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Estudo da Viabilidade do Poliestireno Expandido (EPS) na produção de edificações com baixo impacto ambiental Carolina Brandão Moraes (1) Paula de Castro Brasil (2) (1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, bolsista de iniciação científica - UNESA, Brasil. E-mail: carolina.bmguimaraes@gmail.com (2) Professora dos cursos de Arquitetura e Engenharia civil da Universidade Estácio de Sá – UNESA e Unilasalle - RJ, Brasil. E-mail: paulabrasil_arq@yahoo.com.br Resumo:A busca constante por uma indústria construtiva mais sustentável reflete em diversas frentes e resulta na adoção de condutas como a minimização do consumo de matérias-primas, otimização dos recursos naturais e da utilização de novas e diversas tecnologias construtivas que possam reduzir os impactos ambientais gerados na produção de edificações. Neste sentido, a presente pesquisa procurou mostrar o emprego do EPS - Poliestireno Expandido na construção civil. Para tanto, realizou-se um levantamento dos principais usos /aplicações do EPS no mundo. A partir do levantamento foram sistematizadas as principais vantagens e entraves na produção de edificações de baixo impacto ambiental. Como resultado, foi possível constatar a viabilidade e as possibilidades de uso do EPS visando o baixo impacto no canteiro de obras e a qualidade do espaço construído. Palavras-chave: Poliestireno Expandido (EPS); Sustentabilidade; Técnicas construtivas. Abstract: The constant quest as a Constructive Industry more Sustainable reflected in Several fronts and results in the pipes Adoption how to minimize the consumption of raw materials, optimization of natural resources and use of new and different Constructive Technologies that might collect the environmental impacts in Building production. In this sense, the present study sought to show the EPS (Expanded Polystyrene ) employment in Construction. To this end, we carried out a survey of the main uses / EPS applications in the world. From the survey were systematized the main advantages and barriers in the production of low environmental impact buildings. As a result, it determined the feasibility and EPS of using possibilities aimed at low impact on the construction site and the quality of the built environment. Palavras-chave: Poliestireno Expandido (EPS); Sustentabilidade; Técnicas construtivas. 1. INTRODUÇÃO As atividades humanas impactam diretamente no meio ambiente. Estas atividades podem levar à degradação, poluição e esgotamento das áreas que sofreram com a ação humana e a alteração do clima do planeta. Uma das ações humanas que mais impactam no meio ambiente é a indústria da construção e, por esse motivo, é uma das forças motriz para o atendimento de metas de desenvolvimento sustentável. (SILVA, 2003) A sustentabilidade na construção civil tem como um objetivo amenizar os impactos das edificações no ambiente construído e seu entorno. A concepção espacial de uma edificação implica em desde o processo do projeto, construção e gestão da obra, até os resultados futuros e seus respectivos impactos gerados no ambiente. Consideram-se assim a importância de uma análise criteriosa sobre os possíveis impactos que pode gerar determinada construção e como gerar uma edificação mais sustentável. Dentre os benefícios de uma construção sustentável está a otimização de custos da obra através do reuso de materiais, como por exemplo, a redução e otimização do consumo de materiais e energia, redução dos resíduos gerados gerando mais limpeza no campo de obra, preservação do ambiente natural e na melhoria da qualidade do ambiente construído. Nessa busca por melhorias na indústria construtiva e por uma arquitetura de baixo impacto ambiental, frente aos desafios atuais, a incorporação de novas tecnologias construtivas, que diminuíssem os gastos, gerassem menos resíduos, e obtivessem o mínimo de impacto no ambiente, se tornou inevitável. 1.1 Justificativa De acordo com Barbieri (1990), a inovação tecnológica corresponde a toda mudança numa dada tecnologia. É pela inovação que se introduz efetivamente um novo produto ou processo ou se aperfeiçoam os já existentes por intermédio das seguintes ações: criação de novo processo produtivo ou alterações nos processos existentes; modificações no produto existente, ou a substituição de um modelo por outro; introdução de novos produtos integrados verticalmente aos existentes; e a introdução de um novo produto que exige novas tecnologias. A busca por novas tecnologias no mercado da construção civil tem como cerne o alcance de vantagens atrelado principalmente ao aumento da produtividade e a diminuição da mão-de-obra. Visa- se também o atual mercado frente ao impacto que ela gera ao meio ambiente, tornando a preocupação por uma maior qualidade ao ambiente construído que gere o menor impacto possível, inerente. A fim de identificar novas possibilidades de materiais com baixo impacto ambiental no canteiro de obras, o presente estudo deu ênfase ao EPS. 1.2 Objetivo O desenvolvimento do presente artigo teve como principal objetivo explorar os aspectos gerais do Poliestireno Expandido (EPS) dentro do contexto de sustentabilidade, e analisar suas possibilidades dentro da construção civil, um dos maiores consumidores de recursos naturais, causando com isto um grande impacto no meio ambiente. 1.3 Método empregado Primeira etapa da pesquisa: levantamento do uso do EPS na construção civil nos contextos nacional e internacional. Sistematização das vantagens e possibilidades de uso do material na produção de edificações. Segunda etapa da pesquisa: análise da avaliação do EPS na certificação ambiental BREEAM. Análise dos entraves do EPS na produção de edificações. 2. POLIESTIRENO EXPANDIDO (EPS) 2.1 Aspectos gerais do Poliestireno EPS, sigla de Expanded PolyStyrene ou Poliestireno expandido, muito conhecido no Brasil como ISOPOR®, marca registrada da Knauf Isopor Ltda. Este material foi descoberto em 1949 pelos químicos Fritz Stastny e Karl Buchholz. O EPS é uma espuma sólida com uma combinação única de características, como a leveza, propriedades de isolamento, durabilidade e uma excelente processabilidade. É composto por plástico celular rígido, resultante da polimerização do estireno em água. Como agente expansor para a transformação do EPS, emprega-se o pentano, um hidrocarbureto que se deteriora rapidamente pela reação fotoquímica gerada pelos raios solares, sem comprometer o meio ambiente. Sua matéria-prima é originada principalmente do petróleo e seu material é extremamente leve, considerando que é composto de 98% de ar. Expandidas, as pérolas consistem em ate 98% de ar e apenas 2% de poliestireno. Em 1m³ de EPS, por exemplo, existem de 3 a 6 bilhões de células fechadas e cheias de ar. (ABRAPEX, 2000) Percebendo assim suas características isolantes, leveza, resistência, facilidade de trabalhar em função da flexibilidade para moldes e baixo custo em função das vantagens oferecidas, o EPS ganhou nos últimos anos um destaque, ainda que inexpressivo, no mercado da construção civil. 2.1.1 Uso do EPS no contexto internacional De acordo com a Associação Europeia de EPS, a EUMEPS a indústria de EPS detém uma participação no mercado de 35% do total do mercado de isolamento para a construção na Europa. EPS tem sido um material isolante de bom desempenho e sustentável ao longo dos últimos 40 anos e reconhecido por certificações ambientais. Segundo Silva (2003), o BREEAM, sistema de certificação britânico desenvolvido pelo Building Reserch Establishment (BRE), foi pioneiro e lançou as bases de todos os sistemasde avaliação ambiental de edifícios orientados para o mercado que seriam posteriormente desenvolvidos em todo o mundo, como por exemplo, o certificado LEED. Uma avaliação BREEAM usa medidas de desempenho, que são definidas em relação aos parâmetros estabelecidos para avaliar especificação projeto, construção e utilização de um edifício reconhecido. As medidas utilizadas representam uma ampla gama de categorias e critérios. Eles incluem aspectos relacionados á energia e uso da água, ao ambiente interno (saúde e bem-estar), poluição, transporte e materiais, que é o caso da avaliação do EPS. (BREEAM) A análise feita pelo Building Research Establishment, Reino Unido (2011), em que se estabelece uma classificação ambiental dos materiais, de acordo com seu ciclo de vida, varia de D (mais baixa) até A+ (Mais alta). Dentre as classificações, o EPS obteve sua classificação ambiental na categoria Isolamento térmico e acústico: A + (Tabela 01). Tabela 01: Classificação do material EPS (Expanded Polyestyreno) pelo BREEAM Fonte: http://www.warmafloor.co.uk Observa-se ainda, através do gráfico do ABRAPEX (Associação Brasileira de Poliestireno Expandido), a produção mundial de material em EPS no mundo é em torno de 2.95 milhões de toneladas. Figura 01: Gráfico da produção mundial de EPS em 2000 Fonte: ABRAPEX, 2015. Consta-se no gráfico acima que a Europa é a maior produtora e consumidora desse material em diversos fins, sendo o mais expressivo deles, a construção civil em virtude das possibilidades de uso. 2.1.2 Aplicação e possibilidades de uso do EPS na construção civil O EPS tem sido um material de escolha alternativo devido à sua versatilidade técnica, desempenho e custo-eficácia. É amplamente utilizado em muitas aplicações cotidianas, onde suas características de peso leve, resistência, durabilidade, isolamento térmico e absorção de choques económicos, fornecem produtos de alto desempenho. Figura 02: Gráfico dos principais usos do EPS no mercado Europeu Fonte: http://www.plasticseurope.org/ Os principais usos do EPS tanto no mercado internacional, quanto no Brasil, se dividem em Construção Civil, uso de embalagem e outros que variam desde cenário para teatro, até produtos náuticos e peças de decoração, sendo o mercado da construção civil, o mais notório. São diversos os usos do Poliestireno expandido na construção civil, inclusive em obras de estruturas grandes, como estradas e ferrovias. A espuma rígida de EPS é comprovadamente um material isolante que pode suportar variações de temperaturas de -50º a +80º Celsius, sendo assim um material isolante, capaz de suportar variações de temperaturas (COMISSÃO SETORIAL DE EPS, 2007). Ainda de acordo com a Comissão Setorial de EPS (2007), o material tem variações de usos dentro do mercado da construção civil, desde sistemas construtivos como Wall System, que é um sistema construtivo composto por estrutura metálica e painel sanduíche de lâminas em compósitos reforçados com fibra de vidro e núcleo em EPS e gesso rígido, Geofoam, solução geotécnica para estabilização de solos moles com blocos de EPS (Poliestireno Expandido), até sua utilização em Lajes, isolantes térmicos, molduras e fôrmas. Dentre as possibilidades no uso do EPS, observou-se que em todo o mundo, a mais utilizada ainda tem sido a produção de painéis de vedação e divisórias. Isso ocorre em função das propriedades de isolamento termo acústico que o mesmo oferece. 3. RESULTADOS OBTIDOS 3.1 Vantagens do EPS na produção de edificações com baixo impacto ambiental Com objetivo de verificar as possibilidades do material e expandir o seu uso na produção de edificações, o presente artigo sistematizou as principais propriedades do material e suas respectivas vantagens na produção de edificações de baixo impacto ambiental (tabela 02). PROPRIEDADES VANTAGENS SUSTENTABILIDADE Baixa condutividade térmica A estrutura de células fechadas, cheias de ar, dificulta a passagem do calor o que confere ao isopor um grande poder isolante. Conforto termo acústico; Redução do consumo de energia. Baixo peso As densidades do isopor variam entre os 10-30 kg/m³, permitindo uma redução substancial do peso das construções quando utilizado como sistema construtivo. Redução do uso de materiais em canteiro; redução de peso e materiais na fundação. Resistência a intempéries O EPS está ausente de qualquer valor nutritivo, por isso fungos ou microrganismos não podem crescer com EPS. Durabilidade do material Resistência mecânica Apesar de muito leve, o isopor tem uma resistência mecânica elevada, que permite o seu emprego onde esta característica é necessária. -- Baixa absorção de água O isopor não é higroscópico. Mesmo quando imerso em água o isopor absorve apenas pequenas quantidades de água. Tal propriedade garante que o isopor mantenha as suas características térmicas e mecânicas mesmo sob a ação da umidade. Durabilidade do material; Conforto hidrotérmico. Facilidade de manuseio O baixo peso do isopor facilita o manuseamento do mesmo em obra. -- Versatilidade Flexibilidade na forma e facilmente cortado e moldado. Possui resistência química capaz de ser compatível com a maioria dos materiais usados na construção civil, tais como cimento, gesso, cal, água, entre outros. Integração no processo de produção da edificação; redução de desperdício e resíduos em canteiro de obras. Tabela 02: Propriedades do EPS e suas vantagens Fonte: Autoras, 2015 Figura 2: Gráfico de resistência à compressão FONTE: ABRAPEX, 2010 Quando utilizado juntamente ao concreto, chamando assim de concreto leve, possui as seguintes vantagens (tabela 03): Redução significativa da densidade aparente do concreto; Agilidade na movimentação de peças pré-fabricadas; Reduzida absorção de umidade, implicando em maior durabilidade para o concreto. Tabela 03: Características Normativas do EPS Fonte: ABNT NBR 11752, 2007 3.2. Entraves no uso do EPS na Construção Civil Observa-se ainda uma certa resistência quanto ao uso do EPS nas edificações, devido ao desconhecimento da economia que o material proporciona. Por ser um material relativamente novo no mercado da contrução civil, normalmente há certas resistências em aderi-las e nas formas de manuseio. Em se tratando de painéis de EPS, este porém, apresentam algumas restrições de uso. O poliestireno expandido quando exposto a temperaturas acima de 80ºC, começa a ter seu núcleo degradado. Em caso de incêndio, tais valores são facilmente superados e, com o núcleo danificado, há perda de estabilidade da edificação. Ressaltam que os materiais indicados para esses casos são os que têm núcleos compostos por poliuretano (PUR) e poliisocianurato (PIR). Nas construções feitas em EPS é recomendável blindagem dos sistemas elétricos para evitar qualquer contato. “Instalação elétrica mal dimensionada no interior do painel pode provocar aquecimento da fiação, gerando algumas chamas. Por isso, só é aconselhável a passagem das instalações elétricas por dentro dos painéis se forem os produtos PUR ou PIR. É possível projetar os dutos para passarem na parte interna dos painéis”. Afirma Ricardo Panhan, engenheiro diretor Comercial para América Latina na Isoeste Construtivos Isotérmicos. Em uma pesquisa realizada entre empresasque manuseiam o EPS na cidade de Chapecó/SC, pode observar os seguintes dados quanto as desvantagens: Tabela 03: Desvantagens apontadas ao uso do EPS Fonte: TESSARI (2006) De acordo com Tessari (2006), no que tange às desvantagens, a baixa aderência do reboco ao EPS foi apontada como predominante. Neste sentido, blocos especiais de EPS para enchimento de lajes industrializadas foram desenvolvidos com o intuito de minimizar este aspecto da baixa aderência. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável dentro da indústria da construção civil, no que tange desde pequenas habitações à grandes edificios, que alinhe questões ambientais e gere maior redução de impactos ambientais tem levado profissionais da construção civil a analisar os processos de produção, técnicas construtivas e materiais. Na busca pela produção de edificações com baixo impacto ambiental a presente pesquisa teve enfoque na utilização do EPS, como um material alternativo que pode cumprir com tais necessidades. A partir dos estudos foi possivel identificar as vantagens do EPS em diversas áreas da construção civil no que tange ao processo produtivo, flexibilidade do material e sustentabilidade da edificação e canteiro. Entretanto, foi possível constatar que a maior demanda do material ainda está relacionada com as propriedades termo acústicas do material. Entende-se também que apesar do baixo uso do material, ele vem ganhando destaque na Europa em funçaõ da facilidade de moldagem, o que favorece a forma arquitetônica, e suas propriedades térmo acústicas. Já no Brasil a sua utilização ainda é mínima e em função do conforto acústico fornecido pelo material. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACEPE. Associação Industrial do Poliestireno Expandido. Disponível em http:// www.acepe.pt. Acesso em 20.06.15 ABRAPEX. Associação Brasileira do Poliestireno Expandido. O EPS na Construção Civil: Características do poliestireno expandido para utilização em edificações. São Paulo, set. 2000. ABNT NBR 11752:2007 – Disponível em: http://www.abntcatalogo.com.br/. Acesso em 30.05.15 BARBIERI, J.C..Produção e Transferência de Tecnologia. 1 ed. São Paulo: Ática S.A, 1990. BREEAM, Building Research Establishment Environmental Assessment Method. (2011). Disponível em http://www.breeam.org/ EUMEPS – European Manufacturers of expanded polystyrene. Disponível em http://www.eumeps.construction/ Acesso em 02.09.15 EPS – Poliestireno Expansível. Comissão Setorial, (2007). Disponível em http:// www.epsbrasil.eco.br/ Acesso em 02.09.15 SAADE, M. R. M.; SILVA, M.G; GOMES, V.; FRANCO, H.G.; SCHWAMBACK, D.; LAVADOR, B. Proposition and preliminary analysis of a core set of indicators to describe materail eco-efficiency of Brazilian buildings. In: Smart and Sustainable Built Environment, 2012, São Paulo. Proceedings...São Paulo, 2012. SILVA, V. G - Avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros: diretrizes e base metodológica. 2003.Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. TESSARI, J. - Utilização de poliestireno expandido e potencial de aproveitamento de seus resíduos na construção civil (2006) AGRADECIMENTOS As autoras agradecem à UNESA pela bolsa de iniciação científica e auxílio à pesquisa.
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