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CAPÍTULO 6 Manlio SilvestreFernandeseSoniaReginadeSouza VISÃO GERAL DO SISTEMA DE TRANSPORTE NO FLOEMA otransportee distribuiçãodeelementosnutriti~ vos,principalmenteaçúcares,desdeasáreasde sín~ tese,quesãoasfolhasfotossinteticamenteativas,ou apartirdeórgãosdereserva,atéasáreasdeconsumo desseselementosnutritivos,quesãoasfolhasnovas, floresou frutosemdesenvolvimento,é feitopor um sistemacondutor formado por células vivas, mas muito modificadas,chamadas,no seuconjunto, de floema. Cerca de80%do carbonoassimiladona fotossín~ teseé translocadodasfolhasparaatenderao meta~ bolismodecélulasnão~fotossintéticas. O floemaé originadoapartirdadiferenciaçãode célulasdo câmbiovascularem direçãoao exterior, enquantoo desenvolvimentoparao interiorresulta~ ráno xilema(Fig. 6.1).Assim, o floema,estálocali~ zadona partemaisexternadaáreavascular.O floe~ ma pode serde origem primária ou secundária.O primeirofloemaprimárioformadoéchamadodepro~ tofloema, sendodistendido e destruídodurante o alongamentodo órgão. O floemaé um sistemade transporteconstituído de um conjunto de célulasespecializadaschamadas deelementoscrivados(EC). Célulascompanheiras, célulasdo parênquimavasculare, em algunscasos, fibras,esclereideosecélulaslactíferastambémfazem partedo floema. As principaiscélulasde conduçãodo floemaque constituemoselementoscrivadospodemserdedois tipos:célulascrivadasemgimnospermaeoselementos dostuboscrivados,quesãocélulasaltamenteespeci- alizadasdeangiosperma. As célulasque compõemos elementoscrivados possuemprotoplasmavivo, núcleoausenteou inci- piente,ecarecemdetonoplasto,nãohavendolimite nítido entrecitoplasmaevacúolo. O termocrivado refere~seaosporos atravésdos quaisosprotoplastosdeelementoscrivadosadjacen~ tesestãointerconectados. A principaldistinçãoentrecélulascrivadaseele- mentosdos tuboscrivadosé que,nascélulascriva~ das,osporospossuemestruturaedistribuiçãounifor~ Xilema Câmbio Vascu/ar Floema Fig. 6.1 Corte transversaldecaulemostrandocâmbio vasculareadiferenciaçãoemfloema(parao exterior)e xilema(parao interior). • 180 Transporteno Floema mepelasparedes,enquantooselementosdos tubos crivadosapresentamáreascrivadascomporosmaio- resformandoasplacascrivadas.Essasplacasselocali- zampreferencialmentenasextremidadesdasparedes doselementosdostuboscrivados.Os porosdaspla- cascrivadassãocanaisabertosquepermitemo trans- porteentreascélulas. Os elementosdos tuboscrivadossedispõemem arranjoslongitudinaisformandoostuboscrivados.Os elementosdostuboscrivadosestãoassociadosàscé- lulasparenquimatosasespecializadas,denominadas célulascompanheiras.Ambasascélulasderivamda mesmacélula-mãee possuemnumerosasconexões entresi. Além dascélulasconstituintesdoselementoscri- vadosedascélulascompanheiras,outrascélulaspar- ticipamdo complexosistemadetransportedo floe- ma:comoascélulasdo parênquimavascular.Em al- gumasplantaspodemserencontradasaindacélulas especializadasno transportede látex. Uma visãode conjunto do sistemade transpOrte nasplantaspodeserobservadana Fig. 6.2. Água e nutrientes,principalmenteíons inorgânicos,deslo- cam-sedesdeasraízesatéa parteaérea,atravésdo xilema, graçasàspressõesque se desenvolvemno interiordessesvasos.Por suavez,açúcares,íonsinor- gânicoseoutrossolutosdeslocam-sepor todaaplan- ta atravésdo floema.As célulascomponentesdos elementoscrivadospor ondeessetransporteé feito estãointimamenteligadasàsoutrascélulas(não-cri- vadas)atravésdemúltiplosporos;sãoascélulascom- panheiras.Poressaconexãosertãoíntima,oselemen- toscrivadoseascélulascompanheirasformamdefato umconjuntoquepodeserchamadodecomplexoEC/ CC (elementoscrivados/célulascompanheiras).As célulascompanheiras,porsuavez,podemmanterli- gaçõescom outrascélulasdo parênquimavascular, podendoformarum contínuo queas liga àscélulas domesofiloondeocorreafotossínteseeformaçãode esqueletosdecarbono. Fig. 6.2 Diagramaesquemáti- codomodelodefluxodepres- sãoentrecélulas-fonteecélu- las-drenoatravésdo xilema e floema. (Adaptado de Taiz e Zeiger,2003.) Célula-dreno H20 Célula Companheira Célula-fonte ./888 : i 'li .i= H20 I ------------. I ----+. arregamentoativodoi madiminuiapressãoItica,aumentaasaída, guaeresultaem I • - - I nUlÇaonapressao tllrgor. Sacarose Elementos Crivados H20 do Floemali~. I, . ----- ! B B <3g' ega~entoatIvodos I ':;4. (l) e cnvadosaumentaa: e e- e ãoosmótica,entrada1 I /(ft' Oguaeresultaemalta [ @ ••. -". O ~ãodeturgor.. @ 'e--- ..--1- o k. o ~----~ : 0\ (Oe :, ~ . /"G)e H20 ,,-----,d= 4 \-' , o H20 e\ I Sacarose C te' - di··d Iorrene Pressao ngl a peo Transpiratória I e ~ fluxodeáguaesolutos e ~ 1I ( tI( ~ DefioOSldedirT'" de "--~ Xilema É interessanteaindaobservar,na Fig. 6.2, que a águaque se deslocapara a parte superiordo feixe vascularpode,sedeslocardesdeo xilemaatéo floe, ma. Inversamente,a águapodetambémsedeslocar do floemaparao xilemaedo apoplastoparaascélu, Iascompanheiras,evice,versa.Emboraosdoissiste, masdevasoscondutoressejamdiferentesemsuafun, çãoeestrutura,emambospodemsedesenvolvergran, despressõesinternas,tantopositivascomonegativas, queafetamo deslocamentodaáguae dossolutos. Apesardenãoestarindicadona Fig. 6.2,o deslo, camentoda águadesdeo apoplastoparadentrodas célulasdo complexoEC/CC é feito com a interme, diaçãode proteínasde transporte(aquaporinas)10' calizadasna plasmalemadascélulasdo sistema. O desenvolvimentodo sistemaelementoscriva, dos/célulascompanheiras(ECICC) ébemcaracterís, tico dasangiospermas,masnão ocorre do mesmo modonasgimnospermas. A utilizaçãodecorantesfluorescentesmostraque o sistemaECICC estáisoladodasoutrascélulas.En, tretanto,ocorretambémo transportelateraldefoto, assimilados.Essetransporteocorreatravésdaplasma, lemadasCC, por um sistemadebombeamento. O floemanão é uniforme em todasaspartesda planta.Nas nervurasfoliares,por exemplo,ascélu, Iascrivadassãobemmenoresdo queas célulasdo parênquimavascular. CONSTITUIÇÃO DOS ELEMENTOS CRIVADOS E CÉLULAS COMPANHEIRAS Os elementoscrivados(EC) A estruturados elementoscrivadosfoi descrita inicialmenteporHartig,em1860.Os elementoscri, vadossãoformadospor célulasextensamentemodi, ficadasjquandoo sistemaestácompletamentedesen, volvido (ascélulasdo floemaestãomaduras),elas passampor grandesalterações. Duranteo processodediferenciação,ascélulasdos EC sofremumprocessodeautóliseincompleta.Cé, lulas do floema geralmenteperdemo núcleo e o Transporteno Floema 181 tonoplasto,depoisperdemosribossomoseo comple, xo de Golgi. Assim, elasnão podemexecutaralgu- masdasfunçõesessenciaisdascélulasvegetais.En- tretanto,elasmantêmsuasmitocôndrias,quepodem apresentarcaracterísticasdiferentesdasmitocôndri- asdasoutrascélulasvegetais.As célulasdosEC man- têmtambémalgunsplastídeos,o retículo endoplas, máticolisoe,claro,o queéfundamentalparaasfun, çõesquedesempenham:amembranaplasmática,que vaiformarumcontinuumcomoutrascélulasadjacen, tesaosistemacrivado.As proteínasfilamentosas(pro, teínas,P)entretantopersistem.O retículoendoplas, máticoé modificado,formandoumarededemicro- túbulose cisternasconhecidascomoretículodovaso crivado(RVC). EsseRVC, juntamentecom as mitocôndrias,as proteínas,Pe os plastídeos,formamum sistemaque se chamacamadaparietalou lâmina parietal.Essa lâminaparietalformaumacamadaquerevesteapa, redeinteriordascélulasdoselementoscrivados,res, tandoum grandeespaçocentralqueformao lúmen do sistemadeelementoscrivados. No processodeautóliseparcialereorganizaçãodo citoplasma,ascélulasdoselementoscrivadosperdem tambéma capacidadede transcriçãoe traduçãogê- nica.A síntesedasproteínasdequeessascélulasne, cessitampassaaserfeitapelascélulascompanheiras. Ascélulascompanheirastêmosseuscitoplasmas enriquecidosdasorganelas,quefaltamàscélulasdos elementoscrivados.Outra característicadascélulas doselementoscrivadosé quea plasmalemade uma célula formaum continuumcom a plasmalemadas célulasadjacentes.Esseprocessode diferenciação independedapresençadasCC, visto queocorreno protofloemadaraiz,ondeasCC nãosedesenvolvem. A característicaprincipaldascélulasdoselemen- toscrivadoséapresença,longitudinalmente,depo, ros,quesãopartedeumaplacacrivada(áreascriva, das) (Fig. 6.3). Essesporosna paredecelular, com diâmetrosque variam entre 1 e 15 f.Lm,permitem formarconexõesentre as célulasdo sistema.Esses porostêm origemnaspassagensdosplasmodesmos entreascélulas.Ocorreumalargamentogradualdes, saspassagens,atéqueosporosseformam.A celulose eoutroselementostípicosdaparedecelularsãosubs, • 182 Transporteno Floema Plastfdeo modificado Vacúolo Parede celular primária Mítocõndria Fig. 6.3 Constituiçãodoselementoscrivadose células companheiras.(AdaptadodeTaizeZeiger,2003.) tituídos por calose.A calose aospoucosvai sendo eliminada,dandolugaraosporosdasplacascrivadas. Os elementoscrivadosapresentam,emgeral,cur, ta vida útil. Ao longodo tempo,elesacabamsendo bloqueadospeloacúmulodecalose.À medidaqueas células dos elementos crivados vão sendo assim destruídas,outrascélulasvãosendodiferenciadas,de modo que o transportenão sofredescontinuidade. Deve,se ressaltar,entretanto, que, emboraa vida curtasejaumaregrageral,já foramobservados,em dicotiledôneas,elementoscrivadosquepermanece' ramfuncionaispor períodosde até10anos. A diferenciaçãodos elementoscrivadosocorre desdeo início dadiferenciaçãodostecidosabaixodo meristemaapical.Esseselementos,no início dadife- renciação,sãoconhecidoscomoprotofloema.Esses elementoscondutores(protofloema),emboraainda emfaseinicial dediferenciação,já podemserusados intensivamentepelasplantasno transportedenutri- entesparaostecidosvegetaisemdesenvolvimento. As célulascompanheiras(CC) Cadaumadascélulasdoselementoscrivadosestá conectadaa umaou maiscélulascompanheiras(Fig. 6.3). As célulascompanheiras,ao contráriodascé, lulasdosistemacrivado,sãoricasemorganelas,prin- cipalmentedasorganelasqueestãoausentesnascé, lulas do sistemacrivado.É interessantenotar que, emboracomcaracterísticastãodiversas,ambas(cé- lulasdoselementoscrivadosecélulascompanheiras) sãoorigináriasdadivisãodeumamesmacélula,mãe. Emboraseoriginemdeumamesmacélula-mãe,as CC nãosãosemprenecessárias.No protofloemadas raízese no sistemaEC de folhasde gramíneascom paredescelularesespessas,nãoexistemCC. As célulascompanheiraseascélulasdoselemen- tos crivadostêm,atravésdasparedescelulares,um sistemaramificadode comunicações,denominado plasmodesmo,quepermiteumaintensacomunicação e trocadesubstânciasentreelas(Fig.6.3).O arranjo é bemfuncional, pois, enquantoascélulascompa, nheirasricasemorganelaspodemsintetizarumasé, rie desubstânciasecompostosdealtaenergiacomo oA TP, quepodemserrapidamentetransferidosatra- vésdo plasmodesmoparaascélulasdoselementos crivados,essas,por suavez,concentramo seumeta, bolismonasatividadesquesãoessenciaisaotranspor' tedefotossintatos.A maiorpartedaatividademeta, bólica necessáriaà manutençãodascélulasdo tipo elementocrivadoéfeitapelascélulascompanheiras. É precisoressaltar,entretanto,que,ao contráriodo queocorrecom ascélulasdo xilema,ascélulasdos elementoscrivadosestãovivas,e suasparedescelu, laresnão sãolignificadas. Algumascélulascompanheirasespecializaram,se no transporte,atravésdo desenvolvimentode inva, ginaçõesou reentrânciasdaparedecelular,esãopor issochamadasdecélulasdetransferência.As reentrân, cias,ou invaginações,daparedecelularaumentama superfícieda membranae, portanto,a superfíciede absorção.Em Viciafaba,essasinvaginaçõesaumen- tam em 209% a superfície total da membrana (Giaquinta, 1983).Essegrandeaumentodesuperfí- ciedascélulascompanheiras/célulasdetransferência, tambémapontaparaascélulascompanheirascomo o sítio primáriodecarregamentodo floema. As invaginaçõesaumentammuitoa áreadecon- tatoentreo apoplastoeamembranadascélulas.Esse aumentodesuperfícieéimportantequandoo deslo- camentode açúcaresdesdeasáreasde produçãoé feitopelo apoplasto. Nas espéciesque têm células de transferência, Turgeon (1991)propõeummodelo,chamadoarma- dilha de polímeros.De acordocom essemodelo,a sacarosedifunde-sedascélulasdo parênquimavas- cular paraascélulasintermediáriasvia simplastoe a favordeumgradientedeconcentração.Nas célu- lasdetransferência,asacaroseépolimerizada,dan- do lugar à formação de oligossacarídeós,como a rafinosee a estaquiose,queseacumulamemníveis elevadosnessascélulas (Fig. 6.4). Como essesoli- gossacarídeostêm um volume muito maior do que o da sacarose,eles não conseguemse difundir de Transporteno Floema 183 voltaparaascélulasdomesofilo,ficandoretidosnas célulasde transferência. VIAS APOPLÁSTICA E SIMPLÁSTICA Paramelhorentendero processodedeslocamen- to denutrientesnasplantas,énecessárioconhecero caminho que essesnutrientespercorremantesde chegaremàáreavascular,ouseja,antesdeentrarem na correntedo xilemaeno sistemacrivadodetrans- portedo floema. Tanto nasraízescomona parteaérea,nutrientes e águapodemsedeslocardesdeapartemaisexterna (epiderme)atéo parênquimavascular,tantoporvia apoplásticacomopor via simplástica(Fig. 6.5). Apoplasto o apoplastocompreendea somadosespaçosin- tercelularese espaçosformadospor macroe micro- porosda paredecelular.Esseespaço,chamadopor aquelesquetrabalhamcomfisiologiavegetaldeapo- plasto,éomesmoespaçodescritopelosquetrabalham Rafinose Estaquiose Fig.6.4Variedadedeaçúcaresencontradosnaseivadofloema:monossacarídeos(galactose,glicoseefrutose),dissacarídeo (sacarose),oligossacarídeos(rafinoseeestaquiose). • 184 Transporteno Floema • ,1111"1' '1-1 1" _: .'.•• I I . , I J I .. , I I I -- Citossol .---. -- Plasmalema Parede Celular Citossol - I I '.','.".I" I I I I i I I I I . \. I I .1.1,11'1' - Plasmodesma Fig. 6.6 Plasmodesmaunindoo citossoldeduascélulas atravésdaplasmalemaeparedecelular. como os nutrientesmineraiscomoo K+ podemse deslocarlivrementesemqueocorraminteraçõesdo tipo dasqueocorremno espaçolivre deDonnan. Plasmodesmossãopequenosporos,comdiâmetros emtomo de20a60nm.Elessãorevestidosporuma membranaplasmática,e contêm um tubo central, denominadodesmotúbulo.O desmotúbuloé uma continuaçãodo retículoendoplasmático. As conexõescélula a célula via plasmodesmos permitem que ocorra o transporte através dos protoplastos,denominadode via simplástica(Fig. 6.6). É necessário,portanto,queascélulascompa- nheiras tenhamligaçõesem quantidadesuficiente com asoutrascélulasao longodavia de transporte. Ou seja,a viabilidadedo transportevia simplástica dependedaintensidadedasconexõesviaplasmodes- mosentreassuperfíciesdecélulasadjacentesaolon- godo contínuomesofil~sistema crivado.Presume- seque,quantomaioro númerodeconexõesplasmo- désmicasentreascélulas,maioro potencialdetrans- portena interface. Sobreoplasmodesmo,Gunning (1976)observou: "O plasmodesmoelevaa plantadacondiçãode simples coleçãode célulasindividuaisparaumacomunidadede protoplastosvivose interconectados." A freqüênciadosplasmodesmosnascélulasque executamtransportesimplásticoestáemtomo de 15 pormicrômetroquadrado(f-Lm2)desuperfíciecelular. Em célulasdo mesofiloemOenotherma,foi calcu- lado que o plasmodesmoocupa0,38% dasparedes celularesadjacentes,comumafreqüênciade30011m2 por parede.A magnitudedo fluxo deaçúcaresatra- vésdoplasmodesmo,emporoscomcomprimentode Feixes Condutores Córtex Epiderme Apoplasto Pêlo Absorvente Fig.6.5Corteradiculartransversalmostrandooapoplasto eosimplastoatravésdascélulasdocórtexeendoderme.A outraformadedeslocamentodenutrientesé a queocorrecélulaacélula,atravésdeconexõesentre osprotoplastos,chamadasdeplasmodesmaou plas- modesmo(Fig. 6.6). Nessecaso,tanto os açúcares Simplastoe plasmodesmo com nutrição mineral de plantascomo espaçolivre aparente. Em partedesseespaço,comonasáreasintercelu- lares,o deslocamentodesolutoscomcargadequal- quersinaloudesolutoseletricamenteneutros,como a sacarose,é livre. Esseespaçoéchamadodeespaço livredeágua.Nos porosdaparedecelular,entretan- to, o depósitode ácidosorgânicos(poligalacturôni- cos) sobreos feixesde microfibrilas (basicamente formadosdeceluloseehemicelulose)geraumasuper- fície de cargasfixas que formam o espaçolivrede Donnan. Enquantoáguae íonscirculamlivrementeno es- paçolivre deágua,no espaçolivre deDonnan ape- nas águae sacarosecirculamlivremente,enquanto ânionse cátionstêmseusmovimentosrestritos,de- pendendodo sinal do poroe dosíons (±)e intensi- dadedacarga. Açúcarescomoasacarose,quesãoproduzidosnas célulasdomesofilo,deslocam-separaforadestaatra- vessandoa plasmalemae circulandono espaçolivre (apoplasto).Essemovimentono apoplastopodeocor- rerdesdeascélulasdomesofiloatéascélulascompa- nheirasou ascélulasdo elementocrivado.Esseseria ummovimentototalmenteapoplástico. 0,5e 20 f.Lmdediâmetro,seriaentãode3,8 X 10-21 mo1.sec-1• Na planta C4 Salsolaali, a freqüênciade plasmo- desmoéde 14X 188cm- 2 deparedecelular.Issosig- nifica que0,1% daparedecelulartangencialé ocu- padacomoscanaisdosplasmodesmos. PlantascomoVicia,beterrabaemilho apresentam poucaligaçãodiretaentreascélulasdo mesofiloeas célulasdo complexoEC/CC via plasmodesmo,en- quanto,emoutrasplantas,comoCurcubitapepo,há maiornúmerode conexõesentreessascélulas. Entretanto,essadivisãodasplantasentreasque têm muita e as que têm poucasconexõesentre as célulasdo mesofiloe o complexoEC/CC não é um parâmetroabsoluto,porquepodehavercontinuida- de de ligaçõesentreessesdoisextremos(mesofiloe EC/CC) eascélulasdoparênquimavasculareparên- quimado floemae mesofilo. O queseverificaé quea freqüênciade conexões entreo complexocrivadoeascélulasadjacentespode variarmuito.Emalgumasespéciesexisteumafreqüên- cia muitograndedeplasmodesmosfazendoa ligação célula-célula,enquanto,emoutrasespécies,essafre- qüênciapodesermuitopequenaou mesmonula. O pesquisadorrussoGamalei (1991) e cols.pro- põem,paraplantasdicotiledõneas,umadivisãoem quatrocategorias,deacordocomafreqüênciadasli- gaçõesvia plasmodesmosentreascélulasdo comple- xocrivadoe ascélulasadjacentes: • Célulasdo tiPo 1- Exibemumagrandequanti- dadedeconexões. • Células do tipo 2 - Exibem uma quantidade moderadadeconexões. • Célulasdo tiPo 2a- Exibemligaçõesesporádi- casentrecélulas. • Célulasdo tiPo 2b - Praticamentenão exibem contatoentrecélulasdoEC/CC eascélulasad- jacentes. A freqüênciadecontatosviaplasmodesmosentre cadacategoriapodevariarem tomo de 10vezes,o quepoderesultaremvariaçõesdeaté1.000vezesna freqüênciadeligaçõesplasmodesmáticasentrefamí- liasdedicotiledõneas. As características das células companheiras também mudam de acordo com o tipo de trans- Transporteno Floerna 185 porte - simplástico ou apoplástico- que asplan- tas fazem. A estruturae o funcionamento metabólico das célulascompanheirassãodeterminantesdo tipo de carregamentodofloema(simplásticoouapoplástico). Pelo menosdoistiposdeestruturasestãobemca- racterizadas: • Estrutura1- ascélulascompanheirasnãotêm cloroplastos,eapresentamumaextensaredede retículoendoplasmático. • Estrutura2- ascélulascompanheirassãome- nores e contêm vacúolose cloroplastos.Esse grupopodeapresentarumavariantequeseca- racterizapor umaabundânciade invaginações na paredecelular. Emgeral,ascélulascompanheirasqueapresentam estrutura 1 estão envolvidas em transporte via simplástica.Células companheirasde estrutura2 estãoenvolvidasemtransportevia apoplástica. Famíliasqueapresentamestrutura1transportam açúcaresvia simplásticana formadeoligossacaríde- os, principalmente rafinose,enquantofamílias de estrutura2 transportamaçúcaresviaapoplásticasob a formadesacarose. Transporteintermediário Podetambémocorrerumtipointermediáriodedes- locamentoemqueosnutrientespercorrempartedo trajetoentreo mesofiloe ascélulascrivadaspor via simplásticae partedo trajetopor via apoplástica,sa- indodosistemadetransportecélulaacélulaemalgum pontoantesdechegaremàscélulascompanheirasou crivadas.Tanto nessecasocomono casodetranspor- tetotalmenteporviaapoplástica,osnutrientespreci- samvoltar ao interiordascélulas(companheirasou elementoscrivados)paraseguirementãosedeslocan- do via simplásticaatéchegaremaofloema. CARREGAMENTO E DESCARREGAMENTO DO FLOEMA Entende-se por carregamentodo floema todo o trajeto que os solutos fazemdesdeas células do • Plasmodesmos Fig. 6.7 Diagramaesquemáticodapossívelvia de carregamentodo floemaemcélulasfoliares-fonte. Célulacompanheira solutossedeslocamno apoplasma(espaçolivre), e entrariamno sistemapor transporteatravésdaplas- malemadeumacélulacompanheiraoudiretamente, atravésdaplasmalemadeumacélulacrivada. A Fig.6.7mostraesquematicamenteosdoissiste- masdetransportedesolutosecarregamentodofloe- ma.As setascom traçoforteno interior dascélulas mostramo caminhoqueossolutospodempercorrer desdea áreadesíntese,ondeocorrea reduçãofotos- sintéticado COz (célulasàesquerda,emazul),atéa áreavascular(célulasàdireita,emlaranja). Açúcarese outrosnutrientesdeslocam-sedascé- lulasdomesofilo,ondeocorreareduçãodeCOz,para asoutrascélulasviaplasmodesmo.Num doscasos(se- tasmaislargas),o deslocamentoé todofeitoporvia simplástica.Uma outrapossibilidade,entretanto,é que,emalgumpontodopercurso(acéluladoparên- quimado floemaindicadanaFig.6.7),açúcarespos- samsairdo interiordascélulasparao apoplasto.Pos- teriormente,essessolutos,queagorasedeslocampor via apoplástica,podemretomaraointeriordeoutras célulasparao carregamentodo floema.Essaentrada de solutasa partir do apoplasmapode,em algumas espéciesvegetais,serfeitaatravésdaplasmalemade umacélulacompanheira,enquanto,emoutrasespé- cies,essapassagemparao interiorocorrediretamen- tenascélulascrivadas. Célulado parênquimado f10ema Célula da bainhavascular Paredecelular(apoplasto) Membranaplasmática Simplasto mesofiloatéo sistemadeelementoscrivados.Quan- dofalamosemcarregamentodoselementoscrivados,es- tamosnosreferindoexclusivamenteaocarregamen- to de fotossimiladosno sistemade elementoscriva- dos,quecompreendeo conjunto formadopelascé- lulascompanheirase elementoscrivados(CCjEC). Não existeumaúnicamaneiradecarregamentodo floema,o qualvariadeacordocomasdiversasfamí- liasvegetais,podendoserapoplástico,simplásticoou intermediário,combinandoessasduasestratégias.A variaçãodo carregamentodo floematemcertamen- te um significado importante do ponta de vista ecofisiológico,e é importanteparaaproduçãovege- tal.O usodeumaououtraestratégiadecarregamen- to,ou dacombinaçãodeambas,refleteascondições ambientaisem queos diversosgruposde plantasse desenvolveram. O carregamentodosistemadeelementoscrivados podeserfeitodeduasmaneiras.Uma delaséatravés do deslocamentodesolutosdesdeascélulasquecir- cundamo sistemavascularatéascélulascompanhei- ras,e dascélulascompanheirasatéascélulascriva- dasatravésdosplasmodesmos.Nessecaso,existeuma continuidade entre essascélulas. Esta seria a via simplásticadecarregamentodo sistemacrivado. Uma outramaneiradecarregamentodosistemade elementoscrivadosé a apoplástica.Nessecaso,os 186 Transporteno Floema r j- .- r .- .- .- .- • '. • •~. ·ti• • • • I • I • • Quando, entretanto, estamosnos referindo ao transportedefotoassimiladosemtodoosistema(des- deo mesofilo),o carregamentodo floemasópodeserconsideradosimplástico,sehouverligação(continui- dade)detodoo simplasto,desdeascélulasdo meso- filo atéascélulascompanheiras.No casodenãoexis- tir essacontinuidade,o sistemade carregamentoé consideradoapoplástico.É possívelque,emdetermi- nadosistema,partedo percursodosfotoassimilados sejafeitaporvia simplástica,masemalgumpontoas conexõesvia plamodesmossejaminterrompidaseos fotoassimiladosdescarregadosno espaçolivreaparen- te e, depois,recarregadosem outra célula de onde passamporviasimplásticaparaascélulascompanhei, rasoNessecaso,o carregamentodo floemaétambém consideradoapoplástico.O carregamentosóéconsi- deradorealmentepor via simplásticaquandotodoo percursoestáconectadopeloplasmodesmo.Essadi- ferenciaçãodeveserfeitaporque,emalgumasplan- tas,o transportedesolurospelascélulasCC/EC éfeito porviasimplástica,enquantoo carregamentodoflo- emaé por via apoplástica. O carregamentodeaçúcaresno floematemlugar basicamentenaspequenasnervurasdasfolhas,que, àsvezes,anastomosam,formandoumaredecapilar. Essasnervuraspodemserclassificadasem: • Nervuras dotipo 1:ondeascélulascompanhei, rastêmumagrandesuperfíciederetículoendo- plasmático,não têm cloroplastos,e plastídeos estãoausentesou empequenaquantidade. • Nervuras do tipo 2a: onde ascélulascompa- nheirassãomenores,contêmváriospequenos vacúolose têmcloroplastos. • Nervuras do tipo 2b: onde ascélulascompa, nheirasespecializadasemtransporte(célulasde transferência)geralmentedesenvolveminvagi- naçõesdaparedecelular. As nervurasdostipos1,2ae2bsurgememseqüên- cia, ao longodo processoevolutivo.Pequenasáreas (aréolas)sãodemarcadaspor essarededenervuras. Essesistemaéaltamenteeficientena coletadefoto- assimiladosque sãoproduzidosno mesofilo foliar. Geiger (1980) observouquea beterrabaaçucareira tem70cmdessaredecapilarpor cm2delâminafoli, ar.Esseautortambémobservouque33 Jlm lineares Transporteno Floema 187 daredecapilarpodemcoletarosfotoassimiladospro- duzidospor 29célulasdo mesofilo. As configuraçõesdaspequenasnervuras,quede- terminamo modode carregamentodo floema,apa- recempreferencialmenteemdeterminadaszonascli- máticas.De modogeral,o carregamentodo floema por via apoplásticapredominanasregiõesde clima temperadoe em climasáridos.O carregamentodo floemapor via simplásticaé predominantenasregi- õestropicaisúmidas. A maioriadasplantasherbáceas,queseorigina- ramemregiõesdeclimatemperado,pertenceaogru- po quetransportasolutosparao sistemaCC-EC pela via apoplástica.Nessarelação,encontra-sea maio- ria dasplantascultivadas.Nessasplantas,os açúca- respodementrarno sistemacrivadodiretamentedo apoplasma. A análisemolecularmostrouque,no casodessas espéciesque apresentamtransporteapoplástico,a açãodo genesutl (sucrosetransporter1) quecodifica o transportadordesacarosena plasmalema,aparece diretamentena membranaplasmáticadascélulasdo EC. Por outro lado,no casodeespéciescomsistema detransportepor via simplástica,ostransportadores desacarose(SUC2: sucrose)estãoassociadoscom a enzimainvertase(quehidrolisaa sacaroseemglico- see frutose)e estãolocalizadosnascélulascompa- nheiras(CC), masnão nascélulasdo EC. A locali, zaçãodasH +,A TPasesnasCC eEC seguetendência semelhanteà dostransportadoresdesacarose. No casodeespéciesquetransportamaçúcaresvia simplástica,cujasH+-A TPasesestãolocalizadasna plasmalemadasCC, ocorreumgrandetransportede estaquiosee rafinose,principalmentenaschamadas célulasintermediárias(CI). No caso dessestransportadoressimplásticos,a sacaroseentranascélulascompanheiras(CC) apar' tir dascélulasdo feixevascular.Uma vezno interior dasCC, ocorre a formaçãoem oligossacarídeosda famíliadarafinose(rafinose,estaquiose).Essespolí, merossãomuitograndesenãopassariamatravésdos porosdo plasmodesmo,o queimpediriaseuretorno aosistematransportador.Assim,o transportedeaçú- caresno simplastoseriaunidirecional (mesofilo-? complexo crivado), e contra o gradientede con- • (C)(8) Célula companheira 2 TRANSPORTE DE SACAROSE O transportedesacarosedesdeo apoplastoparao interiordascélulascompanheirasoudoselementos crivadosé feitocontraumgradientedeconcentra- ção.Paraqueocorraessetransporte,énecessárioum gastodeenergia,ouseja,éumsistemadetransporte ativo. No casodemoléculasquenãotêmcargaelétrica, comoéo casodasacaroseoudaglicose,ocálculoda nesseprocesso.Numaescaladeevolução,o modo decarregamentoporviasimplásticaéo maisanti- go, tendoosoutrossistemasevoluídoposterior- mente. (O) Glicose + Mesofilo Sac Fonte Vacúolo Triose-P-+Sac •• Sac 188 Transporteno Floema Fig. 6.8 Esquemageraldo carregamentoedescarregamentodofloema:(A) fonte;(B) célulacompanheiraj(C) elemen- to crivadodo floemaj (D) dreno. centraçãototaldeaçúcares(Fig.6.8).Dessemodo,a polimerizaçãofuncionacomoumaarmadilhapara açúcares,queretémospolissacarídeosnascélulas companheirascontraumgradientedeconcentração, o quetomao carregamentodofloemamenosefici- entenasplantasquetransportamosfotoassimilados viasimplástica.Emconseqüência,odeslocamentodo carbonoporunidadedemassadasfolhasémaiornas espéciesqueexibemcarregamentodofloemaporvia apoplástica. Verifica-se,entretanto,quea naturezado car- regamentodofloemanãodependeapenasdaexis- tênciaou nãode ligaçõesabundantesatravésde plasmodesmos.O tipodemetabolismodascélulas companheirase célulasadjacenteséfundamental 1~·~-~-,---<c; '-.: ':(ri' energianecessáriaparaexecutaressetipo de traba- lho é obtidopelaequaçãodeNernst. LlG =RT ln [concentraçãointerna] [concentraçãoexterna] onde: LlG é variaçãode energialivre do sistema R é a constantedosgases T é a temperaturaabsoluta Parao transportede glicosecontraumgradientede 1:10,a variaçãodeenergialivre seria: LlG =1,98X 293 X ln .Q 0,01 LlG =1,34Kcal/mol Paraumarelaçãodeconcentraçãode 1:100LlG =2,68Kcal/mol 1:1.000LlG =4,02Kcal/mol Vale lembrarqueahidrólisede1moI deA TP (A TP +HOH ~ ADP +Pi) produz7,3KcaL A absorçãode sacarosepelascélulasdo comple- xo CC/EC segueo modelo de Michaelis-Menten, istoé,apresentacinéticadesaturação.Mostra tam- bémum sistemadual de absorção,e o componente de alta afinidademostracinética de saturação,en- quantoo componentedebaixaafinidadeaparente- mente não é saturável. O primeiro componente operaemconcentraçõesbaixasde sacarose,prova- velmente iguais às que ocorremnormalmenteno apoplasto.O segundocomponenteoperanascon- centraçõesmais elevadas.Em ambosos casos,os dadosindicamumaabsorçãoviasimporte(sacarose- próton). No caso do sistemade alta afinidade, a estequiometria(sacarose:próton)dosistemaseriade 2:1(emconcentraçõesmenoresque5moI m-3). No segundocaso(concentraçõesentre5e 15moI m-3), a relaçãomudapara6:1. É interessanteressaltarquetodosostransportado- resdesacaroseidentificadosatéaquisãoco-transpor- tadores(sacarose/H+).O KM aparenteparasacarose nessestransportadoresestána faixa de 1 mM, e a estequiometriado co-transporteé de 1:1. Transporteno Floema 189 Não estáesclarecidoaindaseascélulascrivadas têmounãobombasiônicasdeextrusãodeH+naplas- malema.No casodascélulascompanheiras,entretan- to, já foi localizadoum genequecodificaparaH+- A TPases (bombasde prótons). Entretanto, é bom ressaltarqueaconcentraçãodeA TP (substratopara asH+-A TPases)no sistemacrivadoé bemelevada, geralmenteemtorno de 1mM. Bombasdeprótons As bombasdeprótonssãotransportadoresdeíons específicosparaprótons,funcionandocom energia metabólicadahidrólisedeA TP. Elaspodemserdes- critascomopróton-ATPases.O transportador,esti- muladopelapresençade H +no meio interno,usaa energiageradapelahidrólisedo A TP paramudarde estadoenergético,liga-seaoH+ e o bombeiaparao meio externo,independentementedetrocapor ou- tro cátion (do meioexterno).É, portanto,umsiste- made transporteunidirecionalchamadouniPorte.Uma transferênciaunidirecional de cargasgera eletronegatividade(poisnãoocorretransportesimul- tâneode outrocátion deforaparadentro,demodo queadiferençadecargapositivapudessesercompen- sadano interiornegativo).Dessemodo,quandoum microeletrodofor inseridona célula,fazendocone- xão como meioexterno,apareceumacorrente.Ao potencialqueé geradoentreo interior e o exterior dacélula,atravésdaplasmalema,chamamospotenci- aldamembrana('lt).O bombeamentodeprótonspor essesistemagera,do interiorparao exteriordacélu- la, umaforçaprotoniônica. A forçaprotoniônicapodesercalculadaa partir daequação: RT Llp ='lt - 2,303 - LlpH F A diferençadepotencialeletroquímicoparapró- tons (LlIlH+) é funçãoda diferençadepH (LlpH) e dadiferençadepotencialatravésdamembrana(Ll'lt). Assim, ambos,LipH eLl'lt,sãocapazesdeenergizaro transporte.Entretanto,o transporteé otimizadoem ambienteácido.ComoopH doapoplastoégeralmen- 190 Transporteno Floema te ácido (5,0 a 6,0), e o Km para H+ baixo, a protonaçãodocarregadordificilmenteseriaumfator limitantedo transporte. Cátions podemserabsorvidos,via transportado~ resde íons, a favor de um gradientede potencial eletroquímico. Entretanto, ânions, aminoácidose açúcaressãoabsorvidoscontraum gradientedepo~ tencialeletroquímicooucontraumgradientedecon~ centração. São os gradientesprotoniônicosquepermitemo transporte(simporte)desacarosee demonossacarí~ deoscontraelevadosgradientesdeconcentração. O transportador de sacarose (SUT 1, sucrose transporter1) já foi localizadoaolongodetodoo flo~ ema,desdeasregiões-fonteatéasregiões~dreno.Do mesmo modo, 'já foi localizada no floema uma isoformadaH +-A TPaseespecíficadamembranaplas- mática. A sacaroseé transportadaparadentrodascélulas companheiras por co~transporte com prótons (simporte).O transportedesacarosenessascircuns- tânciasmostracinéticadesaturaçãocomo aumento da concentraçãode sacarose.Foi observadoumKm aparentepara sacarosede 1 mM, enquantoo Km aparenteparaH+ é apenasde0,7 j-LM. Existeespecificidadedetransporteparaasacarose. O transporte de sacarose via co~transporte é eletrogênico,mesmosendoasacaroseumamolécula neutra. A evidênciamaisnotáveldo co-transportedeH+ esacaroseéainduçãopelasacarosedo influxodeH + no floema. O transporte(influxo) eletrogênicodeH+via co- transporte(H+/ sacarose)causaumadespolarização nasmembranasdascélulasdo floema,e, comocon- seqüência,ocorreum efluxode K+, cujosteoressão normalmenteelevadosno floema. Ocorreumasubstancialreduçãono carregamento desacaroseno floemaquandoo apoplastosofreuma variação(aumento)depH. Embeterrabaaçucareira, foi observadaumareduçãodecercade40% no car- regamentodofloemaquandoopH externovarioude pH 5,0parapH 8,0. Vários pesquisadoresobservaramquea adiçãode sacaroseaoscotilédonesdeRicinusprovocouumau- mentodepH do meioexternode0,1a 0,2unidades depH. O pH voltaaosvaloresoriginaiscercademeia horaapósa retiradadasacarosedo meio. A estequiometriado processode co-transporte, observadaemRicinus,foi de3 H+/sacarose. Quandoéfeitaaperfusãodosistemavascularcom sacarose(25mM), ocorreumaumentodo pH daso- lução (perfusato).Essaalcalinização(0,6 a 0,9 uni- dadesde pH) é temporária,ocorrendoo retomo ao pH originalemtomo de30 a 60minutosapóso iní- cio doprocesso.Deváriassoluçõesdeaçúcarestesta- dasnessesexperimentosde perfusão(sacarose,ma- nitol, glicose,frutosee galactose),apenassacarose mostrouesseefeitosobrea variaçãodo pH. Os custosenergéticosdo transportede sacarose podem ser estimadosa partir da relação 1 A TP / sacarose.A estimativadesseautorédeque0,3%do A TP derivadodosfotoassimiladosseriausadonesse processo.Entretanto,cálculosfeitosapartirdo con~ sumode O2 no processode absorçãoindicam uma estequiometriade 1,1a 1,4 A TP/sacarose. VISÃO GERAL DO CARREGAMENTO E DESCARREGAMENTO DOFLOEMA No conceito inicial sobretransporteno floema propostoporMunch em1930,oselementoscrivados sãovistoscomoumtubolongitudinal,impermeável, formadopor seqüênciasde célulasdos EC, e onde ocorreumprocessodefluxodemassadesolutos.Esse fluxo é dirigidopor um gradientedepressãoquevai dasregiõesdemaiorconcentraçãodesolutos(fontes) para as regiõesde menor concentraçãode solutos (drenos). A absorçãode sacarosepeloselementoscrivados geraum gradientede pressãohidrostáticaentre as áreasdecarregamentoeasáreasdedescarregamento do floema,ou seja,entrefontee dreno. O aumentodapressãohidrostáticanasáreas-fon- teé tambémresultadodaatividadedeumoutrotipo deproteínadetransporte,asaquaporinas.Estasper- mitem quea águaquecircula na plantavia xilema sejaabsorvidapelofloema.Outrassubstâncias,como aminoácidoseprincipalmenteK +,tambémcontribu- emparaa formaçãodessegradientedepressão. O transportea longadistânciano floemaestáli- gadoa umafamília de proteínasconhecidascomo transportadoresde açúcares.Análises moleculares como genesutl (sucrosetransporter1),quecodifica paratransportadordesacaroseemfumoe batatain- glesa,mostraramqueo carregamentodofloemaocor- re via transportede reservasdo apoplasmaparaos elementoscrivadosatravésdaplasmalema,comme- diaçãodessestransportadores. O complexoCC/EC, com ascélulascompanhei- rasricasem citoplasmae organelas,sãoo local de carregamentodo floema. Pesquisascom carbono marcado(14C)mostraramquea cinéticadeapareci- mentode sacarosemarcadanascélulascompanhei- raséidênticaàcinéticadeexportaçãodasacarosenos elementoscrivados.Por outrolado,aaltaconcentra- çãodesacarosedocomplexoCCjEC, emtomode0,3 a0,8M, apontaparao sistemaCC/EC comoo ponto deentradadeaçúcaresna célula. O sistemaCC/EC apresentaumagrandesuperfí- ciedemembrana,quepermiteo carregamentodoflo- ema.Em folhasde beterrabaaçucareira, o fluxo de açúcaresparadentrodo sistemafoi calculadoem 16 pmol cm-zseg-1,o quepermiteosfluxosatravésdo sistemade3,2nmal desacarosepor cmzpor minuto (3,2nmo1.cm-zseg-1). Na Fig. 6.8é mostradoum esquemageraldo car- regamentoedescarregamentodofloema.Todo opro- cessoteminício naturalmentecomafixaçãodeCOz no cloroplastodascélulasdo mesofilo.De lá, trioses- fosfatodeslocam-separao citossol,ondeocorreasín- tesedesacarose.A sacarosepresenteno citossolpode serdeslocadaparao vacúolo,ondeé acumulada. A energiaparaesseprocessoorigina-sedo gradi- entedeH+queécriadoentreo vacúoloeo citossol, queacionaosistemadetransportetipoantiporte(Fig. 6.8A). A sacaroselivre no citossoldascélulasdo mesofi- 10desloca-separao apoplasto,deondepodeserab- sorvidapelascélulascompanheirasatravésdeumsis- tematransportadorvia simporte.Novamente,sãoos gradientesdeH+ entreo apoplastoeascélulascom- Transporteno Floema 191 panheirasquegerama energiaparaessetransporte. Observa-seainda que, na Fig. 6.8, estáindicada a possibilidadede absorçãoda sacarosedo apoplasto diretamenteparaascélulascrivadas.A sacaroseas- sim absorvidadesloca-seentãoao longodo sistema crivado,podendoeventualmentepassardenovopara o apoplastonas áreaspróximasaos tecidos-dreno, graçasaosgrandesgradientesde sacaroseformados entreo floemaeo apoplastonessaárea,comojá des- crito.As célulasdaregião-drenopodementãoabsor- ver diretamentea sacarosequefoi deslocadaparao apoplasto,via simporte,ou podeocorrera hidrólise do dissacarídeocomaformaçãodeglicosee frutose, quepodemigualmenteserabsorvidaspelascélulas- drenopor co-transportecom umpróton. As trocasentrecitossole vacúolonascélulasdos tecidos-drenoseguemo mesmoesquema,inclusive energético,descritoparaascélulasdo mesofilo. A sacaroseé sintetizadaexclusivamenteno cito- plasma das células do mesofilo pela sintetasede sacarose-fosfato. A transferênciadessasacaroseé feitada seguinte maneira: a) entrecélulasdo mesofilo b) dascélulasdo mesofiloparaaproximidadedas nervuras c) dasproximidadesdanervuraparaascélulasdofloema. A Fig. 6.8dáênfaseà idéiadequeaspressõesque sedesenvolvementrea fontee o dreno,emborase- jam extremamenteimportantesparao transportede solutosno floema,nãosãosuficientesparaexplicaro fenômenodo transportena suatotalidade.O fluxo de solutos no floema é grandementeinfluenciado pelosmecanismosde cargae descargade salutos,e pelo influxo de águanascélulasdo sistemacrivado. Issopõe em evidênciaos mecanismosgeradoresde gradientesprotoniônicos,emconseqüênciadaforça próton-motivaao longode todoo sistemade trans- porteno floema.A síntesee atividadedasproteínas de transportee adisponibilidadedeenergiasãofun- damentaisnesseprocesso. O fluxo desacarosea partirdo complexoEC/CC até o apoplastopodeocorrerpor simplesdifusão,a favor de um gradientede concentração.Isto é, alta 11 192 TransportenoFloema concentraçãono sistemaECjCC emenorconcentra- çãono apoplasto. oQUE É TRANSPORTADO Açúcares Embora,no estudodo transportedeaçúcaresem plantassejadadoênfaseaosdissacarídeos,o transporte demonossacarídeos(glicose,frutose,manoseeribose) atravésda plasmalemade célulasvegetaistemsido observado.O primeirogenequecodificaparatrans- portador de hexose donado foi o hup 1 (hexose transporter).Como já comentamos,paraqueumsis- temadetransportedehexosestenhasignificadobio- lógico é necessárioqueocorra,simultaneamente,a formaçãodasinvertasesquetransformamsacaroseem glicosee frutose. Quando secoletamexsudadosdo floema,encon- tram-seváriosaçúcares,tantomonossacarídeos(gli- cose,galactose,frutose)comodissacarídeos(sacarose) eoligossacarídeos(rafinose,estaquiose).Tambémsão encontradosaçúcaresmodificados,comoo sorbitole o manitol, quesãoderivadosalcoólicos(Fig. 6.9). As substânciastransportadasemmaiorquantida- deno floemasãoosaçúcaresnão-redutoresdo grupo darafinose(sacarose,rafinose,estaquioseeverbasco- se).Dessegrupo,a sacaroseé o açúcartransportado emmaior quantidade,emboraoutrosaçúcarestam- bém estejampresentes.Rafinose e estaquiose,por exemplo,sãocomumentetransportadosno floema. O manitol tambéméencontradocomfreqüênciano floema. CH20H CH,OHI HOtH~HCOH HOtH HOtH HtOH HtOH HtOH HtOH tH20H 6H2OH Sorbitol Manitol Fig. 6.9Açúcares-alcoóis:sorbitole manitol. Os açúcaresredutores,comoa glicose,a frutosee a manose,quasenuncasãoencontradosno floema. A sacaroseé o açúcartransportadoemmaiorvo- lumeno floema,podendoatingirconcentraçõesque variamde0,3 a 0,9 M. Em termosgerais,a concen- traçãodesacaroseno floemadamaioriadasplantas fica em torno de 12 e 120mg de açúcarpor ml de volumedefloema. Outros elementostransportados O nitrogênio(N) é transportadono floemaprin- cipalmentesobaformadeaminoácidoseamidas.Os aminoácidosusadosnessetransportesãoprincipal- menteo ácidoaspártico,o ácidoglutâmicoe assuas amidasasparaginae glutamina,respectivamente.É importanteobservarqueo nitrato,queé a formade N transportadacommaiorfreqüênciano xilema,não é transportadono floema.Em plantasfixadorasde nitrogênio,emparticularnasvariedadestropicais,o N pode tambémsertransportadosobasformasde ácidoalontóicoou alantoína. Entretanto,o potássio,queé transportadono xi- lemajunto como nitrato (K+jN03-), podetambém sertransportadono floema,geralmentejunto com ácidosorgânicos(R-COO-), principalmentecomo malato.Outrosnutrientes,comoo cálcio,o enxofre eo ferro,quesãotransportadosparaaparteaéreadas plantasviaxilema,tambémnãosãotransportadosno floema. O cálcio e o ferro sãonutrientesde baixa mobilidadena planta.Issosignificaque,umavezlo- calizadosemalgumapartedotecidovegetal,elesnão sãoremobilizadosparaoutraspartesou tecidos.Sin- tomasdedeficiênciadeferro,comoaclorosedetopo, ou seja,a clorosequeocorrenasfolhasmaisjovens ou folhasemdesenvolvimento,resultamdessaimo- bilidade.Como ocorreumamovimentaçãodenutri- entesno sentidofonte-dreno,ecomoesseselemen- tosficamretidosnoslocais-fonte,asuadeficiênciase fazsentirnos locais-dreno,ondeexisteumademan- da maior dessesnutrientesparao metabolismodos tecidosjovens. O nitrogênioe o fósforo,por outro lado, sãonu- trientesde grandemobilidadena planta. Quando ocorreumadeficiênciade P ou N no solo,a planta remobilizao nitrogênioe o fósforoqueestavamnos tecidos~fonte,e osdesloca,via floema,paraos teci~ dos~dreno.Esseselementosdeslocam~seno floema comocompostosorgânicos(aminoácidos,porexem~ pIo). É por essarazãoque,emcasodedeficiênciade N, observa~seumaclorosenasfolhasmaisvelhas(fo~ lhas~fonte),ao contrário da deficiênciade Fe, que provocaumaclorosenasfolhasjovens(folhas~dreno). O transportedeproteínaspodeocorrertambémno floema. O movimento dasproteínas~P na direção fonte-drenoindicaque,aocontráriodoquesesupu~ nha,elasnão ficamimobilizadasna camadaparietal dascélulasdoselementoscrivados,ondeformariam agregados,eexistemevidênciasdequeelaspodemser translocadasparaoutraspartesdaplanta.Essaspro~ teínastêm pesomolecularentre 20 e 60 kD, e são transferidasdasCC paraosEC viaplasmodesmos.A velocidadededeslocamentodessasproteínasnosEC chegaa 40 cmh-I. O transportedeproteínasocorretambématravés doplasmodesmo.Pelo menos,essemovimentojá foi observadonascélulaspróximasdocomplexoCCjEc. Paraque issoocorra,entretanto,é precisoquehaja uma modificaçãonos plasmodesmosparaque seja superadoo limite de exclusãodessesistemacondu~ tor,que,na maioriadasvezes,situa~seemtomo de 1 kDa.ExperiênciasfeitascomCurcubitamaximamos~ tramaexistênciadetransportenosplasmodesmosde célulasdo mesofilodeproteínasna faixade 10a200 kDa. Estima~sequeemtomo de 200proteínassolú~ veisexistamno floema,emboranem todastenham sido identificadas. Todo essematerialsedeslocano floemaemsolu~ ção, o que significa que, emboranos refiramosà sacarosecomo sendoa substânciaencontradaem maior quantidade no floema, estamosfalando de solutos.Em termosabsolutos,asubstânciadeslocada emmaiorvolumeno floemaé realmentea água. Além dessassubstânciasreferidas,quesãodeslo~ cadasno floemaemmaiorvolume,tambémcirculam por essesvasosos hormôniosvegetais,taiscomoas auxinas, as giberelinas, a citocinina e o ácido abscíssico(ABA). O RNA tambémcirculaviasimplásticaeentrana correntedetransportedofloema.RNA devíruscircu~ Transporteno Floema 193 Iamdessemodopelasplantas.Já foiobservadoo trans~ portede RNA viral patogênicocom capacidadede codificarproteínas,e comgenomadaordemde 250 a 350nucleotídeos. SAÍDA DE SACAROSE O escoamentodasacarosedascélulasdo mesofi~ 10parao espaçolivre foi estimadoem 120pmol de sacarosepor cm2.min·l•Essevalorémuitomaiorque o esperadonum sistemade escoamentopassivo.A conclusãoédequedevehaveraintermediaçãodeum sistemade transportepor difusãofacilitada.A saída deaçúcaresparao espaçolivreéaumentadapelapre~ sençadeK +.Issopodeindicarummecanismodeco~ transporteK+/açúcares. O descarregamentodo floema é extremamente importanteparaaagricultura.Patrick (1997)o con~ sideraum doselementos~chavena determinaçãoda produtividade. Fotoassimiladoschegamàsregiõessubapicaisdas extremidadesdasraízes,viadescarregamento,através do protofloema.Issosignificaquetambémna região meristemáticado ápiceradicularexistemconexões atravésde plasmodesmosqueligamascélulasdessa regiãoàscélulasdo sistemacrivado. Nas sementes,a conexãoentre os tecidosmais velhose os maisnovospodeserinterrompida.Nes- sessistemas,é necessárioqueocorraum descarrega~ mento de solutos no apoplasma para posterior recarregamentonascélulasmaisjovens. Emborao sistemade descarregamentodo floema e deslocamentodesolutosparaosdrenosaindanão estejacompletamenteesclarecido,algumasregras geraisjá podemserestabelecidas.Emprimeirolugar, o descarregamentodesolutosno floemaparao apo~ piasto é quasesempreuma etapanecessária.Isso é devido,principalmente,aoselevadosgradientesde concentraçãoquesedesenvolvematravésdaplasma~lemaentreo sistemacrivadoe o apoplasto. TRANSPORTE FONTE-DRENO Os experimentosclássicossobreo transportede açúcarescomeçaramaserfeitosaindano séculoXVII, 194 Transporteno Floema porMalpighi,utilizandoodescascamentodocauleem formadeanel (anelamento).Quando umanelé fei- to emumgalhodeárvore,osnutrientesacumulam- sena partesuperiorao anelamento,enquanto,na parte inferior, ocorre uma depleçãode açúcarese outrosnutrientes.Essesexperimentosforamcomple- mentadosmaisrecentementecomo usoderadioisó- topos.QuandoseaplicaàsplantasCOz marcado(com um isótoporadioativodecarbono;14Cou llC), estas fixamo COz nafotossínteseeformamvárioscompos- tos,principalmenteaçúcaresfosfatados(P-açúcares), mastambémsacarose.Esseselementosincorporamo C-marcadoem suaestruturae permitem,por auto- radiografia,quesedeterminemquaiscompostoses- tão acumulandona partesuperiorao anelamento. Trabalhoscomoestesmostraram,inequivocamente, queo anelamentoresultaemacúmulo,na partesu- periordo anel, de elementosquesãonormalmente transportadosno floema(açúcaresredutores,açúca- resnão-redutores,aminoácidose amidas). O deslocamentode substânciasno floemasegue a direçãofonte-dreno (Fig.6.10).A localizaçãodas fontespodemudarao longoda ontogênese.Assim, folhas maisnovasque sãofontes,à medidaque as plantassedesenvolvem,podempassara drenos.A fotossínteseconcentra-senasfolhasmaisnovas,eas antigasfolhas-fonte,agoraemposiçãoinferioraolon- go do eixo longitudinal da planta, necessitamdos fotoassimiladosproduzidosnasfolhasmaisjovenspara supriro seumetabolismode esqueletosdecarbono. Por outro lado, em plantasperenes,ou mesmoem plantasbianuais,caulese raízesque numa estação eramsimplesmentedrenos,na estaçãoseguintepo- demagircomofonte,liberandocompostosdecarbo- no queserãousadoscomosuprimentode energiae materialde sínteseemoutrosórgãosemcrescimen- to. O deslocamentodessarelaçãofonte-drenoocor- renaturalmenteao longodo ciclo daplanta. Normalmente,asfolhasadultasna partesuperior dasplantas atuamcomo fonte para as folhas mais novas,folhasemdesenvolvimentoebrotos.As folhas adultaslocalizadasna parteinferiordaplantafunci- onamcomofonte paraasraízes(Fig. 6.10). A atividadedasfolhas como fonte paraa parte inferior(raízes)eparaapartesuperiordaplanta(bro- Fig. 6.10Modeloesquemáticofonte-dreno:folhasmais velhaseoutrasfolhassãofomesparaodesenvolvimento defloresefrutos(drenos). tos) não é fixa. Folhasque,emdeterminadoestágio de desenvolvimento,atuamcomofonte paraasfo- lhasmaisjovenspodem,na etapaseguintededesen- volvimentodaplanta,atuarcomofonteparaasraízes. Poroutrolado,osdrenaspodemmudar.Tecidosou órgãos(folhas)queinicialmentefuncionavamcomo drenaspodem,aolongododesenvolvimentodaplan- ta,passarafuncionarcomofonte.Estima-sequeapas- sagemdedrenoparafonteocorrequandooórgão-fonte atinge30 a 50% do seudesenvolvimentototal. Em determinadafasede seucrescimentovegetativo,as folhasemdesenvolvimentonapartesuperiordocaule podemsero drenopreferencialparaum grupodefo- lhasadultas.Numaoutrafasedecrescimento,o dreno preferencialnaparteaéreapodeserformadodeflores e/oufrutosemdesenvolvimento(Fig.6.10).A lógica doprocessoéo deslocamentodeprodutosdafotossín- tesedo lugarondeestãosendoelaborados(célulasdo mesofilo),paraoslocaisondeexistaamaiordemanda metabólica.A maiordemandametabólicaocorreprin- cipalmenteemórgãoetecidosemfasedeexpansão.É por essarazão que os drenos mudam durante a ontogeniadaplanta.Primeiroosdrenossãoasfolhas emdesenvolvimento(folhasjovens),depoisflorese, finalmente,frutos. Nasfolhasdasdicotiledõneas,observou-sequeesse processocomeçapeloápicefoliar,evai sedesenvol- vendoprogressivamenteemdireçãoà base.Em be- terrabaaçucareira,o processodeexportaçãodefoto- assimiladosteminício quandoasnervurasmaisfinas acumulamaçúcaresacimade um nível mínimo, a partirdoqualafolhasetomaumafonteexportadora deaçúcares.Ao mesmotempoemqueessepatamar éalcançadoemrelaçãoaoacúmulodeaçúcares,nas membranasdascélulasdo floemaasA TPasescome- çama sedesenvolvere a iniciar suaatividade(ver Capo18,Tuberização). Nasplantasanuais,comoarroz,trigooufeijão,essa mudançanarelaçãofonte-drenoocorrenaturalmen- te.Folhasinferiores,quefuncionaramporalgumtem- po como drenos,passama funcionar como fontes, quandoocorremmudançasdrásticasno metabolismo daplantacomoumtodo.Esseéo caso,porexemplo, durantea fasereprodutivana maioria dasplantas anuais.Ao seiniciar o ciclo reprodutivo,ocorreuma granderemobilizaçãodenutrientesnadireçãodeflo- rese frutos.Nessemomento,a atividadefotossinté- tica podesercompletaou parcialmenteinterrompi- danasfolhasativas,e asprópriasenzimasdeassimi- lação,fundamentalmenteaRUBISCO (verCapo5, Fotossíntese),sãohidrolisadas,eonitrogêniodassuas proteínasreutilizadoparaa biossíntesedeproteínas dereserva.Nessecaso,asfolhasmaisvelhas- e,em algumasespécies,os caulese raízes- sãoutilizadas como fontes, fornecendo açúcares,aminoácidose mineraisparaa biossíntesede compostosdereserva nassementes.Nas plantasperenese,particularmen- te,emespéciesdecíduas,oscaulesfuncionamcomo órgãosde reservaquandoda quedadasfolhas.No início do rebrotamento,quandodasestaçõesfavorá- veis ao crescimento, essematerial de reserva é retranslocadopara os locais de intensa atividade metabólica,que,nessecaso,sãoos brotosquedarão origemanovosramosefolhas.A direçãofonte-dre- nopodesermodificadaartificialmentepelaaplicação dereguladoresdecrescimentoou suprimentodenu- trientesàsplantas. Transporteno F/oema 195 Em trabalhoscom arroz,por exemplo,observou- se que, com aplicação suplementarde nitrogênio duranteo períodoreprodutivo,ou seja,quandoera ministradaumafonteexternadenitrogênioàsplan- tas,aremobilizaçãodessenutrientedesdesuaspartes vegetativas(fonte)paraosgrãosemdesenvolvimento (dreno), sofriagranderedução.Deveserlevadoem contaque,no períodoreprodutivo,amanutençãode umafonteadequadadeN paraodesenvolvimentodos grãose estruturasdereproduçãoé crítica.Em cultu- rasde cereais,é comumo N do solo estarembaixa concentraçãoapóso florescimento(antese),sendoo N do grãoproveniente da remobilizaçãode N de outrostecidos.Os grãosrequeremgrandequantida- dedeN paraatenderà demandadecorrentedaele- vadasíntesede proteína queocorreduranteo seu desenvolvimento. No processoderemobilizaçãodeN, proteínassão hidrolisadase os aminoácidossãoconvertidosem formasquepodemsertranslocadasparaosórgãosem desenvolvimento.A glutaminaéo principalamino- ácidode transporteduranteo desenvolvimentodos grãosdearroz,enquantoo glutamatoéo aminoácido presenteemmaiorproporçãonasfolhasdearrozdu- rante o período vegetativo.Entretanto, durantea senescência,o teorde glutamatodiminui e aumen- tamosníveisdesuaamida,aglutamina,queapresenta menorrelaçãoC:N e,portanto,acumulamaisN do queo glutamatocomo mesmonúmerodecarbonos. Durante o período de enchimento dos grãos,o nitrogênio é translocadogradualmentedos órgãos vegetativosparaaspanículasde arrozemdesenvol- vimento.Entreosváriostecidosvegetativos,aslâmi- nasfoliarescontribuemcomamaiorpartedoN for- necido à panícula,podendochegara cercade 60% do total (Mae e Ohira, 1984).Uma estreitarelação entrenitrogênioexportadodasfolhassenescentese enchimentodosgrãosé observadaemarroz. Quando seestudoua redistribuiçãodenitrogênio emduasvariedadesdearroz,umadecultivo tradici- onal,aPiauí,eoutramelhorada,a lACA 7,comadu- baçãonitrogenadano plantio e suplementação,via foliar, no 10º e 20º diasapósa antese,observou-se quea taxadiáriadeperdadenitrogêniodaparteaé- reanos tratamentoseramenordo quenasplantas- • 196 Transporteno Floema controles(quenãoreceberamN suplementar),indi~ candoque,quandoháumafonteexternadeN, a plantautilizamenosdesuasreservasvegetativaspara o enchimentodosgrãos.Portanto,quandoaplantarecebeadubaçãonitrogenadasuplementar,acontri~ buiçãodoN daparteaéreaparao enchimentodos grãosémenor,enquanto,quandonãorecebeN~su~ plementar,aplantadeslocamaisN desuaparteve~ getativaparao enchimentodosgrãos.No primeiro caso,afontedeN (parteaérea)contribuimenospara oenchimentodosgrãos,porqueexisteumafonteal~ ternativadeN, fornecidaatravésdaadubaçãocom N~foliar,oquenãoacontececomastestemunhas.A experiênciadescritamostra,claramente,que,além dasmodificaçõesqueocorremnaturalmentenasre~ laçõesfonte-dreno,é possívelmodificarartificial~ menteesseprocessoatravésdepráticasagrícolas. 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