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execução

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UFRRJ
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
Trabalho de Direito Processual Penal:
EXECUÇÃO PENAL
Ana Clara Arruda de Carvalho
2017
1. INTRODUÇÃO
	Execução penal é a aplicação de pena ou de medida de segurança fixada por sentença, sendo, em regra, um processo autônomo, isto é, os autos são reproduzidos por cópia e,formam novo volume. Tavora� complementa tal pensamento: 
“Diferentemente do processo de conhecimento (condenatório), onde pode ser encontrada situação de litisconsórcio passivo (com vários acusados com narrativa de imputação em coautoria ou participação em uma mesma denúncia ou queixa), é constituído um processo de execução por acusado, para que assim seja atendido adequadamente o princípio da individualização da pena.[…] No processo penal, a execução penal é um novo processo com caráter jurisdicional (porque se desenvolve perante autoridade judiciária e nele são proferidas decisões fundamentadas) e administrativo (eis que também implica uma série de providências tendentes a dar condições ao cumprimento da pena ou de medida de segurança em estabelecimento adequado), com o objetivo de efetivar as disposições de sentença ou de decisão criminal e oferecer condições para a integração social do condenado e do internado.” (TAVORA, 2016, p. 2368)
	Instituído pela Lei de Execução Penal, LEP, esse procedimento tem como objetivo executar a sanção penal judicialmente imposta, sem descuidar da imprescindível socialização ou ressocialização, com vistas à reinserção social. 
	Para Marcão a execução penal “sem dúvida de que sua natureza é jurisdicional.”� E completa: “Muito embora se desenvolva entrosadamente nos planos administrativo e jurisdicional, os verdadeiros rumos da execução são ditados pelo Poder Judiciário” �. Faz-se necessário salientar que o único legitimado pra a execução penal é o Estado, exequente, memo “em sede de ação penal privada, o título será sempre de natureza pública,[…] jamais o particular, a quem a lei outorga apenas o direito de acionar em juízo (jus persequendi in judicio), e não o direito de punir (jus puniendi).”� 
2. PRINCÍPIOS
2.1 INDIVIDUALIZAÇÃO E PERSONALIZAÇÃO DA PENA 
 
	A individualização na execução penal se dá com classificação dos condenados, segundo os seus antecedentes e personalidade, classificação esta que é realizada por Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento e que tem o dever de elaborar o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. “Tal Comissão é presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade e, nos demais casos, atuará junto ao Juízo da Execução e é integrada por fiscais do serviço social.”� Desse princípio decorre que a sanção penal deve ser individualizada no que toca a seu modo de cumprimento, levando em conta o caráter retributivo da pena e o seu objetivo ressocializador.
	Personalização da pena ou da intranscendência é a noção de que a pena não pode passar da pessoa do condenado, considerando que a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da Constituição Federam). Pode ser entendida, também, em conjunto com o princípio da individualização da pena.�
2.2 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA 
	O STJ editou a Súmula 533, consolidando o entendimento de que “para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado”. Portanto, existe a necessidade ampla defesa (defesa técnica), isso não significa dizer que o juízo da execução penal desconsidere as manifestações do apenado sem a assistência de advogado, o juiz da execução deve manter nos autos petições ou cartas subscritas pelo condenado, admitindo sua postulação leiga toda vez que signifique otimização do direito ao contraditório e à ampla defesa. Todavia, quando se tratar de possibilidade de restrição de direito do apenado, tal como pode ocorrer com a instauração de procedimento administrativo, segundo a súmula e o entendimento majoritário da doutrina, não basta a autodefesa, devendo ser garantida a defesa técnica, realizada por profissional habilitado. �
2.3 REEDUCAÇÃO E COOPERAÇÃO COMUNITÁRIA 
	A lei de execução penal tem ideologia reeducativa, pois a pena tem o objetivo de prevenir, reprimir e reintegrar socialmente o condenado, e a execução da pena tem a finalidade de efetivar o cumprimento da sentença penal condenatória e de realizar a recuperação do condenado – se a execução é de medida de segurança, sua finalidade é o tratamento médico psiquiátrico do interno. “A função reeducativa da execução penal pode ser depreendida não só pela feição preventiva da pena (ao lado de seu fito retributivo, punitivo), mas também pela previsão de direito do preso e do submetido à medida de segurança à assistência educacional, social e religiosa, consoante prevê o art. 41, VII, da Lei de Execução Penal.”�
	Já a cooperação da comunidade é o dever do Estado de integração do condenado na comunidade, através de organismos representativos, no acompanhamento das penas, acredita-se que com isso se torna o risco do condenado a reincidência, pois, findada a pena, possivelmente ele contará com apoio e reinserção no mercado de trabalho. �
2.4 HUMANIZAÇÃO
	“A Lei de Execução Penal tem seus dispositivos inspirados pelo princípio da humanização, encontrando respaldo na Constituição da República de 1988, que tem como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana. A preocupação do sistema brasileiro é o de prever penas que não violem esse fundamento. Tanto isso é exato que veda integralmente penas cruéis, de caráter perpétuo, de banimento e de trabalhos forçados, só admitindo a pena de morte nos casos previstos em lei e em situação de guerra declarada (art. 5º, XLVII). Decorre do princípio da humanização da pena a sujeição legal do condenado a “direitos e deveres, que devem ser respeitados, sem que haja excesso de regalias, o que tornaria a punição desprovida da sua finalidade”. Esses direitos e deveres previstos na Lei de Execução Penal e estudados adiante também encontram enlace na Constituição do Brasil, notadamente por garantir o respeito à integridade física e moral do preso (art. 5º, XLIX), pela previsão de que a pena deve ser cumprida em estabelecimentos diversos em compasso com a natureza do crime, idade e sexo do condenado (art. 5º, XLVIII) e por preconizar que as presas têm o direito a condições que assegurem a permanência de seus filhos com elas enquanto estiverem amamentando (art. 5º, I), Como se depreende, a Constituição Federal alberga um modelo constitucional de processo, que se aplica não só ao direito penal e processual penal, mas também ao direito de execução penal” (TÁVORA, 2016, p. 2382)
3. JUÍZO COMPETENTE
	Além de um princípio do direito, o juízo competente é uma obrigação na execução penal trazida pelo art. 65 da LEP. o juiz será indicado pela lei de organização judiciária conduzir a execução penal ou, na falta de previsão específica, será o juiz da sentença. Existem divergências doutrinaria sobre a competência do juízo para a execução das penas privativas de liberdade, a primeira corrente entende que o juízo competente para a execução é o juízo do local da condenação, ainda que o executado se encontre cumprindo pena em estabelecimento prisional localizado em outra comarca, sob outra jurisdição, já a segunda defende que o juízo competente é aquele do local em que se encontra o estabelecimento prisional, esta é a correntemajoritária e seguida pelo STJ, vide o enunciado nº 192, que pontua que compete à Justiça Estadual a execução de pena imposta a sentenciados pela Justiça Federal, quando recolhidos em estabelecimentos sujeitos a administração estadual. E, ainda, reiterou que “cabe à Justiça Estadual, ao conceder o benefício da prisão domiciliar ao apenado, tendo em vista a inexistência de vaga em estabelecimento prisional adequado ao regime estabelecido na sentença, prosseguir na execução da pena, inclusive para acompanhar o cumprimento das condições fixadas”. Entretanto, a competência do juízo de execução penal para fiscalizar os presídios não é exclusiva, uma vez que o Ministério Público e a Defensoria Pública também o dever de visitar as penitenciárias e as cadeias públicas. Nesse sentido, decidiu o STJ que a competência de fiscalização dos estabelecimentos prisionais, atribuída aos juízes da execução, não exclui a possibilidade de atuação do Parquet.� 
	Compete ao juiz das execuções, por exemplo, apreciar o pedido de retroatividade da lei penal mais benéfica, penais decidir acerca da pretensão de que seja aplicada a causa de diminuição de pena, entre outros. 
4. PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIME
	A Lei de Execução Penal adotou um modelo de sistema progressivo de cumprimento de pena privativa de liberdade, segundo o qual, atendidos os requisitos que especifica, o executado poderá passar de um regime mais rigoroso para outro mais brando, até que possa retornar definitivamente à vida livre, considerando sempre o intuito da reinserção do condenado a sociedade. Os requisitos são: objetivos (tempo de pena efetivamente cumprida) e subjetivo (mérito para a progressão, que deverá ser demonstrado em atestado de boa conduta carcerária firmado pelo diretor do estabelecimento prisional em que se encontrar). A satisfação de apenas um dos requisitos, isoladamente, não autoriza o benefício.�
“Em relação aos crimes hediondos e assemelhados, o Supremo Tribunal Federal expediu a Súmula Vinculante 26, que tem a seguinte redação: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.”(MARCÃO, 2012, p. 87)
4.1 PROGRESSÃO PARA O REGIME SEMIABERTO
	Também denominado regime intermediário, o regime semiaberto é aquele que, em regra, se iniciando o cumprimento no regime fechado, atendidos os requisitos, receberá progressão para. Cabe salientar que é possível que o condenado inicie o cumprimento da pena privativa de liberdade em qualquer dos regimes prisionais previstos na lei brasileira (fechado, semiaberto ou aberto). 
	Recebida a progressão, deverá ser transferido da penitenciária (art. 87 da LEP) para Colônia Penal Agrícola, Industrial ou similar (art. 91 da LEP). Nesse regime, durante o dia o executado fica sujeito ao trabalho em conjunto com os demais detentos, e é permitido o trabalho externo e a frequência a cursos em todos os níveis, inclusive profissionalizante. Na prática, existe o problema de falta é de vaga em estabelecimento adequado, então o executado recebe a progressão mas continua no regime fechado enquanto aguarda vaga que permita sua transferência. O STJ e STF, nestas hipóteses, entendem que o preso deve aguardar no regime aberto a superveniência de vaga, e como, em regra, também não há estabelecimento adequado para cumprimento de pena no regime aberto, o que se tem feito desde longa data é determinar que aguarde vaga em casa, mediante albergue domiciliar (art. 117 da LEP).�
4.2. PROGRESSÃO PARA O REGIME ABERTO 
	Estando o preso em regime semiaberto, pode obter progressão de regime para o aberto demonstrando que satisfaz os requisitos objetivo e subjetivo, sendo esses : cumprir 1/6 da pena restante e juntar atestado de boa conduta carcerária, nos casos de crime hediondo ou assemelhado, deve cumprir 2/5 da pena se primário, ou 3/5, se reincidente. Além dos requisitos gerais, também deverá comprovar a possibilidade de trabalhar, ficando dispensados o condenado maior de 70 anos, acometido de doença grave, com filho menor ou deficiente físico ou mental ou gestante. 
	No regime aberto o executado será sujeito às seguintes condições legais: permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado; além de outras condições que o juízo achar necessárias.�
4.3 ALBERGUE DOMICILIAR 
	Albergue domiciliar é o cumprimento de pena no regime aberto, em residência particular (em casa). Esta possibilidade só ocorre diante de casos realmente particulares, sendo impossível conceder albergue domiciliar fora das hipóteses taxativamente previstas no art. 117 da LEP. Os requisitos para o regime aberto, na modalidade domiciliar são: estar no regime aberto; encontrar-se em uma das situações que seguem: ser maior de 70 (setenta) anos; estar acometido de doença grave; ter filho menor ou deficiente físico ou mental; gestante. Não se deve confundir a prisão albergue domiciliar com a prisão domiciliar substitutiva da prisão preventiva, portanto, de natureza cautelar, regulada nos arts. 317 e 318 do CPP. �
4.4. REGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL
	A regressão é o agravamento da situação do condenado, o transferindo para regime mais rigorosos. Dentre as hipóteses legais que autoriza regressão está o cometimento de crime doloso ou falta grave (art. 118, I da LEP), não sendo necessário aguardar o término das investigações ou sentença condenatória, seja o crime doloso punido com reclusão ou detenção. A falta grave autoriza regressão, e neste caso é preciso consultar os arts. 50 e 52 da LEP, por serem estes os únicos dispositivos que indicam, de forma taxativa, quais são as condutas que ensejam falta grave no cumprimento de pena privativa de liberdade. �
		
5. ANISTIA E INDULTO
	A anistia e o indulto são benefícios concedidos como decorrência da soberania estatal, competência do Congresso Nacional e, por decreto, do Presidente da República. A anistia abrange o coletivo, pois determina a extinção da punibilidade de um crime, já o indulto pode ser individual ou coletivo, extinguindo a punibilidade de crimes cometidos apenas pelos contemplados, quando individual é denominado de graça na Constituição do Brasil, e pode ser total – alcança todas as sanções impostas ao condenado – ou parcial – somente uma redução ou substituição da sanção aplicada. O coletivo “é concedido espontaneamente (de ofício) pelo Presidente da República a diversas pessoas que se encontrem em determinadas condições ou situações estabelecidas em decreto, o indulto individual ou graça é pleiteado pelo interessado ou por quem o represente ou pelo próprio Ministério Público ou pelo Conselho Penitenciário ou por qualquer autoridade administrativa, por petição, encaminhada ao Conselho Penitenciário, para este órgão emitir o competente parecer e encaminhá-lo ao Ministério da Justiça. […] Depois de concedido o indulto e anexada aos autos cópia do decreto, o juiz declarará extinta a pena ou ajustará a execução aos termos do decreto, no caso de comutação”.�. 
	“Em que pese a citada vedação constitucional ao indulto (art. 5º, XLIII, CF/88), discute-se a possibilidade de sua concessão no chamado ‘tráfico de drogas privilegiado’. Previsto no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, representa a redução de pena do agente de 1/6 a 2/3 em razão da sua primariedade e bons antecedentes, desde que ele não se dedique a atividades criminosas, nem integre organização criminosa. O STJ tem rechaçado reiteradamente este benefício sob o argumento de que, a despeito da acentuada redução da sanção penal, ‘remanescea tipicidade’ do crime – e, assim, a vedação criada pelo constituinte. Nesse sentido: ‘É pacífico o entendimento do STJ de não ser possível o deferimento de indulto a réu condenado por tráfico ilícito de drogas, ainda que tenha sido aplicada a causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, já que remanesce a tipicidade do crime. O STF já asseverou a inconstitucionalidade da concessão do indulto ao condenado por tráfico de drogas, independentemente do quantum da pena imposta, diante do disposto no art. 5º, XLIII, da CF’. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, reconheceu a relevância do tema, tendo afetado ao Plenário da Corte a análise da hediondez do delito de tráfico privilegiado.” (TÁVORA, 2016, p. 2439)
	Renato Marcão deixa claro que “a anistia não se confunde com a abolitio criminis”, pois trata-se de “um ato político que tem embasamento constitucional”, uma vez que refere-se “como regra, a crimes políticos, militares ou eleitorais, embora nada impeça sua aplicação a outros tipos de ilícitos penais, consistindo em medida de interesse geral, coletivo, inspirada por razões políticos”, pois ela “dirige-se a fatos e não a pessoas”. Concedida a anistia, o juiz, de ofício, a requerimento do interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário, declarará extinta a punibilidade, produzindo o esquecimento total do fato e desaparecer as consequências penais.�
	
6. REMIÇÃO
	O condenado que cumpre pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho, parte do tempo de execução da pena, o que se aplica também aos presos provisórios, conforme decorre dos arts. 114, I, e 132, § 1º, a, ambos da LEP. Para cada 3 (três) dias de trabalho regular, nos moldes do art. 33 da LEP, o preso terá direito a 1 (um) dia de abatimento da pena a cumprir (LEP, art. 126, § 1º, II).�
	Existia uma lacuna legislativa sobre remição por estudo, levando a uma divergência entre doutrina e jurisprudência sobre essa possibilidade. Pra Marcão é “sempre entendemos cabível a remição tomando por base o tempo dedicado ao aprimoramento estudantil”,e o Superior Tribunal de Justiça já possuía a Súmula 341: “A frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semiaberto”. Então a Lei n. 12.433/2011 alterou o art. 126 da LEP, para incluir a normatização da remição por estudo. O atual art. 126, caput e § 1º, inciso I, da LEP, assegura o direito à remição por estudo, na proporção de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três) dias. Admite-se a acumulação dos casos de remição (trabalho + estudo), desde que exista compatibilidade de horário e carga horaria. � 
	Para beneficiar-se da remição o preso deve se encontrar no regime fechado ou semiaberto. Nos termos do art. 126, § 7º, da LEP, é possível a remição por estudo também em relação ao preso cautelar (preso em razão de prisão preventiva), ficando a possibilidade de abatimento condicionada, é claro, à eventual condenação futura.� 
7. DETRAÇÃO PENAL
“Detração penal consiste no cômputo, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, do tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em estabelecimento prisional, consoante prevê o art. 42, do Código Penal. Nada mais natural que o abatimento na pena definitiva, ou na medida de segurança, do tempo de cárcere cautelar, em verdadeiro sistema de compensação. Segundo parâmetros jurisprudenciais, esta compensação pode ser feita com o tempo da prisão ocorrida em outro processo 200 , mas não poderá se dar em relação aos crimes cometidos posteriormente à custódia cautelar 201 . Ressalte-se que, com o advento da Lei nº 12.736/2012, que alterou o art. 387 do Código de Processo Penal, a operação da detração deverá ser feita pelo juízo sentenciante, esvaziando-se, portanto, o instituto no âmbito da execução penal. Com efeito, é esta a redação do novel dispositivo: ‘O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade’ (art. 387, § 2º, CPP)” (TÁVORA, 2016, p. 2445)
8. EXAMES CRIMINOLÓGICOS
	Segundo o art. 8º da LEP, o exame criminológico tem por finalidade coletar elementos aptos a proporcionar a adequada classificação e orientar a individualização da pena. Esse exame é obrigatório para o condenado ao cumprimento de pena no regime fechado, e facultativo para o condenado ao regime semiaberto. Ele envolve a avaliação geral de referências psicossociais, de personalidade, de antecedentes, caráter etc., e tem foco nas investigações no fenômeno delito-delinquente, com vistas a compreender o executado subjetiva e objetivamente, bem como o modo e o delito praticado.� 
Existe uma discussão sobre o cabimento, ou não, de exame criminológico por ocasião da progressão de regime prisional, considerando a modificação imposta na redação do art. 112 da LEP. Marcão critica tal mudança: 
“Mudou para pior, registre-se, motivo pelo qual advogarmos a volta do exame criminológico obrigatório para determinados tipos de crimes, especialmente em relação aos hediondos e assemelhados e também para aqueles praticados com violência real ou grave ameaça contra a pessoa, mas daí a corrigir ‘na caneta’ as impropriedades do legislador é algo que não podemos aceitar tranquilamente. É claro que, da maneira como está, o legislador terminou por facilitar a obtenção de benefícios prisionais, com a possibilidade de que algum condenado desmerecedor termine por receber benefício com o qual a rigor não deveria ser contemplado, mas nem isso justifica desconsiderar a – embora equivocada – clara opção expressamente adotada pelo legislador. No império da lei, não podemos simplesmente ignorar a mudança, apenas porque não foi virtuosa.” (MARCÃO, 2012, p. 29)
	Entretanto, a doutrina majoritariamente, e também a jurisprudência, admitem que o juiz pode no caso concreto determinar a realização de exame criminológico com vistas à aferição de mérito para progressão de regime prisional. A esse respeito, a Súmula 439 do STJ tem a seguinte redação: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”.E como já foi discutido, nos casos de crimes hediondos e assemelhados, a luz Súmula Vinculante 26 do STF. �
9. LIVRAMENTO CONDICIONAL
 O livramento condicional é benefício conferido ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos, sob determinadas condições. Para a concessão do benefício, o art. 83 do Código Penal prevê os requisitos objetivos e subjetivos, os objetivos são: pena privativa de liberdade aplicada seja igual ou superior a 2 (dois) anos, admite-se a soma de todas as penas sob execução (art. 84 do CP); o executado tenha cumprido determinada fração da pena; e reparação do dano causado pela infração, fixada pelo juiz na sentença condenatória, salvo se o executado provar nos autos que não conta com recursos financeiros que permitam a reparação, ou que o valor desta é de difícil apuração, podendo ser deferido o livramento condicional independentemente da satisfação deste pressuposto objetivo. Os subjetivos são: comprovação de comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído, aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto, e, para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, constatação de condições pessoais que façam presumir que não voltará a delinquir.�
 Atendidos tais pressupostos o juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento, sendo impositivas ao liberado condicional sempre as seguintes obrigações: obter ocupação lícita,dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação; não mudar do território da comarca do juízo da execução, sem prévia autorização deste. Podendo ser impostas outras obrigações convencionadas pelo juízo. Assim que concedido o benefício, é de ser emitida carta de livramento com a cópia integral da sentença em 2 (duas) vias, com a remessa de uma via à autoridade administrativa incumbida da execução e de outra ao Conselho Penitenciário. A seu turno, a cerimônia do livramento condicional deve ser realizada solenemente no dia marcado pelo Presidente do Conselho Penitenciário.�
	O benefício poderá ser revogado obrigatoriamente ou facultativamente. Na primeira hipótese de revogação, o liberado, em razão da prática de novo crime, vem a ser irrecorrivelmente condenado a pena privativa de liberdade, salientando que é apenas a prática de crime, e não de contravenção penal, constitui causa de revogação obrigatória. A simples prática do crime determina a suspensão do livramento, e não a revogação. Para a revogação, é imprescindível que a condenação seja irrecorrível; tenha transitado definitivamente em julgado. Por outro lado, haverá possibilidade de revogação facultativa, caso o liberado deixe de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade. O magistrado ouvirá o apenado, possibilitando o contraditório que será exercido por defesa técnica e pessoalmente, caso se verifique a necessidade de sua oitiva, para a decisão de revogação ou não do livramento. �
10. REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. 5 de outubro de 1988. Disponível em : <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
BRASIL, Lei Nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a lei de execução penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. 
BRASIL, Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>
MARCÃO, Renato. Execução penal. Editora Saraiva, Coleção saberes do direito, volume 9. São Paulo, 2012.
TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. Editora JusPODIVM, 11° edição. Salvador, 2016.
�	TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. Editora JusPODIVM, 11° edição. Salvador, 2016.
�	 MARCÃO, Renato. Execução penal. Editora Saraiva, Coleção saberes do direito, volume 9. São Paulo, 2012, p. 22
�	Ibidem, idem.
�	Ibidem, p. 23.
�	TÁVORA, op. cit., p. 2375
�	Ibidem, p. 2376.
�	Ibidem, p. 2379.
�	Ibidem, p. 2381.
�	Ibidem, p. 2382.
�	Ibidem, p. 2373.
�	MARCÃO, op. cit., p. 85.
�	Ibidem, p. 89.
�	Ibidem, p. 90.
�	Ibidem, p. 91.
�	Ibidem, p. 95.
�	TÁVORA, op. cit., p. 2438.
�	MARCÃO, op. cit., p. 146.
�	Ibidem, p. 100.
�	Ibidem, idem.
�	Ibidem, p. 101.
�	Ibidem, p. 28.
�	Ibidem, p. 30.
�	TÁVORA, op. cit., p. 2450.
�	MARCÃO, op. cit, p. 110.
�	Ibidem, p. 111 e 112.

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