escrevendo que eu solto minha imaginação e digo o que penso. Criando meu livro, descobri que sou capaz de escrever outros. Lendo bons livros infantojuvenis, sinto-me feliz, e foi com um desses livros que eu comecei a me interessar por livros de todas as espécies (ANGELINI, 1991, p. 56). O livro possibilita a construção de leitores e escritores. Ter a oportunidades de escrever aguça a imaginação, a criação e a curiosidade presentes desde a infância e que são tão obstruídas pela sociedade. Aspectos relevantes: • o professor deve estimular a criança a criar dentro da construção de seus processos de leitura e escrita, isso possibilita o desenvolvimento da autoria; • a criança é um ser de histórias, de narrativas; por isso, pais e professores devem contar histórias; • a Literatura Infantojuvenil é um instrumento valioso para despertar o gosto pela leitura, desde que o professor saiba trabalhar com a literatura enquanto arte; • o professor deve estimular a criança a ouvir e ler histórias, isso despertará sua vontade por escrever outras histórias; • a criança, ao escrever uma história, está desenvolvendo seu processo de autoria e criatividade; • a Literatura Infantil deve entrar na escola apenas como um recurso didático; • o professor precisa conhecer o desenvolvimento psicológico da criança para saber qual o livro adequado à sua faixa etária; • o docente deve deixar a criança expor oralmente sua interpretação sobre o livro lido: texto, ilustração, paginação e diagramação; • ao se aventurar no processo da criação, a criança pode apresentar muita insegurança, é preciso que o professor a apoie e a estimule nesse momento; • para a criação de um livro, o professor deve conversar com a criança a respeito da organização do texto, sobre os aspectos da ilustração e como montá-lo; 77 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar • em relação ao processo de ilustração, o que deve ser ressaltado é o valor artístico da técnica a ser utilizada. Deve-se saber trabalhar com cores e formas; • quanto à narrativa, precisa-se pensar na adequação da obra em relação à idade da criança. Devemos considerar três fases para a Literatura Infantil: Fase do mito — crianças de três/quatro anos a sete/oito anos. Características: predomínio da fantasia, do animismo: para as crianças, pessoas e objetos têm alma. Não existe diferença entre a realidade e a fantasia. A leitura adequada a essa fase é a dos contos de fadas, as lendas, os mitos e as fábulas. Fase do robinsonismo — crianças de sete/oito anos a onze/doze anos. Características: conhecimento da realidade; a criança tem maior necessidade de ação; interessa-se pela experiência do homem e da ciência; valoriza o esforço pessoal, o engenho do herói para vencer obstáculos. A literatura adequada a essa fase é o romance de aventura, o relato histórico, relatos mitológicos. Nessa fase, meninos e meninas têm interesses diferentes, as meninas têm uma tendência maior ao sonho, à irrealidade, ao romantismo da terceira fase. Fase do pensamento racional — crianças de onze/doze anos até a adolescência. Características: domínio das relações abstratas; surge uma segunda fase egocêntrica, a criança preocupa-se consigo mesma, em sua relação com os outros; há a preocupação sexual; as questões pessoais apresentam valor essencial, por isso seu interesse porromances. A leitura adequada a essa fase é a romântica, pelo caráter de seus heróis e por seus temas (CUNHA, 2004, p. 101). O que o professor deve lembrar é que as crianças e jovens devem ter acesso a todo tipo de obra literária e que possam expressar-se livremente sobre os textos lidos. 8.4 O teatro na escola — uma atividade completa O futuro professor deve saber da importância de se trabalhar com o teatro desde os primeiros anos de escolaridade da criança. Essa atividade passa pelo corpo, pelo organismo, pelo afeto, pela cognição, pelas relações, pelo inconsciente. Também desenvolve todos os aspectos inerentes à vida da criança: social, afetivo, cultural. É uma atividade envolve a criança como um todo, atingindo vários objetivos. Para Casa Branca (1982), o teatro é um retrato de emoções, de sentimentos inerentes ao ser humano. Essa linguagem artística terá sua origem na Antiga Grécia, e, desde então, o mundo inteiro vive, participa desse espetáculo de emoções — o teatro. 78 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Veja a citação a seguir: Acredito ser o teatro uma das formas mais completas para desenvolver integralmente a criança: envolve leitura, interpretação, redação, adaptação do texto, caracterização de personagens, representação-desenvolvimento da expressão facial e corporal das percepções; cenário-linguagem; sonoplastia; tudo isso é arranjado de forma integrada (ANGELINI, 1991, p. 41). Lembrar aos alunos os elementos que fazem parte da montagem de uma peça teatral ajuda-os muito a se organizarem como: a) produtor — indivíduo que escolhe o texto a ser encenado e se encarrega da parte financeira para montagem do espetáculo; b) diretor — tem a ideia do texto como um todo e escolhe os atores; c) cenógrafo — sua função é cuidar do ambiente-cenário; d) figurinista — responsável pela vestimenta das personagens de acordo com a época a ser retratada; e) iluminador — é o que organiza o jogo de luzes, sombra do ambiente etc., para causar um efeito especial aos diferentes momentos da peça; f) sonoplasta — é o técnico do som, responsável pelas músicas e pelos ruídos. Outros elementos são importantes para um trabalho profissional, como: o contrarregra; o maquiador; o administrador; a camareira etc. Todos eles colaboram para a organização da peça. Para desenvolvê-lo, pode-se apresentar a seguinte estratégia: diferentes livros infantojuvenis são oferecidos à classe, e os grupos devem escolher um livro. Quando a escolha não funcionar, o melhor é o sorteio. Já com os livros, cada grupo desenvolverá o trabalho em conjunto. Em primeiro lugar, todos devem ler conhecer a história, perceber a mensagem e discuti-la; mesmo sendo uma peça teatral (o livro destinado ao grupo), é necessário o trabalho de readaptação para que ele possa ser apresentado na escola. Depois, se o texto pertencer a outro gênero literário: conto; crônica; romance etc., será preciso reescrevê-lo, marcando as falas e o cenário para adaptá-lo à peça teatral. Para a representação na escola, destacamos alguns pontos importantes: a) Adaptação do texto: • ler, entender, interpretar a história, guardando os fatos importantes; • reescrever os momentos marcantes do texto; 79 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar • conhecer as personagens física e psicologicamente e caracterizá-las; • construir diálogos, destacando-os bem de acordo com as personagens; • testar as falas e sua clareza; • destacar os elementos principais de cada momento da história para a caracterização dos cenários, que devem ser poucos; • a sonoplastia deve criar e envolver o espectador com diversos sons no momento em que a cena é apresentada; • cenário, ação, falas e sonoplastia devem ser integradas; • os atores devem transitar no palco com desenvoltura e saber o momento de entrar e sair das cenas, pois ninguém deve ficar sem movimento e/ou fala; • havendo problemas com a memorização das falas, o melhor é improvisar; • verificar a linguagem da obra — se é preciso ser fiel a ela, atualizá-la, modificá-la; • não fugir à ideia central da obra; • verificar o tempo de encenação e o público a que se destina; • montar e ensaiar toda a peça, bem como verificar se faltou alguma coisa. b) Estrutura da peça (aproveitar os momentos e situações mais interessantes e culminantes da obra): • exposição — apresentação dos fatos e sugestão do problema proposto; é o momento de tensão (deve despertar o interesse do espectador pela história); • conflito — ponto de maior tensão, o clímax da peça; • desfecho — é o alívio da tensão, a solução do problema. Para crianças muito pequenas, o tempo da peça não deve ser longo, a fim de não dispersá-las; para atingi-las, a história pode durar de vinte a trinta minutos. Então, há um terceiro momento — a encenação — todos estão com o texto revisado e adaptado ao teatro. Assim, temos a: c) Caracterização das personagens: • estudar a personagem como um todo, física e psicologicamente falando; • marcar falas e atitudes por meio da expressão corporal e facial; de acordo com o perfil psicológico, deve-se sugerir comicidade, tristeza etc., captar os sentimentos e emoções das personagens; • desenvolver a capacidade de comunicação e melhorar a dicção; • preparar a indumentária e a maquiagem. 80 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 A quarta etapa é pensar nos números de atos (cada uma das partes em que se divide a peça); nas cenas (pontos culminantes de cada ato); no cenário — desenvolvimento da linguagem plástica, este deve ser construído de forma simples e imaginativa; quanto à sonoplastia, é preciso selecionar as músicas de fundo e/ou ruídos, bem como verificar a iluminação adequada. O quinto passo corresponde aos ensaios frequentes que devem ser realizados, visando à apresentação à classe. Depois de a peça ser encenada, os alunos discutem a obra, a adaptação, a linguagem explorada; enfim, tudo o que despertar o interesse do público frente ao texto e à encenação. Podemos, ainda, explorar junto aos alunos diferentes formas de apresentar o texto, como: o teatro de marionetes — utiliza-se um boneco em estrutura de madeira com pernas, braços e cabeça, estes são articulados e movimentados pelo ator, que lhe dará vida; o teatro de fantoche — usa-se um boneco confeccionado em tecido, borracha, pano, etc. em que é possível pôr as mãos (como luva), e o ator o movimenta. Para desenvolver esses tipos de teatro, basta confeccionar um pequeno palco de papelão ou madeira em formato de caixa para que as personagens possam atuar. Por fim, destacamos: o teatro de sombra — nessa modalidade, por meio do jogo de luzes, criam-se diferentes situações; o teatro de vara — com cartolina e varetas, em que é possível criar personagens e manipulá-las (esta a técnica é simples e atraente); e o teatro de máscaras — os atores confeccionam diferentes máscaras utilizadas no momento da apresentação. Quanto ao material a ser utilizado para a realização dos diferentes tipos de teatro, caberá ao aluno escolher, preferivelmente com sucata, algo simples e barato. O fundamental é que o grupo se preocupe em fazer o melhor com o que tem em mãos, explorando sua imaginação e trabalhando com carinho e respeito. O tempo para elaboração desse trabalho varia; no entanto, as equipes precisam de pelo menos um mês para desenvolvê-lo, e, se não houver um lugar adequado na escola, a apresentação pode ser realizada na própria sala de aula. A função do professor para essa atividade deve ser de muita responsabilidade, ele sempre precisa orientar, acompanhar, estimular e ajudaro aluno a vencer suas dificuldades. Em sala de aula, depois de todos terem lido as obras, as equipes podem desenvolver a adaptação do texto, cenário e dramatização. Por ser um trabalho que exige reuniões extraclasses, é preciso contar com o apoio e colaboração dos pais, para que o aluno se sinta seguro e tranquilo frente à atividade (ANGELINI, 1991, p. 46). O resultado é gratificante. O aluno cresce interiormente, desinibe-se, valoriza-se e respeita seu trabalho, tendo a oportunidade de vivenciar outras situações, épocas, conceitos, valores e passa a refletir sobre a realidade em que está inserido. 81 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar 8.5 O folclore e sua importância na escola “Plantado no passado imemorial da humanidade, projeta-se o folclore como a voz do presente e do futuro” (CASA BRANCA, 1982, p. 19). Como professores, não podemos deixar de levar o nosso folclore a nossas crianças; este representa o que há de essencial em nossa cultura, ele representa as tradições de um povo. Ao deixarmos de olhar para nossa cultura, seus valores e tradições, estamos sujeitos a uma colonização cultural. Por isso, precisamos ficar atentos, a escola é um espaço de difusão cultural. A data comemorativa de 22 de agosto (Brasil) foi criada em 1965, por meio de um decreto federal, para a comemoração do folclore. O termo folclore origina-se de duas palavras: folk, que vem do inglês e que dizer “povo”; e lore, que significa “conhecimento”. Quem criou o termo foi William John Thoms (1803-1885), antropólogo que elaborou suas pesquisas apoiado na cultura europeia. O folclore brasileiro constitui-se ao longo dos anos principalmente por índios, brancos e negros. Narram os chamados mitos e lendas, que foram criados para explicar a natureza, para assustar as pessoas, para transmitir valores e conhecimentos, uma vez que a ciência não podia explicá-los com fidedignidade. Essas histórias foram transmitidas de geração para geração e hoje fazem parte da história da humanidade. As lendas, de um modo geral, misturam fatos reais e históricos contados de maneira fantasiosa. Os mitos, por sua vez, explicavam os fenômenos da natureza, em que deuses e heróis alertavam as pessoas sobre os perigos do mundo. O folclore é visto em todas as idades e atividades das camadas populares. Segundo Cunha (2004), apresenta dois segmentos: o lúdico e o prático. No primeiro, a autora engloba a literatura oral por meio de lendas, mitos, contos e poesias. Também apresenta diversões por meio de danças, cortejos, teatros, autos etc.; no segundo, destaca as artes e técnicas, com a cerâmica, a pintura, a escultura, a cestaria etc. Apresenta os usos e costumes nas atividades de pesca e caça, nas cerimônias relativas ao casamento, quanto à morte, ao nascimento. Também destaca a linguagem popular por meio de provérbios, línguas especiais, frases feitas etc. A criança, por ter contato desde muito pequena com o nosso folclore, terá capacidade de se envolver com a nossa cultura, assim, poderemos combater a massificação e a colonização cultural a que estamos sujeitos. O conhecimento da cultura regional possibilitará não apenas a sua aceitação, mas a valorização e a integração do indivíduo no seu todo. Segundo Henriqueta Lisboa, é importante realçar o seguinte aspecto: um instrumento mais promissor do que qualquer disciplina nessa área (a imaginação), o folclore auxiliará o florescimento da sensibilidade; despertará os sentidos e a alma da criança diante das cores, das vozes e dos segredos da terra; acomodará sentimentos a interesses vitais e genuínos. Entretanto, 82 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 para ressalva do próprio fenômeno, o folclore não deve ser ministrado à infância a feitio de estudo, mas sim, proporcionado de modo recreativo, espontâneo, sem insistência. O que se define como popular, tradicional e anônimo não lograria viver em clima de oposição (LISBOA, 1970, p. 43 apud CUNHA, 2003). Podemos, assim, encantar a criança com as coisas de nossa terra por meio do folclore, das nossas tradições e de nossa cultura de forma lúdica e prazerosa. “Os homens mais cultos, os artistas mais sensíveis têm muitas vezes seus olhos voltados para o folclore” (CUNHA, 2003, p. 49). Entre alguns mitos e lendas, podemos resgatar a lenda do Saci-Pererê, tão conhecida por todos nós. Figura 11 – Saci-Pererê Muitas outras lendas e mitos podem ser encontrados nos mais diversos veículos literários, como a lenda do Boto, o Curupira, o Lobisomem, a Mula-sem-cabeça, entre outros. O trabalho com o folclore nas escolas é bem aceito pelas crianças, que adoram ouvir estas histórias, bem como desenhar e pintar esses seres sobrenaturais. O professor pode e deve fazer um “gancho” com as explicações científicas atuais, respeitando as faixas etárias, de acordo com o grau de complexidade que irá trabalhar. Então, é possível fazer um trabalho interdisciplinar, em que o docente poderá usar tais assuntos na Língua Portuguesa, em Ciências, e, principalmente, em Educação Artística. Aspectos relevantes: • o folclore representa a alma de um povo; por isso, deve ser prazerosamente trabalhado com a criança na escola; • compete à escola trabalhar com a cultura e com as tradições de seu povo; • o professor deve se preocupar com a cultura e tradições do seu povo; • a escola é um dos melhores lugares para se divulgar o folclore. 83 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Lembrete Um dos projetos mais importantes a serem desenvolvidos pela Literatura Infantil atual é conseguir proporcionar à criança descobrir que a palavra literária é algo precioso e essencial à sua própria vida. 8.6 poesia e parlendas na escola Na sociedade contemporânea, a criatividade passa a ser uma das características mais valorizadas no ser humano. Ela é compreendida em um aspecto multidimensional, pois envolve o indivíduo, o ambiente, o objeto e o processo de criação, sendo que todas essas dimensões se interligam, facilitando a realização do aluno, e, posteriormente, do cidadão. Cada sociedade apresenta um conceito sobre criatividade, e esta se relaciona à cultura e ao contexto social de cada comunidade. Alunos criativos se destacam na escola pelo seu estilo próprio de pensar e resolver problemas, mas muitas vezes não reconhecidos e valorizados pelos professores, que, por sua vez, acreditam que eles não conseguem seguir as normas e regras estabelecidas por eles. A poesia possibilita o despertar da criatividade e do sentimento do aluno, desenvolvendo sua percepção do todo e atribuindo significado a um contexto específico. Ela envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais e culturais; na poesia, há um processo de expressão e compreensão tanto simbólico quanto formal. Para formar um leitor, é preciso propiciar ao aluno formas diversificadas de leitura e expressão, para que ele possa se identificar com uma delas. A poesia pode ser um gênero para iniciar a criança na leitura, porém, cabe ao professor preparar-se para desenvolver o espírito criativo e sensível em seus estudantes. A poesia é um dos gêneros literários mais importantes ao universo da criança. Por meio da poesia e de sua linguagem lúdica, a criança insere-se no mundo mágico dos sentimentos e das emoções. A poesia deve instigar a imaginação e a fantasia no aluno, e não ser apenas um mero jogo de rimas, sem contextualização. A essência poética encanta e suscita imagens que estimulam a criatividade e o brincar. Para Jaqueline Held (1977), no momento em que a criança imagina, ela transforma as coisas em tudo o que deseja.No livro dessa autora, O imaginário no poder, apresenta-se um poema que traduz o mundo fantasioso da criança: Eu queria pentear o menino, Como os anjinhos de caracóis. Mas ele quer cortar o cabelo, 84 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pois é pescador e precisa de anzóis. Eu queria calçar o menino, Com uma botinha de cetim Mas ele diz que agora é sapinho E mora nas águas do jardim. Eu queria dar ao menino Umas asinhas de arame e algodão Mas ele diz que não pode ser anjo, Pois todos já sabem que ele é índio e leão. Este menino está sempre brincando Dizendo-me coisas assim. Mas eu bem sei que ele é anjo escondido, Um anjo que troça de mim. (HELD, 1977, p. 17) Além de desenvolver a criatividade da criança, o professor poderá trabalhar os aspectos estruturais de uma poesia, seus versos, suas estrofes, o vocabulário, pode pedir que os alunos a recriem, a partir da poesia original, ou mudem alguma coisa que não gostaram. Uma das formas de levar a criança ao mundo poético se faz por meio do canto, da música, para depois se trabalhar com o texto escrito. Dessa forma, o brincar de roda, as cirandas e as cantigas de ninar propiciam a sensibilização da criança de forma lúdica. A poesia tem o intuito de fazer que a criança saboreie as palavras, sua sonoridade e seus ritmos. Veja a citação a seguir: [...] é de se compreender que o poeta para crianças (tal como poesia para o povo) deva basicamente atuar sobre os seus sentidos. Não deve querer “falar” ao seu intelecto, ao seu pensamento racional, a fim de lhe transmitir conselhos acerca da vida ou dos valores de moral ou de comportamento humano em geral, como era comum na poesia “infantil” que se divulga a partir dos primeiros anos do século XX e que já não se pode aceitar. Da mesma forma, já não se aceita uma poesia que só repita clichês ou não consiga ultrapassar o nível da “ingenuidade” literária, que é instintivamente repudiada pela criança (COELHO, 1982, p. 149). O professor deve saber que não deve trabalhar com fórmulas livrescas, com obras fora do mundo real em que a criança vive. Muitas tratam de mensagens retóricas ou convencionais que já não atendem ao espírito infantil. A autora continua: Para além do esquema poético estereotipado, que, com certeza, não levará à criança a descobrir a poesia, os “ensinamentos” abertamente veiculados pelo 85 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar poema reforçam a educação das aparências e da necessidade do prêmio pelas boas ações. Mostram que o cumprimento às pessoas é uma regra de educação, e não um impulso de comunicação afetiva, como deve ser [...] e é também uma ação que visa à recompensa, o ser “apreciado” e depois “recompensado” (COELHO, 1982, p. 152, grifo do autor). Essas observações são de fundamental importância frente ao contexto social, cultural, histórico e político em que vivemos. Hoje temos textos excelentes, a produção poética brasileira destinada às crianças apresenta-se com qualidade, e temos poetas conscientes de nossa realidade e da poesia que desenvolvem, estes buscam as cores e os sons da poesia de uma forma criativa. Assim, cabe ao professor fazer um levantamento dos autores atuais e dos já consagrados, como Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Henriqueta Lisboa, entre outros. A poesia precisa entrar na sala de aula como a arte da palavra, que leva à imaginação e à fantasia, e não apenas com fins pedagógicos. Ela pertence muito mais à área da intuição do que à razão; a função poética da linguagem provém do conhecimento intuitivo, possibilita a descoberta das coisas em pureza ou valor original antes de serem racionalizadas e codificadas pelo homem. A função poética expressa, portanto, as manifestações da fantasia, da imaginação ou os sonhos dos homens, é o “alimento” para a sensibilidade da criança. Por intermédio dos livros, da televisão, das músicas, das poesias, das parlendas, entre outros, a criança descobre a linguagem oral, escrita, corporal etc. Nesse contato, ela interage com seu meio, emitindo opiniões, criando, recriando e fantasiando formas visuais e orais, que lhes permitirão um desenvolvimento global do seu ser. Normalmente, as parlendas são rimas em pequenos versos. A parlenda é uma forma literária tradicional para se trabalhar a linguagem oral, possui rimas fáceis e aceleradas, que divertem muito as crianças, ajudando-as na dicção e na desinibição. Fazem parte do folclore brasileiro, e suas temáticas estão sempre voltadas ao público infantil. Trava-língua Os versinhos trava-língua são, na verdade, parlendas com visíveis dificuldades de audição e de pronúncia. Este tipo de verso é bastante utilizado com o objetivo de melhorar a dicção e pretendem fazer que a criança perceba as diferenças sutis de muitas palavras, que, quando pronunciadas incorretamente, passam a ter outro significado. Autoria – um processo Muitos alunos, independentes de estarem alfabetizados, possuem um pensamento alfabetizado. Conseguem se expressar fluentemente, discursar e dividir suas ideias com o outro. Esse aspecto nos mostra que esses alunos são capazes de verbalizar pensamentos muito elaborados, mostrando, assim, 86 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 uma diversidade de conhecimentos, e estes os ajudam a resolver conflitos e contradições que surgem em sua vida. No olhar de Vygotsky, construir conhecimentos refere-se a uma ação partilhada, já que é necessário haver o outro para que as relações entre sujeito e objeto de conhecimentos sejam estabelecidas. O paradigma sugere um repensar sobre o valor das interações sociais que acontecem entre os alunos e os professores no contexto escolar. Elas passam a ser entendidas como fator necessário para a produção de conhecimentos por parte dos alunos, especificamente quando é permitido o diálogo, a cooperação e troca de informações entre os sujeitos, bem como o confronto de ideias divergentes, buscando uma relação que implique a divisão de tarefas com responsabilidades e uma interdependência na ação, que resultará num objetivo comum. Em síntese, uma prática escolar baseada nesses princípios deverá necessariamente considerar o sujeito ativo (e interativo) no seu processo de conhecimento, já que ele não é visto como aquele que recebe passivamente as informações do exterior (REGO, 1998, p. 110). Portanto, devemos trabalhar com todo tipo de conhecimento que possa desenvolver as estruturas mentais dos educados, de forma que, a cada dia, possam interagir ativamente em seu cotidiano. 8.7 a literatura na educação especial Para essa aula, vamos destacar a relevância de se trabalhar com a literatura junto a crianças e jovens especiais. Trata-se de um relato de experiência inédita com alunos de uma escola especial e o desenvolvimento de seu potencial criador. Portanto, a literatura é o caminho para se despertar a sensibilidade do ser humano, seja ele quem for. [...] o desenvolvimento cognitivo-afetivo do jovem especial se dá a partir de relações interpessoais, mediadas simbolicamente pelo professor. Dessa forma, partimos de uma prática educacional que considera o sujeito da aprendizagem ativo-interativo na construção de seu conhecimento [...] Para tanto, consideramos esse sujeito um ser cognoscente, capaz de ampliar seus conhecimentos e construir outros, desde que haja uma mediação afetiva-ativa por meio do professor (ANGELINI, 2004, p. 61,62). Observação Todas as palavras iniciadas com “cog”, como cognoscitivo, cognoscente, cognitivo, referem-se ao intelecto, à inteligência. Relacionam-se à sapiência, ao aprendizado, ao raciocínio pessoaletc. Qualquer educando, com dificuldades de aprendizagem ou não, traz toda uma gama de experiências, favoráveis na solução de conflitos, nas brincadeiras etc. 87 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Angelini (1991) mostra que é possível trabalhar com crianças deficientes nas mais diversas maneiras, e, entre elas, destaca-se a poesia. [...] é da riqueza de alma desses alunos que nasce esse trabalho inovador, que dá a possibilidade de o aluno se “ressignificar” no contexto sociocultural em que vive, enquanto um jovem produtor das letras, de uma escrita, de um movimento poético (ANGELINI, 1991, p. 64). Podemos afirmar, portanto, que o educando sempre é um sujeito ativo e interativo, e caberá ao professor propiciar situações que favoreçam o desenvolvimento de seu potencial criativo. Todos os jovens têm direito à criação; esta é uma forma de possibilitar a reflexão e a elaboração de situações vivenciadas dentro de um contexto sócio-histórico. Em momento algum se pode esquecer que a afetividade, por exemplo, é a energética do comportamento, bem como que o aluno deficiente mental se esforça em inventar estratégias de resolução de problemas quando sua motivação e necessidades são consideradas. A ativação do funcionamento intelectual depende de como o interesse do sujeito com deficiência mental foi despertado (MANTOAN, 2000, p. 63). Nesse sentido, o fazer literário pode ser muito bem explorado, desde os primeiros anos escolares, o que despertará a criança e o jovem para o caráter socializante da literatura. Cabe, então, ao professor motivar o aluno para que este tenha interesse pelas manifestações culturais e artísticas, pois tais atitudes desenvolvem a capacidade de observação e o pensamento reflexivo. É importante que todo trabalho seja socializado, porque o aluno se sente importante, acaba lendo com prazer o seu trabalho e o do outro, faz comparações, assume a autoria de sua produção, favorecendo, assim, sua autoestima. Lembrete Ao ler uma história para as crianças, lembre-se sempre de fazer “inferências”, isto é, antes de concluir um capítulo, ou tema, peça, por exemplo, interrompa a história de repente e pergunte às crianças o que elas acham que vai acontecer. Deixe fluir a imaginação da turma, analise suas suposições, para depois continuar a história. As inferências durante as histórias estimulam a criatividade da criança, além de motivá-las à leitura. Para tanto, o professor deve sempre preparar suas aulas de leitura, apropriando-se do conteúdo que pretende “transmitir” para os educandos. Em aulas improvisadas, podem surgir alguns imprevistos, portanto, há falta de argumentação por parte do professor, o que irá desmotivar os estudantes. 88 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Exemplo de aplicação Distribua alguns livros de história a um grupo de crianças de 8 anos e peça para que mudem a história. Peça para que os alunos comparem trechos do livro com a realidade e façam comentários sobre ele. Após isso, faça um levantamento dos tipos de mudanças ocorridas. É importante saber que, quando formos ler histórias muito compridas, é preciso que elas sejam lidas em capítulos. Essa prática aguça a curiosidade do aluno e não o cansa, afastando-o da leitura. No trecho da história a seguir — O galo apaixonado —, será apresentado um texto que poderá ser usado pelo professor como exemplo de inferência. O galo Niu era um galo inglês muito chique, mas totalmente ignorante. Imaginem vocês que ele pensava, segundo a autora, que as galinhas cacarejavam em inglês. Na verdade, ele nem sabia o que era uma galinha. A escritora relata em seu livro que ele havia nascido em uma chocadeira, foi criado numa granja no meio de machos e acabou indo morar numa loja de aves, sem conhecimento nenhum de mundo. Segundo a escritora: Já moço, viera da granja diretamente para a loja de aves, onde a posição de sua gaiola não lhe permitia enxergar senão pombas, patas e codornas, além de galos de outras raças. — Rock, indagava ele ao carijó da gaiola à esquerda: — de onde você está, dá para ver alguma galinha? — Negativo. Nesta direção fica uma pilha de sacos de farelo, e não vejo nada. Por que não pergunta ao Ródia? — Nadinha! — Não vejo nada, jurava o Ródia. Acho que a gente não perde por esperar, porque o Órpintão, aquele galo preto que mora lá perto do balcão, andou gritando que hoje vai passar por aqui, pelo nosso corredor, uma tal de Label Rouge, loura e francesa, mas caipira (SUZUKI, 1996, p. 3). A história prossegue e há um momento em que Niu fica perto do velho Órpintão, e então eles conversam por longo tempo. De toda forma, o professor deverá constantemente fazer inferências. Por exemplo, quando chegar no trecho da história em que Niu é colocado perto do Órpintão, o professor poderá perguntar: O que vocês acham que vai acontecer com o galo Niu? Enfim, usem a criatividade e bom senso ao elaborar as inferências. 89 Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Pedagogia interdisciPlinar Vamos citar outro exemplo de inferência. A imagem a seguir é do livro Nuvem cinzenta. Figura 13 Mostre a ilustração da capa, e, antes de começar a contar a história ou relatar o conteúdo do livro, pergunte à classe sobre o que o livro vai falar. Faça a criança explorar a capa do livro, pergunte sobre o conteúdo. Depois, peça que elas contem em poucas palavras o enredo da história, onde ela acontece, e assim por diante. Somente após isso é que deve se iniciar o conto. No final, por meio de questionário, trabalhar com a interpretação do texto. Veja a sugestão a seguir: Divida a história em três capítulos. Ao término de cada um, peça para as crianças desenhem o trecho narrado. No final, elas poderão unir os quadrinhos criados, e, assim, cada um terá criado a sua própria versão da história em quadrinhos. Saiba mais Para saber mais sobre esta e outras obras da autora, leia: SUZUKI, A. F. Nuvem cinzenta. São Paulo: Paulinas, 1995.; e SUZUKI, A. F. O galo apaixonado. São Paulo: Paulinas, 1998. 8.8 Histórias em quadrinhos Para discutirmos sobre as histórias em quadrinhos, se faz necessário entender sua origem e sua evolução até as histórias em quadrinhos — HQ. Os homens primitivos registravam cenas do cotidiano nas paredes das cavernas. Pintavam relatos sobre a caça, a pesca, apresentavam pessoas correndo com armas atrás dos animais e outras cenas que possibilitaram, aos pesquisadores, conhecer o cotidiano, o hábito desses homens e seu meio. Era essa a forma de registro e comunicação “escrita” utilizada por eles. 90 Unidade II Re vi sã o: V ito r - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 06 /2 01 2 Dessa forma, pode-se afirmar que a história em quadrinhos já estava presente nessa época. É importante observarmos alguns desenhos para compreender como aconteceu o processo de construção das HQ. Figura 14 Passado alguns séculos, encontramos a escrita hieroglífica no Egito, uma mistura de letras com desenhos como forma de comunicação. A imagem encontrava-se novamente com forma de comunicação e registro de atividades cotidianas. Figura 15 Os faraós contavam sua história por meio de desenhos nas pirâmides. Elas começavam no alto e caminhavam até embaixo, numa sequência de desenhos que comunicavam e transmitiam informações às outras pessoas e às gerações posteriores. Continuando essa trajetória, encontramos os desenhos nas igrejas da Via Sacra de Jesus presentes na Idade Média (do século V ao XV). Pode-se observar que os desenhos e imagens constituíam e constituem, até hoje, uma forma
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