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1 Marketing Estratégico MARKETING ESTRATÉGICO GRADUAÇÃO ECONOMIA 1 ECONOMIA ECONOMIA CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS Núcleo de Educação a Distância Economia DINCA, Prof.ª Me Tatiane Foz do Iguaçu - PR 2013. 105 p. MATERIAL REVISADO: MANENTI, Marcelo Foz do Iguaçu - PR 2019. 102 p. Administração - EaD CDU: 33 NEAD – Núcleo de Educação a Distância Av. Bartolomeu de Gusmão, 1324 - Centro – CEP: 85.852-130 Foz do Iguaçu – Paraná / ead.udc.br / 3574-6900 2 ECONOMIA ECONOMIA APRESENTAÇÃO Prezado (a) Acadêmico (a), Você está participando da disciplina de Introdução à Economia na modalidade à distância, ofertada pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas - UDC. Sabemos que o seu percurso de aprendizagem necessita ser acompanhado e orientado, para que você obtenha sucesso nos estudos e construa um conhecimento relevante à sua formação profissional. Preparamos este material didático com os conteúdos teóricos e as orientações de atividades planejadas pelo professor, possibilitando, assim, guiá-lo no auto estudo ao longo do semestre. Além disso, você conta com o ambiente virtual de aprendizagem como espaço de estudo e de participação ativa no curso. Nele você encontra as orientações para realizar atividades e avaliações online, além de recursos que vão enriquecer a proposta deste material didático, tais como links para sites da Internet, vídeos gravados pelo professor e outros por ele sugeridos, textos, animações, ilustrações, dentre outras mídias. Lembre-se, no entanto, de que você deve se organizar para criar sua própria autonomia de estudo. Isso inclui o planejamento do seu tempo de dedicação ao estudo individual e de participação colaborativa no ambiente virtual. Este material é o seu livro-texto e apoio importante no desenvolvimento de sua aprendizagem no curso. Bom estudo! Direção UDC Online 3 ECONOMIA ECONOMIA SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 2 UNIDADE I – EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO .............................. 6 1.1 MERCANTILISMO ................................................................................................ 6 1.2 FISIOCRACIA ....................................................................................................... 8 1.3 UTILITARISMO ................................................................................................... 10 1.4 ECONOMIA CLÁSSICA ............................................................................... 12 1.4.1 Adam Smith ...................................................................................................... 12 1.4.2 Progresso econômico ....................................................................................... 12 1.4.3 O Estado .......................................................................................................... 13 1.4.4 Melhor educação .............................................................................................. 13 1.4.5 Teoria de valor ................................................................................................. 14 1.4.6 Teoria da repartição do rendimento ................................................................. 15 1.4.7 David Ricardo ................................................................................................... 16 1.4.8 Renda ............................................................................................................... 17 1.4.9 Salário .............................................................................................................. 18 1.4.10 Lucros ............................................................................................................. 18 1.4.11 Teoria do crescimento .................................................................................... 19 1.5 TEORIA MARXISTA ............................................................................................ 20 1.5.1 Teoria do Valor de Marx ................................................................................... 20 1.5.2 Subordinação da classe trabalhadora .............................................................. 22 1.5.3 Tendência para a diminuição da taxa de lucro ................................................. 22 1.5.4 Poder monopolista ........................................................................................... 23 1.5.5 Como se forma a mais valia ............................................................................. 24 1.5.6 Taxa de mais valia ........................................................................................... 25 1.5.7 Capital constante e capital variável .................................................................. 25 1.5.8 Dia de trabalho não é fixo e possui um limite ................................................... 26 1.6 TEORIA KEYNESIANA ....................................................................................... 27 1.7 CARACTERIZAÇÃO ........................................................................................... 29 1.7.1 Escassez e escolha individual .......................................................................... 33 1.7.2 Escassez e escolha social ................................................................................ 34 UNIDADE II – TEORIA MICROECONÔMICA ......................................................... 36 2.1 MODELO DE OFERTA E DEMANDA ................................................................. 37 4 ECONOMIA ECONOMIA 2.1.1 Análise da Demanda ........................................................................................ 39 2.1.2 Analise da Oferta .............................................................................................. 44 2.1.3 Equilíbrio de Mercado....................................................................................... 47 2.2 CUSTOS DE PRODUÇÃO .................................................................................. 49 2.3 ESTRUTURAS DE MERCADO ........................................................................... 52 2.3.1 Mercado competitivo ........................................................................................ 52 2.3.2 Monopólio ......................................................................................................... 55 2.3.3 Oligopólio ......................................................................................................... 57 2.3.4 Competição monopolística ............................................................................... 59 UNIDADE III – TEORIA MACROECONÔMICA ........................................................ 60 3.1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .................................. 61 3.2 PRODUTO INTERNO BRUTO ............................................................................ 65 3.2.1 Mensuração do Produto Interno Bruto.............................................................. 66 3.2.2 Os componentes do PIB ................................................................................... 66 3.2.3 Formas de calcular o PIB ................................................................................. 68 3.2.4 PIB real versus PIB nominal ............................................................................. 68 3.2.5 Deflator do PIB ................................................................................................. 70 3.2.6 Indicadores Sociais .......................................................................................... 72 3.2.7 Inflação .............................................................................................................73 3.2.8 Índice de preços ao consumidor ....................................................................... 77 3.2.9 Correção das variáveis econômicas dos efeitos da inflação ............................ 80 3.2.10 Produtividade: seu papel e determinantes ..................................................... 81 UNIDADE IV – INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ...................................................... 83 4.1 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NA ECONOMIA ................................................ 83 4.1.1 Poupança e investimento ................................................................................. 85 4.1.2 Intervenção do Estado na economia: política fiscal .......................................... 86 4.2 DESEMPREGO ................................................................................................... 87 4.2.1 Tipos de Desemprego ...................................................................................... 88 4.3 SISTEMA MONETÁRIO ...................................................................................... 92 4.3.1 Funções da moeda ........................................................................................... 92 4.3.2 Tipos de moeda ................................................................................................ 93 4.3.3 Instrumentos de controle monetário do Banco Central .................................... 94 4.4 FLUXOS INTERNACIONAIS DE BENS E CAPITAL ........................................... 95 4.4.1 Balanços de pagamentos ................................................................................. 97 5 ECONOMIA ECONOMIA 4.5 DEMANDA E OFERTA AGREGADA .................................................................. 98 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101 6 ECONOMIA ECONOMIA UNIDADE I – EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO A história do pensamento econômico é um estudo da herança deixada pelos que escreveram sobre assuntos econômicos no transcurso de muitos anos. Especulação do homem quanto ao seu meio: desde os tempos antigos. Desenvolvimento da análise econômica: de origem relativamente recente (a partir do século XVIII). Antes da Renascença (séculos XV e XVI) era quase impossível a emergência da economia como campo específico de estudo, tendo em vista a dominação do Estado e da igreja, a força dos costumes e as crenças religiosas e filosóficas, e a amplitude limitada da atividade econômica. 1.1 MERCANTILISMO O mercantilismo foi consequência da ampliação de horizontes econômicos propiciada pelos descobrimentos marítimos do século XVI, esta escola, apesar de apresentar variantes de país para país, esteve sempre associado ao projeto de um Estado monárquico poderoso, capaz de se impor entre as nações Europeias. Vasconcellos e Garcia (2003) complementam que o mercantilismo é a teoria e prática econômica que defendiam, do século XVI a meados do XVII, o fortalecimento do Estado por meio da posse de metais preciosos, do controle governamental da economia e da expansão comercial. Os principais promotores do mercantilismo, como Thomas Mun na Grã-Bretanha, Jean-Baptiste Colbert na França e Antonio Serra na Itália, nunca empregaram esse termo. Sua divulgação coube ao maior crítico do sistema, o escocês Adam Smith, em The Wealth of Nations (1776; A Riqueza das Nações). Para a consecução dos objetivos mercantilistas, todos os outros interesses deviam ser relegados a segundo plano: a economia local tinha que se transformar em nacional e o lucro individual desaparecer quando convir-se ao fortalecimento do poder nacional (GREMAUD; et al, 2002). Para obter uma produção suficiente, deviam ser utilizados de modo hábil e eficaz todos os recursos produtivos do país, em especial o fator trabalho. Toda nação forte precisava possuir uma grande população que se fornece trabalhadores e soldados, e ao mesmo tempo o mercado correspondente. 7 ECONOMIA ECONOMIA As possessões coloniais deveriam fornecer metais preciosos e matérias-primas para alimentar a manufatura nacional, ao mesmo tempo em que constituíssem mercados consumidores dos produtos manufaturados da metrópole. Proibiam-se as atividades manufatureiras nas colônias, e o comércio, em regime de monopólio, era reservado à metrópole. Em território nacional, o mercantilismo preconizou o desaparecimento das alfândegas interiores, ou seja, a redução dos entraves à produção forçados pelas corporações de ofício, o emprego de sistemas de contabilidade e acompanhamento das contas de receitas e despesas do Estado, a troca de funcionários corruptos ou negligentes por outros honestos e competentes, a criação de uma fiscalização centralizada e a adoção de leis que desestimulassem a importação de bens improdutivos e de grande valor. A crítica mais abrangente do mercantilismo foi movida por Adam Smith, que denunciou a falsa identificação, feita por muitos teóricos dessa corrente econômica, entre dinheiro e riqueza. Com efeito, o forte protecionismo alfandegário e comercial, e a subordinação da economia das colônias à da metrópole, não tinham como fim último o desenvolvimento da manufatura nacional, mas como foi assinalada a maior acumulação possível de metais nobres (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). A economia clássica posterior, cujo principal representante foi Smith que preconizou, ao contrário, a livre atividade comercial e manufatureira em qualquer território de colônia ou metrópole já que, segundo seus princípios, a riqueza não se identificava com o simples acúmulo de reservas monetárias, mas com a própria produção de bens. No século XX, o economista britânico John Maynard Keynes retomou formulações do mercantilismo e afirmou a existência de similitudes entre sua própria teoria do processo econômico e a teoria mercantilista (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). É relevante destacar que independentemente das diversas análises econômicas a que foi submetido, o mercantilismo foi o instrumento que assegurou as condições econômicas e financeiras necessárias a garantir a expansão dos Estados absolutistas europeus. Entre os representantes do mercantilismo distinguiu-se o francês Jean-Baptiste Colbert, ministro da Fazenda de Luís XIV, de tal importância que seu nome serviu para se cunhar o termo porque é conhecida a variante francesa do mercantilismo, o colbertismo. Na Grã-Bretanha, além de Thomas Mun, sustentaram a mesma orientação James Stuart e Josiah Child, assim como na França 8 ECONOMIA ECONOMIA Jean Bodin e Antoine de Montchrestien. Em Portugal, as primeiras reformas do Marquês de Pombal revelam sua filiação à teoria mercantilista. 1.2 FISIOCRACIA Conforme esta escola, apenas efetua trocas o homem que dispõe de produtos supérfluos (excesso sobre a subsistência), por meio dos quais virá a obter o que melhor lhe convier. Produção de subsistência significa pobreza homogênea, todos têm apenas o suficiente. O excesso de produção agrícola sobre as necessidades imediatas é que permitirá o desenvolvimento do comércio, a existência de artesãos e a organização governamental. É sempre excesso de bens em relação à subsistência, que assume a forma derivada de rendimento e (indiretamente) de tributos. Toda população viveria, em última análise, de produto agrícola apropriando-se dele em proporção variada, conforme sua posição na produção e nas relações de propriedade. Sendo, alguns pontos importantes: - Os proprietários e o soberano apropriam de rendas fundiárias ou de renda fiscal. - Os empresários viveriam do que Cantillon denominou “rendas incertas”. - Os assalariados, de “renda certa”, estabelecida pelo custo de subsistência,ou por algo aproximado a preço de oferta da força de trabalho (abarcando o custo de reprodução da mão-de-obra e outros fatores). Para Quesnay, excedente é sempre excesso de produção sobre os custos diretos e indiretos de subsistência. Se subsistência é consumo de produtos agrícolas, o excedente é excesso de produção agrícola sobre insumos e subsistência. Finalmente, a teoria agrícola do excedente assenta-se na suposição de que apenas o trabalho agrícola é produtivo, no sentido de ser capaz de gerar excedente sobre os custos. Trabalho não agrícola = Estéril (..) o valor do produto manufaturado a custo de matérias-primas mais custo de remuneração do trabalho, seu preço final corresponderá necessariamente ao que foi incluído no processo. Em suma, o valor de produtos não-agrícolas equivale meramente às “despesas em encargos” (QUESNAY, 1758) 9 ECONOMIA ECONOMIA As classes produtivas seriam aquelas cujos gastos fossem reproduzidos, por se beneficiarem de uma capacidade ativa da natureza. Classes estéreis seriam aquelas cujos gastos transformam a matéria, mas não reproduzem (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Os fisiocratas preocupavam-se, notadamente, com o preço dos produtos agrícolas, que determinariam os rendimentos dos produtores e dos proprietários. Daí a atenção conferida à liberdade comercial e a organização do sistema tributário. O livre comércio sustentaria os preços, os tributos adequados seriam aqueles que não deprimissem a renda dos produtores e, em consequência, sua capacidade de efetuar adiantamentos. O objetivo do movimento fisiocrático é o livre comércio, admitindo-se que o preço de mercado livre é o da ordem natural. Nesta medida, tornam-se secundárias preocupações adicionais, parece suficiente admitir que o preço natural seja aquele determinado pela concorrência. As classes sociais consistem: - Proprietários de terra: Inclui o soberano, os donos das terras e os cobradores dos dízimos. Esta classe subsiste pelo rendimento ou produto líquido que lhe é pago anualmente pela classe produtiva, depois que esta classe retirou antecipadamente da produção que ela faz renascer cada ano as riquezas necessárias para manter as suas riquezas de exploração. - Classe produtiva: Segundo os fisiocratas, é a classe que faz renascer pelo cultivo da terra, as riquezas anuais da nação, que realiza os adiantamentos das empresas dos trabalhos da agricultura e que paga anualmente os rendimentos dos proprietários da terra. Encerram-se na dependência desta classe todos os trabalhos e todas as despesas feitas até a venda das produções em primeira mão, é por esta venda que se conhece o valor da produção anual das riquezas da nação. - Classe estéril: Para os fisiocratas é estéril porque não produz excedente. É formada pelos cidadãos ocupados em outros serviços e trabalhos que não sejam os da agricultura, e suas despesas são pagas pela classe produtiva e pela classe dos proprietários, que retira, por sua vez, os seus rendimentos da classe produtiva, esta classe sobrevive dos gastos das duas classes anteriores (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). 10 ECONOMIA ECONOMIA Os equívocos dos fisiocratas, que coloca o grande erro em pensar que a economia política trata das riquezas, entendendo estas apenas como os bens materiais (por isso a única classe produtiva está ligada à agricultura, pois esta cria bens materiais). Por esta razão, a agricultura é considerada fecunda e a indústria não, mas a economia política deve estudar os produtos, visto que estes possuem valor. 1.3 UTILITARISMO Uma grande parte da economia de beneficência é orientada pela visão utilitária da prosperidade, uma visão que dominou as bases da teoria econômica não clássica e os debates sobre filosofia moral. Nos fundamentos de sua estrutura, o utilitarismo encara um indivíduo como a expressão da utilidade, da satisfação, do prazer, da felicidade ou do desejo de realização (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Quando se chega a uma ação, seja ao consumo de certo bem, a uma contribuição à caridade, a votação em algum candidato, se a gente vai ter filhos e, em caso afirmativo, quantos. Se isto aumenta a felicidade e a satisfação e, numa só palavra, a utilidade. Em sua essência, a utilidade se torna a medida da realização do nosso desejo, o denominador comum de tudo que queremos. A perspectiva utilitária parece ser muito persuasiva na definição da prosperidade da humanidade (HUNT, 2005). O utilitarismo não pode prover, porém uma base consistente e coerente para a prosperidade. É possível afirmar que certos indivíduos possam preferir alguma soma de dor ou de miséria no seu caminho para metas mais elevadas, alguma coisa de valor que está acima e além de prazeres e desejos imediatos. Há muitos exemplos de sofrimentos pessoais na luta por algum objetivo mais alto: o estudante que passa noites em claro no seu esforço para fazer um exame crítico, o pesquisador, o artista, o atleta, todos eles renunciando a um prazer passageiro e um conforto para conquistar uma meta duradoura. Afinal, como é que se poderia considerar próspera numa sociedade se os membros de tal sociedade não estão felizes ou não têm os seus desejos atendidos dentro de uma perspectiva utilitária? 11 ECONOMIA ECONOMIA Uma pessoa pode aumentar sua utilidade geral ao suportar uma inutilidade transitória e trocá-la por uma prosperidade global mais definitiva. O utilitarismo não oferece um mecanismo pelo qual nós possamos estabelecer uma diferença entre o conjunto de ações que conduzem à prosperidade e aqueles que não conduzem (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Hunt (2005) coloca que “se nós aderimos à paz, é porque ela promove o bem- estar social. Se declaramos alguma guerra, isto também possivelmente acontece, porque com guerra chegamos a uma maior utilidade para preservar a nossa segurança nacional, do que com negociações ou alguma rendição ao oponente”. Sendo assim, qualquer ação é justificável quando se baseia no aumento de utilidade para as partes envolvidas. Neste sentido, as ideias de Adam Smith foram alvo de críticas, sendo de destacar o papel da crítica utilitarista, conforme descrito abaixo: - Condillac: Apresenta uma teoria do valor fundada na utilidade, contrariamente aos economistas clássicos que o fundavam no trabalho. Este autor sugere que o valor das coisas advém da utilidade, o que torna um bem escasso é a dificuldade em produzi-lo. Portanto, como o nome indica a grande contribuição da crítica utilitarista foi exatamente fundar o valor na sua utilidade. - Jeremy Bentham: O autor sugeriu uma forma de quantificar a utilidade em critérios: intensidade, duração, certeza, proximidade, fecundidade, pureza e extensão. - Jean Baptiste Say: Conhecido como Say recusa-se a acreditar que a produção deva analisar-se como o processo pelo qual o homem prepara o objeto para o consumo. Segundo Say a produção realiza-se através do concurso de elementos, a saber: o trabalho, o capital e os recursos naturais. Tal como Adam Smith, considera o mercado essencial. Esta faceta é facilmente verificada quando Say afirma que os salários, os lucros e as rendas são preços de serviços, sendo determinados pelo jogo da oferta e da procura no mercado destes fatores. O autor acredita, contrariamente a Adam Smith, que não há distinção entre trabalho produtivo e trabalho não produtivo. Recorde-se que Adam Smith defendia que o trabalho produtivo era aquele que era executado com vista a fabricação de um objeto material, já Say defende "todos 12 ECONOMIA ECONOMIA aqueles que fornecem uma verdadeira utilidade em troca dos seus salários são produtivos" 1.4 ECONOMIA CLÁSSICA 1.4.1 Adam Smith Apesar de ser considerada a primeira grande obra de economia política, na verdade o livro "Riqueza dasNações" é a continuação do primeiro da chamada "A Teoria dos Sentimentos Morais". A questão abordada em a riqueza é da luta entre as paixões e o espectador imparcial, ao longo da evolução da sociedade humana. Adam Smith adotava uma atitude liberal, apoiava o não intervencionismo. A desigualdade é vista por ele como um incentivo ao trabalho e ao enriquecimento (logicamente os pobres querem ficar ricos e atingir o padrão de vida das classes privilegiadas), sendo uma condição fundamental para que as pessoas se movam e tentem atingir níveis melhores de vida (MONTELLA, 2008). O problema desta análise é que, mesmo sendo elaborada a luz da ética, indica o não intervencionismo. Sendo assim, questiona-se como resolver o problema da justiça social e da equidade, e este passa a ser chamado progresso econômico por Adam Smith. 1.4.2 Progresso econômico A riqueza das nações cresceria somente se os homens, por meio de seus governos que não inibissem este crescimento, concedendo privilégios especiais que iriam impedir o sistema competitivo de exercer seus efeitos benéficos. Na "Riqueza das Nações", especialmente o Livro IV, é uma crítica contra as medidas restritivas do sistema mercantil que favorecem monopólios no país e no exterior e a grande contribuição de Adam Smith para o pensamento econômico é exatamente a chamada "Teoria da Mão Invisível". A pessoa ao fazer alguma ação, não tem em mente o interesse geral da comunidade, mas sim o seu próprio interesse, neste sentido é egoísta. O que Adam Smith defende é que ao promover o interesse pessoal, o indivíduo acaba por ajudar na consecução do interesse geral e coletivo. 13 ECONOMIA ECONOMIA Dizia ele, que não é pela benevolência do padeiro ou do açougueiro que nós temos o nosso jantar, mas é pelo egoísmo deles, pois os homens agindo segundo seu próprio interesse é que permitem que todos se ajudem mutuamente. Neste caminho ele é conduzido e guiado por uma espécie de mão invisível. Adam Smith acreditava que ao conduzir e perseguir os seus interesses, o homem acaba por beneficiar a sociedade como um todo de uma maneira mais eficaz. Graças à mão invisível não há necessidade de fixar o preço, por exemplo, a inflação é corrigida por um reequilibro entre oferta e procura, que seria atingido e conduzido pela mão invisível. 1.4.3 O Estado Segundo Adam Smith o Estado deve desempenhar as três funções de: Manter a segurança militar. Administrar a justiça. Erguer e manter algumas instituições públicas. Para Adam Smith a intervenção do Estado em outros casos, além de inútil é também prejudicial. O comércio implica uma liberdade de circulação. Assim, podem- se adquirir mais quantidades a menores preços no estrangeiro, essa liberdade deve ser procurada, nem que tal implique desigualdade. O progresso pode ser dividido nas etapas: a caça e a pré-feudal, a sociedade agrícola e a sociedade comercial. Sumarizando esta ideia, a passagem através de transformações na propriedade e quando atingida a sociedade comercial, só existem uma fonte de crescimento econômico com a divisão do trabalho. Adam Smith como se pode ver, é o pai da economia liberal, foi ele que lhe deixou os seus principais fundamentos, cujo expoente máximo é a chamada teoria da mão invisível. 1.4.4 Melhor educação No segundo volume do livro “A Riqueza das Nações”, Adam Smith coloca que também as instituições de educação podem propiciar um rendimento suficiente para cobrir seus próprios gastos. O autor não estabelece que seja dever do Estado subsidiar educação gratuita aos cidadãos e apenas coloca que, se for o caso, infalivelmente será a pior educação possível. 14 ECONOMIA ECONOMIA E também compara o ensino particular com o público, este último sendo exemplificado com o péssimo ensino de Oxford, universidade onde os professores tinham seu salário garantido, mesmo que sequer dessem aulas. Quando o professor não é remunerado à custa do que pagam os alunos. Nas palavras de Smith "o interesse dele é frontalmente oposto a seu dever, tanto quanto isto é possível”. " É negligenciar totalmente seu dever ou, se estiver sujeito a alguma autoridade que não lhe permite isto, desempenhá-lo de uma forma tão descuidada e desleixada quanto essa autoridade permitir". Sendo assim, mesmo um professor que tenha consciência do seu dever, irá se acomodar em seu projeto de ensino e pesquisa de acordo com suas conveniências, deixando de lado os parâmetros reais de interesse de seus alunos. 1.4.5 Teoria de valor Na sua teoria Adam Smith menciona a teoria do valor-trabalho é o reconhecimento de que em todas as sociedades, o processo de produção pode ser reduzido a uma série de esforços humanos. O autor complementa que geralmente os seres humanos não conseguem sobreviver sem se esforçar para transformar o ambiente natural de uma forma que lhes seja mais conveniente. O ponto de partida de sua teoria foi enfatizado da seguinte maneira: o trabalho era o primeiro preço, o dinheiro da compra inicial que era pago por todas as coisas. Assim, o teórico afirmou que o pré-requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse produto do trabalho humano (ROSSETI, 2000). Adam Smith conclui que o valor do produto era a soma de três componentes: o salário, os lucros e os aluguéis. Como os lucros e os aluguéis devem ser somados aos salários para a determinação dos preços, onde a teoria dos preços de Smith foi chamada de teoria da soma. Caracterizando uma soma dos três componentes básicos para o preço. Segundo Adam Smith havia uma distinção entre preço de mercado e preço natural. O preço de mercado era o verdadeiro preço da mercadoria e era determinado pelas forças da oferta e da procura. O preço natural era o preço ao qual a receita da venda fosse apenas suficiente para dar lucro, era o preço de equilíbrio determinado pelos custos de produção, mas estabelecido no mercado pelas forças da oferta e da procura. 15 ECONOMIA ECONOMIA Entre esses dois preços que era: o preço natural era o preço de equilíbrio determinado pelos custos de produção, mas estabelecido no mercado pelas forças da oferta e da procura. Havia dois grandes pontos fracos na teoria dos preços de Smith: primeiramente os três componentes dos preços os salários, lucros e aluguéis, eram eles próprios preços ou derivavam de preços, uma teoria que explica os preços com base em outros preços não pode explicar os preços em geral. Smith afirmava que o valor de uso e o valor de troca não estavam sistematicamente relacionados (WESSELS, 2010). O segundo grande ponto fraco da teoria dos preços baseados no custo de produção de Smith, segundo o autor era que a teoria levava a conclusões sobre o nível geral de todos os preços, ou em outras palavras, sobre o poder aquisitivo da moeda, e não aos valores relativos de diferentes mercadorias. A melhor medida do valor em sua opinião era quantidade de trabalho que qualquer mercadoria poderia oferecer numa troca. Dado o papel fundamental do trabalho no processo de formação de riqueza, Adam Smith defende que o valor de troca deveria ser igual ao salário, mas o que acaba por verificar é que o valor de troca é diferente do preço. Preço = Salário + Rendas + Lucro do Capital Dessa forma, Adam Smith faz uma distinção fundamental entre o preço natural e o preço de mercado: Preço natural: O conteúdo em termos de remunerações, sem influência da procura. Preço de mercado: Surge do confronto entre a procura e a oferta de curto prazo. Dessa forma, tanto o preço natural acaba por ser um preço referência. 1.4.6 Teoria da repartição do rendimento Como é que isto podia acontecer? Uma vez que o trabalho criava a riqueza, e consequentemente o preço do bem, não deveria ser o preço apenas o valor do trabalho contido? Não. Pois, opreço de um bem, além de conter o salário, contém também o lucro do capital e a renda (WESSELS, 2010). 16 ECONOMIA ECONOMIA Em sua obra, Adam Smith afirma que o rendimento seria o somatório dos salários com os lucros e as rendas. Conforme mencionado: Rendimento = Salários + Lucros + Rendas Neste sentido, o autor coloca: Quanto aos salários, deve-se diferenciar entre: Salário dos ocupados na produção deveria ser o mínimo necessário para a subsistência e evoluir com a economia. Adam Smith define trabalho produtivo como sendo aquele que tem influência direta na transformação dos bens materiais. Salário dos trabalhadores não produtivos consiste naquele trabalho que é impossível de vender. Como exemplo, Smith nos coloca os criados, os funcionários, e os produtores de serviços. Lucro do capital: Consiste no adiantamento sobre o valor criado pelo trabalho, acaba por representar a remuneração devida ao capital em risco. Renda fundiária: Seria a diferença entre o preço e a soma dos salários com os lucros que será paga ao proprietário. Resumidamente seria: Renda = Preço – (Salários + Lucros) 1.4.7 David Ricardo O teórico David Ricardo nasceu em Londres, em 19 de abril de 1772. Era filho de um judeu holandês que fez fortuna na bolsa de valores, aos 14 anos começou a trabalhar no negócio do pai, para o qual demonstrou grande aptidão. Aos 21 anos rompeu relações com a família e se converteu ao protestantismo unitarista. Desta forma, deu continuidade as suas atividades na bolsa e em poucos anos acumulou riqueza o suficiente para se dedicar à literatura e à ciência, sobretudo matemática, química e geologia. Ricardo lendo as obras de Adam Smith, principal teórico da escola clássica com The Wealth of Nations (1776; A Riqueza das Nações), começou a interessar-se por economia. Sua primeira obra data de 1810: The High Price of Bullion, a Proof of the Depreciation of Bank Notes e mostra que a inflação que então ocorria se devia à política do Banco da Inglaterra, de não restringir a emissão de moeda. Um comitê indicado pela câmara dos comuns concordou com os pontos de vista de Ricardo, o que lhe deu grande prestígio (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). 17 ECONOMIA ECONOMIA Segundo Ricardo havia uma distinção entre a noção de valor e a noção de riqueza. O valor era considerado como a quantidade de trabalho necessária a produção do bem, contudo não dependia da abundância, mas sim do maior ou menor grau de dificuldade na sua produção. Já a riqueza era entendida como os bens que as pessoas possuem bens que eram necessários, úteis e agradáveis. O preço de um bem era o resultado de uma relação entre o bem e outro bem. O autor coloca que esse preço era representado por uma determinada quantidade de moeda, obviamente que variações no valor da moeda implicam variações no preço do bem e define o valor da moeda como a quantidade de trabalho necessária a produção do metal que servia para fabricar o numerário. Analiticamente, se o valor da moeda varia se, o preço do bem variava, mas o seu valor não. A teoria de David Ricardo é válida para bens reproduzíveis. Tal como Adam Smith, Ricardo admitia que a qualidade do trabalho contribuísse para o valor de um bem. A principal contribuição foi o princípio dos rendimentos decrescentes, devido a renda das terras. Tentou deduzir uma teoria do valor a partir da aplicação do trabalho. Outra contribuição foi à lei do custo comparativo, que demonstrava os benefícios advindos de uma especialização internacional na composição das commodities1 do comércio internacional. Este foi o principal argumento do livre comércio, aplicado pela Inglaterra, durante o século XIX, exportando manufaturas e importando matérias- primas. 1.4.8 Renda Ricardo coloca que a renda deveria ser tal de forma a que permitisse ao rendeiro a conservação do seu lucro à taxa de remuneração normal dos seus capitais. O seu peso no rendimento depende das condições de produção, pois quem trabalha em melhores condições paga mais renda, e na realidade quem acabava por pagar esta renda, era o consumidor final. Esta é uma grande diferença relativamente a Adam Smith, pois ele acreditava que a renda era a diferença entre o rendimento e o somatório dos salários e dos lucros (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). 1 Commodities são produtos "in natura", cultivados ou de extração mineral, que podem ser estocados por certo tempo sem perda sensível de suas qualidades, como soja, trigo, prata ou ouro. 18 ECONOMIA ECONOMIA 1.4.9 Salário Para Ricardo o trabalho era visto como uma mercadoria. Há a distinguir duas noções de preços, a saber: Preço de mercado: Salário é determinado pelo jogo de mercado e pelas forças da procura e da oferta. Preço natural: Salário que permitia subsistir e reproduzir sem crescimento nem diminuição. Ricardo colocava que o preço natural não é constante, pois ele varia de acordo com o caso específico dos países, das épocas, ou seja, depende do ambiente em que se esteja inserido. Este preço tende a elevar-se, por exemplo, se podemos colocar o fato de o bem-estar passar a incluir objetos que antes eram considerados de luxo e que devido ao progresso tecnológico e social, tornam-se mais acessíveis. Neste sentido, Ricardo argumenta sobre as duas situações podem ocorrer: Se o preço de mercado for maior que o preço natural: Existirá a tendência a viver melhor, e com mais condições de vida. Este fato levará a uma tendência para uma maior reprodução. Com a reprodução subirá a população. Essa subida da população levará a um aumento do número de trabalhadores (um aumento da procura de trabalho) e os salários praticados acabarão por descer para o nível do preço natural. Se o preço natural for superior ao preço de mercado: A qualidade de vida das populações será menor, estabelecendo-se um raciocínio antagônico ao anterior, isto é, tendência para a menor reprodução, o que baixará a procura de trabalho. Essa diminuição da procura de trabalho levará a uma subida dos salários. 1.4.10 Lucros Adam Smith considerava rendas eram a diferença entre o rendimento e os salários mais os lucros. Já David Ricardo estabelece que os lucros sejam a diferença entre o rendimento e os salários mais as rendas. Por exemplo, um agricultor que detém o capital, guarda o lucro que é o que sobra depois de pagos as rendas e os salários. Caso este agricultor seja proprietário das terras, ganha o lucro e a renda. Considerando que as rendas são fixas, a lucratividade torna-se cada vez mais 19 ECONOMIA ECONOMIA importante, enquanto os salários tornem-se mais baixos. Sendo assim, Ricardo estabelece a noção do lucro ser um fenômeno inerente à luta de classes (ROSSETTI, 2000). 1.4.11 Teoria do crescimento Para Ricardo o crescimento depende da acumulação de capital, logo, depende da sua taxa de crescimento, isto é, do lucro. E a existência de uma taxa de lucro elevada, implica um maior crescimento econômico que, posteriormente levará a existência de uma poupança mais abundante, que permitirá a sua canalização para o investimento (WESSELS, 2010). O desenvolvimento econômico é assegurado pelo aumento do emprego e também pela melhoria das técnicas de produção e já o comércio tem pouca importância no crescimento econômico, contudo deixar de ser necessário. A sua importância é explicada pela teoria das vantagens comparativas, pois o comércio permite com a maior exportação, possamos importar mais e mais barato. Por isto, o comércio é importante para representar um papel muito relevante para o crescimento econômico (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Ricardo argumenta que enquanto houver a evolução da taxa de lucro, o crescimento estará garantido. Por outro lado, lucro depende de outrasvariáveis, tais como salários e rendas e, desta forma, começa-se a perceber uma das contradições do capitalismo, que foi explorada por Marx. O raciocínio de Ricardo parte da premissa que o mundo apresenta uma tendência para a expansão. Esta expansão tem consequência no crescimento demográfico, que levará ao cultivo de novas terras, menos férteis. Como mais terras são cultivadas, irá se verificar uma diferenciação no pagamento das rendas para as terras mais ou menos férteis. Como as rendas aumentam fruto da subida do preço das rendas das terras mais férteis, obviamente o lucro diminuirá (MONTELLA, 2008). Ricardo explica esta tendência para a baixa da taxa de lucro de uma outra forma. A acumulação de capital leva ao crescimento da população (por exemplo, com a existência de uma melhoria das condições de vida, haverá uma maior tendência para a procriação). Isso levará a um aumento da procura de trabalho, que levará a uma elevação do nível de salário (péssimas condições de vida), existindo a necessidade de se aumentar a produção. 20 ECONOMIA ECONOMIA Este aumento da produção é obtido com a utilização de terras menos férteis, o que, como vimos anteriormente, levará a uma subida das rendas. O lucro irá obviamente descer, e se o preço dos produtos agrícolas sobe isto irá se repercutir no salário que também irá crescer. Concluindo, tenha-se mais um fator que relaciona a tendência para a baixa da taxa de lucro. Quanto maior for à taxa de lucro, menor será a apetência para o investimento. Mais cedo ou mais tarde, o rendimento nacional parará de crescer, atingindo-se uma fase estacionária. Ricardo encontrou duas formas de retardar isto: Importação de produtos agrícolas: Importação de produtos agrícolas, para impedir que o preço suba e consequentemente os salários e as rendas aumentem. Aumento da produtividade agrícola: Com a mecanização e novas descobertas que teria um efeito perverso, o desemprego que é minimizado por Ricardo. 1.5 TEORIA MARXISTA Partindo da teoria do valor de David Ricardo, Karl Marx afirmou que o valor de um bem é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para sua produção. Segundo Marx, o lucro não é realizado pela troca de mercadorias, pois estas são trocadas geralmente por valor equivalente, mas sim em sua produção. Partindo disso, Marx coloca que os trabalhadores não são pagos pelo valor correspondente a seu trabalho, mas só o necessário para sua sobrevivência. Este é o famoso conceito da mais-valia, que pode ser definido pela diferença entre o valor incorporado a um bem e a remuneração do trabalho que foi necessário para sua produção. Para o teórico, não é essa a característica principal do capitalismo, mas sim a apropriação dessa mais-valia. E foi a partir dessas considerações que Marx elaborou sua crítica do capitalismo numa obra que transcendeu os limites da economia e se tornou uma reflexão geral sobre o homem, a sociedade e a história e o capital. 1.5.1 Teoria do Valor de Marx Karl Marx alterou alguns fundamentos estabelecidos na economia clássica, defendendo que há uma distinção entre valor de uso e valor de troca: 21 ECONOMIA ECONOMIA Valor de uso: É a utilidade que o bem proporciona à pessoa que o possui. Valor de troca: Exige um valor de uso, mas não depende dele. Assim como Ricardo, Marx acreditava que o valor de troca depende da quantidade de trabalho utilizada, que é considerada como a quantidade socialmente necessária. Porém, essa quantidade gasta em média na sociedade, variará entre sociedades distintas. Karl Marx, defendia a teoria da exploração do trabalhador e dizia que só o trabalho dava valor as mercadorias, a “mais valia”. Marx colocava que equipamentos e outros insumos, não geravam valor, pois eram transmitidos apenas parte do seu valor as mercadorias, desta forma, não contribuindo para a formação de valor. Em contrapartida, o homem através do seu trabalho fazia com que as matérias-primas e os equipamentos transmitissem o seu valor ao bem final, e ainda por cima criava valor acrescentado. Segundo Marx, o que ocorre é uma apropriação do fruto do trabalho. Para ele, não pode ser considerado um roubo por parte do capitalista, pois se recebe por aquele trabalho, o valor é formado tendo em conta o seu custo em termos de trabalho, sendo que o capitalista se apropria da mais valia pela utilização do seu capital. Marx afirmava que a força de trabalho era transformada em mercadoria e que o valor de força de trabalho corresponde ao socialmente necessário. O grande problema é definir qual é o valor do socialmente necessário. É fato, que o trabalhador recebe é o salário de subsistência, que é o mínimo necessário para se manter a reprodução do trabalho. Marx colocava que apesar de receber salário, o trabalhador acaba por gerar um valor agregado durante o processo produtivo, ou seja, fornece mais do que custa e esta é a diferença que Marx chama de mais valia. Como dito anteriormente, a mais valia não pode ser considerada roubo, pois é resultado da propriedade dos meios de produção. Tanto capitalistas quanto proprietários, buscam aumentar os seus rendimentos reduzindo o rendimento dos trabalhadores e este o ponto da grande crítica de Marx a exploração da força de trabalho pelo capital. Ou seja, a crítica marxista é a essência do capitalismo, que reside precisamente na exploração da força de trabalho pelo produtor capitalista, e que de acordo com Marx, um dia levará a revolução social. 22 ECONOMIA ECONOMIA 1.5.2 Subordinação da classe trabalhadora Karl Marx defende que o trabalhador é a origem do valor. Existe, uma tendência para o empobrecimento do trabalhador, pois a oferta do trabalho depende da evolução demográfica, da procura do capital investido e também do progresso. O progresso técnico é inerente ao capitalismo e com ele a procura de trabalho tende a diminuir. Marx diz também que a baixa na procura do trabalho não leva a diminuições sucessivas do trabalho, pois os sindicatos não o permitem, os operários são reduzidos a miséria porque não podem trabalhar. Em um primeiro momento, o pensamento marxista é bem formulada e inegável afirmar que, além de todas as vantagens produtivas que o progresso traz, ele costuma também gerar uma queda na quantidade de vagas de trabalho. Deve-se levar em consideração que o progresso técnico também cria novas vagas de trabalho, ou seja, com o progresso técnico aparecem novos postos de trabalho que antes não existiam. Obviamente, que isto criará um empecilho aos trabalhadores que são menos qualificados, pois terão que atualizar-se para poderem competir no mercado de trabalho. 1.5.3 Tendência para a diminuição da taxa de lucro De acordo com Marx, a taxa de lucro era o raciocínio da mais valia, se a tendência do capitalista é a acumulação de capital, isto implicaria um aumento de X (derivado da inovação tecnológica utiliza-se cada vez mais máquinas, logo, sobe o peso do capital constante). Ora aumentando X, facilmente se vê que a taxa de lucro desce. Para Marx este movimento pode ser contrariado pela exploração da força de trabalho, logo um aumento da taxa de lucro. Esta análise está fortemente condicionada pela análise do valor que Marx faz. Na sua teoria, apenas a força do trabalho cria valor, pois o restante capital (meios de produção) apenas o transmite. Seguindo esta lógica, há uma tendência para a redução da taxa de lucro. O que Marx não leva em consideração é que o progresso tecnológico reduz os custos dessa mesma tecnologia. Segundo Marx também não leva em consideração em suas análises quais os efeitos da crescente produtividade. Se mantenha a mesma força de trabalho, esta 23 ECONOMIA ECONOMIA mesma quantidade de trabalho gera mais valor, através do aumento de sua produtividade,isso implica que a mais valia também aumentará. Sendo assim, não há uma tendência para a redução da taxa de lucro e surge uma tendência para o aumento da taxa de lucro (ROSSETTI, 2000). O raciocínio de Marx, caso não tomássemos em consideração os efeitos do crescimento da produtividade, está completamente certo. Com o aumento da produtividade, eleva-se a mais valia de cada trabalhador e o progresso tecnológico reduz os custos de produção. Sendo assim, tenha-se que a tendência do sistema capitalista é a elevação da taxa de lucro, de duas formas: Aumento da mais valia: Devido ao aumento da produtividade. A diminuição dos custos do capital constante: Devido ao progresso tecnológico. 1.5.4 Poder monopolista Sabendo que a tendência do capitalista é a acumulação, há uma tendência para a redução dos preços e se os preços baixam algumas empresas não terão como produzir, pois não gerarão lucro com preços baixos e como não podem produzir, tende a desaparecer (HUNT, 2005). Desta maneira, com o desaparecimento de empresas que não são competitivas, o setor tende a concentrar-se em poucas empresas que conseguem acompanhar o nível de preços praticados e gerando lucro. De acordo com Marx, existe uma contradição no fato de se perder a essência do capitalismo, à medida que a concentração aumenta, a concorrência diminui. Neste ponto, Marx tem toda a razão, comenta que o progresso tecnológico, faz com que os custos de produção das empresas sejam reduzidos consideravelmente, baixando os custos de produção e as empresas podem praticar preços de venda menores. Assim, as empresas que não conseguem se adequar a realidade tecnológica e, sobretudo, capital para acompanhar as inovações tecnológicas, serão obrigadas a encerrar suas atividades. Complementando este pensamento, a tendência do capitalismo é a concentração, isto porque nem todas as empresas conseguem se adequar ao processo de inovação e a redução dos custos de produção. 24 ECONOMIA ECONOMIA Marx apontou as quatro grandes contradições do sistema capitalista. Porém, deve-se levar em consideração, em qualquer análise que se faça de qualquer trabalho ou ideia, a realidade atual. Neste sentido, quando se fala destas quatro contradições, Marx falha ao não inferir que o processo de inovação também cria novos empregos, mesmo que sejam apenas para os mais qualificados. Outro ponto é que na sua análise da tendência para a redução da taxa de lucro, que foi fortemente influenciada pela noção da teoria de valor, onde o mesmo não considerou os efeitos do progresso tecnológico. O uso da força de trabalho é o trabalho que deve ser útil para realizar valores de uso. Este processo de trabalho é composto por: atividade do homem, objeto de trabalho e meios de trabalho. Uma matéria-prima é um objeto já trabalhado e o que distingue uma época econômica de outra são os meios de trabalho, verificando-se que a quantidade de mão-de-obra diminui com a evolução dos meios (ROSSETI, 2000). O capital compra o valor de uso da força de trabalho, sendo que esta lhe pertence. Entretanto, o capital não produzirá apenas algo útil, pois o objetivo principal é a mais valia, ou seja, que o valor do produto final ultrapasse o dos insumos necessários para produzir. Assim, o valor desta mercadoria é determinado pelo chamado tempo socialmente necessário à sua produção, pois se for utilizado mais tempo ou os insumos forem mais caros, o dono do capital estará perdendo dinheiro. Na opinião de Marx, apenas o trabalho humano gera valor, ou seja, máquinas e matérias-primas não geram valor, apenas o transferem quando são trabalhadas pelo homem. 1.5.5 Como se forma a mais valia O detentor do capital comprou a força de trabalho por um valor, este que permite a subsistência do trabalhador, a sua reprodução, instrução, manutenção e que varia de acordo com a sociedade em que se está inserido. Assim, o capitalista passa a ser proprietário de uma mercadoria com o seu valor de uso, depois criando nesta mercadoria um valor superior ao que ela vale. Assim, chamado de sobre trabalho, ou seja, tempo extra que o detentor do capital tenta postergar ao máximo e não é pago que é criada a mais valia. Neste sentido, a mais valia surge do fato do funcionário trabalhar além do que o socialmente necessário e deste excedente não pago que o capitalista se apropria. Marx coloca que 25 ECONOMIA ECONOMIA a produção da mais valia não é maior que a produção de valor prolongada para além de certo ponto. Se o processo de trabalho só durar até ao ponto em que o valor da força de trabalho paga pelo capital é substituído por um novo equivalente, haverá simples produção de valor, quando ultrapassar este limite haverá produção de mais valia (HUNT, 2005). 1.5.6 Taxa de mais valia Acabada a produção obtemos uma mercadoria igual a c+v+p (sendo c o capital constante, v a capital variável, e p a mais valia). A mais valia proporcional (relação de quanto ganhou em valor a capital variável) é nos dada pela relação da mais valia com a capital variável (p/v), esta é a taxa de mais valia. Para Marx, a parte do dia em que o trabalhador produz o valor da sua força de trabalho é menor ou maior consoante o valor da sua subsistência diária e o autor define “tempo de trabalho necessário à parte do dia em que se realiza a reprodução da sua força de trabalho, e trabalho necessário ao trabalho despendido neste tempo, necessário para o trabalhador e para o capitalista”. Sendo assim, conclui-se que o período extra não constituiu nenhum valor para o operário, mas é essencial ao capitalista, o que Marx chama de sobre trabalho. Para Marx as diferentes formas econômicas da sociedade, apenas se distinguem pela forma como este sobre trabalho é imposto. A taxa de mais valia pode também ser sobre trabalho/trabalho necessária sendo, a “expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital”. A soma do trabalho necessário com o sobre trabalho constituiu o dia de trabalho. 1.5.7 Capital constante e capital variável Para Marx importa distinguir entre dois tipos de capital: Capital constante: Capital investido em meios de produção, constante porque o seu valor não muda no processo produtivo. Capital variável: Capital investido na força de trabalho, variável porque produz um valor diferente consoante a intensidade da sua utilização. 26 ECONOMIA ECONOMIA Os meios de produção só transmitem valor na medida em que perdem valor, ou seja, não podem acrescentar ao produto mais do que possuem, Marx defini como capital constante que sendo condição de criação de mais valia, não produz per si mais valia. Por outro lado, o autor coloca que o trabalho conserva e transmite o valor dos meios de produção ao produto. Reproduz o seu próprio equivalente e, além disso, gera uma mais valia engendrada no trabalho extra que pode ser maior ou menor consoante a sua duração. A mais valia depende do grau de exploração da força de trabalho. Sendo a taxa de mais valia dada por (sobre trabalho/trabalho necessário) ela não nos daria de forma nenhuma reciprocamente a grandeza do dia de trabalho. Se a taxa de mais valia fosse de 100% apenas nos indicaria que as duas partes do dia eram iguais, não nos indicaria o tempo de cada uma dessas partes. 1.5.8 Dia de trabalho não é fixo e possui um limite Teoricamente o limite mínimo é o tempo em que o trabalhador opera para a sua conservação, contudo no modo de produção capitalista o trabalho necessário nunca pode formar mais do que uma parte do dia de trabalho, e o dia de trabalho não pode ser reduzido a este mínimo. O dia possuiu um limite máximo, que é duplamente determinado, por um lado fisicamente (o homem tem necessidades a satisfazer e limitação, precisando de se manter apto para o trabalho), por outro moralmente (o homemprecisa de tempo para satisfazer necessidades intelectuais, sociais, dentre outras). Marx coloca que tais limites, variam de sociedade para sociedade e são muito elásticos, mas “o capitalista tem a sua maneira de ver sobre este último limite necessário do dia de trabalho”. Há, os interesses antagônicos quanto a duração do dia de trabalho, podendo cada lado invocar as suas razões. A luta entre as duas facções é secular, sendo muitas as tentativas de regular o mercado de trabalho que desenfreiam a paixão desordenada do capital na absorção do trabalho, impondo limitação oficial ao dia de trabalho. Nomeadamente depois dos “Factory Acts” na Inglaterra foram nomeados inspetores para verificar a aplicação dessas leis, podendo-se ler algumas das conclusões (alguns casos terríveis) a que eles chegaram (ROSSETTI, 2010). 27 ECONOMIA ECONOMIA Mesmo com as limitações ao dia de trabalho, coloca que o capitalista sempre achou forma de contorná-las, permitindo manter à tão desejada mais valia e até mesmo aumentá-la. Uma dessas formas era é a exploração das horas dedicada as pausas (retirando pequenas partes destinadas ao repouso do trabalhador, em que esta final continua a laborar). Tais situações, como os próprios inspetores reconheceram são difíceis de detectar e combater “os inspetores deparam-se com dificuldades quase invencíveis para comprovar os delitos e estabelecer as respectivas provas”. Uma das outras formas era exploração da mão-de-obra infantil, o que obviamente era mau para a saúde dos jovens e tem reflexos para as gerações futuras que serão cada vez mais fracas. Marx em “O Capital” é fértil em mostrar estas situações, com depoimentos, mostrando também a insipiência de muitas das respostas dadas pelos capitalistas (HUNT, 2005). Outros autores concordam com Marx e dão ênfase a outras formas de exploração pelo “capitalista incipiente”, como o sistema de turnos. Nesta situação são muitos os exemplos que demonstram que o capitalista não ficava a perder. Por exemplo, em um dia de 8 horas, 4 de manhã e 4 à tarde. Porém, nesses descansos o trabalhador ficava a trabalhar e acabava por entrar mais cedo, ou então era obrigado a permanecer no local de trabalho e obviamente por necessidade e dependência, sempre que lhe pedissem para trabalhar mais, ele aceitava. 1.6 TEORIA KEYNESIANA No conturbado período, assim argumentado por Pinho e Vasconcellos (2003) entre as duas grandes guerras, as obras de John Maynard Keynes (1883-1946), romperam a tradição neoclássica e apresentaram um programa de ação governamental para a promoção do pleno emprego2. Foi tal o impacto produzido, que a atuação de Keynes e de seus continuadores passou a ser chamada de “Revolução Keynesiana”. Keynes foi um conselheiro de vários governos da Inglaterra e participou de importantes conferências internacionais durante a “Segunda Guerra Mundial”. Em 1943 criou o Plano Keynes para estabilização internacional das moedas. Terminada 2 Pleno emprego: refere-se ao uso eficiente da totalidade dos recursos produtivos, descontada uma taxa natural de desemprego. 28 ECONOMIA ECONOMIA a Guerra, participou ativamente dos trabalhos de criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD). Keynes interessou-se pelos problemas da instabilidade em curto prazo, e procurou determinar as causas das flutuações econômicas e os níveis de renda e de emprego em economias industriais. Marx, por sua vez, também se aproximara das preocupações de Keynes, mas não se aprofundara do assunto, talvez por acreditar na queda inevitável do capitalismo. Keynes colocou em dúvida as pressuposições dos neoclássicos, bem como preocupações com o longo prazo. Considerou os problemas dos grandes agregados em curto prazo, e esforçou-se no sentido de contestar a condenação marxista ao capitalismo: este poderia ser preservado em sua parte essencial, se reformas oportunas fossem calculadas, já que um capitalismo não regulado mostrara-se incompatível com a manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica. Keynes criticou a lei de Say e inverteu a perspectiva de exame da moeda em movimento “gasta”, reinterpretou a taxa de juro, analisou a poupança e o consumo, estudou sob novo enfoque a determinação do investimento e o equilíbrio agregativo, atribuiu papel ativo à política fiscal, defendendo déficits públicos. Alguns autores socialistas têm criticado Keynes por haver recomendado políticas econômicas que, além de aumentar a inflação, não provocam a elevação do poder aquisitivo dos trabalhadores, apenas estimulam o consumo das classes dominantes. Apesar de muito criticada, a obra de Keynes estimulou o desenvolvimento de estudos não apenas no campo da economia, mas também em áreas afins. Na área da renda, emprego e a teoria monetária, as contribuições pós-keynesianas têm provocado verdadeiro impacto sobre a evolução do pensamento econômico contemporâneo. Na área da flutuação e do desenvolvimento econômico são geralmente considerados pós-keynesianos os autores que se têm se interessado especialmente pela procura agregada e que contribuem no sentido de tornar dinâmica a análise de Keynes. Na área da ciência econômica, não tenha surgido uma obra econômica que se provoca impacto semelhante ao da “teoria geral do emprego, do juro, e da moeda” de Keynes, em 1936. Muito menos ideias que revolucionassem intensamente a 29 ECONOMIA ECONOMIA maneira de considerar os problemas econômicos, políticos, sociais e culturais, tal como aconteceu no keynesiano. Mais de meio século já decorreu desde obra de Keynes revolucionou o mundo econômico, sem que outra “teoria geral” e outro autor se impusessem com tanta força, nem mesmo no momento atual, quando o próprio keynesiano começa a refluir diante da escala do neoliberalismo, em suma a grande influência do Keynesianismo permanece insuperável na teoria econômica. 1.7 CARACTERIZAÇÃO Em nosso cotidiano, seja nos jornais, no rádio e na televisão, deparamos com inúmeras questões econômicas, como: Aumentos de preços; Períodos de crise econômica ou de crescimento; Desemprego; Setores que crescem mais do que outros; Diferenças salariais; Crises no balanço de pagamentos; Vulnerabilidade externa; Valorização ou desvalorização da taxa de câmbio; Dívida externa; Ociosidade em alguns setores de atividade; Diferenças de renda entre as várias regiões do país; Comportamento das taxas de juros; Déficit governamental; Elevação de impostos e tarifas públicas. A palavra economia vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei). No sentido original, seria a “administração da casa”, que pode ser generalizada como “administração da coisa pública”. Economia, assim argumentado por Vasconcellos (2008), pode ser definida como a ciência social que estuda como indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de modo a distribuí- 30 ECONOMIA ECONOMIA los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer às necessidades humanas. A Economia estuda, pois, a relação que os homens têm entre si na produção dos bens e serviços necessários à satisfação dos desejos e aspirações da sociedade. Ocorre que as necessidades humanas são infinitas ou ilimitadas. Isto porque o ser humano, pela sua própria natureza, nunca está satisfeito com o que possui e sempre deseja mais coisas. Por outro lado, os recursos produtivos (ou fatores de produção) que a sociedade conta para efetuar a fabricação de bens e serviços (a extensão de terra agriculturável e demais recursos naturais, o volume de mão de obra disponível para o trabalhoe a quantidade de máquinas e equipamentos que a sociedade possui) tem caráter finito ou limitado. Há, portanto, uma contradição. Os desejos e necessidades da sociedade são ilimitados e os recursos para efetivar-se a produção dos bens e serviços que devem atendê los são limitados. Isto nos leva à seguinte proposição: por mais rica que a sociedade seja (por mais recursos produtivos de que disponha), os fatores de produção serão sempre escassos para efetivar a fabricação de todos os bens e serviços que essa mesma sociedade deseja. Ou seja, ela terá́ que efetuar escolhas sobre quais os bens e serviços deverão ser produzidos, da mesma forma que o cidadão comum, contando com um salário de determinado valor, não pode naturalmente consumir todos os bens e serviços que deseja, devendo escolher entre eles quais poderá́ adquirir e que estejam ao alcance de sua renda. Desse modo, trata-se de uma ciência social, já que objetiva atender às necessidades humanas. Contudo, depende de restrições físicas, provocadas pela escassez de recursos produtivos ou fatores de produção (mão-de-obra, capital, terra, matérias-primas). Pode-se dizer que o objetivo da ciência econômica é a questão da escassez, ou seja, como economizar recursos. A escassez surge em virtude das necessidades humanas ilimitadas e da restrição física de recursos. Afinal, o crescimento populacional renova as necessidades básicas, o contínuo desejo de elevação do padrão de vida (que poderíamos classificar como uma necessidade social de melhoria de status) e a evolução tecnológica fazem com que surjam novas necessidades (computador, freezer, celular, dentre outros). Nenhum país, mesmo os países ricos, são 31 ECONOMIA ECONOMIA autossuficientes, em termos da disponibilidade de recursos produtivos, para satisfazer a todas as necessidades da população. Se não houvesse escassez de recursos, ou seja, se todos os bens fossem abundantes (bens livres), não haveria necessidade de estudarmos questões como inflação, crescimento econômico, déficit no balanço de pagamentos, desemprego e outros agregados econômicos. Estes problemas provavelmente não existiriam a necessidade nem a necessidade de se estudar economia. Todas as sociedades, segundo Vasconcellos (2007) qualquer que seja seu tipo de organização econômica ou regime político, são obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que os recursos não são abundantes. Elas são obrigadas a fazer escolhas sobre: O que e quanto produzir: A sociedade deve decidir se produz mais bens de consumo ou bens de capital, ou, como num exemplo clássico: quer produzir mais canhões ou mais manteiga? Em que quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a produção de mais bens de consumo, ou bens de capital? Como produzir: Trata-se de uma questão de eficiência produtiva, como serão utilizados métodos de produção capital-intensivos? Ou mão-de-obra intensivos? Esta decisão depende da disponibilidade de recursos de cada país. Para quem produzir: A sociedade deve decidir quais os setores que serão beneficiados na distribuição do produto, tais como: trabalhadores, capitalistas ou proprietários de terra? Agricultura ou indústria? Mercado interno ou mercado externo? Ou seja, trata-se de decidir como será distribuída a renda gerada pela atividade econômica. Um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e econômica pela qual está́ organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização da produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida e bem-estar. Os elementos básicos de um sistema econômico são: Estoque de recursos produtivos ou fatores de produção: aqui se incluem os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas naturais e a tecnologia; complexo de unidades de produção: constituído pelas empresas; Conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais: que são a base da organização da sociedade. 32 ECONOMIA ECONOMIA Os sistemas econômicos podem ser classificados em: a) Sistema capitalista ou economia de mercado. É regido pelas forças de mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção; b) Sistema socialista ou economia centralizada ou, ainda, economia planificada. Nesse sistema as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública dos fatores de produção, chamados nessas economias de meios de produção, englobando os bens de capital, terra, prédios, bancos, matérias-primas. Os países organizam-se segundo esses dois sistemas, ou alguma forma intermediaria entre eles. Pelo menos até́ o inicio do século XX, prevalecia nas economias ocidentais o sistema de concorrência pura, em que praticamente não havia a intervenção do Estado na atividade produtiva. Era a filosofia do Liberalismo, que será́ discutida mais adiante. Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas de economia mista, nos quais ainda prevalecem as forças de mercado, mas com a atuação complementar do Estado, seja na produção de bens públicos, nas áreas de educação, saúde e saneamento, justiça, defesa nacional etc., seja induzindo investimentos do setor privado, principalmente para setores de infraestrutura, como energia, transportes, comunicações. Em economias de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e salá- rios é determinada predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua por meio da oferta e da demanda de bens e serviços e dos fatores de produção. Nas economias centralizadas, essas questões são decididas por um órgão central de planejamento, a partir de um levantamento dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país. Ou seja, grande parte dos preços dos bens e serviços, salários, cotas de produção e de recursos é calculada nos computadores desse órgão, e não pela oferta e demanda no mercado. Após o fim da chamada “Cortina de Ferro”, ao final dos anos 1980, mesmo as economias ainda guiadas por governos comunistas, como Rússia e China, tem aberto cada vez mais espaço para atuação da iniciativa privada, caracterizando um “socialismo de mercado” ou “capitalismo de estado”, com regime político comunista, mas economia de mercado. 33 ECONOMIA ECONOMIA Provavelmente, talvez apenas Cuba e Coreia do Norte sejam os únicos remanescentes de um tipo de economia completamente centralizada. 1.7.1 Escassez e escolha individual Para os autores Hall e Lieberman (2003), basta pensar um pouco em sua própria vida em suas atividades rotineiras, nos bens que você possui e aprecia, no ambiente em que vive. Há algo que você já tenha no momento e que gostaria de ter? Algo que você já tenha, mas gostaria de ter em maior quantidade? Se a sua resposta for “não”, parabéns! A vasta maioria, no entanto, sente a pressão das restrições ao padrão material de viver. Esta verdade encontra-se no coração da economia e pode ser reescrita da seguinte maneira: todos os indivíduos enfrentaram o problema da escassez. À primeira vista, pode parecer que você sofre de uma infinita variedade de carências. São tantas as coisas que você gostaria de ter exatamente agora uma sala ou apartamento maior, um carro novo, mais roupas. A lista é interminável de desejos de consumo, porém a nossa limitada capacidade de satisfazer estes desejos se baseia em duas limitações mais essenciais: escassez de tempo e de poder aquisitivo. A escassez de poder aquisitivo é sem dúvida, familiar a você. Todos já quisemos ter renda maior para comprar mais coisas que desejamos, neste mesmo parâmetro, a escassez de tempo é igualmente importante muitas das atividades de que gostamos, como porexemplo, ir ao cinema, tirar férias, dar um telefonema, exigem tanto tempo quanto dinheiro. Assim como o poder aquisitivo é limitado, temos um número finito de horas por dia que podemos dedicar à satisfação de desejos. Devido à escassez de tempo e à de poder aquisitivo, somos forçados a fazer escolhas. Precisamos distribuir o escasso tempo entre diferentes atividades: trabalho, diversão, educação, sono, compras e outras coisas mais. Precisamos também distribuir o escasso poder aquisitivo entre diferentes bens e serviços: abrigo, alimento, móveis, viagens e muitas outras coisas. Cada vez que escolhemos comprar ou fazer uma determinada coisa, estamos também escolhendo não comprar ou não fazer outra. Os economistas estudam as escolhas que precisamos fazer como indivíduos e a maneira como estas decisões moldam a economia. Por exemplo, na próxima 34 ECONOMIA ECONOMIA década, cada um de nós poderá como indivíduos optar por fazer maior quantidade de compras pela internet. Coletivamente, isto determinará quais firmas e indústrias crescerão e contratarão novos empregados, como firmas de consultoria para a internet e fabricantes de tecnologia para a internet e também quais firmas se contrairão e demitirão empregados (como o varejo tradicional). 1.7.2 Escassez e escolha social Hall e Lieberman (2003), afirma se agora pensemos, em escassez e escolha do ponto de vista da sociedade. Quais são as metas da sociedade? Queremos um padrão de vida mais elevado para os cidadãos, ar limpo, ruas seguras, boas escolas e muito mais. O que nos impede de realizar todos estes objetivos de uma maneira satisfatória para todas? A resposta é óbvia: a escassez. No caso da sociedade, o problema é uma escassez de recursos, como as coisas que usamos para produzir bens e serviços que nos ajudam a atingir os objetivos. Os recursos são classificados em três categorias principais: Trabalho: É o tempo que as pessoas despendem produzindo bens e serviços. Capital: Consiste em instrumentos duradouros que as pessoas usam para produzir bens e serviços. Isto inclui capital físico, que reúne coisas como prédios, maquinaria e equipamentos, e capital humano que se refere às habilidades e o treinamento que têm os trabalhadores. Terra: É o espaço físico em que se dá a produção, além dos recursos naturais nela encontrados, como petróleo, ferro, carvão e madeira. Qualquer coisa produzida na economia resulta de alguma combinação desses recursos. Pensar como sociedade, os recursos tais como, terra, trabalho e capital são instrumentos para produzir a totalidade dos bens e serviços que desejamos, em outras palavras, à sociedade enfrenta uma escassez de recursos. Esta dura verdade a respeito do mundo nos ajuda a entender as escolhas que a sociedade precisa fazer. A escassez de recursos e as escolhas que somos forçados a fazer é a fonte de todos os problemas que estudaremos na economia. As famílias têm rendas limitadas, a partir das quais buscam satisfazer seus desejos, de modo que precisam escolher cuidadosamente como alocar seus gastos entre bens e serviços. As firmas desejam 35 ECONOMIA ECONOMIA ter o maior lucro possível, mas precisam pagar por seus recursos e por isso escolhem: o que produzir quanto produzir e como produzir. Agências governamentais federais, estaduais e municipais operam com orçamentos limitados, por isso precisam escolher as metas às quais pretendem se dedicar e já o campo da economia estuda estas decisões tomadas por famílias, firmas e governos para explicar como opera o sistema econômico, a fim de prever o futuro da economia e sugerir meios para chegar a um futuro melhor. A teoria econômica é dividida entre microeconomia e a macroeconomia, que tem como referência básica o autor Mankiw (2009). A microeconomia pode estudar os efeitos do controle de aluguéis sobre os imóveis residenciais na cidade de Nova York, o impacto da competição estrangeira sobre a indústria automobilística dos Estados Unidos ou os efeitos da frequência escolar obrigatória sobre os ganhos dos trabalhadores. O campo da economia se divide em duas partes importantes: microeconomia e macroeconomia. Microeconomia vem da palavra grega mikros, que significa “pequeno”. Dedica-se a uma visão em close da economia, como se estivesse olhando a economia através de um microscópio. A microeconomia se dedica ao comportamento de agentes individuais no panorama econômico, as famílias, empresas e governos. Avalia as escolhas que estes agentes fazem e as interações que há entre eles quando se encontram para negociar bens e serviços específicos. Macroeconomia vem da palavra grega makros, que significa “grande” e adotada como visão geral da economia. A macroeconomia agrega todos os bens e serviços e aborda a produção total e se concentra no panorama geral e desconsidera os pequenos detalhes. 36 ECONOMIA ECONOMIA UNIDADE II – TEORIA MICROECONÔMICA Vasconcellos (2008) menciona que a Microeconomia, ou teoria dos preços, analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quantidade de determinado bem ou serviço em mercados específicos. Assim, enquanto a Macroeconomia enfoca o comportamento da Economia como um todo, considerando variáveis globais como consumo agregado, renda nacional e investimentos globais, a análise microeconômica preocupa-se com a formação de preços de bens e serviços (por exemplo, soja, automóveis) e de fatores de produção (salários, aluguéis, lucros) em mercados específicos. A teoria microeconômica não deve ser confundida com economia de em- presas, pois tem enfoque distinto. A Microeconomia estuda o funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado, isto é, o preço obtido pela interação do conjunto de consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem ou serviço. Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões: - Politica de preços da empresa; - Previsões de demanda e faturamento; - Previsões de custos de produção; - Decisões ótimas de produção (escolha da melhor alternativa de produção, isto é, da melhor combinação de fatores de produção, e do tamanho (escala) ótimo de operação); - Avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo–benefício da compra de equipamentos, ampliação da empresa); - Política de propaganda e publicidade (como as preferências dos consumidores podem afetar a procura do produto); - Localização da empresa (se a empresa deve situar-se próximo aos centros consumidores ou aos centros fornecedores de insumos); - Diferenciação de mercados (possibilidades de preços diferenciados, em diferentes mercados consumidores do mesmo produto). 37 ECONOMIA ECONOMIA Em relação à política econômica, a teoria microeconômica pode contribuir na análise e tomada de decisões das seguintes questões: - Efeitos de impostos sobre mercados específicos; - Política de subsídios (nos preços de produtos como trigo e leite, ou na compra de insumos como máquinas, fertilizantes); - Fixação de preços mínimos na agricultura; - Avaliação de projetos de investimentos públicos; efeitos de impostos sobre mercados específicos; - Política de subsídios (nos preços de produtos como trigo e leite, ou na compra de insumos como máquinas, fertilizantes); fixação de preços mínimos na agricultura; - Fixação do salário mínimo; - Controle de preços; - Política salarial; - Política de preços e tarifas públicas (água, luz e outras); -Fixação de tarifas alfandegárias; - Leis antitruste (defesa da concorrência). A teoria microeconômica consiste nos seguintes tópicos: Analise da demanda - demanda ou procura de uma mercadoria ou serviço divide-se em teoria do consumidor
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