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Psicofarmacos Fernanda Galante

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ProJ'Jufio C"ar O. Natar,
Enfermeiro
COR£N'RJ 81330
'R R ENHRMRGEM
.m antipsicóticos
erlfermeiro. Rev.
de Avaliação do
de Enfermagem
,
CRPITUlO
litIJição de com-
ola de Enferma-
Nery Revista de
,uiátrica: valida-
l,2007.
la enfermagem
42(2): 233-41.
!v. Brasileira de
pacto. Caderno
Ie psiquiátrica
m suas dimen-
idado nos ser-
287-95.
ldamentos em
,
•
PSICOfRRMRCOS
FERNANDA GALANTE
20.1 Introdução
A dasse de psicofármacos faz parte da categoria de medicamentos controlados,
com receitas específicas e que devem ficar retidas na farmácia no ato de sua compra.
A prescrição de tais fárma-
cos deve ser feita por médico es-
pecialista, de preferência com
formação em psiquiatria, e o P?-
ciente deve ter acompanhamen-
to médico e, em casos específi-
cos, bioquímica (dosagem dos
fármacos na corrente sanguí-
nea), ao longo do tratamento, ga-
rantindo assim que os efeitos te-
rapêuticos possam ser maiores
do que os efeitos colaterais.
20.2 Tópicos de farmacocinética e farmacodinâmica
A ação de medicamentos depende primeiramente da escolha certa com relação
à via de administração e à forma farmacêutica. Após tal escolha, deve-se considerar
o estado fisiológico do paciente, que irá contribuir ou influenciar nos processos far-
macocinéticos e farmacodinâmicos.
,
PSiIlUlRTRIR PARA A ENfERMRGEM CRPiTUlI
Com relação à farmacocinétíc3, a divisão é feita em quatro etapas:
1. Absorção: passagem do fármaco do local de administração para a corrente
sanguínea. Essa etapa pode ser influenciada pela interação fármaco-fármaco, fár-
maco-nutrientes, idade, integridade das mucosas e pH do local de administração.
Após a absorção, o fármaco se torna biodisponível para atuação no organismo.
2. Distribuição: circulação do tármaco pelo organismo, feita pelo fluxc sanguíneo
e na forma de fármaco livre e ligado às proteínas plasmáticas. Essa eta:J8 é direta-
mente influenciada pelo estado nutricional do paciente, pois a desnutrição ou má ali-
mentaçâo pode acarretar a diminuição de proteínas plasmáticas, como a albumina.
3. Biotransformação: corresponde à inativação do fármaco. Esse processo ocor-
re particularmente no fígado e envolve_ duas fases, sendo a primeira mediada
pela enzima citocromo P-450, que transforma o fármaco em molécula hidrosso-
lúvel para facilitar sua eliminação, passando a ser o metabólito. Alguns fármacos,
após serem transformados em hidrossolúveis, devem seguir para a fase 2, cha-
"mada de conjugação, a qual, por meio da ação de várias enzimas hepáticas, pos-
sibilita a conjugação da molécula hidrossofúvel às partículas excretáveis. Esse
processo é fundamental para que o ciclo terapêutico do fármaco possa aconte-
cer até ser eliminado; porém, falhas hepáticas podem ocorrer e propiciar um au-
mento das respostas toxicológicas das medicações.
4. Excreção: eliminação do fármaco após sua biotransformação. As vias utiliza-
das pelo organismo para a excreção do metabálito são urina, fezes, suor e leite
materno. Esse processo pode ser diminuído se o paciente apresentar insuficiên-
cia renal ou alterações na filtração glomerular.
A farmacodinâmica corresponde à ação do fármaco no organismo em seu sítio
de ação e efeitos colaterais.
Os sítios de ação dos fármacos são enzimas ou proteínas de membrana (re-
ceptores). Com relação à ação sobre as enzimas, normalmente ocorrerá uma ini-
bição desta pelo fármaco, por exemplo, a ação dos antidepressivos inibidores de
monoaminaoxidase (MAO) metaboliza as catecolaminas cerebrais, de modo rever-
. sível ou irreversível. O fármaco se ligará ao sítio ativo da enzima, impedindo sua
ação sobre o substrato. No caso do fármaco com ação reversível, sua atuação aca-
ba com seu tempo de vida fisiológica; porém, se a ligação do fármaco à enzima se
dá de modo irreversível, o organismo necessitará sintetizar uma nova enzima, o que
pode levar 96 horas.
Os receptores de fármacos estão na membrana plasmática das células-alvo.
No caso dos psicofármacos, na sua maioria, estão na região pás-sináptica do
local de conexão entre os neurônios. Esses receptores podem ser canais iôni-
cos, complexos proteínas G/segundos mensageiros e complexos prot;;;ínas G/
canais iônicos.
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ENFERMRGEM miTUlO 10 - PSICOFÁRMACOS
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roteínas G/
A ação farmacológica se deve, ainda, à capacidade de ligação do fármaco a
seu receptor, que deve ter ,afinidade e seletividade, o que propicia um encaixe tipo
chave-fechadura. A afinidade do fármaco aos receptores pode promover dois tipos
de respostas, c1assificando-o em agonista e em antagonista.
Agonistas: fármacos que, ao se ligarem aos receptores, evocam uma respos-
ta semelhante a uma substância endógena. Por exemplo, quando se utiliza um
antiparkinsoniano que irá se ligar aos receptores dopaminérgicos, como faria a
dopamina, na via nigroestriatal do SNC.
Antagonistas: fármacos que, ao se ligarem aos receptores, bloqueiam a ação
de substâncias endógenas, reduzindo ou inibindo a resposta sobre o estímulo en::ló-
geno. Por exemplo, ação do haloperidol sobre os receptores dopaminérgicos na re-
gião mesolímbica do SNC, diminuindo as respostas estereotipadas da esquizofre0ia.
Outro foco de ação farmacológica é a recaptação de neurotransmissores. ~or
exemplo, alguns antidepressivos, como a fluoxetina. agem inibindo a recaptação de
neurotransmissores, aumentando sua concentração na fenda e, consequentemente,
sua ação sobre os receptores pós-sinápticos.
Cabe comentar que os fármacos são projetados para agir e trazer efeitos tera-
pêuticos, porém não são capazes de modificar a resposta de um determinado órgão.
E, ainda, que eles não estão desprovidos de efeitos colaterais, os quais poderão acon-
tecer em maior ou menor escala, dependendo da suscetibi!idade de cada indivíduo.-,
20.3 Ansiolíticos e hipnóticos
A ansiedade pode ser resumida em um estado de tensão e desconforto consi-
derado normal ou patológico, sendo muitas vezes difícil estabelecer um limite preciso
entre a normalidade e a anormalidade. A progressão ,da agitação, inquietação, tensão
muscular, distúrbios do sono e/ou gastrintestinais, taquicardia e sudorese, que ca-
racterizam um estado ansioso, é a chave para torná-Ia distinta de um estado normal.
Os episódios de ansiedade podem ser leves, moderados ou incapacitantes. Este
último, com episódio de medo insuportável associado a sintomas somáticos mais in-
tensos, como o tremor, a dor torácica e a sudorese, pode ser vinculado à síndrome do
pânico e desencadear a incapacidade social do indivíduo. Distúrbios moderados mui-
tas vezes não são tratados com fármacos; todavia, aqueles que direcionam o indivíduo
ao isolamento ou à incapacidade devem ser tratados com fármacos e psicoterapia.
A busca por agentes químicos que possam modificar os efeitos do estresse e as
sensações de desconforto, tensão e disforia, características do estado de ansiedade,
faz dos ansiolíticos e hipnóticos a classe de psicofármacos mais prescrita. Seu uso na
forma de automedicação é comum e os riscos de reações tóxicas e depressoras do sis-
tema nervosocentral (SNC) são altos, resultando em óbito ou sequelas permanentes.
Os ansiolíticos e hipnóticos também são chamados de drogas antiansiedade ou
tranquilizantes. São os famosos calmantes que diminuem o estresse, reduzem as cri-
ses de insônia ou induzem o sono em procedimentos hospitalares e pré-anestésicos.
--~--------------_ ..~•_, ',"' 0%
PSIU!JIRTRIA PARA A ENfER;lAGEI~ CRPi
Figura 1. Representação Química de grupo diazepínico e suas variações.
Os barbitúricos foram introduzidos como ansiolítico-hipnóticos em 1903, sen-
do o fenobarbital (1932) um dos mais prescritos para tal fim. Não são mais reco-
mendados como ansiolíticos ou hipnóticos devido ao elevado grau de dependência
e tolerância, com graves sintomas de abstinência, risco de superdosagem perigo-
sa e inibição de enzimas hepáticas necessárias à metabolização de fármacos. A
síndrome de abstinência de barbitúricos é muito mais grave do que a de opioides,
provocando tremores, fraqueza, ansiedade, inquietação, náuseas e vômitos, con-
vulsões, delírio e parada cardíaca. Contudo, seus efeitos anticonvu1sivantes condu-
ziram sua utilização como agente para o tratamento de crises convulsivas, o que
possibilitou o desenvolvimento dos benzodiazepínicos (80Z).
Atualmente, BOZs são os principais agentes utilizados no tratamento da ansIe-
dade, além de possuírem efeitos hipnóticos que, em dosagens moderadas, não le-
vam à depressão do centro respiratório no SNC; são considerados fármacos úteis e
seguros no tratamento de diferentes transtornos.
Em 1957, com o desenvolvimento do clorperidóxido, foi iniciada a era dos BOZs.
São, provavelmente, os medicamentos mais prescritos no mundo; no Brasil, somen-
te com o Diazepam~' existem vinte preparações diferentes ..A indicação clínica dos
BOZs se deve à ausência de efeitos tóxicos agudos combinada com eficiência e se-
gurança terapêutica, apesar do potencial para tolerância e dependência.
Todos os BOZs possuem a estrutura química semelhante (1 ,4-benzodiazepina),
variando apenas nos quatro radicais ligados a um dos três anéis químicos caracte~
rísticos de sua estrutura, são lipossolúveis, sendo rápida e completamente absorvi-
dos após a administração oral. Os principais fármacos desta famllia estão apresen-
tados na Figura 1.
N NHCHS Flura;/' "-.: /
Fluni
~ Esta,
CI C=N Mida
I ~o lNiteao (
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abstil
Dia;
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Tabela
Clordiazepóxido
(Librium")
Estrutura geral
~ R4
R1 C=N
IO-R5
.':.""':~",i;o"~ ;"••' < ,..... ,~."," 'j .~. _
'NFfRMAGfM 1 CAPiTUlO 20 - PSICOFRRMACOS
1903, sen~
mais reco-
'pendência
~mperigo-
lrmacos,A
:: opioides,
nitos, con-
tes condu-
vas, o que
I da ansie-
3.S, não le-
;os úteis e
~os BOZs.
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:Iínicados
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:: absorvi-
apresen-
-~
.-J
_ ..." ._. .
-- J~l - .~'I -r\X~ ~~{" ,-- f;t, 't ••• ill;L- 'o,",.
Diazepam CI CH3 -O H, H
Nitrazepam NO, H ~O H, H
Flurazepam CI ICH,J,N(CH,H3I, ~O H, H
Flunitrazepam NO, H -O H, f
Oxazepam CI H -O OH H
Temazepam CI CH3 -O H, H
Clorazepam NO, H -O H, CI
Lorazepam CI H -O OH CI
Clorazepate CI H -O COOH H
Vordiazepam CI H -O H, H
Os BOZs são depressores seletivos do SNC e possuem propriedades farma-
cológicas que podem variar de um efeito ansiolítico a uma sedação pré-cirúrgica A
diferenciação entre uma e outra reação não é clara, devido ao mesmo espectro de
ação farmacológica e mecanismo de ação. Seu poder de sedação dá-se por sua ca-
pacidade de diminuir a latência para conciliar o sono e reduzir o número de vezes que
o paciente desperta, ou seja, sua ação no ciclo sono-vig8ia ocorre por diminuição do
tempo de sono REM (profundo), no primeiro estágio do sono, e aumento do número
de ciclos REM no sono tardio.
Com a utilização de BOZs para o tratamento de distúrbios do sono, a resposta
esperada será de aumento do número total de horas de sono restaurador e diminJi-
ção de pesadelos e do terror noturno.
Os BOZs com ações hipnóticas estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Benzodiazepinicos com ação predominantemente hipnôtica!sedativa
• , •• -.11 I li 11r,'ji.<:.1<",-.; "li.!, -.H" iI I 1~Í;Jí.;l.ii. :oo,.\'~~,~J!1r"'~''-'~'~.:\it#ijé.jr.t~," ~
o"""" , ,_,""'_ ',_
Flurazepam (Dalmadorm") Oral 50-74
Flunitrazepam (Rohypnon Oral, IV 20-30
EstazolÕ;im (Noeta!") Oral 10-24
Midazolam (Dormonid~) Oral. IV Maior que 2
Nitrazepam (Sonebon") INitrazepol') Oral 20-25
(Sonotrat~)
o clordiazepóxido, usado por via oral, possui ação prolongada (um a três dias),
é usado como medicação pré-anestésica e no tratamento agudo da síndrome de
abstinência do álcool.
"--,-------------------------------------------------.--
PSmUliúRlA PARR R EnfERMAGEM
,
Com relação à sedação, os hipnóticos são muito úteis, particularmente em pa-
cientes de hospitais gerais, onde o alto nível de estimulação, o estresse e a dor in-
terferem no sono.
Embora da mesma classe, os BZDs com ação predominantemente ansiolítica
estão representados na Tabela 2.
30-100
18-50
12-20
6-20
10-20
30-100
30-100
Oral, LM., IV, sublingual
Oral
Oral
Oral, I.M., IV, sublingual
Oral
Or31
Oral, IV, IM e retal
(Psicosedin~)
{Dienpax~) (Valiurn~)
(Kiatrium~)
{Rivotrin
(Lexotan~l (Somalium~)
(FrontaiS) [Tranquinan
(Lorax~) (Lorium.) (MaxPax''}
(Tranxilene~l
Clordiazepóxido
Dialepam
Clonazepam
Bromazepam
AlpralOlam
lorazepam
C1orazepato
dipotássico
Ta~ela 2. Benzodiazepinicos com acões ansioliticas
A compreensão das ações das drogas ansiolíticas requer o conhecimento fisio-
lógico da neurotransmissão GABAérgica. Os neurônios GABAérgicos usam GABA
como neurotransmissor. O GABA é sintetizado a partir do aminoácido precursor glu-
tamato por meio da enzima descarboxilase do ácido glutâmico (Glu-AO). Possivel-
mente, cerca de 30% de todas as sinapses no SNC têm como transmissor o GABA.
O mecanismo de ação dos BOZs ainda não está totalmente esclarecido, porém
é capaz de potencializar o efeito inibitório do ácido-gama-aminobutírico (GABA), o
principal neurotransmissor inibitório do SNC. Os receptores benzodiazepínicos, na
verdade, são um subtipo de receptor GABA A, e sua ativação pelos benzodiazepíni-
cos facilita a ação do GABA, provocando a abertura dos canais de cloreto. A entrada
do cloreto através do canal iônico (GABA A) para o interior da célula nervosa leva a
uma diminuição da excitabilidade nervosa (Figura 2). t., portanto, uma ação indireta
e limitada pela quantidade de GABA disponível.
A resposta de decréscimo do potencial excitatário neuronal pelos BOZs contri-
bui para a diminuição de disparos sincronizados em crises convulsivas, o que explica
a utilização como anticonvulsivantes, principalmente o diazepam (IV), em emergên-
cias convulsivas, e o c10nazepam (VO), para o tratamento crônico de diversos tipos
de crises epilépticas e convulsivas.
Os BOZs também são utilizados em tratamentos da síndrome do pânico, de
fobias, síndrome da abstinência alcoólica (SAA) e crises hipertensivas. A SAA é
caracterizada por um conjunto de sintomas, de agrupamento e gravidade variáveis,
~ ". . ~'.~_.
CAPiTULO 10 - PSICOFÁAMACOS
pa-
'n-
:ica
Figura 1. Esquema de GABA
neurônio ~
GABAé'g;co ~
.1. GABA• •••
Neurônio efetor
l-
A,-
I-
I.
n
J,
1
-.
ocorrendo em abstinência absoluta ou relativa do álcool, após uso repetido e
usualmente prolongado e/ou uso de altas doses. O início e o curso do estado de
abstinência são limitados no tempo e relacionados à dose de álcool consumida
imediatamente antes da parada e da redução do consumo. A síndrome de abs:'
tinência pode ser complicada com o aparecimento de convulsões, as quais são
tratadas com diazepam (IV). ~
Segundo o Consenso Brasileiro sobreSAA (2000), os BDZs são utilizados de
acordo com os sintomas. As doses recomendadas são as que, em média, o pacien-
te pode receber num determinado dia; o paciente e os familiares devem ser infor-
mados a respeito dos sintomas a serem monitorados e orientados sobre a con-
veniência de utilizar a maior dosagem da medicação à noite. Oualquer sintoma de
dosagem excessiva de BZDs, como sedação, deve ser vista com cuidado e é ne-
cessário procurar um médico antes de optar pela interrupção da medicação.
Para esse tipo de tratamento, opta-se por diazepam ou c!ordiazepóxido, sen-
do: diazepam: 20 mg via oral (VO) por dia, com retirada gradual ao longo de uma
semana; dordiazepóxido: até 100 mg (VO) por dia, com retirada gradua! ao lon-
go de uma semana.
PSIUUIATRIA PAAA A ENFEAMAGEM
Nos casos de hepatopatias graves: lorazepam: 4 mg (VO) por dia, com retirada
gradual em uma semana.
Ocorrendo recaídas ou respostas desfavoráveis após as abordagens terapêuti-
cas anteriormente mencionadas, deve-se seguir com encaminhamento para modali-
dades de tratamento mais intensivas e estruturadas.
Conforme já mencionado, os BOZs são utilizados na síndrome do pânico (al-
prazo Iam, c1onazepam, diazepam), especialmente quando existe ansiedade anteci-
patória, em geral associados aos inibi dores seletivos da recaptação da serotonna
(ISRSs) ou aos tricíclicos e à rec .
•
Os efeitos colaterais dos BOZs podem ocorrer em graus diferentes, dependen-
do da sucetibilidade'do paciente. Os mais comuns são sedação, sonolência, déficits
cognitivos e sintomas motores, dentre os quais alterações de coordenação mokra,
podendo comprometer o desempenho do trabalho e a capacidade de dirigir veícu-
los, afasia, riscos de quedas, fraturas em idosos e acidentes. Em casos raros, alguns
efeitos não esperados, como insônia e agitação.
Um dos efeitos colaterais característicos é a amnésla, a qual ocorre dependendo
da dosagem: quanto maior a dose plasmática da droga, maior a probabilidade de sua
ocorrência. Os fatores que determinam efeitos residuais são meia-vida longa, meta-
bólicos ativos, doses repetidas, idade do paciente e doenças prévias.
Os BOZs também são potentes indutores de tolerância e dependência. A tole-
rância (ou taquifilaxia) é definida como perda do efeito farmacológico em uma dose
fixa do fármaco; desenvolve-se mais precocemente para efeitos colaterais, em se-
gundo lugar para os efeitos hipnóticos, e, por último, para os efeitos ansiolíticos, e,
no que diz respeito ao tratamento da ansiedade, com doses mais altas. Já a depen-
dência é uma resposta homeostática de adaptação ao uso crônico de benzodiazepí-
nicos, podendo ser desenvolvida dentro de 2 a 20 semanas de acordo com a meia-
-vida do fármaco usado e a dose utilizada.
A síndrome de abstinência ocorre com a interrupção abrupta da droga após vá-
rias semanas ou meses de uso contínuo. Há o aumento dos sintomas de ansiedace,
cefaleia, agitação, irritabilidade, depressão, seguidos de tremor e vertigem; podem
ocorrer convulsões devido à dependência.
Cabe ressaltar que pacientes com história de abuso de substâncias químicas
estão mais propensos a desenvolver uso excessivo dos BDZs e são comuns os ca-
sos de tentativa de suicídio com a sua utilização.
i
Farmaco!ogicamente, o principal antagonista seletivo a ser usado mediante do-
ses excessivas de BDZs é o flumazenil, o qual possui a capacidade de bloquear o
sítio de ação dos BDZs nos receptores GABI;\ A. Este mesmo fármaco (flumazenil)
pode ser utilizado para reverter os efeitos do álcool nos pacientes comatosos, além
de melhorar a ansiedade e a ataxia induzidas pelo próprio álcool.
A Tabela 3 relaciona as principais interações farmacológicas entre BDZs e
outros fármacos.
CRP
Tab
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CAPiTUlO 10 - PSICOfRRMACOS
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Tabela 3, Principais interações com BOIs, ,
Diminuem a absorção: Aumentam os niveis de BOZ:,
• Antiácidos • Cimetidina
• Dissulfiram
• Eritromicina
• Estrogênios
• Fluoxetina
• Isoniazida
Aumentam a depressão do SNC: Diminuem os níveis de SDZ:
• Anti-histaminicos • Carbamazepina
• Barbitúricos
• Antidepressivos triciclicos
• Etanol
Outros agentes ansiolíticos e hipnóticos incluem o zolpidem, o zaleplon, a bus-
pirona e o hidrato de clara!.
Zolpidem (Lioram~ e Stilnoxl!) atua em receptores dos BDZs. Embora não seja
um deles, age como ansiolítico e hipnótico, mas não diminui a tensão muscular nem
possui ação anticonvulsivante. É absorvido rapidamente após administrado por via
oral, sendo utilizado somente no tratamento por prazo curto de insânia, não deven-
do ultrapassar 28 dias de uso, O tempo de meia-vida corresponde a 2 horas; não é
seguro para pacientes com idade inferior a 18 anos, devido à possibilidade de efei-
tos adversos, como del2ressão mental, ataxia, irritabiHdade, pesadelos e alucinações,
além de amnésia, sedação residual e efeitos gastrointestinais, Os sintomas de tole-
rância e dependência se manifestam raramente.
Zaleplon (Sonata$) atua nos receptores GABA A como hipnótico, Não altera
a arquitetura do sono, não muda o despertar durante a noite nem o tempo total
de sono, sendo indicado em casos de insônia crônica e ,transitória, É rapidamen-
te absorvido pela via oral, tendo tempo de meia-vida de, 1 hora e não desenvol-
vendo tolerância nem insônia de rebate, .•
Buspirona (Busparl~, Buspanil'~ e AnsitecO:lD) não tem afinidade pelos recepto-
res dos BOZs, porém sua ação ansiolítica se deve à ligação com o receptor da se-
rotonina, Por via oral é usada no tratamento sintomático de distúrbios generali-
zados da ansiedade, apresentando menor interferência nas funções motoras em
idosos do que os benzodiazepínicos, A meia-vida curta da buspirona exige que seja
administrada em até três vezes ao dia, o que dificulta a adesão ao tratamento, São
necessárias 3 a 4 semanas para que ocorra o efeito ansiolítico. Esta demora pode
ser problemática quando os sintomas de ansiedade são graves ou quando o pa-
ciente já utilizava BOZs,
Não provoca dependência e/ou tolerância e seus efeitos colaterais são náuse-
as, cefaleia, inquietação e vertigens.
PSIQUIATRIA PRRR R ENfERMRGEM
Hidrato de clara! pode ser administrado por via oral ou retal, apresentando tem-
po de meia-vida de 4-10 horas, sendo usado somente em preparação para exames
de eletroencefalograma em crianças, devido às suas vantagens em sedar e não alte-
rar as ondas cerebrais. É um fármaco em desuso, com efeitos colaterais de irritação
de pele e mucosas, desconforto epigástrico, náuseas e vômitos.
20.4 Antidepressivos
•A depressão é um transtorno afetivo no qual o paciente se encontra com tris-
teza, pessimismo, baixa autoestima, apetite e sono alterados, sensação de falta
de energia e dificuldade de concentração. Pode ser dividido em: transto"no de-
pressivo maior (episódios recorrentes de humor deprimido e aumento do isola-
mento social), depressão típica (insônia de despertar, diminuição do apetite e
sentimentos de rompimento social), depressão atípica (sinais neurovegetativos,
maior apetite e hipersonia), depressão melancóllça (sem interesse peta vida, in-
diferente a críticas e incapacidade em sentir prazer), episódio maníaco ou trans-
torno bipolar do humor (sensação de humor elevado e sentimento de autoestima
aumentada) e, por fim, episódio hipomaníaco (sintomas maníacos por mais de 4
dias, porém na ausência de desfecho adverso).
Há uma série de evidências que mostra alterações químicas no SNC do indiví~
duo deprimido, principalmente com relação à diminuição de neurotransmissores ex-
citatórios, como a serotonina, a noradrenalina e, em menor proporção, a dopamina
(Figura 3). Discute-se, também, a capacidade de alteraçãona região sináptica com o
aumento de neurorreceptores; com isso, seriam poucos neurotransmissores e mui-
tos receptores que não estão recebendo seu Iigante, causando assim uma diminui-
ção de respostas excitatárias centrais.
Re<apla,ão
neurotran,missorel
lle<aptação
neurol,al\\missor~
,
.-
CRPilUlO 20 - PSICOFARMRCOS
tem-
ames
I alte~
tação
1 tris-
falta
o de-
isola-
fite e
divas,
la, in-
:rans-
stima
de 4
:ndiví-
oS ex-
3.mma
:om o
~mui-
ninui-
A utilização de fármacos reforça a teoria da carência de neurotransmissores,
pois alguns são agonistas e outtos inibem a recaptação do neurotransmissor, au-
mentando assim a possibilidade de ativação dos receptores pás-sinápticos, o que
gera a melhora do quadro depressivo.
O tratamento adequado da depressão requer não somente a melhora dos sinto-
mas, mas a manutenção do estado afetivo do paciente, evitando recaídas, enquanto
ainda se sentir vulnerável. Em tais casos, usualmente, está indicada a utilização de
psicofármacos associada a alguma modalidade de psicoterapia; essa combinação se
mostra efetiva na maioria dos casos.
A modificação dos hábitos e qualidade de vida é fundamental para a melhora em
casos de depressão, sendo recomendado que o paciente passe a praticar ativida-
des físicas regulares, manter um tempo mínimo de sono diário (6 a 8 horas por noi-
te), ter uma boa alimentação, expor-se ao sol em horários apropriados e evitar o uso
de substâncias como anorexígenos, álcool e tabaco.
Por outro lado, o distúrbio afetivo chamado de transtorno bipolar do humor
(TBH) caracteriza-se pela ocorrência de episódios de mania (exaltação do humor,
euforia, hiperatividade, diminuição da necessidade de sono, exacerbação da se-
xualidade e comprometimento da crítica) comumente alternados com períodos de
depressão. O indivíduo bipolar também apresenta irritabilidade, agressividade e in-
capacidade de controlar adequadamente os impulsos.
Primeiramente, o TBH foi explicado por uma liberação maciça de neurotransmis-
sores excitatórios; porém, hoje, acredita-se ser uma doença neurodegenerativa. Há
perda de neurônios e áreas de afinamento do córtex cerebral. Tal hipótese se deve ao
comportamento dos bipolares, que costumam ser mais rápidos, porém mais impulsivos,
provavelmente pela anormalidade específica do córtex pré-frontal (responsável por de-
cisôes que envolvem planejamento, organização e racionalidade); é a chamada disfun-
ção executiva dos bipolares. Para seu tratamento são utilizados os estabilizantes do
humor, como sais de lítio, ácido valproico, gabapentina, lamotrigina e carbamazepina
20.4.1 Farmacolerapia da depressão
Os antidepressivos podem ser classificados de acorDO com a estrutura química
ou as propriedades farmacológicas. De modo geral, podem ser divididos em:
1. Antidepressivos tricíclicos (ADT s).
2. Inibidores seletivos de recaptação da serotonina (lSRSs) e antidepressi-
vos atípicos.
3.lnibidores da monominoxidase (lMAOs).
Antidepressivos tricíclicos (ADTs)
Os ADTs são considerados os fármacos de primeira escolha em depressões gra-
ves e para pacientes hospitalizados. O local de ação dos ADTs é no sistema límbico,
aumentando a noradrenalina (Nor) e a serotonina (5-Hn na fenda sináptica e, em me-
._'
rSIUUIATRIA PARA A ENFERMAGEM
nor proporção, a dopamina (DA). Esse aumento da disponibilidade dos neurotransmis-
sores na fenda sináptica é conseguido por meio da inibição nas bombas de recaptação
das aminas na região pré-sináptica e leva a um aumento da ativação dos receptores
pós~sinápticos, o que potencializa seus efeitos e antagoniza os sintomas da depressão.
Apesar de essa inibição ocorrer já na primeira administração desses fármacos,
os efeitos clínicos apresentam uma latência de 2 a 3 semanas após o início do tra-
tamento. Sabe-se que há uma demora na resposta terapêutica aos antidepressivos,
que deve ser informada ao paciente. A latência na ação dessa categoria farmacoló-
gica se deve à sen$ibilidade dos receptores, que irá se ajustar à nova quantidade de
neurotransmissor na fenda.
Os principais ADTs estão representados na Tabela 4.
11 a 25
12 a 36
10a SOh (médiade lSh)
A nortriptilina, principalmeta-
bólito da amitroptilina, possui
meia-vidade20 a 60 horas
43- 45
17 (seumetabólito - 51)
..
vo
va, IM e IV
VO
VO
va e IV
vo
(Tofranile)
(Anafranile)
(Tryptanole,Amytrile)
(Pamelore)
Não disponivel no Brasil
Nãodisponível no Brasil
(Sinequane)
Imipramina
Clomipramina
Amitriptilina
Nortriptilina
Maprotilina.
(considerada
tetraciclica]
Desipramina
Protriptilina
Doxepina••
Tabela 4. Antidepressivos trieíclieos, vias de administração e tempos de Y2 vida
.A maprotilinadifere estruturale farmacologicamentedos antidepressivostriciclicos.Possuiefeito inbidor
potenteeseletivosobrea recaptaçãodanoradrenalinanosneurôniospré-sinapticos,nasestruturascorticaisdo
SNC,masquasenãoexerceefeitoinibidornarecaptaçaodaserotonina,
""0 mecanismodeaçãoda doxepinanãoé completamenteconhecido.Essefármaconãoé umestimulan:edo
SNC,nemuminibidordaIMAo.A hipóteseatualédequeosefeitosclinicassão,aomenosemparte,devidJ5as
alteraçóesno ritmo normaldaatividadeadrenérgicanassinapses,demodoquea desativaçãodanoradr~nalina,
pelareabsorçãonosterminaisnervosos,é impedidadesereâlizar.
Os ADTs, em geral, estão indicados para tratamento dos estados depressivos
de etiologia diversa: depressão associada cO'm esquizofrenia e distúrbios de perso-
nalidade, síndromes depressivas senis ou pré-seniS, distimia, depressão de nature-
za reativa, neurótica ou psicopática, transtornos obseSSivo-compulsivos (TOes), fo-
bias e ataques de pânico, estados dolorosos crônicos, enurese noturna (a partir dos
5 anos e com prévia exclusão de causas orgânicas).
fRMRGEM CRPiTUlO 10 - PSICUfRRMRCOS
-ansmis-
aptação
~eptores
)ressão.
rmacos,
, do tra-
essivos,
nacoló-
iade de
hl
Imeta-
possui
:}[as
II .
inibido.
-tiçais do
lante do
'Vidas às
renalina,
ssivos
Jerso-
ature-
:'), la-
tir dos
Além de sua ação sobre a recaptação de aminas, o uso crônico dos ADT s pro-
duz subsensibilidade (e bloqueio) em receptores beta e alfa-2 adrenérgicos, hjstami~
nérgicos, seronotinérgicos, dopaminérgicos, muscarínicos (receptores da acetilcoli-
na) e GABA. Essas alterações em outras conexões neuronais são responsáveis pela
maioria dos efeitos colaterais desses fármacos.
Os efeitos indesejáveis dos ADTs estão relacionados às suas ações autonô-
micas, como os antimuscarínicos: náusea, vômitos, anorexia, boca seca, visão turva,
confusão, constipação, taquicardia, retenção urinária e disfunção sexual. Já os efei-
tos antiadrenérgicos consistem em hipotensão ortostática, taquicardia reflexa, so-
nolência, vertigem, disfunção erétil e ejaculatória. Cabe comentar que os efeitos an-
tiadrenérgicos trazem maior risco em pacientes idosos, podendo propiciar quedas e
alterações das condições circulatórias. Efeitos por ação anti-histaminérgica também
são observados, como sedação, ganho de peso e tontura.
O uso de ADT s pode, ainda, causar alterações eletrocardiográficas e cardiovascu-
lares, com aumento da frequência cardíaca, achatamento da onda T e, mais raramente,
prolongamento do intervalo PR e aumento do complexo ORS. Contudo, tais efeitos es-
tão associados à superdosagem. Dados da literatura mostram que os tricídicos estão
associados a risco de morte súbita em overdose e arritmia, aumento do risco de mor-
te em indivíduos com doença cardíaca isquêmica e aumento do risco de infarto agudo
do miocárdio. Além das alterações cardíacas, a superdosagem também pode levar a
agitação, alucinação, hiper-reflexia, midríase, confusão mental e convulsões.
Cuidados são necessários com a ingestão de alimentos proteicos, pois a partir
da fenilalanina (aminoácido essenciaO, a qual é transformada em tirosina (não essen-
cial), são sintetizados os neurotransmissoresnoradrenalina, adrenalina e dopamina
O metabolismo-dos ADTs é feito pela dtocromo P450, Interações medicamen-
tosas significativas ocorrem por competição com a CYP2d6 entre os tricíclicos e
quinidina, cimetidina, fluoxetina, sertralina, paroxetina, fenotiazinas, carbamazepina e
antiarrítmicos do tipo IC (propafenona) e flecainida,
Os tricíclicos são excretados pela urina e pelas fezes e, com isso, fazem o ciclo
entero-hepático. Sua inativação e eliminação total ocorrem em aproximadamente 7
dias após a suspensão do tratamento. ~ '
lnibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS)
Em 1987, com a introdução desse tipo de anti depressivo na psiquiatria, hou-
ve uma revolução no tratamento da depressão. Tais fármacos promovem resposta
terapêutica tão boa quanto a obtida com os antidepressivos mais antigos - os tri-
cíclicos -, porém menos efeitos colaterais.
Atualmente, além de serem utilizados na depressão unipolar, os ISRSs são efi-
cazes no transtorno obsessivo-compulsivo, no transtorno do pânico, em episódios
depressivos do transtorno bipolar, na bulimia nervosa (fluoxetina em doses eleva-
das), na fobia social (fluoxetina, paroxetina, sertralina), na ansiedade generalizada
PSIIlUIATRIA PARA A EMFERMAGfM
(paroxetina) e no estresse pós-traumático (sertralina). Já o uso desses fármacos
como inibidores do apetite é justificado pelos experimentos com antagonistas 5-HT
que desencadeiam aumento do apetite e ganho pondera! do peso. As ações sobre
o apetite também podem variar de acordo com o ISRS usado: paroxetina e eitalo-
pram estão associados a ganho de peso, enquanto fluoxetina e sertralina, à inibição
do apetite e perda de peso.
O mecanismo de ação dos ISRSs, como o próprio nome diz, inibe a recaptação
pré-sináptica de serotonina (5-HT), aumentando sua disponibilidade na fenda sinápti-
ca e seu contato com receptores pás-sinápticos, principalmente nas vias serotoninér-
gicas dos núcleos da rafe, partindo do tronco encefálico e se projetando para parte do
córtex, hipocampo, núcleos da base, sistema límbico e hipotálamo.
A demora de 2-4 semanas antes de se desenvolver o efeito terapêutico é seme-
lhante à de outros antidepressivos.
Os principais fármacos dessa classe estão representados na Tabela 5.
,.
Tabela 5. Antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina, vias de administração e tempos de Ih vida
CAPil
vos (
ocor
man
sivo~
pois
me ~
Om
O tri
prec
com
dev(
COIT
xuai
. •
Fluoxetina Prozac. VO 24-96
trad
Sertralina Zoloft- VO 15-26 de,
Paroxetina Aropax. VO 3 a 65 horas(média24 h)
Citalopram Cipramil. VO 24-35 labe
Escitalopram lexapro. VO 15-24
Fluvoxamina luvox~ VO 15-24
São rapidamente absorvidos por via oral e mais bem absorvidos quando adminis-
trados com alimentos, tomando-se cuidado com os ricos em triptofano, aminoácido
essencial utilizado na síntese de serotonina. A fluoxetina e a sertralina são transfor-
madas em metabólitos ativos após a fase 1 da biotransformação. São biotransforma-
dos por isoenzimas do sistema citocromo P-450, sendo eliminados na urina.
Os efeitos colaterais mais comuns são ansiedade, desconforto gástrico (náuse-
as, dor epigástrica, vômitos, constipação), cefaleia, diminuição do apetite, disfunção
sexual (retardo de ejaculação em homens e anorgasmia em mulheres), inquietude,
insônia, nervosismo e tremores. Dados da literatura demonstram aumento da agres-
sivldade e violência em pacientes tratados com fluoxetina, além de pensamentos
suicidas. A prevalência dos efeitos colaterais nãD é a mesma nos diferentes fárma.
coso Por exemplo, a paroxetina causa constipação e disfunções sexuais; já a fluoxe-
tina parece estar associada a respostas excitatórías, como as citadas anteriormente
além de facilitar a ciclagem para a mania
Bc
Mi
Mi
milUlo 10 - PSICOFÁRMRCOS
,s
T
e,-
o
o
i-
r-
o
,-
Cabe ressaltar que os ISRSs não devem ser utilizados em pacientes depressi-
vos com menos de 18 anos de idadel pois, para eles, a eficácia é duvidosa, podendo
ocorrer efeitos colaterais, como excitação, agressividade e insônia nas primeiras se-
manas de tratamento, além de ideias suicidas.
Cuidados especiais com o uso de ISRS em combinação com IMAOs, antidepres-
sivos atípicos e Hypericum perforatum (erva-de-são-joão) devem ser observados,
pois tal associação pode levar à morte. Essas combinações podem levar à síndro-
me serotoninérgica, caracterizada por tremor, hipertermia e colapso cardiovascular.
O mesmo cuidado deve ser tomado com o excesso de alimentos ricos em triptofano.
O triptofano é um aminoácido essencial obtido na dieta e que tem a função de ser o
precursor da serotonina nas sinapses serotoninérgicas.
Os ISRSs estão contraindicados em pacientes com problemas gastrintestinais,
como gastrite ou refluxo gastroesofágico. Pacientes que utilizam múltiplos fármacos
devem evitar a fluoxetina, pois ela apresenta interações medicamentosas bastante
complexas. Devem ser evitados ainda em pacientes que apresentam disfunções se-
xuais não decorrentes de depressão, pois esses quadros podem ser agravados.
Antidepressivos atípicos (diversos)
Novos antidepressivos elaborados para tentar solucionar os problemas encon-
trados com os tricíclicos, IMAOs e ISRSs. Cada um apresenta um tipo de mecanismo
de ação e é prescrito de acordo com a avaliação médica.
A Tabela 6 representa um resumo desses novos fármacos.
Tabela 6. Principais antidepressivo~ atípicos, mecanismos de ação, tempo de meia-vida e efeitos colaterais
,-
Bupropriona Wellbutrin- Inibição da recap- 21-24 Taquiarritmías. hipertensão,o tação da Nor e DA convulsões, mania, prurido,
sUdorese, exantema, dis-,- pepsia, constipação, tontu-
ra, visão turva e agitação
Milnaciprano lxel- Inibição da recap- 21-24 Vertigem, diaforese, an-
o tação SHTe Nor siedade. fogachos e disu-
> ria, náusea, vômitos, xe-"- rostomia. constipação,
s tremores e palpitações
Mirtazapina Remeron. Facilitação da 20-40 Agranulocitose, convulsões,
transmissão SHT mania, sonolência, aumen-
> e Nor to do apetite, constipação,
"
tontura e hiperlipidemia
CONTINUA •
t. , , to.
PSlfiUIATRIA PAAA A ENFEAMAGEM CAI
Nefazodona Serzone~ Inibição da re- 21-24 Hipotensão ortostáti-
captação de 5HT ca, insuficiência hepâti-
e Nor ca, convulsões, mania, su-
dorese, alteração do peso,
dispepsia, tontura, visão
turva e sonolência
Reboxetina Prolift- Inibição da re- 13-15 Taquicardia, impotência,
captação da Nor retenção urinária, insânia,
• sudorese excessiva, cons-
'., tipação e boca seca
Tianeptina Stablon. , Aumento da re- '.5 Gastralgias, dores abdo-
captação de 5HT minais, secura da boca,
anorexia, náuseas, vômi-
tos, constipação, flatulên-
cia. insônia, sonolência,
pesadelos, astenia, verti-
gens, cefaleia, Iipotimia,
tremores e mialgias
Trazodona Donaren. Inibição da re- 15 Priapismo, convulsôes,
captação de SHT mania, sudorese, alteração
e Nor do peso, dispepsia, tontu-
ra, visão turva e sonolência
Ven!afaxina Efexor~ Inibição da re- Cerca de 5 Síndrome maligna neuro-
captação de SHT horas (ven- léptica, hipertensão, visão
e Nor lafaxinal, 11 turva, perda de peso, ner-
horas (meta- vosismo, sudorese, hepa-
bólito ativo) tite e desconforto gástrico
Inibidores da monoaminoxidase (IMAUs)
AMA0 (monoaminoxidase) é uma enzima portadora de flavina, localizada pri-
mariamente na membrana externa das mitocôndrias e encontrada nos terminais
nervosos, no fígado e em outros órgãos. Essa enzima oxidativa inativa as aminas
biogênicas - noradrenalina, dopamina, adrenalina, 5-HT (serotonina), triptamina e
tiramina -, convertendo-as aos aldeídos correspondentes, para a sua eliminação.
A MAO existe em duas isoformas: MAO-A e MAO-8, ambas encontradas no te-
cido neurona!, em proporções distintas e em diferentes regiões do cérebro, tendo a
MAO-A preferência por 5-HT e noradrenalina, como substratos. Já a MAO-B, no cé-rebro humano, metaboliza a dopamina.
Os IMAOs são usados geralmente como drogks de terceira linha para a depres-
são, devido ao requerimento de restrições dietéticas. Esses fármacos são prescritos
quando há quadros de depressão atípica, sendo também úteis no distúrbio de pâni~
co ou na depressão refratária.
\
e
a
9
e
a
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T:
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£NFERMRGEM CRPiTULO 10 - PSICOFRRMACOS
tostá ti-
ia hepáti-
, mania, su~
ão do peso,
'Ura,visão
ncia
lpotência,
ria, insônia,
;siva,cons-
seca
Os IMAOs são administrados em dosagens escalonadas e graduais, de manhã ou
no começo da noite, dependendo de seu efeito sobre o sono.
Os lMAOs são classificados em inibidores irreversíveis (isocarboxazida, fenelzina
e trani!cipromina), os quais agem indistintamente sobre a MAO-A e a MAO-B e, com
a interrupção do tratamento, a recuperação da MAO depende de sua síntese endó-
gena. Os inibidores reversíveis foram introduzidos recentemente e são moclobemida
e brofaromina (específicos MAO A) e a se!egilina (específica MAO-B) sem atividade
antidepressiva, mas utilizada no tratamento da doença de Parkinson. Para melhor vi-
sualização, a Tabela 7 separa os IMAOs quanto à sua ação sobre MAO-A e MAQ-8.
'res abdo-
da boca,
~as,vômi-
o, fiatulên-
nolência,
'nia, verti-
lipotimia,
i1gias
tulsôes,
e,alteração
,sia,tontu-
~sonolência
Tabela 7. Seletividade dos IMAOs
Iproniazida
Isocarboxazida
Tranilcipromina
Fenelzina
Clorgilina (mao~al Brofaromina
Modobemida
Toloxatona
Befloxatona
"Todos s~o bem absorvidos flor via oral.
Tabela B. Inibidores da MAO paro depressão
vo I
vo I
VO 4,4-8 horas
VO 2 a 4 horas
VO 9-14 horas
. .
Isocarboxazida Marplan-
Fenelzina Nardil.
Tranilcipromina Parnate-
Modobemida Aurorix.
Brofaromina Consonar-
Na Tabela 8, a seguir, estão relacionados os IMAOs usados nos quadros de
depressão no Brasil.
~na neuro-
nsão, visão
peso, ner-
ese,hepa-
rto gástrico
3.lizadapri-
; terminais
as aminas
iptamina e
llinação.
Idas no te-
ro,tendo a
)-8, no cé-
la depres-
prescritos
ia de pâni-
Eles sofrem biotransformação hepática rápida por oxidação e, possivelmente,
têm metabólitos ativos. O início da ação dá-se entre 7 e 10 dias, com doses apro-
priadas em alguns pacientes, mas pode levar de 4 a 8 semanas para atingir o efei-
to terapêutico pleno.
PSIIlUlATRIA PRRR R ENFERMAGEM
Os efeitos colaterais dos IMAOs, de modo geral, são hipotensão ortostática gra-
ve (vertigens e tonturas, especialmente ao levantar; podem ocorrer quedas); diarreia,
edema nos pés e tornozelos (pode ceder espontaneamente em semanas); taquicar-
dia, palpitação, nervosismo e excitação.
Alguns efeitos colaterais são raros, porém perigosos, como hepatite, leu-
copenia, síndrome de Parkinson, síndrome serotoninérgica na combinação com
medicamentos serotonérgicos (amitriptilina, c1omipramina, doxepina, imipramina;
fluoxetina, sertralina, paroxetina oy trazodona). A síndrome pode se manifestar
por confusão ment~l, hipomania, inquietação, mioclonias, hiper-reflexia, arrepios,
calafrios, tremores, diarreia, incoordenação e febre. A melhora é rápida com a re-
tirada das substâncias.
Faz-se necessário monitorar os eletrólitos plasmáticos, principalmente se o pa~
ciente apresenta edema, pois pode ser um quadro de síndrome de secreção inade-
quada do hormônio antidiurético.
~
Um dos principais problemas com a utilização de IMAOS ocorre pelo cuida-
do com a sua interação com alimentos contendo alto teor de tiramina (a tiramina
é precursora da tirosina, usada para a síntese de neurotransmissores) e a asso-
ciação IMAO e alimentos pode levar a um aumento maciço de cateco!aminas (no-
radrenalina, adrenalina e dopamina no SNC e periférico). Dessas interações fár-
maca-nutrientes, a crise hipertensiva é o resultado mais perigoso e clinicamente
importante. Os sintomas de crise hipertensiva são cefaleia intensa, palpitações,
dor torácica intensa, midríase, fotossensibilidade, sudorese, febre, calafrios, náu-
seas e vômitos. O tratamento para a crise hipertensiva tem sido com nifedipina
10 mg mastigada e colocada sob a língua, normalizando a pressão sanguínea
em 1-5 minutos. A Tabela 9 lista os principais alimentos que devem ser evitados
quando se faz uso de IMAOs.
Tabela 9. Principais restrições dietéticas no uso de IMAOs
Queijos, exceto queijo cremoso, queijo cottage Extratos de carne e levedura.
e iogurte fresco.
Carnes fermentadas ou envelhecidas, como sal- Vinho tinto, sherry, vermute, conhaque, cerveja,
sicha e salame. cerveja tipo alemã.
Vagem larga, como a chinesa. Molho de soja, pasta de camarão, chucrute.
Qualquer tipo de figado. Figos, bananas, ananás, pera, abacate, passas,
ameixas enlatadas e framboesas.,
o mesmo quadro de crise hipertensiva é observado quando se faz uso de IMAOs
e fármacos simpaticomiméticos, como os descongestionantes nasais, os broncodilata-
dores e os anestésicos locais associados a vasoconstritor.
'FRMRGEM CRPíTUlO 10 - PSICOFÁRMRCOS
:itica 9ra-
,; diarreia,
taquicar-
o fim da terapia com IMAOs pode estar associado à ansiedade, agitação, de-
saceleração cognitiva e,dores de cabeça. A retirada deve ser muito gradual e as-
sociada à terapia de curto prazo com benzodiazepínicos para o não aparecimen-
to desses sintomas.
Quadro 1. Sintomas apresentados na mania ou na depressão
Delirios e alucinações
Abuso de álcool ou drogas; ideias suicidas
Desinibição exagerada
Comportamentos inadequados
Aumento de energia e disposição.~
Humor eufórico.
Irritabilidade, impaciência, "pavio curto".
Distração,
Exaltação.
Pensamento acelerado, tagarelice.
Insônia.
•Otimismo exagerado, aumento da autoestima.
Gastos excessivos.
Falta de senso critico.
20.4.2 Estabilizanles do humor [Iralamenlo do Iranslorno bipolar do humor)
O transtorno bipolar do humor (TBH), também conhecido como um quadro de
mania (euforia) e depressão, é causado por uma desordem do SNC, e resulta em
mudanças não previstas no estado mental, no humor, na energia e na habilidade do
indivíduo. Diferentemente dos altos e baixos normais que todos apresentam ao lon-
go da vida, o TBH pode destruir relacionamentos, tornar a performance ruim no tra-
balho e na escola e até mesmo levar ao suicídio.
A mudança do comportamento de euforia para depressão ou vice-versa é súbi-
ta; é chamada de cíclica. O indivíduo não a percebe ou a atribui a algum fator do mo-
mento, pois o senso crítico e a capacidade de avaliação objetiva das situações ficam
prejudicados ou ausentes.
No Ouadro 1, estão listados os sintomas que o indivíduo pode apresentar quan-
do em mania ou em depressão.
se o pa-
3.0 inade-
lo cuida-
tiramina
) a assa-
inas (no-
;ães fár-
camente
pitações,
ias, náu-
ifedipina
mguínea
evitados
:, passas,
:, cerveja,
le IMAOs
lCodilata-
:rute.
Itite, leu-
ção com
praminaj
anifestar
arrepios,
:om a re-
CONTINUA •••.
.
'.
.... -.-.
PSIUUlATRIA PARA A ENFERMRGEM
Desânimo, cansaço mental.
Dificuldade de concentração, esquecimento.
Isolamento social e familiar.
Apatia, desmotivação.
Sentimento de medo, insegurança, desespero e vazio.
Pessimismo, ideias de culpa.
Baixa autoestima.
Alteração do apetite.
Redução da libido. ",
Aumento do sono.
•
Dores e problemas físicos. como cefaleia, sintomas gastrintestinais. dores pelo corpo e pressão no peito.
Ideias suicidas. -
Os medicamentos utilizados no tratamento do transtorno bipolar são conheci-
dos como estabilizadores do humor e buscam controlar tanto a fase maníaca quan-
to a depressiva, prevenir os episódios e suprimir ou reduzir a ciclagem do transtorno.
O esquema de tratamento considera a fase aguda (remissão dos sintomas),
a fase de manutenção (manutenção da medicação por um período de segurança
após a remissão dos sintomas) e a fase de profilaxia (redução da dosagem para
níveispreventivos).
Sais de lítio (CarboJitium'8')
A história da utilização de estabilizantes do humor começou em 1949, quando
um pesquisador australiano observou que o lítio exercia um efeito calmante sobre
animais e lançou a hipótese de sua utilização em pacientes maníacos. Sabe-se que
o lítio contribui para estabilizar o humor, porém seu mecanismo de ação ainda não
está totalmente esclarecido.
A primeira hipótese de sua ação baseia-se em suas características químicas:
o lítio é um cátion monovalente que substitui o sódio no compartimento jntracelu~
lar, tornando a bomba de sódio e potássio pouco eficaz para promover trocas con-
tra um gradiente de concentração. A permanência do sódio intracelular promove
uma despolarização prolongada, que produz uma diminuição da passagem de im~
pulsos nervosos. A segunda hipótese de sua ação deve-se ao fato de o lítio exer-
cer inúmeros efeitos intracelulares na produç~o de segundos mensageiros, como
o AMPc, o diacilglirerol (DAG) e o inositol trifosfato (IP3), que aumentam as res-
postas bioquímicas intracelulares.
R_M_AG_E_M~ ~I
) peito.
,nheci-
quan-
stomo.
::>mas),
Jrança
n para
u8:ldo
sobre
ie que
la não
-nicas:
3.celu-
5 con-
lmove
je im-
exer-
como
s res-
CAPiTUlO 10 - PSICOFÁRMHCOS
o lítio, na forma de sais (carbonato de lítio, citrato de lítio e cloreto de lítio),
tornou-se o estabilizador do humor de uso padrão. Ele é eficiente nos episódios
maníacos disfóricos, bem como na depressão bipolar, sendo pouco efetivo nas
formas mistas e nos cidadores rápidos; para estes, são utilizados fármacos anti-
convulsivantes com ações estabilizantes do humor, como a carbamazepina, a la-
motrigina ou o valproato.
Após sua administração oral, é completamente absorvido, sendo sua concentra-
ção máxima atingida 2 a 4 horas após a ingestão. Diferente da maioria dos fármacos,
o lítio é encontrado no sangue somente na forma livre, sua passagem pela barreira
hematoencefálica é lenta, por depender de proteínas transportadoras. Sua meia-vida
é de 24 a 48 horas, sendo excretado somente pelos rins.
O uso do lítio deve ser monitorado quanto aos níveis séricos (Iitemia), devido ao
seu baixo índice terapêutico, ou seja, as doses consideradas eficazes são próximas
das doses tóxicas. O nível terapêutico pode variar de um indivíduo para o outro, mas
geralmente está entre 0,5 e 1,5 mEq/1 para as fases agudas e entre 1,0 e 1,5 mEq/1
na prevenção dos episódios de mania. Níveis acima dos terapêuticos não são mais
efetivos e podem causar efeitos colaterais e/ou intoxicações.
Os principais efeitos colaterais das múltiplas ações exercidas pelo lítio são
poliúria por diminuição da produção de hormônio antidiurético (AO H), o que pode
ser denominado de diabetes insípido nefrogênico; hipotireoidismo (bócio) devido à
sua interferência na síntese e liberação de hormônio estimulador da tireoide (TSH)
pela hipófise, o que diminui a produção de tiroxina e triiodotironina, anormalidades
no EEG e ECG, aumento de leucócitos circulantes, diarreia, náusea, fraqueza mus-
cular, escotomas ll-ansitórios dos campos visuais, letargia, tremor de extremidades,
acne, alteração do metabolismo, aumento de peso e manchas na pele.
A intoxicação pelo lítio pode ser dividida em leve, moderada e grave. Os sinto-
mas de cada uma estão descritos no Ouadro 2.
Quadro 2. Tipos de intoxicação causas pelo litio
Apatia, letargia, lentificação, sonolência. redução da capacidade de concentraçào, fraqueza muscu-
lar, marcha instável, tremor grosseiro das mãos e discretas contrações musculares.
Sintomas semelhantes a intoxicação leve, porém mais intensos, podendo ocorrer também disar-
tria e ataxia.
Além de todos os outros sintomas mencionados, confusão, delírio, alteração da consciência, crises
convulsivas, insuficiência renal e morte súbita.
PSIO.UIATRIA PAAA A ENFEAMAGEM
Como o lítio ainda é o melhor estabilizante do humor, os seus benefícios supe-
ram sua toxicidade e, por isso, é importante saber usá-lo. As diretrizes gerais para a
terapia com lítio são apresentadas, a seguir, de modo resumido:
Inicia-se o tratamento com 3 comprimidos de 300 mg em uma só tomada à
noite (900 mg/dia), podendo chegar a 1200 mg/dia.
Sendo o efeito terapêutico do lítio correlacionado à litemia, monitora-se este
parâmetro, que deve ficar entre 0,6-1,2 mEq/l, evitando-se os efeitos tóxicos
(> 1,2 mEq/1) e estabelecendo-se o nível terapêutico recomendado. Na fase
aguda, a litemia deve ficar próxima do seu limite máximo permitido, frequen-
temente na faixa de 0,9-1 ,2 mEq/1.Mantido esse nível por 15 dias, sem haver
remissão dos sintomas, o paciente será considerado refratário ao lítio.
• A primeira litemia deve ser feita no sexto dia após o início do tratamento, co-
lhendo-se o sangue 12 horas após a última tomada do lítio. A partir daí, far-
-se-á medidas semanais nos dois primeiros meses, espaçando-se gradual-
mente até 3, 4 ou 6 meses. É bom ter em mente,.que cada 300 mg de lítio
ou 1/2 comprimido da forma CR (450 mg) aumenta cerca de 0,25 mEq/1 na
litemia, e que 800 mg resulta numa litemia média de 0,7 mEq/1.
Uma vez estabilizado o quadro, o lítio será mantido por um período de pelo
menos 6 meses e, então, será reduzido para uma dose profilática em torno
de 0,5-0,8 mEq/1.
Os sais de lítio não devem ser usados na gestação devido aos seus efeitos te-
ratogênicos. Também ocorre secreção do fármaco no leite materno, o que inviabi-
liza a amamentação.
Cabe comentar que a associação do lítio com antipsicóticos em pacientes
agitados e com sintomas psicóticos típicos é muito eficiente e parece ter um
efeito cooperativo. Deve sempre ser utilizada nestes casos até a remissão dos
sintomas psicóticos, ocasião na qual o lítio será mantido, a menos que os sinto-
mas psicóticos persistam.
Anticonvulsivantes como estabilizadores do humor
Como alternativa para pacientes que não se adaptam ao lítio, alguns anticonvul-
sivantes têm sido usados tanto no tratamento agudo quanto na profilaxia.
Carbamazepina (Tegretolll:)
A carbamazepina é o estabilizador de hUl]1ormais usado após o lítio, sendo a in~
dicação preferencial nos cicladores rápidos, ocasião em que o lítio não demonstra
vantagem significativa ou seus efeitos colaterais indicam sua descontinuação. As do-
ses sugeridas para o tratamento de mania são 400 mg/dia inicialmente, com acrés-
cimos rápidos de 100 a 200 mg/dia, até resposta favorável ou até 1.000 mg/dia.
Os níveis séricos devem estar em torno de 8 a 12 ~lg/ml.
CAPiTULO 10 - PSICOFAAMACOS
supe-
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acrés-
19/dia.
"
o mecanismo de ação da carbamazepina é o bloqueio de canais de sódio, o que
estabiliza o potencial de açao neuronal. Possui meia~vida de 10 a 20 horas, sendo
esta reduzida com o tratamento crônico devido' à ativação do citocromo P-450, exi-
gindo após certo período várias doses ao dia. Metabolismo hepático e seus efeitos
colaterais incluem sedação, edema, ataxia, disartria, diplopia e arritmias.
Sua toxieidade (agranulocitose, anemia aplástica, hepatite), embora rara, pode
ser um fator limitante, portanto hemogramas com contagem de plaquetas a cada 2
semanas nos primeiros 2 meses de tratamento e, depois, a cada 4 meses deverão
ser requisitados para controle.
Ácido valproico (Depakene'.'/Depakote~)
O valproato de sódio (sal do ácido valproico) é hoje considerado tão efeti-
vo quanto o lítio. Além de ter as mesmas indicações do lítio, sua ação se esten-
de para os estados mistos e aos cicladores rápidos. É considerado mais eficaz
que a carbamazepina e com menos efeitos colaterais que esta e o lítio. A jane-
la terapêutica está na faixa de 50-125 ng/ml, que é atingida com a dose média
de 1.500-2.000 mg/dia. O uso concomitante de outros fármacos anti maníacospode acelerar a resposta terapêutica. Atualmente, há um preparado mais tolera-
do: a formulação divalproex.
O mecanismo de ação do ácido valproico não é totalmente conhecido. Acredita-
-se que atue tanto na mania quanto na epilepsia por meio de diversos mecanismos
que teriam como efeito um aumento da atividade GABAérgica cerebral (inibitória):
inibiria o catabolismo do GABA, aumentando sua liberação, diminuindo seu turnover
e aumentando a densidade de receptores GABA B.
Os principais""'efeitos colaterais do ácido valproico são os distúrbios gastroin-
testinais; porém, são descritos na literatura, casos de hepatopatia aguda letal, o que
pode limitar sua indicação a pacientes que já apresentem alterações hepáticas.
lamotrigina (lamictalÓ:)
A lamotrigina é um medicamento promissor no tratamento da depressão bipo-
lar e cidadores rápidos, tendo se mostrado efetiva no tratamento dos episódios ma-
níacos, especialmente no espectro ubrando" (não maníaco) do TAB. Tem sido utiliza.
da também no tratamento do transtorno de personalidade borderfine. A dose inicial
deve ser de 50 mg/dia, aumentando-se lentamente para monitorar hipersensibilida-
de (rash), até 100-500 mg/dia. Sua ação se deve ao bloqueio de disparos neuronais
por inativação de canais de sódio.
Ê absorvida completamente por via oral e biotransformada por conjugação com
o ácido glucurônico. Sua meia-vida é de 24-35 horas e os efeitos colaterais comuns
ao seu uso são tontura, ataxia, náuseas e vômitos.
Alguns antipsicóticos são utilizados para tratar a fase pSicótica dos episódios
maníacos, sendo a olanzapina e a risperidona os mais indicados, por serem fármacos
atípicos e não desencadearem alterações como a discinesia tardia.
PSIUUIATAIA PARA A EHFERMRGEM
20.5 Antipsicóticos
Os antipsicóticos ou neurolépticos são fármacos com propriedades terapêuti-
cas comuns, usados primeiramente na terapia da esquizofrenia, na fase maníaca do
transtorno bipolar do humor e em outras psicoses ídiopáticas agudas, que apresen-
tam a agitação como característica comum.
A esquizofrenia caracteriza-se por apresentar distorções funcionais em vários graus
e de forma simultânea. Neste quadro patológico, o paciente pode manifestar transtor-
nos da percepção, pensamento, fala, eflloção e/ou atividade física Os sintomas esqui-
zofrênicos são divididos em positivos e negativos, conforme o Quadro 3.
Quadro 3. Sintomas positivos e negativos da esquizofrenia
,Sintomas e5quizofr~nico5 -PoSitivos
Delirios (crenças distorcidas ou falsas e interpretações incorretas das percepções).
Alucinações (percepções anormais - por exemplo, auditivas). ,...
Fala desorganizada.
Comportamento catatõnico.
Afeto embotado.
Alogia.
Avolição (diminuição da orientação em cumprir metas).
A hipótese que melhor explica o comportamento esquizofrênico é a dopaminérgi-
ca, ou seja, a doença é causada por níveis elevados e/ou desregulados de dopam ina
no SNC, particularmente na via mesolímbica (trato dopaminérgico que se origina na
área tegmental ventral e que se projeta para o núcleo aeúmbens, o estriado ventral,
partes da tonsila do cerebelo e hipocampo e outros componentes do sistema límbico)
(Figura 2). Essa hipótese se mantém devido à melhora do quadro quando são usados
fármacos antagonistas dopaminérgicos de receptores 02 (antipsicóticos típicos) aqui
encontrados. Acredita-se que a maciça liberação de serotonina possa ocorrer em ca-
sos de esquizofrenia, o que levou ao desenvolvimento de antipsicóticos atípicos.
Atualmente, são conhecidos diversos receptores de dopamina, acoplados a uma
proteína G, sendo eles O 1 e 05, cujo mecanismo de transdução é a ativação da ade-
nilato ciclase, e 02, 03 e 04, que inibem a adenilato ciclase. A ação dos antipsicóti-
cos deve-se, principal, mas não exclusivamente, áo antagonismo de receptores 02.
Os antipsicóticos ou neurolépticos passaram a ser utilizados em psiquiatria a partir
da descoberta casual de Oelay e Oeniker, no início,da década de 1950: a c1orpromazina,
além de produzir sedação, diminuía a intensidade de sintomas psicóticos. Posteriormen-
te foram introduzidos outros medicamentos derivados das clorpromazinas, fenotiazinas,
butirofenonas (haloperidol) e, mais modernamente, diversas outras substâncias: risperi-
dona, olanzapina, ziprazidona, molindona, quetiapina. c1ozapina, aripiprazol, entre outras.
N.Acúmbens
I
;m ] CRPiTUlD 2U - PSICOFRRMRCDS
T
\ Figura 4. Vias de dopamina
uti-
\
~
do
,
Estriado ~
en- ,
Córtex
aus pré_front",l
tor-
qui-
Atípicos
Tioridazina (Mellerin
Sulpirida (Equilid~)
Clozapina (Leponex")
Rí5peridona (Rísperdal~)
Olanzapina (Zyprexa~l
Quetíapina (Seroquel~l
Aripiprazol (Abílifll
Tradicionais de alta potência
Haloperidol (Haldol")
Flufenazina (Anatensol")
Pímozída (Orap~)
Tradicionais de média potência
Trifluoperazina [Stelazine-)
Tradicionais de baixa potência
Clorpromazina (Amplictin
Levomepromazina (Neozíne")
Tabela 10. Antipsicóticos tradicionais ou atípicos
Os antipsicótícos ou neurolépticos são classificados em tradicionais ou típi~
cos, também chamados de primeira geração, e atípicos ou de segunda geração
(Tabela 10). Esta divisão está relacionada com seu mecanismo de ação: predomi-
nantemente bloqueio de receptores da dopamina (O) nos típicos e bloqueio dos
receptores dopam1nérgicos e serotonérgicos (5HT) nos atípicos, o que acarreta
um diferente perfil de efeitos colaterais, em geral mais bem tolerados nos últimos.
érgi-
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PSmUIATRIR PARR A ENFERMRGEM
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Os antipsicóticos são drogas lipossolúveis, o que facilita sua absorção e penetração
no SNC. Possuem mecanismo de primeira passagem pelo fígado, portanto sofrem me-
tabolização hepática. A maioria possui meia-vida longa, entre 20 e 40 horas, o que se
torna importante na medida em que permite prescrição em uma única tomada diária Ou-
tra consequência da meia-vida longa é o fato de demorar aproximadamente 5 dias para
se instalar o estado estável da droga no organismo.
Os antipsicóticos tradicionais (típicos), como o haloperido\ e a clorpromazina (po-
tencialmente capaz;es de provocar réações extrapiramidais e um maior número de
outros efeitos colaterais), podem se constituir na primeira escolha para o tratamen~
to de quadros psicóticos da fase aguda da esquizofrenia e como coadjuvantes nos
episódios maníacos do transtorno bipolar do humor (TBH). Agem como antagonis-
tas dos receptores 02 nas vias dopaminérgicas do SNC; todavia, são mais eficien-
tes nos sintomas positivos da esquizofrenia e menos efetivos nos sintomas negativos.
A potência desses fármacos determina suas respos.tas adversas quanto às ações
extrapiramidaís, ou seja, quanto maior sua ação, maior será seu periil de efeitos co-
laterais. Os fármacos típicos de alta potência são chamados de incisivos e tendem a
apresentar menos efeito sedativo e pouca hipotensão postural; por outro lado, causam
os famosos efeitos extrapiramidais. Já os de baixa potência são chamados de sedati-
vos, não causam efeitos extrapiramidais, mas possuem alto teor sedativo e hipotensor.
Dos antipsicóticos incisivos fazem parte o haloperidol, o penfluridot, a flufenazi-
na e a fenotiazina. Ao contrário dos sedativos, os incisivos possuem melhor atuação
nos delírios e alucinações; todavia, sua alta potência desencadeia sintomas extrapi-
ramidais também chamados de impregnação neuroléptica, aos quais são suscetíveis
especialmente os jovens do sexo masculino. Ta! resposta é o resultado da interie-
rência medicamentosa na via nigroestriatal, na qual parece haver um balanço entre
as atividades dopaminérgicas e colinérgicas. Dessa forma, o bloqueio dos recepto-
res dopaminérgicos provocará uma atividade colinérgica, alterações comportamen-
tais e, principalmente, motoras.Esses sintomas caracterizam-se por:
Reação distônica aguda: ocorre com frequência nas primeiras horas (1 a 5
dias) de uso de antipsicóticos, com uma incidência de mais de 15%. Caracte+
riza-se por movimentos espasmódicos abruptos da musculatura do pescoço,
boca e língua ou crises oculogíricas (rotação dos olhos em direção superior la-
teral, fixando-se nessa posição). Pode ser acompanhada por movimentos dife-
renciados, o que, às vezes, é confundido com convulsões. É tratada com anti-
colinérgicos ou antiparkinsonianos. ':.
Parkinsonismo farmacológico: em geral, acontece após a primeira semana de
uso dos antipsicóticos (5 a 30 dias), em aproximadamente 15% dos casos,
sendo de maior frequência em mulheres. Clinicamente, há um tremor de ex-
tremidades, hipertonia e rigidez muscular, hipercinesia e fácies inexpressiva.
Trata-se com anticolinérgicos (antiparkinsonianos). Muitas vezes, pode haver
penetração
sofrem me-
lS, o que se
a diária.Ou-
5 dias para
mazina (po-
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J tratamen-
Nantes nos
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s negativos.
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) hipotensor.
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3. semana de
'odos casos,
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inexpressiva.
" pode haver
"
j CAPiTUlD 20 - PSICOFÁRMRCOS
o desaparecimento de tais problemas após 3 meses de utilização do antipsi-
cótico, como se Houvesse uma espécie de tolerância ao seu uso. Esse fato fa-
vorece uma possível redução progressiva na dose do anticolinérgico.
• Acatisia: ocorre geralmente após o terceiro dia de uso da medicação, em 35%
dos casos. Caracterizada por inquietação psicomotora, desejo incontrolável de
movimentar-se e sensação interna de tensão. O paciente assume uma postura
típica de levantar-se a cada instante, andar de um lado para o outro e, quando
compelido a permanecer sentado, não para de mexer suas pernas. Esse qua-
dro não responde a tratamento farmacológico; assim, deve-se reduzir a dosa-
gem do antipsicótico ou trocá-lo por um atípico.
Discinesia tardia: aparece após o uso crônico de antipsicóticos (geralmente-após
2 anos), com prevalência em 15 a 20% dos casos. Clinicamente, é caracteriza-
da por movimentos involuntários, principalmente da musculatura oro.língua-fa-
cia!, ocorrendo protrusão da língua com varredura laterolateral, acompanhados de
movimentos sincrônicos da mandíbula. O tronco, os ombros e os membros tam-
bém podem apresentar movimentos discinéticos. Esse quadro não responde a
nenhum tratamento, sendo necessária a substituição por um antipsicótico'atípico.
Síndrome neuroléptica maligna: trata-se de uma forma raríssima de toxicida-
de provocada pelo antipsicótico. É uma reação adversa, dependente mais do
agente agredido do que do agressor, tal como uma espécie de hipersensibi-
Iidade à droga. Clinicamente, observam-se um grave distúrbio extrapiramidal
acompanhado por intensa hipertermia (de origem central) e distúrbios autonô-
micos. Leva a óbito numa proporção de 20 a 30% dos casos.
Além dos efeitos adversos dos neurolépticos tradicionais sobre o SNC, são ob-
servados ref~xos de sua utilização em outros sistemas, apresentando, assim: secura
da boca e da pele, constipação intestinal, dificuldade de acomodação visual e, mais
raramente, retenção urinária. Ainda podem causar amenorreia e, menos frequente-
mente, galactorreia e ginecomastia, alterações na síntese de prolactina. Há relatos
de rash cutâneo, fotossensibilização e aumento da pigmentação nos pacientes que
fazem uso de clorpromazina. Com relação ao sistema cardiovascular, podem ocorrer
alterações eletrocardiográficas, como aumento do intervalo PRo diminuição do seg-
mento ST e achatamento de onqa T.
Cabe ressaltar que os antipsicóticos não são fármacos com potencial de de-
pendência. Contudo, ocorre uma adaptação neuronal após seu uso prolongado, o
que pode causar alterações do padrão do sono ou comportamentais com a retirada
abrupta; portanto, aconselha-se a retirada por desmame.
Os antipsicóticos atípicos são definidos como uma nova classe desses medica-
mentos, que causam menos efeitos colaterais extrapiramidais, ao menos em doses
terapêuticas. A utilidade dos antipsicóticos atípicos já é considerada uma vitória re-
cente na história da terapêutica das psicoses. Pesquisas sistemáticas estabelecem
como sólida a superioridade (melhora clínica dos pacientes crônicos, escassez de
efeitos colaterais e prevenção de recaídas) desses fármacos, como a c1ozapina, ante
os antipsicóticos típicos ou convencionais.
PSInUlATRIA PARA A EnFERMAGEM
;li 'v'
No mercado brasileiro, os principais fármacos atípicos são a c1ozapina, a risperi-
dona, a olanzapina, a quetiapina, a sulpirida, a misulprida e a tioridazina. Outras carac.
terísticas que os definem como atípicos são ausência de hiperprolactinemia, maior
eficácia nos sintomas positivos, negativos e de desorganização, ausência de discine-
sia tardia ou distonia após administração crônica. Nesse segundo grupo de proprie-
dades, tem-se apenas a clozapina.
Outra diferença nas ações de um antipsicótico atípico é sua propriedade anta-
gonista combinada dos receptores 02 da dopamina e 5-HT2 da serotonina. A cloza-
pina e a olanzapi~a bloqueiam, ainaa, os receptores 04 da dopamina.
Com relação â c1ozapina, o início do tratamento deve ser feito na ausência de ou-
tras drogas psicotrópicas, a fim de minimizar os efeitos colaterais (hipotensão e se~
dação) e os anticolinérgicos, bem como evitar a interferência nos benefícios da c1o-
zapina, dependentes de seu fraco bloqueio do receptor 02. Como efeitos colaterais
podem ocorrer agranulocitose, sintomas anticolinérgicos, sedação e ganho de peso.
Apesar da superioridade da c10zapina em relação aos antipsicóticos clássicos, o
seu uso permanece limitado, devido ao risco de agranulocitose (neutrófilos + eosinó-
fi los + basófilos < 500/mmS). Atualmente, sua indicação restringe~se aos pacientes
refratários ou que não toleram o tratamento com antipsicóticos típicos.
A risperidona age como bloqueador de receptores 02 e 5-HT2, sendo eficaz
nos sintomas positivos e negativos da esquizofrenia. Produz menos efeitos extrapi-
ramidais do que o haloperidol, quando administrada em doses inferiores a 8 mg/dia.
Contudo, essa vantagem pode ser perdida em doses superiores. Alguns outros efei-
tos colaterais comuns à risperidona são insônia, agitação, sedação, tontura, rinite, hi-
potensão, ganho de peso e distúrbios menstruais. Galactorreia pode estar presente.
Há relatos de síndrome neuroléptica maligna.
A olanzapina age de modo semelhante à risperidona, diminui os sintomas po-
sitivos e negativos da esquizofrenia, e possui baixa incidência de efeitos extrapira-
midais. Já a quetiapina é um novo antipsicótico, estruturalmente relacionado com
a c1ozapina, porém sem necessidade de monitoração sanguínea. Os efeitos adver-
sos mais frequentemente relatados são cefaleia (19%), sonolência (19%) e tontura
(10%). A incidência de sintomas extrapiramidais é inferior a 10%.
Embora os avanços em pesquisas sejam a solução para terapias com psicofár-
macas, vale lembrar que o SNC ainda é um oceano de neurotransmissores em que
existem pontos totalmente desconhecidos. A atualização permanente irá permitir ao
profissional de saúde, especialmente ao enfermeiro, um melhor atendimento e pro-
moção da qualidade de vida ao paciente psiquiátrico.
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