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PRINCIPAIS ASPECTOS RELACIONADOS À SITUAÇÃO DO ESTRANGEIRO NO BRASIL

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PRINCIPAIS ASPECTOS RELACIONADOS À SITUAÇÃO DO ESTRANGEIRO NO BRASIL 
Nacionalidade Nacionalidade é um vínculo político entre o Estado soberano e o indivíduo, que faz deste um membro da dimensão pessoal do Estado. O art. XV da Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama que "todo homem tem direito a uma nacionalidade". É regra comezinha no Direito Internacional que cada Estado tem a competência para disciplinar a forma de aquisição de sua nacionalidade. No Brasil, este tema encontra-se regulado pelo art. 12 da Lei Fundamental, bem como pela Lei nº 6.815/80. A nacionalidade pode ser (art. 12 da CF/88): • Nacionalidade Originária: é a nacionalidade dos brasileiros natos. Pode ser adquirida de duas formas: - Jus soli (art. 12, inc. I, “a”, CF): nacionalidade adquirida em função do local de nascimento, isto é, são brasileiros natos aqueles nascidos no território brasileiro, ainda que de pais estrangeiros, desde que não estejam a serviço de seus pais; ou - Jus sanguinis a) Genitor(es) a serviço do Brasil (art. 12, inc. I, “b”, CF): nacionalidade transmitida pelos pais, isto é, são brasileiros natos aqueles nascidos de pai ou mãe brasileiros, a serviço do Brasil no exterior; b) Pais desvinculados do serviço público brasileiro (art. 12, inc. I, “c”, CF): os nascidos no exterior, filhos de pai ou mãe brasileiros, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente (v. g. Consulado e Embaixadas) ou venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Valerio Mazzuoli aponta a existência de um terceiro gênero, o critério misto, que conjugaria os dois parâmetros (de solo e sanguíneo). À guisa de ilustração menciona o próprio Brasil, que tem admitido a nacionalidade por ambos os aspectos, e outros países da América Latina. • Nacionalidade Derivada: é a nacionalidade dos brasileiros naturalizados. O acesso à condição de brasileiro naturalizado se dá pelo cumprimento de prazos e condições fixados na Constituição Federal e em lei ordinária. O direito à naturalização é assegurado pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Perda da nacionalidade. A nacionalidade brasileira pode ser perdida nos seguintes casos (art. 12, § 4º da CF): Por brasileiros natos ou naturalizados: em caso de aquisição de outra nacionalidade, por naturalização voluntária. O único caso em que o brasileiro nato poderá perder a nacionalidade brasileira é através da aquisição de outra nacionalidade. Tal perda não ocorrerá se for fruto de (i) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira (exemplo do brasileiro com ascendência italiana, que detém à luz da legislação italiana nacionalidade originária); ou (ii) de imposição de naturalização, pela lei estrangeira, como condição de permanência em seu território ou exercício de direitos civis. Apenas por brasileiros naturalizados: em caso de atividade nociva ao interesse nacional. A naturalização brasileira poderá ser cancelada em virtude de sentença judicial que imputar condenação por atividade nociva ao interesse nacional. O parágrafo 2º do art. 12 da Lei Superior assegura a isonomia entre brasileiros natos e naturalizados. Ambos gozam de mesmos direitos e deveres. Há exceções a esta equiparação enumeradas no próprio texto constitucional, notadamente no parágrafo 3º do mesmo art. 12. Dito dispositivo elege cargos de provimento privativo do brasileiro nato. São eles: Presidente e Vice Presidente da República, Presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal Federal, cargos da carreira diplomática, de oficial das Forças Armadas e de Ministro da Defesa. Muito embora a regra geral seja que cada indivíduo terá apenas uma nacionalidade, a doutrina admite a dupla nacionalidade. Esta se configura quando o indivíduo, filho de pais estrangeiros, nasce em Estado que adota o critério do jus soli, enquanto que o Estado de origem dos pais obedece ao do jus sanguinis. Como exemplo temos o caso de descendentes de italianos. Podem ser brasileiros porque nascidos em solo tupiniquim e, acumulativamente, italianos por conta do critério sanguíneo adotado pelo Estado italiano. São polipátridas, com arrimo no art. 12, § 4º, II, "a", da CF/88. 1.1.1 Naturalização O art. 111 do Estatuto do Estrangeiro estipula que a concessão da naturalização é faculdade exclusiva do Poder Executivo e far-se-á mediante portaria do Ministro da Justiça. São condições para a concessão da naturalização (Art. 112): I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ser registrado como permanente no Brasil; III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; VI - bom procedimento; VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e VIII - boa saúde. Sobre o tempo de residência, o Estatuto prescreve que:
Art. 113. O prazo de residência fixado no artigo 112, item III, poderá ser reduzido se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: I - ter filho ou cônjuge brasileiro; II - ser filho de brasileiro; III - haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça; IV - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística; ou V - ser proprietário, no Brasil, de bem imóvel, cujo valor seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Referência; ou ser industrial que disponha de fundos de igual valor; ou possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo, idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e permanentemente, à exploração de atividade industrial ou agrícola. Parágrafo único. A residência será, no mínimo, de um ano, nos casos dos itens I a III; de dois anos, no do item IV; e de três anos, no do item V. Art. 114. Dispensar-se-á o requisito da residência, exigindo-se apenas a estada no Brasil por trinta dias, quando se tratar: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81) I - de cônjuge estrangeiro casado há mais de cinco anos com diplomata brasileiro em atividade; ou II - de estrangeiro que, empregado em Missão Diplomática ou em Repartição Consular do Brasil, contar mais de 10 (dez) anos de serviços ininterruptos. 
 DA CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESTRANGEIROS O principal instrumento legal que versa a situação do estrangeiro no Brasil é novamente a Lei 6.815/80. Por isso, vale a pena a leitura do indicado diploma. A Lei 6.815/80 elege alguns princípios: Art. 2º Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à segurança nacional, à organização institucional, aos interesses políticos, sócio econômicos e culturais do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional. Art. 3º A concessão do visto, a sua prorrogação ou transformação ficarão sempre condicionadas aos interesses nacionais. A admissão do estrangeiro em território nacional é discricionária. No entanto, sempre que ocorre, acarreta deveres do Estado para com o visitante. Ao estrangeiro no Brasil, são assegurados os direitos fundamentais e civis, exceto os direitos políticos. A concessão de direitos trabalhistas depende da categoria do visto obtido. Consoante a Lei 6815/80, o estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das leis. É vedado ao estrangeiro: (Art. 106 da Lei 6815/80) I - ser proprietário, armador ou comandante de navio nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre; II - ser proprietário de empresa jornalística de qualquer espécie, e de empresas de televisão e de radiodifusão, sócio ou acionista de sociedade proprietária dessas empresas; III - ser responsável, orientador intelectual ou administrativo das empresas mencionadas no item anterior; IV -obter concessão ou autorização para a pesquisa, prospecção, exploração e aproveitamento das jazidas, minas e demais recursos minerais e dos potenciais de energia hidráulica; V - ser proprietário ou explorador de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica; VI - ser corretor de navios, de fundos públicos, leiloeiro e despachante aduaneiro; VII - participar da administração ou representação de sindicato ou associação profissional, bem como de entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada; VIII - ser prático de barras, portos, rios, lagos e canais; IX - possuir, manter ou operar, mesmo como amador, aparelho de radiodifusão, de radiotelegrafia e similar, salvo reciprocidade de tratamento; e X - prestar assistência religiosa às Forças Armadas e auxiliares, e também aos estabelecimentos de internação coletiva. Para ingressar e manter-se no território brasileiro o estrangeiro deve, em regra, pleitear um visto. O visto poderá ser dispensado por meio de tratados internacionais, como ocorre no âmbito do Mercosul. 
DO ESTATUTO DE IGUALDADE ENTRE BRASILEIROS E PORTUGUESES Brasil e Portugal celebraram em 07.09.71 a Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses, com o fito de estabelecer um estatuto de igualdade entre ambos os países. Por força do estatuto da igualdade os brasileiros em Portugal e os portugueses no Brasil, beneficiários do estatuto, gozarão dos mesmos direitos e submeter-se-ão aos mesmos deveres dos nacionais desses Estados. 1.4 DOS VISTOS Nenhum indivíduo detém direito subjetivo a entrar e permanecer em um Estado estrangeiro. Cada país tem competência para disciplinar este ponto de forma soberana. A Lei 6815/80 prevê as seguintes espécies de vistos: De trânsito: ao estrangeiro que, para atingir o país de origem, tenha de entrar em território nacional; De turista: ao estrangeiro que venha ao Brasil em caráter recreativo ou de visita; Temporário: ao estrangeiro que venha ao Brasil em viagem cultural ou em missão de estudos, em viagem de negócios, na condição de artista, desportista, estudante, religioso, correspondente de mídia estrangeira ou, por fim, profissional a serviço do governo Brasileiro; Permanente: ao estrangeiro que pretenda se fixar definitivamente no Brasil; Diplomático: ao pessoal diplomático que venha se instalar no Brasil.
DIREITO DE ASILO A despeito de suas raízes remontarem à Grécia antiga, foi a partir da Revolução Francesa que a instituição do asilo ganhou fôlego e destaque. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, preceitua em seu art. XIV que "todo homem, vítima de perseguição, tem direito de procurar e de gozar asilo em outros países". O parágrafo 2º mesmo artigo ressalva que o direito de asilo "não pode ser invocado em caso de perseguição motivada legitimamente por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas". Accioly lembra que a Declaração do Homem assegura o direito de o indivíduo procurar asilo, porém não obriga os Estados a concedê-lo1 . O deferimento ou não de asilo é ato de liberalidade estatal, fruto de sua soberania. Nesta qualidade deve ser respeitada pelos demais sujeitos de Direito Internacional. O asilo é mecanismo de proteção de um nacional por outro Estado. Pode ser político ou territorial e diplomático. O territorial caracteriza-se quando o estrangeiro encontra-se no território do Estado asilante. Dirige-se aos indivíduos estrangeiros perseguidos dentro de seu respectivo Estado, por motivos raciais, religiosos ou políticos. A decisão final sobre o asilo incumbe ao chefe de Estado. No Brasil tal função restou delegada ao Ministro da Justiça. A regulação do instituto coube ao Direito Internacional, por meio das Convenções sobre Asilo (Havana, 1928), Asilo Político (Montevideo, 1933) e Asilo Territorial (Caracas, 1954). À Lei 6.815/80 restou disciplinar a condição do asilado político. No asilo diplomático o indivíduo abriga-se dentro das dependências de missão diplomática, nas legações, ou em navios ou aeronaves militares ou, ainda, em acampamentos militares. O ingresso do indivíduo no espaço diplomático não implica a concessão automática de asilo. Para alguns doutrinadores o asilo diplomático é uma forma provisória de asilo territorial, pois objetiva, ao cabo, a entrada e permanência no território do país concedente do asilo. Diferentemente do asilo territorial, o diplomático não é reconhecido por todos os Estados. É inovação dos países latino-americanos.
 
 DO DIREITO DE REFÚGIO Muito embora seja rotineiramente estudado e confundido com a categoria do asilo, o refúgio se distingue deste. O refúgio tem como principais fontes normativas a Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados (1951) e a Lei 9.474/97. 
 DA SAÍDA COMPULSÓRIA DE ESTRANGEIROS Integra a ideia de soberania estatal a possibilidade de exclusão forçada de estrangeiros que estejam em solo brasileiro. A legislação pátria consagra três formas de saída compulsória de estrangeiros: extradição, deportação e expulsão. Se você, aluno, quiser aprofundar seus conhecimentos, pode dar uma lida no Estatuto do Estrangeiro, bem como navegar pelo site do Ministério da Justiça: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ0428DBCEITEMID57987DDACB60405C8899CF8EDD13 B6A6PTBRIE.htm 1. Extradição A extradição é a entrega de pessoa por um Estado a outro, a pedido deste. Pressupõe um pedido formal, mediado pelas autoridades diplomáticas de cada Estado. Tem por fundamento o interesse de processar criminalmente o extraditando ou fazê-lo cumprir penas já impostas (princípio da cooperação internacional para repressão criminal). No Brasil, depende de prévia autorização do Supremo Tribunal Federal. A participação da Suprema Corte está circunscrita à legalidade do pedido. A conveniência e oportunidade (juízo político) caberá em última análise ao Presidente da República.
O Ministério da Justiça, no Guia para estrangeiros no Brasil, expressa que a extradição é ato de defesa internacional, forma de colaboração na repressão crime. Objetiva a entrega de um infrator da lei penal, que, no momento, se encontra em nosso país, para que possa ser julgado e punido por juiz ou tribunal competente do país requerente, onde o crime foi cometido. Trata-se, pois, de um ato com fundamento na cooperação internacional no combate e repressão à criminalidade. A extradição está definida nos artigos 76 a 94 do Estatuto do Estrangeiro. Segundo o art. 76 consubstancia ato discricionário estatal: “A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade”. Depende, pois, de pedido de governo estrangeiro, fundamentado em tratado pré-existente com o Brasil ou em compromisso de reciprocidade. Muito embora seja uma prerrogativa estatal deferir o pedido extradicional, a sua negativa injustificada, quando existente um tratado internacional vinculante, dá azo à responsabilização no plano internacional. A legislação brasileira disciplina os casos em que a extradição não será concedida (art. 77). Notem que cada proibição encarta um princípio: I – se tratar de brasileiro, salvo se a aquisição dessa nacionalidade se verificar após o fato que motivar o pedido (brasileiro naturalizado) – o brasileiro nato nunca será alvo de extradição. II – quando o fato que está à base do pedido não for crime no Brasil ou no Estado requerente – trata-se do princípio da identidade, segundo o qual para haver extradição faz-se indispensável que o delito cometido seja tipificado como crime no Brasil. Não será concedida extradição fundada em infração não penal. Outro ponto é que se a pena no Brasil for inferior àquela do país requerente, deve haver compromisso daquele de comutar a pena para o quantum da lei brasileira. Se a pena máxima brasileira em tempos de normalidade é 30 anos de pena privativa de liberdade, não será concedida extradição para cumprimento de pena superior ou de morte. O Estado requerente deverá firmar compromisso de comutar (substituir)a pena para o limite de 30 anos. III – nos casos em que o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando – se houver competência exclusiva ou concorrente do Brasil não haverá extradição. Se o extraditando tiver cometido delito no Brasil, deve preferencialmente ser julgado e cumprir pena no Brasil. IV – se a pena imposta pela lei brasileira para o crime for igual ou inferior a um ano. V – no caso em que o extraditando estiver respondendo processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se funda o pedido de extradição. VI – quando estiver a extinta a punibilidade pela prescrição de acordo com a lei brasileira ou a do Estado requerente. VII – se o for pedida com base em crime político; mas essa exceção não impedirá a extradição, quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal - o crime político não enseja extradição. Contudo, no caso de haver cumulativamente delito penal e infração política, deve-se examinar o “fato principal”. Se for de natureza penal, poderá ser concedida a extradição . VIII – se o extraditando tiver que responder, no Estado requerente, perante
 um Tribunal ou Juízo de Exceção. Cabe ao Supremo Tribunal Federal sindicar a legalidade do pleito extradicional (Art. 77, parágrafo 2º). Ainda segundo a Lei 6815/80, a extradição será requerida por via diplomática, ou na falta de agente diplomático, diretamente de governo a governo. Recebido o pedido, o Ministério das Relações Exteriores o enviará ao Ministério da Justiça, que o remeterá ao Supremo Tribunal Federal (STF). ²Assinalamos aqui mais uma disposição do Estatuto do Estrangeiro derrogada pela Constituição Federal de 1988. Senão vejamos: Dispõe a Lei 6815/80 que “o Ministério da Justiça ordenará a prisão do extraditando, colocando-o à disposição do Supremo Tribunal Federal” (art. 81). Promulgada em 1988, a Constituição Federal ao tratar dos Direitos e Garantias Fundamentais, assegura “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei” (CF, art. 5º, inciso LXI). A Jurisprudência do STF confirma a revogação do dispositivo da Lei 6815/80. Vejamos decisão unânime do Tribunal Pleno, em pedido de Habeas Corpus de extraditando: (...) 2. O art. 81 da Lei 6815, de 19.08.1980, alterada pela Lei 6964, de 09.12.1981, atribuía ao Ministro da Justiça o poder de decretar a prisão do extraditando. Tal norma ficou, nesse ponto, revogada pelo inciso LXI do art. 5º da Constituição Federal de 1988, em razão do qual, excetuadas as hipóteses referidas, “ninguém sra preso senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente”. 3. Tal competência passou, então, para o Ministro do Supremo Tribunal Federal, a quem caberá, também, relatar o pedido de Extradição, conforme decidiu o S.T.F. (RTJ 127/18).4 . Importante ressaltar ainda que “nenhuma extradição será concedida sem o prévio pronunciamento do Plenário do Supremo Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão” (art. 83). Um aspecto que vem sendo mantido com pleno rigor pelo Supremo Tribunal Federal é a prisão do extraditando ao longo de todo o processo, em cumprimento ao estabelecido no parágrafo único, do art. 84: “A prisão perdurará até o julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisãoalbergue”. Extradição e Refúgio: O Brasil aprovou, em 1997, a Lei 9474, que define mecanismos para implantação do Estatuto dos Refugiados de 1951 e determina outras providências. Dispõe, tal diploma legal, em capítulo específico sobre a Extradição que “O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio” (art. 33, Lei 9474/97). Assegura, também, a Lei de Refugiados a suspensão do processo de Extradição pendente, se o extraditando apresentar solicitação de refúgio baseado nos mesmos fatos. Independe, neste caso, esteja o processo em fase administrativa ou judicial (art. 34, Lei 9474/97). A entrega do extraditando deve ser precedida pelo compromisso do Estado requerente no sentido de que: (i) não punirá o extraditando por fatos anteriores ao pedido, e dele não constantes; (ii) que descontará da pena a ser imposta o período de prisão no Brasil (detração); (iii) que comutará eventual pena capital em privativa de liberdade; (iv) que não entregará o extraditando a outro país sem prévia anuência do Brasil; (v) que não levará em conta a motivação política do crime para agravar a pena. 2. Deportação Entre as formas coercitivas de retirada do estrangeiro do Brasil, temos a deportação, requerente no sentido de que: (i) não punirá o extraditando por fatos anteriores ao pedido, e dele não constantes; (ii) que descontará da pena a ser imposta o período de prisão no Brasil (detração); (iii) que comutará eventual pena capital em privativa de liberdade; (iv) que não entregará o extraditando a outro país sem prévia anuência do Brasil; (v) que não levará em conta a motivação política do crime para agravar a pena. 2. Deportação Entre as formas coercitivas de retirada do estrangeiro do Brasil, temos a deportação, a deportação consiste em fazer sair do território brasileiro o estrangeiro que nele tenha entrado clandestinamente ou nele permaneça em situação de irregularidade legal, se do País não se retirar voluntariamente dentro do prazo que lhe for fixado (art. 57). Ou seja, se ele tiver problemas de “visto” a sua exclusão se dará por meio de deportação. Destaca-se que tal irregularidade pode surgir depois da entrada regular no país. Exemplo disto seria o estrangeiro que adentra regularmente no Brasil com o visto temporário de estudante. Se durante os estudos ele resolve trabalhar (sem previsão de trabalho no visto), ele passa a ser irregular, apesar de o visto de estudante não ter expirado. Segundo estabelece o art. 98, do Decreto 86.715/81, o estrangeiro que entrou ou se encontra em situação irregular no país, será notificado pela Polícia Federal, que lhe concederá um prazo variável entre um mínimo de três e máximo de 8 dias, conforme o caso, para retirar-se do território nacional. Se descumprido o prazo, o Departamento de Polícia Federal promoverá a imediata deportação. Frise-se que a legislação estimula a saída voluntária do estrangeiro. A autoridade policial deve facultar esta opção, antes de impor a exclusão. A retirada voluntária diferencia a deportação dos outros dois meios de afastamento compulsório, a expulsão e a extradição. A previsão legal de que ao estrangeiro será dado um prazo para que se retire do país não é absoluta. Se for conveniente aos interesses nacionais, a deportação será efetivada independentemente de ser concedido ao estrangeiro o prazo fixado no Decreto 86.715/81 (art.98, 2º). A deportação afasta o estrangeiro do país, mas não impede seu regresso futuro, de forma regular. A Lei 6815/80 exige que para retornar ao Brasil, o deportado deverá ressarcir ao Governo brasileiro as despesas efetuadas com sua deportação. Segundo Guimarães estendem-se a uma vasta relação os casos específicos de deportação. Incluem-se entre as causas todas as situações em que haja descumprimento das restrições ou condições impostas ao estrangeiro, quais sejam, por exemplo: exercer atividade remunerada nos casos em que esta não é permitida; deslocar-se para regiões além do âmbito estabelecido; afastar-se do local de entrada no país sem o documento de viagem e o cartão de entrada e saída devidamente visados pelo Órgão competente; exercer atividade diversa da que foi solicitada e autorizada em contrato de trabalho; serviçal, com visto de cortesia, que exerça atividade remunerada para outro que não seja o titular do visto que o chamou; a mudança de empresa a quem presta serviço o estrangeiro, sem permissão do Ministério do Trabalho; estrangeiro em trânsito,estudante ou turista que exerça atividade remunerada, entre outras. No rigor da lei, a estada irregular do estrangeiro, não se refere apenas à permanência no território nacional por período superior ao permitido, mas, sim, a todas as circunstâncias que representam qualquer desrespeito aos deveres, restrições ou limites impostos ao estrangeiro. Estes e outros casos de desobediência às normas fixadas em lei, como causa de deportação, estão previstas no art. 57, parágrafo 1º, da Lei 6815/80. Uma legislação que apresenta tais características e, sobretudo, o extremo rigor com que esta é aplicada, merece ser revista não apenas em aspectos ou disposições isoladas. Comporta que se repense a convivência da sociedade como um espaço de horizontes universais, onde vivem seres humanos portadores de valores, de contributos, de riquezas e de dignidade que ultrapassam as fronteiras da nacionalidade e dos limites geográficos de um país. No que tange ao país de destino, a Lei 6815/80, art. 58, parágrafo único: “A deportação far-se-á para o país de nacionalidade ou de procedência do estrangeiro, ou para outro que consinta em recebê-lo”. Dá-se direito de opção ao deportando. Importante destacar que a previsão de prisão administrativa, decretável pelo Ministro da Justiça, prevista no art. 61 do Estatuto do Estrangeiro não foi recepcionada pela ordem constitucional de 1988. Isto porque não se coaduna com o inc. LXI do art. 5º da Lei Superior. Eis o que prescreve o Texto Constitucional: Art. 5º. [...] LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Observe que a Carta Republicana exige mandado judicial para prisão, excetuando apenas casos de flagrante delito e infração militar. Finalmente, assegura o Estatuto do Estrangeiro que não se procederá à deportação se esta medida implicar em extradição não admitida pela Lei brasileira (art. 63, Lei 6815/80). A deportação não pode ser usada como sucedâneo da extradição ou expulsão frustradas. Accioly cita como exemplo o caso do criminoso norte-americano Jesse James Hollywood. A pena à qual estaria submetido nos EUA seria a de morte. Logo, a extradição somente seria viável, acaso o Estado americano firmasse o compromisso de comutar a pena capital em privativa de liberdade. Não obstante a dificuldade em deferir a extradição, o governo brasileiro deportou o infrator ianque. 3. Expulsão A expulsão ocorre quando o estrangeiro é condenado por delito penal ou quando sua presença é vista como atentatória aos interesses nacionais. Dá-se mediante decreto presidencial. A expulsão do estrangeiro que se encontre em território brasileiro está disciplinada na Lei 6815/80, nos artigos 65 a 75 e no Decreto 86.715/81, art. 100 a 109. Sem nos determos à análise e discussão, no campo doutrinal, sobre o instituto da expulsão, buscaremos explicitar o seu tratamento e aplicação nos termos em que o estabelece o Estatuto do Estrangeiro e o correspondente Decreto de Regulamentação. O artigo 65 (Lei 6815/80) determina: “É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais”. Os atos que, em geral, podem ensejar a expulsão de estrangeiro no Brasil : a) ofensa à dignidade nacional; b) a mendicância e a vagabundagem; c) os atos de devassidão; d) os atos de propaganda subversiva; e) a provocação de desordens; f) as conspirações; g) a espionagem; h) as intrigas contra países amigos. A expulsão é formalizada através de Decreto de competência exclusiva do Presidente da República, a quem cabe resolver sobre a conveniência e a oportunidade da expulsão e de sua revogação (art. 66). Uma vez decretada e efetivada a expulsão, uma de suas graves consequências é a impossibilidade do estrangeiro retornar ao Brasil. O retorno é crime, tipificado no Código Penal brasileiro , no Capítulo dos Crimes contra a Administração da Justiça, cujo art. 338 estabelece: “Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena”. Somente a revogação, de competência exclusiva do Presidente da República, permitirá seu regresso. Ao Ministro da Justiça compete instaurar o inquérito, que na maior parte das infrações será sumário, não excedendo ao prazo de 15 dias. É assegurado o direito de defesa, mas não cabe pedido de reconsideração. O Ministro da Justiça poderá, a qualquer tempo, determinar a prisão, por noventa dias, do estrangeiro em processo de expulsão, podendo, igualmente, prorrogar tal medida por outro igual período. Caso o processo não se conclua no prazo de até 6 meses, o estrangeiro será posto em liberdade vigiada e, se vier a descumprir as condições de conduta impostas, pode ter sua prisão decretada novamente. Revela-se inexpulsável o estrangeiro que tenha cônjuge brasileiro, de quem não esteja separado de direito ou de fato, ou filho brasileiro sob sua guarda e manutenção econômica (art. 75). Contudo, o parágrafo 1º do mesmo artigo, ressalva que não impedem a expulsão, a adoção ou reconhecimento de filho brasileiro superveniente ao fato que a motivar. Igualmente, em se configurando o abandono do filho, o divórcio ou a separação do casal, a expulsão poderá ocorrer a qualquer tempo (Parágrafo 2º). Ainda com base no art. 75, da lei 6815//80, não se procederá a expulsão se esta implicar em extradição inadmitida pela lei brasileira. Expulsão e Refúgio: especificação introduzida no direito nacional, relativamente à expulsão é o disposto na Lei 9474, de 22 de julho de 1997, a chamada Lei de Refugiados, que, na verdade, se ocupa da implantação do Estatuto dos Refugiados de 1951, em nosso país. A matéria afirma, no direito interno, os compromissos do Brasil como signatário da Convenção de Genebra, de 1951, especificamente os artigos 32 e 33, daquela Convenção das Nações Unidas. Assim, a Lei nº 9474/97, em seu art. 36, é peremptória ao afirmar que não será expulso o refugiado que esteja regularmente registrado, exceto em caso de existirem motivos de segurança nacional ou ordem pública. E esclarece, no artigo 37 que, em caso de decretar-se a expulsão de um refugiado, esta não resultará em sua retirada para país onde sua vida, liberdade ou integridade física possam estar em risco, e apenas será efetivada quando houver certeza de que o mesmo irá para um país onde não haja riscos de perseguição. Para ultimar, uma referência a respeitáveis juristas brasileiros que, comentando o direito vigente no Brasil, ao analisar a natureza punitiva da expulsão, classificam-na como um provimento sancionatório da autoridade administrativa, embora não se constitua em pena, no sentido específico de sanção à conduta criminosa, imposta por sentença judicial. “Assim, pelas características de que se reveste, implicando restrição à liberdade de locomoção do ser humano no que afasta compulsoriamente o estrangeiro do território nacional, impõe-se a sua interpretação restrita, com observância dos princípios publicísticos da legalidade e da amplitude do direito de defesa” 0 . Com igual precaução e humanidade, manifesta-se Carvalho, face às consequências de que se reveste a expulsão, particularmente no direito brasileiro que a torna medida em caráter definitivo contra o estrangeiro, restringindo sua revogação a ato privativo do Presidente da República. A expulsão, pelo caráter discriminatório de que se reveste, é medida intrinsecamente odiosa. É preciso, pois, restringi-la aos casos reais e provadamente atentatórios da ordem pública, cujos limites devem ser precisamente determinados, quer através a jurisprudência administrativa, quer através da doutrina. A eficácia da expulsão, como medida de preservação da ordem pública, não vai a ponto de justificar lhe decretação sem o mínimo de observânciados princípios de defesa dos direitos humanos”.
Referências 
AZANHA. José M.P. et al. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica. São Paulo: Thomson, 2004. 
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________. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental - Ciências. Brasília: MEC. 1998. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencias.pdf . Acesso em 24/02/2009.
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CAHALI, Yussef Said. Estatuto do Estrangeiro. São Paulo: Saraiva, 1983. CARVALHO, Dardeau. A situação Jurídica do Estrangeiro no Brasil. São Paulo: Sugestões Literárias S.A., 1976.

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