Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Engenharia Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil Monografia DURABILIDADE DE ESTRUTURAS DE CONCRETO EM USINAS SIDERÚRGICAS Autora: Flávia Spitale Jacques Poggiali Orientadora: Profª Drª Carmen Couto Ribeiro Janeiro / 2009 2 Flávia Spitale Jacques Poggiali DURABILIDADE DE ESTRUTURAS DE CONCRETO EM USINAS SIDERÚRGICAS Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Construção Civil da Escola de Engenharia da UFMG Ênfase: Durabilidade Orientadora: Profª. Drª. Carmen Couto Ribeiro Belo Horizonte Escola de Engenharia da UFMG 2009 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que colaboraram significativamente na execução deste trabalho, tanto do ponto de vista prático (fornecimento de dados, orientações, sugestões, etc.) como do ponto de vista psicológico. Foi essencial contar com o apoio, compreensão, estímulo e carinho de pessoas tão queridas. Agradeço à Profª. Carmen Couto pelo incentivo, dedicação, competência, amizade e presença constante durante todo o processo de execução do trabalho. Aos professores do Departamento de Materiais de Construção da Escola de Engenharia / UFMG, pelas valiosas colaborações na ajuda da pesquisa bibliográfica e colaborações técnicas. A toda minha família, pela credibilidade e incentivo ao meu trabalho. Em especial, ao meu marido Guilherme, exemplo de profissional e incentivador do crescimento da minha carreira. 4 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... 6 LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... 8 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10 2. OBJETIVO ................................................................................................................ 11 3. ASPECTOS REFERENTES À DURABILIDADE NA NBR 6118:2003 .................... 12 4. DURABILIDADE DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ......................................... 15 4.1 DEFINIÇÃO.......................................................................................................... 16 4.2 IMPORTÂNCIA...................................................................................................... 16 4.3 CONSIDERAÇÕES GERAIS.................................................................................... 17 4.4 ÁGUA COMO AGENTE DE DETERIORAÇÃO............................................................. 19 4.5 PERMEABILIDADE ................................................................................................ 22 4.5.1 Permeabilidade do concreto....................................................................................... 22 4.6 CLASSIFICAÇÃO DAS CAUSAS DA DETERIORAÇÃO DO CONCRETO ......................... 23 4.7 DETERIORAÇÃO POR DESGASTE SUPERFICIAL ..................................................... 24 4.8 CRISTALIZAÇÃO DE SAIS NOS POROS................................................................... 26 4.9 AÇÃO DO CONGELAMENTO .................................................................................. 26 4.10 EFEITO DO FOGO ................................................................................................ 27 4.10.1 Efeito da alta temperatura na pasta de cimento hidratada ...................................... 27 4.10.2 Efeito da alta temperatura no agregado................................................................... 28 4.10.3 Efeito da alta temperatura no concreto .................................................................... 28 4.10.4 Efeito do concreto de alta resistência exposto ao fogo ........................................... 31 4.11 DETERIORAÇÃO DO CONCRETO POR REAÇÕES QUÍMICAS .................................... 32 4.11.1 Hidrólise dos componentes da pasta de cimento .................................................... 33 4.11.2 Reações de troca catiônica...................................................................................... 34 4.12 REAÇÕES ENVOLVENDO A FORMAÇÃO DE PRODUTOS EXPANSIVOS...................... 36 4.12.1 Ataque por sulfato .................................................................................................... 36 5 4.12.2 Reação álcali-agregado ........................................................................................... 40 4.13 CORROSÃO DO AÇO DE ARMADURA NO CONCRETO.............................................. 44 4.13.1 Mecanismos de deterioração do concreto por corrosão da armadura .................... 46 4.13.2 Controle da corrosão................................................................................................ 52 4.14 CONCRETO EM AMBIENTE MARINHO .................................................................... 56 4.14.1 Conclusões sobre a deterioração devido à ação da água do mar........................... 58 5. AMBIENTE INDUSTRIAL SIDERÚRGICO .............................................................. 60 5.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 60 5.2 O PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO AÇO................................................................. 61 5.2.1 Matérias primas .......................................................................................................... 61 5.2.2 Alto Forno ................................................................................................................... 63 5.2.3 Aciaria......................................................................................................................... 70 5.3 AGENTES DELETÉRIOS AO CONCRETO EM AMBIENTE SIDERÚRGICO ....................... 71 5.3.1 Recebimento, armazenamento e manipulação de matérias primas.......................... 73 5.3.2 Sinterização e Pelotização ......................................................................................... 74 5.3.3 Coqueria ..................................................................................................................... 75 5.3.4 Alto Forno ................................................................................................................... 77 5.3.5 Aciaria......................................................................................................................... 78 6. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 80 6 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Lei de evolução de custos, lei de Sitter. Fonte: HELENE, 2005. ...............17 FIGURA 2: Formação de sais solúveis e insolúveis através dos ácidos. Fonte: HELENE, 2005..............................................................................................................20 FIGURA 3: Influência da relação água/cimento e do grau de hidratação sobre a resistência e a permeabilidade. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 1994. .........................23 FIGURA 4: Causas físicas da deterioração do concreto. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008.........................................................................................................24FIGURA 5: Influência da relação água/cimento e tipo do agregado da deterioração por abrasão-erosão no concreto. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 1994........................25 FIGURA 6: Efeito do tipo de agregado e condições de ensaio sobre a resistência ao fogo. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008, citando ABRAMS, M.S., Temperature and Concrete, ACI SP-25, pp. 33-58, 1973.............................................30 FIGURA 7: Tipos de reações químicas responsáveis pela deterioração do concreto. Fonte: MEHTA, 2008.....................................................................................33 FIGURA 8: (a) Representação diagramática da expansão de argamassa ou concreto causada pela formação de etringita tardia. (b) Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura de uma argamassa atacada por DEF. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. .......................................................................................38 FIGURA 9: Enfoque holístico para expansão e fissuração por formação de etringita tardia. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. ...................................................38 FIGURA 10: Efeitos do tipo e consumo de cimento e da adição de cinzas volantes sobre o ataque por sulfato ao concreto. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. ............40 FIGURA 11: Representação esquemática das patologias típicas observadas em vigas de concreto armado afetadas por corrosão. Fonte: HELENE, 2005. ..................45 7 FIGURA 12: Expansão e fissuração do concreto devidas à corrosão da armadura. Fonte: MEHTA, 2008. ...................................................................................................47 FIGURA 13: Avanço do processo de carbonatação. Fonte: FIGUEIREDO, 2005. ......52 FIGURA 14: Esquema de variação do teor crítico de cloretos em função da qualidade do concreto e umidade do ambiente. Fonte: FIGUEIREDO, 2005...............53 FIGURA 15: Representação diagramática dos danos ao concreto por (a) corrosão da armadura, (b) ciclos de congelamento e degelo. (c) reação álcali-sílica, (d) ataque externo por sulfato. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. ...............................54 FIGURA 16: Um modelo holístico de deterioração do concreto a partir dos efeitos ambientais mais freqüentes. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. ..............................55 FIGURA 17: Representação esquemática de um cilindro de concreto armado exposto à água do mar. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. .....................................59 FIGURA 18: Layout atual da Usina Siderúrgica Gerdau Açominas. Fonte: GERDAU, 2008.............................................................................................................60 FIGURA 19: Seção transversal de um alto-forno moderno. Fonte: www.ufsc.br. ........64 FIGURA 20: Seção transversal de uma instalação de alto-forno, incluindo o equipamento auxiliar principal. Fonte: www.ufsc.br......................................................64 FIGURA 21: Processos pneumáticos para produção de aço, a partir do ferro gusa. Fonte: www.ufsc.br. ......................................................................................................68 FIGURA 22: Fluxo de produção atual da Usina Siderúrgica da Gerdau Açominas. Fonte: GERDAU, 2008..................................................................................................71 FIGURA 23: Balanço energia/materiais para sinterização. Fonte: OLIVEIRA, 2004. ..74 FIGURA 24: Esquema de principais produtos obtidos pela destilação do carvão e sua distribuição porcentual. Fonte: ARAÚJO, 2005......................................................76 FIGURA 25: Balanço energia/materiais para coqueria. Fonte: OLIVEIRA, 2004.........77 FIGURA 26: Balanço energia/materiais para alto forno. Fonte: OLIVEIRA, 2004........77 FIGURA 27: Balanço energia/materiais para aciaria. Fonte: OLIVEIRA, 2004. ...........78 8 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Classes de Agressividade Ambiental. .......................................................13 TABELA 2: Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto. .......................................................................................................................14 TABELA 3: Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal para ∆c = 10 mm. .........................................................................14 TABELA 4: Características do cimento Portland. ........................................................18 TABELA 5: Ataque ácido ao concreto..........................................................................21 TABELA 6: Rochas, minerais e constituintes sintéticos reativos deletérios. ...............42 TABELA 7: Quantidade de cloretos livres em relação a diversos teores de C3A. .......49 TABELA 8: Principais fatores que condicionam a velocidade de penetração da frente de carbonatação. ................................................................................................51 TABELA 9: Teor limite de cloreto para diversas normas. ............................................53 TABELA 10: Desempenho do concreto exposto à água do mar. ................................56 TABELA 11: Emissões em unidades de processos siderúrgicos. ...............................73 9 RESUMO A durabilidade das estruturas de concreto é um tema atual e complexo, onde uma gama enorme de variáveis afetará a vida útil da construção. Dentre estas variáveis podemos citar a fase de projeto (principalmente arquitetônico e estrutural), a concepção dos materiais e dos processos construtivos e a utilização e manutenção da construção finalizada. Ambientes industriais possuem uma série de agentes deletérios ao concreto. Em usinas siderúrgicas, tema deste trabalho, o ambiente possui uma série de agentes agressivos, como altas temperaturas (até 1500ºC), gases, impactos, águas residuais, vapores, entre outros. Quando estes agentes são desconhecidos ou desconsiderados por parte dos engenheiros projetistas ou construtores, o resultado são obras que não atendem o requisito mínimo de durabilidade, qualidade e vida útil. Estes fatores, associados à ausência de manutenção, possuem como conseqüência principal um alto custo com a recuperação da estrutura. Primeiramente, será feita uma revisão bibliográfica a respeito de durabilidade de estruturas de concreto. Logo após, serão identificados os principais agentes deletérios ao concreto em ambiente siderúrgico. De posse dessas informações, teremos alguns parâmetros para projetar e construir em usinas siderúrgicas com maior qualidade e durabilidade, atingindo a vida útil desejada. 10 1. INTRODUÇÃO Durabilidade de estruturas de concreto pode ser entendida como a vida útil para qual a estrutura foi projetada, sem alterar sua forma original, sua qualidade e capacidade quando exposta ao meio ambiente. Nos últimos anos, além da preocupação com a resistência do concreto, a durabilidade também tem sido enfoque de engenheiros e projetistas. Patologias prematuras vêm ocorrendo em estruturas de concreto residenciais, comerciais e industriais, trazendo riscos, desconforto e altos custos de recuperação. Através do conhecimento dos principais mecanismos de deterioração do concreto, podemos diagnosticar a maior parte dos problemas patológicos das estruturas. Houve uma revisão na norma NBR 6118/2003, “Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento”, em função da durabilidade de estruturas de concreto. Além de abordar a segurança estrutural e sua funcionalidade, agora trata também da durabilidade da estrutura. A água está sempre envolvida no processode deterioração do concreto, por meio da porosidade do material. Essa permeabilidade do material define o quanto ele pode se deteriorar. Quanto maior a permeabilidade do concreto, mais sujeito às ações da água e de meios agressivos ele estará, e mais rápido se deteriorará. A durabilidade do concreto poderá ser prejudicada através de efeitos físicos (como desgaste da superfície, fissuras causadas por pressão de cristalização de sais nos poros ou exposição às baixas ou altas temperaturas) ou por efeitos químicos (lixiviação, reações álcalis-agregados, corrosão das armaduras e reações expansivas envolvendo ataques por sulfatos). Ressalta-se que a deterioração do concreto está geralmente associada a mais de um fenômeno, o que nos chama a atenção para não diagnosticar erroneamente uma patologia. Como a durabilidade afeta diretamente nos custos das construções, a necessidade de reforço e reparo em estruturas tem feito com que os engenheiros se conscientizem da importância do tema. Além disso, a conscientização sustentável de preservação das matérias-primas resulta em uma menor demanda de materiais para reposição. Quando materiais duráveis são produzidos e reciclam-se os que já existem, diminui-se o impacto ecológico. Cada vez mais o 11 concreto é exposto a ambientes muito agressivos, tal qual ocorre em usinas siderúrgicas – que são o foco do presente trabalho. Em ambientes siderúrgicos, essa agressividade do meio é muito mais intensa, devido à presença de impactos na estrutura, vapores, altas temperaturas (até 1500ºC), águas agressivas (ex. desmineralizada) e outros agentes como o gás carbônico (CO2), dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOX), além da interação entre esses elementos (sinergia). Por isso uma maior preocupação em definir o melhor tipo de concreto para resistir ao ataque desses agentes. Quando eles não são considerados na concepção da estrutura de concreto nas usinas siderúrgicas, estas estruturas não irão atingir a vida útil desejável, resultando em altos gastos com a recuperação da obra deteriorada. O seguinte trabalho trata de uma revisão bibliográfica sobre durabilidade de estruturas de concreto. Esta durabilidade será enfocada no ambiente siderúrgico em função dos efeitos deletérios que ele proporciona, principalmente nos processos de fabricação de sínter, coque, ferro-gusa e aço. 2. OBJETIVO Este trabalho visa fazer uma análise a respeito da durabilidade de estruturas de concreto em espaços siderúrgicos, buscando na doutrina os principais mecanismos de deterioração do concreto, além dos principais agentes deletérios ao concreto presentes em usinas siderúrgicas. O principal objetivo é obter parâmetros para construir em ambiente siderúrgico com maior qualidade, durabilidade e vida útil. 12 3. ASPECTOS REFERENTES À DURABILIDADE NA NBR 6118:2003 A Norma Brasileira NBR 6118/2003, “Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento” abordava, originalmente, a segurança estrutural e sua funcionalidade. Esta nova versão aborda também a durabilidade da estrutura e trata de algumas diretrizes para a durabilidade e qualidade das estruturas de concreto. Alguns fatores justificaram ou motivaram as modificações feitas nas normas de concreto, dentre os quais podemos citar: as concepções arquitetônicas mais esbeltas, a evolução da tecnologia dos materiais, a utilização de programas estruturais mais complexos, a busca da qualidade e segurança das estruturas e a melhoria e garantia da durabilidade das estruturas, em prol dos direitos do consumidor. A maior parte dos problemas que ocorrem nas construções, cerca de 50%, advém de erros em projetos. A redução sistemática desses erros acontece através da utilização correta de normas técnicas reconhecidas, que priorizam requisitos de segurança, durabilidade e funcionalidade da estrutura. Desde a última revisão da Norma Brasileira NBR 6118, vários autores vêm estudando e avaliando quais os principais impactos que as modificações da Norma tiveram na durabilidade das construções. Para o Professor José Celso da Cunha, as principais inovações da nova norma foram: a) “Garantia da qualidade do projeto e das estruturas e os requisitos para a sua obtenção; b) Durabilidade das estruturas, com enfoque incisivo sobre essa questão; c) Limites para dimensões, deslocamentos e aberturas de fissuras, enfocando razões construtivas, validade das teorias e compatibilidade de funcionamento; d) Análise estrutural, com alerta sobre o campo de validade e condições especiais de aplicação; e) Instabilidade e efeitos de segunda ordem, classificando com maior precisão os fenômenos envolvidos e os procedimentos para cada situação; f) Região e elementos especiais, sinalizando princípios de dimensionamento e detalhamento das regiões de descontinuidade.” (CUNHA, 2004) Para a definição de alguns parâmetros de projeto, deve-se determinar a classe de agressividade do ambiente a que o material está inserido, de acordo com a Tabela 1, retirada da Norma NBR 6118/2003: TABELA 1: Classes de Agressividade Ambiental. Fonte: NBR 6118/2003. A agressividade ambiental está relacionada às ações físicas e químicas deletérias ao concreto, não estando relacionada às ações mecânicas, aos efeitos da temperatura e a retrações hidráulicas. Através da classificação da classe de agressividade ambiental, a Norma NBR 6118/2003 define os requisitos mínimos que o concreto necessita para garantir uma boa durabilidade, referentes à relação água/cimento e a resistência à compressão do concreto, de acordo com a Tabela 2. 13 TABELA 2: Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto. Fonte: NBR 6118/2003. Também definido pela classe de agressividade ambiental, o cobrimento mínimo a ser adotado para estruturas de concreto armado e protendido estão exemplificados na Tabela 3, de acordo com a Norma NBR 6118/2003. TABELA 3: Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal para ∆c = 10 mm. Fonte: NBR 6118/2003. Outras medidas definidas pela Norma NBR 6118/2003 nos proporcionam diretrizes para um concreto de maior durabilidade, tais como a dimensão máxima característica do agregado graúdo e o detalhamento da armadura, por exemplo. 14 15 4. DURABILIDADE DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO Até a última atualização da NBR 6118/2003, a característica do concreto que os projetistas julgavam como mais relevante era sua resistência, pois fornece uma indicação da qualidade do material, uma vez que está diretamente relacionada à estrutura da pasta de cimento endurecida. Contudo, devido à incidência sistemática de problemas patológicos nas estruturas de concreto, tornou-se essencial a conscientização sobre a durabilidade deste material. O concreto é um material constituído por cimento, areia, brita e aditivos. De acordo com RIBEIRO, PINTO e STARLING (2000), “A proporção de seus componentes (dosagem ou traço) deve atender às condições requeridas de resistência, trabalhabilidade e durabilidade, que são propriedades fundamentais do concreto.” As características de cada um dos constituintes do concreto influenciarão significativamente na durabilidade do material, modificando suas propriedades, tais como: a compacidade, a porosidade, permeabilidade e capilaridade. O concreto deve ser produzido de forma homogênea, onde os agregados miúdos e graúdos devem ser totalmente envolvidos pela pasta de cimento. Para RIBEIRO, “a falta de homogeneidade acarreta um sensível decréscimo da resistência mecânica e da durabilidade”. O concreto é um materialnão inerte, e está sujeito, ao longo do tempo, às interações entre seus elementos constituintes e os agentes externos. Para RIBEIRO, PINTO e STARLING “um concreto durável é aquele que resiste às condições para o qual foi projetado, sem deterioração, por muitos anos”. O processo de deterioração pode resultar em anomalias, podendo comprometer o desempenho da estrutura, provocar efeitos estéticos indesejáveis e causar desconforto psicológico ao usuário, além de altos custos para a sua recuperação. A água é um dos principais agentes do processo de deterioração do concreto. O ritmo desse processo será definido pela vulnerabilidade aos agentes externos (presentes na água e no ar), ou seja, será diretamente proporcional à sua permeabilidade. A durabilidade do concreto pode ser afetada por efeitos físicos 16 (como desgaste da superfície, fissuras causadas por pressão de cristalização de sais nos poros ou exposição às baixas ou altas temperaturas) e por efeitos químicos (lixiviação, reações álcalis-agregados, corrosão das armaduras e reações expansivas envolvendo ataques por sulfatos). 4.1 Definição A durabilidade abrange o estudo em diversas áreas, tais como Engenharia, Materiais de Construção, Estatística, Química, Física, entre outras. Por isso, definir durabilidade é tão complexo. Segundo MEHTA e MONTEIRO (2008), “uma vida útil longa é considerada sinônimo de durabilidade”. Esta característica de estruturas de concreto pode ser entendida como a vida útil para a qual a estrutura foi projetada, perpetuando suas propriedades químicas e físicas, sua forma original, a qualidade do material e a capacidade de utilização quando exposto ao ambiente externo. Já o fim da vida útil do material pode ser definido como o período em que suas propriedades se deterioram devido à ação do meio ao qual ele está inserido, chegando a um colapso estrutural, economicamente inviável de ser corrigido. No conceito da Norma NBR 6118/2003, “Durabilidade consiste na capacidade de a estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de elaboração dos projetos.” 4.2 Importância Atualmente, durabilidade, resistência e custo das estruturas vêm sendo tratadas com igual importância. Como a durabilidade afeta diretamente o custo das construções, a necessidade de reforço e reparo em estruturas tem feito com que os engenheiros se conscientizem da importância do tema. Segundo HELENE (2005), “pode-se afirmar que as correções serão mais duráveis, mais efetivas, mais fáceis de executar e muito mais econômicas quanto mais cedo forem executadas”. A lei de Sitter (Figura 1) divide as etapas construtivas em quatro períodos: projeto, execução, manutenção preventiva (efetuada nos cinco primeiros anos) e a manutenção corretiva (efetuada após surgimento dos problemas). A lei diz que o impacto dos custos de um erro detectado em cada uma destas etapas construtivas corresponderá a um custo que segue uma progressão geométrica de razão cinco. FIGURA 1: Lei de evolução de custos, lei de Sitter. Fonte: HELENE, 2005. Além disso, a conscientização sobre a utilização sustentável das matérias-primas resulta em uma menor demanda de materiais para reposição. Quando materiais duráveis são produzidos e reciclam-se os que já existem, diminuem-se os impactos ambientais. Por fim, outro aspecto a ser considerado é que, cada vez mais, o concreto é exposto a ambientes muito agressivos, como plataformas marítimas, usinas siderúrgicas, temperaturas criogênicas, recipientes para a manipulação de gases liquefeitos e câmaras de reação a alta pressão na indústria nuclear. 4.3 Considerações Gerais A deterioração do concreto está geralmente associada a mais de um fenômeno. Entre os principais agentes de deterioração do concreto, podemos citar: temperaturas; a água em todos os seus estados; agentes provenientes do ar; gases (como, por exemplo, CO2, NO2, O2); agentes químicos (cloretos e sulfatos); 17 18 ação de sobrecargas na estrutura, abrasão, entre outros. É importante destacar que mais de um agente de deterioração pode atuar simultaneamente no concreto. A análise em separado de cada fenômeno de deterioração impede a percepção da interação desses fenômenos na estrutura, o que pode levar a um erro de diagnóstico da patologia. O cimento utilizado na composição do concreto deve ser escolhido de acordo com o volume a ser concretado, com o ambiente agressivo a que ele vai estar inserido, entre outros aspectos, de acordo com a Tabela 4: TABELA 4: Características do cimento Portland. CIMENTO CARACTERÍSTICAS CP I Cimento Portland comum Pode ser empregado em qualquer elemento estrutural. CP II Cimento Portland composto Existem variações, sendo: CP II-E – com escória: baixo teor de hidratação, baixo calor de hidratação, tempo de início de pega mais tardio, mais durabilidade em meio agressivo. CP II-Z – com pozolana: Tempo de início de pega mais tardio, melhor resistência aos sulfatos. CP II-F – com filer. CP III Cimento Portland de alto forno É o cimento Portland comum moído com escória de alto forno. - baixo calor de hidratação; - baixa resistência nas primeiras idades; - aumento da resistência em idades maiores; - tempo de início de pega mais tardio; - apresenta boa resistência a ambientes agressivos. CP IV Cimento Portland pozolânico - baixo calor de hidratação; - apresenta boa resistência a ambientes agressivos; - baixa resistência nas primeiras idades; - calor de hidratação baixo, é indicado para obras. CP V Cimento Portland de alta resistência inicial - não possui adição de escória ou pozolana; - é mais fino; - elevada resistência inicial; - elevado calor de hidratação. Fonte: OLIVEIRA, C. A. S. – 2007. 19 4.4 Água como Agente de Deterioração Encontrada em abundância na natureza sob a forma de água do mar, lençóis subterrâneos, rios, lagos, chuva, neve e vapor, a água é o principal agente de deterioração dos materiais. No concreto, a água pode ser encontrada na água de amassamento, de lavagem dos agregados e a utilizada no processo de cura. A água utilizada no amassamento deve estar livre de impurezas, como açúcar (que atrasa o tempo de pega), matéria orgânica (como algas, por exemplo), óleos (que reduz a resistência) e cloretos e sulfatos (que atacam os silicatos de cálcio e as armaduras). O pH da água deve estar entre 6 e 9. A água utilizada no processo de cura deve apresentar o mesmo padrão de qualidade da água de amassamento. A cura é um processo extremamente importante para a durabilidade das estruturas, uma vez que evita o fenômeno de retração, impedindo que a água interna ao concreto não evapore antes de ser completada a hidratação dos grãos de cimento. Quando o processo de cura é ineficiente, o material final apresenta uma menor resistência, aumenta-se a permeabilidade através do aparecimento de trincas e fissuras e, conseqüentemente, a durabilidade é diminuída. É importante garantir que a água de lavagem dos agregados seja eliminada, dentro do possível, antes da composição do concreto, uma vez que essa água irá alterar o traço previsto em projeto. Nos solos, podem ser encontradas águas ácidas naturais, principalmente em regiões pantanosas ou úmidas, onde se encontra grande decomposição de matéria orgânica. A acidez destas águas naturais se deve à presença de anidrido carbônico (CO2) dissolvido, encontrado em grande quantidade em águas minerais, águas do mar e águas subterrâneas (com presença de decomposição de material vegetal e animal).As águas ácidas também são encontradas em regiões próximas a solos de aterros ou em lugares onde há armazenamento de resíduos de minérios. Lugares onde existam resíduos agrícolas e industriais (principalmente advindos da indústria alimentícia ou de processamento de animais) podem gerar condições altamente ácidas. Quando a água ácida entra no concreto, pode haver dois tipos de conseqüências. Primeiramente, se os sais que serão formados forem insolúveis e expansivos, o concreto pode vir a se deteriorar. Para o caso em que os produtos forem solúveis, a porosidade do concreto pode aumentar gradativamente, acelerando o processo de desgaste do material. (Figura 2) FIGURA 2: Formação de sais solúveis e insolúveis através dos ácidos. Fonte: HELENE, 2005. BAUER (2000) ensina que “A nocividade dos ácidos varia com sua força. Os ácidos minerais fortes, tais como ácido clorídrico, ácido nítrico, ácido sulfúrico, põem em solução todos os constituintes do cimento com formação de sais de cálcio, de alumínio e de ferro. Os ácidos fracos, como, por exemplo, o ácido carbônico, não podem formar sais senão com a cal, mas não com a alumina e o óxido de ferro, de sorte que os hidróxidos de ferro e de alumínio subsistem.” A Tabela 5 exemplifica ácidos que formam sais solúveis e insolúveis: 20 TABELA 5: Ataque ácido ao concreto. Fonte: HELENE, 2005. Todas as águas são agressivas ao concreto. Segundo RIPPER e SOUZA (1998), alguns fatores são determinantes para definir se ela será mais ou menos agressiva: “... quando a água está em movimento, há variação freqüente do nível da água, a temperatura da água é superior a 45ºC, a água está poluída com produtos químicos ou por esgotos residenciais e as peças de concretos são delgadas. (...) As águas quimicamente puras, tais como a água da chuva (exceto a chuva ácida) e a água de poços em regiões silicosas, não contêm sais dissolvidos e, por isto, tendem a agredir o concreto, tornando-o mais poroso e diminuindo, consequentemente, a sua resistência.” Como as águas possuem moléculas muito pequenas, penetram em poros extremamente finos. É o principal solvente e, devido à presença de íons e gases em algumas águas, estas são capazes de decompor quimicamente um material sólido. MEHTA e MONTEIRO ensinam que “a água possui maior temperatura de evaporação entre os líquidos comuns, por isso ela permanece líquida dentro de materiais ao invés de evaporar e deixar o material seco.” 21 22 4.5 Permeabilidade A água é essencial para as estruturas de concreto desde o começo do processo, onde ela atua hidratando o cimento e dando a trabalhabilidade necessária para sua confecção. Com o passar do tempo e de acordo com as condições ambientais, a água evaporável do concreto será perdida, deixando os poros vazios ou não saturados. Este processo pode criar microfissuras internas ao concreto, que seria o caminho que a água percorreu para sua evaporação. Após a secagem do concreto, se houver pouca ou nenhuma água evaporável no material, este não será passível de fenômenos deletérios relacionados à água. Permeabilidade, segundo MEHTA e MONTEIRO, é definida como “a propriedade que governa a taxa de fluxo de um fluido para o interior de um sólido poroso”. 4.5.1 Permeabilidade do concreto O concreto é necessariamente um material poroso. A interação entre pasta de cimento e agregados produz uma zona de transição no concreto. A exsudação será alterada de acordo com o tamanho e a granulometria dos agregados, alterando a resistência nestes pontos. Por exemplo, na fase de hidratação do concreto, a transição entre os materiais é fraca à fissuração, devido à retração do material e às cargas aplicadas. Por isso a permeabilidade é maior em materiais compostos por agregados, do que na pasta de cimento. Estas fissuras da fase de transição são mais largas que a da pasta de cimento, aumentando a permeabilidade do concreto como um todo. Tanto a resistência do material quanto a sua permeabilidade estão associadas através da porosidade capilar, de acordo com a Figura 3, e são inversamente proporcionais. Existem várias formas para reduzir a permeabilidade do concreto: reduzir a relação água/cimento, lançar o material de acordo com procedimentos normativos, controlar o processo de cura rigorosamente, controlar o tamanho e a granulometria do agregado, impedir aplicação de cargas em fases prematuras, etc. Todas essas recomendações previnem o aparecimento de microfissuras internas na zona de transição, fazendo com que o material possua uma menor permeabilidade. FIGURA 3: Influência da relação água/cimento e do grau de hidratação sobre a resistência e a permeabilidade. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 1994. 4.6 Classificação das Causas da Deterioração do Concreto As causas físicas de deterioração do concreto são classificadas, de acordo com MEHTA e MONTEIRO, citando GERWICK, pela Figura 4. De acordo com a Figura 4, as causas químicas de deterioração do concreto podem ser classificadas em três categorias: • Hidrólise dos componentes da pasta de cimento por água pura • Trocas iônicas entre fluidos agressivos e a pasta de cimento • Reações causadoras de produtos expansíveis (expansão por sulfatos, reação álcali-agregado, corrosão da armadura do concreto). 23 FIGURA 4: Causas físicas da deterioração do concreto. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. 4.7 Deterioração por Desgaste Superficial Existem três processos que provocam o desgaste superficial do material, fazendo com que ele perca massa: • Por abrasão: desgaste por atrito seco (desgaste por tráfego de veículos) • Por erosão: desgaste pela ação abrasiva de fluidos com partículas sólidas (vertedouros, tubulação para transporte de água e esgoto, etc.) • Por cavitação: desgaste pela ação de bolhas de vapor. À medida que fluem na água e entram em uma região de maior de maior pressão, elas implodem com grande impacto pela entrada de água a alta velocidade nos espaços antes ocupados pelo vapor, causando severas erosões localizadas. O concreto é um material sensível ao desgaste superficial, pois seus constituintes não possuem alta resistência ao desgaste. Este processo se agrava quando a pasta de cimento possui uma baixa resistência e alta porosidade e o agregado não é resistente ao desgaste. A Figura 5 nos mostra a relação entre fator água/cimento e a resistência do concreto à abrasão. De acordo com as conclusões do Comitê 201 do American Concrete Institute, citadas por MEHTA e MONTEIRO, para obter resistência à abrasão em superfícies de concreto, a 24 resistência à compressão do concreto deve ser no mínimo de 28 MPa. Uma resistência adequada pode ser obtida utilizando uma baixa relação água/cimento, granulometria apropriada de agregados graúdos e miúdos e baixa consistência para lançamento e adensamento. FIGURA 5: Influência da relação água/cimento e tipo do agregado da deterioração por abrasão- erosão no concreto. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 1994. Fluidos com sólidos em suspensão, pela ação de colisão, escorregamento ou rolagem das partículas, causarão o desgaste superficial. O material vai se desgastar em função de vários fatores, como porosidade e resistência do concreto, além de algumas características dos sólidos em suspensão, como sua velocidade, tamanho, quantidade, massa específica e dureza. Para condições de graves erosões, recomenda-se a utilização de agregados com alta dureza, que o concreto possua aos 28 dias uma resistência à compressão mínima de 41 MPa, além de ser feito o processo de cura correto antes de se colocar a estruturaativa. Algumas ações podem ser tomadas para aumentar a durabilidade do concreto à abrasão ou erosão. Como o desgaste é superficial, o concreto na superfície deve ser de alta qualidade, evitando a nata (camada de finos de cimento e agregado). Os pavimentos e pisos industriais, sujeitos a altos carregamentos, devem ser devidamente projetados para obterem uma boa camada superficial, feita com uma baixa relação água/cimento e agregados de alta dureza. A adição de alguns materiais nesta camada superior pode melhorar o desempenho ao desgaste, como endurecedores minerais e/ou químicos, ou a utilização de concretos 25 26 especiais (por exemplo, com fibras de aço). Podemos citar como opções, aditivos de látex ou superplastificantes e microssílicas. Um concreto de qualidade, que atenda às condições de durabilidade à abrasão ou erosão, não será eficaz para o desgaste por cavitação. Para solucionar problemas devido à cavitação deve-se optar por remover a causa do desgaste. 4.8 Cristalização de Sais nos Poros Algumas estruturas, quando submetidas à perda de umidade, por um lado, e que estiverem em contato, do outro lado, por soluções contendo sal, podem se deteriorar pela cristalização dos sais nos poros. O grau de deterioração será medido de acordo com a localização da cristalização, determinada pela taxa de água que evapora e a taxa de sal que entra na microestrutura. Para taxas de evaporações menores que as taxas de fornecimento de água, a cristalização do sal ocorrerá na superfície externa, sem causar danos à estrutura. Quando a taxa de migração da solução de sal dentro do material é mais lenta que a velocidade de reposição, a cristalização do sal ocorrerá internamente à estrutura, o que pode resultar em uma expansão do material, causando descamamento ou lascamento. 4.9 Ação do Congelamento Em lugares onde o clima é mais frio, a estrutura de concreto pode sofrer a ação do congelamento, onde a eventual deterioração gera um alto custo de reparo. A deterioração do concreto por congelamento pode estar associada à microestrutura do material, mas também à ação de condições ambientais específicas. Os danos mais comuns causados pela ação do ciclo gelo-degelo são as fissuras e lascamento do concreto, oriundos da expansão da pasta de cimento. 27 Uma solução eficiente para reduzir o congelamento do material tem sido a incorporação de ar através da utilização de aditivos específicos. 4.10 Efeito do Fogo Incluído nos projetos multidisciplinares de Engenharia, está o projeto de combate ao incêndio. O fogo é um agente agressivo e perigoso, e as estruturas de madeira, aço e plásticos não possuem boa resistência a grandes incêndios. O concreto, ao contrário, não é combustível e não emite gases tóxicos quando exposto às altas temperaturas, embora seja um compósito, em que cada um de seus constituintes vai reagir de forma diferente à ação do fogo. Estruturas em concreto suportam temperaturas da ordem de 700 a 800ºC conservando resistência suficiente em um tempo hábil para que os resgates sejam feitos sem o colapso da estrutura. Essa segurança já não pode ser considerada em estruturas de aço, por exemplo. Vários fatores são responsáveis pela resistência do concreto ao fogo, dentre os quais se destacam: • A composição do concreto, pois tanto a pasta de cimento quanto o agregado são constituintes que se decompõem com altas temperaturas; • A permeabilidade do concreto, o tamanho do elemento e a taxa de aumento da temperatura são importantes, pois determinam as pressões internas geradas pelos produtos de decomposição gasosa. 4.10.1 Efeito da alta temperatura na pasta de cimento hidratada O aumento de temperatura na pasta de cimento hidratada depende do grau de hidratação e do estado de umidade. Uma pasta de cimento Portland bem hidratada é formada principalmente por silicatos de cálcio hidratados (C-S-H), hidróxido de cálcio e sulfoaluminatos de cálcio hidratados. Quando a pasta está saturada, ela terá grande quantidade de água livre, água capilar e água adsorvida. Com o aumento da temperatura, os tipos de água são perdidos 28 rapidamente, e a temperatura do concreto aumentará somente quando toda a água evaporável tiver sido removida. Quando a taxa de aquecimento for alta e a permeabilidade da pasta de cimento for baixa, a presença de grande quantidade de água evaporável pode causar danos ao concreto. Estes danos aparecerão sob a forma de lascamentos superficiais, ocasionados pela pressão de vapor dentro do material. 4.10.2 Efeito da alta temperatura no agregado Algumas características do agregado, como sua porosidade e mineralogia, exercem uma importante influência sobre o concreto exposto às altas temperaturas. Características como a taxa de aquecimento e dimensão, permeabilidade e umidade do agregado, implicarão em uma expansão destrutiva do agregado. Quando eles possuem baixa porosidade, podem ficar livres de problemas relacionados a movimento da umidade interna. Os agregados silicosos que contêm quartzo (granito ou arenito) podem danificar o concreto a uma temperatura de 573ºC, pois, nesta temperatura, a transformação do quartzo de α para β resulta em uma expansão da ordem de 0,85%. Para rochas carbonáticas, situação idêntica ocorre acima de 700ºC, resultado da reação de descarbonatação. A transformação de fase do material, a sua decomposição térmica e a mineralogia do agregado determinam como o concreto vai reagir ao fogo. MEHTA e MONTEIRO (2008) exemplificam que “a mineralogia do agregado determina as expansões térmicas diferenciais entre o agregado e a pasta de cimento e a resistência última da zona de transição na interface.” 4.10.3 Efeito da alta temperatura no concreto Corpos-de-prova de concreto primeiramente com resistência na faixa de 27 MPa, submetidos a temperaturas de até 870ºC com curta duração, são avaliados segundo a resistência à compressão (Figura 6). A análise é feita segundo o tipo de agregado (carbonático, silicoso ou leve de argila expandida) e condições de ensaio, divididas em três etapas: corpo-de-prova “aquecido sem prévio carregamento e ensaiado quente; aquecido com carregamento equivalente ao 29 nível de tensão de ruptura de 40% e ensaiado quente; e ensaiado sem carregamento prévio após resfriamento em temperatura ambiente”. (MEHTA e MONTEIRO, 2008) Para os corpos-de-prova aquecidos sem carregamento prévio e ensaiados quentes (Figura 6a), os que contêm agregado de origem carbonática e agregado arenoso leve (considerando que 60% do agregado miúdo foi substituído por areia natural), conseguem reter mais de 75% da resistência inicial a temperaturas de 650ºC. Os corpos-de-prova contendo agregados silicosos, a uma mesma temperatura, conseguem reter apenas 25% da resistência inicial e conservam 75% da resistência original apenas até a temperatura de 427ºC. Segundo MEHTA e MONTEIRO (2008), “o melhor desempenho dos concretos contendo agregado carbonático ou agregado leve frente a uma temperatura mais alta de exposição pode ser devido à zona de transição na interface mais forte quanto à menor diferença nos coeficientes de dilatação térmica entre a matriz argamassa e o agregado graúdo.” Para os corpos-de-prova aquecidos com carregamento prévio e ensaiados quentes (Figura 6b), as resistências superaram em 25% os valores encontrados para o ensaio sem o carregamento, mas a superioridade dos concretos constituídos por agregados carbonáticos ou leves ainda está em evidência. Corpos-de-prova sem carga, aquecidos a 650ºC e ensaiados quentes (a), mostram que o concreto que contém agregado de calcárioou agregado leve mantém 75% da resistência original, enquanto que o concreto contendo agregado silicoso mantém apenas 25% da sua resistência. Quando carregados a 40%da sua resistência (b), uma tendência semelhante foi observada, embora todas as resistências tenham ficado cerca de 25% mais altas. No entanto, de acordo com a Figura 4c, independentemente do tipo de agregado, todos os concretos mostraram considerável perda de resistência no resfriamento. FIGURA 6: Efeito do tipo de agregado e condições de ensaio sobre a resistência ao fogo. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008, citando ABRAMS, M.S., Temperature and Concrete, ACI SP-25, pp. 33-58, 1973. Já o efeito da mineralogia do agregado na resistência do material (Figura 6c) foi reduzido significativamente para corpos-de-prova ensaiados após resfriamento a 21ºC, provavelmente devido a uma microfissuração da zona de transição na interface, resultado de uma retração térmica. “Esta microfissuração provoca um 30 31 efeito mais danoso sobre a resistência à flexão e módulo de elasticidade do que sobre a resistência à compressão do concreto”. (MEHTA e MONTEIRO, 2008) Para concretos com resistência entre 23 e 45 MPa, a resistência inicial do material não influiu significativamente na porcentagem de resistência à compressão que o material obtinha após a exposição de altas temperaturas. 4.10.4 Efeito do concreto de alta resistência exposto ao fogo Pesquisas demonstram que o concreto de alta resistência possui comportamento diferente do concreto de resistência normal. O concreto de alta resistência é mais sensível a altas temperaturas, possuindo uma maior tendência de lascamentos explosivos. As normas existentes para projeto de incêndio levam em consideração o concreto convencional, podendo não ser estas normas adequadas à utilização do concreto de alta resistência, pois os procedimentos não consideram possibilidade desse processo de lascamento explosivo. Pesquisas demonstram que alguns fatores influenciam nesta característica, como as condições de carregamento, as dosagens do concreto, a resistência à compressão original e o teor de umidade. O lascamento do concreto de alta resistência pode reduzir a capacidade estrutural e até prejudicar as atividades de combate ao incêndio e resgate. A tendência ao lascamento aumenta proporcionalmente com o teor de umidade, com a impermeabilidade do concreto, com a tensão de compressão por carregamento externo, com a elevação da temperatura, com a distribuição assimétrica de temperatura e com a concentração de armaduras e é inversamente proporcional às seções transversais. Os mecanismos de lascamento estão associados às pressões de vapor, às tensões geradas por cargas térmicas e variações volumétricas devido à transformação de fase no agregado. O lascamento explosivo tem como principal agente a alta pressão nos poros, já que não é um processo comum em concretos secos. Quando surgem fissuras nos concretos de alto desempenho, elas diminuem a pressão nos poros, pois o vapor passa a ganhar espaço. Os concretos de alto desempenho são mais susceptíveis 32 ao desenvolvimento de fissuração frágil e, como conseqüência, ao lascamento explosivo quando expostos a altas temperaturas. 4.11 Deterioração do Concreto por Reações Químicas Geralmente a deterioração química do concreto é causada pela reação química direta dos agentes externos com os constituintes da pasta de cimento. Mas pode ocorrer deterioração química internamente ao concreto, como é o caso da reação álcali-agregado (reação entre os álcalis que existem na pasta de cimento com alguns minerais reativos do agregado), a hidratação tardia do CaO e MgO cristalinos, quando em excesso no cimento Portland, e a formação de etringita tardia. A fase sólida de um cimento Portland bem hidratado inclui hidratos de cálcio relativamente insolúveis (como o C-S-H, CH e C-A-S-H). Esta fase sólida fica em equilíbrio estável com a solução dos poros de alto pH. O pH do concreto vai variar entre 12,5 e 13,5, de acordo com a concentração de íons de Na+, K+, OH-. Como é um meio básico, o concreto estará em desequilíbrio quando exposto a um meio ácido. Para o concreto, qualquer ambiente com pH menor que 12,5 será agressivo, pois a redução da alcalinidade da solução dos poros desestabilizará os produtos de hidratação dos materiais cimentícios. Por isso, tanto águas naturais ou águas provenientes de indústrias serão agressivas ao concreto. Já a taxa de ataque químico ao concreto será função da permeabilidade do concreto e do pH do fluido em questão. Para baixas permeabilidades do concreto com pH do agente agressivo maior que 6, a taxa de ataque químico será muito lenta para ser considerada. Alguns agentes são nocivos ao concreto e diminuem o seu pH abaixo de 6: o CO2 livre em águas puras e estagnadas; íons ácidos como SO42- e Cl- presentes em águas subterrâneas e marinhas e íons H+ em algumas águas industriais. Os ataques químicos ao concreto se manifestam através de efeitos físicos nocivos (diminuição da resistência, fissuração e lascamento, aumento da porosidade e permeabilidade). Os processos químicos e físicos de deterioração do concreto podem ocorrer simultaneamente no concreto, podendo um processo até desencadear o outro. A Figura 7 mostra a divisão dos processos de deterioração do concreto por reações químicas em três subgrupos. Os fenômenos mais comuns são: ataque por sulfato, reação álcali-agregado e corrosão das armaduras, responsáveis por grande quantidade de deterioração em estruturas de concreto. A: ataque de água mole no hidróxido de cálcio e C-S-H presentes nos cimentos Portland hidratados; B(I): solução ácida formando componentes solúveis de cálcio, como cloreto de cálcio, sulfato de cálcio, acetato de cálcio ou bicarbonato de cálcio; B(II): soluções de ácido oxálico e seus sais, formando oxalato de cálcio; B(III): ataque de longa duração de água do mar enfraquecendo o C-S- H pela substituição de Ca2+ por Mg2+; C: ataque por sulfato formando etringita e gesso, reação álcali-agregado, corrosão da armadura no concreto, hidratação de MgO e CaO cristalinos. FIGURA 7: Tipos de reações químicas responsáveis pela deterioração do concreto. Fonte: MEHTA, 2008. 4.11.1 Hidrólise dos componentes da pasta de cimento Águas subterrâneas, chamadas também de águas duras, são águas de lagos e rios que, como contêm pequenas quantidades de cloretos, sulfatos e bicarbonatos de cálcio e de magnésio, não atacam o concreto. Já a água pura da condensação da neblina ou do vapor de água e a água mole da chuva ou da neve e do gelo derretidos não contêm quase nenhum íon de cálcio. Quando em contato com a pasta de cimento, estas águas tendem a hidrolisar ou dissolver os produtos que contêm cálcio. A hidrólise da pasta de cimento será interrompida quando a 33 34 solução de contato atingir o equilíbrio químico. Mas no caso de água corrente ou de infiltração sob pressão, ocorrerá uma diluição da solução de contato, favorecendo a continuidade do processo de hidrólise. Um dos constituintes da pasta de cimento mais susceptível ao processo de hidrólise é o hidróxido de cálcio, pois possui alta solubilidade em água pura (1230 mg/l). A hidrólise se manterá até que grande parte do hidróxido de cálcio seja eliminada do concreto por meio da lixiviação. Sendo assim, a pasta de cimento se torna mais sujeita à decomposição química, gerando géis de sílica e alumina com pouca ou nenhuma resistência. A lixiviação do hidróxido de cálcio não é prejudicial somente pela perda da resistência do concreto, mas proporciona também problemas estéticos. Quando o material lixiviado entra em contatocom o ar, interage com o CO2 e forma uma crosta esbranquiçada de carbonato de cálcio na superfície da estrutura, conhecido como eflorescência. 4.11.2 Reações de troca catiônica Existem três tipos de reações deletérias desencadeadas pela troca de cátions. Estas reações podem ocorrer entre soluções químicas agressivas e componentes da pasta de cimento: a) Formação de sais solúveis de cálcio; b) Formação de sais de cálcio insolúveis e não expansivos; c) Ataques químicos por soluções contendo sais de magnésio. a) Formação de sais solúveis de cálcio: As soluções ácidas contendo ânions são encontradas com grande freqüência em ambientes industriais, responsáveis pela formação de sais solúveis de cálcio. Podemos citar como exemplos efluentes da indústria química, que contêm ácido clorídrico, sulfúrico ou nítrico. Ácidos acético, fórmico ou lático são encontrados em muitos produtos alimentícios. Águas naturais com alta concentração de CO2 e refrigerantes possuem ácido carbônico, H2CO3. A troca de cátions entre os constituintes da pasta de cimento Portland e as soluções ácidas desencadeia um aumento de sais solúveis de cálcio, como o 35 cloreto de cálcio, acetato de cálcio e bicarbonato de cálcio, que são transportados por lixiviação. A troca de cátions entre o ácido carbônico e o hidróxido de cálcio presentes na pasta de cimento Portland hidratada ocorre da seguinte forma: Ca(OH)2 + H2CO3 → CaCO3 + 2H2O (1) CaCO3+ CO2 + H2O → Ca(HCO3)2 (2) Com a precipitação do carbonato de cálcio, que é insolúvel, a primeira reação termina, a menos que haja CO2 livre na água. O CO2 vai auxiliar o processo de hidrólise do hidróxido de cálcio, transformando o carbonato de cálcio em bicarbonato solúvel. Como a equação é reversível, é necessário que exista certa quantidade de CO2 para manter a equação em equilíbrio. Se a taxa de CO2 tiver acima do necessário pra equilibrar a equação, este excesso será nocivo à pasta de cimento. Este teor de CO2 está relacionado com a dureza da água, ou seja, à quantidade de cálcio e magnésio na água. b) Formação de sais de cálcio insolúveis e não-expansivos: a formação se dá através da interação entre ânions presentes em água potencialmente agressivas e a pasta de cimento. A reação entre o hidróxido de cálcio e alguns ácidos, como o oxálico, fosfórico, tartárico, hidrofluórico, tânico (C76H52O46) ou húmico, é um exemplo desse produto. Somente causará dano ao concreto quando esse produto for expansivo ou transportado por água. c) Ataques químicos por soluções contendo sais de magnésio: efluentes industriais freqüentemente possuem bicarbonato, cloreto e sulfato de magnésio, assim como as águas marítimas e subterrâneas. No contato com a pasta de cimento, estes reagem com o hidróxido de cálcio, originando os sais de cálcio solúveis. A solução MgSO4 age agressivamente na pasta de cimento, atacando os hidratos contendo alumina. Quando esta solução de magnésio permanece por um longo período na pasta de cimento, a reação age no silicato de cálcio hidratado (C-S-H), a pasta de cimento vai substituindo o íon de cálcio pelo de magnésio. Como produto dessa interação tem-se o silicato de magnésio hidratado, fazendo com que o material perca suas características cimentícias. 36 4.12 Reações Envolvendo a Formação de Produtos Expansivos Ataque por sulfato, hidratação tardia de CaO e MgO livres, reação álcali-agregado e corrosão da armadura do concreto são as principais reações químicas expansivas. Estas reações podem, a princípio, não causar nenhum problema à estrutura, mas o aumento das tensões internas pode ocasionar problemas patológicos graves à estrutura. 4.12.1 Ataque por sulfato Não é difícil encontrar águas potencialmente deletérias ao concreto por efeito de sulfatos. O sulfato está presente em muitos tipos de solo na forma de gipsita (CaSO4 . 2H2O) em pequenas quantidades, sendo inofensivo ao concreto. A concentração de sulfatos em águas subterrâneas aumenta devido à presença sulfato de magnésio, sódio e potássio. Em águas agrícolas, é freqüente a ocorrência de sulfato de amônia. Ácido sulfúrico pode estar presente em efluentes de fornos (combustível com alto teor de enxofre) e de indústria química. Através da decomposição de matéria orgânica em pântanos, poços de mineração e tubulação de esgoto, o gás H2S é formado e, reagindo com bactérias, forma o ácido sulfúrico. O ataque por sulfato se manifesta na forma de expansão e fissuração do concreto, ou pela diminuição progressiva de resistência e perda de massa. Através das fissuras, os agentes deletérios entram no material com uma maior facilidade, acelerando o processo de deterioração. Reações químicas no ataque por sulfato Quando o cimento Portland hidratado possui alumina (C3A), o concreto estará mais vulnerável à ação de sulfatos. Para uma concentração maior que 5% de C3A potencial, a alumina estará na forma de monossulfato hidratado (C3A. CS.H18). Se a concentração ultrapassar 8%, os produtos hidratados conterão C3A. CH.H18. Quando o hidróxido de cálcio da pasta de cimento hidratada entra em contato com os íons sulfato, os hidratos que contêm alumina se transformam em etringita (C3A. 3CS.H32), de acordo com a equação abaixo: C3A. CH.H18 + 2CH + 3S + 11H → C3A. 3CS.H32 (etringita) (3) 37 C3A. CS.H18 + 2CH + 2S + 12H → C3A. 3CS.H32 (etringita) (4) O efeito de expansão causado pela formação de etringita pode ser conseqüência da pressão exercida pelo crescimento dos cristais oi pela adsorção de água em meio alcalino. O hidróxido de cálcio e o C-S-H na pasta de cimento hidratado podem se transformar em gipsita, variando com os cátions da solução de sulfato (Na+, K+, Mg2+), de acordo com a equação abaixo: Na2SO4 + Ca(OH)2 + 2H2O → CaSO4. 2H2O + 2NaOH (5) (o subproduto hidróxido de cálcio garante a alcalinidade necessária para estabilizar o produto da hidratação, C-S-H) MgSO4 + Ca(OH)2 + 2H2O → CaSO4. 2H2O + Mg(OH)2 (6) (os subprodutos são a gipsita e hidróxido de magnésio, que é insolúvel e reduz a alcalinidade do sistema) 3MgSO4 + 3CaO. 2SiO2. 3H2O + 8H2O → 3(CaSO4. 2H2O) + 3Mg(OH)2 + 2SiO2. H2O (7) (não contendo íons hidroxila na solução, o C-S-H também é atacado pelo sulfato) Formação de etringita tardia (DEF) A formação de etringita tardia ocorre quando a fonte de íons de sulfato é interna ao concreto. Esse fenômeno irá ocorrer quando o concreto for confeccionado com um cimento com alto teor de sulfato ou quando o agregado estiver contaminado com gipsita. (Figura 8). A expansão na pasta causada pela formação de etringita tardia origina fissuras na pasta e na interface pasta-agregado. Subseqüentemente, a etringita se recristaliza nas fissuras a partir de cristais submicroscópicos dispersos ao longo de toda a pasta de cimento. FIGURA 8: (a) Representação diagramática da expansão de argamassa ou concreto causada pela formação de etringita tardia. (b) Micrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura de uma argamassa atacada por DEF. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. A Figura 9 ilustra a formação de etringita tardia, em conseqüência alta permeabilidade do concreto, por onde o sulfato tardio é liberado e transportado pelo concreto por meio da água. FIGURA 9: Enfoque holístico para expansão e fissuração por formação de etringita tardia. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. 38 39 Controle do ataque por sulfato Os fatores que influenciam o ataque por sulfato são: a quantidade e natureza do sulfato (sua concentração); o nível da água e sua variação sazonal; porosidade do solo e o fluxo da água subterrânea; a formade construção e a qualidade do concreto (tipo de cimento empregado). Como é impossível impedir que a água com sulfato entre em contato com o concreto, a única forma de controlar o ataque de sulfato é atuando na qualidade do concreto, ou seja, na permeabilidade do material. Segundo HELENE, “concretos de baixa permeabilidade, com baixa relação água/cimento, bem adensados e bem curados, são pouco suscetíveis de serem atacados por sulfato”. Estruturas de concreto submetidas totalmente à ação da água com sulfato (como fundações e estacas) serão menos prejudicadas que estruturas que estão sujeitas à evaporação da água por pelo menos uma das faces (como muros de arrimo ou galerias). Favorecer a baixa permeabilidade do concreto será primordial para a proteção ao ataque por sulfeto. Para garantir essa baixa permeabilidade devemos garantir uma espessura adequada para a peça de concreto, utilizar um alto consumo de cimento e uma baixa relação água/cimento, adensar e curar o concreto de acordo com especificações técnicas. A utilização de cimento resistente à ação de sulfato ou compostos pode amenizar os efeitos advindos de fissurações devido à retração, congelamento, corrosão da armadura ou outro fenômeno de deterioração do concreto. (Figura 10). A deterioração do concreto devido a ataque por sulfato pode ser controlada pelo consumo de cimento (A/C), tipo de cimento e aditivos minerais. Os resultados de um estudo de longo prazo com corpos-de-prova de concreto expostos a solo sulfatado (contendo 10% de Na2SO4) em Sacramento, Califórnia, revelaram (figura à esquerda) que a baixa permeabilidade do concreto (alto consumo de cimento) era mais importante na redução da taxa de deterioração do que o teor de C3A no cimento. A figura à direita mostra que, no caso de um cimento Portland com alto teor de C3A, a adição de aditivos minerais (cinzas volantes) oferece uma alternativa pra controlar o ataque por sulfato, reduzindo o teor efetivo de C3A no material cimentício total. FIGURA 10: Efeitos do tipo e consumo de cimento e da adição de cinzas volantes sobre o ataque por sulfato ao concreto. Fonte: MEHTA e MONTEIRO, 2008. 4.12.2 Reação álcali-agregado Os álcalis presentes na pasta de concreto, junto com íons hidroxila e alguns minerais silicosos podem reagir fissurando o concreto devido à expansão provocada, além da perda de resistência e módulo de deformação. Esta reação química é conhecida como reação álcali-agregado ou álcali-sílica (RAS). Esta é uma patologia muito comum em estruturas de concreto, especialmente aquelas que se encontram em ambientes úmidos, como pilares de pontes, barragens e quebra-mares. A intensidade desta manifestação será função da quantidade dos agentes, do tamanho e tipo dos agregados, da presença de umidade e da temperatura do ambiente. 40 41 Cimentos e agregados que contribuem para a reação álcali-agregado Os álcalis presentes no cimento Portland têm origem em sua fabricação. A quantidade de Na2O presente no cimento varia entre 0,2 e 1,5%, e determina o pH dos concretos, geralmente entre 12,5 e 13,5, sendo um material alcalino. Cimentos que contenham mais de 0,6% de Na2O, cimentos de alta alcalinidade, quando em contato com agregados reativos, podem gerar uma grande expansão devido à reação álcali-agregado. Já os cimentos com menos de 0,6% de Na2O são considerados inofensivos ao concreto em função da reação álcali-agregado, independentemente se o agregado é reativo ou não. No caso em que a estrutura utiliza um consumo muito alto de cimento, mesmo valores menores que 0,6% de Na2O podem desencadear a patologia. A concentração de íons hidroxila, devido à grande quantidade de hidróxido de cálcio na pasta de cimento hidratada, permanece alta mesmo para cimentos de baixa alcalinidade. Conseqüentemente, a expansão será função da pequena quantidade de íons alcalinos, a não ser que exista outra fonte de íons, como aditivos ou adições contendo álcalis, agregado contaminado por água do mar e sal, solução de degelo contendo cloreto de sódio que possa estar presente no concreto. O agregado reativo, que contém silicatos, sílica hidratada, filitos, quartzitos, formas amorfas ou minerais de sílica, pode reagir com as soluções alcalinas em função do tempo, da temperatura e do tamanho das partículas. Alguns minerais são considerados inofensivos à reação álcali-agregado, como feldspatos, anfibólios, micas, quartzo, piroxênios (constituintes do granito, gnaisse, xisto, arenito e basalto). Outros minerais, como a opala, obsidiana, cristobalita, tridimita, calcedônia, chert, andesita, riolito e quartzo tensionado ou metamórfico, são considerados reativos ao concreto, em ordem decrescente de reatividade. A Tabela 6 mostra uma tabela com os constituintes responsáveis pela deterioração do concreto pela reação álcali-agregado. TABELA 6: Rochas, minerais e constituintes sintéticos reativos deletérios. Fonte: MEHTA, 2008. Mecanismos de expansão De acordo com o grau de desordem na estrutura do cristal do agregado, do tamanho do grão e da porosidade, formam-se géis silicatos alcalinos na presença de hidroxila e íons alcalinos. Quando esse gel entra em contato com a água, expande-se pela absorção de uma grande quantidade de água por osmose. Quando o grau de restrição do sistema é baixo, pode-se desenvolver uma pressão hidráulica suficiente para gerar uma expansão e fissuração das partículas afetadas do agregado e da pasta de cimento em torno do agregado. Os géis, solúveis em água, se deslocam dentro do agregado e do concreto através de microfissurações. A água contínua no concreto faz com que essas microfissurações se estendam até a superfície do concreto, conhecido como fissuras mapeadas. Nem sempre a fissuração é sintoma somente da reação álcali-agregado. A principal causa da fissuração deve ser investigada cautelosamente, analisando 42 43 também se houve um aumento de tensões internas nos concreto, qual a dimensão e o tipo de agregado utilizado ou a própria composição química do gel formado. Controle de expansão Os principais fatores que desencadeiam a reação álcali-agregado são: • o teor de álcalis no cimento e o consumo de cimento do concreto; • a presença de íons alcalinos devido a outras fontes, como aditivos, adições e agregados contaminados com sal, além da penetração da água do mar ou solução de sais de degelo no concreto; • características dos constituintes reativos do agregado, como a quantidade, dimensão e reatividade; • presença de água na estrutura de concreto e a temperatura do ambiente. Se existirem somente íons alcalinos no cimento e houver a suspeita de constituintes reativos no agregado, a melhor forma de prevenir a reação álcali- agregado é utilizando um cimento Portland de baixa alcalinidade (com menos de 0,6% de Na2O). Quando houver a necessidade de utilizar no concreto areia de praia ou areia e cascalho retirados do mar, deve-se ter o cuidado de lavá-los com água doce para garantir que o teor alcalino total da composição cimento e agregado não exceda 3kg/m3. No caso da indisponibilidade de cimento Portland de baixa alcalinidade, pode-se reduzir o teor de álcalis no concreto substituindo parte do cimento de alta alcalinidade por adições cimentícias ou pozolânicas, como a escória de alto forno moída, sílica ativa ou cinza volante. Os álcalis que estão presentes em escórias e pozolanas naturais são insolúveis em ácido e provavelmente não vão reagir com o agregado. No caso de adições pozolânicas, além da diminuição do teor efetivo de álcalis, o resultado é um produto menos expansivo com alta reação sílica/álcalis.Outra opção para diminuir a expansão do concreto é amenizar a reatividade do agregado reativo, substituindo parte dele, cerca de 30%, por calcário ou outro 44 agregado não reativo, quando economicamente viável. Como a presença de água contínua é essencial para a expansão deletéria do concreto, excluí-la do concreto pode fazer com que não ocorra a reação álcali-agregado, mesmo na presença de agregados reativos e alta alcalinidade do cimento. Hidratação de MgO e CaO cristalinos A grande quantidade de MgO e CaO no cimento hidrata, podendo expandir e fissurar o concreto. Esta reação expansiva ocorre quando o óxido de magnésio cristalino estiver na forma de pericálcio, para variações de temperatura do clínquer abaixo de 1400ºC. É uma hidratação lenta, que pode levar o concreto já endurecido à fissuração. Para o CaO, a reação expansiva ocorre quando a cal livre é hidratada, sendo um fenômeno menos comum devido à pequena porcentagem na composição do cimento. Por isso, deve ser feito um controle da quantidade destes elementos no cimento. A Standard Specification for Portland Cement (ASTM C 150), exige um teor máximo de 6% de MgO no cimento. Já o teor de CaO livre ou não combinado no clínquer raramente excede 1%, de acordo com os controles de qualidade melhores na fabricação do clínquer do cimento Portland. 4.13 Corrosão do Aço de Armadura no Concreto O processo de corrosão só é possível na presença simultânea de um eletrólito, uma diferença de potencial e do oxigênio. O concreto armado, concreto protendido ou qualquer peça metálica embutida nas estruturas de concreto são susceptíveis à corrosão, uma das principais causas de deterioração das estruturas. Para HELENE, “A corrosão de armaduras é um processo eletroquímico que provoca a desagregação (oxidação) do aço no concreto. Os fatores que afetam este fenômeno estão associados essencialmente às características do concreto, ao meio ambiente e à disposição das armaduras nos componentes estruturais afetados.” A durabilidade das estruturas é extremamente dependente da qualidade do concreto e da espessura do cobrimento. Quando o aço estiver protegido por esta devida camada, definida em projeto, e o concreto for pouco permeável, é esperado que não ocorra a corrosão do aço. Na prática não é o que acontece, pois mesmo executado corretamente, a incidência de produtos químicos usados para degelo ou mesmo o ambiente marinho pode acelerar esse processo de deterioração do aço. Além disso, o controle eficiente da fissuração do concreto é essencial, pois evita a evolução da corrosão do aço por meio dessas pequenas aberturas. Valores entre 0,2 mm e 0,4 mm são aceitáveis, de acordo com exigências de durabilidade. Em atmosferas urbanas e industriais, o ar pode estar contaminado com altos níveis de agentes agressivos ao concreto, como óxido de enxofre (SO2 e SO3), dióxido de carbono (CO2), gás sulfídrico (H2S), gás de amônia (NH3), íons sulfetos (S--), íons cloreto (Cl-), entre outros. Os íons Cl- e SO4- são agentes que desencadeiam o processo de corrosão, mesmo quando o aço estiver protegido pela camada de hidróxido de cálcio. Os danos causados pela corrosão das armaduras em estruturas de concreto se manifesta na forma de expansão, fissuração paralela à direção do reforço e eventual lascamento da camada de cobrimento (Figura 11). Em estruturas com alto teor de umidade, os sintomas da corrosão podem apresentar-se através de manchas de óxido na superfície do concreto. Além disso, pode-se desencadear a perda de aderência do aço com o concreto como também a perda de seção transversal da barra de aço, afetando a capacidade portante da estrutura. FIGURA 11: Representação esquemática das patologias típicas observadas em vigas de concreto armado afetadas por corrosão. Fonte: HELENE, 2005. 45 46 4.13.1 Mecanismos de deterioração do concreto por corrosão da armadura O fenômeno de corrosão é encontrado com freqüência em concreto que tenha como características uma baixa qualidade, alta relação água/cimento e alta permeabilidade, além dos componentes estruturais que são afetados pela umidade e ciclos de molhagem. O concreto protege a armadura através de sua alcalinidade, pH > 12,5, condição conhecida como passividade. Processo eletroquímico Um dos processos de corrosão se dá através do processo eletroquímico (onde ocorre reação de oxi-redução). É um processo que requer pelo menos a presença de quatro elementos: um ânodo (onde ocorre a oxidação do aço), um cátodo (onde ocorre a reação de redução), um condutor elétrico (por onde os elétrons liberados pelos ânodos serão conduzidos até os cátodos, onde serão consumidos) e um eletrólito (onde irão ocorrer as reações). Este processo de corrosão, que formam células de corrosão, pode ser gerado de duas formas: • Células de composição podem se formar quando existem dois metais diferentes (como o aço e o alumínio) dentro do concreto, ou quando há variações significativas na superfície do aço; • Células de concentração podem se formar em volta da armadura devido à diferença de concentração de íons dissolvidos (como álcalis e cloretos). A conseqüência disso é que uma parte do metal se torna anódica e a outra catódica. As respectivas reações químicas que se desenvolvem estão descritas abaixo e na Figura 12: Ânodo: Fe (ferro metálico) → 2e- + Fe2+ → FeO.(H2O)x (produto de corrosão) (8) Cátodo: ½ o2 + H2O + 2e- → 2(OH)- → FeO.(H2O)x (produto de corrosão) (9) A corrosão do aço é um processo bastante expansivo, pois a transformação de ferro metálico em ferrugem (produto da corrosão), pode aumentar o volume do material da ordem de até 600% em relação ao metal original (Figura 12c). Essa expansão é uma das principais causas de expansão e fissuração do concreto. Os produtos de aço e ferro comum possuem uma camada fina de óxido de ferro, que se torna impermeável e bem aderente à superfície do aço em um meio alcalino, tornando o aço passivo à corrosão. Isso significa que, até que o aço tenha sido despassivado, não ocorrerá a corrosão. “A Figura (a) mostra que a deterioração do concreto devida à corrosão da armadura se manifesta na forma de expansão, fissuração e perda (destacamento) de cobrimento. A perda de aderência entre o aço e o concreto e a redução da seção transversal da armadura podem levar a uma falha estrutural. A Figura (b) ilustra o processo eletroquímico de corrosão do aço em um concreto úmido e permeável. A célula galvânica é caracterizada por um processo anódico e um processo catódico. O processo anódico não ocorre sem que o filme de óxido de ferro protetor ou passivo seja removido em um ambiente ácido (por exemplo, carbonatação do concreto) ou se torne permeável pela ação de íons Cl-. O processo catódico não pode ocorrer sem que haja quantidades suficientes de oxigênio e de água na superfície do aço. A resistividade elétrica do concreto é também reduzida na presença de umidade e de sais. A Figura (c) indica que, dependendo do estado de oxidação, a corrosão do ferro metálico pode resultar no aumento do volume sólido em até seis vezes.” FIGURA 12: Expansão e fissuração do concreto devidas à corrosão da armadura. Fonte: MEHTA, 2008. Quando na ausência de íons cloreto na solução, o filme de óxido de ferro é considerado estável em concretos com pH acima de 11,5. Quando alguns fatores diminuem o pH do concreto (por exemplo, a alta permeabilidade), isso faz com que os álcalis e boa parte do hidróxido de cálcio sejam carbonatados ou lixiviados 47 48 e com que a passividade do aço seja destruída, fornecendo condições para a corrosão. Quando existirem íons cloreto, dependendo da relação
Compartilhar