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Imunologia – Resposta Imune contra bactérias, parasitos e fungos Prof. João Luiz - Ana Hungria IMUNIDADE A BACTÉRIAS As infecções bacterianas podem ser causadas por vários agentes etiológicos, patogênicos ou oportunistas, são capazes de atingir vários locais do corpo e têm como consequência uma grande variabilidade de doenças que vão variar de acordo com o potencial patogênico dessas bactérias. Normalmente essas doenças vão estar associadas ao crescimento da bactéria, à produção de fatores no hospedeiro (as toxinas) e o dano tecidual mediado pela resposta imune. Em relação às bactérias, e essa aula está dividida em relação à complexidade da resposta, temos vários questões que fazem com que a resposta imune contra esse grupo de patógenos seja muito mais complexa do que o que acontece com os vírus. Por exemplo, no processo de ligação ao tecido do hospedeiro, as bactérias comensais não vão induzir resposta inflamatória por conta da tolerância, como vimos na aula de mucosas por conta dos probióticos. No entanto, as bactérias patogênicas são capazes de ativar resposta inflamatória apenas pelo processo de ligação ao tecido do hospedeiro. Por que isso? Porque as bactérias têm diversos PAMPs (padrões moleculares associados à patógenos) na sua superfície, que é diferente do que acontece com os vírus. Na verdade, um dos PAMPs que são capazes de causar inflamação mais eficientes que existem estão nas bactérias: o LPS. Ele é capaz de causar resposta inflamatória sozinho, geralmente exacerbada, resposta de sepse inclusive. Depois da ligação à superfície do hospedeiro vem a etapa de invasividade. A invasão vai ocorrer por diversos fenômenos: processos traumáticos através da inoculação por vetores, fatores ambientais, invasão ativa, utilização de mecanismos homeostáticos, como vimos na aula de SI de mucosa. O processo de invasão de bactérias NÃO É SILENCIOSO, como acontece com os vírus. É um processo que envolve resposta inflamatória (RI) SEMPRE, que pode ser mais ou menos exacerbada a depender do modo de invasão da bactéria. Mesmo bactérias que se utilizam de mecanismos homeostáticos, como acontece com as bactérias entéricas, induzem ativação de resposta inflamatória durante todo o percurso, induzem a RI na célula epitelial, induzem a RI quando atingem a membrana basal do macrófago, de células dendríticas, então a RI começa no processo de ligação e continua pelo processo de invasão. Com a inflamação estabelecida e por conta da intensa RI induzida nesses processos descritos, a RI vai ser responsável por eliminar a maior parte das infecções, o que não acontece por exemplo com os vírus. Eles conseguem por conta da característica menos inflamatória deles, entrar no nosso organismo sem serem percebidos pelo SI e se estabelecer como patógenos com maior facilidade do que bactérias. Por isso que normalmente temos uma tolerância maior em termos inflamatórios a uma carga infectiva viral do que uma carga infectiva bacterina, e aí uma vez a bactéria se estabelecendo num determinado sítio temos os pamps sendo reconhecidos por uma gama maior de células do SI. E por último temos a indução de resposta adaptativa, que na verdade não muda muito em relação ao que já vimos, que vai depender do local aonde a bactéria está e que vai envolver mecanismos mais heterogêneos, não só CD8, se a bactéria for citoplasmática, mas também CD4, se a bactéria for endossomal ou extracelular, a ação dos anticorpos dependendo do tipo de bactéria, por exemplo, se a bactéria for extracelular a ação deles é extremamente importante para a ativação do sistema complemento, induzir a opsonização e a ativação dos granulócitos do tecido. Notamos então que uma forma que diferencia essas infecções é que a resposta bacteriana é MUITO MAIS HETEROGÊNEA e MUITO MAIS COMPLEXA do que a resposta contra vírus, que é basicamente célula NK e produção de interferon, e célula CD8 na resposta adaptativa com a participação de anticorpos neutralizantes. Já com as bactérias TODAS as respostas podem acontecer e é importante sabermos qual o mecanismo patogênico determinada bactéria é capaz de estabelecer no organismo. Nos vírus é relativamente seguro dizer que QUALQUER infecção viral pode ser combatida pelo CD8, ou pelos anticorpos neutralizantes, qualquer infecção viral vai ser combatida pela produção de interferons na resposta inata. Já nas bactérias não é tão simples assim. Temos que saber se ela é intra ou extracelular, qual órgão ela costuma atingir, se ela produz ou não toxinas. Até por isso que os mecanismos inatos e adaptativos de resposta imune precisam ser melhor compreendidos no processo infeccioso realizado por bactérias. No processo de ligação ao tecido do hospedeiro temos todos aqueles mecanismos inatos na porta de entrada que são super importantes para impedir que bactérias que se ligam ao tecido sejam capazes de promover ligação. Vimos que nos vírus esses mecanismos são poucos importantes ou não são importantes. As bactérias têm que passar pela pele, tem que passar pelas células mortas, chegar no estrato granuloso onde tem enzimas e peptídeos antimicrobiantes. Todas essas camadas são super importantes para impedir com eficiência uma infecção bacteriana, principalmente pelo fato de a bactéria ser um organismo vivo: o potencial osmótico, a seletividade da membrana, a manutenção da parede extracelular da bactéria são importantes, a presença de nutrientes para a bactéria é importante, dependendo da bactéria a fonte de carbono para ela é importante. É por isso que é preciso entender a biologia do patógeno também para fins de tratamento. Nas mucosas isso também é importante, temos enzimas, peptídeos antimicrobianos, a presença de muco, cílios, sítios de ligação de bactérias, a competição entre bactérias comensais e bactérias que podem ser capazes de causar uma infecção. Tudo isso vai estar relacionado com esse processo de ligação da bactéria ao tecido do hospedeiro. Nesse processo de ligação, é importante pensar nos anticorpos neutralizantes, principalmente a IgA, que está nas mucosas. Isso obviamente esta associado à memória. Então a reinfecção, quando o indivíduo entra em contato com o mesmo patógeno desenvolvendo infecção pela segunda vez ou após ser vacinado, a IgA e a IgG podem prevenir a infecção bacteriana através da neutralização da bactéria, principalmente a IgA, que está na mucosa. Isso não é novidade. Então ok, a bactéria conseguiu passar por tudo isso! Se ligou ao tecido, não foi neutralizada pelo anticorpo, passou pela mucosa ou pela pele e aí vem todos os processos relacionados à invasividade. Aqui nós temos basicamente duas coisas. Primeiro a presença da bactéria no tecido epitelial. Quando a bactéria está ali as células epiteliais vão ser capazes de ter atividade inata através do receptor dos padrões moleculares dessa bactéria. Mas as células epiteliais não são células hematopoéticas de SI, então essa capacidade é baixa. Uma vez a bactéria chegando ao tecido subcutâneo ou ainda dentro da derme, as bactérias vão entrar em contato com as células residentes do SI daquele tecido, principalmente macrófagos, células dendríticas e granulócitos teciduais: eosinófilos, basófilos e os mastócitos. E aí a resposta inflamatória vai se estabelecer APENAS PELA PRESENÇA DA BACTÉRIA NO LOCAL. Então quanto maior for a capacidade proliferativa da bactéria, mais bactérias vão estar aqui, mais intensa será a resposta inflamatória. A segunda questão é acerca das toxinas. Nem todas as bactérias produzem toxinas, mas muitas produzem. Essa produção de toxinas ou a capacidade que a bactéria tem de proliferar dentro de células e de matar essas células vai gerar padrões moleculares associadosà dano que também vão participar desse processo de estabelecimento da resposta inflamatória. Isso acontece quando a bactéria consegue invadir de forma relativamente silenciosa, ou seja, ela invade ativamente sem precisar comprometer esse tecido através de células M, da captação de células fagocitárias, de células dendríticas, da infecção de células epiteliais e de indução de apoptose de células epiteliais e entrada da bactéria nos corpos apoptóticos e também através da inoculação por vetor. No caso da inoculação por vetor, temos uma resposta inflamatória que é associada ao processo infectivo, que favorece a formação de um prejuízo ao epitélio mais grave, o que justifica a lesão, mas que também favorece uma resposta inflamatória mais eficiente para combater a bactéria. Temos aqui 3 exemplos transmissão via vetores artrópodes: a Doença de Lyme – Borrelia burgdoferi, a Febre maculosa – Rickettsia ricketsii e a Peste – Yersinia pestis. Observamos na imagem abaixo uma úlcera. Ela tem participação do processo lesional causado pela picada do inseto, da presença e da proliferação das bactérias no sítio da lesão que causa essa resposta inflamatória exacerbada. Respostas inflamatórias exacerbadas são benéficas para o combate ao patógeno. Não costumam ser boa para o hospedeiro, mas a longo prazo são benéficas para que o patógeno consiga ser controlado. Então devemos pensar: resposta inflamatória exacerbada induzida por infecção bacteriana está relacionada com a maior eficiência do SI em combater as bactérias. Num primeiro momento as manifestações clínicas iniciais de uma infecção bacteriana são mais graves, mas as manifestações associadas ao SI estão relacionadas com melhor prognóstico da doença. Depois da invasividade, será determinada o tipo de resposta adaptativa que será mais eficiente para o combate à infecção bacteriana. Entramos na questão de a bactéria ser intracelular ou ser extracelular, pois na fase de invasividade será determinado o tipo de resposta imune que será ativada dependendo do agente etiológico, que pode ser bactérias extracelulares, bactérias intracelulares e dependente da extensão do dano. No caso da M. tuberculosis: é uma bactéria intracelular, ela se prolifera no interior dos macrófagos. O módulo passado foi sobre anticorpos. Os anticorpos podem estar associados ao desenvolvimento da doença? O fato de você ter mais ou menos anticorpos, diferentes tipos de anticorpos, isso é uma informação importante para que se determine a progressão da doença? No caso de bactérias intracelulares, NÃO. A não ser que os anticorpos sejam neutralizantes. Nesse caso, SIM, porque aí a bactéria é impedida de sair e infectar outra célula. Temos que pensar na função dos anticorpos para responder a essa questão: se ele for neutralizante, neutralizando a bactéria ela não poderá infectar outra célula. Em todos os outros casos, o anticorpo não vai ser importante. Por quê? Se o anticorpo for de ativação de complemento, de indução de degranulação de granulócitos a bactéria TEM QUE ESTAR DO LADO DE FORA DA CÉLULA. E a opsonização, que seria uma outra ação que poderia ocorrer enquanto uma bactéria sai de uma célula e se encaminha para outra, obviamente não será importante para efeito de controle da infecção. No caso da tuberculose isso é ainda mais curioso, porque como essa bactéria se estabelece no interior de macrófagos, a opsonização exacerba o processo infeccioso e não ajuda a controlar. É raro termos anticorpos capazes de proteger contra infecções intracelulares. Nesse caso a resposta mais eficiente é de linfócitos T e se ela for citoplasmática será o CD8 o mais importante, se for endossomal, CD4. É interessante falar nesse momento de uma apresentação de antígenos que até então não tínhamos falado, que é a apresentação cruzada. É quando temos uma célula que está infectada por bactérias que proliferam dentro de endossomos. Os macrófagos e células dendríticas são capazes de bombear alguns desses antígenos bacterianos para fora do endossomo para serem apresentados pelo MHC de classe I. Isso é relativamente comum em infecções bacterianas e amplifica o espectro de resposta que pode acontecer. Mas o que será cobrado é o pensamento de que bactérias citoplasmáticas são melhor controladas por resposta CD8 e bactérias endossomais são melhor controladas por respostas CD4. E as bactérias extracelulares? Elas não gostam de estra dentro das células! Elas morrem dentro das células e são destruídas quando não conseguem proliferar. Nesse caso, os anticorpos são bastante importantes porque promovem opsonização, então se a bactéria for opsonizada e for fagocitada ela será destruída e como ela é extracelular ela pode se destruída por complemento e por granulócitos que são ativados por anticorpos. Então em resumo: bactérias extracelulares - os anticorpos são mais importantes e bactérias intracelulares - a resposta celular é a mais importante. A resposta celular vai ser importante e ter função no combate à bactérias extracelulares? Sim, por causa da fagocitose. Então o ideal no caso de bactérias extracelulares é que tenhamos uma resposta o quanto mais rica e heterogênea, quanto mais, melhor! A ativação de linfócitos T, CD4 principalmente, que vão ajudar linfócitos T a produzir anticorpos, os quais oposonizam as bactérias, os linfócitos T, além de ativarem linfócitos B a produzirem anticorpos, ativam macrófagos ou neutrófilos via resposta Th1 ou Th17 e toda essa galera junta vai lá e combate as bactérias extracelulares. Já no caso das bactérias intracelulares, a reposta mais eficiente é um pouco mais restrita porque a opsonização não é um processo benéfico para controlar a infecção. Obviamente a extensão do dano vai estar associada a tudo isso por conta do coestímulo: quanto maior for o dano que a bactéria causa, maior será o coestímulo, melhores essas respostas vão acontecer, tanto do CD4 como do CD8 como dos anticorpos. Se olharmos na lista de Tolls, veremos que quase todos eles são capazes de reconhecer bactérias: Toll 2 e 6, que vão reconhecer principalmente bactérias gram positivas, toll 4 reconhecem gram negativas, toll 5 reconhece flagelina (proteína característica de bactérias e protozoários), toll 10 que reconhece peptídeoglicano, toll 11 também reconhece bactérias. Inclusive os tolls que reconhecem ácidos nucleicos também são capazes de reconhecer bactérias, principalmente o 9, que reconhece CpG DNA que está presente em bactérias também. Toll 3,7 e 8 reconhecem material genético fita dupla e simples de RNA, portanto, vírus. A bactéria é muito rica em padrões moleculares associados à patógenos. As bactérias têm as 3 principais classes de padrões moleculares associados à patógenos: padrões associados à membrana (elas têm inúmeras coisas em sua superfície, LPS ács teicoico e lipoteicoico), à toxinas (muitas delas produzem metabólitos que são reconhecidos como toxinas, principalmente exotoxinas) e os ác nucleicos (por exemplo, CpG DNA). Então a resposta inflamatória contra bactérias é MUITO AMPLA, MUITO INTENSA E BEM SENSÍVEL À PRESENÇA DE BACTÉRIAS EM DETERMINADOS TECIDOS. Normalmente é isso que diferencia a viremia da sepse. Quando se fala que o indivíduo está virêmico, ele não está com sepse. Não se entra em choque por conta de viremia, no entanto se essa pessoa tiver bacteremia, normalmente isso está associado à choque hipovolêmico e sepse. Isso também diferencia algumas manifestações clínicas e infecções que podem ser causadas por vírus ou bactérias. Por exemplo, a faringite, ela pode ser bactéria e pode ser viral, mas as manifestações clínicas são completamente diferentes. A bacteriana envolve umaresposta inflamatória mais intensa, normalmente produção de pus. A viral normalmente está associada à eritema e não há a produção de pus. Outro exemplo: meningite. Como se sabe a diferença entre quando a pessoa está com meningite viral ou bacteriana? Análise de líquor. Se ele estiver turvo, é bacteriana, se não estiver turvo é viral. O que essa turvidez significa? Leucócitos. Há mais leucócitos na meningite bacteriana do que na viral. Tudo isso está associado à resposta inflamatória. (Ele disse assim nesse minuto: se eu perguntar essas coisas todas na prova vcs vão responder né? Então vamo se ligar nessa pergunta de prova, gente. Isso que é o bom da transcrição, os detalhes :B). O que vamos falar agora é uma questão está muito mais relacionada à resposta contra bactérias do que à resposta contra vírus. Na reposta contra vírus temos a resposta inflamatória ativando a produção de células CD8 e Th1, que vão ativar a produção de anticorpos configurando uma resposta eficiente. Contra bactérias vai depender muito de tudo o que acabamos de discutir, ela produz toxinas? Produz destruição celular? Ela se dissemina? Por onde se dissemina? Via linfo-hematogênica? Dentro de células? Tudo isso estará associado a diferenças na resposta inflamatória na ativação de células dendríticas. E essas diferenças são super importantes, porque as bactérias que serão controladas por resposta CD8 têm que induzir linfócitos TCD8. Então o primeiro, segundo e terceiro sinais aqui devem ser direcionados para a produção de linfócitos T CD8 mais eficiente. Bactérias extracelulares e intracelulares serão ambas controladas (uma mais do que a outra) por resposta CD4 e essa resposta vai variar. Pode ser Th1, Th17, dependendo da relação que essas bactérias têm com os macrófagos e neutrófilos. Por exemplo, na tuberculose a resposta mais eficiente é a Th1 (vai estimular o macrófago a matar a bactéria dentro dele), porque essa bactéria prolifera dentro de macrófagos. Se ela está dentro de macrófagos o neutrófilo não vai ser tão eficiente porque o neutrófilo não vai ter acesso à bactéria, então não adianta a resposta inflamatória gerar células dendríticas que estimulem a produção de células Th17. Na mucosa (Salmonella, Shigella) ontem há muito TGF-beta, a probabilidade de se conseguir fazer uma resposta Th1 é menor, então a resposta mais eficiente contra esse tipo de bactéria será a Th17: a célula dendrítica produtora de TGF-beta e quando produz IL-6 também estimula a TH17 e ela consegue estimular neutrófilos a migrarem para aquele local e destruir a bactéria. O que é importante é saber o local de instalação da bactéria para chegar à conclusão de qual resposta será mais eficiente para combatê-la. O que tudo isso tem a ver com o que nós vamos fazer no futuro? Duas coisas: imunodeficiência, no sentido de realizar o tratamento de pessoas que tem infecções recorrentes por uma bactéria, por exemplo, Salmonella, podemos fazer uso de exames complementares para avaliar o processo de infecção relacionado à célula dendrítica, à resposta Th17 e à ação dessas células na infecção. A outra possibilidade é a imunoterapia. Lembrando: no caso dos anticorpos para bactérias intracelulares, eles só serão eficientes se forem neutralizantes e mesmo assim só terão alguma função e não é protetor. Já no caso de bactérias extracelulares, eles aumentam muito o espectro de ação do SI sobre elas por motivos já explicados. IMUNIDADE A PARASITAS Vamos considerar parasitas como helmintos, protozoários e fungos. Muitas coisas discutidas no sentido de imunidade à bactérias se aplicam aqui: a intensidade da resposta inflamatória, a localização de estabelecimento, a invasividade e o dano que eles causam. O que tem de novo nesse sentido? Os parasitas são agentes extremamente diferentes entre si em termos de estrutura, composição antigênica, localização no hospedeiro e mecanismos patogênicos. E por que isso? Porque eles apresentam um ciclo biológico com formas completamente distintas entre si no mesmo ciclo, é por isso que nos variados casas em que entramos em contatos com parasitos, entramos em contato com diferentes formas do mesmo parasito. A composição antigênica varia sensivelmente de forma a forma (ex: de tripomastigota a amastigota, de larva a adulto). Isso para o sistema imune é uma ~ loucura completa ~ porque ele se adapta não só à composição antigênica do parasita mas a diversas outras características que o parasita tem: de causar dano, de produzir determinas substâncias, de invasão. E os parasitas são capazes de mudar isso ao longo da infecção naturalmente. Por exemplo, um estágio do parasito pode ser intracelular e o outro, extracelular, um estágio pode ter flagelo, o outro não, podem proliferar em locais diferentes, enfim. Então o SI precisa se adaptar do ponto de vista inflamatório e adaptativo nessa situação. Por isso para efeito de características gerais temos que a Resposta Imune será variável – dependendo do tipo do parasita, de sua localização e forma evolutiva. Existe uma observação que é a de que podem existir parasitas que serão extracorpóreos com localização extracelular de superfícies epiteliais e espaços intersticiais: acessíveis às moléculas solúveis do sistema imune (ex: complemento e anticorpos).E existem os de localização intracelular (citoplasmáticos ou vesiculares). São atacados por células T citotóxicas ou ativação dos mecanismos antimicrobianos da célula fagocítica. Em algumas infecções a resposta imune é a causa da lesão tecidual e da doença. Principalmente no caso das infecções por protozoários. Vamos aos exemplos! Trypanosoma cruzi: são 3 formas evolutivas – epimastigota, amastigota e tripomastigota. A epimastigota está no barbeiro, a tripomastigota estará em todo o organismo fazendo a infestação e a amastigota é a que prolifera dentro da célula. Qual dessas formas é mais capaz de causar uma resposta inflamatória? Não devemos associar a resposta inflamatória somente à capacidade do patógeno de atacar alguma coisa. Como que a resposta inflamatória é ativada? Quais as duas possibilidades? Via PAMPs e DAMPs. Nos DAMPs quanto maior a capacidade de danificar alguma coisa, maior a capacidade de desenvolver inflamação. Já nos PAMPs, dependemos da quantidade de padrões moleculares associados à patógeno. Acerca desses estágios evolutivos de parasito, quais deles teriam mais padrões moleculares associados à patógenos capazes de induzir uma resposta inflamatória mais exacerbada? A forma mais inflamatória é a epimastigota. É a mais capaz de causar inflamação, mesmo sendo a que está no barbeiro! A resposta inflamatória que ela causaria seria tão exacerbada que ela morreria com certeza. A forma amastigota e a tripomastigota apareceram no decorrer da evolução porque elas são mais competentes em estabelecer inflamação. Por quê? Por que elas conseguem escapar do SI. Elas escapam por que não induzem TANTA resposta inflamatória, e assim conseguem sobreviver e por isso surgiram ao longo da evolução. Cada um dos estágios desenvolve mecanismos para estabelecer infecções em momentos e hospedeiros diferentes. É por isso que as formas que são transmitidas não são epimastigotas. Isso não significa que o barbeiro não faça a inoculação delas, mas para ela poder conseguir se estabelecer e causar infecção ela precisa se transformar em tripomastigota, caso contrário, ela morre. É por isso que a capacidade de induzir resposta inflamatória nela deve estar controlada. É bem parecido com o que acontece com a Leishmania. No vetor, o flebotomíneo tem a promastigota e ela tem que se transformar em promastigota metacíclica para poder infectar. A promastigota que não émetacíclica quando inoculada induz uma resposta super exacerbada, já que ela não está adaptada a estar ali, e isso irá matá-la. A promastigota metacíclica precisa se instalar dentro de macrófagos e se transformar em amastigota, que é a forma menos inflamatória e menos imunogênica de todas, e que é quem consegue sobreviver. Isso é justamente a diferença entre vírus e bactérias e os parasitas. Enquanto bactérias intrinsecamente são muito inflamatórias ou não, independente de qualquer coisa, elas não vão mudar por conta disso. É por isso que uma quantidade de bactérias no sangue maior do que uma certa quantidade de um estágio evolutivo de um parasito é fatal, por conta do potencial inflamatório causado pela grande quantidade de padrões moleculares que as bactérias têm. Como elas se adaptaram? Realizando uma bacteremia bastante baixa, não proliferando muito para que ela não cause uma resposta muito exacerbada. No caso dos parasitos eles mudam de formas evolutivas para formas que consigam se adaptar melhor no organismo que eles estão parasitando. Podemos fazer uma comparação entre bactérias patogênicas e bactérias do ambiente. Em termos de proliferação, as bactérias do ambiente se proliferam muito mais do que as patogênicas. Mas no sentido de resposta inflamatória, a do ambiente é a mais inflamatória porque ela não está adaptada a nos infectar, nem mesmo temos SI para tentar combatê-la. Ela é tão infecciosa que ativa a resposta inflamatória, a qual irá matá-la e acabou. Já a patogênica consegue, de alguma forma, evadir a resposta imune e sobreviver. Sobre os patógenos que estão nas superfícies epiteliais e são parasitos: são naturalmente menos capazes de induzir respostas imunes, porque eles se ligam ao tecido mas NÃO invadem, proliferam pouco, estando menos à disposição dos mecanismos associados ao SI, tanto inato quanto adaptativo. É por isso que nesse caso às vezes temos respostas Th2 ou mesmo inexistentes. A resposta Th2 que está envolvida com os helmintos que ficam na superfície dos nossos epitélios está associada justamente a essa baixa capacidade que esses organismos têm de invadir o nosso organismo. Se formos pensar nos primeiro, segundo e terceiro sinais, quanto mais intensos eles forem, maior a chance de desenvolvermos uma resposta Th1, quanto menos intensos, maior a chance de desenvolveremos uma resposta Treg. Treg à parte, desenvolveremos uma resposta Th2, que será a resposta que acontecerá nesses casos de menos estímulo, induzida por esse tipo de infecção, pouca inflamação, porque não tem invasão. E normalmente os sinais dessas infecções são muito semelhantes: ou é IL-4 ou é TGF-beta, porque no caso é mucosa. Dependendo da situação a IgA pode ser importante, mas apenas no caso de ser neutralizante, mais pros casos dos protozoários e menos para os casos de helmintos. É por isso que não se conhece capacidade natural do SI de matar um helminto, ou seja, eliminá-los, por isso devemos tomar o antiparasitário, porque não conseguimos eliminar uma infecção por helminto de forma natural. O que o SI faz aqui é apenas regular o nível de parasitismo, restringindo a proliferação, induzindo a produção de muco, a descamação de células epiteliais, estimulando o peristaltismo e assim promovendo a expulsão dos helmintos, mas mesmo assim os helmintos têm várias formas de aderir ao epitélio do intestino. São essas as características da resposta Th2 que induzem à expulsão dos helmintos do TGI. Dividindo protozoários e helmintos, temos que na imunidade contra protozoários, os principais protozoários causadores de doenças são Plasmodium, Trypanossoma, Toxoplasma, Leishmania (humanos e animais). Eles são intracelulares, podendo estar hospedados no citoplasma da célula ou em vesículas especializadas. Os homens são geralmente infectados por picadas de hospedeiros intermediários infectados, p. ex. malária, leishmaniose. A defesa é baseada na ação de macrófagos ativados (resposta Th1, e essa é a principal forma de combate aos protozoários intracelulares), células NK e Linfócitos T Citotóxicos podem participar dependendo da situação. Resposta humoral participando apenas em uma curta fase extracelular, assim como anticorpos participam muito pouco no sentido de infecções bacterianas intracelulares. Na vida real é bem incomum que anticorpos neutralizantes tenham alguma função no caso de protozoários e bactérias intracelulares. E mais importante ainda é destacar que o desenvolvimento de resposta Th1 nos protege de diversas infecções, muitas delas por protozoários, caso contrário a instalação deles nas nossas células nos levaria sempre à morte. Para finalizar essa parte de protozoários, vamos falar um pouco sobre a evasão imune por protozoários. Em relação à evasão anatômica no hospedeiro: ela pode acontecer em diferentes situações, o Plasmodium dentro de eritrócitos é clássica – quando infectados, não são reconhecidos por células NK e T citotóxicos. Isso é um mecanismo de evasão porque a hemácia não possui MHC, por isso ela não pode ser reconhecida pelos linfócitos CD8 ou CD4, tanto que dessa forma o SI não tem como matar assim. No momento em que eles saem das hemácias é que a resposta inflamatória é desenvolvida. Também a forma intracelular hepática apresenta essa opção. Temos também a variação antigênica, apesar de aqui ela não ser tão importante como em vírus e bactérias, porque os protozoários não proliferam tanto, mas ela pode ser importante porque os protozoários podem passar por diferentes estágios, como no caso do Plasmodium, diferentes estágios do ciclo de vida do parasito expressam diferentes antígenos. Outra coisa que eles podem fazer e fazem com bastante eficiência é a imunossupressão, que é a inibicão de processos fundamentais para a resposta imune como inibição da apresentação de antígenos, indução de citocinas imunossupressoras, desvio funcional, entre outros. Fazem isso muito bem, até porque diferentes dos vírus e das bactérias, eles conseguem manter um equilíbrio entre o parasitismo e o hospedeiro. Por exemplo, todo mundo tem Toxoplasma. Ele consegue inibir vários processos fundamentais para a resposta imune e fica na pessoa, acompanhado disso a sorte é que não tem manifestação clínica. Acerca da imunidade a helmintos a resposta será baseada principalmente em mecanismos desencadeados por linfócitos T do Tipo Th2 (protetora). É importantíssima a ação de eosinófilos e de IgE – os anticorpos IgE se ligam a superfície dos helmintos; os eosinófilos aderem por meio dos receptores FceRII e secretam grânulos com enzimas que destroem os parasitas. A subpopulação Th2 de células T auxiliadoras CD4+ secretam IL-4 e IL-5 e então a IL-4 induzem a mudança de classe dos linfócitos B para e estimulam o desenvolvimento e ativação dos eosinófilos na medula. A IgE e os eosinófilos vão para o epitélio infectado: a IgE opsoniza os helmintos e os eosinófilos levam à degranulação sobre os helmintos. Em alguns casos o hospedeiro pode desenvolver uma hipersensibilidade a nematoides gastrointestinais, nesse caso seria uma hipersensibilidade do tipo I, envolvida com IgE, eosinófilos e mastócitos, porque infecções por helmintos podem gerar um exacerbação da resposta Th2 e a pessoa pode desenvolver uma hipersensibilidade. Além disso, a resposta inflamatória vai depender muito de histamínicos. No contexto de evasão do SI, os helmintos usam do tamanho. O tamanho é a principal forma de evasão do SI dos helmintos. O SI não consegue matá-los por que são muito grandes, não existem mecanismos capazes. Até por isso a resposta Th2 tem uma resposta imunológica que “aceita” isso. Outro mecanismo é o de adsorção de moléculas do hospedeiro(albumina, por exemplo), e isso impede o reconhecimento pelo SI. A reclusão anatômica também pode acontecer no caso de helmintos. Imunossupressão, alguns helmintos conseguem secretar imunossupressores que inibem a ativação de macrófagos por exemplo. Mecanismos antiimunes, que são mecanismos que não induzem a imunossupressão, mas que bloqueiam algumas etapas da resposta imunológica. Produção de enzimas, que é muito comum e que podem inibia a ação de macrófagos, por exemplo. E por fim, a relação com o microambiente. Não é muito comum mas alguns helmintos conseguem fazer. IMUNIDADE A FUNGOS Resposta contra infecções fúngicas para finalizar. Tudo o que se aplica aos vírus, bactérias, protozoários e helmintos se aplica aqui. Eles são complexos, têm a mesma característica dos parasitos, eles são capazes de estabelecer infecções em formas morfológicas diferentes. Em relação a resposta inflamatória, eles são muito inflamatórios. Mesmo se tratando de células eucarióticas, então portanto eles têm muitos antígenos semelhantes aos nossos. Mas eles têm parede, e a parede celular dos fungos (temos vários receptores diferentes que são capazes de reconhecer fungos, temos até uma classe que é praticamente específica para reconhecê-los) por si só dá aos fungos uma característica muito parecida com uma característica das bactérias: assim que o fungo entra em contato com o nosso organismo, já é iniciada uma resposta inflamatória. Outra coisa é que bactérias, vírus e parasitos, quando não oportunistas, PRECISAM da etapa na qual eles nos parasitam para sobreviver, eles são parasitos específicos de nós. Os fungos não são assim. Nem todos são oportunistas, mas a maior parte dos fungos não precisa estar infectando a gente para poder sobreviver. Para os fungos nós somos como aquele pedaço de pão esquecido na geladeira. Eles precisam basicamente de uma fonte de alimentação, que pode ser o hospedeiro humano, outro animal, ou um alimento em decomposição. Isso gera uma questão evolutiva no SI. Vírus, bactérias e parasitos, ao longo dos anos, se adaptam a nos infectar: evadem o SI, enfim. Os fungos já não fazem esse tipo de coisa. Os fungos portanto logo causam um resposta inflamatória e são combatidos, é por isso que temos muito mais infecções por vírus, bactérias e parasitos, porque o SI consegue lidar muito bem com os fungos de maneira geral. Outra coisa interessante em relação aos fungos e que representa bem essa característica de eles não serem patógenos específicos é o dimorfismo de temperatura. Existem diferenças entre os fungos que proliferam no ambiente e dentro do nosso organismo e eles proliferam dentro de nós por causa da temperatura. Os mecanismos de combate são os mesmo já discutidos até então. Quando eles se transformar a 37 graus, aí então eles são um pouco mais difíceis de serem combatidos e conseguem se estabelecer melhor como patógenos em relação ao SI, podendo realizar várias adaptações, como a produção de cápsula. Temos os fungos oportunistas, a Candida albicans, por exemplo, que quando está em forma de levedura é comensal e quando esse fungo forma as hifas ela se torna um patógeno. Por que ela se torna um patógeno quando faz isso? Porque o SI não consegue eliminar as hifas, e aí ela consegue proliferar. Mas sempre lembrando que ela não precisa se transformar em hifa, nem precisa desse ciclo biológico de transformação. Após a formação das hifas e a instalação dos fungos, haverá a produção de citocinas IL- 4 e IL-10 pelas células dendríticas e isso vai induzir a produção de células Th2 mais do que de células Th1. As células Th2 não são capazes de estimular que os macrófagos fagocitem e destruam esses patógenos e aí a pessoa tem a manifestação clínica. Dessa forma chegamos à conclusão de como o SI se comporta de acordo com cada tipo de ameaça (próprio, não próprio, seguro e não seguro). Vimos que o que é seguro e o que é próprio nós toleramos. O que é próprio mas é perigoso nós fazemos resposta por causa do dano, como os casos de tumores. O que vimos hoje é a resposta contra o que é perigoso e não próprio e nos casos de seguro e não próprio o nosso corpo costuma tolerar, podendo ignorar e não fazer resposta.
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