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Nome: Lucas Felipe Moreira Turma: DIR1SA Data: 20/11/2017 MATERIA: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE DIREITO Professor: RODRIGO DOS SANTOS AZVEDO Síntese: À aplicação da lei n.º 11340/06 (agressão contra mulher), não foi aplicada da sua devida forma por causa da interpretação restritiva aplica pelo Juiz. A “vitima” e o “agressor” são cunhados, tendo vínculo de parentesco por afinidade de 2.º grau. Pelo fato de terem vínculo de parentesco a lei n º 11340/06 foi substituída pela Lei n.º 11.340/2006 qual reduz a pena de agressão sendo considerado conflito familiar. Não foi considerada a tentativa de agressão física do “agressor”. Houve uma discussão acalorada nas quais ambos acabaram extrapolando raiva e na tentativa de se defender acabaram pegando objetos e até uma arma de fogo. Processo: 1728638-7 Relator: Miguel Kfouri Neto Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal em Composição Integral Data de Publicação: 22/09/2017 00:00:00 Íntegra: CONFLITO DE COMPETÊNCIA CRIME N.º 1728638-7, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER Suscitante: JUIZO DE DIREITO DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Suscitado: JUÍZO DE DIREITO DO QUARTO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Interessados: ANTONIO JOSÉ MARQUES E OUTRO Relator: DES. MIGUEL KFOURI NETO Trata-se de conflito negativo de competência suscitado em termo circunstanciado elaborado para apurar a prática de crimes de ameaça, lesão corporal e injúria praticados, em tese, por ANTONIO JOSÉ MARQUES contra sua cunhada EDINEIA SLOMPO (autos n.º 0020163-02.2012.8.16.0182). Distribuído o feito inicialmente para o 4.º Juizado Especial Criminal de Curitiba, o MM. Juiz de Direito, acolhendo a sugestão do Ministério Público (mov. 33.1, Projudi), declinou a competência para processamento do feito ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar, do mesmo Foro Central, ao argumento de que os fatos narrados "com o advento da lei n.º 11340/06 passaram à competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos termos do previsto nos arts. 5.º e 7.º dessa lei" (mov. 36.1). Por sua vez, a MM.ª Juíza de Direito do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher suscitou o presente conflito negativo de competência (mov. 95.1), ao entendimento de que apesar da existência de vínculo de parentesco por afinidade de 2.º grau (cunhados) entre as partes, "não há relação de subordinação ou de dependência que evidencie a subjugação feminina", não atraindo, o caso, a incidência da Lei Especial (Lei n.º 20/11/2017 Jurisprudência - TJPR http://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/publico/imprimirPesquisado?tjpr.url.crypto=8a6c53f8698c7ff7be4b80f414624b3f33113488aa693b6bf8d4ed6… 2/4 11.340/2006). A douta Procuradoria Geral de Justiça, em parecer de fls. 10/14, subscrito pelo Procurador de Justiça, Dr. Milton Riquelme de Macedo, opinou pela improcedência do conflito, fixando-se a competência do Juízo Suscitante. É a síntese do essencial. II. Assiste razão ao Juízo suscitante. Os autos retratam a ocorrência, em tese, dos crimes de ameaça, lesão corporal e injúria, cometidos por ANTONIO JOSÉ MARQUES contra EDINEIA SLOMPO, sua cunhada. De acordo com o contido no Boletim de Ocorrência (mov. 5.1), a vítima relata que na manhã do dia 26.06.2017, depois de uma discussão, foi agredida por seu cunhado ANTONIO JOSÉ MARQUES com um pedaço de pau. Em seguida, foi ameaçada por ele com uma arma de fogo. Durante a ameaça, a noticiante diz que tentou pegar a arma do agressor e ocorreu um disparo, até que um vizinho conseguiu retirar a arma de ambos, entregando-a mais tarde para a equipe policial. ANTONIO JOSÉ MARQUES, por sua vez, relata que estava limpando urina defronte a sua mercearia quando sua cunhada EDINEIA SLOMPO passou pelo local. Ele teria questionado à EDINEIA se havia necessidade de terem urinado em sua porta, quando ela passou a xingá-lo de vagabundo, invadiu a mercearia, pegou uma vassoura e foi para cima dele para agredi-lo. Para se defender, ANTONIO JOSÉ diz que pegou um cabo de martelo, e ambos passaram a segurar o cabo de madeira até que chegou o filho de EDINEIA que cessou com a contenda. Em seguida, EDINEIA viu a arma de fogo que o cunhado possuía para se defender, pegou-a e levou embora escondida debaixo do casaco. Ele foi atrás, grudou na mão dela para retirar a arma, quando houve o disparo (mov. 5.1). Pelo que foi exposto, infere-se que o desentendimento ocorreu depois de uma discussão acalorada entre cunhados, com direito à xingamentos e uso de pedaços de pau. Até uma arma de fogo teria aparecido durante a confusão, que ensejou um disparo em sua disputa, e que felizmente não acertou ninguém. Assim, verifica-se que apesar de as supostas agressão e ameaça terem sido perpetradas contra pessoa do sexo feminino, e tenha ocorrido entre cunhados, não se verifica a hipótese de incidência da Lei Especial. Pois, para aplicação da Lei Maria da Penha, além da presença de uma relação íntima de afeto e motivação de gênero, é necessária a situação de hipossuficiência ou vulnerabilidade da ofendida perante seu agressor - o que não se faz presente. 20/11/2017 Jurisprudência - TJPR http://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/publico/imprimirPesquisa.do?tjpr.url.crypto=8a6c53f8698c7ff7be4b80f414624b3f33113488aa693b6bf8d4ed6… 3/4 In casu, a violência não se deu com base na condição de mulher e sim por um desentendimento entre parentes. Logo, a lesão corporal e ameaça retratadas - longe de guardar relação com motivação de gênero ou vulnerabilidade da ofendida perante seu agressor - decorreram de mero conflito familiar. Por isso, absolutamente incompetente o Juízo do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Curitiba. A propósito, assim já decidiu a 1.ª Câmara Criminal: "CONFLITO DE COMPETÊNCIA CRIME. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO PARA INVESTIGAR CRIME DE LESÃO CORPORAL. AUTOS QUE RETRATAM VIOLÊNCIA FÍSICA PRATICADA POR NORA EM FACE DE SOGRA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS CUMULATIVOS PARA A INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA (LEI Nº 11.340/2006). VIOLÊNCIA DECORRENTE DE DESAVENÇAS ENTRE AS PARTES, NÃO ATRELADAS AO GÊNERO, TAMPOUCO À SITUAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA OU VULNERABILIDADE DA OFENDIDA PERANTE A NORA. CONFLITO JULGADO PROCEDENTE PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO SUSCITADO, DO 2ª JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DO FORO CENTRAL DE MARINGÁ." (TJPR - 1.ª C. Crim. em Composição Integral - CC 1362430-1 - Rel. Des. Miguel Kfouri Neto - j. em 30/4/2015). "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - AMEAÇA E AGRESSÃO PRATICADA CONTRA IRMÃ - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS CUMULATIVOS PARA A INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA (LEI N.º 11.340/2006) - OCORRÊNCIA NÃO ATRELADA AO GÊNERO, TAMPOUCO À SITUAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA OU VULNERABILIDADE DA OFENDIDA PERANTE A IRMÃ - CONFLITO JULGADO PROCEDENTE PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO SUSCITADO." (TJPR - 1ª C.Criminal em Composição Integral - CC - 1494992-5 - Curitiba - Rel.: Antonio Loyola Vieira - Unânime - - J. 19.05.2016) "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AMEAÇA PRATICADA POR IRMÃO CONTRA IRMÃ - AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DE GÊNERO OU SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE - INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 11.340/06. DELITO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE - JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DO FORO REGIONAL DE COLOMBO DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. CONFLITO JULGADO IMPROCEDENTE" (TJPR - 1ª C.Criminal em Composição Integral - CC - 1519687-7 - Colombo - Rel.: Macedo Pacheco - Unânime - - J. 19.05.2016) No mesmo sentido, julgado do Superior Tribunal de Justiça: "(...) 2. AMEAÇA. SOGRA E NORA. 3. COMPETÊNCIA. INAPLICABILIDADE. LEI MARIA DA PENHA. ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA.VIOLÊNCIA DE GÊNERO. RELAÇÃO DE INTIMIDADE AFETIVA. 4. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL (...) 2. A incidência da Lei 20/11/2017 Jurisprudência - TJPR http://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/publico/imprimirPesquisa.do?tjpr.url.crypto=8a6c53f8698c7ff7be4b80f414624b3f33113488aa693b6bf8d4ed6… 4/4 n.º 11.340/2006 reclama situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. Precedentes. 3. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos para a incidência da Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a situação de vulnerabilidade. (...)" (STJ - 5.ª T. - HC 175.816/RS - Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze - j. em 20/6/2013). Desse modo, o presente conflito de competência deve ser julgado procedente para declarar competente o Juízo suscitado do 4.º Juizado Especial Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Diante do exposto, com fundamento no art. 200, XXIII do Regimento Interno do Tribunal, julgo procedente o presente conflito negativo de competência para declarar competente o Juízo suscitado do 4.º Juizado Especial Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, a quem os autos devem ser remetidos. III. Dê-se ciência da presente decisão ao Ministério Público. Curitiba, 18 de setembro de 2017. MIGUEL KFOURI NETO, Relator
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