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Livro - Historia Contemporanea

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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Dennison de Oliveira
Lorena Zomer
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Este livro refere-se à História Contemporânea a partir das mudanças ocasiona-
das pela Revolução Francesa e abrange os séculos XIX, XX e XXI. Nele estão 
contidos os principais acontecimentos, tendências e instituições que mais influ-
ência exerceram sobre a conformação da sociedade na qual vivemos. Por se 
tratar de uma síntese, espera-se que ele sirva como material de introdução ao 
estudo da História Contemporânea e também como guia para aprofundamento 
dos assuntos aqui tratados.
O que se pretende com este livro é contribuir para que o leitor desenvolva uma 
forma de pensar historicamente o processo de constituição da sociedade na 
qual vive e, dessa forma, possa aperfeiçoar o entendimento dos fenômenos 
que lhe são contemporâneos.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6388-8
CAPA_História Contemporânea.indd 1 13/11/2017 14:29:02
Dennison de Oliveira
Lorena Zomer
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2017
Historia
Contemporânea
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
O46h Oliveira, Dennison de
História contemporânea / Dennison de Oliveira, Lorena Zomer. - 
1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017.
236 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6388-8
1. Brasil - Política cultural. 2. Política e cultura - Brasil. 3. Cultura. I. 
Zomer, Lorena. II. Título.
17-45431 CDD: 306.2
CDU: 316.74:32”
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2007-2012-2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qual-
quer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa BOYD Blessing/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao aluno | 5
1. Política e sociedade após a Revolução Francesa | 7
2. A cidade, a indústria e a classe trabalhadora | 29
3. O mundo ao alvorecer do século XX | 49
4. Primeira Guerra Mundial | 63
5. Revoluções socialistas e movimento operário | 77
6. Modelos econômicos: o desenvolvimento 
do capitalismo | 91
7. Modelos econômicos: o desenvolvimento 
do comunismo | 105
8. Segunda Guerra Mundial | 117
9. Guerra Fria e bipolarização | 135
10. Socialismo: seus limites e possibilidades | 149 
11. Capitalismo: suas crises e superações | 163
12. Neoliberalismo, globalização e mundialização 
do capital no final do século XX | 175
13. Terrorismo, guerras e conflitos | 187
14. Economia e sociedade no século XXI | 199 
Gabarito | 211
Referências | 229 
Carta ao aluno
Este livro abrange os séculos XIX, XX e XXI , a partir das 
mudanças ocasionadas pela Revolução Francesa. Nele são discuti-
dos os principais acontecimentos, tendências e instituições que mais 
influência exerceram sobre a conformação da sociedade na qual vive-
mos. Por se tratar de uma síntese, espera-se que ele sirva como mate-
rial de introdução ao estudo da História Contemporânea e também 
como guia para que o leitor identifique os temas mais importantes 
desse período e possa aprofundar os assuntos aqui tratados.
Pretende-se que o texto de cada capítulo seja inteligível em 
si mesmo. Contudo, é indispensável não perder de vista que tanto o 
viver social quanto o tempo histórico são um todo contínuo e indi-
visível e, se o dividimos formalmente, é apenas para fins de estudo. 
O leitor deve atentar para as diferentes durações dos fenômenos 
históricos e sociológicos aqui descritos, as quais recorrentemente 
transcendem o conteúdo abarcado em cada capítulo.
– 6 –
História Contemporânea
Além disso, é indispensável não perder de vista que a disciplina de 
História exige um constante exercício de erudição. É necessário, tanto quanto 
possível e, na medida dos interesses de cada um, ler as obras completas, con-
frontar os originais com as diferentes leituras que deles são feitas e tentar 
manter-se atualizado com os contínuos avanços da ciência da história. Como 
qualquer outro campo do conhecimento, a história está em constante trans-
formação no que se refere à elaboração de novas interpretações e à descoberta 
de novas fontes e registros.
Mais do que um conjunto de informações e conteúdos, a história é um 
método de entendimento das diferentes perspectivas que podemos ter da rea-
lidade. Não é nem pretende ser apenas e tão somente o estudo do que já se 
passou, ou o estudo do passado. O que se pretende com este livro é contribuir 
para que o leitor desenvolva uma forma de pensar historicamente o processo 
de constituição da sociedade na qual vive e, dessa forma, possa aperfeiçoar o 
entendimento dos fenômenos que lhe são contemporâneos.
Política e sociedade após 
a Revolução Francesa
Um inglês que não se sinta cheio de estima e admiração 
pela maneira sublime com que está agora se efetuando 
uma das mais IMPORTANTES REVOLUÇÕES que o 
mundo jamais viu deve estar morto para todos os sentidos 
da virtude e da liberdade; nenhum de meus patrícios que 
tenha tido a sorte de presenciar as ocorrências dos últimos 
três dias nesta grande cidade fará mais que testemunhar 
que minha linguagem não é hiperbólica. (The Morning 
Post, 21 de julho de 1789, sobre a queda da Bastilha, apud 
HOBSBAWM, 2009, p. 97, grifos do original)
Essa citação traz o entusiasmo de alguém empolgado com 
o que vivenciou nos dias da Revolução Francesa. Os franceses da
época talvez pensassem que a família real e a nobreza saberiam
o que é um dia de trabalho ou de pagamento de impostos e achas-
sem que todos poderiam ler, argumentar e ter ideias. Não sabemos
exatamente onde situar o entusiasta exposto na citação. Mas pode-
mos compreender que a Revolução Francesa inaugurou uma nova
política no mundo ocidental contemporâneo. Isso também ocorreu
1
Lorena Zomer
História Contemporânea
– 8 –
com o conceito de revolução, que até aquele período significava movimento 
giratório (relacionado ao movimento de um astro percorrendo a sua órbita), 
e, após esse momento, passou a ser compreendido como algo transformado e 
que não retornaria ao seu estado anterior. Como afirma o historiador Reinhart 
Koselleck, a experiência não caberia mais no horizonte de expectativa sentido 
nesse tempo (KOSELLECK, 2006, p. 65-69). Ao mesmo tempo, a burguesia 
– composta de representantes mais ou menos abastados e com pouca repre-
sentação política – e também os grupos mais populares que logo defenderam 
a Revolução Francesa poderiam ter focado em construir uma política que 
protegesse a liberdade, para que, desse modo, construíssem uma democracia 
mais igualitária na Nova República. Já os grupos menos abastados buscaram 
segurança nas novas propostas políticas, sem se preocupar ou refletir sobre os 
abusos possíveis em uma política não igualitária. Nesse caso, o Estado passou 
a representar mais a própria burguesia.
Este capítulo tem por objetivo apresentar ideias sobre o contexto polí-
tico, social, cultural e econômico da França com base em alguns aconteci-
mentos após a Revolução Francesa e os seus efeitos. Concentramos nossas 
atenções no período posterior à Revolução Francesa, retomando em alguns 
momentos acontecimentos do contexto revolucionário francês – e em parte 
na Inglaterra –, por entendermos que os rumos tomados na França influen-
ciaram, em diversos âmbitos, outros países europeus e também americanos 
(devido ao fim da escravidão de suas colônias e a conquista da república). 
Não obstante, as novas conquistas como ideais de república, de democra-
cia, de igualdadee até mesmo de constituições em alguns países fomenta-
ram movimentos sociais que buscavam direitos de representação, sociais e 
trabalhistas. Entre eles, estão o movimento operário, o Manifesto do Partido 
Comunista, a Primavera dos Povos e a formação nacionalista após 1830, 
temas que colaboraram em nosso entendimento sobre a construção do 
mundo contemporâneo capitalista, assim como a influência da Inglaterra no 
que diz respeito à indústria. Essas ideias têm por base uma perspectiva do 
historiador Eric Hobsbawm, que afirma: “Se a economia do mundo do século 
XIX foi formada principalmente sob a influência da Revolução Industrial 
britânica, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela 
Revolução Francesa.” (HOBSBAWM, 2009, p. 97). Ou seja, o historiador 
deixa evidente que os contextos de ambos os países não são contrários, mas 
– 9 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
complementares. Por isso, este capítulo contempla a reflexão sobre a Europa 
nova que estava em formação, muitas vezes visando acabar com os resquícios 
do Antigo Regime, assim como convocar as massas por meio de associações e 
propagandas. Diante disso, algumas décadas foram necessárias para que uma 
nova ordem se erguesse e, junto a ela, muitas ideias sociais e políticas.
1.1 A França de Bonaparte
O marco da Revolução Francesa é 1789, ano da tomada de Versailles, 
de Paris e dos principais centros e instituições representantes do Antigo 
Regime e da monarquia. Mas se a Revolução não começou em 1789 – visto 
que foram muitos os acontecimentos para que ela ocorresse –, também 
não finalizou nessa data. Foram necessários cerca de dez anos para que o 
período revolucionário alcançasse um novo patamar político, com o 18 de 
Brumário de Napoleão Bonaparte e sua tomada de poder, e a futura disputa 
dos Bourbons com a expulsão de Bonaparte. Nesse sentido, a ideia de revo-
lução de Hannah Arendt no livro Entre o passado e o futuro, de 1987, cola-
bora para entendermos que o contexto francês era de opressão e de muita 
pobreza para as massas. A filósofa ressalta que não houve anteriormente na 
história francesa qualquer levante como o Grande Medo ou a Tomada da 
Bastilha, acontecimentos nos quais o povo tomou diversas propriedades 
particulares e públicas, representando o desejo de mudança. Entretanto, 
para ela, a burguesia – que promoveu ideologicamente esses acontecimen-
tos e que se via como classe – logo tomou a direção e manipulou o sentido 
de liberdade e de igualdade com a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão. A filósofa faz a seguinte afirmação:
[...] aqueles que precisavam ser liberados de seus senhores, ou da 
necessidade [...] correram em auxílio àqueles que desejavam criar um 
espaço para a liberdade pública – com a consequência inevitável de 
que a prioridade teve de ser dada à liberação e de que os homens 
da revolução se desviaram cada vez mais daquilo que originalmente 
haviam considerado seu mais importante objetivo [...]. (ARENDT, 
1979, p. 185)
Entendemos nessa citação que o espaço criado pela burguesia e pela 
luta do povo logo após a Revolução Francesa foi utilizado tendo-se em 
vista um caráter prioritário de questões sociais, cujo objetivo não foi uma 
História Contemporânea
– 10 –
política que defendesse a liberdade, mas a segurança social, algo inexis-
tente no Antigo Regime (ARENDT, 1979, p. 106)1. Lynn Hunt, histo-
riadora cultural francesa2 e especialista em Revolução Francesa, por sua 
vez, explica:
A falta de definição social da nova classe política tornou a experiência 
da Revolução ainda mais incisiva em sua contestação do costume e da 
tradição. A busca de uma nova identidade nacional levou à rejeição 
de todos os modelos e padrões de autoridade anteriores [...] Recém-
chegados, jovens notáveis que haviam saído de sua terra para estudar, 
comerciantes que viajavam pelo interior, advogados com contatos na 
capital departamental ou em Paris [...] todos esses indivíduos tinham 
probabilidade de se tornar formadores de redes políticas. Suas profis-
sões e posições sociais eram em geral diferentes, porém, seus papéis 
como agentes de cultura e do poder eram fundamentalmente seme-
lhantes. (HUNT, 2007, p. 249-250)
O que Hunt sugere é a diversidade que compunha o início da revolução, 
com grupos desejosos de uma nova política social que não tinham outros 
pontos em comum e que precisavam ter um “acordo” para que pudessem 
implementar uma nova política. Grupos que poderiam formar redes políticas, 
dependendo de seus contatos e estratégias no mundo pós-revolução. Tanto 
Hannah Arendt quanto Lynn Hunt têm um ponto em comum: a Revolução 
Francesa, devido ao período conturbado após 1789 e pela pluralidade de 
questões sociais, acabou por não dar um sentido político ao conceito de liber-
dade, o qual daria segurança às questões sociais.
A historiadora Lynn Hunt aponta logo no prefácio de sua obra que 
a Revolução Francesa nos grandes centros foi liderada pelos burgueses 
comerciantes e manufatores marxistas, mas que a crítica era de que advo-
gados e altos funcionários públicos seriam os líderes (HUNT, 2007, p. 9). 
Hunt aponta que encontrou, em sua pesquisa, os líderes burgueses, mas de 
1 A filósofa Hannah Arendt tem larga produção sobre processos totalitários e ideia de liber-
dade, os quais dialogam com diversos conceitos do mundo contemporâneo. Outra produção 
relacionada ao capítulo é ARENDT, Hannah. Sobre a revolução. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2011.
2 O livro Política, cultura e classe na Revolução Francesa foi lançado em 1987. Porém, em uma 
reedição de aniversário, em 2007, Hunt faz novas considerações no prefácio, cujas perspectivas 
foram utilizadas neste texto. HUNT, Lynn. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2007.
– 11 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
modo esparso e não homogêneo, ou seja, em alguns lugares eles tiveram 
destaque; em outros, não tiveram ou perderam. A fim de responder a tal 
questão, a historiadora afirma: “a política de esquerda seduziu mais consis-
tentemente em lugares distantes, relativamente atrasados e desprovidos de 
manufatura em grande escala” (HUNT, 2007, p. 10). Contraditoriamente, 
os Estados mais revolucionários foram os que menos se industrializaram. 
Nesse caso, apenas se considerados os aspectos culturais, como a existên-
cia de lojas maçônicas, dos laços de casamentos, dos indivíduos do Antigo 
Regime e dos influenciadores regionais (professores, viajantes), podemos 
compreender que a Revolução Francesa, a fim de forjar novas identidades 
políticas durante a década de 1790, teve em sua gênese “componentes cul-
turais importantes” (HUNT, 2007, p. 10), para além de uma perspectiva 
econômica ou social.
Hobsbawm, por sua vez, também lembra a presença maçônica – uma 
das poucas experiências democráticas conhecidas até 1789, visto que poucas 
instituições ou associações “aceitavam” o parecer ou a opinião de todos os 
participantes igualmente. Segundo o autor:
A ideologia de 1789 era a maçônica, expressa com tão sublime ino-
cência na Flauta Mágica de Mozart (1791) uma das primeiras gran-
des obras de arte propagandistas de uma época em que as mais altas 
realizações artísticas pertenceram tantas vezes à propaganda. Mais 
especificamente, as exigências do burguês foram delineadas na famosa 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Este 
documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilé-
gios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade demo-
crática e igualitária: “os homens nascem e vivem iguais perante as leis” 
[...] mas ela [a Constituição] também prevê a existência de distinções 
sociais [...] (HOBSBAWM, 2009, p. 106, grifos do original)
Desse modo, compreendemos que a bandeira da Revolução Francesa 
levantada sob a égide Liberdade, Igualdade, Fraternidade tinha uma ideia 
diferente do que boa parte da massa revolucionária acreditava. Para Klaus 
Eggennsperger (2010), a ópera de Mozart traza ideia de luz e de livros, ligan-
do-se aos princípios iluministas, em um universo masculino, cujo trajeto é 
da escuridão à luz. França, Alemanha, Áustria e Inglaterra debatiam-se dire-
tamente contra o Antigo Regime. Tanto nessa ópera quanto na Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, Hobsbawm observa elementos 
História Contemporânea
– 12 –
que permitem pensar as diferenças sociais, tanto políticas quanto de classe. 
O que podemos compreender nesse início é que a república almejada – que 
seria construída no decorrer do século XIX – já encontrava em seu projeto 
entraves e dificuldades.
Lynn Hunt faz uma análise de associações e atas dos conselhos munici-
pais na França pré e pós-revolução, chegando à conclusão de que
A classe política revolucionária pode ser considerada “burguesa” 
tanto da perspectiva da posição social como da consciência de classe. 
As autoridades revolucionárias eram os proprietários dos meios de 
produção; eram comerciantes com capital, profissionais liberais quali-
ficados, artesãos com oficinas próprias ou, mais raramente, campone-
ses com terras. Não foram encontrados homens sem qualificação ocu-
pacional, trabalhadores diaristas e camponeses sem terra em posições 
de liderança e nem sequer sua representatividade foi expressiva entre 
as bases militantes. (HUNT, 2007, p. 207)
Com essa análise de Hunt, na qual a historiadora traz a ideia de que 
apenas uma “burguesia” pode ser vista como classe no período, e também 
considerando os grupos culturais diferentes que existiam na França naquele 
momento, é possível dizer que o pós-1789 não tinha um sentido ou uma tra-
jetória definidos. Camponeses – sem terras – estavam espalhados pela França, 
muitos sem participar das organizações políticas, mas que colaboraram com 
o Grande Medo e a Tomada da Bastilha. Frisamos: Hunt (2007), ao sustentar 
que a classe revolucionária era a burguesa, não diminui a participação do 
povo, que, aliás, foi grande e deu outro caráter à revolução.
Hobsbawm caracteriza o caráter revolucionário e a importância do povo 
como muito maior que o próprio projeto liberal burguês em 1789, ainda 
antes da revolução. Entretanto, esse caráter teve mais voz nas assembleias 
daquele ano, em especial, nas eleições dos estados gerais – visto que muitos 
camponeses e trabalhadores pobres não eram alfabetizados –, com participa-
ções políticas mais simples e imaturas no Terceiro Estado (HOBSBAWM, 
2009, p. 107).
Por sua vez, a burguesia constitucionalista eleita trazia, em maioria, ideias 
de defesa da propriedade privada e estava desejosa de que o voto fosse individual 
e não por Estado (HOBSBAWM, 2009, p. 108). Logo em seguida, os burgueses 
– 13 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
obtiveram vitória no que diz respeito a uma assembleia nacional que faria a 
Constituição francesa, pouco antes do Grande Medo e da Tomada da Bastilha.
Uma monarquia constitucional foi promulgada em 1791, período no 
qual a primeira Constituição foi publicada e cujos artigos foram determi-
nados por uma prática política censitária. Apenas a burguesia referente ao 
Terceiro Estado teve voto, almejando um programa liberal não aceito pelas 
alas mais radicais e de esquerda.
A Convenção Nacional, fase do governo organizada após a morte de Luís 
XVI, rei deposto após a Revolução Francesa, acabou liderada pelos jacobinos3 
(pequena burguesia4 e sans-culottes5) (HOBSBAWM, 2009, p. 109-113). Estes 
– de uma esquerda mais radical – criaram novos impostos sobre os ricos entre 
1793 e 1794, fizeram “caças” a todo tipo de corrupção, construíram escolas, 
regulamentaram salários e preços sobre produtos, além de ter o apoio das mas-
sas. Contudo, os jacobinos tiveram o governo desgastado e sofreram com cisões 
dentro do próprio partido, em consequência do caráter agressivo e ditatorial 
em relação à rainha e a qualquer oponente do Antigo Regime, quando foram 
mortas cerca de 35 mil pessoas. Foi também no período jacobino que houve a 
propagação de ideais franceses, isto é, por meio de associações, clubes, leituras, 
panfletos, proclamava-se quais deveriam ser as inspirações sociais e culturais 
para que a França se tornasse uma república como exemplo para todas as outras 
(HOBSBAWM, 2009, p. 121-125). 
Essas situações causaram o enfraquecimento dos jacobinos e sua subs-
tituição pelos girondinos (alta burguesia), grupo mais conservador, que 
3 O grupo mais radical reunia-se no mosteiro de São Tiago, em latim Jacobus, por isso o nome. 
Sentavam-se mais à esquerda e por isso há uma relação de esquerda e política mais radical. 
HOBSBAWM, E. J. A Revolução Francesa. In: _____. A era das revoluções: 1789-1848. São 
Paulo: Paz e Terra, 2009.
4 Sobre esse movimento, ver: POGREBINSCHI, T. Emancipação política, direito de resistên-
cia e direitos humanos em Robespierre e Marx. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 1. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582003000100004>. 
Acesso em: 24 out. 2017.
5 Grupo de pequenos artesãos, comerciantes, entre outros de origem simples, que apoiaram 
os jacobinos mais radicais. Não conquistaram grande liderança, nem ao menos participaram 
ativamente do poder. Mas, junto a esse grupo, os jacobinos ganharam apoio da massa, em 
especial, no primeiro ano de poder. HOBSBWAM, E. A era das revoluções: 1789-1848. São 
Paulo: Paz e Terra, 2009, p.125-127.
História Contemporânea
– 14 –
revogou diversas medidas tomadas anteriormente, visto que desejavam o 
programa econômico mais liberal de 1789-1791, mas que não fosse nem 
um governo radical, nem a possibilidade de um retorno do Antigo Regime. 
Ainda em 1796, o jornalista Graco Babeuf, um sobrevivente desse período, 
começou a propagar suas ideias, defendendo a igualdade entre todos6 ao tra-
zer consigo alguns seguidores. Ele promoveu a Conjuração dos Iguais, uma 
insurreição para tomar o poder e para que jocobinos e socialistas vivessem 
em comunidades de iguais, mas acabou executado pelo Diretório, o regime 
político adotado pelos girondinos.
Justamente isso fez com que os girondinos precisassem do exército 
(criado no período jacobino), a fim de conter as revoltas causadas pelas novas 
medidas, por cerca de cinco anos. O exército, por sua vez, fortaleceu-se cada 
vez mais, em especial um nome: Napoleão Bonaparte. Segundo Hobsbawm, 
isso se deu da seguinte forma:
De um levée en masse de cidadãos revolucionários, ele logo se trans-
formou em uma força de combatentes profissionais, pois não houve 
recrutamento entre 1793 e 1798, e os que não tinham gosto ou 
talento para o militarismo desertaram em massa. Portanto, ele reteve 
as características da Revolução e adquiriu as características do inte-
resse estabelecido, a típica mistura bonapartista. (HOBSBAWM, 
2009, p. 127, grifos do original)
A alta burguesia, cansada da instabilidade francesa após a revolução, deu 
apoio ao general Napoleão Bonaparte para que ele tomasse o poder junto a 
um exército treinado e que acreditava estar resolvendo os impasses franceses. 
O exército instituiu o Consulado, prática política dividida entre três cônsules, 
embora Bonaparte fosse o mais atuante. Ele logo criou o Banco da França, 
buscando reconciliar os interesses da burguesia – e de investimentos – com 
os das massas, beneficiados pelo Código Civil Napoleônico, cuja premissa era 
igualdade entre todos os cidadãos, embora preservasse a propriedade privada 
(acabando com qualquer resquício feudal), rebaixasse as mulheres a uma 
segunda categoria e permitisse novamente a escravidão nas colônias. Não 
obstante, assinou em 1801 uma concordata com a Igreja católica, em que ela 
6 Grupo de pequenos artesãos, comerciantes, entre outros de origem simples, que apoiaram 
os jacobinos mais radicais. Não conquistaram grande liderança, nem ao menos participaram 
ativamente do poder. Mas, junto a eles, os jacobinos ganharam apoio da massa, em especial no 
primeiro ano de poder (HOBSBWAM, 2009, p. 125-127).
– 15 –
Política e sociedade após a Revolução Francesapoderia novamente ter poder dentro da França, prática questionada desde a 
Revolução Francesa.
Portanto, é nesse período que o projeto liberal burguês ganhou espaço 
mais significativo até então. Sobre o liberalismo, embora seja um conceito 
complexo7, podemos entender que
[...] surgiu no século XVIII a partir do Iluminismo, teve seu auge 
no século XIX e pode ser dividido em liberalismo econômico e libe-
ralismo político. Vigorou principalmente na Europa ocidental e na 
América Latina até o período do entre guerras, quando sofreu severa 
crise com os regimes fascistas, ressurgindo no último quartel do século 
XX, revitalizado na teoria político-econômica do neoliberalismo. A 
base social do pensamento liberal era a burguesia, que, ascendendo 
economicamente durante a Idade Moderna, almejava tomar o poder 
político. Economicamente, o liberalismo é uma teoria capitalista, que 
defende a livre-iniciativa e a ausência de interferências do Estado no 
mercado. O liberalismo político, por sua vez, emergiu como uma 
nova forma de organizar o poder, contrária ao Absolutismo (SILVA; 
SILVA, 2009, p. 258)
Nessas condições, a burguesia passou a influenciar a organização políti-
co-econômica depois da Revolução Francesa, que, após o fim da monarquia 
constitucionalista (em 1848), ocasionou ao país o fortalecimento do Estado 
em um caráter mais liberal. Além disso, criou a Associação das Indústrias 
Nacionais, que tinha por objetivo a união entre cientistas, intelectuais, 
industriais e indivíduos que defendiam uma postura econômica moderna 
(HOBSBAWM, 2009, p. 145-148). Em 1804, quando Bonaparte foi eleito 
imperador em um plebiscito, com 60% dos votos, ele já assumiu dispondo 
de um exército maior cujas pilhagens trouxeram riquezas à França e tam-
bém alteraram o mapa geográfico-político. Bonaparte comandou invasões ao 
antigo Império Germânico, à Holanda, a Portugal, à Espanha, à Bélgica e 
a diversos países do Leste. É interessante observarmos que essa prática de 
ganho de território formando uma nação (no sentido apenas territorial) é algo 
que impulsionou diversas potências ao longo do século XIX e influenciou 
ideias e perspectivas mais nacionalistas e imperialistas (HOBSBAWM, 2009, 
p.145-148).
7 Para mais detalhes e perspectivas historiográficas do conceito, ver: SILVA, K. V.; SILVA, M. 
H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009, p. 258-262.
História Contemporânea
– 16 –
Napoleão Bonaparte acabou perdendo duas batalhas importantes entre 
1812 e 1813. Isso o fez abdicar do trono, mas, mesmo exilado, retornou e 
permaneceu no governo por mais 100 dias. Ele centralizou os interesses fran-
ceses, fez com que o país se industrializasse, mas também teve atitudes auto-
ritárias, visto que proibiu sindicatos e organizações trabalhistas e, segundo 
Hunt (2007, p. 261), “Bonaparte substituiu eleições por plebiscitos, proi-
biu os clubes e expandiu o serviço militar. Manteve o princípio da soberania 
popular, mas fez de si mesmo o único agente político real, removendo assim a 
perigosa imprevisibilidade da mobilização popular organizada”.
Ao seu modo, ele dirigiu uma economia liberal burguesa, agradando 
àqueles que eram mais poderosos, mas retirando do povo os direitos que esta-
vam nascendo. Após a segunda expulsão de Bonaparte, Luís XVIII assumiu 
o poder, marcando o retorno dos Bourbons como monarquia constitucional, 
o que será questionado nas décadas seguintes até o fim desse regime polí-
tico, em 1848. Entre 1814 e 1815, o Congresso de Viena fez uma revisão 
nas alterações geográficas causadas por Bonaparte. Entretanto, se os dez anos 
de Revolução Francesa e mais o período de Bonaparte não promoveram a 
liberdade e a igualdade para todos, também não apagou essas experiências 
políticas. Para Lynn Hunt
Democracia, terror, socialismo e autoritarismo foram, todos, possibi-
litados pela expansão do espaço político e da participação organizada 
das classes populares. O terror era impensável sem a experiência pré-
via da democracia; foi o lado disciplinador da comunidade democrá-
tica, invocado embora de emergência e justificado pelas necessidades 
de virtude e defesa da nação. O governo usou o Terror para obter o 
controle do movimento popular, mas sem o movimento popular não 
teria havido demanda pelo terror. (HUNT, 2007, p. 260)
A historiadora está se referindo à postura marxista sobre os resultados da 
Revolução; tal postura entendia que era necessário o terror (sinônimo de erra-
dicação de processos ou de grupos que se colocavam contra) para se chegar à 
democracia ou ao socialismo. Para Hunt (2007), pensar a Revolução Francesa 
até Bonaparte é entender que novas práticas sociais e políticas estavam objeti-
vando construir a ideia de democracia, um termo ainda “jovem” no período. 
Se não conseguiram, apenas uma análise minuciosa do cotidiano da época 
poderia explicar. Portanto, a Revolução Francesa trouxe para o mundo uma 
– 17 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
nova cultura política e incentivou muitos países a buscarem as próprias revo-
luções políticas e sociais.
1.2 Nação e nacionalismos
Entre os séculos XIX e XX, os conceitos de nação e de nacionalismo 
sofreram inovações e transformações. Tanto a Revolução Francesa quanto a 
independência dos Estados Unidos alteraram diversas concepções políticas. 
As primeiras ideias nacionalistas vieram de grupos pequenos, porém organi-
zados e influenciados pelos ideais de Giuzeppe Mazzini, depois de 1830. Para 
Eric Hobsbawm, esse é “o marco da desintegração do movimento revolucioná-
rio europeu em segmentos nacionais” (HOBSBAWM, 2009, p. 151). O his-
toriador inglês ressalta que pequenos proprietários foram apoiadores em toda 
a Europa desse movimento, visto que seus interesses não eram corroborados 
pela alta burguesia, que era liberal.
As revoluções de 1848 (tema da próxima seção) impulsionaram ainda 
mais a busca pela definição de nação, como também lançaram uma reflexão 
sobre o cotidiano dos habitantes. Se propagandas em massa, literatura e a cul-
tura em geral foram utilizadas para disseminar ideias, de alguma forma tam-
bém chegavam às massas, as quais começariam a questionar alguns princípios 
vinculados. Para Benedict Anderson (2008), o nacionalismo surge na medida 
em que se imagina a nação, além das três expectativas existentes anteriormente 
nesses contextos, quais sejam:
A primeira delas é a ideia de que uma determinada língua escrita 
oferecia um acesso privilegiado à verdade ontológica, justamente por 
ser uma parte indissociável dessa verdade. Foi essa ideia que gerou 
as grandes irmandades transcontinentais da cristandade, do Ummah 
islâmico e de outros. A segunda é a crença de que a sociedade se orga-
nizava naturalmente em torno e abaixo de centros elevados – monar-
cas à parte dos outros seres humanos, que governavam por uma espé-
cie de graça cosmológica (divina). [...] A terceira é uma concepção 
da temporalidade em que a cosmologia e a história se confundem, 
e as origens do mundo e do homem são essencialmente as mesmas. 
Juntas, essas ideias enraizavam profundamente a vida humana na pró-
pria natureza das coisas, conferindo um certo sentido às fatalidades 
diárias da existência e oferecendo a redenção de maneiras variadas. 
(ANDERSON, 2008, p. 69)
História Contemporânea
– 18 –
Observamos que, em especial, as duas últimas estão relacionadas a um 
tipo de fé, perspectiva que se modificou já no período Moderno na Europa 
e mais ainda no Contemporâneo, ou seja, nem tudo é natural ou de acordo 
com a vontade de Deus ou dos deuses. O sociólogo Anderson (2008) rei-
tera: tais crenças são lugares demarcados no imaginário, respeitados como 
senso comum. 
As transformações ocorridas a partir da Revolução Francesa não per-
mitiriam que outros países ou impérios permanecessem como estavam. Se 
nação, no sentido mais básico, significava até então unidade política, segundo 
Hobsbawm passa a ser vista como um princípio de nacionalidade, que se tor-
nou um dos principais objetos de disputadentro da nova cultura política do 
século XIX (HOBSBAWM,1991, p. 126).
Na próxima seção, trazemos outra revolução importante: a dos trabalha-
dores. Não em relação a seus termos de trabalho ou de modos de produção, 
mas analisando as consequências de suas lutas no século XIX e buscando 
compreender como esses movimentos colaboraram com outros maiores que 
se seguiram.
1.3 Operariado e a primavera dos povos
Para governar é preciso ter
Mantos ou condecorações em brasões
Nós tecemos para vós, grandes da terra,
E nós, pobres operários, sem lençol onde nos enterrar
Somos nós os operários
Nós estamos todos nus
Mas nosso reino irá chegar
Quando o vosso reino terminar
Então, nós teceremos a mortalha do velho mundo
Porque já se percebe a revolta que troa
Somos nós os operários
Não estaremos nus
– 19 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
A canção exposta anteriormente e ressaltada por Hobsbawm em sua 
obra (2009, p. 319) mostra o desejo dos tecelões de Lyon de se organizar ou 
resistir de alguma forma nas décadas de 1830 e 1840. O paradoxo está entre 
as condecorações recebidas por aqueles que representavam o Estado, ao tempo 
em que outros (aqueles que produziam para que os primeiros vivessem com 
conforto) não tinham como dar um enterro digno aos seus entes. Além disso, 
no trecho “quando o vosso reino terminar” fica evidente a intenção que havia 
de mudar esse contexto. Nesse cenário, Karl Marx lançou suas ideias junto a 
Friedrich Engels, no livro Manifesto Comunista, em 1848.
Figura 1 – Karl Marx (1818-1883).
Fonte: John Jabez Edwin Mayall/Wikimidia Commons.
Desde a pré-revolução industrial na Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, 
o mundo ocidental já sentia as primeiras mudanças em relação aos novos 
princípios capitalistas, os quais se tornariam a perspectiva econômica mais 
comum. O trabalho árduo das fábricas, o relógio que controlava e determi-
nava o valor de seu trabalho, as tradições esquecidas e abandonadas pela perda 
de propriedades ou pelo êxodo rural também são sintomas desse período. 
Nesse sentido, o modo de produção capitalista industrial trouxe inúmeras 
História Contemporânea
– 20 –
desvantagens ao operariado, desde problemas de saúde decorrentes das con-
dições insalubres das indústrias e das casas, que mais pareciam cortiços pelo 
excesso de pessoas e pela falta de qualquer conforto. Sobre esse período ainda, 
o historiador Edgar Salvadori de Decca faz a seguinte afirmação:
[...] a reunião dos trabalhadores na fábrica não se deveu a nenhum 
avanço das técnicas de produção. Pelo contrário, o que estava em jogo 
era justamente um alargamento do controle e do poder por parte do 
capitalista sobre o conjunto de trabalhadores que ainda detinham os 
conhecimentos técnicos e impunham a dinâmica do processo produ-
tivo. Na fábrica, a hierarquia, a disciplina, a vigilância e outras formas 
de controle tornaram-se tangíveis a tal ponto que os trabalhadores 
acabaram por se submeter a um regime de trabalho ditado pelas 
normas dos mestres e contramestres, o que representou, em última 
instância, o domínio do capitalista sobre o processo de trabalho. 
(DECCA, 1996, p. 22-24)
Percebemos que, além de conviver com toda exploração e falta de con-
dições salubres, operários foram transformados em marionetes, perdendo sua 
autonomia. Uma prática que tornou o trabalho de muitos desses homens 
e mulheres automático, sem vida, apenas uma obrigação. Hannah Arendt 
sugere que isso é proposital e faz parte do último estágio de uma classe de 
operários, em que estes apenas se “deixavam levar” e “é perfeitamente con-
cebível que a era moderna [...] venha a terminar na passividade mais mortal 
e estéril que a história jamais conheceu” (ARENDT, 1983, p. 336), o que 
entendemos como uma alienação almejada.
Entretanto, salientamos algumas perspectivas sobre a ideia de classe, de 
acordo com o historiador Edward Palmer Thompson:
Por classe, entendo um fenômeno histórico, que unifica uma série 
de acontecimentos díspares e aparentemente desconectados, tanto da 
matéria-prima da experiência como na consciência. Ressalto que é um 
fenômeno histórico [...] a noção de classe traz consigo a noção de rela-
ção histórica. Como qualquer outra relação, é algo fluido que escapa 
à análise ao tentarmos imobilizá-la num dado momento e dissecar sua 
estrutura. (THOMPSON, 1987, p. 9, grifo do original)
O que o historiador explica é o cuidado em não reduzir o operariado 
a uma classe compreensível apenas em princípios capitalistas industriais (os 
quais também são contextuais). A formação de uma classe ocorre nas rela-
ções humanas, por meio de experiências herdadas ou partilhadas e acabam 
– 21 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
por articular suas perspectivas identitárias entre si. E é nesse sentido que 
Thompson retoma a ideia sobre o operariado, não como uma classe que sur-
giu em função do mundo fabril, mas que se uniu também em função dele:
[...] os trabalhadores ingleses, em sua maioria, vieram a sentir uma 
identidade de interesses entre si, e contra seus dirigentes e empregado-
res. Essa classe dirigente estava, ela própria, muito dividida, e de fato 
só conseguiu maior coesão nesses mesmos anos porque certos antago-
nismos se dissolveram (ou se tornaram relativamente insignificantes) 
frente a uma classe operária insurgente. Portanto, a presença operá-
ria foi, em 1832, o fator mais significativo da vida política britânica. 
(THOMPSON, 1987, p. 12)
Entretanto, se a Reforma e a Contrarreforma provocaram resistências 
tanto por meio da cultura popular quanto por revoltas, o operariado do 
século XIX também não deixou de resistir. Na visão do proletariado, a cri-
minalidade também foi uma arma de revolta, e a destruição de máquinas 
pode ser vista como uma reação, mesmo que descontextualizada de um 
movimento organizado. Muitas dessas ações difundiram o julgamento de 
que operários e operárias eram vagabundos, preguiçosos, criminosos etc.
Com o surgimento de sindicatos e organizações de trabalhadores a partir 
de 1830, a França começou a ver os operários como grupos. Como ressaltamos, 
o Manifesto Comunista foi, sem dúvida, um livro que reuniu ideias a respeito da 
luta de classes que incentivou muitos a lutarem. Entretanto, embora tenha sido 
lançado ainda em 1848, não era conhecido dos líderes operários desde o início, 
assim como nem todos tiveram acesso à obra de imediato. Sobre a situação social 
de muitos operários desse período, Hobsbawm faz algumas considerações:
A bebida não era o único sinal desta desmoralização. O infanticídio, a 
prostituição, o suicídio e a demência têm sido relacionados com este 
cataclismo econômico e social, graças em grande parte ao trabalho 
pioneiro na época daquilo que hoje em dia seria chamado de medi-
cina social. O mesmo se deu em relação ao aumento da criminalidade 
e da violência crescente e frequentemente despropositada que era uma 
espécie de ação pessoal cega contra as forças que ameaçavam engolir 
os elementos passivos [...] Eram tentativas de escapar do destino de 
ser um trabalhador pobre ou, na melhor das hipóteses, de aceitar ou 
de esquecer a pobreza e a humilhação. (HOBSBAWM, 2009, p. 325)
Situações sociais muitas vezes “causadas” pela falta de opção, de proteção 
social e política, visto que, naquele período, raros eram os direitos trabalhistas 
História Contemporânea
– 22 –
e sociais reconhecidos. Hobsbawm (2010) chama a nossa atenção ao fato de 
que diversos crimes ou preconceitos relacionados às camadas sociais mais sim-
ples muitas vezes tinham origem nas diferenças sociais acirradas. Epidemias 
de cólera, por exemplo, só foram uma preocupação das autoridades quando 
começaram a atingir as camadas sociais mais abastadas. 
Esse panorama social comum em muitos centros industriais é uma 
forma de resistência ao Estado e ao sistema capitalista em partes, pois inicia 
com revoltas individuais – que são os crimes já mencionados, além de des-
truição de máquinas das fábricas – partindo para revoltasem grupos, como as 
greves e os sindicatos. Estes últimos começaram a funcionar a partir dos anos 
de 1840 como espaços de solidariedade e de consciência de classe. Um dos 
movimentos, que não podem ser reduzidos a apenas “destruições de máqui-
nas”, foi o ludismo, cuja perspectiva é apontada por Thompson a seguir:
Só quebraram as armações dos que tinham reduzido o valor dos salá-
rios dos empregados; os que não tinham abaixado o valor, ficaram 
com suas armações intactas; num estabelecimento, na noite passada, 
quebraram quatro entre seis armações; as outras duas, que pertenciam 
a mestres que não tinham abaixado seus salários, não mexeram nelas. 
(MERCURY apud THOMPSON, 1998, p. 126-133)
Nesse caso, compreendemos que as ações dos ludistas tinham por objetivo 
reivindicar direitos trabalhistas e não aceitar a exploração direta e cotidiana 
que vinham sofrendo, assim como o não cumprimento de um pagamento 
pré-combinado.
Quando o Manifesto Comunista foi escrito por Engels e Marx, o objetivo 
central era expor os estatutos da Liga Comunista, embora isso não seja citado 
no documento. Isso ocorre porque a intenção de escrever tal panfleto era criar 
uma ideia de classe, revelar a opressão sentida pelos operários que, embora 
já se rebelassem de diferentes formas, ainda não se reconheciam como uma 
organização comum com uma pauta de reivindicações. Marx, em sua escrita 
no Manifesto Comunista, estabelece uma relação entre proletariado e a inten-
ção do capitalismo. De acordo com Hobsbawm
A visão que tinha o Manifesto do desenvolvimento histórico da 
“sociedade burguesa”, inclusive a classe operária por ele gerada, não 
levava necessariamente à conclusão de que o proletariado derrubaria 
o capitalismo e, com isso, abriria caminho para o desenvolvimento do 
– 23 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
comunismo, porque a visão e a conclusão não provinham da mesma 
análise. O objetivo do comunismo, adotado antes que Marx se tor-
nasse “marxista”, não procedia de uma análise da natureza e do desen-
volvimento do capitalismo, mas de uma discussão filosófica, na rea-
lidade escatológica, sobre a natureza e o destino do homem. A ideia 
– fundamental para Marx a partir de então – de que o proletariado 
era uma classe que não poderia se libertar sem libertar a sociedade 
como um todo surgiu como “uma dedução filosófica e não como um 
produto da observação”. (HOBSBAWM, 2011, p. 111)
O historiador, ao mencionar dedução filosófica, objetiva afirmar que 
o operariado e a sociedade (de cada contexto) nunca viveram até então um 
processo de ruptura e de liberdade, portanto, a práxis nesse caso não pode 
ser compreendida em sua teoria. Nesse período, o comunismo era uma filo-
sofia, visto que, para Karl Marx, o destino da humanidade seria o fim da 
luta de classes, uma possibilidade caso o capitalismo fosse dominado pelo 
operariado. Entretanto, como reitera o próprio Hobsbawm, o manifesto foi 
um grande divulgador do comunismo no século XX, mas não seria ouvido 
ou lido se grupos não se organizassem e difundissem os primeiros ideais ou, 
nas palavras do historiador, “as covas precisam ser abertas por ação humana” 
(HOBSBAWM, 2011, p. 114). 
Portanto, a ideia de que o proletariado desenvolveria uma consciência 
revolucionária sobre o capitalismo era uma das possibilidades, visto que nem 
sempre estavam em oposição. Hobsbawm (2009) cita diversas realidades 
europeias do início do século, pioradas com as más colheitas de 1817, 1832 
e 1847, ou seja, camponeses sem propriedade ou com terras inférteis que já 
eram muito pobres, somavam-se aos trabalhadores urbanos e suas péssimas 
condições de existência.
É nesse contexto que surgem as revoluções da Primavera dos Povos. 
Inúmeras e rápidas, espalharam-se por toda a Europa, em especial, nos gran-
des centros. Trabalhadores estavam cansados, não somente pela falta de direi-
tos trabalhistas, mas por conta da ausência de um Estado mais responsável 
pelo povo, visto que na Europa, até então, a maior parte dos Estados era 
monárquica, inclusive a França (com os Bourbons). Alguns casos ainda eram 
piores, como os da Alemanha e da Itália, pois naquela época ainda não 
eram países, restando aos seus trabalhadores acordos locais. Direitos civis, 
História Contemporânea
– 24 –
educacionais, políticos e de saúde estiveram na pauta de diversos grupos que 
estavam cansados de tantas condições ruins de vivência e de trabalho, como 
também o êxodo contínuo e os ideais franceses disseminados aos quatro can-
tos – Liberdade, Igualdade e Fraternidade –, porém, que poucos conheceram.
Todas as barricadas, entre 1848 a 1849, foram logo derrubadas (Figura 2). 
Poucos não foram presos ou mortos. Muitos, inclusive, foram deportados à 
Argélia. Mas se logo foram massacrados, por que essas barricadas foram tão 
importantes para a história dos movimentos dos trabalhadores? De acordo 
com Hobsbawm, embora fossem movimentos de trabalhadores pobres, 
“a experiência da classe trabalhadora injetou nele [no proletariado], pelo 
menos, na França, novos elementos institucionais fundamentados na prática 
dos sindicatos e da ação cooperativa” (HOBSBAWM, 1982, p. 51). Com 
exceção da derrubada da monarquia na França, todas as outras se mantive-
ram, porém, podemos afirmar que, ao longo das décadas seguintes, novos 
acordos entre sindicatos e donos dos meios de produção foram alcançados. 
Uma árdua trajetória que até o século XXI continua, visto que sempre será 
uma disputa entre grupos diferentes e, às vezes, opostos.
Figura 2 – VERNET, Horace. [Barricadas nas ruas de Paris durante a 
revolução de junho de 1848], color.: óleo sobre tela, 36 × 46 cm. Museu 
Histórico Alemão, Berlim.
– 25 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
Conclusão
A França de 1789, amedrontada, faminta e baseada nos regimes abso-
lutista e feudal, não é a França de 1850, com seus primeiros movimentos 
de trabalhadores, derrubando novamente a monarquia. Entretanto, não 
estamos falando apenas da França, pois vários foram os países e nações 
no mundo que começaram a trilhar novos rumos políticos e a debater 
comunismo, república, democracia, parlamento ou monarquia consti-
tucional. Além disso, também são muitas as práticas culturais e sociais 
que demonstram o porquê de tomarmos um caminho e não outro. A 
Revolução Francesa ou a industrial da Inglaterra moveram e movem o 
mundo. Lynn Hunt (2007) garante que a França pode ser odiada, amada 
ou temida, mas jamais – em termos políticos – causou ou causará indife-
rença nesse mundo contemporâneo.
Ampliando seus conhecimentos
O Manifesto Comunista, de 1848, foi a maneira que Karl 
Marx e Friedrich Engels encontraram para que suas ideias che-
gassem ao mundo do operariado no século XIX. Marx alme-
java que uma leitura de fácil compreensão fosse entendida 
por vários e, principalmente, que sua condição quando vista 
como classe poderia mudar seu modo de vida. Desejamos 
uma boa leitura de parte desse texto.
Parte 1 - Burgueses e proletariado
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes 
centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das 
cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma 
grande parte da população do embrutecimento da vida rural. 
Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os paí-
ses bárbaros ou semibárbaros aos países civilizados, subordi-
nou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente 
História Contemporânea
– 26 –
ao Ocidente. A burguesia suprime cada vez mais a dispersão 
dos meios de produção, da propriedade e da população. 
Aglomerou as populações, centralizou os meios de produ-
ção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A conse-
quência necessária dessas transformações foi a centralização 
política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis 
laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas 
aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma só nação, com 
um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, 
uma só barreira alfandegária.
[...] Assistimoshoje a um processo semelhante. As rela-
ções burguesas de produção e de troca, o regime bur-
guês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, 
que fez surgir gigantescos meios de produção e de troca, 
assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as 
forças internas que pôs em movimento com suas palavras 
mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do 
comércio não é senão a história da revolta das forças pro-
dutivas modernas contra as atuais relações de produção 
e de propriedade que condicionam a existência da bur-
guesa e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais 
que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais 
a existência da sociedade burguesia. Cada crise destrói 
regularmente não só uma grande massa de produtos já 
fabricados, mas também uma grande parte das próprias 
forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que 
em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, 
desaba sobre a sociedade - a epidemia da superprodu-
ção. Subitamente, a sociedade vê-se, reconduzida a um 
estado de barbaria momentânea, dir-se-ia que a fome ou 
uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de 
subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquila-
dos. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada 
– 27 –
Política e sociedade após a Revolução Francesa
civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada 
indústria, demasiado comércio. [...]
Atividades
1. Caracterize o panorama social e político logo após a Revolução Fran-
cesa e explique o porquê da ascensão de Napoleão Bonaparte junto 
à burguesia.
2. A historiadora Lynn Hunt e a filósofa Hannah Arendt têm pesqui-
sas sobre o caráter da Revolução Francesa – mais em especial sobre 
o porquê de ela ter sido direcionada de acordo com os interesses 
burgueses. De acordo com o exposto no texto, comente sobre as 
consequências disso.
3. Relacione as condições sociais de trabalhadores com a Primavera dos 
Povos e as lutas do movimento operário.
4. No Manifesto Comunista, Karl Marx expõe suas principais críticas em 
relação ao crescimento industrial. Elabore um texto com suas princi-
pais críticas, relacionando-as com esse contexto.
A cidade, a indústria e 
a classe trabalhadora
Nossa intenção neste capítulo é pensar algumas das mudan-
ças políticas, sociais e culturais do século XIX. Em um primeiro 
momento, traçamos ideias sobre a política e o ideal do mundo bur-
guês, o qual se aproveitou das novas formações políticas na Europa 
para forjá-las de acordo com seus interesses. Porém, consideramos 
que, se a Revolução Francesa, com seu período conturbado, e a pró-
pria Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão instigaram os 
interesses burgueses, os trabalhadores também veriam nesses acon-
tecimentos uma possibilidade de cidadania, de alcançar a segurança 
social e igualdade política.
Em seguida, buscamos compreender como a burguesia, com 
base nas ideias de Nação ou de Estado-nação, recentes em terras 
absolutistas, serviu-se dos princípios de democracia e de patriotismo 
para legitimar seu capitalismo e chegar à ideia de imperialismo. Este 
originou o que chamamos de globalização, alterando quase todas 
as culturas. Como objetivo final, buscamos compreender de que 
2
Lorena Zomer
História Contemporânea
– 30 –
forma as novas formações políticas e culturais alteraram a literatura e a ciência 
de modo geral.
2.1 A ideia de progresso, o 
liberalismo e o mundo burguês
Após a Revolução Francesa, o regime monárquico já não era suficiente 
para os interesses burgueses, em especial, se considerarmos a sua política eco-
nômica. Dessa forma, o Estado deveria representar a vontade do povo, em 
uma postura democrática por meio de suas leis. Desde 1789, a Declaração dos 
Direitos do Homem e do Cidadão já deixava isso evidente, mesmo que preser-
vasse o direito à propriedade privada e que outros não pudessem tê-la. Aliás, 
esse aspecto é uma das defesas do liberalismo primário: “a ideologia do capi-
talismo comercial e manufatureiro em expansão e um ataque às regulações 
políticas produzidas pelas corporações de ofício e pelo Estado mercantilista” 
(MORAES, 2001, p. 10). De outro modo,
O liberalismo pode ser entendido como uma ideologia que con-
cede espaços à iniciativa e à autonomia individuais. Nessa filosofia, 
as ações dos indivíduos, desde que respaldadas por normas legais (e 
nesse caso o Direito é fundamental para a instituição de uma socie-
dade liberal), podem manter uma autonomia relativa ante o Estado. 
Este, por sua vez, deve exercer algumas funções específicas, limitadas, 
mas essenciais à ação livre dos cidadãos proprietários. Desse modo, há 
estreita relação entre o liberalismo político e o liberalismo econômico, 
na medida em que o Estado se estrutura para garantir os contratos. 
(SILVA; SILVA, 2009, p. 260)
Considerando essas ideias, no período bonapartista, a burguesia teve 
liberdade para instituir seus meios de produção, sem grandes interferências. 
Com Luís XVIII, os três poderes foram instituídos e o voto passou a ser 
censitário. Nesse caso, tanto a primeira quanto a segunda medida facilitaram 
os interesses da alta burguesia, para que adequasse as leis e votasse apenas 
no que desejasse. Outra medida desejada pela burguesia era a liberdade de 
mercado, sem a interferência do Estado. Porém, é preciso lembrar que, ao 
mesmo tempo em que esse era o objetivo da burguesia, a própria Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão sugeria a igualdade entre as diferentes 
camadas sociais. Tal ideia não era desconhecida ou foi esquecida. Hobsbawm 
– 31 –
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
afirma que as revoluções alteraram o panorama social, político e econômico 
novamente da Europa:
A política de massa e a revolução de massa, com base no modelo de 
1789, mais uma vez tornaram-se possíveis, e a dependência exclusiva 
das irmandades secretas. Os Bourbons foram derrubados em Paris por 
uma típica combinação de crise do que se considerava a política da 
monarquia Restaurada e da intranquilidade popular devida à depres-
são econômica [...] O segundo resultado foi que, com o progresso 
do capitalismo, o “povo” e os “trabalhadores” – isto é os homens 
que construíram as barricadas – podiam ser cada vez mais identifi-
cados com o novo proletariado industrial. (HOBSBAWM, 2009a, 
p. 194-195)
A instabilidade do período parecia deixar evidente que os interesses bur-
gueses ainda não estavam totalmente estruturados, porém, a partir de 1830, 
com a nova configuração política e as organizações operárias, a burguesia 
ganharia ainda mais espaço. Em 1830, as barricadas também lutavam pelo 
liberalismo, pois acreditavam que ao diminuir o poder do Estado também 
seriam beneficiadas (HOBSBAWM, 2009a, p. 195-215).
A burguesia não teve o triunfo total na política, pois, como afirmamos, 
a mesma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que legitimou a pro-
priedade privada e acabou com o feudalismo, segregando as diferenças sociais, 
fez com que trabalhadores, aos poucos, buscassem organizar um movimento 
operário. Desse movimento, diversos partidos, teorias e influências foram 
mobilizados, como o socialismo utópico, marxismo, entre outros. Mas a bur-
guesia conseguiu manter-se no poder majoritariamente. Além disso, como 
veremos no último tópico, ela esteve diretamente ligada à ciência e às artes 
produzidas naquele tempo. Isso fez com que todo o conhecimento fosse pro-
duzido de acordo com o que se compreendia por progresso, que poderia ser 
entendido de forma breve como o que eleva a moral de uma sociedade, susten-
tando seus interesses econômicos e políticos. Se uma nação ou Estado-nação 
almejasse prosperar, deveria investir na ciência (fonte de conhecimento), de 
acordo com os interesses burgueses (capitalista).
A separação entre trabalho, lazer e convívio era comum também aos bur-
gueses em relação aos seus interesses, pois ao mesmo tempo em que existiam 
tantos lugares e coisas a se fazer, também incentivava-se a intimidade, o indi-
vidualismo. Em um contextono qual o indivíduo podia escolher aonde ir e o 
História Contemporânea
– 32 –
que fazer, também era necessário proteger-se de olhares ao redor. Seu espaço era 
privado, ou seja, não era mais comunal, em grupo. O máximo de reuniões era 
o que ocorria nos salões de festas e concertos. Em casa, reservava-se apenas 
à família, o lugar de descanso. O historiador Phillipe Arriès (1997) afirma 
que três condições devem ser consideradas a fim de entender o que ocorreu 
entre a vida pública e comunal do medieval à vida privada contemporânea. 
As três são peculiares ao período Moderno: o fato de o Estado ser pensado e 
criado com base na divisão geral em três grupos sociais, cujos dois primeiros 
(sociedade cortesã, classes populares) não geraram um novo estado privado; 
a disseminação de escolas e da leitura, que aumentou o número de letrados 
e daqueles que liam para si; e as novas religiões decorrentes da Reforma, que 
estimulavam meditação e consciência sobre si.
Esses três elementos colaboraram para sociedades mais introspectivas, ao 
tempo em que mudanças urbanas e rurais causavam novas formas de sociabi-
lidade. Essas mudanças em relação ao comportamento e à moral não aconte-
ceriam se os Estados europeus não estivessem procurando se construir como 
nação. A respeito desse assunto, estudaremos na próxima seção.
2.2 Construção de nações e a democracia
A nação é o lugar no qual encontramos elementos comuns, que for-
mam um território geográfico demarcado e que também são justificados por 
elementos culturais, naturais e de laços com base em tradições. Conforme 
definem Kalina Silva e Maciel Silva:
[...] a ideia de nação predominante no Ocidente até hoje é aquela 
eminentemente política. Construído para a realidade europeia, o con-
ceito político de nação também foi empregado para aqueles territórios 
que se constituíram da colonização europeia, como a América. Nesse 
caso, as ideias de nação e Estado estão tão interligadas que deram ori-
gem a um outro conceito, o de Estado-nação. O Estado-nação é uma 
realidade política, o cenário em que a existência social se desenrola 
(SILVA; SILVA, 2009, p. 309)
Quando são reunidas essas características e compreendidas em um ter-
ritório, organizadas em um sistema jurídico, temos um Estado-nação. Para 
tanto, as línguas faladas, a cultura e o modo de viver da população legitimam 
e impulsionam homens e mulheres a definirem o que querem de sua nação.
– 33 –
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
No caso europeu do século XIX, desde o Congresso de Viena, no qual os 
Estados europeus se encontraram para definir os traços geográficos após a 
queda de Napoleão Bonaparte (HOBSBAWM, 2009a, p. 171-175), o con-
tinente não tinha vivido muitas formações de novas nações, diferentemente 
de uma perspectiva nacionalista, na qual emergiram os primeiros partidos de 
trabalhadores em meados desse século, na França. Eric Hobsbawm (2009c) 
explica que entre 1870-1914 surgiram os primeiros grupos políticos de 
direita, que definiram o termo nacionalista em outras perspectivas em relação 
aos anos de 1830, que poderiam ser entendidas da seguinte forma:
A base dos “nacionalismos” de todos os tipos era igual: era a presteza 
com que as pessoas se identificavam emocionalmente com “sua” nação e 
podiam ser mobilizadas, como tchecos, alemães, italianos ou quaisquer 
outras, presteza que podia ser explorada politicamente. A democrati-
zação da política e especialmente a das eleições oferecia amplas opor-
tunidades para mobilizar as pessoas. Quando os Estados faziam isso, 
chamavam de “patriotismo”. (HOBSBAWM, 2009c, p. 228)
Nesse sentido, o sentimento de pertencimento, de experiências que 
indivíduos poderiam ter em uma nação demarcada territorialmente levava a 
uma ideia de nacionalismo. E as possibilidades democráticas conquistadas ao 
longo do século XIX, especialmente após as revoluções de 1848, permitiram 
que alguns grupos sociais (considerando que em muitos países o voto era 
censitário) pudessem escolher, questionar ou ao menos servir aos interesses 
de outro grupo. Ainda, segundo Hobsbawm (2009a), os preceitos pelos quais 
as ideias de nacionalismo passaram, a fim de formar o conceito de nação e de 
nacionalismo, foram pensados com base em quatro interpretações ao longo 
do século XIX: o nacionalismo e o patriotismo como símbolos da direita; 
a autodeterminação de um Estado como nação econômica e politicamente 
viável só poderia ocorrer se fosse reconhecida por outros; tal reconhecimento 
não poderia ser feito por um Estado-nação considerado inferior a esse; e a 
língua seria um dos elementos centrais para se pensar o nacionalismo e, con-
sequentemente, a nação.
Tais perspectivas têm diversos pontos complexos que demonstram o 
modo como o século XIX originou, por meio de escolhas também demo-
cráticas e nacionalistas, países imperialistas europeus do fim do século XIX. 
Primeiramente, a partir do momento em que um grupo escolhe os elementos 
que compõem as características sociais, políticas e culturais que definem uma 
História Contemporânea
– 34 –
nação, automaticamente exclui outros povos ou minorias. Isso ocorre com 
indivíduos já presentes nessa nação, imigrantes ou com vizinhos – os quais 
muitas vezes disputam o território próximo.
Com base nessas considerações, Hobsbawm (2010) aponta que o 
Oeste da Europa, em especial Inglaterra e França, foi forjado por meio da 
liderança de seus grupos nacionalistas (muitas vezes de extrema direita), que 
definiram quais eram os elementos do princípio de nacionalidade, isto é, 
o direito de cada grupo formar uma nação de acordo com sua liberdade e 
suas características. Nesse caso, retomamos a citação de Hobsbawm a partir 
da ideia de patriotismo, pois essa se tornou objeto central de grupos que 
objetivavam definir o que era ser patriota, ao tempo em que excluíam os 
demais. Nesse sentido:
Originalmente, a essência do nacionalismo de direita, que emergia 
em Estados-nação já estabelecidos, era a reivindicação do monopó-
lio do patriotismo para a extrema direita política, e por meio dela 
a estigmatização de todos os demais como traidores. O fenômeno 
era novo; durante a maior parte do século XIX, o nacionalismo fora 
identificado como movimentos liberais e radicais, bem como com a 
tradição da Revolução Francesa. (HOBSBAWM, 2009c, p. 228-229)
A escolha democrática só aconteceu devido à ideia de cidadania – princí-
pio presente em diversas lutas sociais após a Revolução Francesa – por ganhar 
respaldo em um pacto social em relação ao bem-estar, ou seja, como algo 
que diz respeito a um grupo e suas diferenças em relação a outros, e como 
tornou-se inferior perante a eles. Portanto, após à formação da ideia de nação, 
cujo argumento central era o que havia em comum entre grupos, como justi-
ficar o domínio desejado em relação a novas nações julgadas como diferentes? 
Apenas pela estigmatização esses grupos encontraram bases suficientes.
Se no fim do século XIX alguns Estados-nações já estavam formados, 
como Inglaterra e França (mesmo com problemas locais, como Alsácia e 
Lorena), outros ainda buscavam territórios, como o Império Austro-Húngaro, 
Rússia, e as mais recentes, Itália e Alemanha. É nesse contexto que a anexação 
de territórios tornou-se sinônimo de poder e, consequentemente, de disputa 
com base em questões étnicas, raciais e linguísticas. Da Revolução Francesa 
veio a ideia de nação, cujas novas organizações no século XIX geraram o 
que entendemos por Estado-nação (mundo capitalista). Este, por sua vez, 
– 35 –
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
ocasionou o nacionalismo, ao instituir práticas mais democráticas. Por meio 
de interesses tanto territoriais quanto capitalistas, os países citados utilizaram 
preceitos nacionalistas para conquistar outros, causando atritos diretos ou 
indiretos que culminaram nas principais causas da Primeira Guerra Mundial 
(1914-1918). O que salientamos é a ideia de que, para incentivar as disputas 
por territórios na corrida imperialista, opatriotismo e a supremacia linguís-
tica e, futuramente, racial e étnica também foram os pontos mais argumen-
tados e incentivados.
Portanto, ao partir da ideia de que a democracia é a ativa partici-
pação do povo, e a premissa de que o eleito pelo povo é a representação 
máxima de uma nação ou Estado-nação, podemos apontar que as mani-
pulações e sentidos dados à democracia em um país justificam guerras e 
exploração de outros povos. Sobre isso, a filósofa Hannah Arendt tem o 
seguinte entendimento:
O imperialismo surgiu quando a classe detentora da produção capita-
lista rejeitou as fronteiras nacionais como barreira à expansão econô-
mica. A burguesia se interessou na política por necessidade econômica: 
como não desejava abandonar o sistema capitalista, cuja lei básica é o 
constante crescimento econômico, a burguesia tinha de impor essa lei 
aos governos, para que a expansão se tornasse o objetivo final da polí-
tica externa. (ARENDT, 2013, p. 156)
Arendt (2013) afirma, portanto, que o imperialismo – que alterou o 
panorama geopolítico do mundo a partir da segunda metade do século XIX – 
é resultado de interesses capitalistas. Para isso, a burguesia precisou aumentar 
seu poder no Estado que, por sua vez, era (e ainda é) a instituição represen-
tante da vontade democrática da maioria dos países organizados e formados 
no mundo contemporâneo. Nesse caso, a economia sustentava os interesses 
imperialistas de grupos nacionalistas, e o resultado disso é o que entendemos 
por imperialismo e mundo globalizado e alicerçado no capitalismo burguês. 
Porém, países imperialistas, como a Inglaterra, jamais estenderam sua organi-
zação estatal às colônias, mas apenas a ideia de nação – visto que não pode-
riam dar aos colonizados a mesma cidadania, para que não fossem responsá-
veis ou questionados por seus conceitos.
Embora a força militar e a política imperialista europeia fossem muitas 
vezes superiores às pertencentes aos colonizados, por exemplo, eles também 
História Contemporânea
– 36 –
viam nascer em suas realidades um sentimento nacionalista quando oprimi-
dos. Desse contexto, vieram as resistências e as lutas por independência no 
século XX. Entretanto, o mundo político não se formou apenas com base 
em interesses burgueses, assim como a cultura e as tradições deles não foram 
homogêneas e predominantes. A respeito desse assunto, estudaremos na pró-
xima seção.
2.3 Trabalhadores, arte e ciência
Após o surgimento das ferrovias, as cidades tornaram-se o maior sím-
bolo de progresso no século XIX. Mesmo que sejam números modestos para 
o século XXI, até aquele período não era relatado tanto progresso na Europa, 
nos Estados Unidos e em países como a Argentina e a Austrália. O frisson 
era o mundo urbano e tudo que ele alterava, trazia e oportunizava. Existiam 
cidades de 200 mil habitantes, mas muitas daquelas que se ajustavam ao 
redor delas chegavam a ter 1 milhão de habitantes, como em Londres e Paris. 
Entretanto, Hobsbawm (2009b) reitera que não se tratava exatamente de 
uma cidade industrial, mas comercial, administrativa e de acesso aos trans-
portes. Um entreposto que poderia ter tudo, ao mesmo tempo em que ainda 
se mantinha próximo – e muito – do campo (casos de trabalhadores que, 
quando em greve, cuidavam de suas pequenas plantações de batatas). 
O mundo da arte era destinado para poucas camadas sociais, visto que 
era preciso ter tempo e dinheiro para que se pudesse usufruir do que era 
oferecido. Portanto, esses dois aspectos eram muito caros aos trabalhadores, 
contudo, isso não quer dizer que o mundo da arte não entrava na vida dos 
operários. De acordo com Hobsbawm:
As composições que entravam na consciência popular eram as árias 
de Verdi interpretadas pelos organistas populares italianos ou aqueles 
pequenos excertos de Wagner que podiam ser adaptados à música 
para casamentos, mas não as próprias óperas. Mas isso em si já impli-
cava uma revolução cultural. Com o triunfo da cidade e da indústria, 
uma divisão cada vez maior se interpunha entre, de um lado, os seto-
res “modernos” das massas, quer dizer, os urbanizados, os instruídos, 
aqueles que aceitavam o conteúdo da cultura hegemônica – a socie-
dade burguesa – e, de outro lado, os setores “tradicionais” cada vez 
mais minados. (HOBSBAWM, 2009b, p. 451)
– 37 –
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
Hobsbawm (2009b) deixa evidente a influência de uma cultura mais 
burguesa às massas, porém, com adaptações, visto que esses grupos diferen-
tes entre si precisavam manter distinções. Essas aumentavam se comparadas 
à vida daquelas comunidades com culturas tradicionais, que se mantinham 
mais resistentes à cultura da sociedade burguesa. O que parece ser a conside-
ração mais pertinente sobre a citação, é a ideia de sustentar que as mudanças 
sociais são evidentes, isto é, em uma sociedade mais camponesa, feudal e com 
características próprias da realidade absolutista, temos o cotidiano europeu 
das grandes cidades, repleto de práticas sociais e culturais muitos diferentes 
em cem anos. 
Um hábito cultural encontrado para um divórcio – prática não permi-
tida no período Medieval pela Igreja católica e também até quase o fim do 
Moderno – era a venda das esposas. O historiador britânico Edward Palmer 
Thompson explica:
A venda às vezes era precedida por um anúncio público, podia 
usar o sineiro da cidade para dar a notícia ou o marido podia andar 
pelo mercado com um cartaz com o aviso da venda [...] A corda 
era essencial para o ritual. A mulher era levada ao mercado, presa 
por uma corda e em geral, amarrada ao redor do pescoço, às vezes 
ao redor da cintura. No mercado alguém deveria fazer o leilão, o 
marido ou um funcionário do mercado. Quando a venda acon-
tecia, os recém-casados saíam sós ou os três juntos – a esposa, o 
vendedor e o comprador. Após a venda, os envolvidos redigiam 
um contrato enquanto bebiam juntos. (THOMPSON, 1998, 
p. 316 e 320)
Era um ritual na maior parte das vezes combinado, com acordos entre 
o novo e o ex-casal. As camadas mais simples não eram casadas pelo clero, 
ao mesmo tempo em que o Estado também não exercia essa função. Dessa 
forma, o ritual demonstrava – desejando a mulher ou não – que o homem 
não deveria ser mais reconhecido como responsável pela mulher. Esse foi um 
dos costumes identificados por Thompson (1998). Eric Hobsbawm também 
traz algumas práticas sobre esse período:
Na Inglaterra, a era na qual os music-halls multiplicaram-se nas cidades 
também foi a era na qual sociedades corais e bandas de música operá-
ria, com um repertório de “clássicos” populares da alta cultura, pulula-
ram nas comunidades industriais. Mas é característico que nessas déca-
das o curso da cultura corresse em uma só direção – da classe média 
História Contemporânea
– 38 –
para baixo, ao menos na Europa. Mesmo aquilo que se transformaria 
na mais característica forma da cultura proletária, os esportes de massa, 
em nosso período era determinado pelos jovens da classe média, que 
fundaram os clubes e organizavam as competições , por exemplo, na 
Association Football. Só no final da década de 1870 e início da de 1880 
que esses esportes seriam adotados e praticados pela classe operária. 
(HOBSBAWM, 2009b, p. 451, grifo do original)
Comunidades operárias são lembradas pelo historiador como redu-
tos que adaptam os clássicos da burguesia, porém, dando-lhes um tom seu. 
O que Hobsbawm (2009b, p. 451-453) chama de cultura operária é, por-
tanto, o resultado da influência sofrida por uma classe média/alta e da própria 
resistência da cultura mais tradicional desses grupos. A mesma situação teria 
acontecido com os operários da Boêmia que, com o passar do tempo, já can-
tavam músicas nada parecidas com as de seus pais. 
Podemos perceber que a arte e a cultura, que atingiam a maior parte 
da população operária, eram originadas das classes em geral superiores. 
Entretanto, a resistência também permanecia. A vivência e a experiência de 
cada dia foram alteradas pelo ritmo frenéticodas ruas recém-urbanizadas ou 
em processo de urbanização, com parques construídos, cafés, correios, bancos 
das praças nos quais se liam os jornais com críticas literárias e descobertas da 
ciência, e calçadas que tinham senhoras e senhores desfilando suas melhores 
roupas enquanto iam a um encontro furtivo. 
Trabalhadores, como floristas, datilógrafas, operários, secretárias, enfer-
meiros, e burgueses(as) em charretes e logo em carros, todos faziam (ou 
fariam) parte desse novo cenário. O caminho para o progresso era a estrada 
para a cidade. Lá, aos poucos, qualquer um poderia ler, estudar, adquirir 
novas relações e sentimentos. As camadas sociais eram bem divididas, porém, 
se cruzavam. A historiadora Michelle Perrot narra:
Os “ratinhos” da Ópera de Paris eram meninas colocadas por suas 
mães sob a tutela de “mães da Ópera”, que lhes arrumavam “prote-
tores”. Sarah Bernhardt não queria tornar-se atriz, mas sua mãe a fez 
entrar para o Conservatório; este era uma garantia de qualificação e 
de reconhecimento. (PERROT, 2007, p. 125)
O exemplo de Perrot (2007) traz uma das profissões recém-descober-
tas ou conquistadas por mulheres. Se o século XIX foi um período de gran-
des opressões políticas, também foi de conquistas sociais e trabalhistas e, 
– 39 –
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
sobretudo, de gênero. Perrot (2007) ainda salienta o fato de que, somente 
na Constituição de 1852, atores e atrizes passaram a ser considerados 
cidadãos como os demais. Nesse campo, a maior parte vinha de camadas 
pobres e populares. A historiadora também recorda sobre as mulheres que 
vinham do campo e, ao não encontrarem emprego nas cidades, acabavam 
por se tornar costureiras. Esse emprego, embora bastante pejorativo e com 
preconceitos de gênero, permitiu que muitas delas tivessem seu próprio 
sustento, mesmo que trabalhassem em quartos quase sempre minúsculos e 
com más instalações.
Ambos exemplos tratam de espaços (a cidade, o mundo urbano, a ópera) 
estimulados pelos hábitos e interesses econômicos dos burgueses. Essas tra-
balhadoras nem sempre viviam de acordo com os padrões morais esperados, 
e conquistaram espaços até então proibidos às mulheres. E, além de alterar o 
mundo cultural, seus empregos estavam relacionados à tecnologia (e ao capi-
talismo). O trabalho necessário e exaustivo das costureiras, por exemplo, esti-
mulou o mercado das máquinas de costura, em especial, da Singer (PERROT, 
2005, p. 121-123). 
Mas, não foi somente nas máquinas Singer ou nos passos apressados 
em direção às estações de trem ou aos metrôs – em Londres, inaugurados 
em 1854 – que os sujeitos viram suas vidas mudarem. A tecnologia, muitas 
vezes objeto central de desenvolvimento do ideal de ciência e do progresso no 
século XIX, ganhou avanços na física, na química fina (medicamentos como 
a penicilina, corantes), na metalurgia e na biologia. Hobsbawm (2009c) lem-
bra sobre Charles Darwin, no que se refere a esta última:
[...] a biologia era essencial para uma ideologia burguesa teorica-
mente igualitária, pois deslocava a culpa das evidentes desigualdades 
humanas da sociedade para a “natureza” [...]. Os pobres eram pobres 
por terem nascido inferiores. Assim, a biologia não era só potencial-
mente a ciência da direita política como também a ciência dos que 
desconfiavam da ciência, da razão e do progresso. (HOBSBAWM, 
2009c, p. 390)
O historiador segue afirmando que Nietzsche foi um dos poucos céti-
cos que questionou os saberes produzidos nesse período (HOBSBAWM, 
2009c, p. 390). Além disso, uma das principais consequências desse pen-
samento seria a discussão sobre o darwinismo social, o qual defende a 
História Contemporânea
– 40 –
vitória dos mais fortes, a chamada seleção natural. Essa ideia corroborou 
com outra futura – mais grave – a da eugenia, assim como os próprios 
estudos da genética. No que se refere à eugenia, o sociólogo Valdeir Del 
Cont explica:
Francis Galton (1822-1911), primo de Darwin, em 1883, reunindo 
duas expressões gregas, cunhou o termo “eugenia” ou “bem-nascido”. 
A partir desse momento, eugenia passou a indicar [...] uma ciência 
genuína sobre a hereditariedade humana que pudesse, através de ins-
trumentação matemática e biológica, identificar os melhores mem-
bros – como se fazia com cavalos, porcos, cães ou qualquer animal –, 
portadores das melhores características, e estimular a sua reprodução, 
bem como encontrar os que representavam características degenera-
tivas e, da mesma forma, evitar que se reproduzissem [...]. Para ele, 
ademais, a transmissão das características não se limitava apenas aos 
aspectos físicos, mas também a habilidades e talentos intelectuais [...]. 
(CONT, 2008, p. 202)
Portanto, em síntese, podemos perceber que se trata de uma ciên-
cia que explica os problemas vividos por uma sociedade por meio de 
sua formação genética, embora nesse período ainda não se falasse nessa 
ciência. Essa teoria incentivava que se reproduzissem apenas aqueles 
que não apresentavam problemas sociais, não eram criminosos ou que 
tinham habilidades especiais, ou seja, uma maioria da classe média e, 
principalmente, da burguesia. Desse modo, a conjuntura social ruim 
era sempre ligada aos grupos mais pobres e seus problemas reduzidos a 
uma questão eugênica.
Hobsbawm (2009c) afirma ainda que a eugenia, em princípio, deu 
pouca margem às possibilidades de reformas sociais para a resolução dos 
problemas, na educação ou mesmo em questões ambientais. Alguns pesqui-
sadores acreditavam que um “melhoramento” na raça viria da eliminação 
de sujeitos sociais considerados inferiores. Essa teoria, embora tenha con-
tribuído com o conhecimento sobre seres humanos, em especial, por ter 
gerado ideias sobre genética, também foi responsável por várias medidas 
tomadas por governos totalitários no século XX, bem como pelo estigma 
sofrido por diversas camadas sociais.
Já as ciências humanas tiveram na psicologia e na sociologia seus direcio-
namentos centrais, muitas vezes, debatendo temas da eugenia ou da seleção 
– 41 –
A cidade, a indústria e a classe trabalhadora
natural. Principalmente, a sociologia, em decorrência do grande êxodo rural 
e do processo de urbanização nas ruas inchadas, encharcadas e repletas de 
problemas sociais e políticos. Era preciso direcionar, organizar todas essas 
transformações. Nesse sentido, e em diferentes áreas políticas e sociais, inte-
lectuais como Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber e Auguste Comte 
são os grandes nomes do século XIX. Eles foram considerados os pais da 
sociologia no século XX.
A antropologia, por sua vez, tornou-se uma ciência (faculdade) mais ao 
fim do século XIX, embora desde o seu início no XVIII fosse vista como uma 
área de estudo (MARCONI; PRESOTTO, 2006). Nesse período, muitos 
países europeus capitalistas, a fim de dominar colônias utilizaram o conhe-
cimento antropológico, as viagens e informações recolhidas para justificar a 
colonização. A história também passou a ser analisada como ciência nesse 
período. Em um primeiro momento, foi uma ferramenta para a construção 
das nações e da memória, a fim de que se justificassem as decisões políti-
cas, como o seguinte trecho demonstra: “[...] a França francesa soube atrair, 
observar, identificar as Franças inglesa, alemã, espanhola, das quais ela estava 
cercada. Ela as neutralizou uma a uma, e converteu todas à sua substância” 
(MICHELET, 1962, p. 62-63). No fim do século, os metódicos passaram a 
delinear objetos, metodologias e conceitos para firmar a história como uma 
ciência independente, e não uma que servisse apenas aos interesses de quem 
a detinha.
Nas pinturas e nas valsas de Johann Strauss Jr. (1825-1899), é pos-
sível sentir o tom frenético do movimento urbano, bem como do indivi-
dualismo, o dia a dia cantado e pintado. Gustave Courbet (1819-1877), 
considerado um dos pintores mais representativos do Realismo, objeti-
vava trazer às obras as sensações do que era visto e vivido (HOBSBAWM, 
2010). Nesse caso, era o mundo dos trabalhadores,

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