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ARTIGO DE PSICO FIDES

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AS EXPECTATIVAS E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO AFETIVO- EMOCIONAL NA ADOÇÃO MONOPARENTAL
Emilly Jeanne Pereira Da Costa
Francisco Matheus Cavalcante Rezende
Paula Renata de Oliveira Gomes
Túlio César Pereira Filho
RESUMO
O presente trabalho trata-se de uma estudo sobre adoção monoparental. Baseado em pesquisa bibliográfica e ainda numa entrevista semi-dirigida realizada com um adotante solteiro, procura-se entender a evolução histórica do entendimento social de como se constitui a estrutura familiar; se, e como, a legislação brasileira acompanhou esse processo evolutivo; além de analisar, em um caso específico, as dificuldades encontradas tanto no processo legal de adoção como no processo de gestação emocional e de aceitação da família com a realidade monoparental. Encontrou-se muitas dificuldades, a necessidade de adaptação dos órgãos públicos a essa nova construção familiar e evolução cultural da sociedade.
Palavras-chave: Adoção Monoparental. Legislação. Expectativas. Afeto. 
INTRODUÇÃO
		Para falar sobre o tema da adoção é de suma importância entender o sistema familiar e as suas relações concernentes. Ainda exige mais compreensão e debate quando esse processo é protagonizado por pessoas que decidem adotar crianças sozinhas e formar um núcleo familiar sem a figura tradicional de duas pessoas, ou seja, a monoparentalidade. 
		Nos dias de hoje devido a diversas transformações sociais, políticas e morais, o conceito de família se modificou e apresenta um leque de possibilidades e combinações. Questões como a homossexualidade, monoparentalidade, adoção, divórcio e outros fizeram com que se expandisse as formas possíveis de se criar laços afetivos e, consequentemente, familiares. É importante ressaltar a questão de se falar em laços afetivos, uma vez que as definições de família apenas por laços sanguíneos já não mais apresentam nem nos dicionários.
		Ainda que seja possível encontrar definições que englobem tamanha diversidade, ainda é comum encontrar resistência social quando se fala em formação familiar que não se enquadre nos padrões ditos tradicionais. Nessa perspectiva, o núcleo familiar composto de casais homoafetivos, monoparentais ou por filhos ainda enfrentam dificuldades de aceitação. Os avanços no campo legislativo demonstram uma tentativa por parte do Estado em mudar este cenário, ainda que não tenham contribuído de forma mais significativa.
		Em relação a adoção, ao longo do tempo, esta passou por algumas regulamentações para que se pudesse ganhar forma e fosse capaz de trazer maior segurança aos processos adotivos. O processo demanda um tempo considerável com capacidade de testar a verdadeira intenção daquele que se dispõe a entrar na fila de espera por uma criança ou adolescente. 
		A monoparentalidade através da adoção se apresenta como uma opção de escolha familiar diferente de outros modos de como se podem chegar a se configurar essa formação. A sua peculiaridade faz com que haja entraves tanto em relação a própria aceitação social quanto em aspectos de ordem administrativa. 
		Dessa forma, é possível indagar acerca dessa problemática e, ainda, de forma mais complexa tendo como foco a monoparentalidade, fazendo a pergunta de como se dá no processo de adoção a construção dos sentimentos em relação a nova constituição familiar e as dificuldades encontradas?
	O objetivo geral deste artigo é investigar, do ponto de vista de um adotante solteiro, como funciona o processo de adoção. Em relação ao objetivo específico, este se delimita na compreensão de como se dá, no processo da adoção monoparental, a construção dos sentimentos, das motivações e das expectativas em relação a nova constituição familiar. Os procedimentos técnicos utilizados foram a pesquisa bibliográfica feita a partir de artigos disponíveis na internet e da coleta de dados a partir de uma entrevista semi-dirigida com roteiro pré-estabelecido. Os dados obtidos através da pesquisa e entrevista permitem verificar uma acepção mais íntima do tema.
2 AS EXPECTATIVAS E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO AFETIVO- EMOCIONAL NA ADOÇÃO MONOPARENTAL 
2.1 FORMAÇÃO FAMILIAR ATUAL E A MONOPARENTALIDADE 
		Em decorrência dos intensos debates acerca dos aspectos sociais, morais, religiosos, histórico e jurídicos em relação à formação familiar, vieram a surgir grandes alterações ocorridas no seio da sociedade sobre o conceito de família. É possível perceber que o contexto temporal somado aos fatores culturais, políticos e econômicos influenciam de forma marcante e determinante no que se vem a considerar a família. Contudo, a concepção basilar desse conceito pode ser extraída de todas elas. (VASSAL, 2012).
		Dessa forma, as maneiras de se constituir família se ampliaram, dando espaço para a formação de entidades compostas não só por laços sanguíneos, mas também através do afeto. De acordo com Carmen Lacerda (2006), no início do século XXI, a monoparentalidade aumentou de forma significativa no Brasil, sendo esta formação familiar a que mais cresceu no país. As causas para isso são diversas, tendo como o aumento das separações e divórcios a sua principal razão. Outros motivos são abandono do parceiro de união eventual da qual resulta gravidez, da adoção por pessoas solteiras, ou, ainda, da produção independente. Ou seja, a monoparentalidade, muitas vezes, não é um mero resultado de um divórcio ou separação entre casais. Ela também é constituída através da própria escolha individual, compondo-se de pessoas que decidem adotar crianças sozinhas, sem necessariamente compor uma relação conjugal.
		Apesar de se considerar a monoparentalidade um fenômeno atual, a sua ocorrência é, como se percebe, um evento ascendente. Além das concepções antropológica, sociais e morais, a questão familiar é também amparada pela legislação jurídica. A constituição Federal do Brasil de 1988 traz em seu art. 226, § 4°, a seguinte disposição: “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Dessa forma, é possível entender que a formação familiar monoparental é assegurada também constitucionalmente.
		Em relação a adoção, esta é marcada por diversos fatores que envolvem todo o processo até o encontro da criança com o adotante. As questões envolventes são de caráter jurídico, psicológico e emocional também. Durante o processo de adoção é possível verificar que, assim como uma gestação natural, a formação da extensão parental, composta por futuros tios, tias e avós, também acontece. Essa relação de parentesco, como aponta Dias (2006) pode gerar, em alguns casos, uma espécie de desconforto por parte da família que pode vir a não aceitar os novos laços recém construídos. 
2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA ADOÇÃO NO BRASIL
		No decorrer dos séculos a adoção no Brasil sofreu diversas mudanças substanciais, saindo de um cenário ausente de respaldo jurídico até a conjuntura presente nos dias hodiernos. Até o século XX esse fato se dava unicamente em casos nos quais os casais não possuíam filhos biológicos, tal processo se configurava a partir da concessão de uma criança que havia sido deixada em conventos ou Santas Casas denominadas de Roda dos Expostos, tal nomenclatura recai na literalidade da forma desse procedimento baseado em uma roda acoplada na janela ou muro dos lugares supracitados onde seu formato permitia menores com idade máxima de 7 anos. Uma vez articulado essa criança passava para o lado interno do presbitério conservando, então, seu anonimato. Todavia, a estrutura elencada vilipendiava a dignidade desses desamparados; mesmo quando começavam a constituir-se na família a qual os adotavam, devido não lhes caber garantias de direitos assegurados juridicamente. No jornal Folha da Noite de São Paulo, l.ª ed. do dia 23 de fevereiro de 1946, no artigo "A Roda dos Enjeitados", encontra-se o seguinte:
[...] em cada criança abandonada pode ser lida uma história de mulheres chorando, da família blasfemando, de juras quebradas, de doenças graves, de tentativas de suicídio, de ameaçasde morte, de fraqueza que é sempre chamada para encobrir atos pelos quais os preconceitos da sociedade fria e incompreensível a condenaria ao degredo moral.
		Posteriormente, são iniciadas as transmutações abrindo espaço para a incorporação de uma visão voltada a necessidade de proteger as crianças. A inclusão da temática no direito de família brasileiro surge em 1916 através da promulgação da lei 3.071, presente no código civil, esta lei prescrevia o consentimento da adoção para pessoas de idade mínima de 50 anos e que não possuíam filhos. Dessa forma, consequentemente, circunscrevia apenas para dos indivíduos que não tinha filhos biológicos; somado caber-lhe uma diferença entre as idades de 18 anos, também no mínimo. A questão tocante da adoção feita individualmente e não por um casal já se formatava ostensivamente visto que a lei asseverava e tinha seu desenvolvimento de maneira contratual, ou seja, inexistia a progressão judicial. Além disso a lei não versava no ponto dos direitos dos pais biológicos por, preponderantemente, não se ter contraposições. 
		As mudanças ocorridas subsequentemente levam bastante tempo a calhar, foi preciso 40 anos para o enfoque da estimulação da adoção ser acolhido. Ademais, a lei seguinte, ano de 1957, trouxe no seu formato uma exigência peculiar, delimitando ainda mais em termos da realização por parte de casais, em virtude de ressaltar o estabelecimento oficial de 5 anos de relacionamento. Outrossim fundamental foi na idade reduzida de 30 anos da pessoa na qual viesse a adotar, admitindo-lhes a diferença entre as partes de 16 anos. Notoriamente, uma das transformações mais importantes ergue-se com a constituição da lei 4.655 de 1965, cabido a legitimidade adotiva concedendo aos filhos adotivos os direitos nos quais antes não lhes eram proferidos, ou seja, passam a ser similares aos dos filhos biológicos. Alguns elementos reverberaram e mentem sua vigência atualmente, sendo tais: impossível a dissolução da adoção, ou seja, é irrevogável além de a criança passa a não possuir nenhuma ligação legal referente a família biológica graças ao fato de existir uma ruptura a partir deste processo. Tal situação se elucida na alocação:
É preciso lembrar que não é o sangue, mas a convivência que gera o amor filial. Assim sendo a afeição que o adotado tem por aqueles que considera como pais é tão sincera e tão acentuada como a que outros sentem por seus pais legítimos. Imagine-se em tal situação, quais poderiam ser os efeitos que o impacto da revelação poderia trazer ao espírito em formação do menor adotado! Toda sua vida poderia, a rigor, vir a ser afetada. (DIAS, 1964) 
		A luz da Constituição de 1988 o procedimento de amparo recebeu atenção fundamentada no artigo 227, posto que auxiliou a igualdade almejada entre os filhos uma vez que expressa: “Os filhos havidos ou não da relação de casamento, ou adoção, terão os mesmo direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias à filiação”. Com base na Lei 12.010 de 2009 o Estatuto da Criança e do Adolescente passou por algumas reformulações, essa lei tem validade jurídica na atualidade denominando-se Lei da Adoção; possuindo como composição não apenas as questões de adoção, entretanto todo o contexto de convivência familiar. A vertente desenvolvida, na sequência, se perfaz na distinção entre legitimidade adotiva e a lei da adoção. No primeiro caso o objetivo está no avanço daqueles que haviam sido abandonados e não possuíam inclusão na família dos adotantes. 
		Mesmo com o desenvolvimento e benefícios alcançadas graças as ávidas melhorias na roupagem da legitimação da adoção o processo é fatidicamente extenso abalando as expectativas familiares e dos jovens, já que se configura burocraticamente aliado a um abismo preenchido de empecilhos no contato entre os pretendentes à adoção e as crianças. Tal insatisfação é evidenciada nas reclamações por parte dos adotantes em relação ao ECA no qual se exemplifica no discurso uma vez exposto por Bárbara Toledo. Segunda vice-presidente da Associação Nacional dos Grupos de Adoção, o principal empecilho enfrentado no processo de adoção é que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - Lei 8069/90) por determinar que a adoção seja o último recurso. 
2.3 A CONSTRUÇÃO AFETIVO-EMOCIONAL NA ADOÇÃO
		A chegada de um adotando é capaz de transformar sentimentos, mãe em avó, irmão em tio e também o novo quartinho da casa. Embora seja mais comum e conveniente falar de uma gestação natural com todas as expectativas que a envolvem com a preparação para a chegada do bebê através do nascimento, a relação de adoção também envolvem essas expectativas. Ainda que seja menos usual, os laços familiares irão se modificar e também se inicia uma construção afetiva.
		De acordo com Ozoux-Teffaine (2004 apud ALVARENGA; BITTENCOURT, 2013, p. 44), a chegada da criança adotada se assemelha muito como ocorre em um nascimento. Há toda a criação ilusória da maternidade ou paternidade pelos pais que expressam intensas expectativas acerca da nova etapa a ser vivida. Ainda de acordo a autora, o processo de encantamento gerado leva a uma demanda de cuidado e atenção proporcionada à criança que a faz reivindicar ser o único amor dos pais, representando a construção afetiva primária.
		Durante esse período inicial há uma fase marcada por uma espécie de desilusão causada por atitudes agressivas em que a criança passa por um momento no qual vivencia angústias e problemas com a aceitação. Através dessa posição esquizo-paranoide, como afirma Ozoux-Teffaine (2004 apud ALVARENGA; BITTENCOURT, 2013, p. 44), em sentido de uma posição depressiva é que há de se vincular-se aos pais adotivos reais. Nessa etapa, a autora insiste, é esperado que os pais adotantes sejam capazes de superar esse momento, sem abalar profundamente a sua capacidade parental. Dessa forma, é aguardado que se mantenham a estabilidade a fim de que haja a continuidade, uma vez que o oposto disso pode evidenciar a vivência traumática pré-existente da criança.
		Conforme aponta Winnicott (2000), a idealização projetada pelos pais acerca do desejo parental através de um processo de ilusão e desilusão sobre ela é importante para o amadurecimento da relação com a criança. Isso é importante, pois como afirma Levy, Pinho e Faria (2009) as maiores causas de devolução de crianças em um período pré-adoção são as dificuldades em lidar com as desilusões resultantes das frustações, falta de vínculo e incapacidade de conter a agressividade da criança.
		Com isso, é possível perceber a necessidade de um acompanhamento psicológico no processo de adoção com ressalvas a necessidade de ampliar o tempo se for necessário, sem que haja uma especificação taxativa quanto a isso. Ainda é evidente que o processo de construção afetivo se dá através de etapas e que, acima de tudo, devem ser compreendidas para uma relação saudável entre pai e filho.
2.4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DA ENTREVISTA
	
		A fim de apreender sobre os desafios e a experiência de uma adoção monoparental, já que “é durante o trabalho de campo que se estabelecem relações de intersubjetividade, das quais resulta um confronto entre a realidade concreta com os pressupostos teóricos” (MINAYO, 1996), optou-se por fazer uma entrevista semiestruturada. A mesma seguiu um roteiro preestabelecido formulado a partir dos objetivos da pesquisa.
		Para tal, G.B., solteiro, 45 anos, que detém a guarda definitiva de um garoto de 6 anos há 12 meses, se prontificou a responder as perguntas para que se pudesse desvelar as percepções e representações de quem experienciou um processo de adoção desta natureza, com intenção de, assim, obter informações mais subjetivas ou simbólicas.[1: O nome não foi divulgado para resguardar a identidade do entrevistado.]
		Os temas surgiram a partir das respostas do entrevistado e foram organizados em tópicos que serão abordados a seguir. 
2.4.1 Motivos para adoção
		Confirmando o que Villa (2001) afirma sobre o assunto, a adoção estudada foi realizadapelo simples e puro desejo. O entrevistado relata que a maior motivação para adotar foi o desejo de constituir uma família, mesmo que o tivesse que fazer sozinho, sem um companheiro ou companheira para dividir a guarda.
“Queria ser pai a qualquer custo”.
		Ele alegou também que se sentiu muito incentivado por entrevistas e reportagens acerca da realidade da adoção no Brasil, a quantidade de crianças à espera de um lar, fato que o fez escolher a adoção em detrimento dos outros métodos naturais ou convencionais.
2.4.2 Processo de adoção e sentimentos experienciados a partir dele
		A adoção toda transcorreu dentro dos trâmites legais. O processo em si iniciou-se com um momento em que foi realizado uma série de palestras com um Juiz de Direito com o intuito de instruir os candidatos sobre o processo de adoção, bem como uma breve explanação sobre os direitos e deveres de uma criança. A formação foi complementada com momentos com uma equipe de psicólogos e assistentes sociais. A partir daí é que se entra na fila de adoção. A etapa mais difícil do processo, para o entrevistado, foi exatamente essa longa lista de espera para que se houvesse a determinação de qual criança seria destinada a ele. A seguinte fala exprime a opinião do entrevistado acerca do processo como um todo:
“[O processo] é demorado, doloroso, mas necessário e completo. É uma forma de também dar uma garantia à criança que somente pessoas capazes e preparadas cuidarão delas. Muita gente não está pronta para adotar uma criança, idealizam toda uma situação em sua cabeça e acabam se frustrando até mesmo no primeiro contato. Uma criança a ser adotada não é uma página em branco, é um livro que já começou a ser escrito. Por isso é tão importante o acompanhamento psicológico, para que as pessoas tirem suas dúvidas e reflitam se é isso mesmo que querem”.
		Como bem coloca Maria Antonieta Motta em seu artigo “Adoção”, a morosidade do processo traz consequências as vezes irreparáveis, tanto para a criança quanto para o adulto. Muitas vezes se observa que, por mudanças na própria vida do adotando, esse desejo de adotar pode ir diminuindo. Nesse sentido, a autora vem a ressaltar:
É louvável o objetivo da lei em comprovar a compatibilidade entre as partes e verificar as probabilidades de sucesso da adoção, e compreende-se que para isto uma série de cuidados e providências prévias à sua concretização devam ser tomados. Entretanto, o prolongamento demasiado do processo faz com que, quando os pais adotivos tenham finalmente a criança, muito já aconteceu na vida deles e na vida dela em um período decisivo para a formação sadia do psiquismo infantil.
		Motta volta a reafirmar que os pais precisam estar preparados para aceitar a criança como ela é, mesmo que não venha a atender à expectativa dos adotantes.
		O entrevistado salienta que no começo também tinha uma perspectiva que um vínculo seria criado logo. Relata que sempre teve muitas expectativas e uma certa ansiedade quanto ao rosto da criança, como ele seria. Por ter decidido adotar sozinho, conta que não havia ninguém com quem pudesse dividir esses sentimentos, como por exemplo um companheiro ou uma companheira, o que tornou toda a experiência e vivencia mais intensa
		Ao receber a notícia que a vez dele havia chegado, foi logo conhecer a criança, e a partir daí iniciou os preparativos para receber a criança, como acontece em uma gestação normal, por exemplo. Relata que deu início na decoração do quarto da criança e sempre que podia comprava roupas e brinquedos. Desde desse momento, dentro das situações do dia-a-dia e de lazer, começou a imaginar como seria a vida:
“Sempre que eu viajava ou fazia alguma atividade de lazer eu imaginava como seria se ele estivesse lá comigo também, como seria a minha vida com ele.”
		Contudo, com a morosidade que o processo foi conduzido, ao final dele as roupas não serviriam mais na criança, nem mesmo os brinquedos, que seriam considerados infantis demais, tendo o entrevistado doado tudo posteriormente. Salientou-se, portanto, que a expectativa gerada foi similar à de uma gravidez normal, tirando o fato que se durou dois anos e não nove meses:
“Costumo brincar que tive uma gestação de um elefante asiático, que leva cerca de 22 semanas para conhecer seus filhotes.”
		O entrevistado também sublinha que não havia decidido o nome que daria à criança, tendo perguntado à própria como ela gostaria de ser chamada, e mesma respondeu prontamente, tendo o adotando acatado o pedido.
2.4.3 Adaptação dos pais e dos filhos
		O tema foi abordado para tentar compreender como se deu a adaptação tanto por parte do adotante quanto do adotado. Em relação ao primeiro, ocorreu, como supracitado, uma espécie de adaptação adiantada já no processo da “gestação emocional”, uma espécie de gestação psicológica, como destacado por Schettini Filho (1998).
		Já por parte do adotado, o entrevistado narra que a adaptação não foi tão simples. Por se tratar de uma criança que sofreu na infância, observou-se problemas de comunicação e de insegurança. Entende-se que mais ainda do que em uma adoção de bebês, a adoção tardia traz consigo toda a carga experiencial carregada pelo adotado, marcada por decepções e sofrimentos, o que demanda um cuidado extra. (WEBER, 2004)
 		Em uma das situações relatadas, o entrevistado diz que no começo sempre haviam olhares desconfiados, e situações na qual o adotando se ausentava por poucos segundos eram suficientes para que o adotado ficasse com receio dele estar o abandonando.
		Todavia, o entrevistado destaca que o processo de criação deste vinculo paternal foi evoluindo com o tempo. Hoje, ressalta que conversam bastante, reafirmando que o vínculo está sendo criado desta forma, e que foi descobrindo aos poucos mais traços da personalidade dele: um menino amável e que só quer ver esse amor retribuído. Todo dia era um novo aprendizado. Nas respostas, o entrevistado não conseguiu esconder a emoção ao falar dessa ligação construída:
“O vínculo hoje é bastante forte. Às vezes, estou dormindo no meu quarto e ele me acorda no meio da noite só para dizer que me ama, me dá um beijo e volta a dormir. Coisas que sempre esperei no início, mas que nunca aconteciam. ”
		Para tentar facilitar a processo de adoção no que tange a adaptação, a nova lei de adoção n° 12.010 de 2009 tentou diminuir em âmbito legal as dificuldades encontradas. Em seu artigo 28 § 5o, afirma que a colocação da criança ou do adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados por equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude. No artigo 50 § 3o, temse que a inscrição de postulantes à adoção também será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude.
2.4.4 Dificuldades enfrentadas
		As dificuldades aqui se referem, particularmente, àquelas enfrentadas pela aceitação social e familiar de uma adoção monoparental, bem como os percalços de se criar uma criança sozinho. A criança se encontra muito bem adaptada e perfeitamente aceita pela chamada família externa, não encontrando nenhum obstáculo até esse ponto. Contudo, o entrevistado nos conta que nem sempre foi assim. Seu irmão mais velho adotou uma criança há dez anos, e enfrentou certa resistência dentro da própria família. Ele acredita que essa realidade mudou a partir da naturalização da adoção no decorrer dos anos.
		Quanto à esfera social, ele fala que não se observa muitas dificuldades ou preconceitos velados. O entrevistado acredita que sua posição como professor universitário de formador de opinião, pois fala e debate muito sobre o assunto, inibe qualquer tipo de atitude ou comentário discriminatório. Todavia, reconhece o preconceito à pais solteiros e que querem adotado, e que também isto está mudando:
• “Indagações do tipo ‘como essa criança vai crescer sem uma mãe?’ sempre serão constantes. Mas isso vem mudando. Engraçado que, nesse último dia das mães,recebi mensagens, inclusive de pessoas mais conservadoras e mais velhas, de felicitações pela data, por entenderem que eu faço os dois papéis, tanto de pai quanto de mãe”.
		Com relação às questões burocráticas, afirmou que enfrentou problemas com relação à confecção dos novos documentos do seu filho. Lembra que ao tentar fazer o Cadastro Único de Pessoas (CPF), se deparou com o despreparo de uma funcionária, que o direcionou para a sede da Receita Federal por não saber como lidar com a situação, uma vez que nesse documento é necessário constar o nome da mãe. Ele conclui a fala, então, dizendo que o maior problema é a falta de informação. Essa sim é a maior dificuldade e obstáculo enfrentado.
CONCLUSÃO
		Entende-se então que o conceito de família evoluiu bastante ao longo dos anos e que, atrelado a ele, os entendimentos acerca da adoção também progrediram. É evidente também, e de fundamental importância, que o ordenamento jurídico do Brasil como um todo, desde leis ordinárias à Constituição Federal de 1988, acompanhou a sociedade, sempre dando respaldo e legitimidade para as novas formas de interação que foram surgindo. 
		De uma maneira geral o Brasil encontra-se em um estado bem avançado de entendimento no que diz respeito à questão da adoção, até mesmo a monoparental. Algo que antes era visto apenas como última alternativa de um casal para a construção de uma família, hoje em dia, com certa facilidade, é aceita jurídica e culturalmente como uma simples opção de qualquer cidadão, ainda que solteiro, de construção da mesma. No entanto, há ainda um longo caminho a percorrer e algumas conquistas a serem alcançadas. Do ponto de vista social, questionamentos como "Como essa criança vai crescer sem mãe (ou pai)?" ainda ocorrem e geram constrangimento a adotantes solteiros. Por outro lado, algumas questões burocráticas, como realizar o Cadastro de Pessoa Física (CPF) sem haver o nome da mãe, apresentam-se como dificuldades e faz-se necessário, o quanto antes, a regulamentação de alternativas para casos como esse. São questões até certo ponto compreensíveis, considerando-se o atual momento como um período de adaptação da sociedade como um todo em relação a essas novas construções da família. Entende-se, portanto, que naturalmente serão absorvidas e superadas.
		Tomando por base os relatos do entrevistado e as demais fontes de pesquisa, constata-se o elevado grau de complexidade de um processo de adoção. A começar pelo trâmites legais, pois são várias as fases a serem vencidas até a conclusão do processo. Vale salientar, porém, que esse aspecto é compreendido com facilidade levando em consideração tamanha importância que tem o ato de se confiar a guarda de uma criança a outrem. Os aspectos emocionais, por sua vez, são ainda mais complexos, tendo em vista o grande número de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, em um processo como esse. Incluem-se nesse ponto não só os principais interessados (adotante e adotando), mas também a família do adotante, que podem ou não reagir bem a essa mudança, os servidores envolvidos nos trâmites etc. Deve-se levar em consideração que, quase que invariavelmente, as crianças prestes a serem adotadas passaram por diferentes traumas em sua vida, possivelmente lidando até com a ideia de terem sido abandonadas por seus pais, o que só torna mais difícil a aproximação das mesmas com uma nova família, pois o receio de serem abandonadas mais uma vez é inevitável. Tudo isso torna a construção dos vínculos ainda mais complexa e constitui-se como mais um obstáculo a ser vencido na gestação emocional.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Lidia Levy de; BITTENCOURT, Maria Inês Garcia de Freitas. A delicada construção de um vínculo de filiação: o papel do psicólogo em processos de adoção. Pensando fam., Porto Alegre, v. 17, n. 1, p. 41-53, jul.  2013. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679494X2013000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 12 jun.  2017
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BRASIL. Nova Lei Nacional de Adoção. Brasília: Câmara dos Deputados, 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12010.htm>. Acesso em: 03 mai. 2017.
DIAS, M. C. S. B. A importância da família extensa na adoção. In: SCHETTINI, S. S. M.; SCHETTINNI FILHO, L. (Ed.). Adoção: os vários lados dessa história. Recife: Bagaço, 2006. p. 173‑193
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LACERDA, Carmen Sílvia Mauricio de. Monoparentalidade: um fenômeno em expansão. 2006, 193 fls. Dissertação de Mestrado – Centro de Ciência Jurídicas/Faculdade de Direito do Recife. Universidade Federal de Pernambuco. Recife.
Levy. L., Pinho, P. G. R. & Faria, M. M. (2009). “Família é muito sofrimento”: Um estudo de casos de “devolução de crianças”. Psico, 40(1), 58-63.
MINAYO, M. C. S (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Ed. Vozes. 1996.
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THE EXPECTATIONS AND THE AFETIVE-EMOTIONAL CONSTRUCTION PROCESS IN MONOPARENT ADOPTION
ABSTRACT
This paper is about a study on single-parent adoption. Based on bibliographical research and in a semi-directed interview conducted with a single adopter, we try to understand the historical evolution of the social understanding of how the family structure is constituted; If, and how, the Brazilian legislation followed this evolutionary process; Besides analyzing, in a specific case, the difficulties encountered both in the legal process of adoption and in the process of emotional gestation and acceptance of the family with one-parent reality. There were many difficulties and the need of adaptation of the public organs to this new familiar construction and social cultural evolution. 
Keywords: Single-parent adoption. Legislation. Expectations. Affection.

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