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1 Fatores Determinantes de Sucesso na Migração para Software Livre em uma Empresa Privada: Evidências Empíricas Associadas ao Open Office. Autoria: José Carlos dos Santos Vinhais, Luiz Antonio Joia Propósito Central do Trabalho: Atualmente, o software livre tem se apresentado como uma alternativa à estrutura de aquisição de licenças de softwares proprietários, sendo adotado por um número cada vez maior de empresas. Apesar da importância do tema, ainda existe um grande desconhecimento por parte da comunidade em geral acerca da definição do termo “livre” para os softwares livres. A expressão inglesa free software é frequentemente associada com o termo software grátis, em português. Porém, a palavra free não está relacionada com o conceito de preço, mas com liberdade. Stallman (2007) aborda a questão da errônea interpretação da expressão free software. Segundo o autor, quando um software é tido como livre, está implícita a premissa de que o mesmo respeita as liberdades essenciais dos usuários, tais como: liberdade de execução, estudo, modificação e redistribuição de cópias deste software, com ou sem mudanças. Segundo o autor, o termo deve ser associado com liberdade de expressão. O software livre também é confundido com o conceito de domínio público. No entanto, todos os softwares livres são cobertos por uma licença que define os direitos e deveres dos usuários, ao contrário de um programa de domínio público, que pode ser considerado como sendo aquele sobre o qual o autor deliberadamente abre mão de qualquer direito de propriedade. Assim, este trabalho visa entender o processo de migração, em uma empresa, de um software proprietário (MS Office) para um software livre equivalente (Open Office), no que tange à dinâmica de resistência/aceitação deste pelos seus potenciais usuários. Marco Teórico: O grau de aceitação e uso efetivo da tecnologia da informação é um fator que possui grande relação com o sucesso ou fracasso na implementação de novas tecnologias. Para demonstrar a importância do tema, Lapointe e Rivard (2005) afirmaram que, após análise de 20 publicações relacionadas com Tecnologia da Informação, durante os últimos 25 anos, foram encontrados 43 artigos que abordam a resistência como um assunto fundamental para a implementação de novas tecnologias. A partir desta constatação, surge a necessidade de identificar as características que podem interferir no grau de aceitação e uso da tecnologia pelos usuários de sistemas informatizados. Um estudo que pode ser útil para a identificação destas características foi realizado por Davis (1989). Por meio do desenvolvimento do Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM), o autor identificou a percepção de utilidade do sistema e a percepção de facilidade de uso do sistema como dois dos principais constructos associados à utilização de um sistema de informações. Por outro lado, na opinião de Markus (1983), características organizacionais como estrutura, cultura, poder, políticas, controle e resistência atuam de forma fundamental e decisiva no sucesso ou fracasso da implementação de sistemas, da mesma forma que as características técnicas dos mesmos. Já segundo Venkatesh et al. (2003), diversas seriam as características que fariam com que uma pessoa viesse a aceitar ou rejeitar uma tecnologia da informação. Os autores desenvolveram um estudo com base nestas características, formulando o Modelo Unificado de Aceitação e Uso da Tecnologia da Informação. Basicamente, o modelo apresenta quatro fatores determinantes e quatro fatores moderadores da intenção e uso da Tecnologia da Informação nas organizações, tendo sido testado e validado empiricamente, explicando cerca de 70% da variação associada à intenção de uso. Segundo o modelo, os fatores determinantes do uso são: “expectativa de performance”, “expectativa de esforço”, “influência social” e “condições facilitadas”. Baseado no referencial teórico apresentado, foi desenvolvido um meta-frame para auxiliar a 2 análise dos dados levantados e evidências observadas. Esse meta-frame possui como ponto central o Modelo Unificado de Aceitação e Uso de Tecnologia da Informação, desenvolvido por Venkatesh et al. (2003), que se destaca dos demais por ser composto de oito das teorias previamente existentes mais utilizadas, quando se trata da aceitação e uso de TI. Adicionalmente, o Modelo de Aceitação da Tecnologia, proposto por Davis (1989), enriqueceu o meta-frame, fornecendo dois aspectos analisados durante a pesquisa: a percepção da utilidade do sistema e a percepção da facilidade de uso do sistema. O modelo desenvolvido por Markus (1983) também mereceu destaque na composição do meta-frame, já que o mesmo oferece a oportunidade de análise dos fatores individuais, técnicos, sociais e políticos associados à implementação de sistemas de informação. Método de investigação se pertinente: A metodologia de estudo de caso foi adotada para o desenvolvimento desta pesquisa. Como unidade de análise deste estudo, foi utilizada uma empresa nacional, de estrutura familiar, possuidora de 96 funcionários, fundada em 1980, atuante em todo o território nacional como produtora, revendedora e distribuidora de produtos químicos e derivados de petróleo para fins industriais. Como forma de coleta de evidências, a pesquisa utilizou as seguintes fontes: documentações, entrevistas, questionários, observações diretas e observações participantes. Com relação à análise de documentos, foram analisados e-mails, comunicações internas, relatórios e atas de reuniões relativas à adoção do novo sistema. Os questionários utilizados foram compostos por 21 questões que objetivaram levantar dados que pudessem ser confrontados com os constructos do meta-frame apresentado. Para cada questão, foi avaliado o grau de concordância de cada respondente em relação à mesma, por meio de uma escala Likert de cinco pontos. As entrevistas foram conduzidas de forma espontânea, seguindo modelo apresentado por Yin (2005). O pesquisador solicitou que o respondente apresentasse suas próprias interpretações dos acontecimentos e passou a utilizar essas interpretações como base para uma nova análise. A observação participante foi também bastante utilizada, uma vez que um dos pesquisadores atuou de forma direta na migração dos sistemas existentes para soluções contendo softwares livres, tanto na fase de implantação quanto na de suporte. Dentre os usuários analisados, foram identificados, por meio de observação participante e observação direta, três grupos cujas características relacionadas com a aceitação do novo sistema eram bem distintas. Estes grupos foram classificados pelos pesquisadores como “adotantes”, “parcialmente adotantes” e “não adotantes”. Para realizar a comparação das respostas obtidas pelos três grupos, utilizou-se o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Após a análise dos questionários, teve início a apreciação das entrevistas, procurando-se excertos das mesmas que embasassem os resultados obtido por outras vias. Resultados e contribuições do trabalho para a área: O presente artigo tratou de um estudo de caso numa organização que, ciente do potencial dos softwares livres, migrou para uma solução livre (Open Office) como seu pacote de aplicativos de escritório. Em um determinado momento dessa migração, percebeu-se a formação de três grupos distintos com relação ao grau de adoção – “adotantes”, “parcialmente adotantes” e “não adotantes”. Assim, a análise do processo de migração evidenciou que o layout, as funcionalidades e a compatibilidade do software livre foram as características que explicaram os três distintos comportamentos associados ao uso do Open Office. Uma questão de extrema importância para a adoção do software livre é a garantia de interoperabilidade com os demais sistemas. A análise Kruskal-Wallis demonstrou que a avaliação da compatibilidadedo software livre foi significativamente distinta entre os três grupos – indicando que a mesma interferiu no comportamento dos usuários. Além disso, a análise de Kruskal-Wallis evidenciou uma significativa distinção da avaliação do layout do software livre por parte dos 3 três grupos de usuários. A observação participante demonstrou que o layout do software livre deve ser o mais semelhante possível ao do software proprietário, de modo a minimizar a sensação de mudança dos usuários. Verificou-se que o layout atua de forma direta na percepção de utilidade e de facilidade de uso do sistema. Da mesma forma, as funcionalidades do novo sistema devem superar ou, ao menos, igualar as do software então em uso. Verificou- se, ao longo do estudo, que a dificuldade de manipulação, por meio do Open Office, de um arquivo elaborado no Microsoft Office gerava uma enorme sensação de limitação da ferramenta livre. Essa funcionalidade limitada desencadeou comportamentos resistentes por parte dos usuários. A existência de defensores da migração ocupando altos cargos hierárquicos atuou como um facilitador para a mudança, devido à liderança que exercem sobre os outros usuários. Nos departamentos onde os gestores eram defensores do novo sistema, a mudança se deu de forma muito mais simples e menos traumática do que a migração nos departamentos onde os líderes não estavam empenhados com o sucesso da mesma ou mesmo visavam sabotá-la. Assim, este trabalho visou prover conhecimento que possa ser utilizado por gestores e profissionais da área de tecnologia da informação em um projeto similar de migração para softwares livres. Esses profissionais poderiam considerar, ao planejar ou desenvolver tais projetos, os fatores identificados nesta pesquisa, de forma que sejam reduzidas as ocorrências de problemas durante um processo de migração de uma plataforma proprietária para uma solução livre. As limitações desta pesquisa estão relacionadas principalmente com a metodologia escolhida. Reconhece-se que os resultados obtidos por meio de um estudo de caso único estão muito relacionados ao contexto da unidade de análise da pesquisa. Desta forma, o caso analisado, por tratar-se de uma empresa familiar de porte médio, tendo a distribuição e a produção de produtos químicos como a sua principal atividade, não necessariamente representa a realidade da maioria das empresas nacionais, no que se refere às práticas de gestão e uso da tecnologia da informação. Porém, como o objetivo principal de um estudo de caso não é a generalização estatística, mas sim a generalização analítica, pode-se considerar que os resultados não estão comprometidos devido a esta limitação. Finalmente, os resultados desta pesquisa podem ser utilizados em futuros trabalhos similares, de modo a confrontá-los ou complementá-los. Entre estes futuros estudos estão pesquisas que utilizem outras unidades de análise, com características distintas, baseando a análise numa maior população e em outros softwares livres. Referências bibliográficas: DAVIS, F. Perceived usefulness, perceived ease of use and user acceptance of information technology. MIS Quarterly, v. 13, n.3, p.319-340, set. 1989. ; LAPOINTE, Liette; RIVARD, Suzanne. A Multilevel Model of Resistance to Information Technology Implementation. MIS Quarterly Vol. 29 No. 3, pp. 461-491, Setembro: 2005. ; MARKUS, M. L. Power, politics, and MIS implementation. Communications of the ACM, Vol. 26, Nº 6, Pág. 430-444: 1983. ; VENKATESH, V. et al. User acceptance of information technology: toward a unified view. MIS Quarterly, v. 27, n.3, p.425-478, set. 2003. ; WARING Teresa; MADDOCKS Philips. Open Source Software implementation in the UK public sector: Evidence from the field and implications for the future. International Journal of Information Management, v.25,n.5, p.411- 428, out. 2005.
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