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UNIDADE 6 – DAVID RICARDO 6.3- O trabalho e o padrão invariável de valor. A estrutura de preços relativos e os efeitos da variação dos salários. Produção e apropriação de riqueza e a teoria ricardiana do valor. Teoria do valor (cap. I) “Possuindo uma utilidade, as mercadorias derivam seu valor de troca de duas fontes: de sua escassez e da sua quantidade de trabalho necessária para obtê-las.” (Princípios, p.24) Todas devem possuir utilidade, pois se não, também seria destituído de valor de troca. “Algumas mercadorias têm seu valor determinado somente pela escassez. Nenhum trabalho pode aumentar a quantidade de tais bens, e, portanto, seu valor não pode ser reduzido pelo aumento da oferta. Algumas estátuas e quadros famosos, livros e moedas raras... são todos desta espécie. Seu valor é totalmente independente da quantidade de trabalho utilizada originalmente necessária para produzi-las” (p.24) (A teoria marginalista/neoclássica generaliza, não entendem que “essas mercadorias são uma parte muito pequena da massa de artigos diariamente trocados...”). Ricardo elabora o conceito de valor-trabalho. De acordo com este conceito, o valor do trabalho se mede como o de qualquer outra mercadoria: pelas quantidades de trabalho contidas nos meios de subsistência do trabalhador. E o próprio valor do trabalho varia com o preço dos artigos necessários à subsistência dos trabalhadores. Se o trabalho é uma mercadoria como outra qualquer, a troca entre capital e trabalho obedece ao mesmo princípio da troca das mercadorias em geral: troca se valor por valor, equivalente por equivalente. Logo, a lei do valor vale tanto para a sociedade pré- capitalista como para a sociedade capitalista. Os valores de diferentes categorias de trabalho são acertados no mercado em função da destreza relativa e das horas de trabalho. A teoria não precisa se preocupar em determinar esses valores, pois as dificuldades em se comparar trabalho são automaticamente resolvidas no mercado. Portanto, o mesmo intervalo de tempo em trabalho pode conter diferentes valores, se levarmos em conta as habilidades relativas e as intensidades de trabalho. 2 O valor de uma mercadoria é dado pelo trabalho incorporado (custo em trabalho). O custo é calculado no trabalho imediato e no trabalho mediato (custo do trabalho incorporado à máquina). Como o capital tem certa durabilidade, em cada período que é empregado ele transfere apenas uma parcela do seu valor. Quanto menos durável é o instrumento em questão, maior a parcela de seu valor transferida ao cômputo do valor do bem produzido por ele. Certos capitais apóiam diretamente a mão-de-obra envolvida na obtenção de um bem de consumo final, enquanto outros são investidos na fabricação de ferramentas, implementos, edificações e maquinarias que somente em período futuro irão contribuir para o produto final. Dada a heterogeneidade do capital, Ricardo define os conceitos de capital fixo e capital circulante. O capital circulante é rapidamente consumido e o fixo é consumido lentamente. Ou seja, o capital empregado possui durabilidade desigual, influenciando no preço. Assim como em Smith, Ricardo afirma que toda mercadoria tinha dois preços: o preço natural (valor) e o preço de mercado que oscila em torno do valor, conforme a oferta e a procura. Segundo Ricardo o fato de que na economia capitalista uma parte do produto não retorna aos trabalhadores na medida em que se transforma em lucro ou renda fundiária, não impede que as mercadorias sejam trocadas segundo o trabalho nelas contido. Entretanto, ao desenvolver a sua teoria do valor, Ricardo desviou sua investigação da origem do excedente para o da distribuição do produto entre assalariados, capitalistas e proprietários de terra. 3 Lucro (cap. VI dos Princípios...) Na análise de Ricardo, o preço é uma grandeza, na qual o salário e o lucro são parcelas componentes. A variação na magnitude de uma parcela necessariamente implica, para outra parcela, uma variação no sentido contrário. Isto é, um aumento (ou redução) de salário corresponde uma diminuição (ou acréscimo) do lucro. Ricardo parte da situação do capitalista individual e extrapola para toda a economia a relação entre salários e lucros. Assim podemos resumir sua teoria sobre os lucros da seguinte forma: os lucros dependem dos preços (ou do valor total da produção) e dos salários, aumentando em proporção direta ao acréscimo dos preços e à redução dos salários; ou seja, os lucros constituem função direta dos preços e inversa dos salários. Se, porém, como faz Ricardo, tomamos os preços como invariáveis (são invariáveis porque ele entende a economia sob regime de concorrência perfeita), então os lucros dependem exclusivamente dos salários. A suposição que sempre estará presente em sua preocupação com o valor das mercadorias é a da uniformidade da taxa de lucro: todos os setores econômicos e todas as empresas devem ter a mesma taxa de lucro (nível geral). Os salários dependem dos preços dos bens essenciais de consumo que são constituídos essencialmente de produtos agrícolas. “Poder-se-ia dizer que parto do principio de que os salários monetários aumentarão quando aumentar o preço dos produtos agrícolas, mas que isso não é de modo algum uma conseqüência necessária, já que o trabalhador pode contentar-se com um consumo mais reduzido”. No entanto, segundo Ricardo, “(...) podemos tomar como certo que, em circunstâncias normais, todo aumento permanente dos bens de primeira necessidade ocasiona um aumento dos salários. (...) e qualquer fator que aumente os salários necessariamente reduz os lucros” (Princípios, p.85). 4 6.4 - Queda da taxa de lucro Ricardo encontra uma tendência geral à queda dos lucros: “A tendência natural dos lucros é diminuir, pois, com o desenvolvimento da sociedade e da riqueza, a quantidade adicional de alimentos requerida se obtém com o sacrifício de mais e mais trabalho. Essa tendência é felizmente contida a intervalos que se repetem pelos aperfeiçoamentos das maquinarias usadas na produção dos gêneros de primeira necessidade, assim como pelas descobertas da ciência na agricultura” (Princípios, p.86-87). Porém, a acumulação de capital não pode provocar uma queda permanente no lucro se não houver uma causa permanente para o aumento dos salários. A questão é que para Ricardo a tendência é que o valor dos meios de vida (alimentação) cresce constantemente. Isto decorre do fato que a agricultura se torna cada vez menos produtiva (isto é, ele aceita a tese malthusiana). A contínua queda do lucro está relacionada a um contínuo aumento da renda da terra.
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