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1 A Lição do Silêncio Não são poucos os e-mails enviados para o blog solicitando minha opinião a respeito do Método Montessori. Em vez de emitir um parecer sobre essa metodologia, resolvi compartilhar com você apenas uma lição muito eficaz, que aprendi recentemente com a doutora Montessori, por meio de algumas obras de H. Lubienska de Lenval. Trata-se de um exercício extraordinário, que tem me surpreendido a cada dia. Digo isso porque, há mais de um ano, comecei a empregá-lo na escola de minha mãe. E adivinhe? Estou colhendo excelentes resultados! No livro A Educação do Homem Consciente, Lubienska destaca: (...) A lição do silêncio tem uma importância capital, uma vez que o progresso da criança se mede pelo progresso do silêncio. Enquanto forem indisciplinadas, agitadas, dissipadas, não poderão assimilar grande coisa. Desde que se estabeleça a calma interior pelo esforço da vontade, tudo se ordena como os cristais num líquido saturado. (LENVAL, Helena Lubienska de. A Educação do Homem Consciente, p. 81) É notória a relação entre silêncio e o crescimento intelectual das crianças. Concentradas, o rendimento delas aumenta, uma vez que a inteligência encontra um caminho mais seguro para o conhecimento. Mas os benefícios da lição do silêncio não param por aí. De início, é importante entender que a lição do silêncio não tem como finalidade fechar a boca das crianças. Pelo contrário, ela exige uma verdadeira tensão da vontade, que se vê obrigada a vigiar os pés, as mãos, o pescoço, a boca, os olhos, e até a respiração, para não mexer sequer um cabelo (LENVAL, Helena Lubienska de. A Educação do Homem Consciente, p. 82-83). Com o passar do tempo, você também perceberá mudanças na forma de andar, nos gestos, na expressão facial e no controle de voz das crianças. No lugar da costumeira agitação, o corpo e a voz delas expressarão aquela serenidade que todos desejam perceber. 2 Você pode estar pensando: “- Será que tudo isso é realmente possível?” É possível, sim! Porém, tudo dependerá de sua persistência. Praticando essa lição, confirmei mais uma vez a tese de que “só podemos transmitir para as crianças aquilo que realmente possuímos”. Logo, você só poderá praticar a lição do silêncio de forma eficaz se você mesmo - com todo o seu corpo, e não apenas com sua boca - fizer silêncio. Caso contrário, os resultados serão desastrosos. Isso significa que a lição do silêncio não tem nenhuma relação com a utilização de artifícios linguísticos, os quais, nesse contexto, exercem pouca influência sobre as crianças. Dito de outro modo: não aborreça os pequeninos insistindo em discursos aprimorados, com frases longas e sofisticadas. De uma vez por todas, pare de pedir silêncio para aqueles que nunca fizeram ou viram alguém fazendo silêncio! Chega de conversa. Passemos agora para os principais pontos da lição do silêncio: 1. Sendo o ambiente um dos elementos fundamentais do exercício, escolha um cômodo de sua casa que esteja bem organizado, com poucos móveis e o mínimo de estímulos visuais; 2. Feche a porta e as cortinas, de modo que tal ambiente permaneça na penumbra; 3. Reúna as crianças no cômodo escolhido, pedindo para todas se sentem no chão, ao seu redor; 4. Com o seu próprio corpo, dê para as crianças o exemplo, ficando quieto e imobilizado. Utilizando poucas palavras, diga, em voz baixa, que você pedirá para as suas mãos e para os seus pés ficarem tranquilos. Depois, peça para a sua boca ficar fechada e para o seu nariz respirar de forma lenta e profunda. Comando a comando, demonstre como os membros de seu corpo lhe obedecem de forma dócil e tranquila; 5. Neste momento, você estará totalmente imobilizado, com as pernas cruzadas, os cotovelos apoiados sobre os joelhos, a cabeça sustentada entre as mãos, os olhos fechados e voltados para o chão; 6. Por fim, imitando você, todas as crianças ficarão em silêncio. 3 Nos primeiros dias, mantenha-se em silêncio por poucos minutos. Depois de algumas semanas, analisando o quanto as crianças suportam, aumente o tempo de duração do exercício. O objetivo desse treinamento não é o de deixar as crianças sonolentas, e sim o de levá-las a um recolhimento consciente e vigilante. Sendo assim, no transcorrer dos dias, levante-se lentamente no meio do exercício, posicionando-se atrás delas. E, com uma voz áfona, chame uma criança de cada vez. Demonstrando atenção, elas virão vagarosamente ao seu encontro, andando com as pontas dos pés. Com a voz sempre baixa, diga algo no ouvido de cada uma delas, pedindo, por fim, para retornarem à posição de origem. Lá, elas ficarão novamente em silêncio. Caso você seja uma pessoa ansiosa, sempre preocupada com resultados imediatos, fica aqui um importante lembrete de Lubienska: “As primeiras tentativas da lição do silêncio numa classe são sempre decepcionantes. No início, não há verdadeiramente silêncio, mas mudança de ruído. Em lugar dos barulhos grosseiros, percebem-se ruídos mais leves: o ranger de um móvel, a respiração sibilante de alguma criança, o tic-tac de um relógio”. (LENVAL, Helena Lubienska de. A Educação do Homem Consciente, p. 105) Portanto, se o exercício não funcionar nos primeiros dias, não se preocupe. Depois de duas ou três semanas, o verdadeiro silêncio surgirá!
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