Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Chagas – DEE/UFCG 1 Universidade Federal de Campina Grande Centro de Engenharia Elétrica e Informática Departamento de Engenharia Elétrica Distúrbios de Corrente em Redes Elétricas Notas de Aula Francisco das Chagas Fernandes Guerra Campina Grande - PB Chagas – DEE/UFCG 2 Capítulo I Introdução Os principais distúrbios relacionados à corrente elétrica nos sistemas de geração, transmissão, distribuição e consumo de energia são originados das seguintes ocorrências: ▪ desequilíbrios; ▪ sobrecargas; ▪ curtos-circuitos; ▪ surtos de energização (inrush). Os desequilíbrios e as sobrecargas são tratados neste capítulo. Os curtos-circuitos e os surtos de energização constituem tema de estudo de capítulos subsequentes. 1. Desequilíbrios Os desequilíbrios de corrente podem ser causados por desbalanceamento de tensão e/ou carga. Nos sistemas de distribuição, a instalação de ramais monofásicos e bifásicos produz desequilíbrio nos alimentadores trifásicos, o que pode ocasionar os problemas a seguir. ▪ Sobrecargas em equipamentos e condutores, inclusive no neutro, em face do aumento da corrente de neutro, In = 3I0. ▪ Atuação indevida de dispositivos de proteção, principalmente os relés de sobrecorrente de terra (51N), como é indicado na Fig. 1.1. Assim, há necessidade de alterações dos ajustes desses dispositivos em face do aumento da corrente de neutro, In = 3I0. Fig. 1.1. Ligação de TCs em estrela alimentando relés de sobrecorrente. Chagas – DEE/UFCG 3 ▪ Aumento das perdas técnicas de energia. Isto fica evidente ao se considerar um alimentador trifásico de 10 km de extensão, com cabos de alumínio #4/0 CAA, os quais apresentam uma resistência ôhmica igual a 0,3679 Ω/km. Por exemplo, caso sejam conduzidas as correntes Ia = 100 A, Ib = 150 A e Ic = 50 A, as perdas por efeito Joule aproximadas são: .13050150100679,3 222222 kW xIIIRP cba (1.1) Se as correntes fossem equilibradas, assumindo o valor de 100 A, as perdas seriam de aproximadamente 110 kW. O mesmo efeito é ainda mais evidente na redução das perdas de potência reativa, porque na maior parte dos condutores têm-se X > R. Os transformadores trifásicos apresentam um desequilíbrio intrínseco de corrente uma vez que a coluna central do núcleo tem comprimento inferior aos caminhos magnéticos laterais, como é mostrado na Fig. 1.2 (lb < la = lc). Essa assimetria faz com que as correntes de magnetização sejam diferentes. Entretanto, esse efeito é desprezível, pois a corrente de magnetização representa algo em torno de 2% da corrente nominal do transformador. Fig. 1.2. Núcleo de transformador trifásico com trajetória magnética central mais curta que as laterais. Os desequilíbrios de corrente nas fases dos motores de indução têm origem no desequilíbrio das tensões de alimentação, sendo a abertura de fases uma ocorrência comum. Os efeitos indesejáveis mais importantes são citados a seguir. ▪ Aumento de perdas internas, implicando em redução do rendimento. ▪ Produção de torque eletromagnético que age no sentido de frear o motor, implicando também em redução do rendimento. ▪ Elevação de temperatura de operação, o que constitui principal fator de redução de vida útil do motor. Uma elevação de temperatura de 10oC na temperatura de isolação de um motor reduz a sua vida útil pela metade. ▪ Redução do fator de potência. ▪ Alteração no tempo de partida no motor. Chagas – DEE/UFCG 4 Quando um gerador ou motor síncrono funciona com uma velocidade angular ω e fica submetido a um desequilíbrio de corrente nas fases, as componentes simétricas de sequência negativa produzem um campo magnético que gira com velocidade 2ω em sentido contrário ao do rotor. Assim, são induzidas correntes de 120 Hz nos enrolamentos do rotor e no ferro, ocasionando sobreaquecimento e vibração que podem acarretar em danos à máquina. Nesta condição, o tempo que o rotor pode suportar é dado por: KtI 22 (1.2) Nesta expressão, I2 é a componente se sequência negativa da corrente, t é o tempo máximo de duração do defeito e K é a constante que depende do tipo de máquina. Na proteção contra correntes desequilibradas em motores são usados relés de falta de fase. Em geradores, são usados relés de sobrecorrente com característica inversa, alimentados através de um filtro de sequência negativa, como é mostrado na Fig. 1.3. Fig. 1.3. Proteção contra correntes desequilibradas nos enrolamentos de armadura de um gerador. 2. Sobrecargas 2.1. Considerações Gerais As sobrecargas ocorrem quando o condutor ou equipamento é solicitado por correntes superiores à máxima corrente que ele é capaz de suportar em regime contínuo de funcionamento. As consequências são perdas por efeito Joule e acréscimos de temperatura nas partes ativas afetadas, o que podem causar redução da vida útil dos isolamentos ou danos imediatos, dependendo da intensidade e da duração da sobrecarga. As sobrecargas podem ocorrer sem riscos durante períodos limitados, dependendo das características térmicas dos materiais isolantes, da temperatura inicial e do tipo de refrigeração utilizado no equipamento. Chagas – DEE/UFCG 5 2.2. Cabos de Energia Nos cabos de energia nus (CAA ou ACSR) usados em linhas aéreas, as sobrecargas de elevada intensidade atuam de modo a alterar a condutibilidade do material, contribuindo para agravar os problemas de perdas dinâmicas, além de produzirem aumento da flecha no vão de linha devido à dilatação térmica decorrente do aumento de temperatura. Nos cabos isolados, os efeitos mais deletérios ocorrem no isolamento. Em nível de transmissão, o tipo de cabo tradicionalmente utilizado é o que apresenta o isolamento de papel impregnado em óleo. Em média e baixa tensão são usados os cabos com isolamento sólido de material extrudado (aplicado ao condutor por processo de extrusão). Os isolantes sólidos se dividem em duas famílias: termoplásticos (amolecem com o aumento da temperatura – PVC, PET) e termofixos (materiais vulcanizados que não amolecem com o aumento da temperatura – XLPE, EPR). Recentemente, observa-se crescente emprego dos isolamentos sólidos em linhas de transmissão. A Tabela 1.1 apresenta os limites de temperatura para esses materiais. Tabela 1.1. Limites de temperatura para isolamentos sólidos. ISOLANTE REGIME CONTÍNUO SOBRECARGA CURTO-CIRCUITO PVC 70°C 100°C 160°C PET 70°C 90°C 130°C XLPE e TR XLPE 90°C 130°C 250°C EPR e HEPR 90°C 130°C 250°C EPR 105 105°C 140°C 250°C 2.3. Transformadores No caso dos transformadores, o tempo de vida depende essencialmente do sistema de isolamento, constituído por óleo e papel, face à relativa facilidade de se fazer a substituição do óleo, que pode ocorrer várias vezes ao longo da vida útil de um transformador (o mesmo não se passa com o isolamento sólido). A operação em temperaturas mais baixas proporciona durabilidade e reduz os custos com manutenção. Mesmo transformadores que operam sem ultrapassar suas características nominais, apresentam maior vida útil quando são menos exigidos, estando a expectativa de vida útil diretamente condicionada aos fatores térmicos, como pode ser visto no gráfico da Fig. 1.4. Os transformadores de potência em geral, com capacidade superior a 2,5 MVA, são dotados de radiadores e ventiladoresacoplados ao seu tanque com a finalidade de refrigeração forçada Chagas – DEE/UFCG 6 do equipamento. Os ventiladores, normalmente ligados em estágios operam à medida que o transformador adquire uma temperatura pré-determinada nos seus enrolamentos. Os ventiladores são fixados ao lado externos dos radiadores, de forma a retirar a maior quantidade de calor contida no óleo circulante. A refrigeração é feita através da circulação do óleo no interior tanque do transformador, e da transferência de calor para o ar, ocorrida nos radiadores. Quando a circulação do óleo se estabelece naturalmente, por convecção, é dita natural. Quando bombas são utilizadas para induzir o movimento do óleo, dizemos que a circulação é forçada. A mesma nomenclatura se aplica ao ar externo, que pode movimentar-se de forma natural, ou ser forçado por ventiladores. Essas condições são indicadas por siglas, tais como ONAN (óleo natural, ar natural) ou ONAF (óleo natural, ar forçado). Os transformadores de grande porte possuem três estágios de ventilação, descritos a seguir. ▪ Ventilação natural. ▪ Ventilação forçada – Primeiro estágio, quando ocorre uma sobrecarga de 25%. ▪ Ventilação forçada – Segundo estágio, quando ocorre uma sobrecarga de 66,7%. Fig. 1.4. Expectativa de vida útil de um transformador em função da temperatura no ponto mais quente do enrolamento. Chagas – DEE/UFCG 7 Os sistemas de circulação de óleo e ventilação forçada são acionados por comando de um termômetro do óleo, termômetro do enrolamento com imagem térmica ou controladores microprocessados de temperatura. 2.4. Proteção contra Sobrecargas Os fusíveis e disjuntores termomagnéticos são usados na proteção contra sobrecargas em sistemas de baixa tensão. Nas redes de média e alta tensão, são empregados disjuntores comandados por relés de sobrecorrente. Chagas – DEE/UFCG 8 Capítulo II Curtos-Circuitos Os curtos-circuitos constituem os distúrbios mais importantes que ocorrem nas redes elétricas, em nível de geração, transmissão, distribuição e consumo. O estudo detalhado acerca do tema é matéria do curso de Análise de Sistemas Elétricos. Este capítulo se limita a fazer uma revisão sucinta do assunto, como é apresentado a seguir. 1. Considerações Gerais Os curtos-circuitos têm como causa fundamental o contato através de baixa impedância de duas ou mais fases entre si ou de uma ou mais fases para a terra. Os principais tipos de curtos- circuitos são os seguintes: fase-terra, fase-fase; fase-fase-terra e trifásico. As causas dos curtos-circuitos são as seguintes: ▪ Problemas mecânicos como a ação do vento, da neve, galhos de árvores, entre outros. ▪ Problemas elétricos, como descargas atmosféricas, surtos de chaveamento em manobras e sobretensões no sistema. ▪ Problemas na isolação, como mau dimensionamento e má qualidade do material isolante empregado nos equipamentos, nas estruturas ou nos isoladores, bem como envelhecimento do mesmo. ▪ Contaminação dos isoladores por umidade e poluentes, como partículas metálicas e de sal. ▪ Outros fatores, como vandalismo, queimadas, inundações, desmoronamentos e acidentes. Quanto à duração, os curtos-circuitos podem ser classificados em temporários e permanentes. Os curtos permanentes são irreversíveis, necessitando de conserto na rede para restabelecer o sistema. Os curtos-circuitos temporários são aqueles que após a atuação do sistema de proteção, a normalidade usualmente pode ser restabelecida sem problemas através do emprego de religamento automático. As correntes de curto-circuito apresentam formas de onda típicas semelhantes à mostrada na Fig. 2.1. Nela, observa-se uma componente alternada de 60 Hz superposta a uma componente contínua com decaimento exponencial. Chagas – DEE/UFCG 9 Fig. 2.1. Forma de onda típica de uma corrente de curto-circuito. A assimetria dessa onda aumenta com a relação X/R do sistema (reatância/resistência série). As consequências dos curtos-circuitos são citadas a seguir. ▪ Elevadas correntes e perdas ôhmicas nos condutores, com intensas solicitações térmicas e consequente risco de dano nas linhas e equipamentos, tanto por efeito Joule como por formação de arcos elétricos de alto poder destrutivo. ▪ Elevados esforços eletromecânicos nos equipamentos e linhas (lei de Laplace do eletromag- netismo), com intensidade máxima durante o primeiro pico de corrente assimétrica. ▪ Possibilidade de perda de estabilidade do sistema, se o defeito não for rapidamente eliminado, em face de oscilações eletromecânicas nas máquinas síncronas. ▪ Pronunciado atraso da corrente em relação à tensão fase-neutro correspondente, pois a corrente passa a ser limitada apenas pelas impedâncias dos elementos do sistema, as quais apresentam componentes fortemente indutivas. Em situação condições normais de funcionamento, com as cargas inseridas no sistema, o ângulo de defasagem entre as referidas grandezas é pequeno (as cargas têm fator de potência mínimo de 0,92). Assim, há uma predominância de potência circulando na linha. Em caso de curto-circuito, predomina o fluxo de potência reativa. Isso se torna mais acentuado em sistemas de geração e em linhas de transmissão de extra alta tensão, onde as relações X/R são mais elevadas. 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 Tempo ( s ) -40.00 -20.00 0.00 20.00 40.00 60.00 C o rr e n te ( k A ) Chagas – DEE/UFCG 10 Uma observação importante é que nem todas as correntes de falta apresentam todas essas características. No sistema elétrico brasileiro, há subestações que apresentam correntes de curto-circuito superiores a 30 vezes a corrente de serviço. Porém, em alguns sistemas de distribuição, pode haver defeitos com correntes de valores pequenos, até abaixo da corrente de carga (faltas de alta impedância). As causas principais desses defeitos são: contatos entre fases e galhos de árvores ou outros objetos; isoladores com problemas; condutores de fases partidos, criando-se um caminho para a terra através de superfície de alta resistividade, como pavimentação de constituída de rochas e outros materiais graníticos. O valor baixo da corrente pode não sensibilizar a proteção, não havendo desligamento da linha. Tal ocorrência proporciona elevadíssimo risco para pessoas e animais. Uma estatística relacionada à distribuição de curtos-circuitos por equipamento é mostrada a seguir: ▪ Linhas aéreas: 50% ▪ Cabos subterrâneos: 9% ▪ Transformadores e reatores: 10% ▪ Geradores: 7% ▪ Disjuntores: 12% ▪ Equipamentos de controle, TPs e TCs: 12% Nas linhas aéreas, têm-se os seguintes percentuais: ▪ Faltas monofásicas: 85% ▪ Faltas bifásicas: 8% ▪ Faltas bifásicas para a terra: 5% ▪ Faltas trifásicas: 2% 2. Curtos-Circuitos Trifásicos 2.1 Considerações Gerais Neste tópico são estudados os curtos-circuitos trifásicos nos quais são assumidas condições de equilíbrio entre fases (curtos-circuitos simétricos). Isso permite a utilização de circuitos monofásicos equivalentes, como o mostrado na Fig. 2.2. Este circuito representa um trecho de linha trifásica com uma fonte de tensão alternada no terminal receptor e uma carga no extremo receptor, no qual se supõe o fechamento da chave no instante t = 0, quando o valor instantâneo da corrente é i(0) = I0. Chagas – DEE/UFCG 11 Fig. 2.2. Circuito monofásico equivalente de alimentador com defeito trifásico simétrico junto à carga. Se v(t) = Vm sen(t + ), tem-se: )ω()( )( tsenVtiR dt tid L m(2.1) Esta equação diferencial tem a seguinte solução: tLRmm esen LR V Itsen LR V ti )/( 222 0 222 )θ()θ()( (2.2) RLtan /ωα 1 (2.3) Vê-se que a corrente resultante apresenta duas componentes: uma componente transitória, com decaimento exponencial, e uma componente senoidal de estado estacionário, como é mostrado na Fig. 2.3. Fig. 2.3. Forma de onda típica de corrente de curto-circuito em uma rede elétrica. No caso de um curto-circuito nos terminais de um gerador trifásico, o fenômeno físico é mais complexo, mas há semelhança no que diz respeito à presença da componente contínua. Na Fig. 2.4 é mostrado um oscilograma da corrente de curto-circuito trifásico nos terminais do Chagas – DEE/UFCG 12 enrolamento de armadura, no qual foi eliminada a componente contínua. É possível observar três regimes: o subtransitório, o transitório e o estacionário. Fig. 2.4. Forma de onda de corrente de curto-circuito trifásico em um gerador – Componente CC retirada. O circuito monofásico equivalente de um gerador é mostrado na Fig. 2.5, no qual a resistência dos enrolamentos é desprezada e o valor de pico da tensão interna é Em. Para os valores de corrente da Fig. 2.5, podem ser obtidos três valores de reatância de eixo direto: "/ mm " d IEX (2.4) '/ mm ' d IEX (2.5) mmd IEX / (2.6) Esses valores de reatância dependem do estado de saturação magnética da máquina, sendo fornecidos pelos fabricantes. Fig. 2.5. Circuito monofásico equivalente de um gerador trifásico. Chagas – DEE/UFCG 13 O valores utilizado para Xg podem ser Xd”, Xd’ ou Xd, dependendo de quanto tempo após a ocorrência do defeito se quer calcular a corrente. Para cálculo de curtos-circuitos destinados à avaliação de esforços eletromecânicos bem como estudos de proteção e ajuste de relés, a reatância subtransitória deve ser considerada nos geradores e motores. Em estudos de estabilidade de máquinas síncronas, são usados os valores de reatância transitória (NAGRATH & KOTHARI, 1980). 2.2. Potência de Curto-Circuito O teorema de Thévenin estabelece que um sistema elétrico de potência pode ser reduzido a uma associação equivalente composta por uma fonte de tensão em série com uma impedância. Assim, se o sistema for visto de um par de terminais a-b, a tensão da fonte é igual à tensão de circuito aberto UTH medida entre a e b; a impedância é a impedância equivalente ZTH medida entre a e b com as fontes de tensão em curto-circuito. A impedância equivalente será dada pela relação entre UTH e a corrente que circula entre os pontos quando existe um curto-circuito entre eles, ou seja: CC TH TH I U Z (2.7) A fim de promover a redução de um grande sistema elétrico a um equivalente de Thévenin, as companhias de eletricidade fornecem os valores das correntes de curto-circuito que podem ocorrer nos pontos de interligação dos sistemas. Mais usualmente, são fornecidas tabelas com as potências de curto-circuito trifásico, dadas por: CCNCC IUS 3 (2.8) A tensão UN é a tensão nominal da rede elétrica (fase-fase). Também pode ser escrito: CC N TH S U Z 2 (2.9) Para os valores base das grandezas, tem-se: B B B S U Z 2 (2.10) Supondo que a tensão base é igual à tensão nominal e dividindo membro a membro (2.9) por (2.10), tem-se em valores por unidade: CC B PU TH. S S Z (2.11) Chagas – DEE/UFCG 14 CC B PU TH. I I Z (2.12) 2.3. Especificações de Disjuntores Na especificação de disjuntores são considerados dois valores nominais de corrente: a corrente instantânea do disjuntor e a corrente de interrupção nominal. A corrente instantânea nominal é a corrente que o disjuntor deve ser capaz de suportar imediatamente após a ocorrência da falta. Essa corrente é calculada considerando as reatâncias subtransitórias dos geradores, motores síncronos e de indução. A fim de levar a componente contínua da onda de corrente, deve-se multiplicar a corrente simétrica obtida pelo fator 1,6 (NAGRATH & KOTHARI, 1980). A corrente de interrupção nominal, IIN, é a corrente que o disjuntor deve ser capaz de interromper no instante em que seus contatos se abrem. Na determinação da mesma, as reatâncias subtransitórias devem ser consideradas nos geradores. Nos motores síncronos e nos motores de indução são usadas as reatâncias transitórias. A componente contínua da onda de corrente é considerada multiplicando-se a corrente simétrica por um fator que varia de acordo com a velocidade de abertura do disjuntor, conforme o indicado na Tabela 2.1 (STEVENSON, 1974). Tabela 2.1. Fatores de multiplicação para dimensionamento de disjuntores VELOCIDADE DO DISJUNTOR (CICLOS) 8 5 3 2 FATOR DE MULTIPLICAÇÃO 1,0 1,1 1,2 1,4 Se a potência de curto-circuito no local do disjuntor, SCC, for maior ou igual a 500 MVA, os fatores de multiplicação acima devem ser acrescidos de 0,1 cada. O fator de multiplicação de disjuntores a ar usados em baixa tensão é 1,25. Entretanto, é mais usual e realístico expressar a capacidade de interrupção nominal dos disjuntores em termos de potência. Isto porque o processo de extinção do arco nas câmaras de interrupção é função não apenas da corrente, mas também da tensão pré-falta. Assim, tem-se a seguinte expressão: INNIN IUS 3 (2.13) Chagas – DEE/UFCG 15 Obviamente, a capacidade nominal de interrupção nominal de um disjuntor deve ser superior à potência de curto-circuito no ponto de instalação do mesmo. 2.4. Cálculo de Correntes de Falta Para ilustrar o processo de cálculo de correntes de falta, será considerado o sistema da Fig. 2.6, o qual consiste em um gerador que alimenta um motor através de uma linha, nos quais Xg”= j 0,2 , XM”= j 0,2 e XL= j 0,1 , respectivamente. É suposto que ocorre um curto circuito trifásico no ponto P, quando a tensão terminal é de 0,98 0o pu e a corrente de carga é 0,8840o pu. Fig. 2.6. Gerador alimentando um motor através de uma linha. As tensões internas dos geradores são: ooo 14835,04088,0)1,02,0(098,0)( xjXXj LL " GG IUET " pu ooo 04,7101,14088,02,0098,0 xjXj L " MM IUE T " pu As contribuições individuais de corrente para a falta são: o o 76783,2 )1,02,0( 14835,0 )( jXXj L " G G G " " EI pu o o 04,97505,5 2,0 04,7101,1 jXj "M M M " " EI pu A corrente na falta é: 16,8jMG "" F III pu O problema será agora resolvido pelo teorema de Thévenin, tomando-se o circuito equivalente visto do ponto P. A tensão e a impedância consideradas são: o098,0 THU pu Chagas – DEE/UFCG 16 12,0 2,03,0 2,03,0 j jj jxj THZ pu A corrente na falta é: 17,8 12,0 098,0 o j j TH TH F Z U I pu A discrepância entre os resultados obtidos deve-se a erros de arredondamento. Para calcular as correntes nas máquinas, procede-se da seguinte maneira: Gerador: 27,3 3,02,0 2,0 17,8, j jj j xjTHG I pu Motor: 90,4 3,02,0 3,0 17,8, j jj j xjTHM I pu Apesar da soma dessas duas parcelas totalizar a corrente de falta, esses não são os valores das contribuições das máquinas. Essas contribuições são calculadas somando-se esses dois últimos valores com a corrente de carga, IL. Assim, tem-se: oo 6,75694,261,267,04088,027,3 jjLTHG,G III " pu oo 9,96600,556,567,04088,090,4 jjLTHM,M III " pu Vale observar que, no caso do motor, a corrente de carga é somada com sinal negativo. O motivo de se somar a corrente de carga é explicado pela análise da Fig. 2.7. Em (a) tem-se o circuito que representa a situação em que a falta é aplicada. Pelo teorema da superposição, o mesmo é decomposto nos circuitos (b) e (c). O circuito (b) corresponde à situação pré-falta. O circuito (c) corresponde àquele utilizado para o cálculo das correntes IG,TH .e IM,TH. Chagas – DEE/UFCG 17 Fig. 2.7. Aplicação do teorema da superposição. 3. Teoria das Componentes Simétricas Em 1918 o Dr. C. L. Fortescue estabeleceu que um conjunto de n fasores desequilibrados pode ser substituído pela composição de fasores descrita a seguir. ▪ Componentes de sequência positiva: são três fasores iguais em módulo, defasados de 120o com a mesma sequência de fase dos originais. ▪ Componentes de sequência negativa: são três fasores iguais em módulo, defasados de 120o com a sequência de fase oposta aos originais. ▪ Componentes de sequência zero: três fasores iguais (de mesmo módulo e fase). A Fig. 2.8 ilustra a proposição do teorema de Fortescue. Fig. 2.8. Proposição do teorema de Fortescue. Diante do exposto, têm-se as seguintes relações: Chagas – DEE/UFCG 18 021 aaaa IIII (2.14) 021 bbbb IIII (2.15) 021 cccc IIII (2.16) Considerando o operador a = 1 120o, pode-se escrever: 021 aaaa IIII (2.17) 021 aaab IIaIaI 2 (2.18) 021 aaac IIaIaI 2 (2.19) Em termos matriciais, pode-se escrever: 2 1 0 2 2 1 1 111 a a a c b a I I I aa aa I I I (2.20) Reciprocamente, tem-se: c b a a a a I I I aa aa I I I 2 2 2 1 0 1 1 111 3 1 (2.21) De forma compacta, pode-se escrever (2.20) e (2.21) como: 012ITI abc (2.22) abcITI 1 012 (2.23) 2 2 1 1 111 aa aaT (2.24) aa aaT 2 21 1 1 111 3 1 (2.25) Nos circuitos trifásicos, a soma das correntes de linha é igual à corrente no caminho de retorno pelo neutro, In; assim: ncba IIII (2.26) De (2.21), tem-se: cbaa IIII 3 1 0 (2.27) Assim, resulta: Chagas – DEE/UFCG 19 03 an II (2.28) Num sistema trifásico em que não há retorno pelo neutro, In é nula e as correntes de linha não possuem componentes de sequência zero. Uma carga ligada em delta não tem retorno pelo neutro; assim, as correntes que alimentam essa carga também não possuem componentes de sequência zero. 4. Impedâncias de Sequência e Circuitos de Sequência 4.1. Considerações Gerais Em qualquer parte de um circuito elétrico, a queda de tensão causada por uma corrente de certa sequência depende da impedância daquela parte do circuito para a corrente de tal sequência. A impedância de um circuito, quando circula apenas a corrente de sequência positiva, é denominada impedância de sequência positiva. Essa correspondência também é válida para as sequências negativa e zero, resultando na impedância de sequência negativa e na impedância de sequência zero. No cálculo de faltas desequilibradas, serão considerados circuitos compostos por impedâncias de sequência dos diversos elementos do circuito, os quais são denominados circuitos de sequência. Os valores das impedâncias de sequência dependem da natureza dos elementos individuais. A forma de ligação dos circuitos de sequência depende do tipo de curto- circuito (trifásico, fase-terra, etc). A seguir, são descritas as formas de obtenção das impedâncias de sequência dos elementos de circuito individuais. 4.2. Máquinas Síncronas É mostrado na Fig. 2.9 um gerador síncrono em vazio, aterrado mediante uma impedância Zn. Quando ocorre uma falta (não indicada na figura) nos terminais do gerador, circulam nas linhas as correntes Ia, Ib e Ic. Se o defeito envolve a terra, circula uma corrente In no neutro. Chagas – DEE/UFCG 20 Fig. 2.9. Gerador síncrono em vazio, aterrado mediante uma impedância Zn. São mostrados na Fig. 2.10 os caminhos para a corrente de cada sequênciae os circuitos de sequência do gerador. Como ele funciona fornecendo tensões equilibradas, as forças eletromotrizes Ea, Eb e Ec só estão presentes no circuito de sequência positiva. Os circuitos de sequência negativa e zero não contêm forças eletromotrizes, mas incluem as componentes de sequência negativa e zero, respectivamente. É suposto que a resistência dos enrolamentos da máquina é desprezível. Para a impedância de sequência positiva, dependendo do regime considerado (subtransitório, transitório, permanente), tem-se, respectivamente: " 1 djXZ (2.29) ' 1 djXZ (2.30) djX1Z (2.31) Os parâmetros Xd”, Xd’, e Xd são, respectivamente, as reatâncias de eixo direto nos regimes subtransitório, transitório e permanente. Chagas – DEE/UFCG 21 Fig. 2.10. Caminhos para a corrente de cada sequência e os circuitos de sequência do gerador. Considerando a reatância subtransitória do eixo em quadratura, Xq”, a impedância de sequência negativa é usualmente definida como: 2 "" 2 qd XX j Z (2.32) A impedância total de sequência zero é dada por: ng ZZZ 300 (2.33) Chagas – DEE/UFCG 22 Considerando ainda os circuitos de sequência da Fig. 2.10, têm-se: 111 ZIEU aaa - (2.34) 222 ZIU aa - (2.35) 000 ZIU aa - (2.36) 4.3. Transformadores Nas redes elétricas pode-se ter três transformadores monofásicos ligados de modo a constituir um banco trifásico ou uma unidade trifásica do tipo núcleo envolvente ou núcleo envolvido. O segundo tipo é mais comum nas redes elétricas por apresentar menor custo, peso e volume, além de maior rendimento. As impedâncias em série de sequência positiva e negativa zero são iguais entre si, diferindo levemente das impedâncias de sequência zero. Porém, é comum se considerar todas as impedâncias de sequência iguais. As impedâncias de sequência zero de transformadores com diferentes tipos de ligação acham-se mostradas na Fig. 2.11. Ligação Y-Y, um neutro aterrado Neste caso não circula corrente de sequência zero em nenhum dos enrolamentos. Assim, obtém-se o circuito aberto no circuito de sequência. Ligação Y-Y, ambos os neutros aterrados: Existe um caminho de corrente de sequência zero em ambos os enrolamentos. Ambos os lados são ligados pela impedância de sequência zero. Ligação Y-, Y aterrado: As correntes de sequência zero têm um caminho para a terra pelo Y, pois correntes induzidas correspondentes podem circular no . A corrente de sequência zero circula dentro do mas não pode circular nas linhas ligadas ao . Logo, o circuito oferece um caminho a partir do lado em Y até a barra de referência, através da impedância em série do transformador. No lado em existe um circuito aberto entre a linha e a barra de referência. Chagas – DEE/UFCG 23 Fig. 2.11. Circuitos de sequência de transformadores. Ligação Y-, Y não aterrado: Neste caso, como não há ligação para a terra, as correntes de sequência zero não poderão circular nos enrolamentos do transformador. Assim, obtém-se o circuito aberto no circuito de sequência. Chagas – DEE/UFCG 24 Ligação -: Como a ligação em não oferece caminho de retorno para a corrente de sequência zero, só poderá haver circulação dessa corrente no interior do . Uma observação importante é que, nos casos em que há neutro aterrado através de impedância Zn, deve-se somar 3Zn à impedância Z0. 4.4. Linhas de Transmissão As três fases de uma linha de transmissão transposta apresentam o mesmo valor para as impedâncias em série. As impedâncias de sequência positiva e negativa da linha apresentam esse mesmo valor de impedância. No caso da impedância de sequência zero, deve-se observar que as correntes em cada fase são iguais em módulo e fase. Parte dessas correntes retorna pela terra, enquanto que a outra parte retorna pelos cabos para-raios. Assim, a impedância de sequência zero para linhas aéreas varia entre 2 e 3,5 vezes a impedância de sequência positiva. Se a linha é de circuito duplo ou se não possui cabo para-raios, essa impedância tende para o limite superior de 3,5. 5. Cálculo de Curto-Circuito por Componentes Simétricas 5.1. Circuitos Equivalentes de Sequência O cálculo dos curtos-circuitos é feito através dos circuitos equivalentes de Thévenin vistos do ponto de defeito, para as sequências positiva, negativa e zero, como é mostrado na Fig. 2.12. Fig. 2.12. Circuitos equivalentes de Thévenin para as sequências positiva, negativa e zero. E - Tensão de Thévenin de sequência positiva. Z1 - Impedância de Thévenin de sequência positiva. Z 2 - Impedância de Thévenin de sequência negativa. Z 0 - Impedância de Thévenin de sequência zero. Para estes circuitos, tem-se a seguinte equação matricial: Chagas – DEE/UFCG 25 2 1 0 2 1 0 2 1 0 00 00 00 0 0 a a a a a a I I I Z Z Z E U U U (2.37) Para o cálculo da corrente, esses circuitos são utilizados de diferentes formas, dependendo do tipo de defeito. Isto é descrito a seguir. 5.2. Defeito Trifásico A Fig. 2.13 ilustra um curto-circuito trifásico simétrico em uma linha de transmissão, sendo as resistências no ponto de defeito consideradas nulas. As condições de curto-circuito são: 0 cba UUU (2.38) Fig. 2.13. Curto-circuito trifásico simétrico em uma linha de transmissão. De maneira análoga a (2.21), tem-se: c b a a a a U U U aa aa U U U 2 2 2 1 0 1 1 111 3 1 (2.39) Assim, Ua0 = Ua1 = Ua2, ou seja, os circuitos de Thévenin de sequência estão em curto- circuito, como é indicado na Fig. 2.14. Portanto, faz-se necessário representar apenas o modelo de sequência positiva, pois os outros dois modelos são passivos, ou seja, neles não estão incluídas forças eletromotrizes. Fig. 2.14. Circuitos de sequência equivalentes de Thévenin – Defeito trifásico. Chagas – DEE/UFCG 26 Assim, a corrente de curto-circuito trifásico é: 1Z E I F3(2.40) Em termos de módulo: 1Z E IIII cbaF 3 (2.41) 5.3. Defeito Monofásico É suposto que a fase a da rede é posta em contato com a terra através de uma impedância desprezível, como é indicado na Fig. 2.15. Neste caso, tem-se: 0aU (2.42) 0 cb II (2.43) Fig. 2.15. Curto-circuito fase a – terra. De (2.21), tem-se: 0 0 1 1 111 3 1 2 2 2 1 0 a a a a I aa aa I I I (2.44) 0021 3 1 IIIII aaaa (2.45) Substituindo Ia2 e Ia0 por I0, tem-se de (2.37): 0 0 0 2 1 0 2 1 0 00 00 00 0 0 I I I Z Z Z E U U U a a a (2.46) 02 01 00 2 1 0 IZ IZE IZ U U U a a a (2.47) Multiplicando ambos os membros de (2.47) pelo vetor [ 1 1 1], obtém-se: Chagas – DEE/UFCG 27 020100210 IZIZEIZUUU aaa (2.48) De (2.42), tem-se ainda: 0021 aaaa UUUU (2.49) Substituindo (2.49) em (2.48), tem-se: 021 0 ZZZ E I (2.50) De (2.45) e (2.50), resulta: 021 0 3 3 ZZZ E I I a (2.51) As expressões (2.45) e (2.50) indicam que, no caso do defeito fase-terra, os circuitos de sequência devem ser ligados em série, como é mostrado na Fig. 2.16. Fig. 2.16. Circuitos de sequência equivalentes de Thévenin – Defeito fase-terra. Considera-se que o defeito ocorre distante de geradores, onde preponderam os componentes estáticos, nos quais Z1 = Z2; assim, pode-se escrever: 10 1 01021 1 /2 3 2 33 ZZ Z/E ZZ E ZZZ E II aF (2.52) Considerando (2.40), tem-se: FF 3 10 1 /2 3 I ZZ I (2.53) Assim, são feitas as seguintes considerações: ▪ Se Z0 = Z1, então I1F = I3F, ou seja, as correntes de defeito monofásico e trifásico são iguais. ▪ Se Z0 < Z1, tem-se I1F > I3F. Isto ocorre para um defeito próximo ao lado em estrela de transformadores com ligação delta-estrela com neutro solidamente aterrado. ▪ Se Z0 > Z1, então I1F < I3F. Isto ocorre para defeitos em pontos da linha mais distantes do transformador acima citado. A explicação é a seguinte: a impedância de sequência zero da Chagas – DEE/UFCG 28 linha é maior que a de sequência positiva (em linhas de 69 kV, Z0 3 Z1). Assim, à medida que aumenta a distância entre o defeito e o transformador, a impedância de sequência zero aumenta mais que a impedância de sequência positiva. Isto faz com que, em certo ponto da linha, a corrente de defeito fase-terra se iguale à corrente de defeito trifásico, passando a ser maior além desse ponto. 5.4. Defeito Bifásico É suposto que as fases b e c da rede entrem em contato através de uma impedância desprezível, como é indicado na Fig. 2.17. Neste caso, tem-se: cb UU (2.54) 0aI (2.55) cb II (2.56) Fig. 2.17. Curto-circuito fase b - fase c. De (2.21), tem-se: b b a a a I I aa aa I I I 0 1 1 111 3 1 2 2 2 1 0 (2.57) 0a0I (2.58) 21 aa II (2.59) Para as tensões: b b a a a U U U aa aa U U U a 2 2 2 1 0 1 1 111 3 1 (2.60) 21 aa UU (2.61) Chagas – DEE/UFCG 29 A corrente de sequência zero é nula porque o curto-circuito não envolve a terra. Pelas expressões (2.59) e (2.61) conclui-se que o circuito de sequência positiva e o circuito de sequência negativa estão em paralelo, como é mostrado na Fig. 2.18. Fig. 2.18. Circuitos de sequência equivalentes de Thévenin – Defeito fase b - fase c. Assim, tem-se para o curto-circuito bifásico: 1212 aaabF IaaIaIaII 22 (2.62) F jj a j F eee 3 2/ 1 2/ 1 2/ 2 2 3 2 33 I Z E II (2.63) Para o módulo da corrente: FFF III 332 866,0 2 3 (2.64) Assim, a corrente de defeito bifásico é menor que a corrente de defeito trifásico (I2F < I3F). 5.5. Defeito Bifásico Envolvendo a Terra A Fig. 2.19 ilustra um defeito entre as fases b e c, o qual envolve a terra. Para o mesmo, pode-se escrever: Fig. 2.19. Curto-circuito fase b - fase c envolvendo a terra. Neste caso, tem-se: Chagas – DEE/UFCG 30 0 cb UU(2.65) 0aI (2.66) 0 0 1 1 111 3 1 2 2 2 1 0 aU aa aa U U U a a a (2.67) U U UUU 3 210 a aaa (2.68) Substituindo Ua1, Ua2 e Ua0 por Ea - Ia1 Z1 em (2.24) e multiplicando ambos os membros por Z-1, sendo 2 1 0 2 1 0 1 /100 0/10 00/1 00 00 00 Z Z Z Z Z Z Z (2.69) obtém-se: 2 1 0 2 1 0 11 11 11 2 1 0 0 0 /100 0/10 00/1 /100 0/10 00/1 a a a a aa aa aa I I I E Z Z Z ZIE ZIE ZIE Z Z Z (2.70) Multiplicando ambos os membros de (2.70) pelo vetor [1 1 1] e observando que Ia1 + Ia2 + Ia0 = Ia =0, pode-se escrever: 10 1 1 2 1 10 1 1 0 Z E Z Z I- Z E I Z E Z Z I Z E a a a a a a a (2.71) Finalmente, resulta; 02 02 1 1 ZZ ZZ Z E I aa (2.72) As expressões (2.68) e (2.72) indicam que os circuitos de sequência são interligados de acordo com o mostrado na Fig. 2.20. Fig. 2.20. Circuitos de sequência equivalentes de Thévenin – Defeito fase b - fase c - terra. Chagas – DEE/UFCG 31 Tem-se ainda: 01 01 1 02 02 1 1 ZZ ZZ Z E ZZ ZZ Z E I a (2.73) Fazendo 01 0 ZZ Z K (2.74) tem-se: K I K Z/E I 11 31 1 F a (2.75) Da Fig. 2.14, pode-se escrever: 01 01 1 02 02 1 ZZ ZZ I ZZ ZZ IU aa (2.76) 1 3 11 1 Z K I KKZIU Fa (2.77) K I K Z U Z U I 1 3 12 2 F a (2.78) 0 13 0 0 1 Z Z K I K Z U I Fa (2.79) Tem-se ainda: 021 aaab IIaIaI 2 (2.80) Substituindo (2.75), (2.78) e (2.79) em (2.80): 01 123 0 123 2 11 ZZ Z Kaa K I Z Z KKaa K I II FFbFT (2.81) Assim, tem-se: ▪ Se Z0 = Z1, então K = 1 / 2 , e então: FFFT 32232 5,05,03/2 IaaaII (2.82) Para o módulo da corrente, tem-se: FFT II 32 (2.83) ▪ Se Z0 tende para 0, então K também tende para 0, e então: FjFbFT e 36/5232 31 IaIII (2.84) Chagas – DEE/UFCG 32 Assim, resulta: FFT II 32 3 (2.85) Conclusão: Em sistemas solidamente aterrados, o defeito fase-fase-terra pode ser o mais severo de todos. 6. Proteção contra Curtos-Circuitos Os fusíveis e disjuntores termomagnéticos são usados na proteção contra curtos-circuitos em sistemas de baixa tensão. Nas redes de média tensão são empregados disjuntores comandados por relés de sobrecorrente, religadores e seccionadores. Nas redes de alta e extra alta tensão utilizam-se disjuntores comandados por relés de diferentes tipos (sobrecorrente, distância, diferencial, etc). Esta matéria será posteriormente abordada com detalhes. Chagas – DEE/UFCG 33 Capítulo III Surtos de Energização Ao serem energizados, alguns componentes de redes elétricas ocasionam surtos de corrente cujos valores de pico iniciais podem alcançar valores elevados, de modo a comprometer o bom funcionamento, a vida útil e a integridade do sistema. Esse fenômeno tem como principais causas os eventos abaixo relacionados: ▪ energização de transformadores e de reatores; ▪ energização de bancos de capacitores; ▪ partida de motores; ▪ energização de carga fria. Cada uma dessas ocorrências é descrita a seguir. 1. Energização de Transformadores e de Reatores 1.1. Considerações Gerais Em regime permanente, as correntes de excitação nos transformadores de potência variam de 0,5% a 2% da corrente nominal. Porém, durante a energização, ocorrem surtos de corrente com as seguintes características: ▪ Valor de pico inicial que pode alcançar mais de 20 vezes o valor de pico da corrente nominal, nas condições mais desfavoráveis, (é comumente estimado um fator de 6 a 10). ▪ Duração de vários ciclos. ▪ Amplo espectro de harmônicos, predominando a de segunda ordem. Este fenômeno é conhecido como inrush. Seus principais efeitos são: ▪ Atuação indevida de fusíveis e relés de proteção de atuação rápida. ▪ Afundamentos temporários de tensão (queda da qualidade de energia). ▪ Solicitações de natureza eletromecânica e térmica no transformador e demais componentes do sistema, o que incorre em redução de vida útil. ▪ Sobretensões causadas por fenômenos de ressonância harmônica em sistemas que contêm filtros elétricos passivos, como no caso de linhas de corrente contínua e alta tensão (CCAT). Chagas – DEE/UFCG 34 A intensidade e a duração do inrush dependem dos seguintes fatores: ▪ Valor instantâneo da tensão aplicada no instante da energização. Ao ser energizado com o secundário em aberto, o transformador representa para a rede um componente de elevada predominância indutiva. Assim, o fluxo magnético está atrasado de 90° da tensão. Isso significa que, quando a tensão está passando por zero, o fluxo imposto pela fonte está assumindo valor máximo. Em síntese: chavear o transformador com a tensão próxima de zero é a condiçãomais adversa em termos de valor da corrente inrush. A condição mais favorável é quando a tensão acha-se próxima do valor de pico. ▪ Magnitude e sinal do fluxo residual (ou remanescente) no núcleo magnético. Devido à propriedade de remanência, o transformador permanece com um fluxo residual no núcleo. Durante a reenergização, se a taxa de crescimento do fluxo imposto pela fonte tiver mesmo sinal do fluxo residual, e se este último for elevado, o fluxo resultante, , pode atingir valores muito altos, levando o núcleo a um intenso estado de saturação. Assim, têm-se durante o inrush um valor máximo de dado por = 2 m + R, em que m é o fluxo de enlace de pico em condições normais e R é o fluxo de enlace residual. ▪ Tamanho do transformador. Quanto menor o transformador, maior o valor de pico do surto, em múltiplos do valor de pico da corrente nominal. Quanto maior o transformador, maior a duração da corrente inrush. ▪ Impedância do sistema atrás do transformador. Quanto maior for a potência de curto- circuito (ou menor a impedância de Thévenin) do sistema ligado ao primário do transformador maior poderá ser a corrente inrush. A duração poderá aumentar se a potência de curto-circuito for baixa. ▪ Propriedades magnéticas do material do núcleo. Quanto pior a qualidade da chapa Fe-Si utilizada para a confecção do núcleo, maior é a tendência para se projetar um transformador com indução de pico um pouco acima do ponto de joelho da curva de saturação - i (fluxo de enlace – corrente de magnetização). Isto é feito com o intuito de reduzir o tamanho do transformador. Assim, transformadores com chapa de pior qualidade podem apresentar correntes de inrush mais elevadas. ▪ Forma como o transformador é energizado: o valor da corrente inrush é inversamente proporcional à área compreendida entre o núcleo e o enrolamento que está sendo energizado, de forma que valores maiores são obtidos quando o enrolamento interno (de menor diâmetro) é energizado primeiro. Por questões de isolação, os enrolamentos de Chagas – DEE/UFCG 35 menor tensão são normalmente projetados para serem internos e os de maior tensão para serem externos. Com esta filosofia, se os transformadores são abaixadores, a ordem de grandeza das correntes de inrush situa-se entre 5 a 10 vezes a corrente nominal. Se os transformadores são elevadores, a ordem de grandeza das correntes de magnetização varia entre 10 e 25 vezes a corrente nominal (MARDEGAN, 2010). ▪ Impedância da carga ligada ao secundário. O inrush mais intenso ocorre quando o transformar apresenta o secundário em vazio, pois nesse caso não há o efeito desmagnetizante exercido pela corrente no enrolamento secundário, como determina a lei de Lenz. ▪ Valor da resistência de pré-inserção do disjuntor. Quanto maior ela for, menores serão os valores de pico da corrente e menor será a duração do inrush. ▪ Velocidade de fechamento dos contatos do disjuntor. 1.2. Análise Simplificada das Correntes de Inrush O circuito da Fig. 3.1 representa um transformador monofásico com o secundário em aberto. Fig. 3.1. Transformador monofásico e curva de saturação linearizada por partes. O indutor não linear possui característica de magnetização i = f (), expressa em termos de valores de pico de fluxo de enlace e corrente de magnetização. São desprezadas as perdas no núcleo magnético. Após o fechamento da chave, tem-se a seguinte equação: tsenUiR dt d mm (3.1) A relação i = f () é não linear. Logo, a equação (3.1) só pode ser resolvida numericamente. Porém, se for assumido que o núcleo não satura, pode-se supor que a função f se comporta como uma função linear até o ponto de joelho da curva - i. Isto permite fazer i = f() = / Lm, onde Lm é a indutância de magnetização do transformador, que corresponde à inclinação da reta que passa pela origem e pelo ponto de joelho da curva - i. Assim, pode-se escrever: Chagas – DEE/UFCG 36 tsenU L R dt d m m (3.2) Assume-se a simplificação de que (0) = 0; assim, a solução é: tcostsen L R e LR UL t m LR m mm m )/( 22 2 )( (3.3) Considerando R << Lm e fazendo m = Um / , resulta: tcoset mLRm )/( (3.4) Esta equação é composta por um termo com decaimento exponencial, relacionado ao comportamento transitório de logo após a aplicação da tensão, e por um termo senoidal relacionado ao regime permanente. No circuito da Fig. 3.2 é mostrada a variação de durante o inrush. Observa-se que nos instantes iniciais é estabelecido um sobrefluxo no núcleo magnético. Fig. 3.2. Onda de fluxo de enlace no transformador monofásico durante energização. Outro fator que determina o grau de assimetria de é o valor da tensão da fonte no momento da energização do transformador. Na análise anterior, considerou-se u (t) = Um sen t, de modo que u(0) = 0. Porém, o caso mais comum ocorre quando u(0) ≠ 0. Para avaliar a influência de um valor não nulo de u(t), considera-se agora u (t) = Um sen (t + ). Assim, em u(0) = Um sen , onde (ângulo de chaveamento) determina o valor inicial da tensão. A fim de avaliar a influência do valor instantâneo da tensão u no instante de chaveamento e do valor do fluxo residual o, os amortecimentos serão ignorados. Fazendo R = 0, obtém-se: )( tsenU dt d m (3.5) Considerando (0) = o e m = Um / , a solução é: )( tcoscosmo (3.6) Chagas – DEE/UFCG 37 A onda de fluxo imposta ao núcleo apresenta valor máximo quando t = k ( k = 1, 3,.5,...) e = 0. Neste caso, a tensão da fonte é nula para t = 0. Assim, o máximo valor de é: momax 2 (3.7) Por outro lado, não ocorre assimetria na forma de onda de para o = 0 e = /2. A tensão assume o valor de pico Um em t = 0. Esta é a condição mais favorável, pois são evitados sobrefluxos no transformador, sendo o núcleo levado à saturação. Durante os primeiros instantes da energização de um transformador, os elevados valores de fluxo de enlace fazem o núcleo saturar. Para pequenas variações de , podem ocorrer grandes variações de i. Isto pode ser entendido por análise da Fig. 3.3. Normalmente, a característica - i do transformador é representada pela curva de saturação (curva biunívoca que passa pela origem), o que não permite considerar fluxo residual ou remanescente. A fim de avaliar a influência do fluxo residual o, considera-se o núcleo com histerese. Fig. 3.3. Ondas de fluxo de enlace e de corrente de magnetização durante energização do transformador. Como é mostrado na Fig. 3.3, a trajetória descrita no plano - i apresenta laços menores assimétricos. O valor max não é atingido, pois acha-se limitado pelo nível de saturação, S. Se a taxa de crescimento do fluxo imposto pela fonte apresentar mesmo sinal do fluxo residual no núcleo, a saturação pode ser atingida com maior intensidade,resultando em maior Chagas – DEE/UFCG 38 assimetria de λ e em valores mais altos de pico de corrente. Se os sinais são opostos, a corrente de inrush será atenuada. Assim, a representação da histerese é importante no caso de sistemas com religamento automático. No instante do religamento, pode haver elevado valor de fluxo residual que seja somado ao fluxo imposto pela fonte, implicando em maior corrente de inrush. 1.3. Cálculo das Correntes de Inrush em Transformadores Monofásicos No circuito mostrado na Fig. 3.4 considera-se apenas a saturação no núcleo magnético do transformador. A histerese e as perdas magnéticas são desprezadas. Fig. 3.4. Circuito elétrico considerado no cálculo da corrente de inrush em transformador monofásico. A curva de saturação pode ser aproximada por função ou linearizada por partes, segundo as formas indicadas na Fig. 3.5 e na Fig. 3.6. Fig. 3.5. Curva de saturação sem remanência. Fig. 3.6. Curva de saturação com remanência. Na curva da Fig. 3.5, o fluxo residual não é considrado, o que é o caso das simulações de regime permanente. Em regime transitório, pode-se representar o fluxo residual de acordo com a curva da Fig. 3.6, onde, o é o fluxo de enlace residual e r é o fluxo de enlace correspondente ao ponto de remanência. Assim, é escrita a seguinte equação para o circuito da Fig. 3.4: )()( tutiR dt tdi L dt td (3.8) Chagas – DEE/UFCG 39 Fazendo i = f (), Lm = d/di (indutância diferencial de magnetização do transformador), e aplicando-se a regra da cadeia, tem-se: mLL fRtu dt td /1 )()()( (3.9) Essa equação diferencial não linear pode ser resolvida pelos métodos de Euler ou Runge- Kutta, com um passo de tempo de 1 µs. As perdas histeréticas e parasíticas no núcleo podem ser consideradas da seguinte maneira: dt td R tt p )(1 )( )(' (3.10) A constante Rp é a resistência de perdas dinâmicas no núcleo, determinada por ensaios. Exemplo 1 - Um transformador pelo circuito da Fig. 3.4 possui os seguintes dados: 400 kVA, (230/3) /(1153) V, R = 5 e L = 2,65 mH. Os pontos da curva de saturação (referida ao lado de 70 V) são fornecidos na Tabela 3.1. A resistência de perdas é Rp = 1997,3 . Tabela 3.1. Curva de saturação do transformador da Fig. 3.4. i ( A ) 0 0,537 1,012 1,930 5,345 9,600 20,00 ( V.s ) 0,460 0,570 0,626 0,682 0,831 0,975 1,270 Fig. 3.7. Corrente de inrush num transformador monofásico. Na Fig. 3.7 é mostrado o oscilograma da corrente, com (0) = 0,47 V.s, Um = 188 V e θ = 0o. 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 Tempo ( s ) -4.00 0.00 4.00 8.00 12.00 16.00 C o rr e n te ( A ) Chagas – DEE/UFCG 40 Na Fig. 3.8 é mostrado o afundamento de tensão (voltage sag) ocorrido no primeiro ciclo do inrush, quando a corrente alcança o valor máximo de pico. Fig. 3.8. Afundamento de tensão nos terminais do transformador (voltage sag) durante o inrush. 1.4. Simpathetic Inrush Na Fig. 3.9 é mostrada uma situação em que pode haver interação de surtos de corrente quando um transformador (T2) é ligado em paralelo com outro já energizado (T1). Este fenômeno é denominado simpathetic inrush. Na Fig. 3.10 são mostradas as formas de onda das correntes indicadas. Fig. 3.9. Situação em que ocorre o simpathetic inrush. Supõe-se que T2 é energizado com uma corrente de inrush i2 elevada. A componente contínua decrescente de i2 causa uma pronunciada queda de tensão sobre a resistência equivalente do sistema primário (a reatância não contribui de maneira significativa, pois a 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 Tempo ( s ) -200.00 -100.00 0.00 100.00 200.00 T e n s ã o ( V ) Chagas – DEE/UFCG 41 derivada da componente contínua em relação ao tempo é baixa). Isto faz com que a tensão no primário caia bruscamente e, em consequência, o grau de saturação e a corrente de inrush em T2 decresçam. Porém, esta variação abrupta de tensão produz uma variação de fluxo magnético em T1 e uma corrente de inrush em sentido oposto. Assim, a corrente total i apresenta a forma de onda indicada na Fig. 3.10. O simpathetic inrush é mais prolongado que o inrush convencional. Fig. 3.10. Situação em que ocorre o recovery inrush. 1.5. Recovery Inrush No sistema da Fig. 3.11, se ocorrer um defeito em um dos alimentadores, com atuação do disjuntor C, a tensão do sistema sofre uma queda momentânea, retornando ao valor normal. Isto causa um surto de corrente conhecido como recovery inrush. Fig. 3.11. Situação em que ocorre o simpathetic inrush. O recovery inrush é menos severo que o inrush convencional, pois a variação de tensão nos terminais do primário é menor que a causada pela energização a partir do valor zero. Chagas – DEE/UFCG 42 1.6. Considerações Adicionais As correntes de inrush podem fazer com que relés de proteção rápidos atuem indevida- mente durante a energização do transformador. Para evitar isto, os relés diferenciais utilizam um critério capaz de distinguir as correntes de inrush das correntes de curto-circuito. O critério tradicionalmente utilizado se baseia na avaliação do conteúdo de harmônicos mediante filtros analógicos ou digitais. Uma corrente de inrush convencional apresenta um espectro onde predomina a harmônica de segunda ordem, como é mostrado na Tabela 3.2. Tabela 3.2. Composição de harmônicos de uma corrente de inrush típica. HARMÔNICA % EM RELAÇÃO À FUNDAMENTAL 2ª 63,0 3ª 26,8 4ª 5,1 5ª 4,1 6ª 3,7 7ª 2,4 Quando o transformador é energizado em condições normais, essas harmônicas são filtradas, exercendo uma ação de bloqueio que evita a operação do relé. Por outro lado, as correntes de curto-circuito típicas são compostas por uma componente fundamental acrescida de uma componente contínua com decremento exponencial, sendo o conteúdo de harmônicos insignificante em comparação com os observados nas correntes de inrush. Assim, não se verifica a ação de bloqueio que impede a atuação do relé. As formas de atenuação das correntes de inrush são baseadas nas seguintes técnicas: ▪ Utilização de resistores de pré-inserção nos disjuntores. ▪ Chaveamento controlado ou síncrono (point-on-wave switching), em que o transformador é energizado quando a onda de tensão atinge seu valor de pico. 2. Energização de Bancos de Capacitores 2.1. Energização de Banco Isolado Quando um banco de capacitores é energizado, ocorre um surto de corrente de alta frequência, também denominado inrush. Na análise a seguir, considera-se que: ▪ as perdas no circuito são desprezadas; ▪ antes da energização, o banco está carregado com uma tensão U0; Chagas – DEE/UFCG 43 ▪ o banco é energizado no instante em que a tensão da fonte é máxima; ▪ como a frequência do surto é da ordem de kHz (>> 60 Hz), pode-se supor que, no intervalo de tempo considerado, u Um. No circuito da Fig. 3.12 é suposto que u = Um cos t. Para o mesmo, pode-se escrever: mC Utu dt tdi L )( )( (3.11) t C dtti C Utu 0 0 )( 1 )((3.12) Substituindo (3.12) em (3.11), obtém-se: m t Udtti C U dt tdi L 00 )( 1)( (3.13) Fig. 3.12. Circuito considerado no cálculo de inrush em banco de capacitores. Considerando 0)0( i e aplicando transformada de Laplace, obtém-se: s UU sI sC sL m 0)( 1 (3.14) 2 0 2 0 0 0 2 0 2 0 )( )/(1 )/()( 1 )( )( sL UU LCs LCCUU LCs CUU sI mmm (3.15) 2 0 2 0 )/(1 )( )( sLCL UU sI m (3.16) tsen Z UU ti m 0 0 0)( (3.17) LC 1 0 (3.18) C L Z 0 (3.19) 0 - Frequência natural de oscilação do circuito. Z0 - Impedância característica do circuito. O valor de pico da corrente de inrush é dado por: Chagas – DEE/UFCG 44 L C UUi mmax 0 (3.20) A pior condição surge quando o desligamento ocorre em um pico da onda de tensão e o religamento no pico oposto; assim, o valor de pico máximo da corrente de inrush é dado por: L C Ui mmax 2 (3.21) O valor de pico máximo da corrente de pode chegar a 15 vezes a corrente nominal do banco. As resistências do circuito introduzem amortecimentos, o que reduz a duração do inrush. O tempo necessário para o regime permanente ser atingido pode corresponder a uma fração de ciclo ou até vários ciclos. 2.2. Energização Back-to-Back A Fig. 3.13 ilustra a situação em que um capacitor é chaveado, estando outro já energizado na mesma barra (chaveamento back-to-back). Neste caso, as correntes de inrush podem ser ainda maiores, pois são limitadas pela indutância equivalente entre os bancos, L2, que é muito menor que a indutância equivalente da rede, L1. Fig. 3.13. Circuito considerado no cálculo de inrush back-to-back de um banco de capacitores. Como L1 >> L2, a circulação de corrente é muito maior entre os dois bancos de capacitores, sendo a contribuição do sistema desprezível. Assim, o circuito equivalente é simplificado para a forma indicada na Fig. 3.14. Fig. 3.14. Circuito simplificado para cálculo de inrush back-to-back de um banco de capacitores. Como condições iniciais, considera-se uC1(0) = Um e uC2(0) = U0. assim, pode-se escrever: Chagas – DEE/UFCG 45 0)()( )( 21 tutu dt tdi L CC (3.22) t mC dtti C Utu 0 1 1 )( 1 )( (3.23) t C dtti C Utu 0 2 02 )( 1 )( (3.24) Combinando estas equações, aplicando transformada de Laplace e efetuando um desenvolvimento semelhante ao do item anterior, obtém-se: tsen Z UU ti m 0 0 0)( (3.25) CL2 0 1 (3.26) C L Ζ 20 (3.27) 21 21 CC CC C (3.28) O maior valor atingido pela corrente é dado por: 2 0 L C UUi mmax (3.29) Como a indutância L2 é muito baixa, a corrente inrush poderá exceder o valor da corrente de curto-circuito no local dos capacitores, alcançando 20 a 250 vezes a corrente nominal do banco. Normalmente a corrente inrush máxima suportada por um banco de capacitores em regime transitório é de 100 vezes sua corrente nominal. Ao se energizar apenas um capacitor a frequência de oscilação da tensão é da ordem de 300 a 1000 Hz. Tratando-se da corrente, esta oscilação varia entre 200 e 600 Hz. Quando é chaveado um banco em configuração back-to-back, a frequência transitória da tensão pode ser de 2 a 10 kHz, enquanto para corrente esta pode ficar entre 5 e 20 kHz (CHAVES, 2007). Exemplo 1: Chaveamento de um banco trifásico de capacitores de 40 MVAr, 138 kV, 60 Hz, ligado em estrela, instalado em uma subestação com potência de curto-circuito de 4 GVA. Corrente de curto-circuito trifásico: A8,16734 10138 3 104 3 3 9 xx x U S I N CC CC Reatância e indutância de Thévenin do sistema alimentador: I U X CC N 4,76 8,16734 3138000/3/ Chagas – DEE/UFCG 46 mH6,12 377 4,76 ω X L A capacitância do banco é: F 5,6 138000 377 1040 ω 2 6 2 x x U Q C N A frequência natural de oscilação do sistema é: Hz599 106,50126,02 1 2 1 60 xxLC f Supondo o banco inicialmente descarregado, o valor de pico da corrente de inrush é: A4,2375 0126,0 106,5 3 2138000 6 x x x L C Ui mmax Na pior situação, na qual o desligamento tenha ocorrido em um pico da onda de tensão e o religamento no pico oposto, a corrente pode teoricamente alcançar o dobro desse valor, ou seja, 4750,8 A. Normalmente, isso não ocorre pelo fato de que os bancos de capacitores são providos de resistores destinados a promover a sua descarga após o desligamento. Em regime normal de operação, o valor de pico da corrente no banco de capacitores é: A7,236 10138 3 1040 2 3 6 xx x xIm Assim, durante a energização, o valor de pico alcançado pela corrente de inrush é cerca de 10 vezes o valor de pico da corrente nominal do banco. A seguir, são mostrados na Fig. 3.15 e na Fig. 3.16 resultados de simulações utilizando o ATP nas quais foi estimada uma relação X/R = 4 para o sistema alimentador, considerando o banco de capacitores inicialmente descarregado. Assim, tem-se 19,1 R para a resistência de Thévenin. O valor máximo atingido pela corrente é 2313,3 A. O desvio percentual em relação ao valor calculado analiticamente por (3.20), é: %6,2 2375,4 4,23753,2313 100 % x Vale lembrar que se o capacitor for energizado com uma tensão diferente de zero e com polaridade oposta à tensão aplicada, a corrente de pico seria maior. Assim, se uC(0) = -138000 x 2/3, a corrente de pico seria o dobro do valor encontrado. O máximo valor
Compartilhar