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1 ALIENAÇÃO PARENTAL E as consequências sociais e jurídicas. Canoas 2017 JÚLIO ELIANAI DE MELO LIMA 2 ALIENAÇÃO PARENTAL E as consequências sociais e jurídicas. Monografia de graduação apresentada como requisito para a obtenção de grau de Bacharel no curso de Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis – Laureate Internacional University. Orientadora: Profª. Meª Carolina Fernández Fernandes Canoas 2017 3 ALIENAÇÃO PARENTAL E as consequências sociais e jurídicas. Autor: Júlio Elianai de Melo Lima Trabalho de Conclusão defendido e aprovado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito, pela banca examinadora constituída por: _______________________________________________ Nome do(a) professor(a) ______________________________________________ Nome do(a) professor(a) ______________________________________________ Nome do(a) professor(a) Canoas 2017 4 Esse trabalho é dedicado a duas pessoas importantes na minha vida. Primeiramente à Juliana Zanatta Lima, minha única filha, pois fomos vítimas da alienação parental, encontrando assim motivação para escolha desse tema. Segundo, ao meu querido pai Jovenal Caetano Lima (in memorian), porque além de melhor amigo, foi o meu principal incentivador para que viesse a estar lutando pelos meus sonhos. 5 AGRADECIMENTOS A Deus por toda sabedoria e por estar sempre presente na minha vida; a Dra. Neusa Derlan, advogada formada na Uniritter em 1972, minha principal incentivadora a prestar o vestibular no Curso de Direito; aos meus pais Jovenal Caetano de Lima (in memorian) e Maria de Melo Lima por sempre me apoiarem; as minhas irmãs Gilmara, Leonara e Cinara pelo incentivo; aos Doutores Elton Minotto e Jonas Barbieri, esse último me abrigou como estagiário por 3 anos, mantendo-me numa salutar parceria junto ao seu escritório jurídico fazendo que eu aprendesse na prática as lides processuais em diversas áreas do Direito; aos escritores na qual estão inseridos na bibliografia deste trabalho; aos meus colegas da Unirriter pelo coleguismo e que nossas amizades possam ir além dos estudos. aos professores pela dedicação e destreza, sendo um diferencial no método de ensino e profissionais altamente dedicados, fazendo os alunos realmente “inquietos”. Aos professores da banca examinadora, que compõe este momento tão importante da vida acadêmica dos alunos, a conclusão do curso; a professora Carolina F. Fernandes que me auxiliou neste trabalho de monografia. 6 “A fé é o firme fundamento das coisas que não se veem, mas que se esperam” APOSTOLO PAULO 7 RESUMO A presente monografia tem como tema a alienação parental, que passou a ter juridicidade no ano de 2010 com a promulgação da Lei nº 12.318/2010, trazendo à tona a necessidade e urgência da discussão de suas consequências sociais e jurídicas. Assim o trabalho aborda a origem e o conceito de alienação parental, descrevendo algumas das práticas que podem configurar a conduta alienadora e as trágicas consequências no âmbito social. Analisa-se a lei que traz elementos de proteção ao interesse da criança e do adolescente e que não estavam previstos no ECA, como a reversão da guarda, a guarda compartilhada, os tratamentos sociais e psicológicos das partes, bem como a possibilidade da suspensão da autoridade parental para casos de prática reiterada. O trabalho também se aprofundou sobre as falsas denúncias de abuso sexual relacionadas ao tema e como a lei vem sendo aplicada. Para atingir o objetivo proposto, metodologicamente aplicou-se o tipo de pesquisa bibliográfica e documental, com abordagem qualitativa. Palavras-chave: Alienação Parental. Síndrome da Alienação Parental. Guarda Compartilhada. Dignidade da Pessoa Humana. 8 ABSTRACT This monograph focuses on parental alienation, which became legal in 2010, with the promulgation of Law 12,318 / 2010, bringing to the fore the need and urgency of discussing its social and legal consequences. Thus the work approaches the concept of parental alienation, and seeks to describe some of the practices that can configure the alienating behavior. As legal consequences of the practice of parental alienation, we analyze the loss of family power, shared custody and the social and psychological treatments of the parties, giving a north to judicial decisions. To reach the proposed objective, methodologically the type of bibliographic and documentary research was applied, with a qualitative approach. Keywords: Parental Alienation. Parental Alienation Syndrome. Shared Guard. Dignity of human person. 9 LISTAGEM DAS ABREVIATURAS E SIGLAS ADI: Ação Direta de Inconstitucionalidade ADPF: Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental ART: Artigo CC: Código Civil CDH: Centro de Direitos Humanos ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente SAP: Síndrome da Alienação Parental STF: Supremo Tribunal Federal 10 SUMÁRIO RESUMO 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................11 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A FAMÍLIA..............................................14 2.1 O surgimento da família no seu contexto jurídico e social................................14 2.2 Da Dignidade Humana em relação a alienação parental..................................16 2.3 Conflitos Familiares...........................................................................................20 2.3.1 Separação conjugal e divórcio........................................................................20 2.3.2 Conflito em relação a Guarda dos filhos.........................................................26 2.4 A destituição e a restituição do poder familiar...................................................27 3 DA ALIENAÇÃO PARENTAL..............................................................................313.1 O surgimento da síndrome da alienação parental.............................................31 3.2 Definição de síndrome da alienação parental...................................................32 3.3 As consequências da síndrome da alienação parental.....................................33 3.4 Condutas da pessoa alienadora........................................................................37 3.5 As falsas denúncias de abuso sexual em crianças...........................................38 3.6 A lei da alienação parental................................................................................45 3.7 Jurisprudências de alienação parental..............................................................53 4 DAS POSSÍVEIS SOLUÇÕES DA ALIENAÇÃO PARENTAL............................56 4.1 Da guarda compartilhada em casos de alienação parental...............................56 4.2 Do laudo pericial de psicólogos e assistentes sociais............................. .........58 4.3 ECA e o Conselho Tutelar na alienação parental............................................ .61 4.4 O advogado frente alienação parental...............................................................64 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................65 REFERÊNCIAS........................................................................................................68 11 1 INTRODUÇÃO A presente monografia, intitulada alienação parental e suas consequências sociais e jurídicas, tem como objetivo o estudo da alienação parental e das medidas que podem ser adotadas para inibir essa prática. Para tanto, o trabalho aborda de início a origem da família e sua evolução histórica, mostrando neste contexto os conflitos familiares. Como Consequência, e visando a proteção efetiva do direito familiar, aborda-se o surgimento da Lei da Alienação Parental, Lei n.º 12.318, de 26 de agosto de 2010. Conforme a psicopedagoga Ada Carvalho, o Brasil é um dos raros países do mundo que tem uma legislação específica sobre o assunto. Em 27/8/2017, comemorou-se sete anos da Lei 12.318, que veio definitivamente solidificar esse importante conceito. 1 Segundo a pesquisa realizada pela Associação de Pais e Mães Separados Apase), 80% dos filhos de pais separados sofrem com o problema em algum grau. 2 Ainda, conforme o site “Alienaçãoperental.com.br” mais de 20 milhões de crianças sofram este tipo de violência. 3 A Alienação parental surgiu como tema de muitas discussões, inicialmente na América do Norte e se propagou para outros continentes; é uma construção do psiquiatra norte-americano Richard A. Gardner, chefe do departamento de Psiquiatria Infantil da faculdade de medicina e cirurgia da Universidade de Columbia, Nova York, Estados Unidos da América . Essa síndrome acontece na maioria das vezes, com a ruptura das relações conjugais, não suportada por um dos cônjuges, surge um sentimento de abandono que gera nessa pessoa uma necessidade incontrolável de atingir o outro. É nessa 1 CARVALHO, A. (04 de outubro de 2017). ORIENTAÇÃO DA PSICOPEDAGOGA – Alienação parental: um prejuízo ao desenvolvimento da criança, por Ada Carvalho. Acesso em 30 de outubro de 2017, disponível em http://nedjaalves.com/orientacao-da- psicopedagoga-alienacao-parental-um-prejuizo-ao-desenvolvimen to-da-crianca-por-ada-carvalho/ 2 FIGUEIREDO, Andressa. Alienação Parental. Notícias Piauí . Disponível em Portal o dia: http://www.portalodia.com/noticias/piaui/80-dos-filhos-de-pais-separados-sofrem-com-alienacao-paren tal-220407.html Acesso em 22/10/2017. 3 SAP. Síndrome da Alienação Parental. O que é SAP (2011). disponível em alienação parental: http://www.alienacaoparental.com.br/o-que-e , acesso em 22.10/2017 12 vingança que aparece o instituto da alienação parental, e os filhos passam a ser alvo dessa disputa e a pessoa alienadora se utiliza da prole como forma de retaliação pelo fim do relacionamento. As manifestações de centenas de pais que buscavam o seu Direito; buscavam não apenas por si próprios, mas também pelos seus filhos, vítimas da alienação parental. Num exemplo, a infante recebia da sua genitora guardiã, uma investida maliciosa e caluniadora a desfavor do genitor não guardião, implantando falsas memórias, no intuito da prole rejeitar o seu pai, causando muitas vezes ruptura no relacionamento afetivo familiar, culminando em irreparáveis traumas psicológicos, como iremos abordar com mais precisão na sequência do trabalho. As falsas denúncias de abuso sexual infantil, já estavam se repetindo demasiadamente em demandas com intuito de afastar o genitor dos filhos. Apesar de estar previsto no ECA sobre os direitos da criança e do adolescente, em especial da convivência familiar e da dignidade da pessoa, não havia lei que pudesse inibir a prática da alienação parental. Muitos pais eram afastados dos filhos por determinação judicial, em alguns casos até destituídos do poder familiar. or essa razão, visando em síntese inibir ou atenuar os efeitos de tais atos, a Lei 12.328 traz em seu texto condutas exemplificativas que podem ser consideradas como atos de alienação parental, mas deixando espaço para que outros comportamentos possam ser constatados por meio de perícia. Para atingir o objetivo a que se propôs, a presente monografia foi estruturada em 4 capítulos, iniciando pelas considerações gerais sobre a família, pois não teria como abordar a síndrome da alienação parental sem relacionar a família, pois é no ambiente familiar que se dá o problema. Nesse aspecto relacionamos os conflitos familiares, como acontece nas separações conjugais e no divórcio. O outro conflito se dá na disputa pela guarda dos filhos pela qual a lei da alienação parental vem trazendo ferramentas processuais com terminologia legal, abordando questões de psicologia forense, como o auxílio técnico judiciário, bem como o seu importante papel no tratamento das partes envolvidas nesse tipo de conflito. O trabalho aborda os efeitos da lei, como jurisprudência e doutrina, para análise dos efeitos da Lei nº 12.318 no Brasil, bem como qual deve ser, e como deve 13 ser a pauta na atuação dos profissionais como psicólogos, o próprio judiciário bem como os conselheiros tutelares. 14 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A FAMÍLIA Para enfrentar o tema proposto, o trabalho traz um brevê histórico sobre a família, no contexto jurídico, bem como dos conflitos familiares. Assim poder-se-á contextualizar a alienação parental dentro desses conflitos. 2.1 O surgimento da família no seu contexto jurídico e social Ao longo do tempo vemosque o Direito de Família é um dos ramos que mais sofre alterações, tendo em vista a constante evolução familiar. Ora, “a família é um 4 âmbito que envolve pessoas, sentimentos e emoções afetivas. E a humanidade evolui a cada dia com suas crenças e costumes, que se refletem na sociedade”. 5 No início da vida, principalmente nos períodos da infância e da adolescência, todo ser humano necessita de alguém responsável por sua criação, educação e proteção, cabendo, por natureza, aos pais realizar esta incumbência e na sua falta, algum adulto responsável. A esse conjunto de direitos e deveres dos pais na criação dos filhos enquanto menores encontra-se no ordenamento jurídico a figura do poder familiar. A palavra “poder familiar” corresponde ao que era anteriormente denominado pátrio poder, termo que remonta ao direito romano: pater potestas e significava o direito absoluto e ilimitado conferido ao chefe da organização familiar, que era o pai, sobre a pessoa dos filhos. 6 Com a igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres, prevista no artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal, a expressão pátrio poder tornou-se inapropriada, ocasionando a alteração da denominação pelo Código Civil de 2002 para poder familiar, muito mais adequada ao texto constitucional e à realidade social. 4 SOUZA, Carlos Eduardo Silva e. Direito Privado Contemporânea e a família pós moderna . Revolução Ebook, 2015, p. 31. 5 _________. Direito Privado Contemporânea e a família pós moderna . Revolução Ebook, 2015, p.32 6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias . 6ª. ed. São Paulo: Revista dos tribunais 2010, p. 416 15 Porém, no “Pátrio Poder” os filhos e a esposa eram submetidos ao poder do chefe de família. O antigo pátrio poder foi extinto com o advento Código Civil de 2002, no que passou a ser denominado Poder Familiar, que abrange tanto pai quanto mãe. Assim preceitua o art. 1.630: “Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores” 7 Farias descreve que há conceitos diferenciados sobre a família moderna, sendo como: [...] compreendê-la, senão sob a luz da interdisciplinariedade, máxime da sociedade contemporânea, marcada por relações complexas, plurais, abertas, multifacetárias e (por que não?) globalizadas. 8 Quem melhor sintetiza o sentido de família constante no ordenamento jurídico brasileiro é o ilustre Orlando Gomes, que considera família o grupo fechado de pessoas, composto dos genitores e filhos, e para limitados efeitos, outros parentes, unificados pela convivência e comunhão de afetos, em uma só e mesma economia, sob a mesma direção . 9 Depreende-se dos conceitos trazidos por esses e outros doutrinadores a intenção do legislador em considerar a família não apenas enquanto instituição jurídica, mas em sua importância social, em suas várias formas e variações. Na lição de Paulo Lôbo: Sob o ponto de vista do direito, a família é feita de duas estruturas associadas: os vínculos e os grupos. Há três sortes de vínculos, que podem coexistir ou existir separadamente: vínculos de sangue, vínculos de direito e vínculos de afetividade. A partir dos vínculos de família é que se compõem os diversos grupos que a integram: grupo conjugal, grupo parental (pais e filhos), grupos secundários: outros parentes e afins. 10 Assim, para o Direito, família consiste na organização social formada a partir de laços sanguíneos, jurídicos ou afetivos. 2.2 Da Dignidade Humana em relação a alienação parental 7 BRASIL. Código civil brasileiro. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. 8 FARIAS, Cristiano Chaves. de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil : Disponível em: http://www.editorajuspodivm.com.br/i/f/31-41-%20cap%20I.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2017 9 GOMES, O. Direito de Família . 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 10 LÔBO, P. Direito Civil: família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 2. 16 Ao se explanar o princípio da dignidade humana, verifica-se seu enquadramento diante da lição a respeito da alienação parental, pois é de notar-se o liame que se forma a cerca da criança e do adolescente; afinal, a dignidade adquire-se ainda no ventre da mãe, pois já se é garantido o direito a vida, e por que não o da Dignidade. E com relação à Criança e Adolescente, estes que ainda nem vivem sua vida com plenitude, devem ser mais protegidos ainda, mesmo que sejam de seus genitores. 11 Interessante destacar que com relação Alienação Parental, que está englobada ao Direito de Família, há uma ligação umbilical com os Direitos Humanos, que como já foi falado está intimamente ligado à dignidade humana, na versão axiológica da natureza humana. 12 De acordo com o famoso filósofo Kant, veio-se atender aos critérios para tornar a dignidade da pessoa humana um princípio universal. Ao dizer que: “Todo homem vale o mesmo que todo outro por ser racional” e que “Deve-se reconhecer um mesmo valor para cada homem por ser racional, estabelece-se uma regra universal e racional”. 13 Há uma classificação dentro dos princípios que seriam: os “princípios estruturantes”, “princípios constitucionais gerais” e os “princípios constitucionais especiais”. Os princípios estruturantes são aqueles que representam um arcabouço 14 político e fundamental constitutivo do Estado e sobre os quais se assenta todo o ordenamento jurídico. Já os princípios Constitucionais gerais, são os que se 15 derivam dos princípios estruturantes, em que clarificam seu sentido como princípio constitucional. Além disso, esses princípios constitucionais gerais, acabam por concretizar um pouco mais mediante princípios constitucionais especiais. Dentro 11 PEREIRA, Clóvis Brasil. A guarda compartilhada, entre o desejável e o possível . Disponível em: <http://www.prolegis.com.br/a-guarda-compartilhada-entre-o-desejavel-e-o-possivel/>. Acesso em: 13 out. 2017. 12 BARROS, 2003 apud DIAS, 2008, p. 60 13 CUNHA, Rodrigo. Apub princípios fundamentais e norteadores para a organização jurídica da família, 2004, disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/21104574/tese-drrodrigodacunha , acesso em 13.out. 2017. 14 CANOTILHO,1993 apud NUNES, 2010, p. 54 15 NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e Jurisprudência. 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010, p.34 17 destas definições, a Dignidade do ser humano se enquadra como princípio estruturante. “Todos os Homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 16 dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. 17 Rizzato Nunes descreveem seu livro “Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer condição”. 18 Isto demonstra o quão importante é a família para o desenvolvimento de qualquer ser humano e de sua singularidade, pois, se aprender a conviver respeitosamente em família, assim conviverá com o restante da sociedade. A nossa Constituição Federal colocou a dignidade da pessoa humana no topo dos Direitos Fundamentais. Não seria diferente no Direito das Famílias, de modo que, sendo a dignidade da pessoa humana uma ordem constitucional, deve ser seguida por todos os ramos do direito. A Constituição Federal tem por Princípio Fundamental da República a dignidade da pessoa humana, garantindo que toda pessoa obtenha em todo lugar e a todo tempo direitos que possam lhe garantir uma vida digna e saudável. Sobre tal princípio diz Flavio Tartuce: Trata-se daquilo que se denomina princípio máximo , um superprincípio , ou macroprincípio, ou princípio dos princípios. Diante desse regramento inafastável de proteção da pessoa humana é que está em voga, atualmente entre nós, falar em personalização , repersonalização e despatrimonialização do Direito Privado. Ao mesmo tempo que o patrimônio perde importância, a pessoa é supervalorizada. 19 A partir do momento em que ocorreu a constitucionalização do direito civil e a dignidade da pessoa humana foi consagrada como fundamento do Estado 16 NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e Jurisprudência. 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010, p. 54 1710 _____ O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e Jurisprudência . 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010. P 36 18 _____. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e Jurisprudência . 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010. P 37 19 TARTUCE, Flavio . Novos Princípios do Direito de Família Brasileiro . Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8468&p=2 , acesso em 01/11/2017 18 Democrático de Direito (Constituição Federal artigo 1º, III), o positivismo tornou-se insuficiente. As regras jurídicas mostram-se limitadas, acanhadas para atender ao comando constitucional. Nessa esteira, o famoso escritor do livro Curso de Direito Penal, Fernando Capez reza: Verifica-se o Estado Democrático de Direito não apenas pela proclamação formal da igualdade entre todos os homens, mas pela imposição de me tas e deveres quanto à construção de uma sociedade livre, justa e solidária; pela garantia do desenvolvimento nacional; pela erradicação da pobreza e da marginalização; pela redução das desigualdades sociais e regionais; pela promoção do bem comum; pelo combate ao preconceito de aça, cor, origem, sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação (CF, art. 3º, I a IV); pelo pluralismo político e liberdade de expressão das ideias; pelo resgate da cidadania, pela afirmação do povo como fonte única do poder e pelo respeito inarredável da dignidade humana. 20 Surge assim o sentimento social de justiça, onde as leis devem ter conteúdo e adequação social e o Estado, por sua vez, deve estar a serviço do bem comum, assegurando assim a dignidade da pessoa humana. A ideia de dignidade da pessoa humana está na base do reconhecimento dos direitos humanos fundamentais. Só é sujeito de direitos a pessoa humana. Os direitos humanos fundamentais são o "mínimo existencial" para que possa se desenvolver e se realizar. Há, ademais, uma hierarquia natural entre os direitos humanos, de modo que uns são mais existenciais do que outros. E sua lista vai crescendo, à medida que a humanidade vai tomando consciência das implicações do conceito de dignidade da vida humana. Por isso, Tomás de Aquino, ao tratar da questão da imutabilidade do direito natural, reconhecia ser ele mutável, mas apenas por adição, mediante o reconhecimento de novos direitos fundamentais. Nesse diapasão seguiram as sucessivas declarações dos direitos humanos fundamentais (a francesa de 1789 e a da ONU de 1948), desenvolvendo-se a ideia de diferentes "gerações" de direitos fundamentais: os de 1ª geração, como a vida, a liberdade, igualdade e a propriedade; os de 2ª geração, como a saúde, a educação e o trabalho; e os de 3ª geração, como a paz, a segurança e o resguardo do meio ambiente. 21 Desta feita, o direito a ter uma família, principalmente dos filhos em relação aos pais, como vimos, envolve esse importante princípio, o da dignidade da pessoa humana, pois há, no contexto pessoal, os sentimentos que compõe a essência da pessoa, e está muito ligada a afetividade de pais e filhos. Nesse sentido o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê o seguinte: 20 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte geral. 13 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. Disponível em https://www.overmundo.com.br/banco/o-princípio-da-dignidade-da-pessoa-humana-e-sua-aplicacao-m oderna-1 , acesso 01 out. 2017. 21 http://www.comunidademaconica.com.br/Artigos/5778.aspx 19 Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I- ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; I - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir -se; V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Art. 17.0 direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva - ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art . 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. 22 A Lei da Alienação Parental também aduz nesse sentido: estabelece que a criança e o adolescente tem direito de conviver com os pais e parentes de forma harmoniosa . : regula a situação de alienação parental, circunstância que se caracteriza pela "interferênciana formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este" (LAPar 2.° caput). 23 Permitir o rompimento disso, em face da Alienação Parental, é realmente fazer vistas grossas a esse tipo de crueldade para com o próprio ser humano que se vê incompleto, ou até mesmo impotente, pois isso se dá no âmbito psicológico, na mente de uma pessoa que recém está formando sua índole, a falar da infante. 2.3 Conflitos familiares: 22 BRASIL. Lei n. 8.069 , de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Acesso em 03 de outubro de 2017, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm> 23 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. acesso em: 02 out 2017, dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm 20 Os conflitos familiares contribuem muito para que a Alienação parental se desdobre no seio familiar. Desta feita iremos abordar os tipos de conflitos, da separação conjugal e o divórcio, das disputas pela guarda dos filhos e as consequências da alienação parental que culminam em muitos casos na destituição do poder familiar, e da possibilidade de seu restabelecimento. 2.3.1 Separação conjugal e divórcio A Alienação parental está ligada diretamente aos conflitos familiares, que culminam na ruptura da união estável ou casamento. Como veremos na pesquisa do registro civil, a mais recente de 2014, o número de divórcios deu um salto nos últimos 20 anos de 1.007% que na avaliação do IBGE, uma grande gradual mudança de comportamento da sociedade brasileira passou a aceitar com maior naturalidade e a acessar os serviços de justiça de modo a formalizar as dissoluções dos casamentos: O Brasil registrou 341,1 mil divórcios em 2014, ante 130,5 mil registros em 2004. Foi um salto de 161,4% em dez anos. O dado está presente na pesquisa do Registro Civil 2014, divulgada pelo site Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Lei do Divórcio chegou ao País em 26 dezembro de 1977. Poucos anos depois, em 1984, foram contabilizados 30,8 mil divórcios. Em 1994, foram registradas 94,1 mil casos, representando um acréscimo de 205,1% em relação a 1984. Em 2004, com 130,5 mil casos, o aumento foi de 38,7%. Na comparação entre 1984 e 2014, no entanto, o crescimento é de 1.007%. Na avaliação do IBGE, a elevação sucessiva, ao longo dos anos, do número de divórcios concedidos revela “uma gradual mudança de comportamento da sociedade brasileira, que passou a aceitá-lo com maior naturalidade e a acessar os serviços de Justiça de modo a formalizar as dissoluções dos casamentos”. 24 Em relação a ruptura no casamento, quem mais sofre, sempre são os filhos, que são acostumados com o carinho tanto do pai, quanto da mãe, e se veem obrigados a aceitar a nova convivência da separação dos pais. As crianças menores, antes da adolescência, mesmo que, estando elas em fase de formação psicológica, diante de estudos pesquisados transversais e horizontais realizados ao longo de dez anos, aceitam com mais facilidade a situação da separação dos pais do que as 24 Brasil, G. d. (30 de novembro de 2015). taxa de divórcio . Acesso em 03 de outubro de 2017, disponível em Governo do Brasil: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/11/em-10-anos-taxa-de-divorcios-cresce-mais-de-16 0-no-pais 21 crianças adolescentes. Segundo a teoria psicossocial de Erik Erikson , os filhos são 25 afetados de diversas maneiras, sentem-se impotentes diante da ruptura e das mudanças ocasionadas; rejeitados e abandonados, uma vez que, principalmente crianças pequenas, não conseguem compreender porque um dos pais se afasta do lar; passam a achar que são os culpados pelo desenlace dos pais – principalmente se a idade da criança (entre 3 e 6 anos) coincide com a fase fálica ou edípica de Freud – quando se inicia a triangulação, ou seja, a inclusão do pai, que irá criar as condições conflituosas em que o menor tem um forte desejo instintivo pelo progenitor do sexo oposto e repudia o do mesmo sexo, por ciúmes – momento em que a criança já se sente culpada, pois em seu âmago ama os dois. 26 Já quando há um conflito de longo prazo, relatam problemas de ajustamento diante dos conflitos vividos por seus pais durante a separação. Porém, problemas de ajustamento são mais significativos quando há conflitos de longo prazo vividos pelos pais durante o período de pré-separação do que quando os conflitos ocorrem no período de divórcio propriamente dito. O cotidiano familiar, ao ser interrompido e alterado pela separação conjugal, implica em uma negociação de novas formas e lugares de vida para que, em um segundo momento, as pessoas possam cuidar do tumulto emocional que acompanha todo o processo. 27 A presença efetiva de ambos os genitores equilibra a relação com a prole, pois os pais possuem três funções básicas pra com os filhos: “1 Assegurar a satisfação de suas necessidades físicas; 2. Satisfazer as necessidades afetivas; 3. Responder às necessidades de segurança psíquica oferecendo à criança um ‘tecido psíquico grupal’ no qual se enraiza o psiquismo da criança. 28 Nesse aspecto, vemos que os filhos precisam consideravelmente dos pais durante o processo de separação, e é exatamente neste período que tanto o pai 25 Erik Erikson – psicanalista que repensou algumas teorias da Psicanálise de Freud. 26 Erikson, Erik H. O ciclo de vida completo. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese, Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, p. 46 27 KASLOW, F.; SCHWARTZ, L. As dinâmicas do divórcio : uma perspectiva do ciclo vital. Campinas: Editora Psy, 1995. 28 POUSSIN, Gerand; SAYN, Isabelle. Apud LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais . A Situação jurídica de pais e mães solteiros, de pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. São Paulo: RT, 1997. P. 92 22 quanto a mãe estão mais vulneráveis e frágeis, uma vez que há uma perda a ser elaborada com inúmeros sentimentos que não são compreendidos, além de aspectos práticos a ser resolvidos. Esse ponto pode ser ilustrado pelos casais que chegam às Varas da Família para homologar sua separação, seja por consenso ou para discussão em ação litigiosa,e apresentam um sentimento de perda ao falharem no casamento, sentindo-se profundamente fracassados. Emiliano assevera o seguinte acerca dos conflitos familiares: A relação em família é complexa, pois cada ser humano é singular em relação a sua história, temperamento, idade, composição genética, etc.. No jogo relacional há alianças e luta pelo poder. [...] Nos diversos relacionamentos, as diferenças individuais quanto às percepções e necessidades emergem, pois cada pessoa forma a sua própria percepção e tem necessidades num determinado momento. Essas diferenças no contexto relacional tornam-se as bases dos conflitos. 29 Por este motivo, os conflitos familiares são presentes na vida da maioria das pessoas. Cada um da família tem a sua singularidade, seu modo de ser e seus costumes. E, por mais que convivam juntos, nem sempre terão a mesma opinião, a mesma vontade e modo de enxergar o mundo. Sendo assim, a vivência familiar é marcada por altos e baixos, brigas e reconciliações. Nas relações familiares como as que temos hoje em dia, os conflitos são relacionados a vários fatores, tais como fatores idealistas e psicológicos, e quase sempre tem por trás deles alguma mágoa ou ressentimento. 30 Porém, por se tratar de conflitos familiares, deve-se ter cuidado para que não sejam rompidos o convívio familiar e os laços afetivos. Samanta Lessa pontua: “Quando pensamos em situações de conflito em família, logo nos vem em mente discussões e brigas entre casais, que inevitavelmente acontecem e que dependendo da natureza dos motivos e uma série de outras razões, podem conduzir o casal ao caminho da separação”. 31 29 EMILIANO, 2008, não paginado. 30 GOMES, Jocélia Lima Puchpon. Síndrome da alienação parental. Leme: Imperium Editora e distribuidora, 2013, p. 32. 31 LESSA, Samanta. A ausência paterna e materna : um estudo sobre as repercussões em crianças que frequentam creches e pré escolas. 1998. 121 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 1998, p. 42-43 23 Ocorre que nem sempre a questão de conflitos familiares envolve apenas brigas de um casal. Muitas vezes a questão é mais complexa e muito mais gravosa quando existem filhos, crianças ou adolescentes envolvidos. Conforme já citado anteriormente, o número de divórcios no Brasil cresceu assustadoramente. Muitos podem ser os motivos sociais e culturais para este resultado. Por este motivo que é tão difícil a atuação dos operadores do Direito nas questões familiares, pois estes sempre têm que lidar com situações complexas da intimidade familiar, além de lidar com fatores emocionais. Marini conceitua que o divórcio dos pais é um processo doloroso para os filhos, dizendo ainda que para diminuir o trauma destes é importante e fundamental que seja mantido o ambiente familiar da melhor maneira possível, bem como que os pais conduzam este momento difícil com zelo. Sendo assim, quanto mais conflitos existirem neste momento do divórcio entre os pais, mais difícil e doloroso será para os filhos, pois estes sendo crianças ou adolescentes, estão passando por um momento delicado em relação ao seu desenvolvimento psicológico. Os danos nestes momentos podem ser irreversíveis, podendo inclusive esta criança se tornar um adulto com problemas psicológicos e emocionais. Schabbel ressalta: Quando há separação, a criança ou adolescente enfrenta o medo e as consequências negativas de um lar desfeito. Não é possível saber o número exato de crianças envolvidas em separações no Brasil, porém, pesquisas realizadas em outros países referem-se, basicamente, a duas percepções provocadas nos filhos: o medo, consciente ou inconsciente, de que o outro cônjuge também vá embora, e a percepção de que os adultos não são confiáveis e nem honestos. Tanto o casal que se separa quanto seus filhos passam por momentos delicados e difíceis na tentativa de resolver questões práticas, como guarda e visita, ou emocionais, como lidar com a interrupção de certas tradições familiares, a perda da convivência diária com um dos pais e a sensação de desamor, rejeição e abandono. 32 32 SCHABBEL, C. Relações familiares na separação conjugal . Revista Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v.7, n. 1, jul. 2005.Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872005000100002 , Acesso em: 08 out. 2017. 24 Uma das formas de diminuir tal sofrimento pode ser a guarda compartilhada, além de ser uma forma de coibir a alienação parental, conforme conceitua Freitas: A guarda compartilhada traz aos genitores direitos e deveres iguais, para decidirem juntos as questões relacionadas ao comportamento e a vida em geral do filho, ou seja, possuem de forma conjunta o exercício pleno do poder familiar. Compartilhando a guarda do filho, os pais estarão mais próximos. Essa é uma forma de evitar a alienação parental, que acaba sendo provocada por um genitor que não está na pose de guardião (no caso em que a guarda pertence a apenas um dos pais, enquanto ao outro lhe resta apenas o direito de visita. 33 A pesquisa abaixo mostra que é grande o percentual de pessoas viveram uma relação conjugal. No Rio de Janeiro, por exemplo, 17,5% da população são de pessoas que já viveram um relacionamento conjugal e não vivem mais: 34 33 FREITAS, Thaís Cristina. A garantia da aplicabilidade da guarda compartilhada com o advento do instituto de alienação parental . Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8674/A-garantia-da-aplicabilidade-da-guarda-compartilhad a-com-o-advento-do-instituto-da-alienacao-parental>. Acesso em: 08 out. 2017. 34 VEJA, nova família brasileira. 02 jun. 2016, disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-nova-familia-brasileira-ibge - acesso em 08 out.2017. 25 Apesar de ser uma pesquisa de 2010, é a mais recente do IBGE relacionada ao assunto, e se tem uma ideia do aumento de separações e divórcios, e dessa feita a importância do preparo técnico e judiciário a fim de impor a lei e amenizar os problemas advindos das constantes dissoluções conjugais envolvendo as crianças e adolescentes. 26 2.3.2 Conflito em relação a Guarda dos Filhos Nas separações e divórcios, veremos que um dos conflitos mais predominantes, é a respeito da Guarda dos filhos. É o que mais requer atenção do Judiciário, pois envolve diretamente as crianças e adolescentes, e uma decisão errada pode causar grandes transtornos, justamentepela idade dos envolvidos e os procedimentos que ocorrem. Denise Maria Perissini explica bem essa questão da psicologia jurídica na aérea do processo judicial brasileiro: Nas Varas de Família e das Sucessões dos Foros Regionais e dos Tribunais de Justiça estaduais, priorizam-se casos em que há filhos envolvidos (direta ou indiretamente) nas relações processuais. Isso porque, como membro da família afetivamente mais sensível, a criança percebe mais facilmente os efeitos nocivos de uma desestruturação familiar, e por esse motivo sofre os maiores prejuízos emocionais e comportamentais. 35 Casais que chegam aos litígios da Vara de Família e Sucessões, não tentam resolver seus conflitos da melhor maneira possível sem prejudicar a criança. Isso é muito difícil, justamente porque estão sobre forte pressão emocional, e também ficam em segundo plano enquanto casal, pois essas varas não foram criadas para esse fim. Denise Maria Peressini diz que “a família é vista como um grupo de 36 pessoas ligadas entre si por parentesco, afeto, solidariedade, necessidade de reprodução, como forma de garantir sua identidade social.” 37 Desta feita a busca para soluções dos conflitos trazidos ao Judiciário irá ampliar o trabalho do psicólogo judiciário, para verificar fatos e ajudar a resolver os problemas com o seu laudo, tratando a família como sistema, verificando a maneira de sua estruturação e como os seus membros se relacionam. 35 SILVA, Denise Maria Peressini da. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com direitos nas questões de família e infância , São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, p.112 36 MOLINARI, Fernanda, Alienação parental e a mediação dos filhos , jun. 2013, disponível em: http://criancafeliz.org/rs-alienacao-parental-e-a-mediacao-de-conflitos/ acesso em 15 out. 2017. 37 SILVA, Denise Maria Peressini da. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com direitos nas questões de família e infância , São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, p.113 27 2.4 A destituição e a restituição do poder familiar A destituição do poder familiar pode se adequar ao tema da alienação parental como resultado de falsas denúncias. Nem sempre os operadores da justiça são capazes de detectar a alienação, e pode acontecer da falsa denúncia se tornar verdadeira, com decisões favoráveis a premeditada armadilha da alienadora. É o que ocorria antes da lei da alienação parental existir, o caso de pais inocentes, serem destituídos, pois desta feita não havia estes estudo científico a respeito do assunto, bastava uma denúncia na delegacia para o processo ser gerado contra o genitor que por precaução de imediato era afastado da sua prole. Nesses casos, a justiça tem como procedimento afastar o possível abusador, imediatamente, até a conclusão do inquérito. Como, em geral, a investigação é demorada, o vínculo entre o sujeito acusado e o filho é perdido. Percebe-se que, quanto a esta questão, ainda há muito no que avançar, a fim de preservar a integridade da criança, mas também considerando a hipótese da falsidade da denúncia. 38 Desta feita, hoje muitos pais se veem obrigados a se ausentar dos filhos, embora haja determinação judicial, a prole é convencida pela alienadora, considerando seu genitor um monstro. Vale citar a obra “a morte inventada” , muito comentada a respeito do tema 39 da alienação parental. No documentário, destaca-se alguns casos de afastamento causado pelo genitor entre a ex-esposa e o filho, que conta que “só conseguiu dar um beijo no rosto do filho quando este tinha 18 anos”, bem como o relato de um pai, que precisou recorrer a uma ação policialesca hollywoodiana para buscar as crianças, mesmo de posse do documento oficial que lhe concedia a guarda. Contudo, sem dúvida, o relato mais comovente é feito por uma jovem que passou 11 anos sem conviver com o pai, com quem havia retomado contato. Ela lembra da obrigação que sentia de se aliar à genitora para agredir o pai, e ao fim do filme fica claro o impacto psicológico sofrido. 38 COSTA, Ana Ludmila Freire, 2011, apud: A morte inventada: depoimentos e análise sobre a alienação parental e sua síndrome, disponível em http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n2/15.pdf , acesso em 01/11/2017 39 MINAS, Alan. A morte inventada: alienação parental [Filme-vídeo]. Niterói, Caraminholas Produções, 2009 28 Na decisão a seguir, vemos da possibilidade de estar frente a hipótese da síndrome da alienação parental, em que o Tribunal de Justiça não reconheceu a destituição do poder familiar, senão vejamos: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL – AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 70015224140 - SÉTIMA CÂMARA CÍVEL - RELATOR: MARIA BERENICE DIAS. EMENTA: DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. ABUSO SEXUAL. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL. Estando as visitas do genitor à filha sendo realizadas junto a serviço especializado, não há justificativa para que se proceda a destituição do poder familiar. A denúncia de abuso sexual levada a efeito pela genitora, não está evidenciada, havendo a possibilidade de se estar frente à hipótese da chamada síndrome da alienação parental. NEGADO PROVIMENTO. 40 Segundo leciona Silvio Rodrigues, a destituição ou suspensão do poder familiar é medida excepcional e jamais definitiva: Têm menos um intuito punitivo aos pais do que o de preservar o interesse dos filhos, afastando-os da nociva influência daqueles. Tanto assim é que, cessadas as causas que conduziram à suspensão ou destituição do poder familiar e transcorrido um período mais ou menos longo de consolidação, pode o poder paternal ser devolvido aos antigos tutores. 41 Nesse mesmo sentido, nos ensina Carlos Roberto Gonçalves que “A perda do poder familiar é permanente, mas não se pode dizer que seja definitiva, pois os pais podem recuperá-lo em procedimento judicial, de caráter contencioso, desde que comprovem a cessação das causas que a determinaram” 42 É possível que os genitores, apesar de serem destituídos do poder familiar, possam, ao longo do tempo, demonstrar que foram cessadas as causas que levaram à destituição do poder familiar. Nesse caso, defendemos a possibilidade de revisão dessa decisão, ainda que coberta pela segurança da coisa julgada, por meio de ação autônoma, cuja realidade é completamente diversa do contexto fático anterior. Ao falarmos sobre o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, é possível ser reconstituído o poder familiar aos genitores, pois eles podem adquirir boas condições a oferecer aos filhos. Em reforço, o art. 3º do próprioECA prevê que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo 40 Apelação Cível n.º 70016276735, Sétima Câmara Cível, TJ,RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 18/10/2006. 41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de direito civil, V. 06 , Saraiva 42 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. Vol. VI. São Paulo. Saraiva. 2006 29 da proteção integral , assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e as facilidades, a fim de facultar-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Por outro lado, dispõe o artigo Art. 19 do ECA: Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta (grifo nosso). Assim, devemos nos curvar a este que princípio que deixa claro que a criança/adolescente deve ser preferencialmente, criado e educado no seio familiar, onde melhor poderá desenvolver suas potencialidades, sendo a retirada medida excepcional e jamais definitiva. Ou seja, a destituição, embora tenha caráter permanente, não pode configurar situação irreversível quando os genitores adquirem condições de oferecer assistência material e moral adequada. APELAÇÃO CÍVEL. ECA . AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. PROTEÇÃO INTEGRAL E PRIORITÁRIA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA EXTINTIVA. 1. A atenta e sistemática leitura dos artigos do estatuto da criança e do adolescente permite concluir que apenas a adoção tem caráter irrevogável, porque expressamente consignado no § 1º do art. 39 . diante do silêncio da lei acerca do restabelecimento do poder familiar, também se pode concluir, a contrário sendo, pela possibilidade da reversão da destituição do poder familiar, desde que seja proposta ação própria para tanto, devendo restar comprovada a modificação da situação fática que ensejou o decreto de perda do poder familiar. desse modo, impõe-se a desconstituição da sentença que extinguiu o processo por impossibilidade jurídica do pedido. 2. à luz da doutrina da proteção integral e prioritária dos direitos da criança e do adolescente preconizada pelo eca , a intervenção do estado deve atender prioritariamente aos superiores interesses dos menores, nos termos do art. 100 , inc. ii e iv, do ECA , de modo que, caso o retorno dos menores ao convívio materno se mostre a medida que melhor atenda aos seus interesses, não há motivos para que se obste tal retorno, com a restituição do poder familiar pela genitora, mormente porque os menores não foram encaminhados à adoção. 3. trata-se, no caso, de uma relação jurídica continuativa, sujeita, portanto, à ação do tempo sobre seus integrantes (tal qual ocorre com as relações jurídicas que envolvem o direito a alimentos). logo, a coisa julgada, formal e material, que antes se tenha produzido, fica preservada desde que as condições objetivas permaneçam as mesmas (cláusula rebus sic stantibus). no entanto, modificadas estas, outra poderá ser a decisão, sem que haja ofensa à coisa julgada. DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME. 43 43 TJ/RS. A pelação cível nº 70058335076, oitava câmara cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: Luiz Felipe Brasil Santos, julgado em 22/05/2014 30 Esse direito pode ser pleiteado por qualquer parente ou pelo Ministério Público, cabendo ao juiz adotar as medidas que melhor atenda a segurança do menor e de seus bens. Cumpre esclarecer que na perda do poder familiar o vínculo biológico permanece, o que é retirado é apenas o dever que o pai ou a mãe tem de gerir a vida do filho. O direito de requerer e o dever de pagar alimentos são mantidos. A única forma de romper o vínculo biológico é por meio da adoção, ou colocação do menor em família substituta. Além dos posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais é oportuno consignar que ainda tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 2.285/2007, da autoria do Deputado Federal Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), que dispõe sobre o Estatuto das Famílias, cujo artigo 95 dispõe: “È possível, no melhor interesse do filho, o restabelecimento da autoridade parental por meio de decisão judicial”. Por fim, há uma tese institucional aprovada, o da “primazia da família natural”, defendida pela defensoria pública de São Paulo: Diante do princípio da primazia da família natural, é possível a reconstituição do poder familiar, por meio de ação própria, desde que os pais passem a viabilizar melhores condições aos filhos, mesmo após o trânsito em julgado ou após o prazo para ação rescisória da decisão que os destituíram do poder familiar, salvo se já consolidado o regular processo de adoção a terceiros. 44 Por tanto, desde que a prole não fosse adotada, e que a nova decisão seja de melhor proveito a criança, há possibilidade da restituição do poder familiar: 44 DEFENSORIA PÚBLICA,SP. Teses institucionais , disponível em http://www.conjur.com.br/2010-dez-08/defensores-publicos-paulistas-aprovam-15-novas-teses-instituci onais , acesso em 01 out. 2017. 31 3 DA ALIENAÇÃO PARENTAL 3.1 O surgimento da síndrome da Alienação Parental A Síndrome de Alienação Parental surgiu em 1987 na América do Norte e se disseminou para outros continentes. Foi através do psiquiatra norte-americano Richard A. Gardner , chefe do departamento de Psiquiatria Infantil da faculdade de 45 medicina e cirurgia da Universidade de Columbia, Nova York, Estados Unidos da América, sendo ele o primeiro a conceituar a Alienação Parental. 46 Mais tarde passou a ser difundida na europa por F. Podevyn em 2001, despertando um interesse na área de psicologia e do direito, por tratar-se de um problema que afeta as duas áreas e a psicologia jurídica se une para um melhor entendimento dos fenômenos emocionais que acontecem com os atores processuais, que no caso, seriam os envolvidos no divórcio ou separação, os filhos. A partir das ideias de Podevyn, entende-se a Síndrome de Alienação Parental como um processo que consiste em programar uma criança para que odeie o outro genitor, sem justificativa, fazendo uma espécie de campanha para a desmoralização do mesmo. 47 Gardner, em uma de suas obras, falou ainda sobre mulheres vingativas que acusam falsamente os pais de seus filhos de abuso sexual para ganhar disputas de custódia da criança. Na época foi algo um tanto quanto novo a se discutir. Além dessa questão, Gardner (1988) também falou a respeito da abordagem terapêutica para trabalharcom uma família em que uma criança foi molestada por um dos genitores. A visão do psiquiatra Gardner contribui até hoje nas questões judiciais 45 Gardner foi professor do Colégio de Médicos e Cirurgiões da Universidade de Columbia. É autor de mais de 250 livros e artigos, dirigidos aos profissionais da saúde mental, profissionais da área jurídica e também pais divorciados que têm filhos. Teria desenvolvido inúmeras teorias e instrumentos sobre o bem-estar da criança, que seria usada nos tribunais do mundo todo até hoje. Além disso, foi certificado a participar como testemunha em mais de 300 (trezentos) casos envolvendo crianças em mais de 24 estados dos Estados Unidos e tipicamente era convidado a dar pareceres em casos de abuso sexual infantil. Teve destaque e uma extensa carreira avaliando crianças, tendo sido descrito pelos jornais como “guru” das avaliações de custódia de menores. 46 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental, comentários à Lei 12. 318/2010 , Rio de Janeiro, editora Forense, 2014, p. 21. 47 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores de direito , Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, 2004, p.160. 32 envolvendo os pais e os filhos, pois ao definir a Alienação Parental, teve uma visão futura do que acontece nos dias atuais. 48 3.2 Definição de Síndrome da Alienação Parental Alienação Parental como uma síndrome, foi obra de Richard Gardner, ainda no ano 1985: A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável. 49 Gardner descreve que a criança alienada geralmente faz parte de um ambiente de muito conflito, quase sempre advindo de um processo de rompimento conjugal mal resolvido. Por outro lado, “Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação e o sentimento de rejeição, de traição, faz surgir um desejo de vingança.” 50 A Síndrome de Alienação Parental é um transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador, transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e estratégias de atuação, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais que justifiquem essa condição. Em outras palavras, consiste num processo de programar uma criança para que odeie um de seus genitores sem justificativas, de modo que a própria criança ingressa na trajetória de desmoralização desse mesmo genitor. 51 48 Gardner, R. A. (1985a), Recent trends in divorce and custody litigation. The Academy Forum, 29(2):3-7. Disponível no site <http://www.alienaçãoparental.com.br, acesso em 22 out. 2017 49 RABELO, César Leandro de Almeida. A Alienação Parental . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/19223/a-alienacao-parental>. Acesso em: 24 ago. 2017. 50 DIAS, Maria Berenice. Falsas Memórias . 2010, disponível em: <http://www.mariaberenice.com.br/uploads/2_-_falsas_mem%F3rias.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017 51 DIAS, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parenta l 2 edição, IBDFAM, Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 102. 33 Seria o mesmo que dizer, que a alienadora (a) “educa” os filhos no ódio contra o outro genitor (a), seu pai ou sua mãe, até conseguir que eles, de modo próprio, levem a cabo esse rechaço. Como diz umas das frases populares de Joseph Goebbels “uma mentira muitas vezes contada, se torna uma meia verdade” 52 As estratégias de alienação parental são múltiplas e tão variadas quanto à mente humana pode conceber, mas a síndrome possui um denominador comum que se organiza em torno de avaliações prejudiciais, negativas, desqualificadoras e injuriosas em relação ao outro genitor, interferências na relação com os filhos e, notadamente, obstaculização do direito de visitas do alienado. Este amplo quadro de desconstrução da imagem do outro pode incluir, por exemplo, falsas denúncias de abuso sexual ou de maus tratos, invocados para impedir o contato dos filhos com o genitor odiado, programando o filho de forma contundente até que ele mesmo passe a acreditar que o fato narrado realmente aconteceu. 53 Para Cristiano Vieira Sobral Pinto, alienação parental, são manobras para promover a destruição de um dos pais. Uma postura que põe em risco a saúde emocional do filho. Com a ruptura da vida conjugal, às vezes um dos cônjuges sai magoado e sem superar o acontecimento. Esse, que não consegue superar o fato da separação, caso esteja com a prole, fará de tudo para destruir a relação que essa possua com o outro genitor. Trata-se da programação de uma criança para que odeie o genitor sem qualquer justificativa; o filho é utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. 54 3.3 As Consequências da Síndrome da Alienação Parental Abordamos aqui, conforme estudos de pesquisas, as consequências da Síndrome de Alienação Parental provocando efeitos tanto em relação ao cônjuge 52 GOEBBELS, Joseph. Site de frases, disponível em: https://kdfrases.com/frase/128146 , acesso 12 0ut.2017 53 THAIQUIRINO, Quirino, Síndrome da Alienação Parental , disponível em https://thaiquirino.jusbrasil.com.br/artigos/333802511/síndrome-da-alienacao-parental , acesso 12 ou. 2017 54 PINTO, Cristiano Vieira Sobral, Direito Civil Sistematizado , Edição Revista e Atualizada, Editora Método, 2014, p. 1056 34 alienado como para o próprio alienador; porém, as consequências mais dramáticas recaem sobre os filhos. Sem tratamento adequado, ela pode produzir sequelas que são capazes de perdurar para o resto da vida, pois implica comportamentos abusivos contra a pessoa. Tanto a criança, como o genitor (a) são as vítimas, pois instaura vínculos patológicos promovendo vivências contraditórias da relação entre pai e mãe e cria imagens distorcidas das figuras paternas e maternas, gerando um olhar destruidor e maligno sobre asrelações amorosas em geral. A consequência mais evidente é a quebra da relação com um dos genitores. As Crianças crescem com sentimento de ausência, vazio, e ainda perdem todas as interações de aprendizagem, de apoio e modelo. 55 Os efeitos nos filhos podem variar de acordo com a idade da criança, com as características de sua personalidade, com o tipo de vínculo anteriormente estabelecido, e com sua capacidade de resiliência (da criança e do cônjuge alienado), além de inúmeros outros fatores, alguns mais explícitos, outros mais recônditos. Porém, numa sociedade que aceita as patologias do corpo, mas não os problemas da existência, á única via possível de expressar os conflitos emocionais se dá em termos de enfermidade somática e comportamental. Esses conflitos podem aparecer na criança sob forma de ansiedade, medo e insegurança, isolamento, tristeza e depressão, comportamento hostil, falta de organização, dificuldades escolares, baixa tolerância á frustração, irritabilidade, enurese, transtorno de identidade ou de imagem, sentimento de desespero, culpa, dupla personalidade, inclinação ao álcool e as drogas, e, em casos mais extremos, ideias ou comportamentos suicidas. Senão vejamos o que escreve Denise Perissini da Silva: Muitos filhos ao perceberem que tudo o que vivenciaram foi por interesse do alienador, podem manifestar, até mesmo judicialmente, declarando que querem ir morar com o pai/mãe (alienado excluído), para tentar retomar o vínculo que havia sido destruído. 56 55 MADALENO, Ana Carolina Carpes. Síndrome da alienação parental , importância da detecção aspectos legais e processuais, Editora Forense, 2013, p. 53 56 PERISSINI, Denise Maria da Silva. Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental , O que é isso?- Campinas, SP: Armazém do Ipê,2009) 35 Ocorre que pode ser tarde demais e ambos são prejudicados, pois perderem o elo de afetividade, não tão fácil de ser recuperado. As diferenças entre síndrome e alienação parental, conforme já citado, Richard A. Gardner foi o primeiro a conceituar a alienação parental. Nesse sentido o autor faz uma interessante observação: Alguns que preferem usar o termo A lienação Parental (AP) alegam que a SAP não é realmente uma síndrome. Essa posição é especialmente vista nos tribunais de justiça, no contexto de disputas de custódia de crianças. Uma síndrome, pela definição médica, é um conjunto de sintomas que ocorrem juntos, e que caracterizam uma doença específica. Embora aparentemente os sintomas sejam desconectados entre si, justifica-se que sejam agrupados por causa de uma etiologia comum ou causa subjacente básica. Além disso, há uma consistência no que diz respeito a tal conjunto naquela, em que a maioria (se não todos) os sintomas aparecem juntos. O termo síndrome é mais específico do que o termo relacionado a doença . Uma doença é geralmente um termo mais geral, porque podem haver muitas causas para uma doença particular. Por exemplo, a pneumonia é uma doença, mas há muitos tipos de pneumonia- p.ex., pneumonia pneumocócica e broncopneumonia - cada uma delas tem sintomas mais específicos, e cada qual poderia razoavelmente ser considerado uma síndrome (embora não haja o costume de se utilizar comumente esse termo). [...]Como é verdadeiro em outras síndromes, há na SAP uma causa subjacente específica: a programação por um genitor alienante, conjuntamente com contribuições adicionais da criança programada. É por essas razões que a SAP é certamente uma síndrome, e é uma síndrome pela melhor definição médica do termo. 57 Conforme cita Aldrighi , esta suposta “síndrome” não consta do IV Manual 58 Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), ou seja, os psicólogos do Judiciário são solicitados a avaliar a existência ou não de uma doença que sequer está classificada até hoje, já sendo motivo de controvérsias por si só. Ou seja, a alienação parental não é considerada uma patologia (não está registrada como enfermidade mental da Organização Mundial da Saúde). Sendo assim, para efeitos de entendimento, o que resta claro é: a alienação parental é o ato de um dos genitores para com a criança, enquanto a Síndrome em si são os efeitos do ato de alienar. Gardner enumerou alguns sintomas de uma criança que já sofre da SAP: 57 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP) , 2002, p. 02. 58 ALDRIGHI, Tânia. Alienação Parental: As dificuldades em torno da lei.São Paulo. Acesso: 01 out. 2017, disponível em <http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/168/frames/fr_legislacao.aspx > 36 1) Uma campanha denegritória contra o genitor alienado. 2) Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação. 3) Falta de ambivalência. 4) O fenômeno do “pensador independente”. 5) Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental. i. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor alienado. 6) A presença de encenações ‘encomendadas’. 7) Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado. 59 Nesse contexto, Gardner assevera ainda que existem alguns estágios da Síndrome da Alienação Parental. No estágio leve, assevera que nem todos os sintomas acima são visíveis. No caso do estágio moderado, é mais provável que estejam todos os sintomas, ou pelo menos a maioria presentes. É preciso observar quando uma criança está exposta a situações de conflitos familiares, pois podem resultar na Alienação Parental, e, dependendo do “estágio” da Síndrome, fica mais difícil de reverter seus efeitos. Nesse sentido, Priscila Maria Pereira Corrêa da Fonseca ensina que a síndrome de alienação parental não se confunde, portanto, com a mera alienação parental. Aquela geralmente é decorrente desta, ou seja, a alienação parental é o afastamento do filho de um dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o titular da custódia. A síndrome, por seu turno, diz respeito às sequelas emocionais e comportamentais de que vem a padecer a criança vítima daquele alijamento. Assim, enquanto a síndrome refere-se à conduta do filho que se recusa terminante e obstinadamente a ter contato com um dos progenitores e que já sofre as mazelas oriundas daquele rompimento, a alienação parental relaciona-se com o processo desencadeado pelo progenitor que intenta arredar o outro genitor da vida do filho. 60 59 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP) , 2002, p. 03. 60 FONSECA, Priscila Maria Pereira Corrêa da. Síndrome de alienação parental . Pediatria, São Paulo, v. 28(3), 2006, p. 54.
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