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Quilombos 2


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Introdução
No Brasil, as comunidades negras saídas da escravidão seguiram uma tradição construída ao longo do período escravocrata, que se autodefine a partir das relações com a terra, o território, o parentesco, a ancestralidade e práticas culturais próprias. O termo Quilombolas vem passando por diferentes definições, influenciadas pela história, pela política, marcadamente por uma classe dominante, que só após a promulgação da Constituição de 1988, vêm sendo revertidas. 
Já são mais de 3.000 comunidades quilombolas espalhadas pelo território nacional, segundo a Fundação Quilombo dos Palmares. O Incra é o órgão competente, na esfera federal, pela titulação dos territórios quilombolas. A emissão de Certidão de Autodefinição de Comunidade Remanescente de Quilombo reconhece que a população e a área que ocupam têm relação com os antigos quilombos. (INCRA, 2015)
Segundo o art. 68, ADCT, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Estado deve preservar a identidade étnica e cultural dos remanescentes de Quilombos com a concessão de títulos de domínio, garantindo aos membros da comunidade uma vida digna, conforme o princípio da dignidade da pessoa humana, insculpido no art. 1º, inciso III, CF/88.
Quilombolas por todo País lutaram e lutam para fazer valer o direito à propriedade de suas terras garantida pela Constituição Federal. Não tem sido fácil. São considerados como uma “minoria étnica vulnerável”, por um “Estado cuja as formações tem constituído políticas sociais subordinadas a interesses econômicos e políticos de uma burguesia, interesses esses que nascem em momentos específicos quando se torna necessário calar as necessidades e as reivindicações dessa minoria”(DILENO DUSTAN, 2003).
Diante disso, visamos com a nossa pesquisa abordar uma comunidade quilombola, para conhecer seus modos de subsistência e a efetiva participação do Estado na preservação de sua identidade étnica e cultural. 
Objetivos
Analisar o modo de vida da comunidade Quilombola Caraibas, localizada no semiárido de Sergipe;
Verificar se essa comunidade tem efetivamente acesso aos direitos assegurados pelo art. 68, ADCT da Constituição de 1988;
Apresentar modos de subsistências Agroecológicos alternativos às formas habituais de manuseios de terra e criação de animais.
Metodologia
A pesquisa foi realizada na comunidade Quilombola Caraíba, que fica a 120km da cidade de São Cristóvão, nosso ponto de partida. Localizada no semiárido sergipano, possui uma área de 3.085 ha, e fica na divisa entre 5 municípios: Canhoba, Aquidabã, Amparo de São Francisco, Telha e Cedro de São João. O ponto de encontro foi na sede provisória da Associação Quilombola Dona Paqueza Piloto e participaram da pesquisa cerca de 20 moradores da comunidade, entre mulheres, homens e crianças.
Quanto ao tipo de pesquisa realizada, tratou-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, uma vez que o principal objetivo foi proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo – nesse caso, a própria comunidade quilombola.
Quanto ao procedimento utilizado para a coleta de dados, foi realizado um estudo de campo, por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevista aberta com os participantes, buscando captar as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade. Além disso, aplicou-se um questionário com sete perguntas a respeito do saber empírico existente na comunidade, relativo às condições climáticas necessárias para o plantio.
Resultados
Ao iniciar a apresentação, a coordenadora da Comunidade Quilombola Caraíbas -Dona Néze - nos conta que o povoado foi originado com a chegada da família Piloto e logo após a família Sertão, onde encontraram um lugar apropriado para o refúgio e liberdade para produzir seu próprio alimento com o solo fértil do local. Ela também relembra os problemas que seus bisavós, avós, pais e ela vêm passando até hoje.
O grande problema começou quando a pecuária começou a tomar posse das suas terras na época onde a “estrutura e distribuição da propriedade fundiária – aliada a circunstância de que em geral é a grande propriedade que ocupa as terras mais favoráveis, seja pelas suas qualidades naturais, seja pela sua localização – faz com, que, de um lado, uma considerável parcela da população rural se encontre insuficientemente aquinhoada, e não disponha de terra suficiente para sua manutenção em nível adequado. ” (Caio Prado Jr, 1979)
A grande maioria dos quilombolas tiveram que trabalhar em situações deploráveis de miséria material e moral, para fazer pequenos plantios em troca de uma baixa remuneração e ao final tinham que plantar o capim dos gados. Com a venda das roças para outros proprietários, foi privado o acesso às terras, fazendo com que a comunidade viesse a viver totalmente desprovidos de terra e cercados por arames farpados. 
Como eles vivem em contato com a natureza e as variações climáticas, foi possível notar o seu modo empírico de observar o clima: sabe-se quando vai chover observando a força do vendo e as nuvens que estão por vim; a melhor época para plantar e colher observando a lua. Enquanto nós vivemos presos por grossas paredes  de concreto e ferro das nossas casas, sem observar  lua, sol, céu, solo, vento, flora...(SOROKIN; ZIMMERMAN; GALPIIN 1981).
As necessidades por falta de terra, emprego, estudo, entre outros faz com que os quilombolas comecem a migrar do campo para a cidade cada vez com  mais frequência, como dona Néze disse varias vezes: “Espero que meus filhos se libertem das correntes que os escravizam, desse sistema”, referindo-se a alguns de seus filhos que moram na área urbana, onde vivem com em contato com um sistema mais completo e intenso do que são acostumados no campo.
Como era dia de semana e quando chegamos era por volta das 09:00 horas da manhã, pudemos observar um número imenso de mulheres e crianças no salão onde iria acontecer a reunião, onde vivem 145 famílias quilombolas. Logo a frente do salão a escola publica e o posto de saúde onde se encontrava um grupo de jovens entre 17 a 25 anos que mostraram não ter muito interesse no assunto: a vida no campo “não da futuro a ninguém” devido às condições atuais, comentou um dos jovens. As mulheres que ali se encontravam relataram que a grande parte dos homens da comunidade trabalha na cidade durante o dia e volta para casa no fim da tarde. Uma realidade que se espalha por toda comunidade.
Apresentação dos projetos:
Foi apresentado um projeto de criação de suínos por alunos do 2º e 3º períodos do curso de Agroecologia do Instituto Federal de Sergipe, que teve o objetivo de mostrar a diferença entre o sistema de criação ao ar livre e o confinado e qual a melhor raça para ser criada em cada ambiente. Chegando à conclusão que as duas melhores raças são a Piau e Large White. Além disso, concluiu-se que a criação ao Ar Livre tem um baixo custo de implantação quando comparado ao sistema de confinamento, melhor reaproveitamento dos resíduos alimentares orgânicos, menor custo de produção por leitões. É necessário o uso de cercas elétricas e abrigos móveis, podendo existir simultaneamente com culturas vegetais perenes (consórcio com abacateiros, mangueiras ou outras), aproveitando assim as suas sombras. A atividade de criação ao Ar livre é considerada secundária do ponto de vista econômico, pois não há preocupação ou objetivo econômico, sendo que a atividade passa a ser extrativista, ou no máximo, de subsistência.
A segunda apresentação foi sobre Biodigestor, com o objetivo de aproveitar os resíduos orgânicos que vão para o lixo para criação do biogás, que pode ter o seu potencial energético aproveitado em cozimento, aquecimento, refrigeração, iluminação, incubadores, misturadores de ração, geradores de energia elétrica, etc. Quando esse biogás acaba, o que fica no recipiente é biofertilizante muito rico em nutrientes que servem para melhorar o desenvolvimento das plantações. 
A terceira apresentação foi sobre Sistema Agroflorestal (SAF), ondetodos assistiram um vídeo de 11 minutos que mostrava um SAF com mais de 15 anos de existência. Com finalidade de mostrar que é possível ter cultivos que combinam culturas anuais ou forrageiras com espécies arbóreas junto a animais na mesma área de forma simultânea ou sequencialmente. Esse sistema visa aumentar a produtividade total de plantas e animais de forma sustentável por unidade de 
área, conservando o solo e a água e diminuindo a pressão de uso da terra para produção agrícola, aumentando também a disponibilidade da matéria orgânica no solo e a proteção contra extremos climáticos e ventos.
Conclusão
Analisando o modo de vida da comunidade quilombola, podemos perceber que são vários os fatores que dificultam a sua inserção num modo de produção sustentável e compatível com os direitos assegurados pela Constituição. Dentre eles, podemos citar a falta de uma política pública que incentive de forma contínua esse modo de produção sustentável, a predominância de latifúndios cujos os limites extrapolam a área que, de direito, pertence à comunidade, etc.
Por outro lado, percebemos também um movimento voltado para a reafirmação dos valores identitários e culturais dessa comunidade, o que contribui para que tais valores sobrevivam e sejam transmitidos para as gerações futuras, fortalecendo os laços desse povo marcado por uma luta incessante em busca de sua liberdade.
Biográficas
SOROKIN; ZIMMERMAN; GALPIIN 1981
ESTRUTURA FUNDIÁRIA. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/estrutura-fundiaria/quilombolas > Acessado em 26 out. 2017
TÍTULO DE DOMÍNIO. Disponível em: < http://www.incra.gov.br/titulacao > Acessado em 25 out. 2017
O QUILOMBO AINDA É UM ESPAÇO DE RESISTENCIA. Disponível em: < http://www.teoriaedebate.org.br/?q=materias/nacional/o-quilombo-ainda-e-um-espaco-de-resistencia > Acessado em 26 out. 2017
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/constituicao.asp > Acessado em 25 out. 2017
QUILOMBOS BRASILEIROS RESISTEM A EXCLUSÃO. Disponível em: < http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-gerais/2007/agosto-2007/quilombos-brasileiros-resistem-a-exclusao > Acessado em 26 out. 2017
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=e+inciso+III+%2C+do+artigo+1%C2%BA+%28dignidade+da+pessoa+humana%29&c= > Acessado em 25 out. 2017
CONSTITUIÇÃO. ADCT DE 1988 - PUBLICAÇÃO ORIGINAL. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/conadc/1988/constituicao.adct-1988-5-outubro-1988-322234-publicacaooriginal-1-pl.html > Acessado em 26 out. 2017
FUNDAÇÃO PALMARES, CERTIFICAÇÃO AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/01/fundacao-palmares-certifica-29-comunidades-quilombolas > Acessado em 25 out. 2017
BIODIGESTOR CASEIRO. Disponível em: < http://bgsequipamentos.com.br/blog/tag/biodigestor-caseiro/ > Acessado em 26 out. 2017
SISTEMAS AGROFLORESTAIS SAF’S. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/112/sistemas-agroflorestais-safs > Acessado em 26 out. 2017
DILENO DUSTAN, Os limites dos movimentos sociais na sociedade capitalista. In: Revista Universidade & sociedade, ano XII, nº 29, março de 2003, p. 218-225.
COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS. Disponível em: < http://www.palmares.gov.br/comunidades-remanescentes-de-quilombos-crqs > Acessado em 26 out. 2017
COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO BRASIL. Disponível em: < http://geografia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=47 > Acessado em 26 out. 2017
A PROTEÇÃO CONFERDA PELO ART. 68 ADCT AS COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBO: Disponível em: < http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-protecao-conferida-pelo-art-68-adct-as-comunidades-remanescentes-de-quilombos,51732.html > Acessado em 26 out. 2017