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1 ESTRATIGRAFIA AULA Nº 02-CONCEITOS BÁSICOS, GEOMETRIAS DE LITOSSOMAS E CONTATOS SEDIMENTARES I-INTRODUÇÃO Os conceitos básicos da Estratigrafia, palavra derivada do latim stratum (camada) e do grego graphein (descrição) foram inicialmente definidos a partir de estudos em bacias sedimentares cujo preenchimento ocorreu sob condições relativamente calmas e com sedimentação contínua. Desta maneira, os fatores primordiais para a determinação das propriedades das sequências sedimentares, como natureza da área-fonte, morfologia da bacia (relevo das vertentes e do fundo bacial) etc. variaram pouco no tempo geológico. Entretanto, a tectônica é um fator dinâmico importantíssimo da formação e evolução de bacias sedimentares, provocando movimentos verticais, horizontais e oblíquos na crosta que afetam a deposição sedimentar através de modificações nos ambientes deposicionais, variações de espessura e interrupção de camadas, mudanças de áreas-fontes, deformações penecontemporâneas, basculamentos e deformações pós- deposicionais, soerguimentos e erosão de camadas, subsidências e afogamento de ambientes deposicionais. Apesar da evolução da Estratigrafia, alguns conceitos básicos remontam a quase 350 anos e ainda são válidos. Também são cruciais as noções de geometria de corpos sedimentares (litossomas) e tipos de contatos (limites entre corpos sedimentares), que dizem muito em termos de processos, ambientes e continuidade ou não da sedimentação. Ambas categorias serão discutidas a seguir. II-CONCEITOS BÁSICOS II.1-Leis de Steno (1669) a) Superposição: Em qualquer sequência de rochas sedimentares (ou de rochas extrusivas oriundas de derrames de lavas) que não tenha sofrido deformações pós- deposicionais, a camada mais nova situa-se no topo e a mais antiga, na base. b) Horizontalidade Original: Sedimentos depositados em ambientes subaquáticos apresentam-se em camadas horizontais ou quase horizontais e paralelas ou quase paralelas à superfície terrestre. c) Continuidade Original: Na época da deposição, uma camada depositada em ambiente subaquático deve se estender em todas as direções até adelgaçar-se e desaparecer como resultado da não deposição ou por ter atingido a borda original da bacia. II.2- Fácies (1838) Armanz Gressly foi o pioneiro na utilização do termo fácies (latim: aspecto ou aparência de algo) sob conotação moderna, significando a totalidade dos aspectos litológicos e paleontológicos de uma determinada unidade estratigráfica. Este conceito é muito utilizado em Estratigrafia moderna e será aprofundado futuramente. 2 II.3- Lei de Walther (1893-94) Este princípio, também denominado Lei de Correlação de Fácies, estabelece que a sucessão vertical de fácies, tanto em sequências transgressivas (avanço da linha de costa em direção ao continente) quanto regressivas (recuo da linha de costa em direção ao mar), reflete essencialmente a ordem (ou sequência) da distribuição horizontal das mesmas fácies, desde que não haja interrupções importantes na sedimentação, gerando discordâncias (Figura 1). Figura 1. Representação esquemática da lei de Walther. Numeração indica sucessão de camadas. Fonte: modificado de Pomerol et al. (2013, p. 903). III-GEOMETRIAS DE CORPOS SEDIMENTARES A geometria de uma camada individual ou unidade de rocha (escala de afloramento) pode ser descrita como tabular se for lateralmente extensiva, em forma de cunha se for não persistente, mas com superfícies de contatos planos, e lenticular se uma ou ambas as superfícies de contato forem encurvadas (Figura 2). Para escalas mais amplas (bacia), o termo lençol (ou manto) é frequentemente aplicado se a razão entre o comprimento e largura da unidade sedimentar for próxima a 1:1 e o corpo sedimentar cobrir de poucos a milhares de quilômetros quadrados. Corpos sedimentares alongados, nos quais o comprimento de excede em muito a largura, podem ser descritos como lineares (também “em fita” ou “cordão”) se não for ramificado, dendroide se ramificado e cinturão se composto (Figura 2). Muitos corpos de areia alongados são resultantes de do preenchimento de canais, orientados a jusante da paleoencosta. Outros corpos sedimentares são formados paralelos à linha de costa como em paias ou no desenvolvimento de ilhas barreiras. As unidades sedimentares podem ser entidades discretas formando lentes e manchas (Figura 2), sendo esse o único termo aplicável a certos calcários recifais. Sedimentos clásticos grossos podem formar leques, cunhas e franjas quando depositados em sopés de taludes (Figura 2). Exemplos incluem depósitos de leques aluviais, leques deltaicos, sopés de encostas e leques submarinos. 3 Figura 2. Geometrias comuns de camadas e unidades de rochas (escala de metros a dezenas de metros) e corpos sedimentares (escala de quilômetros ou regional). Fonte: Tucker (2014, p. 229). IV-CONTATOS SEDIMENTARES Denominam-se contatos (ou limites) as superfícies que separam os corpos sedimentares contíguos (ex. arenito e folhelho) ou as interfaces entre unidades estratigráficas (ex. duas formações). As classificações utilizam-se de vários critérios. Quanto à posição espacial, os contatos podem ser verticais, horizontais e inclinados (ou oblíquos). Os contatos verticais seguem aproximadamente a direção da componente vertical dos campos gravitacional ou magnético em qualquer ponto da superfície da Terra. Raramente são contatos de origem sedimentar e, em geral, denotam natureza tectônica (falhas). Os contatos horizontais acompanham, aproximadamente, o plano tangente à superfície equipotencial gravitacional em um ponto. Por exemplo, depósitos lacustres indeformados apresentam, em geral, contatos horizontais. Os contatos inclinados correspondem a planos delimitantes inclinados entre duas litologias ou unidades estratigráficas, podendo ou não apresentar implicações tectônicas. Quanto ao grau de definição (ou nitidez), tem-se contatos gradacionais (gradativos ou transicionais) e bruscos (ou abruptos). Contatos gradacionais caracterizam situações em que a passagem de um litossoma para outro se faz através de uma zona de gradação de espessura variável. Por exemplo, a transição entre um arenito e um folhelho pode ser dar através do aumento progressivo no teor de silte e argila e redução cada vez mais acentuada no teor de areia (gradação mista). Outra possibilidade é a redução progressiva de diâmetro das partículas, de areia até argila (gradação contínua). Porém, a mudança litológica mais comum é a brusca, com uma superfície delimitante bem marcada. 4 Além disso, os contatos laterais podem exibir acunhamentos ou interdigitações. Os acunhamentos correspondem a um fenômeno no qual uma determinada camada (ou unidade litológica) diminui gradualmente de espessura até seu completo desaparecimento e substituição por outras litologias. As interdigitações representam vários acunhamentos que se interpenetram com as litologias lateralmente adjacentes. É um fenômeno muito comum que, normalmente, é visualizado em escala de afloramento como uma simples intercalação de camadas. Portanto, as zonas de contatos interdigitados causarão repetição vertical de litossomas, originando o fenômeno de recorrência de fácies, sugestivo de oscilações nas condições paleoambientais, como acontece comumente nas regiões litorâneas. Finalmente, dependendo do grau de certeza nas observações dos contatos têm-se contatos observados, inferidos, encobertos etc. Sob o ponto de vista estratigráfico, os contatos podem representar uma continuidade ou descontinuidade (quebra).Quando a interrupção da sedimentação ocorre por curto intervalo de tempo, a camada prévia recém-depositada não é sensivelmente perturbada pela erosão (subaquática ou subaérea) e, nesse caso, há uma coincidência entre o contato e a estratificação. Caso contrário, ocorrerá uma discordância, tema da próxima aula. Figura 3. Modalidades de contatos comuns entre litossomas: (A) acunhamentos; (B) interdigitações. Fonte: modificado de Suguio (2003, p. 204). Bibliografia POMEROL, Charles et al. Princípios de Geologia. Técnicas, modelos e teorias. 14ª ed. Porto Aleggre: Bookman. 2013. 1017 p. SUGUIO, Kenitiro. Geologia Sedimentar. São Paulo: Edgard Blucher. 2003. 400 p. TUCKER, Maurice E. Rochas Sedimentares. Porto Alegre: Bookman. 2014. 324 p.
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