Buscar

Fundamentos de Filosofia Aula 6

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
1 
 
 
 
 
 
Fundamentos de Filosofia 
 
 
 
 
 
Pensamento Filosófico na América Latina e 
Movimentos Sociais 
Aula 6 
 
 
Prof. Rui Valese 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
2 
Conversa inicial 
Bem-vindos à sexta aula da disciplina Fundamentos de Filosofia! Nesta 
aula, nosso objetivo é refletir sobre a presença da Filosofia no continente latino-
americano. Estudaremos o pensamento colonizador, bem como as correntes 
filosóficas que, desenvolvidas na Europa a partir do século XIX, vieram para cá 
com os imigrantes no final daquele século e início do século XX. Também 
aprofundaremos nossos conhecimentos sobre o pensamento filosófico que se 
desenvolverá por aqui de maneira autônoma e suas influências nos movimentos 
sociais. 
 
Para saber mais sobre a aula de hoje, assista ao vídeo que está disponível 
no material on-line! 
Contextualizando 
As Comunidades Eclesiais de Base foi um movimento dentro da Igreja 
Católica que surgiu a partir do Concílio Vaticano II e estavam ligadas à chamada 
ala progressiva da Igreja, que se orientava pela Teologia da Libertação. Essa 
influência se fez sentir não somente nos movimentos religiosos como na JUC 
(Juventude Universitária Católica), Pastoral Operária, como também nos 
movimentos sociais, tais como o Movimento dos Sem Terra, bem como sindicais 
e políticos, como as revoluções cubana e nicaraguense, além das Farc, FSLN 
(Frente Sandinista de Libertação Nacional), dentre outros movimentos que 
objetivavam fazer a revolução em seus respectivos países ou lutar contra as 
ditaduras civis e militares pelas quais passavam. Tanto a Teologia quanto as 
Comunidades foram acusadas de serem marxistas e defenderem o comunismo, 
o que, segundo seus críticos, seriam ideias incompatíveis. Assim, a questão que 
se coloca para reflexão ao longo desta aula é: é possível conciliar o cristianismo 
com o marxismo e/ou comunismo e a atuação política-sindical? Se é possível, 
em que medida? 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
3 
Para os comentários do professor Rui sobre este assunto, assista ao 
vídeo que está disponível no material on-line! 
Pensamento filosófico colonial e colonizador 
Segundo o pensador e historiador da Filosofia no Brasil, João Cruz Costa, 
“A filosofia foi, no Brasil, desde os tempos da Colônia, um luxo de alguns 
senhores ricos e ilustrados”. Essa tese de Cruz Costa não é despropositada. 
Desde que o pensamento filosófico desembarcou por essas terras, juntamente 
com os aventureiros portugueses nas caravelas comandadas por Cabral, esse 
foi, por muito tempo, um privilégio de uma minoria que podia dar-se o direito de, 
no tempo livre, dedicar-se às especulações filosóficas. Assim, nosso objetivo 
nessa unidade, é compreender um pouco desse pensamento e de que maneira 
o mesmo serviu como fundamento ontológico de um processo de dominação 
política e econômica. 
 
 
Disponível em: <http://www.historiadigital.org/questoes/questao-jesuitas-e-catequizacao-
indigena/> Acesso em 21/07/2016. 
 
A filosofia chega ao Brasil pela mão da Companhia de Jesus em 1549. A 
mesma havia sido criada por Inácio de Loyola dentro do movimento de reação 
da Igreja Católica contra a Reforma Protestante. Tinha como principais objetivos: 
educar as novas gerações e, por meio da ação missionária, converter à fé 
católica os povos das regiões colonizadas. Assim, os jesuítas, quando 
desembarcaram no Brasil junto com o primeiro governador-geral, Tomé de 
Souza, ajudaram a realeza a conquistar o Novo Mundo. Enquanto a realeza 
facilitava o trabalho da Companhia, essa facilitava o trabalho daquela incutindo 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
4 
os valores europeus por meio da língua e da religião. E o que motivava os 
portugueses a virem para essas terras? Para compreendermos essa motivação, 
precisamos dar uma rápida olhada para o velho continente e destacar alguns de 
seus últimos acontecimentos. 
Durante a Baixa Idade Média (século XI ao XV), a Europa passava por um 
processo significativo de profundas transformações: renascimento comercial, 
urbano e cultural; desagregação do sistema feudal; reforma protestante e 
contrarreforma católica; grandes navegações; mercantilismo e nascimento da 
burguesia, dentre outros. No campo epistemológico, inicia-se a ruptura com a 
mentalidade medieval de predomínio da fé sobre a razão. O antropocentrismo, 
característico do renascimento cultural, recolocara o ser humano como um ser 
capaz de compreender racionalmente o mundo, desmistificando-o. Como 
consequência dessa nova mentalidade, surge um projeto ontológico de 
dominação de outras regiões e povos, num movimento de totalização do mundo 
a partir da totalidade europeia, por meio da imposição de seus padrões e valores 
culturais, tais como as religiões e as línguas. Como afirma Dussel, do ego cogito 
cartesiano deriva o ego conquiro, que se traduziu no fundamento ontológico do 
processo de dominação dos povos europeus sore os demais. 
É dentro e a partir desse contexto que a filosofia chega ao Brasil, por meio 
das mãos e das obras dos padres jesuítas, estruturada na proposta educacional 
da Ratio Studiorum. Os primeiros estudos de filosofia que aqui se fizeram foram 
de Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Isso pelo 
menos até 1759, quando o Marquês de Pombal expulsa os jesuítas de Portugal 
e de todos os seus domínios. A partir daí, praticamente, o ensino de filosofia fica 
restrito aos seminários, que tinham por objetivo formar sacerdotes, tendo se 
destacado o Seminário de Olinda que, segundo Piletti, “tornou-se centro de 
difusão das ideias liberais, dando especial ênfase ao estudo das Matemáticas e 
das Ciências Naturais”. Tendo, inclusive, alguns de seus alunos e padres 
participado da Revolução Pernambucana (1817) e da Confederação do Equador 
(1824). 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
5 
 
Disponível em: <http://libraries.slu.edu/digital/spiritual-journeys/ratio.html> Acesso em 
21/07/2016. 
 
Basicamente são três as teses que buscam explicar porque a filosofia não 
floresceu no Brasil como na Europa ou tenha sido uma mera repetição, sem 
muita originalidade, do que se pensara na metrópole. A primeira delas parte de 
nossa herança lusitana, segundo a qual também nossos colonizadores não eram 
afeitos às investigações filosóficas. Segundo Jorge Jaime, historiador da filosofia 
no Brasil, “Talvez se possa encontrar, assim, na herança portuguesa, a causa da 
ausência de um filósofo no Brasil”. Como decorrência dessa mentalidade, 
podemos concluir a segunda tese: a de que haveria um desinteresse do grande 
público pelas especulações filosóficas. Essa ideia encontra coro naqueles que 
consideravam o brasileiro como um povo malemolente, não afeito às atividades 
do espírito. Tobias Barreto, por exemplo, um de nossos pensadores chega a 
afirmar que “O Brasil não tem cabeça filosófica”. Segundo ele, “Não há domínio 
algum da atividade intelectual em que o espírito brasileiro se mostre tão 
acanhado, tão frívolo e infecundo como no domínio filosófico”. A terceira tese 
busca sua explicação no ensino de filosofia no Brasil. Segundo Leonel Franca, 
outro importante historiador da filosofia no Brasil, “O estudo e o ensino de 
filosofia têm sido, entre nós, descurados e tratados quase sempre com supremo 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
6 
descaso. (...) É falta de estudos metódicos e profundos, feitos sob a direção de 
mestres abalizados, queatribuímos principalmente à inferioridade da cultura 
filosófica, no Brasil”. Disso decorre, segundo ele, que “Refletimos, mais ou 
menos passivamente, ideias alheias; naveguemos lentamente e a reboque nas 
grandes esteiras abertas por outros navegantes; reproduzimos, na arena 
filosófica, lutas estranhas e nelas combatemos com armas emprestadas”. Cruz 
Costa, nessa mesma linha de raciocínio afirma mais categoricamente: “O 
brasileiro é um homem (...) que tem medo da originalidade e que prefere sempre 
um defeito que nos confunda com toda a gente a uma virtude que nos distinga 
do resto do mundo”. Contemporâneo de Cruz Costa, o dramaturgo Nelson 
Rodrigues cunhou o conceito complexo de vira-lata. Segundo ele, “Por 
‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, 
voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às 
avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos 
pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. 
 
 
Disponível em: <http://www.midiainteressante.com/2013/04/brasil-complexo-de-
inferioridade.html> Acesso em 21/07/2016. 
 
Pode ser que essas teses tenham algum fundamento e talvez precisemos 
complementá-las com algumas observações a mais. Somente no século XX é 
que tivemos nossas primeiras universidades. Durante o Período Colonial, do 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
7 
Império e das primeiras décadas da República, tivemos por aqui apenas 
faculdades, isto é, cursos isolados. Principalmente de Direito, Medicina, 
Engenharia, dentre outras. A primeira universidade brasileira é a UFPR 
(Universidade Federal do Paraná), criada em 1912. Posteriormente, tivemos a 
criação da USP (Universidade de São Paulo)1 em 1934 e a Universidade do Rio 
de Janeiro em 1935. Da mesma forma, o ensino de filosofia no nível secundário 
sempre foi uma inconstante. Outro fato curioso, talvez decorrente do não 
interesse e incentivo à criação de universidades por aqui, é o fato de que, dentre 
os principais nomes que se destacaram na filosofia brasileira, pelo menos até o 
século XIX, a maioria quase absoluta, à exceção de dois que tinham formação 
em filosofia, eram formados em medicina, direito ou eram sacerdotes. Ou seja, 
a filosofia não lhes era a atividade primária. Era quase que um hobby. O principal 
nome, aliás, Faria Brito, era formado em direito. Cruz Costa em sua obra A 
filosofia no Brasil afirma que, numa semana de debates ocorrida na Faculdade 
Federal do Rio de Janeiro, organizado pelo Departamento de Filosofia, diversos 
pensadores latino-americanos “Afirmaram que há, na América Latina, uma 
filosofia original, diferente da europeia, pois esta pensa o pensamento e aquela 
trata do homem oprimido, espoliado, injustiçado. Defenderam a tese – com 
tendências marxistas – de que toda filosofia deve ser a da libertação, ou não 
será filosofia”. 
 
Disponível em: <https://www.ufpr.br/portalufpr/historico-2/> Acesso em 21/07/2016. 
 
1 A USP foi criada pela elite paulistana inconformada com a derrota na Revolução Constitucionalista de 
1932 para o governo de federal de Getúlio Vargas. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
8 
Assim, com esses pensadores, afirmamos que, se por séculos a filosofia 
que se praticou por aqui foi inautêntica, no século XX começamos a deixar essa 
marca para trás. Já não nos limitamos a reproduzir o pensamento europeu e 
começamos a pensar filosoficamente nossa própria realidade. Talvez ainda seja 
uma filosofia tímida, mas, que já sabe o que quer pensar: o ser humano em sua 
condição de “oprimido, espoliado, injustiçado”. 
Saiba mais 
Para aprofundar seus conhecimentos, faça a leitura dos textos indicados 
a seguir: 
http://pontonulonotempo.blogspot.com.br/2010/03/filosofia-brasileira-no-
periodo.html 
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/DM
UEbAe2.doc 
 
Acesse o material on-line e assista ao vídeo que o professor Rui preparou 
para você! 
Pensamento filosófico e as lutas por independência 
Existe alguma relação entre o pensamento filosófico desenvolvido nas 
colônias portuguesas e espanholas e o processo de independência das antigas 
colônias? Teria sido um movimento criado no próprio continente latino-americano 
ou mais uma importação? Ou ainda: as independências ocorreram mais pelas 
condições materiais do que por influência das ideias? Nosso objetivo nessa 
unidade é refletir sobre o processo de independência das antigas colônias 
espanholas e portuguesas e verificar de que maneira as ideias filosóficas 
estiveram presentes como fator motivador das mesmas. Para tanto, faz-se 
necessário, antes, refletir sobre o modelo de colonização por aqui implantado, 
analisar as transformações políticas e econômicas que se processavam na 
Europa e na América do Norte, bem como resgatar o Iluminismo. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
9 
O modelo de colonização implantado pelas nações europeias nas 
Américas possui pontos em comum e algumas semelhanças. Em comum têm o 
fato de combater as populações originárias, seja matando-as pura e 
simplesmente, como foi o caso de algumas colônias espanholas no Caribe e 
América Central, seja como na América do Norte, por ingleses e franceses (onde 
hoje é o Canadá e os Estados Unidos), expulsando-as de suas terras e as 
confinando em reservas. Também os portugueses tiveram essa prática. Inclusive 
pelas doenças que passaram a transmitir à população ameríndia que não tinham 
resistência a um simples resfriado. Impressionantes são os relatos do frei 
Bartolomeu de Las Casas a respeito. Assim, ele relata o massacre espanhol: 
Podemos dar conta boa e certa que em quarenta anos, pela tirania e 
diabólicas ações dos espanhóis, morreram injustamente mais de 12 
milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças; e verdadeiramente 
eu creio, e penso não ser absolutamente exagerado, que morreram 
mais de 15 milhões... A causa pela qual os espanhóis destruíram tal 
infinidade de almas foi unicamente não terem outra finalidade última 
senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo; enfim, não foi senão 
pela avareza que causou a perda desses povos, que por serem tão 
dóceis e tão benignos foram tão fáceis de subjugar. 
Outro ponto em comum foi a escravização, num primeiro momento, das 
populações nativas. Posteriormente, passaram a utilizar a mão de obra escrava 
africana. Nas Treze Colônias ainda houve dois modelos de colonização bastante 
distintos. Nas colônias do Norte, predominava a pequena propriedade de 
subsistência, o pequeno comércio e o trabalho assalariado. Já nas colônias do 
Sul, predominava a grande propriedade monocultora, exportadora e 
escravagista. 
 
Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/02/hernan-cortes-historias-e-
memoria.html> Acesso em 21/07/2016. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
10 
No entanto, as diferenças de colonização foram marcantes, ainda que 
atendessem ao mesmo objetivo de enriquecer a metrópole. Enquanto na 
América do Norte o modelo de colonização ficou conhecido como “colônias de 
povoamento”, na América Central e do Sul foi implantado o modelo de “colônias 
de exploração”. No primeiro caso, os colonizadores quase sempre eram 
populações que fugiam dos conflitos político-religiosos do velho continente. 
Desta forma, ao chegarem à América do Norte, tinham por objetivo instalarem-
se e se desenvolverem. Assim, instalavam escolas, jornais e procuravam 
desenvolver uma economia que lhes permitisse autonomia em relação à 
metrópole. Os colonos se organizavam pelo princípiode “self-government” e os 
ingleses chamavam de Política de Negligência Salutar. Somente após a 
Guerra dos Sete Anos entre a Inglaterra e a França é que os ingleses vão 
abandonar essa política com vistas a equilibrar suas finanças abaladas pelos 
gastos militares durante aquele conflito. 
 
 
Disponível em: <http://www.coladaweb.com/historia/formas-de-colonizacao-povoamento-e-
exploracao> Acesso em 21/07/2016. 
 
Já nas colônias portuguesas e espanholas, o objetivo era encontrar 
riquezas que pudessem ser levadas para a metrópole. No caso português, por 
exemplo, os primeiros colonizadores eram aventureiros e degredados. Esses 
tinham como objetivo fazer fortuna e foi com essa promessa que vieram para cá, 
e voltaram para seus países de origem. Já aos degredados essa era a alternativa 
que tinham para não continuarem a vida inteira numa prisão. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
11 
Enquanto nas Treze Colônias havia uma certa autonomia administrativa, 
nas colônias portuguesas e espanholas a dependência era completa. Nas 
colônias portuguesas e espanholas, criaram-se classes distintas a partir das 
origens de seus integrantes. Os que administravam as colônias eram 
portugueses ou espanhóis, respectivamente. Já os seus descendentes eram 
considerados cidadãos de segunda categoria, não podendo assumir cargos 
importantes na administração da colônia. Quase sempre eram profissionais 
liberais e pequenos proprietários que não participavam da administração, mas 
pagavam os impostos que sustentavam essa máquina administrativa. Como as 
possibilidades de formação nas colônias eram precárias, aqueles que tinham 
proventos suficientes para tal, enviavam seus filhos para estudarem na Europa. 
É a partir destes que as ideias iluministas chegarão às colônias e contribuirão 
para alimentar ideologicamente os que irão lutar contra o antigo sistema colonial. 
Porém, antes, faz-se necessário analisarmos as transformações econômicas 
que agitam a Europa e verificar de que maneiras tais mudanças também 
contribuirão para o processo de independência das colônias. 
O Antigo Sistema Colonial, que estava baseado no sistema mercantilista, 
a partir da segunda metade do século XVIII começa a entrar em declínio. E o 
que era o sistema mercantilista? O mercantilismo se caracterizava por uma forte 
intervenção do Estado na economia, pelo pacto colonial (cada colônia só poderia 
comercializar com sua respectiva metrópole), protecionismo e balança comercial 
favorável. Com o surgimento e desenvolvimento da burguesia, esta irá 
questionar as políticas mercantilistas que em nada favoreciam o liberalismo, que 
era o pensamento que sustentava o capitalismo. A consolidação da Revolução 
Industrial na Inglaterra não combinava nem com o pacto colonial, nem com as 
medidas protecionistas, muito menos com o predomínio do trabalho escravo. Ao 
mesmo tempo, o desenvolvimento das colônias, tanto as inglesas quanto as 
espanholas e portuguesas, faz surgir uma elite colonial que começa a não mais 
ver o antigo pacto colonial como algo favorável. Por fim, as ideias iluministas 
trazidas pelos filhos dos colonos que haviam ido estudar na Europa, alimentam 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
12 
a efervescência política nas colônias. Vejamos as principais ideias iluministas 
que influenciarão os líderes dos movimentos de independência. 
 
Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=34558> 
Acesso em 21/07/2016. 
 
A ideia central do Iluminismo é a crença no poder da razão humana, bem 
como do progresso humano a partir do uso da razão. Dessa forma, tanto a fé 
quanto Deus começam a ser substituídos por outras ideias. O mundo passa a 
ser visto como algo que pode ser explicado racionalmente. É esse o sentimento 
expresso por David Hume na seguinte passagem: 
Lançai um olhar em redor do mundo; contemplai o todo e cada uma 
das suas partes; vereis que não é senão uma grande máquina, 
subdividida num infinito número de máquinas menores, que por sua 
vez admitem subdivisões num grau que vai para além do que os 
sentidos e as faculdades humanas podem captar e explicar. Todas 
essas máquinas e até as suas partes menores se ajustam entre si com 
uma precisão que arrebata a admiração de todos quantos as 
contemplarem. A singular adaptação dos meios aos fins na natureza 
inteira assemelha-se exatamente, ainda que em muito excede, aos 
produtos do engenho humano, aos desígnios do homem, de seus 
pensamentos, sua sabedoria e sua inteligência. 
O deísmo passa a ser a crença defendida por alguns iluministas, na busca 
por uma religião natural-racional, livre dos problemas das seitas, bem como de 
qualquer intermediário entre o ser humano e Deus. Segundo Voltaire, “O deísta 
é um homem firmemente persuadido da existência de um Ser supremo tão bom 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
13 
como poderoso, que formou todos os seres extensos, vegetantes, sensíveis e 
reflexivos”. De John Locke aprendem que todos nascem livres em “estado de 
natureza” e que, livres, têm o direito de exercer seus direitos naturais: a liberdade 
e o direito à propriedade. Para proteger esses direitos, os seres humanos se 
organizam em sociedade e delegam a um governante a obrigação de garantir o 
exercício desses direitos, por meio de um contrato social. Quando o mesmo não 
atende mais aos interesses dos cidadãos, esses têm o direito de substituí-lo. 
Afirma ele textualmente: “Para compreender corretamente o poder Político e 
depreendê-lo de sua origem, devemos considerar em que estado todos os 
homens se acham naturalmente, sendo este um estado de perfeita liberdade 
para ordenar-lhes as ações e regular-lhes as posses e as pessoas tal como 
acharem conveniente, nos limites da lei da natureza, sem pedir permissão ou 
depender da vontade de qualquer outro homem”. 
 
 
Disponível em: 
<http://blog.cpbweb.com.br/historiaprofsolange/index.php?op=post&inicio=1&mes=2&ano=2012
> Acesso em 21/07/2016. 
 
Rousseau se aproxima das ideias de John Locke a respeito da ideia de 
liberdade em estado de natureza. Porém, divergirá do mesmo quanto ao 
fundamento do contrato social. Segundo ele, por meio desse contrato, os seres 
humanos abrem mão de seus direitos e os transferem à sociedade, passando a 
se submeter a uma “vontade geral”. Afirma ele: 
Para efeito de discussão, suponho que, em certo momento, a 
humanidade tenha atingido um ponto em que as desvantagens de 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
14 
continuar num estado de natureza ultrapassaram as vantagens. Nestas 
condições, o estado original de natureza não poderia mais continuar. A 
espécie humana teria perecido, se não tivesse mudado suas soluções. 
 
 
Disponível em: <http://rousseau-contratosocial.blogspot.com.br/2012/05/estado-de-
natureza.html> Acesso em 21/07/2016. 
 
Tais ideias encontrarão um terreno fértil para se desenvolverem nas 
mentes de parte da elite colonial. Porém, as mesmas não seriam suficientes para 
levar a cabo todo o processo de independência das colônias espanholas e 
portuguesas. Além das condições objetivas materiais, políticas e econômicas, 
pelo menos dois outros acontecimentos contribuirão para que essas ideias 
passem do plano das ideias para o mundo real: a independência das Treze 
Colônias (1776) e a Revolução Francesa (1789). Assim, esses três fatores 
conjugados: a consolidação do capitalismo industrial, o Iluminismo e essas duas 
independências servirão de combustível para que outros povos iniciem seu 
processo de independência. Porém, vale lembrar que, ocorrendo a 
independência, isso não significaque a estrutura econômica, política e social 
tenha sido alterada. Pelo contrário, a mesma permanecerá, e as revoltas 
populares que intentaram tais mudanças foram duramente reprimidas e seus 
líderes presos, degredados ou mortos, por fuzilamento ou enforcamento. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
15 
Saiba mais 
Quer aprofundar mais seus conhecimentos? Então não deixe de assistir 
aos vídeos indicados a seguir. Você também pode complementar seus estudos 
com a leitura do texto que também está disponível logo abaixo. 
https://www.youtube.com/watch?v=vF-9ievViNE 
https://www.youtube.com/watch?v=_TeppwK0a7Q 
https://www.youtube.com/watch?v=TkvUTuglYAo 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69922011000200008 
 
O professor Rui traz mais explicações no vídeo que está disponível no 
material on-line. 
Marxismo na América Latina 
A história do marxismo no continente latino-americano não tem como ser 
pensada sem a sua vinculação com os acontecimentos políticos, econômicos e 
sociais do mesmo. Nosso objetivo nessa unidade de estudos é compreender um 
pouco desse desenrolar histórico e chamar a atenção para a presença do 
mesmo, seja nos acontecimentos políticos, seja no campo da pesquisa teórica, 
acadêmica ou não. Podemos dividir a presença do marxismo no continente 
latino-americano em cinco períodos distintos e complementares: chegada, 
fundação, consolidação, crise e reorganização. Vejamos algumas das principais 
características de cada período e seus principais nomes. 
Para compreender a presença do marxismo em nosso continente, há que 
se considerar suas distintas e diversas formações sociais, seu desenvolvimento 
desigual das forças produtivas, constituição e problemas étnicos, bem como 
suas distintas organizações políticas e inserções no contexto internacional. O 
pensamento marxista chega à América Latina no final do século XIX pelas mãos 
dos imigrantes italianos e espanhóis que, a essa época, eram os trabalhadores 
mais politizados do continente. Num primeiro momento, são influenciados 
fortemente pelas ideias anarquistas. Os primeiros partidos políticos socialistas 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
16 
fundados por aqui foram na Argentina (1896), Uruguai (1910) e Chile (1912). 
Alinhados à Segunda Internacional, a partir da década de 1920, de alguns deles 
ou não, surgirão os partidos comunistas. O fator que, talvez, mais fortemente 
marcará o surgimento dos partidos comunistas latino-americanos será a 
Revolução Soviética de 1917. Tanto a revolução quanto a Segunda Internacional 
marcarão a identidade desses partidos, inclusive quanto à sua orientação 
marxista-leninista e forte inspiração stalinista. 
 
Disponível em: <http://projetopipnuk.blogspot.com.br/2012/10/a-imigracao-italiana-e-o-
nucleo.html > Acesso em 21/07/2016. 
 
Ao longo do século XX, vários acontecimentos marcaram a história latino-
americana. Dentre eles, segundo o professor José Paulo Netto, cabe destacar: 
“Ao longo do século XX, a América Latina registrou experiências políticas muito 
peculiares, que a marcaram profunda e diversamente: grandes insurreições 
antioligárquicas, vitoriosas ou não (México, 1910; El Salvador, 1932; Bolívia, 
1952); intentos mais ou menos exitosos de modernização social sob regimes 
ditatoriais (no Brasil, Vargas, 1930/1945, e, na Argentina, Perón, 1946-1955); 
guerra civil (Costa Rica, 1948); processos revolucionários que se orientaram ao 
socialismo, vitoriosos ou não, contra a ordem ou no interior da ordem (Cuba, 
1959; Nicarágua, 1979; Chile, 1970-1973); lutas guerrilheiras (em praticamente 
todo o subcontinente, nos anos 1960) que até hoje persistem (Colômbia); breves 
episódios democratizantes envolvendo as Forças Armadas (Peru, 1968; Bolívia, 
1971); longas ditaduras extremamente corruptas (no Paraguai, 1954-1989, na 
Nicarágua dos Somoza, intermitentemente entre os anos 1930 e 1979, e no Haiti 
dos Duvalier, 1964-1986); e, enfim, as ditaduras do grande capital erguidas no 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
17 
Cone Sul sob a égide da ‘doutrina de segurança nacional’ (Brasil, Chile, Uruguai 
e Argentina) entre 1964 e 1976, cujas crises diferenciadas culminaram, nos anos 
1980, em movimentos de democratização muito particulares”. 
 
Disponível em: <http://www.colegioweb.com.br/historia/como-foi-revolucao-cubana.html> 
Acesso em 21/07/2016. 
 
Da mesma forma, para compreendermos o continente latino-americano, 
faz-se necessário pensá-lo dentro da lógica do sistema capitalista. Assim, 
enquanto continente, vivemos sob a influência, inicialmente, de nossos 
colonizadores (predominantemente Espanha e Portugal) e, posteriormente aos 
processos de independência, ao imperialismo primeiro britânico e, 
posteriormente, estadunidense. No entanto, isso somente não explica nossas 
desigualdades. Internamente, as elites dominantes mantêm tanto as populações 
nativas quanto os descendentes dos imigrantes que por aqui vieram em 
condições de submissão. Isso, porém, ainda não é suficiente para 
compreendermos todo o processo de submissão a que estão submetidas as 
populações latino-americanas. Ainda se faz necessário, como afirma Dussel, 
olharmos outras dominações: do Estado sobre seus cidadãos; do homem sobre 
a mulher; do adulto sobre os jovens e crianças; dos capitalistas sobre os 
operários; do mercado sobre o consumidor; do professor sobre os estudantes, 
dentre outros. 
O período fundacional vai da chegada das ideias de Marx e Engels até o 
fim da década de 1920. Além dos imigrantes italianos e espanhóis que trouxeram 
as ideias marxistas, é preciso destacar a tradução das primeiras obras de Marx 
e Engels em território latino-americano. Assim, por exemplo, é o caso do 
Manifesto do Partido Comunista, Miséria da Filosofia, do socialismo utópico ao 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
18 
socialismo científico, dentre outras. Circulam obras em espanhol e francês. Outro 
fato característico desse período é a influência stalinista nos partidos comunistas 
que implicou, inclusive, no afastamento de alguns de seus primeiros líderes. 
Nesse período, os marxistas dedicam-se a investigar a realidade latino-
americana. Talvez o nome mais importante desse período seja o de José Carlos 
Mariátegui e sua obra Siete ensayos de interpretación de la realidade 
peruana. Sua compreensão estava fundamentada na ideia de que a revolução 
peruana, e, podemos de certa forma, estender essa mesma concepção para 
outras realidades latino-americanas com as devidas adaptações, passaria por 
uma posição firme contra o imperialismo, o latifúndio e o capitalismo, numa união 
entre os trabalhadores urbanos e os camponeses. 
 
 
Disponível em: <http://akifrases.com/frase/121061> Acesso em 21/07/2016. 
 
A partir da década de 1930 até meados da de 1950, temos o período que 
podemos chamá-lo de consolidação. Nesse período o mundo assiste à ascensão 
dos regimes nazifascistas na Europa, a Guerra Civil Espanhola, a Segunda 
Grande Guerra, a Revolução Chinesa e o início das lutas pela descolonização 
da África e da Ásia. Aumenta o número de publicações marxistas no continente, 
bem como a influência tanto do stalinismo quanto da Terceira Internacional nos 
partidos comunistas, como também um controle sobre o que e como seria 
traduzido por aqui e publicado. A ideologia marxista-leninista torna-se a ideologia 
oficial não somente na antiga União Soviética, mas também nos demais partidos 
comunistas ao redor do mundo. Segundo o professor José Paulo Netto, o 
pensamento marxista ficou “reduzido a um economicismo baratoe/ou a um 
sociologismo mecanicista (...) uma codificação escolástica da teoria social dos 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
19 
clássicos”. Esse equívoco, aliás, será o responsável por alguns dos erros 
cometidos pelos comunistas por aqui, bem como pelo surgimento de algumas 
“vítimas/algozes dessa ideologia vulgar”, como diria o professor Paulo Netto, 
como é o caso dos 
argentinos Rodolfo (1897-1985) e Orestes Ghioldi (1901-1982), o 
brasileiro Luís Carlos Prestes (o ‘Cavaleiro da Esperança’, 1898-1990) 
e o peruano Jorge del Prado (1910-1999); e, entre intelectuais e 
ficcionistas, sobre o argentino Emilio Troise (1885-1976), o equatoriano 
Manuel Agustín Aguirre (1903-1992), o peruano Cesar G. Mayorga 
(1906-1983), o brasileiro Jorge Amado (1912-2001) e o costarriquense 
José Marín Canas (1904-1980). 
No entanto, nem todos capitulam diante da ideologia oficial. Alguns 
intelectuais, como o argentino Aníbal Ponce, por exemplo, conseguiram resistir 
à ditadura intelectual stalinista do marxismo-leninismo. Outra frente de 
resistência à ideologia oficial do marxismo-leninismo foi o trotskismo, que fez 
ferrenhas críticas à condução política dos partidos comunistas latino-
americanos. 
 
Disponível em: <http://stalinismo3a.blogspot.com.br/> Acesso em 21/07/2016. 
 
No final da década de 1950, o XX Congresso do Partido Comunista da 
União Soviética e a Revolução Cubana provocarão um terremoto político no 
marxismo global. As denúncias das violências e culto à personalidade praticada 
por Stalin provocarão uma onda de revisionismos e/ou reformismos tanto dos 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
20 
intelectuais quanto dos partidos políticos comunistas. Estes últimos, aliás, 
deixarão de ser os legítimos e únicos guardiões do pensamento marxista, 
abrindo espaço para a produção teórica de intelectuais da academia e 
autodidatas fora dos cânones ortodoxos marxistas. Segundo Paulo Netto, 
Em poucas palavras: os partidos comunistas deixaram efetivamente de 
ter uma espécie de monopólio do marxismo, seja na sua divulgação, 
seja na sua utilização. Outras agências (movimentos sociais, 
universidades, institutos de pesquisa etc.) passaram a intervir de modo 
novo na elaboração marxista. O resultado imediato desse processo foi 
uma notável renovação do marxismo no subcontinente. 
Da mesma forma, outros pensadores marxistas não ortodoxos chegarão 
por aqui, tais como Gramsci, Lefebvre, Erich Fromm, Roger Garaudy, Althusser, 
Bakhtin, Thompson, Hobsbawm, Korsch, Lukács, Marcuse, Horkheimer, Adorno, 
Benjamin, Bloch, Rosa Luxemburgo. No interior da crise do marxismo, surge sua 
reorganização com os pensadores que se propõem a pensar a América Latina a 
partir da teoria da dependência, a partir das teses da CEPAL (Comissão 
Econômica para a América Latina). Dentre esses teóricos, podemos destacar os 
brasileiros Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e 
Octavio Ianni. Na filosofia, destacam-se nomes como Leopoldo Zea, Enrique 
Dussel, Leandro Konder, Adolfo Sánchez Vázquez. 
Nesse período, foi também decisiva a mudança de rota de parte 
importante da Igreja Católica na América Latina. A partir do pontificado de João 
XXIII e do Concílio Vaticano II, bem como do Conselho Episcopal Latino-
Americano (CELAM), parte considerável da hierarquia episcopal rompe com a 
defesa do status quo e passa a assumir bandeiras e lutas tradicionalmente dos 
movimentos de esquerda. Teólogos como Comblin, Gutiérrez, Hugo Assmann, 
Leonardo e Clodovis Boff, Dussel, dentre outros, criam a Teologia da Libertação 
a partir dos cristãos que se engajam tanto nos partidos políticos, como nos 
movimentos sociais e sindicais de esquerda, tais como a JUC, a Ação Popular, 
a Frente Sandinista, as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), as Ligas de 
Camponeses, dentre outros. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
21 
 
Disponível em: <http://cleofas.com.br/bento-xvi-a-teologia-da-libertacao-foi-um-
milenarismo-que-nao-se-justifica-2/> Acesso em 21/07/2016. 
 
A década de 1970 é um momento de refluxo. A morte de Che Guevara, 
bem como a derrota de vários movimentos guerrilheiros de um lado e, de outro, 
a implantação de diversas ditaduras na América do Sul afeta duramente os 
intelectuais marxistas latino-americanos e, muitos serão obrigados a se exilarem 
para escaparem das prisões e, até mesmo, da morte. A partir da década de 1980 
e 1990, com o fim da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e da 
Guerra Fria, os partidos comunistas latino-americanos e de outros continentes, 
bem como seus dirigentes, vivem momentos de capitulações e apostasias, indo 
desde a simples mudança de nome, até mesmo de redirecionamento político-
ideológico. No entanto, até mesmo por ter como um de seus principais 
fundamentos a dialética, 
Em todos os quadrantes do subcontinente, pesquisadores mais jovens 
assumem o marxismo como referência central do seu trabalho. Trata-
se de um marxismo diferenciado ou, como o designamos, polifônico: 
sinfonia executada em tons diversos por músicos autônomos, mas tão 
criativa e promissora que merece uma audiência mundial (PAULO 
NETTO). 
Saiba mais 
Assista aos vídeos e faça a leitura indicados a seguir e fique ainda mais 
por dentro do assunto! 
http://www.fafich.ufmg.br/temporalidades/pdfs/07p89.pdf 
https://www.youtube.com/watch?v=5rX8NOXT17s 
https://www.youtube.com/watch?v=zdUZnBw-EM8 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
22 
No material on-line você encontra um vídeo com mais explicações do 
professor Rui. Não perca! 
Anarquismo na América Latina 
Nosso objetivo neste tema é compreender o que é o anarquismo e sua 
importância na história dos movimentos sociais na América Latina. 
No senso comum, anarquismo sempre foi entendido como bagunça, caos, 
desordem. No entanto, a palavra anarquia vem do grego, anarchos, que significa 
“não governo”, “não estrutura”. No entanto, é difícil falar de um conceito quando 
o mesmo foi destruído por décadas e décadas de propaganda mal-intencionada. 
 
Disponível em: <https://2bgalois.wordpress.com/anarquismo/> Acesso em 21/07/2016. 
 
Dois princípios estão na base do anarquismo: a liberdade do indivíduo e 
a justiça. Porém, não existe um anarquismo, mas anarquismos. Assim, o mais 
correto seria falar de um movimento anarquista. Basicamente, podemos falar de 
quatro correntes: o mutualismo, inspirado em Pierre-Joseph Proudhon; o 
coletivismo, de Michail Bakunin; o anarco-comunismo, de Kropotkin; o anarco-
sindicalismo e o individualismo anarquista. Percebe-se, então, que o 
anarquismo, enquanto filosofia e ideologia (em sentido gramsciano) surgiu na 
Europa no início do século XIX. Em sentido negativo, foi utilizado pela primeira 
vez durante a Revolução Francesa, quando os girondinos queriam injuriar os 
jacobinos; ou quando Brissot queria ofender os enragés. Da mesma forma, 
também Robespierre assim foi chamado. Quem recupera o sentido positivo é 
Proudhon, influenciado pelo britânico Godwin e pelo alemão Stirner. Até 1850, 
por influência de Proudhon, o anarquismo que reúne operários, artesãos e 
camponeses é do tipo mutualista. Já a partir de 1860, passa a receber a 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
23 
influência do coletivismo de Bakunin e se vincula à Primeira Internacional, uma 
organização que pretendia congregar todos os trabalhadores do mundo, bem 
como suas representações, independente da corrente ideológica. Por um bom 
tempo, aliás, chegam a se constituir como corrente majoritária na mesma. 
Defendiam um socialismo com afinidade com os princípiosdo anarquismo. 
O anarquismo chega à América Latina durante a década de 1860, 
juntamente com os imigrantes espanhóis e italianos na América do Sul e, nas 
Antilhas Francesas, organizam seções da Internacional. No México surgem as 
primeiras organizações operárias, camponesas e estudantis com influência das 
ideias de Proudhon e de Bakunin. Na década seguinte chega ao Uruguai e à 
Argentina. Nesses dois países, consegue adeptos nos sindicatos dos operários 
e nas sociedades de resistência. Desde então, o movimento anarquista tem 
participado ativamente da história política, sindical, pedagógica, teatral, 
cooperativista e artística da América Latina. Por vezes, a participação é pacífica; 
por vezes, é violenta. Às vezes é individual e às vezes é coletiva. No entanto, 
alguns historiadores têm negligenciado a história do anarquismo na América 
Latina, minimizando o mesmo por ignorância ou por má fé. Por vezes, o 
consideram como uma ideologia marginal, absolutamente minoritária e, portanto, 
desdenhável. 
Ainda que, assim como outras ideias, o anarquismo seja um produto 
importado da Europa, o mesmo, como um organismo vivo, adapta-se ao meio 
em que se insere e acaba mudando mais ou menos, conforme o contexto e a 
necessidade. Segundo Angel J. Cappelletti, “a doutrina anarquista do coletivismo 
autogestinário, aplicada à questão agrária, coincide de fato como antigo modo 
de organização e de vida dos indígenas do México e do Peru” (tradução livre). 
Antes mesmo da chegada dos espanhóis. Assim, quando os anarquistas 
começam a organizar os povos andinos da América Central, não tiveram que 
lhes incutir uma ideologia nova, mas, tão somente, resgatar-lhes seus princípios 
expressos no calpull – sistema de organização asteca em que as terras, por 
exemplo, eram de propriedade comunal, bem como costumavam lutar juntos em 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
24 
guerras e trabalhar coletivamente em obras públicas. Da mesma forma, o ayllu, 
forma de trabalho coletivo em que a propriedade também é comum. 
 
 
Disponível em: <http://blogs.ua.es/losaztecas/2011/12/20/el-calpulli-base-de-la-estructura-
social-azteca/> Acesso em 21/07/2016. 
 
Da mesma forma, também alguns dos criollos, colonos descendentes de 
espanhóis nascidos na América, tinham tanto uma tendência à liberdade como 
também eram contra algumas formas de estrutura estatais. Ainda segundo 
Cappelletti, o anarquismo havia sido adotado com muito mais força pelos 
operários do que o próprio marxismo. Porém, não foi uma adesão ao anarquismo 
na sua forma original, mas, que contribuiu, inclusive, para o movimento 
anarquista internacional. É o caso da FORA – Federação Operária Regional 
Argentina, que adotava uma forma de organização em que abria mão de toda e 
qualquer estrutura burocrática sindical. Da mesma forma, é o caso do Partido 
Liberal Mexicano, declaradamente anarquista. 
No entanto, onde o anarquismo mais esteve presente na América Latina 
foi no sindicalismo, por meio do anarco-sindicalismo, tanto na cidade quanto no 
campo. Defendiam um sindicalismo revolucionário e antipolítico, isto é, em 
oposição à atuação política partidária e não à atuação política como os 
apolíticos. 
Na América do Norte, o liberalismo de Jefferson foi entendido por alguns 
como um anarquismo autóctone. Porém, trata-se de um “libertarismo” que, se 
não é uma ideologia anti-operária, se desenvolve de maneira alheia às lutas 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
25 
operárias e está mais voltada à negação da burocracia e do Estado, ao 
militarismo e em defesa dos direitos humanos. 
Já no Brasil, por exemplo, o anarquismo sempre esteve à margem de toda 
e qualquer instância. No início do século XX, esteve ligado às organizações 
sindicais. Porém, sofreu a perseguição da república militar e oligárquica, com 
prisões, deportações e mortes. 
 
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/greves-operarias-na-
primeira-republica.htm> Acesso em 21/07/2016. 
 
A partir da década de 1920, muitos anarquistas, aderindo à Revolução 
Bolchevique, aderem a Lenin, apoiando incondicionalmente a revolução 
soviética. Porém, quando Stalin, após a morte de Lenin, centraliza o poder em 
suas mãos, muitos desses não mais se chamam de anarquistas, ou abandonam 
a adesão inicial. A partir de então, é possível observar a decadência do 
anarquismo latino-americano. E isso se deve a três fatores: golpes de Estado de 
caráter fascista que ocorrem na década de 1930; fundação de partidos 
comunistas nas décadas de 1920 e 1930; surgimento de correntes nacionalistas 
e populistas vinculadas às forças armadas e de caráter, por vezes, fascistas. Ao 
mesmo tempo, o discurso ideológico da burguesia nacional, juntamente com 
setores do exército e da Igreja Católica de que a causa da exploração que os 
trabalhadores, urbanos e rurais, sofrem é de origem imperialista e não do capital 
nacional e do próprio Estado. Também contribuíram para a decadência do 
anarquismo na América Latina. 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
26 
Saiba mais 
Veja o vídeo e leia os textos indicados a seguir para saber mais sobre o 
assunto desta aula. 
https://www.youtube.com/watch?v=-d0PeavJxqI e demais partes... 
https://anarquismorj.wordpress.com/category/anarquismo-na-america-latina/ 
http://www.diariodoscampos.com.br/cidades/2015/01/unica-experiencia-
anarquista-da-america-latina-ganha-memorial-em-santa-barbara/1266480/ 
 
Agora as explicações são por conta do professor Rui! Acesse o material 
on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! 
Filosofia da Libertação 
A filosofia que não pensa a própria realidade não passa de uma sofística 
ou de uma ideologia, em sentido marxista. Dussel chama aqueles que repetem 
os padrões e pensamentos filosóficos do centro como filósofos inautênticos. 
Esse é o principal fundamento da Filosofia da Libertação, assunto deste tema. 
Nosso objetivo é compreender seus pressupostos, bem como localizá-la dentro 
do movimento histórico da própria filosofia. 
 
 
Disponível em: <http://www.elciudadanoweb.com/latinoamerica-y-la-filosofia-situada/> Acesso 
em 21/07/2016. 
 
Historicamente, podemos localizar o nascimento da Filosofia da 
Libertação entre as décadas de 1960 e 1970. Em 1968, Augusto Salazar-Bondy 
publica uma obra intitulada Existe uma filosofia da nossa América. Em 1969, 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
27 
o mexicano Leopoldo Zea publica a seguinte obra: A filosofia americana como 
filosofia sem mais. 
Essas duas obras podem ser tomadas como um marco do nascimento da 
Filosofia da Libertação. Ambas se inserem num contexto em que os intelectuais 
latino-americanos começam a se questionar sobre a realidade de dependência 
da América Latina. Um pouco antes, dois acontecimentos históricos europeus 
terão influência marcante em nossa história, principalmente nos movimentos 
sociais, políticos e religiosos. O primeiro deles foi o XXº Congresso do Partido 
Comunista da União Soviética, quando o stalinismo é denunciado pelos seus 
atos de violência, bem como o culto à personalidade do próprio Stálin. Isso 
provocará na intelectualidade marxista de todos os continentes uma onda 
revisionista e até mesmo de rompimento com o pensamento marxista ortodoxo. 
Da mesma forma, a nomeação de João XXIII e o Concílio Vaticano II colocarão 
boa parte da Igreja Católica, principalmente a latino-americana, em contato com 
os problemas sociais, ao mesmo tempo em que vários de seus líderes 
eclesiásticos passarão a ter um engajamento político e social bastantedestacado, descolando-se do status quo em seus respectivos países. 
Essas, podemos dizer, são as causas imediatas do surgimento de uma 
filosofia na América Latina. Porém, no movimento da filosofia da História da 
Filosofia, as causas devemos buscá-las cinco séculos antes. 
 
 
Disponível em: <http://profellingtonalexandre.blogspot.com.br/2012/06/alimentacao-nas-
grandes-navegacoes.html> Acesso em 21/07/2016. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
28 
No final do século XV e início do século XVI, a Europa lança-se aos mares, 
por meio dos navegantes portugueses e espanhóis, em busca da conquista de 
novos territórios para satisfazer seu projeto burguês renascentista de conquista. 
A mentalidade europeia desse período que é o da modernidade, está 
fundamentada no ego cogito cartesiano que, dentro da lógica mercantilista que 
motiva as grandes navegações, se traduz no ego conquiro. Como afirma Dussel, 
“o ‘eu conquisto’ é o fundamento prático do ‘eu penso’”. É a partir desse 
fundamento, que o centro europeu se impõe às periféricas América, África e Ásia. 
Seja no período colonial mercantilista, seja na Primeira Revolução ou na 
Segunda Revolução Industrial, a lógica de dominação é a mesma: o ser europeu 
que impõe sua totalidade aos demais povos, tanto por meio da dominação 
política quanto cultural. Nesse contexto, também a Filosofia cumprirá papel 
decisivo. Como afirma Dussel, “A filosofia clássica de todos os tempos é o 
acabamento e a realização teórica da opressão prática das periferias”. É a 
justificação ontológica dos processos de dominação. O fundamento ontológico 
permenidiano do “o ser é, o não ser não é” é esse fundamento ontológico de 
dominação, na medida em que negará ao ser periférico, a dignidade do ser. O 
ser é o europeu, o não ser é o não europeu; não é o outro em sua outridade, 
mas o ser mutilado, incompleto, não civilizado, que será completo, na 
perspectiva do centro, a partir do momento em que se submeter ao ser europeu, 
à totalidade europeia, incorporando seus valores e suas crenças. 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
29 
A partir do momento em que Portugal e Espanha, por meio das grandes 
navegações, “desenclausuram” a Europa. Esta se torna o centro do mundo, 
política, econômica e militarmente, num primeiro momento liderada pelos povos 
ibéricos e também durante a Revolução Industrial pela Inglaterra. Mais tarde, os 
Estados Unidos assumem esse papel dominador: os xerifes do mundo. 
Outro elemento dessa lógica de dominação é encontrado no pensamento 
de Hobbes e sua expressão homo homini lupus. É a expressão real do ego cogito 
cartesiano. 
A dominação europeia, segundo os relatos do frei Bartolomeu de las 
Casas, foi feita de duas maneiras distintas: 
Uma das maneiras, por injustas, cruéis, sangrentas e tirânicas guerras. 
(...) A outra, depois que assassinaram todos os que podiam anelar a 
liberdade, que são os homens varões, porque comumente não deixam 
na guerra senão crianças e mulheres, estes são oprimidos com a mais 
dura, horrível e áspera servidão. 
Assim, a dominação se efetiva por meio da dominação político-militar 
(assassinato dos homens), da dominação erótica (violência sexual contra as 
mulheres) e da dominação pedagógica (educação das crianças na cultura 
europeia). Ainda que a coroa espanhola tenha criado cerca de 35 centros 
superiores que formavam licenciados em filosofia, em sua maioria para seguirem 
a carreira eclesiástica, a filosofia por aqui aprendida e praticada era a segunda 
escolástica hispânica. Já as metrópoles portuguesa e inglesa faziam a formação 
de suas elites em Coimbra ou em Londres. No entanto, tanto uns quanto outros 
apenas repetiam a filosofia metropolitana. Segundo Dussel, eram “Verdadeiros 
títeres, repetiam depois na periferia o que seus egrégios professores das 
grandes universidades metropolitanas lhes haviam ensinado”. 
Assim, a Filosofia da Libertação surge para combater tanto o colonialismo 
e o imperialismo político, econômico e militar, como também o cultural e 
filosófico. Assim como no passado, a filosofia surgiu na periferia, isto é, nas 
colônias gregas e depois chega ao centro, também aqui se advoga que a mesma 
surja na periferia e levante-se como “uma filosofia da libertação da periferia, dos 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
30 
oprimidos, a sombra que a luz do ser não pode iluminar”, conforme afirma 
Dussel. E reafirma: uma filosofia “Do não ser, do nada, do outro, da exterioridade, 
do mistério do sem sentido”, que terá na ontologia da alteridade seu fundamento 
e não da negação do outro. 
Saiba mais 
Leia os textos indicados a seguir e assista aos vídeos para aprofundar 
ainda mais seus estudos. 
http://filcarlos.com/dussel-e-o-problema-essencial-da-filosofia-da-libertacao/ 
https://www.youtube.com/watch?v=3QAQd11cJ5E 
https://www.youtube.com/watch?v=3894OQDMXww 
http://www.espacoacademico.com.br/061/61angeluci.htm 
 
Para finalizar os estudos deste tema, assista ao vídeo que está disponível 
no material on-line! 
Trocando ideias 
A conquista do poder pelos movimentos políticos e sociais de esquerda, 
na América Latina seguiram três rumos, com distintos resultados: 
1. Em Cuba, foi pela via da luta armada e, após um período de 
ameaças norte-americanas, a adesão ao Bloco Comunista, nessa 
época liderado pela URSS. Permanece até hoje, apesar de 
décadas de bloqueio econômico e boicotes. Implantaram o regime 
do partido único e todo o processo de participação política se dá a 
partir das instâncias partidárias; 
2. Na Nicarágua, após anos de luta armada, a Revolução Sandinista 
é vitoriosa. Após anos de governo sandinista, foram realizadas 
eleições gerais, permitindo o surgimento de partidos e candidatos 
de direita, os quais saíram vitoriosos no processo eleitoral de 1990. 
Em 2011, Ortega volta ao poder pela via eleitoral; 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
31 
3. No Chile, Salvador Allende chega ao poder em 1970 e, após 3 anos 
de governo, em meio a bloqueio e boicote econômico interno e 
externo, provocados por empresários chilenos e norte-americanos 
prejudicados pelas medidas estatizantes de Allende, é deposto do 
poder pelos militares que implantam uma das mais violentas 
ditaduras militares. Sua morte, até hoje, é cercada de mistérios, 
tendo versões que defendem que ele tenha se suicidado e outras 
que ele tenha sido morto pelos militares que invadiram o Palácio 
de La Moneda. 
Diante dessas três experiências uma questão se coloca: qual o caminho 
para que os movimentos sociais e partidos de esquerda cheguem ao poder, se 
mantenham nele e implantem seu projeto de governo, sem os riscos de um 
golpe, de um retrocesso ou mesmo de boicotes que inviabilizem tal projeto? 
Compartilhe sua opinião no fórum desta disciplina no Ambiente Virtual de 
Aprendizagem! 
Na prática 
Segundo o dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, o brasileiro sofre a 
“síndrome de vira-lata”. Semelhante a esse pensamento, os argentinos 
costumam se referir aos brasileiros como “los macaquitos”. Seriam essas 
proposições verdadeiras, no sentido de que encontra ressonância na realidade? 
Segundo Descartes, não deveríamos aceitar nada como verdadeiro que antes 
não verificássemos como tal. Assim, para verificarmos se essas proposições 
correspondem ou não à realidade, precisaríamos investigá-las. Para tanto, 
precisaríamos verificar na realidade, seja do senso comum ou mesmo das 
academias, até que ponto nós, negando aquilo que é nosso, incorporamos 
padrões, comportamentos, serviços, produtos estrangeiros e os consideramos 
melhores doque os nossos. 
Poderíamos começar a investigar, por exemplo, em que medida nas 
universidades não passamos de meros comentadores de intelectuais europeus, 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
32 
principalmente em detrimento de intelectuais brasileiros ou mesmo latino-
americanos. No senso comum, verificar em que medida a incorporação de 
estrangeirismos não confirme nossa síndrome ou nossa imitação. Outro espaço 
que poderíamos verificar é no campo musical: a música que toca nas estações 
ou que mais as pessoas ouvem são realmente brasileiras ou meramente 
reproduções e versões de músicas, principalmente norte-americana? 
Síntese 
Nessa rota de aprendizagem, nossa principal preocupação foi refletir um 
pouco sobre a América Latina. Começamos por refletir sobre o pensamento 
filosófico que justificou e legitimou o sistema colonial e colonizador implantado 
por portugueses e espanhóis no continente latino-americano. Vimos que o 
mesmo foi difundido principalmente pelos padres jesuítas que, mesmo após a 
expulsão por parte do Marques de Pombal, os mesmos mantiveram seus 
ensinamentos nos seminários que preparavam para a carreira eclesiástica. 
Num segundo momento, procuramos compreender as ideias que 
contribuíram para os processos de independência das antigas colônias 
portuguesas e espanholas. Procurando dar uma formação mais ilustrada para 
seus filhos, as elites econômicas e políticas, ao mandarem seus filhos estudarem 
na Europa acabaram por colocar os mesmos em contato com as ideias 
iluministas que os motivarão a lutar pela independência das colônias e 
assumirem o controle das mesmas. 
Porém, não foram somente as ideias iluministas que chegaram por aqui. 
Também os pensamentos marxista e anarquista serão trazidos para a América 
Latina pelas mãos dos imigrantes italianos e espanhóis e influenciarão 
profundamente os movimentos sociais, sindicais e políticos latino-americanos. 
Serão responsáveis, por exemplo, pela Revolução Cubana, pela Revolução 
Sandinista, pelos movimentos guerrilheiros em diversos países, bem como pelo 
surgimento de diversos partidos comunistas e de esquerda em toda a América 
Latina. 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
33 
Por fim, terminamos esta aula abordando um pouco sobre o que é a 
Filosofia da Libertação e seu nascimento dentro do contexto de questionamento 
da condição de dependência latino-americana. Falamos também sobre a 
influência do pensamento marxista e anarquista na formação da intelectualidade 
latino-americana, bem como dos reflexos do XX Congresso do Partido 
Comunista Soviético e a desconstrução do mito Stalin. Por fim, abordamos o 
Concílio Vaticano II e o posicionamento teológico e político da Conferência 
Episcopal Latino Americana. “A filosofia que não pensa a própria realidade não 
passa de uma sofística ou de uma ideologia, em sentido marxista”. 
 
Para as considerações finais do professor Rui, assista ao vídeo que está 
disponível no material on-line! 
Referências 
CRUZ COSTA, J. Contribuição à História das Ideias no Brasil. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 1956. 
DUSSEL, E. D. Método para uma Filosofia da Libertação. São Paulo: Edições 
Loyola, 1986. 
FRANCA, L. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 
1969. 
JAIME, J. História da Filosofia no Brasil. Vol. I. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 
PILETTI, C.; PILETTI, N. Filosofia e História da Educação. São Paulo: Ática, 
2000. 
RAMA, C. M.; CAPPELLETTI, A. J. El Anarquismo em America Latina. 
Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1990. 
SANTOS, T. M. Manual de Filosofia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 
1967.

Continue navegando