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Sintese historica do direito penal

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Claramente, o homem visa a liberdade e é tentado pelo seu próprio querer, logo, o homem passou a apresentar perigos aos seus semelhantes, conforme relatos da história da humanidade. 
Segundo o livro de Gênesis, Deus criou o homem deixando-o viver com somente uma regra, a de não comer do fruto proibido, porém a tentação do seu próprio querer o levou a comer esse fruto, então Deus o expulsou do jardim. Haja visto, que essa foi a primeira pena da humanidade. Logo após, Caim enciumado de Deus com seu irmão, comete o primeiro homicídio, o qual também é punido por Deus que decretou que Caim seria fugitivo e errante pela terra.
Segundo as lições de Maggiore a “pena” – como impulso que reage com o mal ante o mal do delito - é contemporânea do homem. 
Nos primórdios da humanidade, tendo em vista as vantagens de viver em grupo, o homem passou a formar uma sociedade, na qual, assim como qualquer ordem natural, obtém suas normas, mesmo que imperceptíveis, pois há a necessidade de manter a “ordem”. Então, o direito penal nasce da necessidade em promover uma vida pacífica e social, o qual vai se moldando durante a evolução da humanidade.
Na fase inicial o direito baseava-se nos costumes, tradições e crenças, na qual acreditava-se que os fenômenos naturais maléficos eram causados pelas forças divinas como uma forma de reparar o mal cometido pelo homem, dessa forma, surgiram uma série de proibições, conhecidas por “tabu”. O indivíduo que desobedecia tal tabu tinha como punição sacrificar-se ou fazer uma oferenda aos deuses.
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois mais que compreensível que houvesse a retribuição do mal causado, como uma forma de vingança para manter o equilíbrio, não havendo preocupação com a proporção, nem mesmo com a justiça, prevalecendo assim a lei do mais forte. Portanto, o homem primitivo, assim que passou a viver em grupo, sentiu a necessidade de reprimir aquele que tivesse agredido algum interesse individual ou de sua tribo; o primeiro punia-se com a perda da paz, que consistia em sua expulsão da tribo, o segundo, que seria praticado por um estranho, punia-se com a vingança de sangue.
Em regra, os historiadores consideram várias fases da pena, no entanto, nenhuma extinguia definitivamente a outra, pois uma penetra a outra e durante tempo, esta ainda permanece ao seu lado.
Vingança Privada
A primeira modalidade da pena foi consequência da vingança privada. Cometido um crime, ocorria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo social, os quais utilizavam os meios que achassem necessário sem qualquer proporção à ofensa que atingiam também a tribo do ofensor. Se o transgressor fosse membro da tribo, podia ser punido com o banimento, caso a violação por outrem, a reação era a da “vingança de sangue”, resultava, não raramente, na eliminação da outra tribo. 
Vingança Divina
A fase da vingança divina, no Oriente Antigo, pode-se dizer que a religião se confundia com o Direito, já que se devia reprimir o crime como satisfação aos deuses pela ofensa praticada no grupo social. O castigo ou oferenda por delegação divina era aplicado pelos sacerdotes que infligiam penas severas, cruéis e desumanas, visando especialmente a intimidação da sociedade – “vis corpolis”. 
Nesse período, o crime era visto como um pecado, o qual atingia os deuses, portanto, a pena era um castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator.
A essa época, os sacerdotes são os magistrados, invocando o Ser Supremo para legislar em seu nome. 
Vingança Pública
A fase da vingança pública revela maior organização societária e fortalecimento do Estado, na medida em que deixa de lado o caráter individual da punição (perturbador maior da paz social) para que dela se encarreguem as autoridades competentes, ficando legitimada a intervenção estatal nos conflitos sociais com aplicação da pena pública.
A pena pública tinha por função principal proteger a própria existência do Estado e do Soberano, mas nem por isso as sanções perderam o seu aspecto cruel e violento (ex: morte por decapitação ou forca), transcendendo, em alguns casos, a pessoa do culpado, atingindo descendentes por diversas gerações.
Com o poder do Estado cada vez mais fortalecido, o caráter religioso foi sendo dissipado e as penas passaram a ter o intuito de intimidar para que os crimes fossem prevenidos e reprimidos.
Visando limitar a vingança privada, surge o talião, uma noção, ainda que superficial, de proporcionalidade, o “olho por olho, dente por dente”. Adotado no Código de Hamurabi, Êxodo e na Lei das XII Tábuas, um grande avanço na história do Direito Penal por reduzir a abrangência da ação punitiva.
Existem disposições no Código de Hamurabi (2083 a.C.) neste sentido em seus artigos 209 e 210, respectivamente, “Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez siclos pelo feto” e “Se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele”.
A Bíblia Sagrada em seu Livro Levítico, 24, 17, também dispõe que “todo aquele que ferir mortalmente um homem será morto”.
Também aderido pela Lei das XII Tábuas, conforme se extrai do artigo 11 que determina que “Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se houver acordo".
Posteriormente, surge a composição, sistema pelo qual o ofensor poderia fazer um acordo que o livraria do castigo, ou seja, pagaria pela sua liberdade e pelo dano causado. Uma forma alternativa de repressão aplicável quando era mais cabível a reparação do dano causado. Também adotado pelo Código de Hamurabi e largamente aceito pelo Direito Germânico, sendo a origem remota das formas modernas de indenização do Direito Civil e da multa do Direito Penal.
Fase Humanitária
Tendo seu apogeu no decorrer do Humanismo, esse período foi marcado pela atuação de pensadores que contestavam os ideais absolutistas.
Os povos estavam saturados de tanta barbárie sob pretexto de aplicação da lei. Por isso, o período humanitário surgiu como uma reação as arbitrariedade praticadas pela administração da justiça penal e contra o caráter real das sanções.
O pensamento predominante da época ia de encontro a qualquer crueldade e se rebelava contra qualquer arcaísmo do tipo: "Homens, resisti à dor, e sereis salvos". (Basileu Garcia).
Essa evolução do direito penal, visou evitar aplicar penas cruéis e injustas, colocando uma proporcionalidade entre infração e punição, aderindo a intimação e regeneração do infrator.
Direito Penal Roma
Em Roma, desde de sua formação, o crime e a pena tinham um caráter público, mas também existia as penas privativas, executadas pelo Pater Famílias, um estatuto que tinha o poder de exercitar o direito de vida e de morte (jus vitae et necis) sobre todos os seus dependentes, que aplicava o talião e a composição. 
Com o surgimento da Republica Romana, já na fase republicana, ocorre a desvinculação do direito com a religião, deixando de lado os caráter sagrado da pena e também abolindo a vingança privada, passando ao Estado o ministério penal.
Desta forma, passou-se a dividir os crimes como sendo públicos e privados. Os crimes públicos eram aqueles que traziam algum mal à sociedade e eram punidos pelo Estado, enquanto os crimes privados eram aqueles cometidos contra os particulares, cuja punição ficava a cargo deles mesmos, sendo que o Estado apenas regulamentava estas punições caso fosse necessário. Também houve as distinções do crime, do propósito, do ímpeto, do acaso, do erro, da culpa leve, do simples dolo e dolo mau (dolus malus), além do fim de correção da pena. 
Surgindo a Lei das XII Tábuas que veio para igualar os destinatários da pena.
Os romanos já tinham uma noção de dolo (intenção) e de culpa (negligência) que são noções fundamentais do Direito Penal Moderno; eles já consideravam a legítima defesa e o estado de necessidade de institutos importantíssimos do Direito Penal atual.
Direito Penal Germânico
O direito Germânico era costumeiro e era visto como uma ordem da paz, desta forma o crime seria a ruptura com este estado, com sua punição podendoser pública ou privada e sujeita a repressão. Na hipótese de perda da paz pública havia uma autorização para que qualquer pessoa do povo matasse o transgressor, contudo, no caso de delito privado o agente era entregue à família da vítima para que esta exercesse o direito de vingança. 
As leis bárbaras caracterizavam-se pela composição, onde as tarifas eram estabelecidas conforme a qualidade da pessoa, o sexo, idade, local e espécie da ofensa. Para aqueles que não pudessem pagar eram atribuídas as penas corporais. Também adotaram a Lei de Talião e, conforme o delito cometido, utilizavam a força para resolver questões criminais. Era admitidas também as ordálias ou juízos de Deus (provas de água fervendo, ferro em brasa, etc.), assim como os duelos judiciários, onde o vencedor era proclamado inocente. Portanto, as penas eram muito severas havendo a mutilação, morte e exílio.
Direito Canônico
O direito canônico, também conhecido como o ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana, exerceu grande e importante influência na legislação penal.
Inicialmente o Direito Canônico tinha o caráter meramente disciplinar, porém com o fortalecimento do poder papal, este direito passou atingir a todos da sociedade (religiosos e leigos). Neste sentido, a jurisdição eclesiástica dividia-se em rationare persona,que levava em consideração a pessoa, assim o religioso era sempre julgado por um tribunal da Igreja, independentemente do tipo de delito cometido por ele, e rationare matéria, em razão da matéria, assim firmava-se a competência eclesiástica ainda que o agente do delito não fosse religioso.
Dessa forma os delitos eram classificados conforme o bem jurídico violado. Quando ofendiam o direito divino, eram chamados de delicta eclesiástica, estando sob a competência dos tribunais eclesiásticos e, portanto tendo como repressão as penitentiae. Quando feriam tão somente a ordem jurídica leiga, estavam sob a competência do Estado e eram punidos com penas comuns, eventualmente sofrendo punição eclesiástica, estes crimes eram conhecidos como delicta mere secularia. Nos casos em que a atividade delitiva transgredia tanto a ordem laica como a religiosa esta era julgada pelo tribunal que primeiro conhecesse o fato, eram os delicta mixta.
O direito canônico tinha o objetivo de recuperação dos criminosos através do arrependimento, mesmo que fosse necessária a utilização de penas e métodos severos. Porém, nessa fase, as penas foram humanizadas, com a proibição do uso das ordálias e a introdução das penas privativas de liberdade (eram cumpridas nos monasteries, em celas), pois se entendia que o indivíduo precisava manter-se enclausurado para que se arrependesse do mal que cometeu e se convertesse.
Apesar das vantagens trazidas por essa concepção religiosa do direito existiu também seu lado negativo como, por exemplo, no caso das punições desumanas aplicadas pela Santa Inquisição.
Direito Medieval
Na idade média, conhecido como Direito Penal Comum, é a fusão do direito romano, germânico e canônico com os direitos locais.
Por longos anos, em toda Europa o direito penal era extremamente rigoroso, com penas cruéis, infames, extensivas aos familiares do condenado, corporais, mutilação, torturas, a de morte executada pelas formas mais bárbaras e violentas sem qualquer respeito aos direitos da personalidade do homem.
Nesse período, o acusado não tinha direito de defesa e a verdade só era alcançada através da tortura.
Período Humanitário 
Em fins do século XVII, com a propagação dos ideais iluministas, também conhecido como Século das Luzes (caracterizada por uma ampliação do domínio da razão em todas as áreas do conhecimento humano), ocorreu uma conscientização quanto às barbaridades que vinham acontecendo. Houve um imperativo para a proteção da liberdade individual em face do arbítrio judiciário e para o banimento das torturas, com fundamento em sentimentos de piedade, compaixão e respeito à pessoa humana.
Almejava-se uma lei penal que fosse simples, clara, precisa e escrita em língua pátria, devendo ser severa o mínimo necessário para combater a criminalidade, e o processo penal deveria ser rápido e eficaz.
A partir das ideias de Beccaria, inaugurou-se o período humanitário, período no qual baseou-se na Teoria do Contrato Social, investiu contra a pena capital, com o argumento de que, apesar do homem ceder parte de sua liberdade ao Bem Comum, não poderia ser privado de todos os seus direitos e a ninguém seria conferido o poder de mata-lo.

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