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CAPÍTULO 6 – ESTOICISMO ROMANO E LEI NATURAL 6.1 Pensamento Ciceroniano Marcus Túlio Cícero, legatário de uma sincrética tradição filosófica, mesmo deixando contribuições muito originais sobre a política, a moral, a teologia, a literatura, a retórica e a oratória, sofreu grande influência das filosofias que o antecederam, sendo elas: a sofistica, o socratismo, o platonismo, o aristotelismo e o epicurismo. Viveu na época Clássica do Direito Romano (dentro da conhecida divisão: época Antiga, época Clássica e época do Baixo Império). As principais Fontes do Direito nesse período foram a Jurisprudência, os Editos dos Magistrados, o Costume e a Legislação. O Discurso exercia importante função no período Clássico, dando a Cicero em sua posteridade a classificação de personalidade eclética, devido as suas diversas facetas. Ora atuava por discursos políticos, ora atuava junto aos Tribunais com discursos jurídicos (criminais e civis); ora escrevia sobre oratória, ora dominava com perfeccionismo o estilo erudito e sóbrio de prosa latina; ora era pujante e argumentativo, ora escrevia filosoficamente para publicação. Os Estoicos influenciaram Cicero principalmente no que diz respeito à Ética Estoica sobre a Ética Ciceroniana, à equivalência dos conceitos de areté, virtus e honestum e à correspondência entre a Ataraxia Estoica e o Ideal Ético na Teoria Ciceroniana. Uma vez que, para os Estoicos, a natureza humana só se pode realizar uma vez observada as regras do cosmo e a natureza divina das coisas. Ética Estoica: Ética da Ataraxia. - Ataraxia: estado de harmonia corporal, moral e espiritual respeito a si, ao universo e às suas leis cósmicas clímax de um processo de autodepuração da alma postula a independência com relação a tudo o que o cerca afirma seu profundo atrelamento com causas e regularidades universais revela preocupação com o conceito de dever estabelece relação entre razão, dever, felicidade, sabedoria e autonomia. - Razão, dever, felicidade, sabedoria e autonomia relacionam-se com proximidade dentro da tradição romana, tornando claro o legado deixado pelos estoicos para o universo intelectual romano. No sistema ético-estoico convivem conhecimentos de várias naturezas e fins (físicos, lógicos, metafísicos…) para afirmar o que o homem deve ou não fazer. É por meio da ação que surgem as oportunidades de ser ou não ser; é na ação que reside o ideal de vida estoico. A ética estoica é uma ética do dever, ou seja, determina o cumprimento de mandamentos pelo simples dever, pois estes são certos e incontornáveis pela ação. Isso ocorre também na ética ciceroniana, quando essa explica que a ação deve ser movida pela vontade de praticar a justiça, não pelo temor social à punição. Essa obediência aos mandamentos éticos se deve ao fato de tais mandamentos decorrerem de leis naturais; é da natureza (phýsis) que emanam as normas de agir. E nessa obediência ao que é natural reside uma forma de intuição, a qual confere ao homem a capacidade de discernir o que é favorável e o que é desfavorável ao seu bom agir. Nisso tudo há um grande e profundo compromisso do homem com a ação, assim como com a natureza. Com que também concorda o pensamento Ciceroniano. Ética Ciceroniana: Ética da Stoa. -Stoa: virtudes cardeais: justiça, sabedoria, fortaleza e temperança. Cícero constituiu sua filosofia demonstrando conhecer o argumento ético e albergando posturas ético-filosóficas de várias escolas. Assim, não negligenciava a principal contribuição do estoicismo: a ligação do homem com a natureza, ou seja, a formação da ética a partir da intuição natural. Além do mais, afirmavam que a ação é que deverá ser julgada boa ou má, não a contemplação. A reta razão (recta radio), que a tudo ordena e na qual devem ser pautadas todas as ações humanas, é encontrada no cosmos. A ética ciceroniana movimenta-se a partir de uma lei absoluta preexistente, imutável, intocável, soberana e perfeita e que a tudo governa. Na lei natural se encontra a noção de bem que deve ser seguida, por isso, sua observância deve ser o parâmetro da conduta humana. A razão é o distintivo humano, sendo assim, a virtude, de acordo com a reta razão, é o distintivo do ser humano justo. A justiça, como uma das virtudes cardeais, haverá de ser também uma decorrência do sistema natural. Sendo assim, se inspirando nas leis naturais é que as leis humanas deverão surgir, se orientar e se corrigir. Na natureza, há certeza da prevalência da justiça. A lei natural antecede o homem, servindo-lhe de guia nas suas artificiais estruturas de organização social, que é uma necessidade humana. A lei natural e eterna é a fonte do Direito. A formação das leis não reside na convenção nem na inteligência do legislador e sim numa razão natural, insubmissa às corruptelas do pensamento humano. “Logo, a lei é uma diferença entre o justo e o injusto, feita de acordo com a Natureza, ou melhor, a mais antiga e essencial de todas as coisas; e à natureza sujeitam-se as leis humanas, que ameaçam os maus com o castigo, enquanto defendem e protegem os bons.” Cicero resume sua doutrina acerca dos comandos éticos e jurídicos num conjunto heterogêneo de preceitos (éticos, jurídicos, religiosos, políticos...) A República pressupõe o Direito, o Direito pressupõe as Leis, as Leis pressupõem as Leis Naturais e as Leis Naturais pressupõem Deus. Conclusões Na teoria ciceroniana, o fundamento de toda ética e de todo conceito de justiça pode ser encontrado numa profunda ordenação cósmico-natural. As leis naturais são a ordenação do todo, que fundam a reta razão, passando o direito natural a representar a única razão de ordenação da conduta humana na República. As virtudes são estimuladas pela lei natural, e os vícios são repreendidos por ela. É ela que deve ser a escolta para os atos humanos, não qualquer outro tipo de convenção humana. A sociabilidade é condição natural humana, assim, a organização do Estado, das leis e da justiça são condições para a realização da própria natureza humana. A natureza humana deverá atingir um grau de afinidade e harmonia com as leis que regem o todo, de modo a que tudo se governe de acordo com o princípio da razão divina. Dessa forma, o que se tem é uma ética do dever, constituída na base da Lei Natural, que tem a finalidade de guiar e governar o todo. Dessa ética decorre a observância aos preceitos morais e jurídicos ao mesmo tempo, fundidos na sociabilidade humana e instrumentalizados através do Estado e das leis, o que traz a harmonia de todos entre todos, donde decorre a felicidade humana. É com a República que surge a felicidade humana. Referência Bibliográfica: BITTAR, EDUARDO C. B – CURSO DE FILOSOFIA DO DIREITO.
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