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Aula 2


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Os anos de 1940 e 1950 podem ser delimitados como o momento especifico onde a educação de jovens e adultos começa a ser considerada como uma necessidade societária significativa no cenário internacional. Podemos, assim, identificar nesse momento histórico os determinantes políticos e pedagógicos que começaram a escrever a educação de adultos em nosso pais, a saber: 
CENARIO INTERNACIONAL: a ação da UNESCO ganha grande visibilidade no cenário internacional, principalmente pelo fomento e incentivo em prol da educação de adultos que esta organização passa a desenvolver em vários países.
CENARIO NACIONAL: a questão da educação de adultos passa a ser considerada um ‘problema nacional. Vivíamos um momento de transição entre modelo agrário-exportador para um modelo urbano-industrial. Nesse momento de redirecionamento da nossa economia, a questão da formação de mão de obra se torna um problema de primeira ordem. Devemos considerar o início de uma política oficial de educação de jovens e adultos, nesse período, como um fenômeno diretamente vinculado a dois processos específicos: o primeiro, o novo modelo econômico em curso necessitava de uma formação /instrução para s novos postos de trabalho nas industrias, e o segundo, vinculado a necessidade de aumento do contingente eleitoral. Não podemos esquecer que nesse período a alfabetização era um critério para o direito ao voto. Assim, teremos pela primeira vez em nossa legislação o reconhecimento do dever do estado e do direito do cidadão a educação. 
A constituição de 1934 fixa um plano nacional de educação e aponta como responsabilidade do estado o ensino primário, inclusive aos adultos (artigo 150), estendendo para essa faixa etária o ensino presencial e gratuito. Destaca-se, ainda, a criação do fundo nacional de ensino primário, em 1942, prevendo o alargamento da rede de educação popular, incluindo o ensino supletivo para adolescente e adultos analfabetos. Cresce. Por parte dos dirigentes da nação, a visão do analfabetismo das grandes massas de adultos como um problema nacional. Com o fim do estado novo, o país passa a educar os jovens e adultos da classe trabalhadora, tanto no que tange a alfabetização, através das campanhas nacionais e educação básica, quanto no que se refere a qualificação profissional, sendo, nesse último caso, a criação do serviço nacional de aprendizagem industrial (SENAI) o exemplo mais significativo. 
Iniciada em 1947, pelo governo federal, a campanha de educação de adolescente e adultos (CEAA), criada pelo ministério da educação e saúde, constitui-se na primeira política pública nacional oferecida a população brasileira não escolarizada. Em 1952, foi criada a campanha nacional de educação rural (CNER). Mesmo com essas iniciativas, a visão estigmatizadora de nossos governantes para a população não escolarizada se mantinha. Tais campanhas tinham um caráter profilático, onde o analfabetismo era considerado uma doença e o analfabeto era visto como incapaz e despreparado para o brasil moderno que estava sendo gestado pelas nossas elites. A primeira campanha durou até 1963 e teve seu período áureo entre 1947 e 1953. A partir de 1954, iniciou-se seu declínio até que em julho de 1958, foi realizado, em rio de janeiro, o 2o congresso nacional de adultos que ficou marcado pelo discurso recorrente de segmentos oficiais sobre o fracasso da campanha. Organizações da sociedade civil reclamavam da concepção dos educadores e gestores de tais campanhas, que consideravam o adulto analfabeto como incapaz; criticavam, ainda, o seu caráter eleitoreiro já que alfabetização em massas era a possibilidade real de uma formação para o jogo eleitoral do período e para o aumento do número de eleitores. 
Paulo Freie: o início dos anos da década de 60 marca a emergência de novas ideias pedagogias e a instauração de um paradigma educativo para a área. Esse processo se materializa quando uma série de iniciativas oficiais e não oficiais ganham projeção no cenário nacional da educação de adultos. No nordeste brasileiro, nesse período, tais iniciativas, acordos pelos escritos de Paulo freire, passam a relacionar questão do analfabetismo a situação de miséria a que estava submetida grande parte da população brasileira. Por esse paradigma, educar é acima de tudo um ato político.
O 2o congresso nacional de educação de adultos, realizado no rio de janeiro, em 1958, torna-se o epicentro para o país desse debate e dessa nova concepção para a educação de adultos. A delegação de Pernambuco, da qual fazia parte Paulo freira, defende, em seu relatório, que o problema do analfabetismo no Nordeste era um problema social, não um problema educacional. Para tais educadores, a miséria da população que gerava o analfabetismo: ou se enfrentava a miséria da população ou não se conseguiria enfrentar o analfabetismo de forma verdadeira e eficiente. Temos como destaque, ainda, no cenário dos movimentos sociais em prol da educação de adultos as seguintes iniciativas no período:
- Os centros populares (CPC), levados a cabo pela união nacional dos estudantes (UNE);
- O movimento de cultura popular (MCP) no recife/PE com o apoio do governo de Miguel Arraes;
- A campanha de pé no chão também se aprende a ler, da secretaria de educação de natal/RN, entre 1961 e 1964
- O movimento de educação de base (MEB), desenvolvido pela conferência dos bispos do brasil (CNBB), de 1961 a 1966.
Essas experiências reuniram uma concepção de adultos que se comprometia a incorporações em suas propostas político-pedagógicas das características socioculturais das classes populares. Tais movimentos de educação e cultura popular eram ligados a organizações sociais, a igreja católica e a governos progressistas que desenvolveram, em conjunto ou não, experiências de alfabetização de adultos, cujos objetivos eram a conscientização e a transformação social. Segundo Fávero (2004), esses movimentos significaram um salto qualitativo em relação as campanhas das décadas de 40 e 50 e representam um marco por terem inaugurado novas alternativas políticos-didáticos-pedagógicas para a educação das classes populares. Um dos movimentos sociais desse tipo de maior relevância foi o movimento de cultura popular (MCP). Os MCP instituíam os círculos de cultura que eram grupos populares que se reuniam com educadores nos centros de cultura. Foi em um desses círculos que teria surgido o paradigma que mais tarde influenciaria inúmeros projetos educativos desse período. Considera-se que é no interior desse movimento que nasce o chamado método de alfabetização de Paulo freire. Uma vez que os temas tratados nos círculos vinham de uma consulta aos grupos que estabeleciam quais temas seriam discutidos, cabendo aos educadores tratar a temática proposta pelo grupo. 
Estava posta a premissa do referencial freireano para a educação de adultos: o diálogo como princípio de uma educação voltada para libertação. Desse modo, a medida que a tradicional relevância do exercício do direito de todo cidadão a ter acesso aos conhecimentos universais uniu-se a ação conscientizadora e organizativa de grupos e atores sociais, a educação de adultos passou a ser reconhecida também como um poderoso instrumento de ação política. A principal característica dos movimentos da alfabetização de jovens e adultos era a influência do referencial freireano. Este entende a educação como instrumento de análise crítica da realidade (leitura do mundo) e como ferramenta para transformação de estruturas sociais injustas. Muitas atividades de educação de adultos, desenvolvidas na época, não pretendiam mais prestar a simples formação de um eleitorado acrítico. No bojo da intensificação do debate político sobre os problemas nacionais e busca de rumos para a sociedade, as chamadas reformas de base (reforma agrária, urbana, eleitoral, bancaria, educacional, etc.) ganham caráter central. 
Nesse contexto, e promulgada a primeira lei de diretrizes e bases – lei 4024/61, que reconhece a educação como direito de todos e ampliam-se assim as políticas públicas para educaçãode jovens e adultos, e destacando-se nesse momento os exames de natureza que possibilitavam a certificação para jovens e adultos não escolarizados. A questão do analfabetismo vai ganhando cada vez mais uma conotação política e o governo federal vão instituir, coordenado pelo MEC, em 1963, o plano nacional de alfabetização (PNA), que tinha como referência pedagógica a produção de Paulo Freire, que foi convidado a coordenar o programa. Tal iniciativa governamental tinha como objetivo alfabetizar cinco milhões de brasileiros sob a perspectiva de conscientização e organização política da população. Porem com o golpe civil-militar, todas as iniciativas governamentais e não governamentais foram suspensas e muitos dos militares do campo da educação de jovens e adultos foram presos ou exiliados. 
Síntese:
Nessa aula você:
Aprendeu o contexto histórico da Educação de Adultos no início da segunda metade do século XX; 
analisou os anos de 1940 e 1950 através das determinações internacionais em prol da educação de adultos e das Campanhas Nacionais de Alfabetização; 
analisou os anos da década de 60 através das iniciativas de Educação Popular e o legado de Paulo Freire.