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TCC JULIO LIMA Alienação parental e as consequencias sociais e jurídicas

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1 
 
 
 
 
 
 
 
ALIENAÇÃO PARENTAL 
E as consequências sociais e jurídicas. 
 
 
 
 
 
 
Canoas 
2017 
 
 
 
 
 
 
JÚLIO ELIANAI DE MELO LIMA 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
ALIENAÇÃO PARENTAL 
E as consequências sociais e jurídicas. 
 
 
 
 
Monografia de graduação apresentada 
como requisito para a obtenção de grau 
de Bacharel no curso de Direito do 
Centro Universitário Ritter dos Reis – 
Laureate Internacional University. 
 
 
Orientadora: 
Profª. Meª Carolina Fernández Fernandes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Canoas 
2017 
3 
 
 
ALIENAÇÃO PARENTAL 
E as consequências sociais e jurídicas. 
Autor: Júlio Elianai de Melo Lima 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão defendido e aprovado como requisito parcial à obtenção do 
título de Bacharel em Direito, pela banca examinadora constituída por: 
 
_______________________________________________ 
Nome do(a) professor(a) 
 
______________________________________________ 
Nome do(a) professor(a) 
 
______________________________________________ 
Nome do(a) professor(a) 
 
 
 
 
 
 
Canoas 
2017 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esse trabalho é dedicado a duas pessoas 
importantes na minha vida. Primeiramente à Juliana 
Zanatta Lima, minha única filha, pois fomos vítimas 
da alienação parental, encontrando assim 
motivação para escolha desse tema. Segundo, ao 
meu querido pai Jovenal Caetano Lima (in 
memorian), porque além de melhor amigo, foi o meu 
principal incentivador para que viesse a estar lutando 
pelos meus sonhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus por toda sabedoria e por estar sempre presente na minha vida; a Dra. Neusa 
Derlan, advogada formada na Uniritter em 1972, minha principal incentivadora a 
prestar o vestibular no Curso de Direito; aos meus pais Jovenal Caetano de Lima (in 
memorian) e Maria de Melo Lima por sempre me apoiarem; as minhas irmãs 
Gilmara, Leonara e Cinara pelo incentivo; aos Doutores Elton Minotto e Jonas 
Barbieri, esse último me abrigou como estagiário por 3 anos, mantendo-me numa 
salutar parceria junto ao seu escritório jurídico fazendo que eu aprendesse na prática 
as lides processuais em diversas áreas do Direito; aos escritores na qual estão 
inseridos na bibliografia deste trabalho; aos meus colegas da Unirriter pelo 
coleguismo e que nossas amizades possam ir além dos estudos. aos professores 
pela dedicação e destreza, sendo um diferencial no método de ensino e profissionais 
altamente dedicados, fazendo os alunos realmente “inquietos”. Aos professores da 
banca examinadora, que compõe este momento tão importante da vida acadêmica 
dos alunos, a conclusão do curso; a professora Carolina F. Fernandes que me 
auxiliou neste trabalho de monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A fé é o firme fundamento das coisas que não se veem, mas que se esperam” 
 
 
APOSTOLO 
PAULO 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
A presente monografia tem como tema a alienação parental, que passou a ter 
juridicidade no ano de 2010 com a promulgação da Lei nº 12.318/2010, trazendo à 
tona a necessidade e urgência da discussão de suas consequências sociais e 
jurídicas. Assim o trabalho aborda a origem e o conceito de alienação parental, 
descrevendo algumas das práticas que podem configurar a conduta alienadora e as 
trágicas consequências no âmbito social. Analisa-se a lei que traz elementos de 
proteção ao interesse da criança e do adolescente e que não estavam previstos no 
ECA, como a reversão da guarda, a guarda compartilhada, os tratamentos sociais e 
psicológicos das partes, bem como a possibilidade da suspensão da autoridade 
parental para casos de prática reiterada. O trabalho também se aprofundou sobre as 
falsas denúncias de abuso sexual relacionadas ao tema e como a lei vem sendo 
aplicada. Para atingir o objetivo proposto, metodologicamente aplicou-se o tipo de 
pesquisa bibliográfica e documental, com abordagem qualitativa. 
 
Palavras-chave: Alienação Parental. Síndrome da Alienação Parental. Guarda 
Compartilhada. Dignidade da Pessoa Humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ABSTRACT 
 
This monograph focuses on parental alienation, which became legal in 2010, with the 
promulgation of Law 12,318 / 2010, bringing to the fore the need and urgency of 
discussing its social and legal consequences. Thus the work approaches the concept 
of parental alienation, and seeks to describe some of the practices that can configure 
the alienating behavior. As legal consequences of the practice of parental alienation, 
we analyze the loss of family power, shared custody and the social and psychological 
treatments of the parties, giving a north to judicial decisions. To reach the proposed 
objective, methodologically the type of bibliographic and documentary research was 
applied, with a qualitative approach. 
 
Keywords: Parental Alienation. Parental Alienation Syndrome. Shared Guard. 
Dignity of human person. 
 
9 
 
 
LISTAGEM DAS ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
ADI: Ação Direta de Inconstitucionalidade 
 
ADPF: Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 
 
ART: Artigo 
 
CC: Código Civil 
 
CDH: Centro de Direitos Humanos 
 
ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente SAP: Síndrome 
da Alienação Parental 
STF: Supremo Tribunal Federal 
 
 
10 
 
SUMÁRIO 
 
 
RESUMO 
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................11 
 
2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A FAMÍLIA..............................................14 
2.1 O surgimento da família no seu contexto jurídico e social................................14 
2.2 Da Dignidade Humana em relação a alienação parental..................................16 
2.3 Conflitos Familiares...........................................................................................20 
2.3.1 Separação conjugal e divórcio........................................................................20 
2.3.2 Conflito em relação a Guarda dos filhos.........................................................26 
2.4 A destituição e a restituição do poder familiar...................................................27 
 
3 DA ALIENAÇÃO PARENTAL..............................................................................313.1 O surgimento da síndrome da alienação parental.............................................31 
3.2 Definição de síndrome da alienação parental...................................................32 
3.3 As consequências da síndrome da alienação parental.....................................33 
3.4 Condutas da pessoa alienadora........................................................................37 
3.5 As falsas denúncias de abuso sexual em crianças...........................................38 
3.6 A lei da alienação parental................................................................................45 
3.7 Jurisprudências de alienação parental..............................................................53 
4 DAS POSSÍVEIS SOLUÇÕES DA ALIENAÇÃO PARENTAL............................56 
4.1 Da guarda compartilhada em casos de alienação parental...............................56 
4.2 Do laudo pericial de psicólogos e assistentes sociais............................. .........58 
4.3 ECA e o Conselho Tutelar na alienação parental............................................ .61 
4.4 O advogado frente alienação parental...............................................................64 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................65 
REFERÊNCIAS........................................................................................................68 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente monografia, intitulada alienação parental e suas consequências 
sociais e jurídicas, tem como objetivo o estudo da alienação parental e das medidas 
que podem ser adotadas para inibir essa prática. Para tanto, o trabalho aborda de 
início a origem da família e sua evolução histórica, mostrando neste contexto os 
conflitos familiares. Como Consequência, e visando a proteção efetiva do direito 
familiar, aborda-se o surgimento da Lei da Alienação Parental, Lei n.º 12.318, de 26 
de agosto de 2010. 
Conforme a psicopedagoga Ada Carvalho, o Brasil é um dos raros países do 
mundo que tem uma legislação específica sobre o assunto. Em 27/8/2017, 
comemorou-se sete anos da Lei 12.318, que veio definitivamente solidificar esse 
importante conceito. 1
Segundo a pesquisa realizada pela Associação de Pais e Mães Separados 
Apase), 80% dos filhos de pais separados sofrem com o problema em algum grau. 2
Ainda, conforme o site “Alienaçãoperental.com.br” mais de 20 milhões de 
crianças sofram este tipo de violência. 3
A Alienação parental surgiu como tema de muitas discussões, inicialmente na 
América do Norte e se propagou para outros continentes; é uma construção do 
psiquiatra norte-americano Richard A. Gardner, chefe do departamento de 
Psiquiatria Infantil da faculdade de medicina e cirurgia da Universidade de Columbia, 
Nova York, Estados Unidos da América . 
Essa síndrome acontece na maioria das vezes, com a ruptura das relações 
conjugais, não suportada por um dos cônjuges, surge um sentimento de abandono 
que gera nessa pessoa uma necessidade incontrolável de atingir o outro. É nessa 
1 CARVALHO, A. (04 de outubro de 2017). ORIENTAÇÃO DA PSICOPEDAGOGA – Alienação 
parental: um prejuízo ao desenvolvimento da criança, por Ada Carvalho. Acesso em 30 de outubro de 
2017, disponível em 
http://nedjaalves.com/orientacao-da- psicopedagoga-alienacao-parental-um-prejuizo-ao-desenvolvimen
to-da-crianca-por-ada-carvalho/ 
2 FIGUEIREDO, Andressa. Alienação Parental. Notícias Piauí . Disponível em Portal o dia: 
http://www.portalodia.com/noticias/piaui/80-dos-filhos-de-pais-separados-sofrem-com-alienacao-paren
tal-220407.html Acesso em 22/10/2017. 
3 SAP. Síndrome da Alienação Parental. O que é SAP (2011). disponível em alienação parental: 
http://www.alienacaoparental.com.br/o-que-e , acesso em 22.10/2017 
 
12 
 
vingança que aparece o instituto da alienação parental, e os filhos passam a ser alvo 
dessa disputa e a pessoa alienadora se utiliza da prole como forma de retaliação 
pelo fim do relacionamento. 
As manifestações de centenas de pais que buscavam o seu Direito; buscavam 
não apenas por si próprios, mas também pelos seus filhos, vítimas da alienação 
parental. Num exemplo, a infante recebia da sua genitora guardiã, uma investida 
maliciosa e caluniadora a desfavor do genitor não guardião, implantando falsas 
memórias, no intuito da prole rejeitar o seu pai, causando muitas vezes ruptura no 
relacionamento afetivo familiar, culminando em irreparáveis traumas psicológicos, 
como iremos abordar com mais precisão na sequência do trabalho. 
As falsas denúncias de abuso sexual infantil, já estavam se repetindo 
demasiadamente em demandas com intuito de afastar o genitor dos filhos. Apesar 
de estar previsto no ECA sobre os direitos da criança e do adolescente, em especial 
da convivência familiar e da dignidade da pessoa, não havia lei que pudesse inibir a 
prática da alienação parental. Muitos pais eram afastados dos filhos por 
determinação judicial, em alguns casos até destituídos do poder familiar. or essa 
razão, visando em síntese inibir ou atenuar os efeitos de tais atos, a Lei 12.328 traz 
em seu texto condutas exemplificativas que podem ser consideradas como atos de 
alienação parental, mas deixando espaço para que outros comportamentos possam 
ser constatados por meio de perícia. 
Para atingir o objetivo a que se propôs, a presente monografia foi estruturada 
em 4 capítulos, iniciando pelas considerações gerais sobre a família, pois não teria 
como abordar a síndrome da alienação parental sem relacionar a família, pois é no 
ambiente familiar que se dá o problema. Nesse aspecto relacionamos os conflitos 
familiares, como acontece nas separações conjugais e no divórcio. O outro conflito 
se dá na disputa pela guarda dos filhos pela qual a lei da alienação parental vem 
trazendo ferramentas processuais com terminologia legal, abordando questões de 
psicologia forense, como o auxílio técnico judiciário, bem como o seu importante 
papel no tratamento das partes envolvidas nesse tipo de conflito. 
 
O trabalho aborda os efeitos da lei, como jurisprudência e doutrina, para 
análise dos efeitos da Lei nº 12.318 no Brasil, bem como qual deve ser, e como deve 
13 
 
ser a pauta na atuação dos profissionais como psicólogos, o próprio judiciário bem 
como os conselheiros tutelares. 
 
 
 
 
14 
 
 
2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A FAMÍLIA 
 
 Para enfrentar o tema proposto, o trabalho traz um brevê histórico sobre a 
família, no contexto jurídico, bem como dos conflitos familiares. Assim poder-se-á 
contextualizar a alienação parental dentro desses conflitos. 
2.1 O surgimento da família no seu contexto jurídico e social 
Ao longo do tempo vemosque o Direito de Família é um dos ramos que mais 
sofre alterações, tendo em vista a constante evolução familiar. Ora, “a família é um 4
âmbito que envolve pessoas, sentimentos e emoções afetivas. E a humanidade 
evolui a cada dia com suas crenças e costumes, que se refletem na sociedade”. 5
No início da vida, principalmente nos períodos da infância e da adolescência, 
 todo ser humano necessita de alguém responsável por sua criação, educação e 
proteção, cabendo, por natureza, aos pais realizar esta incumbência e na sua falta, 
algum adulto responsável. A esse conjunto de direitos e deveres dos pais na criação 
dos filhos enquanto menores encontra-se no ordenamento jurídico a figura do poder 
familiar. A palavra “poder familiar” corresponde ao que era anteriormente 
denominado pátrio poder, termo que remonta ao direito romano: pater potestas e 
significava o direito absoluto e ilimitado conferido ao chefe da organização familiar, 
que era o pai, sobre a pessoa dos filhos. 6
Com a igualdade de direitos e obrigações entre homens e mulheres, prevista 
no artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal, a expressão pátrio poder tornou-se 
inapropriada, ocasionando a alteração da denominação pelo Código Civil de 2002 
para poder familiar, muito mais adequada ao texto constitucional e à realidade social. 
 
4 SOUZA, Carlos Eduardo Silva e. Direito Privado Contemporânea e a família pós moderna . 
Revolução Ebook, 2015, p. 31. 
5 _________. Direito Privado Contemporânea e a família pós moderna . Revolução Ebook, 2015, 
p.32 
6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias . 6ª. ed. São Paulo: Revista dos tribunais 
2010, p. 416 
 
15 
 
Porém, no “Pátrio Poder” os filhos e a esposa eram submetidos ao poder do 
chefe de família. O antigo pátrio poder foi extinto com o advento Código Civil de 
2002, no que passou a ser denominado Poder Familiar, que abrange tanto pai 
quanto mãe. Assim preceitua o art. 1.630: “Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, 
enquanto menores” 7
Farias descreve que há conceitos diferenciados sobre a família moderna, 
sendo como: 
[...] compreendê-la, senão sob a luz da interdisciplinariedade, máxime da 
sociedade contemporânea, marcada por relações complexas, plurais, 
abertas, multifacetárias e (por que não?) globalizadas. 8
 
Quem melhor sintetiza o sentido de família constante no ordenamento jurídico 
brasileiro é o ilustre Orlando Gomes, que considera família o grupo fechado de 
pessoas, composto dos genitores e filhos, e para limitados efeitos, outros parentes, 
unificados pela convivência e comunhão de afetos, em uma só e mesma economia, 
sob a mesma direção . 9
 Depreende-se dos conceitos trazidos por esses e outros doutrinadores a 
intenção do legislador em considerar a família não apenas enquanto instituição 
jurídica, mas em sua importância social, em suas várias formas e variações. Na lição 
de Paulo Lôbo: 
Sob o ponto de vista do direito, a família é feita de duas estruturas 
associadas: os vínculos e os grupos. Há três sortes de vínculos, que podem 
coexistir ou existir separadamente: vínculos de sangue, vínculos de direito e 
vínculos de afetividade. A partir dos vínculos de família é que se compõem 
os diversos grupos que a integram: grupo conjugal, grupo parental (pais e 
filhos), grupos secundários: outros parentes e afins. 10
 
Assim, para o Direito, família consiste na organização social formada a partir 
de laços sanguíneos, jurídicos ou afetivos. 
 
 
2.2 Da Dignidade Humana em relação a alienação parental 
7 BRASIL. Código civil brasileiro. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. 
8 FARIAS, Cristiano Chaves. de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil : Disponível em: 
http://www.editorajuspodivm.com.br/i/f/31-41-%20cap%20I.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2017 
9 GOMES, O. Direito de Família . 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 
10 LÔBO, P. Direito Civil: família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 2. 
16 
 
 
 
Ao se explanar o princípio da dignidade humana, verifica-se seu 
enquadramento diante da lição a respeito da alienação parental, pois é de notar-se o 
liame que se forma a cerca da criança e do adolescente; afinal, a dignidade 
adquire-se ainda no ventre da mãe, pois já se é garantido o direito a vida, e por que 
não o da Dignidade. E com relação à Criança e Adolescente, estes que ainda nem 
vivem sua vida com plenitude, devem ser mais protegidos ainda, mesmo que sejam 
de seus genitores. 11
Interessante destacar que com relação Alienação Parental, que está 
englobada ao Direito de Família, há uma ligação umbilical com os Direitos Humanos, 
que como já foi falado está intimamente ligado à dignidade humana, na versão 
axiológica da natureza humana. 12
De acordo com o famoso filósofo Kant, veio-se atender aos critérios para 
tornar a dignidade da pessoa humana um princípio universal. Ao dizer que: “Todo 
homem vale o mesmo que todo outro por ser racional” e que “Deve-se reconhecer 
um mesmo valor para cada homem por ser racional, estabelece-se uma regra 
universal e racional”. 13
Há uma classificação dentro dos princípios que seriam: os “princípios 
estruturantes”, “princípios constitucionais gerais” e os “princípios constitucionais 
especiais”. Os princípios estruturantes são aqueles que representam um arcabouço 14
político e fundamental constitutivo do Estado e sobre os quais se assenta todo o 
ordenamento jurídico. Já os princípios Constitucionais gerais, são os que se 15
derivam dos princípios estruturantes, em que clarificam seu sentido como princípio 
constitucional. Além disso, esses princípios constitucionais gerais, acabam por 
concretizar um pouco mais mediante princípios constitucionais especiais. Dentro 
11 PEREIRA, Clóvis Brasil. A guarda compartilhada, entre o desejável e o possível . Disponível 
em: <http://www.prolegis.com.br/a-guarda-compartilhada-entre-o-desejavel-e-o-possivel/>. Acesso 
em: 13 out. 2017. 
12 BARROS, 2003 apud DIAS, 2008, p. 60 
13 CUNHA, Rodrigo. Apub princípios fundamentais e norteadores para a organização jurídica da 
família, 2004, disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/21104574/tese-drrodrigodacunha , 
acesso em 13.out. 2017. 
14 CANOTILHO,1993 apud NUNES, 2010, p. 54 
15 NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e 
Jurisprudência. 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010, p.34 
17 
 
destas definições, a Dignidade do ser humano se enquadra como princípio 
estruturante. “Todos os Homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 16
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com 
espírito de fraternidade”. 17
Rizzato Nunes descreveem seu livro “Todo homem tem capacidade para 
gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de 
qualquer espécie, seja raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra 
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer condição”. 18
Isto demonstra o quão importante é a família para o desenvolvimento de 
qualquer ser humano e de sua singularidade, pois, se aprender a conviver 
respeitosamente em família, assim conviverá com o restante da sociedade. 
A nossa Constituição Federal colocou a dignidade da pessoa humana no topo 
dos Direitos Fundamentais. Não seria diferente no Direito das Famílias, de modo 
que, sendo a dignidade da pessoa humana uma ordem constitucional, deve ser 
seguida por todos os ramos do direito. 
A Constituição Federal tem por Princípio Fundamental da República a 
dignidade da pessoa humana, garantindo que toda pessoa obtenha em todo lugar e 
a todo tempo direitos que possam lhe garantir uma vida digna e saudável. 
Sobre tal princípio diz Flavio Tartuce: 
Trata-se daquilo que se denomina princípio máximo , 
um superprincípio , ou macroprincípio, ou princípio dos 
princípios. Diante desse regramento inafastável de proteção da 
pessoa humana é que está em voga, atualmente entre nós, falar 
em personalização , repersonalização e despatrimonialização do 
Direito Privado. Ao mesmo tempo que o patrimônio perde 
importância, a pessoa é supervalorizada. 19
A partir do momento em que ocorreu a constitucionalização do direito civil e 
a dignidade da pessoa humana foi consagrada como fundamento do Estado 
16 NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e 
Jurisprudência. 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010, p. 54 
1710 _____ O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e 
Jurisprudência . 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010. P 36 
18 _____. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana Doutrina e 
Jurisprudência . 3. Ed. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010. P 37 
19 TARTUCE, Flavio . Novos Princípios do Direito de Família Brasileiro . Disponível em: 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8468&p=2 , acesso em 01/11/2017 
18 
 
Democrático de Direito (Constituição Federal artigo 1º, III), o positivismo tornou-se 
insuficiente. As regras jurídicas mostram-se limitadas, acanhadas para atender ao 
comando constitucional. Nessa esteira, o famoso escritor do livro Curso de Direito 
Penal, Fernando Capez reza: 
Verifica-se o Estado Democrático de Direito não apenas pela proclamação 
formal da igualdade entre todos os homens, mas pela imposição de me tas e 
deveres quanto à construção de uma sociedade livre, justa e solidária; pela 
garantia do desenvolvimento nacional; pela erradicação da pobreza e da 
marginalização; pela redução das desigualdades sociais e regionais; pela 
promoção do bem comum; pelo combate ao preconceito de aça, cor, origem, 
sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação (CF, art. 3º, I a IV); 
pelo pluralismo político e liberdade de expressão das ideias; pelo resgate da 
cidadania, pela afirmação do povo como fonte única do poder e pelo respeito 
inarredável da dignidade humana. 20
Surge assim o sentimento social de justiça, onde as leis devem ter conteúdo 
e adequação social e o Estado, por sua vez, deve estar a serviço do bem comum, 
assegurando assim a dignidade da pessoa humana. 
A ideia de dignidade da pessoa humana está na base do reconhecimento 
dos direitos humanos fundamentais. Só é sujeito de direitos a pessoa 
humana. Os direitos humanos fundamentais são o "mínimo existencial" para 
que possa se desenvolver e se realizar. Há, ademais, uma hierarquia natural 
entre os direitos humanos, de modo que uns são mais existenciais do que 
outros. E sua lista vai crescendo, à medida que a humanidade vai tomando 
consciência das implicações do conceito de dignidade da vida humana. Por 
isso, Tomás de Aquino, ao tratar da questão da imutabilidade do direito 
natural, reconhecia ser ele mutável, mas apenas por adição, mediante o 
reconhecimento de novos direitos fundamentais. Nesse diapasão seguiram 
as sucessivas declarações dos direitos humanos fundamentais (a francesa 
de 1789 e a da ONU de 1948), desenvolvendo-se a ideia de diferentes 
"gerações" de direitos fundamentais: os de 1ª geração, como a vida, a 
liberdade, igualdade e a propriedade; os de 2ª geração, como a saúde, a 
educação e o trabalho; e os de 3ª geração, como a paz, a segurança e o 
resguardo do meio ambiente. 21
Desta feita, o direito a ter uma família, principalmente dos filhos em relação 
aos pais, como vimos, envolve esse importante princípio, o da dignidade da pessoa 
humana, pois há, no contexto pessoal, os sentimentos que compõe a essência da 
pessoa, e está muito ligada a afetividade de pais e filhos. 
 Nesse sentido o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê o seguinte: 
20 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte geral. 13 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. 
Disponível em 
https://www.overmundo.com.br/banco/o-princípio-da-dignidade-da-pessoa-humana-e-sua-aplicacao-m
oderna-1 , acesso 01 out. 2017. 
21 http://www.comunidademaconica.com.br/Artigos/5778.aspx 
19 
 
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à 
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e 
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na 
Constituição e nas leis. 
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: 
I- ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, 
ressalvadas as restrições legais; 
II - opinião e expressão; 
I - crença e culto religioso; 
IV - brincar, praticar esportes e divertir -se; 
V - participar da vida familiar e comunitária, 
sem discriminação; 
VI - participar da vida política, na forma da lei; 
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. 
Art. 17.0 direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, 
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva - 
ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, 
dos espaços e objetos pessoais. 
Art . 18. É dever de todos velar pela dignidade 
da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento 
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. 22
A Lei da Alienação Parental também aduz nesse sentido: estabelece que a 
criança e o adolescente tem direito de conviver com os pais e parentes de forma 
harmoniosa . : 
regula a situação de alienação parental, circunstância que se caracteriza 
pela "interferênciana formação psicológica da criança ou do adolescente 
promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que 
tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância 
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à 
manutenção de vínculos com este" (LAPar 2.° caput). 23
 
Permitir o rompimento disso, em face da Alienação Parental, é realmente fazer 
vistas grossas a esse tipo de crueldade para com o próprio ser humano que se vê 
incompleto, ou até mesmo impotente, pois isso se dá no âmbito psicológico, na 
mente de uma pessoa que recém está formando sua índole, a falar da infante. 
 
 
 
2.3 Conflitos familiares: 
 
22 BRASIL. Lei n. 8.069 , de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e do 
adolescente e dá outras providências. Acesso em 03 de outubro de 2017, disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm> 
23 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. acesso em: 02 out 2017, dispõe sobre a 
alienação parental e altera o art. 236 da Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm 
 
20 
 
Os conflitos familiares contribuem muito para que a Alienação parental se 
desdobre no seio familiar. Desta feita iremos abordar os tipos de conflitos, da 
separação conjugal e o divórcio, das disputas pela guarda dos filhos e as 
consequências da alienação parental que culminam em muitos casos na destituição 
do poder familiar, e da possibilidade de seu restabelecimento. 
 
2.3.1 Separação conjugal e divórcio 
 
 A Alienação parental está ligada diretamente aos conflitos familiares, que 
culminam na ruptura da união estável ou casamento. Como veremos na pesquisa 
do registro civil, a mais recente de 2014, o número de divórcios deu um salto nos 
últimos 20 anos de 1.007% que na avaliação do IBGE, uma grande gradual mudança 
de comportamento da sociedade brasileira passou a aceitar com maior naturalidade 
e a acessar os serviços de justiça de modo a formalizar as dissoluções dos 
casamentos: 
 O Brasil registrou 341,1 mil divórcios em 2014, ante 130,5 mil registros em 
2004. Foi um salto de 161,4% em dez anos. O dado está presente na 
pesquisa do Registro Civil 2014, divulgada pelo site Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE). A Lei do Divórcio chegou ao País em 26 
dezembro de 1977. Poucos anos depois, em 1984, foram contabilizados 
30,8 mil divórcios. Em 1994, foram registradas 94,1 mil casos, 
representando um acréscimo de 205,1% em relação a 1984. Em 2004, com 
130,5 mil casos, o aumento foi de 38,7%. Na comparação entre 1984 e 
2014, no entanto, o crescimento é de 1.007%. Na avaliação do IBGE, a 
elevação sucessiva, ao longo dos anos, do número de divórcios concedidos 
revela “uma gradual mudança de comportamento da sociedade brasileira, 
que passou a aceitá-lo com maior naturalidade e a acessar os serviços de 
Justiça de modo a formalizar as dissoluções dos casamentos”. 24
Em relação a ruptura no casamento, quem mais sofre, sempre são os filhos, 
que são acostumados com o carinho tanto do pai, quanto da mãe, e se veem 
obrigados a aceitar a nova convivência da separação dos pais. As crianças menores, 
antes da adolescência, mesmo que, estando elas em fase de formação psicológica, 
diante de estudos pesquisados transversais e horizontais realizados ao longo de dez 
anos, aceitam com mais facilidade a situação da separação dos pais do que as 
24 Brasil, G. d. (30 de novembro de 2015). taxa de divórcio . Acesso em 03 de outubro de 2017, 
disponível em Governo do Brasil: 
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/11/em-10-anos-taxa-de-divorcios-cresce-mais-de-16
0-no-pais 
21 
 
crianças adolescentes. Segundo a teoria psicossocial de Erik Erikson , os filhos são 25
afetados de diversas maneiras, sentem-se impotentes diante da ruptura e das 
mudanças ocasionadas; rejeitados e abandonados, uma vez que, principalmente 
crianças pequenas, não conseguem compreender porque um dos pais se afasta do 
lar; passam a achar que são os culpados pelo desenlace dos pais – principalmente 
se a idade da criança (entre 3 e 6 anos) coincide com a fase fálica ou edípica de 
Freud – quando se inicia a triangulação, ou seja, a inclusão do pai, que irá criar as 
condições conflituosas em que o menor tem um forte desejo instintivo pelo progenitor 
do sexo oposto e repudia o do mesmo sexo, por ciúmes – momento em que a 
criança já se sente culpada, pois em seu âmago ama os dois. 26
Já quando há um conflito de longo prazo, relatam problemas de ajustamento 
diante dos conflitos vividos por seus pais durante a separação. Porém, problemas 
de ajustamento são mais significativos quando há conflitos de longo prazo vividos 
pelos pais durante o período de pré-separação do que quando os conflitos ocorrem 
no período de divórcio propriamente dito. O cotidiano familiar, ao ser interrompido e 
alterado pela separação conjugal, implica em uma negociação de novas formas e 
lugares de vida para que, em um segundo momento, as pessoas possam cuidar do 
tumulto emocional que acompanha todo o processo. 27
A presença efetiva de ambos os genitores equilibra a relação com a prole, 
pois os pais possuem três funções básicas pra com os filhos: “1 Assegurar a 
satisfação de suas necessidades físicas; 2. Satisfazer as necessidades afetivas; 3. 
Responder às necessidades de segurança psíquica oferecendo à criança um ‘tecido 
psíquico grupal’ no qual se enraiza o psiquismo da criança. 28
Nesse aspecto, vemos que os filhos precisam consideravelmente dos pais 
durante o processo de separação, e é exatamente neste período que tanto o pai 
25 Erik Erikson – psicanalista que repensou algumas teorias da Psicanálise de Freud. 
26 Erikson, Erik H. O ciclo de vida completo. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese, Porto Alegre: 
Artes Médicas, 1998, p. 46 
27 KASLOW, F.; SCHWARTZ, L. As dinâmicas do divórcio : uma perspectiva do ciclo vital. Campinas: 
Editora Psy, 1995. 
28 POUSSIN, Gerand; SAYN, Isabelle. Apud LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais . A 
Situação jurídica de pais e mães solteiros, de pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida 
conjugal. São Paulo: RT, 1997. P. 92 
22 
 
quanto a mãe estão mais vulneráveis e frágeis, uma vez que há uma perda a ser 
elaborada com inúmeros sentimentos que não são compreendidos, além de 
aspectos práticos a ser resolvidos. Esse ponto pode ser ilustrado pelos casais que 
chegam às Varas da Família para homologar sua separação, seja por consenso ou 
para discussão em ação litigiosa,e apresentam um sentimento de perda ao falharem 
no casamento, sentindo-se profundamente fracassados. 
 Emiliano assevera o seguinte acerca dos conflitos familiares: 
A relação em família é complexa, pois cada ser humano é singular em 
relação a sua história, temperamento, idade, composição genética, etc.. No 
jogo relacional há alianças e luta pelo poder. [...] Nos diversos 
relacionamentos, as diferenças individuais quanto às percepções e 
necessidades emergem, pois cada pessoa forma a sua própria percepção e 
tem necessidades num determinado momento. Essas diferenças no 
contexto relacional tornam-se as bases dos conflitos. 29
 
Por este motivo, os conflitos familiares são presentes na vida da maioria das 
pessoas. Cada um da família tem a sua singularidade, seu modo de ser e seus 
costumes. E, por mais que convivam juntos, nem sempre terão a mesma opinião, a 
mesma vontade e modo de enxergar o mundo. Sendo assim, a vivência familiar é 
marcada por altos e baixos, brigas e reconciliações. Nas relações familiares como as 
que temos hoje em dia, os conflitos são relacionados a vários fatores, tais como 
fatores idealistas e psicológicos, e quase sempre tem por trás deles alguma mágoa 
ou ressentimento. 30
Porém, por se tratar de conflitos familiares, deve-se ter cuidado para que não 
sejam rompidos o convívio familiar e os laços afetivos. Samanta Lessa pontua: 
“Quando pensamos em situações de conflito em família, logo nos vem em mente 
discussões e brigas entre casais, que inevitavelmente acontecem e que dependendo 
da natureza dos motivos e uma série de outras razões, podem conduzir o casal ao 
caminho da separação”. 31
 
29 EMILIANO, 2008, não paginado. 
30 GOMES, Jocélia Lima Puchpon. Síndrome da alienação parental. Leme: Imperium Editora e 
distribuidora, 2013, p. 32. 
31 LESSA, Samanta. A ausência paterna e materna : um estudo sobre as repercussões em 
crianças que frequentam creches e pré escolas. 1998. 121 f. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Bacharel em Direito) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 1998, p. 42-43 
 
23 
 
Ocorre que nem sempre a questão de conflitos familiares envolve apenas 
brigas de um casal. Muitas vezes a questão é mais complexa e muito mais gravosa 
quando existem filhos, crianças ou adolescentes envolvidos. Conforme já citado 
anteriormente, o número de divórcios no Brasil cresceu assustadoramente. Muitos 
podem ser os motivos sociais e culturais para este resultado. Por este motivo que é 
tão difícil a atuação dos operadores do Direito nas questões familiares, pois estes 
sempre têm que lidar com situações complexas da intimidade familiar, além de lidar 
com fatores emocionais. 
 
Marini conceitua que o divórcio dos pais é um processo doloroso para os 
filhos, dizendo ainda que para diminuir o trauma destes é importante e fundamental 
que seja mantido o ambiente familiar da melhor maneira possível, bem como que os 
pais conduzam este momento difícil com zelo. 
 
Sendo assim, quanto mais conflitos existirem neste momento do divórcio 
entre os pais, mais difícil e doloroso será para os filhos, pois estes sendo crianças ou 
adolescentes, estão passando por um momento delicado em relação ao seu 
desenvolvimento psicológico. Os danos nestes momentos podem ser irreversíveis, 
podendo inclusive esta criança se tornar um adulto com problemas psicológicos e 
emocionais. 
 
Schabbel ressalta: 
 
Quando há separação, a criança ou adolescente enfrenta o medo e as 
consequências negativas de um lar desfeito. Não é possível saber o número 
exato de crianças envolvidas em separações no Brasil, porém, pesquisas 
realizadas em outros países referem-se, basicamente, a duas percepções 
provocadas nos filhos: o medo, consciente ou inconsciente, de que o outro 
cônjuge também vá embora, e a percepção de que os adultos não são 
confiáveis e nem honestos. Tanto o casal que se separa quanto seus filhos 
passam por momentos delicados e difíceis na tentativa de resolver questões 
práticas, como guarda e visita, ou emocionais, como lidar com a interrupção 
de certas tradições familiares, a perda da convivência diária com um dos 
pais e a sensação de desamor, rejeição e abandono. 32
 
 
32 SCHABBEL, C. Relações familiares na separação conjugal . Revista Psicologia: Teoria e Prática, 
São Paulo, v.7, n. 1, jul. 2005.Disponível em: 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872005000100002 , 
 Acesso em: 08 out. 2017. 
24 
 
Uma das formas de diminuir tal sofrimento pode ser a guarda compartilhada, 
além de ser uma forma de coibir a alienação parental, conforme conceitua Freitas: 
A guarda compartilhada traz aos genitores direitos e deveres iguais, para 
decidirem juntos as questões relacionadas ao comportamento e a vida em 
geral do filho, ou seja, possuem de forma conjunta o exercício pleno do 
poder familiar. Compartilhando a guarda do filho, os pais estarão mais 
próximos. Essa é uma forma de evitar a alienação parental, que acaba 
sendo provocada por um genitor que não está na pose de guardião (no caso 
em que a guarda pertence a apenas um dos pais, enquanto ao outro lhe 
resta apenas o direito de visita. 33
 
 A pesquisa abaixo mostra que é grande o percentual de pessoas viveram 
uma relação conjugal. No Rio de Janeiro, por exemplo, 17,5% da população são de 
pessoas que já viveram um relacionamento conjugal e não vivem mais: 34
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 FREITAS, Thaís Cristina. A garantia da aplicabilidade da guarda compartilhada com o advento 
do instituto de alienação parental . Disponível em: 
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8674/A-garantia-da-aplicabilidade-da-guarda-compartilhad
a-com-o-advento-do-instituto-da-alienacao-parental>. Acesso em: 08 out. 2017. 
34 VEJA, nova família brasileira. 02 jun. 2016, disponível em: 
<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-nova-familia-brasileira-ibge - acesso em 08 out.2017. 
 
25 
 
 
 
 
 
Apesar de ser uma pesquisa de 2010, é a mais recente do IBGE relacionada 
ao assunto, e se tem uma ideia do aumento de separações e divórcios, e dessa feita 
a importância do preparo técnico e judiciário a fim de impor a lei e amenizar os 
problemas advindos das constantes dissoluções conjugais envolvendo as crianças e 
adolescentes. 
 
26 
 
 
2.3.2 Conflito em relação a Guarda dos Filhos 
Nas separações e divórcios, veremos que um dos conflitos mais 
predominantes, é a respeito da Guarda dos filhos. É o que mais requer atenção do 
Judiciário, pois envolve diretamente as crianças e adolescentes, e uma decisão 
errada pode causar grandes transtornos, justamentepela idade dos envolvidos e os 
procedimentos que ocorrem. Denise Maria Perissini explica bem essa questão da 
psicologia jurídica na aérea do processo judicial brasileiro: 
Nas Varas de Família e das Sucessões dos Foros Regionais 
e dos Tribunais de Justiça estaduais, priorizam-se casos em 
que há filhos envolvidos (direta ou indiretamente) nas 
relações processuais. Isso porque, como membro da família 
afetivamente mais sensível, a criança percebe mais 
facilmente os efeitos nocivos de uma desestruturação 
familiar, e por esse motivo sofre os maiores prejuízos 
emocionais e comportamentais. 35
Casais que chegam aos litígios da Vara de Família e Sucessões, não tentam 
resolver seus conflitos da melhor maneira possível sem prejudicar a criança. Isso é 
muito difícil, justamente porque estão sobre forte pressão emocional, e também 
ficam em segundo plano enquanto casal, pois essas varas não foram criadas para 
esse fim. Denise Maria Peressini diz que “a família é vista como um grupo de 36
pessoas ligadas entre si por parentesco, afeto, solidariedade, necessidade de 
reprodução, como forma de garantir sua identidade social.” 37
Desta feita a busca para soluções dos conflitos trazidos ao Judiciário irá 
ampliar o trabalho do psicólogo judiciário, para verificar fatos e ajudar a resolver os 
problemas com o seu laudo, tratando a família como sistema, verificando a maneira 
de sua estruturação e como os seus membros se relacionam. 
 
35 SILVA, Denise Maria Peressini da. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface da 
psicologia com direitos nas questões de família e infância , São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, 
p.112 
36 MOLINARI, Fernanda, Alienação parental e a mediação dos filhos , jun. 2013, disponível em: 
http://criancafeliz.org/rs-alienacao-parental-e-a-mediacao-de-conflitos/ acesso em 15 out. 2017. 
37 SILVA, Denise Maria Peressini da. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface 
da psicologia com direitos nas questões de família e infância , São Paulo: Casa do Psicólogo, 
2003, p.113 
27 
 
2.4 A destituição e a restituição do poder familiar 
 
A destituição do poder familiar pode se adequar ao tema da alienação 
parental como resultado de falsas denúncias. Nem sempre os operadores da justiça 
são capazes de detectar a alienação, e pode acontecer da falsa denúncia se tornar 
verdadeira, com decisões favoráveis a premeditada armadilha da alienadora. É o 
que ocorria antes da lei da alienação parental existir, o caso de pais inocentes, 
serem destituídos, pois desta feita não havia estes estudo científico a respeito do 
assunto, bastava uma denúncia na delegacia para o processo ser gerado contra o 
genitor que por precaução de imediato era afastado da sua prole. 
Nesses casos, a justiça tem como procedimento afastar o possível 
abusador, imediatamente, até a conclusão do inquérito. Como, em geral, a 
investigação é demorada, o vínculo entre o sujeito acusado e o filho é 
perdido. Percebe-se que, quanto a esta questão, ainda há muito no que 
avançar, a fim de preservar a integridade da criança, mas também 
considerando a hipótese da falsidade da denúncia. 38
 
Desta feita, hoje muitos pais se veem obrigados a se ausentar dos filhos, 
embora haja determinação judicial, a prole é convencida pela alienadora, 
considerando seu genitor um monstro. 
Vale citar a obra “a morte inventada” , muito comentada a respeito do tema 39
da alienação parental. No documentário, destaca-se alguns casos de afastamento 
causado pelo genitor entre a ex-esposa e o filho, que conta que “só conseguiu dar 
um beijo no rosto do filho quando este tinha 18 anos”, bem como o relato de um pai, 
que precisou recorrer a uma ação policialesca hollywoodiana para buscar as 
crianças, mesmo de posse do documento oficial que lhe concedia a guarda. 
Contudo, sem dúvida, o relato mais comovente é feito por uma jovem que passou 11 
anos sem conviver com o pai, com quem havia retomado contato. Ela lembra da 
obrigação que sentia de se aliar à genitora para agredir o pai, e ao fim do filme fica 
claro o impacto psicológico sofrido. 
38 COSTA, Ana Ludmila Freire, 2011, apud: A morte inventada: depoimentos e análise sobre a 
alienação parental e sua síndrome, disponível em http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n2/15.pdf , acesso 
em 01/11/2017 
39 MINAS, Alan. A morte inventada: alienação parental [Filme-vídeo]. Niterói, Caraminholas 
Produções, 2009 
28 
 
Na decisão a seguir, vemos da possibilidade de estar frente a hipótese da 
síndrome da alienação parental, em que o Tribunal de Justiça não reconheceu a 
destituição do poder familiar, senão vejamos: 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL – AGRAVO DE 
INSTRUMENTO Nº 70015224140 - SÉTIMA CÂMARA CÍVEL - RELATOR: 
MARIA BERENICE DIAS. EMENTA: DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. 
ABUSO SEXUAL. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL. Estando as 
visitas do genitor à filha sendo realizadas junto a serviço especializado, não 
há justificativa para que se proceda a destituição do poder familiar. A 
denúncia de abuso sexual levada a efeito pela genitora, não está 
evidenciada, havendo a possibilidade de se estar frente à hipótese da 
chamada síndrome da alienação parental. NEGADO PROVIMENTO. 40
 
Segundo leciona Silvio Rodrigues, a destituição ou suspensão do poder 
familiar é medida excepcional e jamais definitiva: 
Têm menos um intuito punitivo aos pais do que o de preservar o interesse 
dos filhos, afastando-os da nociva influência daqueles. Tanto assim é que, 
cessadas as causas que conduziram à suspensão ou destituição do poder 
familiar e transcorrido um período mais ou menos longo de consolidação, 
pode o poder paternal ser devolvido aos antigos tutores. 41
 
Nesse mesmo sentido, nos ensina Carlos Roberto Gonçalves que “A perda 
do poder familiar é permanente, mas não se pode dizer que seja definitiva, pois os 
pais podem recuperá-lo em procedimento judicial, de caráter contencioso, desde que 
comprovem a cessação das causas que a determinaram” 42
É possível que os genitores, apesar de serem destituídos do poder familiar, 
possam, ao longo do tempo, demonstrar que foram cessadas as causas que levaram 
à destituição do poder familiar. Nesse caso, defendemos a possibilidade de revisão 
dessa decisão, ainda que coberta pela segurança da coisa julgada, por meio de ação 
autônoma, cuja realidade é completamente diversa do contexto fático anterior. 
Ao falarmos sobre o princípio do melhor interesse da criança e do 
adolescente, é possível ser reconstituído o poder familiar aos genitores, pois eles 
podem adquirir boas condições a oferecer aos filhos. 
Em reforço, o art. 3º do próprioECA prevê que a criança e o adolescente 
gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo 
40 Apelação Cível n.º 70016276735, Sétima Câmara Cível, TJ,RS, Relator: Maria Berenice Dias, 
Julgado em 18/10/2006. 
41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de direito civil, V. 06 , Saraiva 
42 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. Vol. VI. São Paulo. Saraiva. 2006 
29 
 
da proteção integral , assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as 
oportunidades e as facilidades, a fim de facultar-lhes o desenvolvimento físico, 
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
 Por outro lado, dispõe o artigo Art. 19 do ECA: 
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e 
educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em 
família substituta (grifo nosso). 
 
Assim, devemos nos curvar a este que princípio que deixa claro que a 
criança/adolescente deve ser preferencialmente, criado e educado no seio familiar, 
onde melhor poderá desenvolver suas potencialidades, sendo a retirada medida 
excepcional e jamais definitiva. Ou seja, a destituição, embora tenha caráter 
permanente, não pode configurar situação irreversível quando os genitores adquirem 
condições de oferecer assistência material e moral adequada. 
APELAÇÃO CÍVEL. ECA . AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. 
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. PROTEÇÃO INTEGRAL E 
PRIORITÁRIA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 
DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA EXTINTIVA. 
1. A atenta e sistemática leitura dos artigos do estatuto da criança e do 
adolescente permite concluir que apenas a adoção tem caráter irrevogável, 
porque expressamente consignado no § 1º do art. 39 . diante do silêncio da 
lei acerca do restabelecimento do poder familiar, também se pode concluir, a 
contrário sendo, pela possibilidade da reversão da destituição do poder 
familiar, desde que seja proposta ação própria para tanto, devendo restar 
comprovada a modificação da situação fática que ensejou o decreto de 
perda do poder familiar. desse modo, impõe-se a desconstituição da 
sentença que extinguiu o processo por impossibilidade jurídica do pedido. 2. 
à luz da doutrina da proteção integral e prioritária dos direitos da criança e 
do adolescente preconizada pelo eca , a intervenção do estado deve atender 
prioritariamente aos superiores interesses dos menores, nos termos do 
art. 100 , inc. ii e iv, do ECA , de modo que, caso o retorno dos menores ao 
convívio materno se mostre a medida que melhor atenda aos seus 
interesses, não há motivos para que se obste tal retorno, com a restituição 
do poder familiar pela genitora, mormente porque os menores não foram 
encaminhados à adoção. 3. trata-se, no caso, de uma relação jurídica 
continuativa, sujeita, portanto, à ação do tempo sobre seus integrantes (tal 
qual ocorre com as relações jurídicas que envolvem o direito a alimentos). 
logo, a coisa julgada, formal e material, que antes se tenha produzido, fica 
preservada desde que as condições objetivas permaneçam as mesmas 
(cláusula rebus sic stantibus). no entanto, modificadas estas, outra poderá 
ser a decisão, sem que haja ofensa à coisa julgada. DERAM PROVIMENTO. 
UNÂNIME. 43
43 TJ/RS. A pelação cível nº 70058335076, oitava câmara cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: 
Luiz Felipe Brasil Santos, julgado em 22/05/2014 
30 
 
Esse direito pode ser pleiteado por qualquer parente ou pelo Ministério Público, 
cabendo ao juiz adotar as medidas que melhor atenda a segurança do menor e de 
seus bens. Cumpre esclarecer que na perda do poder familiar o vínculo biológico 
permanece, o que é retirado é apenas o dever que o pai ou a mãe tem de gerir a 
vida do filho. O direito de requerer e o dever de pagar alimentos são mantidos. A 
única forma de romper o vínculo biológico é por meio da adoção, ou colocação do 
menor em família substituta. 
Além dos posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais é oportuno consignar 
que ainda tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 2.285/2007, da autoria 
do Deputado Federal Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), que dispõe sobre o Estatuto 
das Famílias, cujo artigo 95 dispõe: “È possível, no melhor interesse do filho, o 
restabelecimento da autoridade parental por meio de decisão judicial”. 
Por fim, há uma tese institucional aprovada, o da “primazia da família natural”, 
defendida pela defensoria pública de São Paulo: 
Diante do princípio da primazia da família natural, é possível a reconstituição 
do poder familiar, por meio de ação própria, desde que os pais passem a 
viabilizar melhores condições aos filhos, mesmo após o trânsito em julgado 
ou após o prazo para ação rescisória da decisão que os destituíram do poder 
familiar, salvo se já consolidado o regular processo de adoção a terceiros. 44
 
Por tanto, desde que a prole não fosse adotada, e que a nova decisão seja de 
melhor proveito a criança, há possibilidade da restituição do poder familiar: 
 
 
 
 
 
 
 
44 DEFENSORIA PÚBLICA,SP. Teses institucionais , disponível em 
http://www.conjur.com.br/2010-dez-08/defensores-publicos-paulistas-aprovam-15-novas-teses-instituci
onais , acesso em 01 out. 2017. 
31 
 
3 DA ALIENAÇÃO PARENTAL 
 
3.1 O surgimento da síndrome da Alienação Parental 
 
A Síndrome de Alienação Parental surgiu em 1987 na América do Norte e se 
disseminou para outros continentes. Foi através do psiquiatra norte-americano 
Richard A. Gardner , chefe do departamento de Psiquiatria Infantil da faculdade de 45
medicina e cirurgia da Universidade de Columbia, Nova York, Estados Unidos da 
América, sendo ele o primeiro a conceituar a Alienação Parental. 46
Mais tarde passou a ser difundida na europa por F. Podevyn em 2001, 
despertando um interesse na área de psicologia e do direito, por tratar-se de um 
problema que afeta as duas áreas e a psicologia jurídica se une para um melhor 
entendimento dos fenômenos emocionais que acontecem com os atores 
processuais, que no caso, seriam os envolvidos no divórcio ou separação, os filhos. 
A partir das ideias de Podevyn, entende-se a Síndrome de Alienação Parental como 
um processo que consiste em programar uma criança para que odeie o outro genitor, 
sem justificativa, fazendo uma espécie de campanha para a desmoralização do 
mesmo. 47
Gardner, em uma de suas obras, falou ainda sobre mulheres vingativas que 
acusam falsamente os pais de seus filhos de abuso sexual para ganhar disputas de 
custódia da criança. Na época foi algo um tanto quanto novo a se discutir. Além 
dessa questão, Gardner (1988) também falou a respeito da abordagem terapêutica 
para trabalharcom uma família em que uma criança foi molestada por um dos 
genitores. A visão do psiquiatra Gardner contribui até hoje nas questões judiciais 
45 Gardner foi professor do Colégio de Médicos e Cirurgiões da Universidade de Columbia. É autor de 
mais de 250 livros e artigos, dirigidos aos profissionais da saúde mental, profissionais da área jurídica 
e também pais divorciados que têm filhos. Teria desenvolvido inúmeras teorias e instrumentos sobre o 
bem-estar da criança, que seria usada nos tribunais do mundo todo até hoje. Além disso, foi 
certificado a participar como testemunha em mais de 300 (trezentos) casos envolvendo crianças em 
mais de 24 estados dos Estados Unidos e tipicamente era convidado a dar pareceres em casos de 
abuso sexual infantil. Teve destaque e uma extensa carreira avaliando crianças, tendo sido descrito 
pelos jornais como “guru” das avaliações de custódia de menores. 
46 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação Parental, comentários à Lei 12. 318/2010 , Rio de Janeiro, 
editora Forense, 2014, p. 21. 
47 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores de direito , Porto Alegre, 
Livraria do Advogado Editora, 2004, p.160. 
32 
 
envolvendo os pais e os filhos, pois ao definir a Alienação Parental, teve uma visão 
futura do que acontece nos dias atuais. 48
 
3.2 Definição de Síndrome da Alienação Parental 
 
Alienação Parental como uma síndrome, foi obra de Richard Gardner, ainda 
no ano 1985: 
A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que 
aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de 
crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um 
dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha 
nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor 
(o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições 
da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a 
negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança 
pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental 
para a hostilidade da criança não é aplicável. 49
 
Gardner descreve que a criança alienada geralmente faz parte de um 
ambiente de muito conflito, quase sempre advindo de um processo de rompimento 
conjugal mal resolvido. 
Por outro lado, “Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, um dos 
cônjuges não consegue elaborar adequadamente o luto da separação e o 
sentimento de rejeição, de traição, faz surgir um desejo de vingança.” 50
 
A Síndrome de Alienação Parental é um transtorno psicológico que se 
caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor, 
denominado cônjuge alienador, transforma a consciência de seus filhos, 
mediante diferentes formas e estratégias de atuação, com o objetivo de 
impedir, obstaculizar ou destruir 
seus vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que 
existam motivos reais que justifiquem essa condição. Em outras 
palavras, consiste num processo de programar uma criança para que 
odeie um de seus genitores sem justificativas, de modo que a própria 
criança ingressa na trajetória de desmoralização desse mesmo genitor. 51
 
48 Gardner, R. A. (1985a), Recent trends in divorce and custody litigation. The Academy Forum, 
29(2):3-7. Disponível no site <http://www.alienaçãoparental.com.br, acesso em 22 out. 2017 
49 RABELO, César Leandro de Almeida. A Alienação Parental . Disponível em: 
<http://jus.com.br/artigos/19223/a-alienacao-parental>. Acesso em: 24 ago. 2017. 
50 DIAS, Maria Berenice. Falsas Memórias . 2010, disponível em: 
<http://www.mariaberenice.com.br/uploads/2_-_falsas_mem%F3rias.pdf>. Acesso em: 15 out. 
2017 
51 DIAS, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parenta l 2 edição, IBDFAM, Editora Revista dos 
Tribunais, 2007, p. 102. 
33 
 
 
Seria o mesmo que dizer, que a alienadora (a) “educa” os filhos no ódio contra 
o outro genitor (a), seu pai ou sua mãe, até conseguir que eles, de modo próprio, 
levem a cabo esse rechaço. Como diz umas das frases populares de Joseph 
Goebbels “uma mentira muitas vezes contada, se torna uma meia verdade” 52
As estratégias de alienação parental são múltiplas e tão variadas quanto 
à mente humana pode conceber, mas a síndrome possui um denominador comum 
que se organiza em torno de avaliações prejudiciais, negativas, 
desqualificadoras e injuriosas em relação ao outro genitor, interferências na 
relação com os filhos e, notadamente, obstaculização do direito de visitas do 
alienado. Este amplo quadro de desconstrução da imagem do outro pode 
incluir, por exemplo, falsas denúncias de abuso sexual ou de maus tratos, 
invocados para impedir o contato dos filhos com o genitor odiado, 
programando o filho de forma contundente até que ele mesmo passe a 
acreditar que o fato narrado realmente aconteceu. 53
Para Cristiano Vieira Sobral Pinto, alienação parental, são manobras para 
promover a destruição de um dos pais. Uma postura que põe em risco a saúde 
emocional do filho. Com a ruptura da vida conjugal, às vezes um dos cônjuges sai 
magoado e sem superar o acontecimento. Esse, que não consegue superar o fato da 
separação, caso esteja com a prole, fará de tudo para destruir a relação que essa 
possua com o outro genitor. Trata-se da programação de uma criança para que 
odeie o genitor sem qualquer justificativa; o filho é utilizado como instrumento da 
agressividade direcionada ao parceiro. 54
 
3.3 As Consequências da Síndrome da Alienação Parental  
Abordamos aqui, conforme estudos de pesquisas, as consequências da 
Síndrome de Alienação Parental provocando efeitos tanto em relação ao cônjuge 
52 GOEBBELS, Joseph. Site de frases, disponível em: https://kdfrases.com/frase/128146 , acesso 12 
0ut.2017 
53 THAIQUIRINO, Quirino, Síndrome da Alienação Parental , disponível em 
https://thaiquirino.jusbrasil.com.br/artigos/333802511/síndrome-da-alienacao-parental , acesso 12 ou. 
2017 
54 PINTO, Cristiano Vieira Sobral, Direito Civil Sistematizado , Edição Revista e Atualizada, Editora 
Método, 2014, p. 1056 
34 
 
alienado como para o próprio alienador; porém, as consequências mais dramáticas 
recaem sobre os filhos. Sem tratamento adequado, ela pode produzir sequelas que 
são capazes de perdurar para o resto da vida, pois implica comportamentos 
abusivos contra a pessoa. Tanto a criança, como o genitor (a) são as vítimas, pois 
instaura vínculos patológicos promovendo vivências contraditórias da relação 
entre pai e mãe e cria imagens distorcidas das figuras paternas e maternas, gerando 
um olhar destruidor e maligno sobre asrelações amorosas em geral. 
A consequência mais evidente é a quebra da relação com um dos genitores. 
As Crianças crescem com sentimento de ausência, vazio, e ainda perdem 
todas as interações de aprendizagem, de apoio e modelo. 55
 
Os efeitos nos filhos podem variar de acordo com a idade da criança, com as 
características de sua personalidade, com o tipo de vínculo anteriormente 
estabelecido, e com sua capacidade de resiliência (da criança e do cônjuge 
alienado), além de inúmeros outros fatores, alguns mais explícitos, outros mais 
recônditos. Porém, numa sociedade que aceita as patologias do corpo, mas 
não os problemas da existência, á única via possível de expressar os conflitos 
emocionais se dá em termos de enfermidade somática e comportamental. 
Esses conflitos podem aparecer na criança sob forma de ansiedade, medo e 
insegurança, isolamento, tristeza e depressão, comportamento hostil, falta de 
organização, dificuldades escolares, baixa tolerância á frustração, irritabilidade, 
enurese, transtorno de identidade ou de imagem, sentimento de desespero, 
culpa, dupla personalidade, inclinação ao álcool e as drogas, e, em casos mais 
extremos, ideias ou comportamentos suicidas. Senão vejamos o que escreve 
Denise Perissini da Silva: 
Muitos filhos ao perceberem que tudo o que vivenciaram foi por interesse 
do alienador, podem manifestar, até mesmo judicialmente, declarando 
que querem ir morar com o pai/mãe (alienado excluído), para tentar 
retomar o vínculo que havia sido destruído. 56
 
55 MADALENO, Ana Carolina Carpes. Síndrome da alienação parental , importância da detecção 
aspectos legais e processuais, Editora Forense, 2013, p. 53 
56 PERISSINI, Denise Maria da Silva. Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental , O 
que é isso?- Campinas, SP: Armazém do Ipê,2009) 
35 
 
Ocorre que pode ser tarde demais e ambos são prejudicados, pois perderem 
o elo de afetividade, não tão fácil de ser recuperado. 
As diferenças entre síndrome e alienação parental, conforme já citado, 
Richard A. Gardner foi o primeiro a conceituar a alienação parental. Nesse sentido o 
autor faz uma interessante observação: 
 
Alguns que preferem usar o termo A lienação Parental (AP) alegam que a 
SAP não é realmente uma síndrome. Essa posição é especialmente vista 
nos tribunais de justiça, no contexto de disputas de custódia de crianças. 
Uma síndrome, pela definição médica, é um conjunto de sintomas que 
ocorrem juntos, e que caracterizam uma doença específica. Embora 
aparentemente os sintomas sejam desconectados entre si, justifica-se que 
sejam agrupados por causa de uma etiologia comum ou causa subjacente 
básica. Além disso, há uma consistência no que diz respeito a tal conjunto 
naquela, em que a maioria (se não todos) os sintomas aparecem juntos. O 
termo síndrome é mais específico do que o termo relacionado a doença . 
Uma doença é geralmente um termo mais geral, porque podem haver 
muitas causas para uma doença particular. Por exemplo, a pneumonia é 
uma doença, mas há muitos tipos de pneumonia- p.ex., pneumonia 
pneumocócica e broncopneumonia - cada uma delas tem sintomas mais 
específicos, e cada qual poderia razoavelmente ser considerado uma 
síndrome (embora não haja o costume de se utilizar comumente esse 
termo). [...]Como é verdadeiro em outras síndromes, há na SAP uma causa 
subjacente específica: a programação por um genitor alienante, 
conjuntamente com contribuições adicionais da criança programada. É por 
essas razões que a SAP é certamente uma síndrome, e é uma síndrome 
pela melhor definição médica do termo. 57
 
Conforme cita Aldrighi , esta suposta “síndrome” não consta do IV Manual 58
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), ou seja, os psicólogos do 
Judiciário são solicitados a avaliar a existência ou não de uma doença que sequer 
está classificada até hoje, já sendo motivo de controvérsias por si só. Ou seja, a 
alienação parental não é considerada uma patologia (não está registrada como 
enfermidade mental da Organização Mundial da Saúde). Sendo assim, para efeitos 
de entendimento, o que resta claro é: a alienação parental é o ato de um dos 
genitores para com a criança, enquanto a Síndrome em si são os efeitos do ato de 
alienar. 
 
Gardner enumerou alguns sintomas de uma criança que já sofre da SAP: 
57 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação 
Parental (SAP) , 2002, p. 02. 
58 ALDRIGHI, Tânia. Alienação Parental: As dificuldades em torno da lei.São Paulo. Acesso: 01 
out. 2017, disponível em 
<http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/168/frames/fr_legislacao.aspx > 
36 
 
 
1) Uma campanha denegritória contra o genitor alienado. 
2) Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação. 
3) Falta de ambivalência. 
4) O fenômeno do “pensador independente”. 
5) Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental. 
i. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou 
a exploração contra o genitor alienado. 
6) A presença de encenações ‘encomendadas’. 
7) Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa 
do genitor alienado. 59
 
Nesse contexto, Gardner assevera ainda que existem alguns estágios da 
Síndrome da Alienação Parental. No estágio leve, assevera que nem todos os 
sintomas acima são visíveis. No caso do estágio moderado, é mais provável que 
estejam todos os sintomas, ou pelo menos a maioria presentes. 
 
É preciso observar quando uma criança está exposta a situações de conflitos 
familiares, pois podem resultar na Alienação Parental, e, dependendo do “estágio” da 
Síndrome, fica mais difícil de reverter seus efeitos. Nesse sentido, Priscila Maria 
Pereira Corrêa da Fonseca ensina que a síndrome de alienação parental não se 
confunde, portanto, com a mera alienação parental. Aquela geralmente é decorrente 
desta, ou seja, a alienação parental é o afastamento do filho de um dos genitores, 
provocado pelo outro, via de regra, o titular da custódia. A síndrome, por seu turno, 
diz respeito às sequelas emocionais e comportamentais de que vem a padecer a 
criança vítima daquele alijamento. Assim, enquanto a síndrome refere-se à conduta 
do filho que se recusa terminante e obstinadamente a ter contato com um dos 
progenitores e que já sofre as mazelas oriundas daquele rompimento, a alienação 
parental relaciona-se com o processo desencadeado pelo progenitor que intenta 
arredar o outro genitor da vida do filho. 60
 
 
 
 
59 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação 
Parental (SAP) , 2002, p. 03. 
60 FONSECA, Priscila Maria Pereira Corrêa da. Síndrome de alienação parental . Pediatria, São 
Paulo, v. 28(3), 2006, p. 54.

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