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O SURGIMENTO DO SISTEMA DE FÁBRICA

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O SURGIMENTO DO SISTEMA DE FÁBRICA
Milton Athayde
Com este texto visamos apreender o processo de gestação do "sistema de fábrica", através da passagem do artesanato para a manufatura, da sociedade feudal para a capitalista. Vamos dar ênfase ao modo de pensar e agir que, seguindo determinadas regras, dá suporte a este processo.
1.	Antes das fábricas
A organização de tipo artesanal nos mostra trabalhadores manuais (mestres, companheiros, aprendizes) que utilizam seu potencial intelectual e cujo destino se encontrava em grande parte em suas próprias mãos. Trabalham a matéria prima com seus próprios instrumentos, com seus próprios conhecimentos técnicos (seu "saber- fazer", seu ofício), criativamente. Produzem para o consumo, mas não como seus escravos. Tão pouco estabelecem entre si relações do tipo patrão-empregado, embora as "Corporações de ofício" funcionassem com regras autoritárias.
Enquanto isto, os futuros patrões acumulam riqueza (e poder) no circuito da circulação de mercadorias - no MERCADO. São comerciantes que, na luta contra a aristocracia, os grandes senhores das terras e os trabalhadores artesãos, vão se constituindo em classe proprietária, dominante, com o estabelecimento da sociedade capitalista.
Com o desenvolvimento da sociedade feudal, a agricultura gera excedente, fornecendo matérias primas-básicas para a produção artesanal, permitindo a intensificação do comércio. A constituição do mercado faz emergir a figura do comerciante como elemento indispensável, passo a passo:
- Um 1o momento decisivo é aquele em que ele se interpõe ente o mercado e o
artesão, com o monopólio da comercialização dos produtos. 
- Um 2o momento: que ocorre, por exemplo, na produção têxtil e de cerâmica, os negociantes criam a produção por encomenda a domicílio (o "putting-out-system"), interferindo de forma mais efetiva, pois também veda o acesso às matérias-primas, além de pretender definir a quantidade de produtos. Ficavam, então, em melhor situação para definir o valor do produto.
Mas este processo gradativo de dominação apresente problemas, encontra resistências. Neste 2o momento, a dispersão dos domicílios deixa o sistema frouxo, surgindo o desvio de parte da produção, a falsificação na utilização da matéria-prima recebida (utilizando outra, inferior à recebida), enfim, vários tipos de sabotagem.
2.	O sistema de fábrica: manufatura
Com as grandes descobertas (América, etc.) e outros fatores históricos, verificou- se nova e ampla expansão do mercado, tornando urgente uma produção social e formas de controle mais efetivas. Esta nova realidade faz emergir para os negociantes uma nova atitude, de acordo com seus interesses. O ponto crucial é que tal visão de mundo logo em seguida é imposta sutilmente à sociedade, como se fosse natural, universal. Vejamos os principais elementos:
2.1 O "relógio moral" - neste momento de expansão do mercado produz-se a noção de utilidade do tempo. A imagem do tempo como moeda no mercado de trabalho vai-se fazendo presente. Afina, há que estar como o novo tempo de expansão comercial, acompanhando este tempo, sabendo a hora precisa de um bom negócio
2.2 O "trabalho edificante" - o significado da palavra trabalho até a época moderna sempre foi sinônimo de penalização e pobreza. A partir deste momento, em acordo com a idéia de "tempo útil", a autodisciplina para o mercador afirma um caráter novo, positivo para o trabalho - exigências imperiosas para o comerciante que se envolve no mercado em expansão.
Estes elementos ("relógio moral" - "trabalho edificante") compõem uma visão de mundo que reflete os interesses desta classe de negociantes frente ao novo momento histórico. Ocorre então um deslocamento e estas idéias e valores vão ter como destinatário o conjunto da sociedade. O discurso moralizante acerca do tempo (que pretende fazer digna a idéia de trabalho) "cai como uma luva" para os interesses dos negociantes, e vai-se tornando dominante: trabalhadores produzindo mais, sob controle, lucro.
Mas por quê os trabalhadores foram reunidos, a partir de determinado momento num mesmo local de trabalho, constituindo aquilo que ficou conhecido como "sistema de fábrica"? Pode-se identificar pelo menos 4 razões importantes:
1-	os comerciantes precisavam controlar e comercializar toda a produção artesanal (reduzindo as práticas de desvio);
2-	era do interesse dos comerciantes a maximização da produção através: a) do aumento do n° de horas de trabalho; b) do aumento da velocidade e do ritmo de trabalho;
3-	controle da inovação tecnológica para que ela só pudesse ser aplicada no sentido da acumulação de capital;
4-	A manufatura (e a indústria) vai criando uma organização do trabalho que torna indispensável a figura do capitalista.
UM RÁPIDO QUADRO-RESUMO
1o OBJ. TRAB - MEIOS TRAB - FORÇA TRAB. – PRODUTO – COMERCIANTE/CAPITALISTA;
2º OBJ. TRAB - MEIOS TRAB - FORÇA TRAB. – PRODUTO – COMERCIANTE/CAPITALISTA;
3º OBJ. TRAB - MEIOS TRAB - FORÇA TRAB FÍSICA – PRODUTO – COMERCIANTE/CAPITALISTA.
3. A Manufatura
A manufatura reúne uma quantidade cada vez maior de operários que trabalham ao mesmo tempo, em um mesmo lugar (os capitalistas são proprietários dos instrumentos - gradativamente - e do local de trabalho) e sob o comando do próprio capitalista. Não um comando técnico, mas um comando social, organizacional, político-social, um comando não integral.
As condições econômicas necessárias para assegurar esta forma produtiva estavam dadas:
•	Certa quantidade de dinheiro acumulada por um setor da população - os capitalistas
•	Presença de trabalhadores "disponíveis" (desapossados de todos os meios de produção) - a decomposição do feudalismo começa na agricultura e faz surgir o camponês sem terra, fácil presa do assalariamento na manufatura. A expansão do mercado traz um declínio nos preços pagos ao artesão, em benefício das manufaturas. Daí o artesão vende suas coisas e cai no assalariamento, nas tais manufaturas. Ora, só se trabalha desta forma para os outros quando não se tem mesmo escolha; e quando se está destituído dos meios de produção, que jeito?
3
A 1a forma que toma a manufatura é de Cooperação simples: como o artesão, o trabalhador realiza a mesma operação, só que em conjunto com um número cada vez maior de outros trabalhadores e sob vigilância do capitalista. Encontramos, ainda, nesta 1a forma uma unidade entre o trabalhador e os meios de trabalho.
2a. forma - os desejos de aumentar os lucros impulsionam a manufatura para formas de cooperação complexa, nascendo a divisão técnica do trabalho. Os trabalhadores vão se especializando em diferentes tarefas, de acordo com suas aptidões; as tarefas vão tendo um caráter cada vez mais parcial. Identificamos 2 aspectos fundamentais aí: Trabalho manual - que depende da força, habilidade, segurança e rapidez com que o operário maneja sua ferramenta.
Trabalho parcelar - cada operário se especializa em uma tarefa muito concreta e é a soma destas parcelas que constitui o trabalho global. Implica num aumento da produtividade, do rendimento: com o mesmo esforço, no mesmo tempo, produzem-se mais produtos, com efeitos negativos para o trabalhador - parcela o operário, levando a tal extremo que pode ocorrer deformações no seu corpo, para dar conta da atividade manual altamente "especializada".
Este processo de parcelarização cria a necessidade de uma direção, já não apenas vigilância, mas um esforço de harmonizar as diferentes atividades individuais, executando as funções gerais necessárias para operar o processo produtivo.
O capitalista é ao mesmo tempo o proprietário e o que controla (pessoalmente ou via um representante seu) o processo produtivo em seu conjunto. O trabalhador não tem a propriedade dos meios de produção, mas ainda controla o manejo dos meios com os quais opera. Ainda não existe, portanto, um domínio total dos elementos do processo de trabalho por parte do capitalista. O processo ainda depende da habilidade de operário. O saber-fazer é a grande arma com que contam os trabalhadores para sua resistência.São controlados quanto a número de horas da jornada de trabalho, mas a definição do ritmo ainda está em suas mãos. O capitalista muitas vezes acaba tendo que ceder ante a pressão dos trabalhadores para não perder um operário hábil, que conseguiu o domínio do saber do ofício e um alto rendimento, através da longa experiência acumulada.

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