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Vinhaes e Joia (2012)

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Fatores Determinantes de Sucesso na Migração para Software Livre em uma Empresa 
Privada: Evidências Empíricas Associadas ao Open Office. 
 
Autoria: José Carlos dos Santos Vinhais, Luiz Antonio Joia 
 
Propósito Central do Trabalho: 
Atualmente, o software livre tem se apresentado como uma alternativa à estrutura de 
aquisição de licenças de softwares proprietários, sendo adotado por um número cada vez 
maior de empresas. Apesar da importância do tema, ainda existe um grande desconhecimento 
por parte da comunidade em geral acerca da definição do termo “livre” para os softwares 
livres. A expressão inglesa free software é frequentemente associada com o termo software 
grátis, em português. Porém, a palavra free não está relacionada com o conceito de preço, mas 
com liberdade. Stallman (2007) aborda a questão da errônea interpretação da expressão free 
software. Segundo o autor, quando um software é tido como livre, está implícita a premissa de 
que o mesmo respeita as liberdades essenciais dos usuários, tais como: liberdade de execução, 
estudo, modificação e redistribuição de cópias deste software, com ou sem mudanças. 
Segundo o autor, o termo deve ser associado com liberdade de expressão. O software livre 
também é confundido com o conceito de domínio público. No entanto, todos os softwares 
livres são cobertos por uma licença que define os direitos e deveres dos usuários, ao contrário 
de um programa de domínio público, que pode ser considerado como sendo aquele sobre o 
qual o autor deliberadamente abre mão de qualquer direito de propriedade. Assim, este 
trabalho visa entender o processo de migração, em uma empresa, de um software proprietário 
(MS Office) para um software livre equivalente (Open Office), no que tange à dinâmica de 
resistência/aceitação deste pelos seus potenciais usuários. 
 
Marco Teórico: 
O grau de aceitação e uso efetivo da tecnologia da informação é um fator que possui grande 
relação com o sucesso ou fracasso na implementação de novas tecnologias. Para demonstrar a 
importância do tema, Lapointe e Rivard (2005) afirmaram que, após análise de 20 publicações 
relacionadas com Tecnologia da Informação, durante os últimos 25 anos, foram encontrados 
43 artigos que abordam a resistência como um assunto fundamental para a implementação de 
novas tecnologias. A partir desta constatação, surge a necessidade de identificar as 
características que podem interferir no grau de aceitação e uso da tecnologia pelos usuários de 
sistemas informatizados. Um estudo que pode ser útil para a identificação destas 
características foi realizado por Davis (1989). Por meio do desenvolvimento do Modelo de 
Aceitação da Tecnologia (TAM), o autor identificou a percepção de utilidade do sistema e a 
percepção de facilidade de uso do sistema como dois dos principais constructos associados à 
utilização de um sistema de informações. Por outro lado, na opinião de Markus (1983), 
características organizacionais como estrutura, cultura, poder, políticas, controle e resistência 
atuam de forma fundamental e decisiva no sucesso ou fracasso da implementação de sistemas, 
da mesma forma que as características técnicas dos mesmos. Já segundo Venkatesh et al. 
(2003), diversas seriam as características que fariam com que uma pessoa viesse a aceitar ou 
rejeitar uma tecnologia da informação. Os autores desenvolveram um estudo com base nestas 
características, formulando o Modelo Unificado de Aceitação e Uso da Tecnologia da 
Informação. Basicamente, o modelo apresenta quatro fatores determinantes e quatro fatores 
moderadores da intenção e uso da Tecnologia da Informação nas organizações, tendo sido 
testado e validado empiricamente, explicando cerca de 70% da variação associada à intenção 
de uso. Segundo o modelo, os fatores determinantes do uso são: “expectativa de 
performance”, “expectativa de esforço”, “influência social” e “condições facilitadas”. 
Baseado no referencial teórico apresentado, foi desenvolvido um meta-frame para auxiliar a 
 
 2
análise dos dados levantados e evidências observadas. Esse meta-frame possui como ponto 
central o Modelo Unificado de Aceitação e Uso de Tecnologia da Informação, desenvolvido 
por Venkatesh et al. (2003), que se destaca dos demais por ser composto de oito das teorias 
previamente existentes mais utilizadas, quando se trata da aceitação e uso de TI. 
Adicionalmente, o Modelo de Aceitação da Tecnologia, proposto por Davis (1989), 
enriqueceu o meta-frame, fornecendo dois aspectos analisados durante a pesquisa: a 
percepção da utilidade do sistema e a percepção da facilidade de uso do sistema. O modelo 
desenvolvido por Markus (1983) também mereceu destaque na composição do meta-frame, já 
que o mesmo oferece a oportunidade de análise dos fatores individuais, técnicos, sociais e 
políticos associados à implementação de sistemas de informação. 
 
Método de investigação se pertinente: 
A metodologia de estudo de caso foi adotada para o desenvolvimento desta pesquisa. Como 
unidade de análise deste estudo, foi utilizada uma empresa nacional, de estrutura familiar, 
possuidora de 96 funcionários, fundada em 1980, atuante em todo o território nacional como 
produtora, revendedora e distribuidora de produtos químicos e derivados de petróleo para fins 
industriais. Como forma de coleta de evidências, a pesquisa utilizou as seguintes fontes: 
documentações, entrevistas, questionários, observações diretas e observações participantes. 
Com relação à análise de documentos, foram analisados e-mails, comunicações internas, 
relatórios e atas de reuniões relativas à adoção do novo sistema. Os questionários utilizados 
foram compostos por 21 questões que objetivaram levantar dados que pudessem ser 
confrontados com os constructos do meta-frame apresentado. Para cada questão, foi avaliado 
o grau de concordância de cada respondente em relação à mesma, por meio de uma escala 
Likert de cinco pontos. As entrevistas foram conduzidas de forma espontânea, seguindo 
modelo apresentado por Yin (2005). O pesquisador solicitou que o respondente apresentasse 
suas próprias interpretações dos acontecimentos e passou a utilizar essas interpretações como 
base para uma nova análise. A observação participante foi também bastante utilizada, uma vez 
que um dos pesquisadores atuou de forma direta na migração dos sistemas existentes para 
soluções contendo softwares livres, tanto na fase de implantação quanto na de suporte. Dentre 
os usuários analisados, foram identificados, por meio de observação participante e observação 
direta, três grupos cujas características relacionadas com a aceitação do novo sistema eram 
bem distintas. Estes grupos foram classificados pelos pesquisadores como “adotantes”, 
“parcialmente adotantes” e “não adotantes”. Para realizar a comparação das respostas obtidas 
pelos três grupos, utilizou-se o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Após a análise dos 
questionários, teve início a apreciação das entrevistas, procurando-se excertos das mesmas 
que embasassem os resultados obtido por outras vias. 
 
Resultados e contribuições do trabalho para a área: 
O presente artigo tratou de um estudo de caso numa organização que, ciente do potencial dos 
softwares livres, migrou para uma solução livre (Open Office) como seu pacote de aplicativos 
de escritório. Em um determinado momento dessa migração, percebeu-se a formação de três 
grupos distintos com relação ao grau de adoção – “adotantes”, “parcialmente adotantes” e 
“não adotantes”. Assim, a análise do processo de migração evidenciou que o layout, as 
funcionalidades e a compatibilidade do software livre foram as características que explicaram 
os três distintos comportamentos associados ao uso do Open Office. Uma questão de extrema 
importância para a adoção do software livre é a garantia de interoperabilidade com os demais 
sistemas. A análise Kruskal-Wallis demonstrou que a avaliação da compatibilidadedo 
software livre foi significativamente distinta entre os três grupos – indicando que a mesma 
interferiu no comportamento dos usuários. Além disso, a análise de Kruskal-Wallis 
evidenciou uma significativa distinção da avaliação do layout do software livre por parte dos 
 
 3
três grupos de usuários. A observação participante demonstrou que o layout do software livre 
deve ser o mais semelhante possível ao do software proprietário, de modo a minimizar a 
sensação de mudança dos usuários. Verificou-se que o layout atua de forma direta na 
percepção de utilidade e de facilidade de uso do sistema. Da mesma forma, as funcionalidades 
do novo sistema devem superar ou, ao menos, igualar as do software então em uso. Verificou-
se, ao longo do estudo, que a dificuldade de manipulação, por meio do Open Office, de um 
arquivo elaborado no Microsoft Office gerava uma enorme sensação de limitação da 
ferramenta livre. Essa funcionalidade limitada desencadeou comportamentos resistentes por 
parte dos usuários. A existência de defensores da migração ocupando altos cargos 
hierárquicos atuou como um facilitador para a mudança, devido à liderança que exercem 
sobre os outros usuários. Nos departamentos onde os gestores eram defensores do novo 
sistema, a mudança se deu de forma muito mais simples e menos traumática do que a 
migração nos departamentos onde os líderes não estavam empenhados com o sucesso da 
mesma ou mesmo visavam sabotá-la. Assim, este trabalho visou prover conhecimento que 
possa ser utilizado por gestores e profissionais da área de tecnologia da informação em um 
projeto similar de migração para softwares livres. Esses profissionais poderiam considerar, ao 
planejar ou desenvolver tais projetos, os fatores identificados nesta pesquisa, de forma que 
sejam reduzidas as ocorrências de problemas durante um processo de migração de uma 
plataforma proprietária para uma solução livre. As limitações desta pesquisa estão 
relacionadas principalmente com a metodologia escolhida. Reconhece-se que os resultados 
obtidos por meio de um estudo de caso único estão muito relacionados ao contexto da unidade 
de análise da pesquisa. Desta forma, o caso analisado, por tratar-se de uma empresa familiar 
de porte médio, tendo a distribuição e a produção de produtos químicos como a sua principal 
atividade, não necessariamente representa a realidade da maioria das empresas nacionais, no 
que se refere às práticas de gestão e uso da tecnologia da informação. Porém, como o objetivo 
principal de um estudo de caso não é a generalização estatística, mas sim a generalização 
analítica, pode-se considerar que os resultados não estão comprometidos devido a esta 
limitação. Finalmente, os resultados desta pesquisa podem ser utilizados em futuros trabalhos 
similares, de modo a confrontá-los ou complementá-los. Entre estes futuros estudos estão 
pesquisas que utilizem outras unidades de análise, com características distintas, baseando a 
análise numa maior população e em outros softwares livres. 
 
Referências bibliográficas: 
DAVIS, F. Perceived usefulness, perceived ease of use and user acceptance of information 
technology. MIS Quarterly, v. 13, n.3, p.319-340, set. 1989. ; LAPOINTE, Liette; RIVARD, 
Suzanne. A Multilevel Model of Resistance to Information Technology Implementation. MIS 
Quarterly Vol. 29 No. 3, pp. 461-491, Setembro: 2005. ; MARKUS, M. L. Power, politics, 
and MIS implementation. Communications of the ACM, Vol. 26, Nº 6, Pág. 430-444: 1983. ; 
VENKATESH, V. et al. User acceptance of information technology: toward a unified view. 
MIS Quarterly, v. 27, n.3, p.425-478, set. 2003. ; WARING Teresa; MADDOCKS Philips. 
Open Source Software implementation in the UK public sector: Evidence from the field and 
implications for the future. International Journal of Information Management, v.25,n.5, p.411-
428, out. 2005.

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