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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 1 de 12 APELAÇÃO CRIME Nº 1.092.628-4 – DA COMARCA DE MARINGÁ – 2ª VARA CRIMINAL APELANTE: ANDERSON FERREIRA DA COSTA E MARCIO JOSÉ NERES DA HORA APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ RELATOR: JUIZ JEFFERSON ALBERTO JOHNSSON1 REVISOR: DES. MARQUES CURY APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO. EMPREGO DE ARMA E CONCURSO DE PESSOAS. RECONHECIMENTO PESSOAL. ALEGADA OFENSA AO NEMO TENETUR SE DETEGERE. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE CONDUTA ATIVA DO RÉU. INEXISTÊNCIA DE AUTOINCRIMINAÇÃO. MATERIALIDADE E AUTORIA DEVIDAMENTE COMPROVADAS. PALAVRA DA VÍTIMA E CONFISSÃO PARCIAL -- 1 Em substituição ao Des. Rogério Coelho. -- Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 2 de 12 Apelação nº 1092628-4 2 DE UM DOS RÉUS. CONDENAÇÃO MANTIDA. DE OFÍCIO REDUÇÃO DA PENA MULTA. NECESSÁRIA PROPORCIONALIDADE COM A PENA PRIVATIVA. APELAÇÃO DESPROVIDA. Nos delitos contra o patrimônio a palavra da vítima é relevante, possuindo eficácia para embasar a condenação, mormente quando encontra amparo nos demais elementos probatórios. O simples fato de o réu ser submetido a reconhecimento pessoal não pode ser considerado como ofensa ao direito de não produzir prova contra si, assegurado pelo art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, porquanto prescinde de comportamento ativo por parte do réu. A pena de multa deve ser fixada em obediência ao princípio da proporcionalidade com a privativa de liberdade. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 3 de 12 Apelação nº 1092628-4 3 VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 1.092.628-4, da 2ª Vara Criminal da Comarca de MARINGÁ, em que é apelante ANDERSON FERREIRA DA COSTA E MARCIO JOSÉ NERES DA HORA e apelado o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. Trata-se de apelação criminal interposta por ANDERSON FERREIRA DA COSTA E MARCIO JOSÉ NERES DA HORA, denunciados pela prática da conduta tipificada no artigo 157, § 2º, inciso II, do Código Penal, pelos fatos assim narrados na denúncia: “No dia 10 de junho de 2012, por volta das 21h30min, no cruzamento da Avenida Colombo com a Avenida 19 de Dezembro, nesta cidade e Comarca de Maringá, os denunciados ANDERSON FERREIRA DA COSTA, MARCELO VICENTE MAGALHÃES e MÁRCIO JOSÉ NERES DA HORA, vulgo "Neno", adrede combinados, um aderindo voluntariamente à conduta do outro, logo em coautoria, cientes da reprovabilidade de suas condutas e com vontade livre de praticá-la, abordaram o taxista e vítima Jesse Leitão de Menezes, o qual conduzia seu veículo FIAT/Siena, placas AQH-0614, e contrataram uma corrida até as proximidades da Coca- Cola, no Jardim Olímpico, nesta cidade de Maringá, Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 4 de 12 Apelação nº 1092628-4 4 sendo que para tanto o denunciado MARCELO sentou-se no banco do passageiro, enquanto os denunciados ANDERSON e MÁRCIO sentaram-se no banco traseiro. Ao se aproximarem do destino selecionado, o denunciado MARCELO deu voz de assalto à vítima, momento em que, agindo mediante violência consistente em o denunciado MÁRCIO aplicar um golpe conhecido como "gravata" na vitima, os denunciados subtraíram para eles, com ânimo de assenhoreamento definitivo, a quantia de R$ 70,00 (setenta reais) em espécie, e o veiculo FIAT/Siena, placas AQH-0614, avaliado em R$ 21.365,00 (vinte e um mil, trezentos e sessenta e cinco reais), de propriedade da supracitada vitima, evadindo- se na sequência e abandonando a vitima no local (Boletim de Ocorrência de fls. 04/06, Auto de Entrega de fls. 49, Auto de Apreensão de fls. 51 e Auto de Avaliação de fls. 53)” A denúncia foi recebida em 08.11.2012 (fls. 99), tendo sido regularmente citados os acusados (fls. 105/106). Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 5 de 12 Apelação nº 1092628-4 5 Na audiência de instrução foi ouvida a vítima e realizado o interrogatório dos acusados. Na sentença, o pedido formulado na denúncia foi julgado procedente para condenar MARCELO VICENTE MAGALHÃES à pena de 06 anos de reclusão e 20 dias-multa, MÁRCIO JOSÉ NERES DA HORA à pena de 05 anos e 04 meses de reclusão e 16 dias-multa e, ANDERSON FERREIRA DA COSTA à pena de 05 anos e 04 meses de reclusão e 16 dias- multa, todos pela conduta tipificada no art. 157, §2º, inciso II, do Código Penal. Irresignados, apelam ANDERSON FERREIRA DA COSTA e MARCIO JOSÉ NERES DA HORA alegando, em preliminar, a nulidade do processo por desrespeito as regras do artigo 226, do Código de Processo Penal e, no mérito, pleiteando a absolvição sob a alegação de insuficiência de provas ou, subsidiariamente, pela aplicação do princípio da insignificância. Nas contrarrazões pede-se o desprovimento da apelação. A douta Procuradoria Geral de Justiça manifesta-se pelo conhecimento e pelo desprovimento da apelação. É O RELATÓRIO, EM SÍNTESE. VOTO. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 6 de 12 Apelação nº 1092628-4 6 CONHECIMENTO DO RECURSO. Em juízo de prelibação, observo que estão presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, razão pela qual conheço do recurso. DA NULIDADE DO AUTO DE RECONHECIMENTO Diversamente do que sustenta a defesa, o reconhecimento pessoal do apelante realizado em audiência não configura ofensa ao princípio do nemo tenetur se detegere, notadamente porque o reconhecimento é realizado pela vítima e prescinde de qualquer comportamento ativo por parte do réu que pudesse, eventualmente, auto incriminá-lo. A alegação, já trazida aos autos pela defesa em sede de alegações finais, foi devidamente afastada na sentença, nos seguintes temos: “Antes da análise do mérito, cabe serem apreciadas as preliminares arguidas pela defesa do réu Márcio, de nulidade de seu reconhecimento em Juízo pela vítima, com fundamento no princípio 'nemo tenetur se detegere', bem como que seja reconhecida como ilícita referida prova produzida em audiência de instrução e julgamento. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 7 de 12 Apelação nº 1092628-4 7 Ocorre que, conforme já motivado no termo de audiência de fls. 132, o entendimento deste juízo, harmonizado com o entendimento Ministerial é de que no processo penal prevalece o princípio da busca da verdade real. Além disso, de acordo com a doutrina pátria, o princípio 'nemo tenetur se detegere' (ninguém é obrigado ase descobrir), refere-se ao direito do investigado ou do acusado de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo. Neste diapasão entende-se que não fere o referido princípio a exigência de participação passiva do acusado, como ocorre no reconhecimento pela vítima, pois não há um comportamento ativo por parte do acusado, tratando- se de mera sujeição, sendo, dessa forma, permitido.” O simples fato de o réu ser submetido a reconhecimento pessoal não pode ser considerado como ofensa ao direito de não permanecer calado, assegurado pelo art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, porquanto, uma coisa é o réu preferir se calar, quando interrogado, para não se auto incriminar; e outra, muito diferente, é pretender se eximir do ato de reconhecimento, meio tradicional de prova, previsto pelo artigo 226 do Código de Processo Penal e que pode, não raras vezes, ser negativo. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 8 de 12 Apelação nº 1092628-4 8 Na verdade, entender de maneira diversa constitui interpretação extensiva e inadmissível da citada garantia constitucional que não pode ser deturpada a fim de impedir-se a produção de provas voltadas ao descobrimento da verdade real. Reconhecer ao nemo tenetur se detegere (princípio que concede ao réu o direito de não produzir provas contra si) o caráter absoluto aniquilaria o próprio princípio, pois assim se estaria incentivando a violação de bens jurídicos tutelados pelo nosso ordenamento pátrio. Por estes motivos, rejeito a preliminar. MÉRITO A alegação de insuficiência de provas para a condenação não se mostra possível de acolhimento porque, diversamente do sustentado, se evidencia nos autos, de forma suficiente, sem qualquer dúvida razoável, a efetiva participação dos apelantes na empreitada criminosa narrada na denúncia. Apesar dos apelantes negarem a participação no delito, cada um incriminando o outro e ambos alegando que não assaltaram o taxista, a prova dos autos, em especial as declarações da vítima, evidenciam a participação de todos os três denunciados no assalto descrito na denúncia. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 9 de 12 Apelação nº 1092628-4 9 Nesse aspecto, tem-se que a vítima Jessé Leitão Menezes, ouvida em Juízo, esclareceu que é taxista e estava subindo a Avenida Mandacaru, em frente ao posto Jaú, esquina com a Avenida Colombo e que, ao parar no semáforo, três rapazes entraram no veículo e pediram para leva-los até à Coca-Cola, sendo que em determinado local pararam e informou aos rapazes que o valor da corrida era R$ 18,00 (dezoito reais), e nesse momento um dos rapazes disse que era um assalto e pediu o dinheiro. Nesse momento, disse aos assaltantes que tinha pouco dinheiro e foi empurrado para fora do carro, tendo os três rapazes ido embora levando o carro. Acrescentou ainda que o carro foi encontrado sem o estepe, macaco, bateria, dois alto falantes, seus óculos, carteira e celular e que na delegacia de polícia reconheceu os três acusados. Tais declarações possibilitam se tenha a convicção acerca da conduta criminosa dos apelantes, podendo perfeitamente ser consideradas para embasar o édito condenatório, mormente em casos nos quais a conduta delituosa é praticada na clandestinidade, desde que sopesada a credibilidade do depoimento, conforme se verifica ter ocorrido na hipótese, pois “Em se tratando de crime de roubo a palavra da vítima, a quem nada aproveita uma falsa e leviana incriminação de inocente, tem capital importância como elemento probatório, prevalecendo inclusive sobre a palavra do acusado” (RJTACRIM 43/235). Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 10 de 12 Apelação nº 1092628-4 10 Por outro lado, o corréu Marcelo Magalhães, em seu interrogatório judicial, confessou ter participado do delito, afirmando ter sido a pessoa que sentou no banco do passageiro do táxi, bem como quem deu voz de assalto ao taxista. Entretanto, afirmou não saber quem deu a “gravata” na vítima e que apenas Anderson estava no carro. Conjugando todos estes elementos, observo que além do reconhecimento realizado pela vítima e da confissão parcial de um dos acusados, as versões apresentadas pelos apelantes se mostram frágeis e carregadas de contradições, motivo pelo qual carecem de credibilidade, restando assim inegável que os três (03) indivíduos que cometeram o assalto narrado na denúncia eram, efetivamente, os apelantes Anderson e Márcio, juntamente com o corréu Marcelo. Assim sendo, mantém-se a condenação, mormente porque a prova colhida nos autos afasta qualquer possibilidade de se aplicar o princípio in dubio pro reo. DOSIMETRIA DA PENA As penas foram aplicadas, todas, no mínimo legal, ou seja, 04 anos de reclusão e aumentadas pelas qualificadoras também no mínimo legal (1/3), desmerecendo modificações. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 11 de 12 Apelação nº 1092628-4 11 Entretanto, cabe um reparo nas penas pecuniárias porque fixadas na base em 12 dias-multa, em descompasso com a pena privativa de liberdade. A pena de multa deve ser fixada em obediência ao princípio da proporcionalidade com a privativa de liberdade. Assim, reduzo as penas de multa para o mínimo legal (10 dias-multa). Incide ainda o aumento de 1/3 em razão das majorantes reconhecidas, restando fixadas em 13 dias-multa. Nestas condições, nego provimento à apelação e, de ofício, reduzo as penas de multa aplicadas, para 13 dias-multa. “EX POSITIS”: ACORDAM os integrantes da Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, à unanimidade de votos, por negar provimento ao recurso de apelação, mas de ofício reduzir a pena de multa, nos termos do voto. Presidiu o julgamento o Desembargador Marques Cury (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Juiz Substituto em Segundo Grau Joscelito Giovani Ce. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 12 de 12 Apelação nº 1092628-4 12 Curitiba-PR, 12 de dezembro de 2013. Assinado digitalmente JUIZ JEFFERSON ALBERTO JOHNSSON Juiz de Direito Substituto em 2º Grau
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