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Teorias da Globalização - Fichamento 2ª Unidade

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FICHAMENTO – Estudo dirigido
Universidade Católica do Salvador
Curso: Direito 
Professor: Érica Rios de Carvalho
Aluno: Pedro Henrique A. Guerreiro
Teórico estudado: IANNI, O.
Livro estudado: Teorias da Globalização
Data: 20/11/2017
No texto “Teorias da Globalização”, de IANNI, O., o autor introduz uma correlação que interpreta o sistema das relações internacionais bastante desenvolvida em estudos e controvérsias sobre a problemática da mundialização. O sistema mundial, em curso de formação e transformação desde o final da Segunda Guerra Mundial é francamente dinamizado depois do término da Guerra Fria em 1989, contempla economia e política, blocos econômicos e geopolíticos, soberanias e hegemonias. Reconhece que o sistema-mundo tende a predominar, estabelecendo poderosas injunções a uns e outros, nações e nacionalidades, corporações e organizações, atores e elites. Confere ao sistema mundial vigência e consistência, já que estaria institucionalizado em agências mais ou menos ativas, como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e muitas outras.
Aborda, também, a temática de que sociedade mundial pode ser vista como um sistema social complexo, no âmbito do qual encontram-se outros sistemas mais ou menos simples e complexos, tanto autônomos e relativamente autônomos como subordinados, ou subsistemas.
Observamos que a sociedade só pode ser compreendida através de um estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que disponha; e de que, no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre o homem e as máquinas, entre as máquinas e o homem, e entre a máquina e a máquina estão destinadas a desempenhar papel cada vez mais importante. Todavia, Os parâmetros lógicos estabelecidos pela teoria sistêmica, cada vez mais influenciada pela cibernética, aparecem em forma crescente nas reflexões sobre a organização e a dinâmica da sociedade mundial Trata-se de um modo de taquigrafar aspectos da realidade, permitindo construir modelos e estratégias, ou sistemas decisórios.
A interdependência das nações focaliza principalmente as relações exteriores, diplomáticas, internacionais. Envolve Estados passionais tomados como soberanos, formalmente iguais em sua soberania, a despeito de suas diversidades, desigualdades e hierarquias. E diz respeito a bilateralismos, multilateralismos e nacionalismos, acomodando ideais de soberania e realidades geoeconômicas e geopolíticas regionais e mundiais. Apoia-se sempre no emblema, ou paradigma, da sociedade nacional, do Estado-nação, reconhecendo que este está sendo desafiado pelas relações internacionais, pelo jogo das alianças ou disputas entre os blocos geoeconômicos ou geopolíticos, pelas exigências da soberania e as lutas pela hegemonia. Essa interdependência, já bastante teorizada, diz respeito às vantagens e responsabilidades de nações dominantes, ou superpotências, bem como das nações dependentes, subordinadas ou alinhadas. Mas também há fundamentações e alegações em que se estabelecem as responsabilidades da ONU, FMI e praticamente a maioria das agências, organizações e corporações que povoam o cenário mundial.
Neste contexto, em algumas formulações, a tese de que o mundo pode ser visto como um sistema implica certa dose de idealização. Há algo de utópico na maneira pela qual algumas formulações sobre a interdependência sistêmica supõem a integração, o equilíbrio ou a harmonia entre Estados nacionais, corporações, estruturas mundiais de dominação e apropriação, elites, classes, grupos e outros "atores" presentes no cenário local, nacional, regional e mundial. Uma utopia idealizando formação social presente e fundamentando diretrizes destinadas aprimorá-la.
Enquanto teoria da sociedade, tomada como um sistema amplo e como um conjunto de subsistemas, a teoria sistêmica do mundo é, era boa medida, uma transposição da teoria sistêmica do Estado-nação. Muito do que já se elaborou acerca da organização e dinâmica do Estado nacional tem sido transposto para a análise do sistema mundial. É claro que os autores situados nessa perspectiva teórica empenham-se em reconhecer as originalidades e complexidades da realidade social mundial. Reconhecem que os problemas e dilemas da organização e dinâmica da mundialização nascem neste âmbito, precisamente devido às originalidades e complexidades da sociedade mundial. Mas continuam a privilegiar o Estado-nação como o ator por excelência
Um sistema internacional é um padrão de relações entre unidades básicas da política mundial, caracterizado pelo escopo dos objetivos almejados por aquelas unidades e as diretrizes desenvolvidas por elas, assim como pelos meios utilizados de modo a realizar aqueles objetivos e implementar aquelas diretrizes. Este padrão é amplamente determinado pela estrutura do mundo, a natureza das forças que operam através ou dentro das maiores unidades, bem como pela capacidade, nível de força e política cultural dessas unidades. 
É claro que os atores são diversos e desiguais quanto a sua força, na posição estratégica, sua amplitude de atuação, seu monopólio de técnicas de poder. O Grupo das 7 nações dominantes, compreendendo os Estados Unidos, Japão, Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Canadá, inegavelmente dispõe de meios e modos para influenciar diretrizes não só de Estados dependentes, periféricos, do sul ou do Terceiro Mundo, como também as organizações bi e multilaterais, compreendendo a ONU, o FMI, a OIT, a AIEA, entre outras. 
Esse é o âmbito em que se colocam alguns problemas da maior relevância, às vezes novos e ainda não interpretados. Um deles diz respeito ao princípio da soberania do Estado-nação. É claro que a soberania do Estado-nação periférico ou do sul é em geral muito limitada, quando não é simplesmente nula. Se é provável que alguns destes Estados nacionais alcançaram a soberania em momentos passados, é muito mais provável que eles pouco ou nada desfrutam de soberania na época da globalização d o mundo. A dinâmica das relações, processos e estruturas que constituem a globalização reduzem ou anulam os espaços de soberania, inclusive para nações desenvolvidas, dominantes, centrais, d o norte ou do Primeiro Mundo. A despeito das prerrogativas que preservam e inclusive procuram ampliar, é inegável que a soberania do Estado-nação é um princípio carente de nova jurisprudência, e de outro estatuto jurídico-político. 
É notório que as noções de soberania e hegemonia revelam-se não só problemáticas, mas centrais, nas análises sistêmicas. Grande parte dessas análises dedica-se a codificar as condições e as possibilidades de soberania e hegemonia. São temas da maior relevância numa época em que o mundo se torna um cenário de muitas nações, em geral polarizadas por algumas mais fortes. Em dada época, o mundo pode estar polarizado em torno dos Estados Unidos e da União Soviética, ao passo que em outra se polariza em torno dos Estados Unidos, Japão e Alemanha, ou Europa Ocidental. Mas a Rússia polariza algumas nações do ex-bloco soviético.
Por outro lado, ainda que sua postura metodológica seja sempre isenta, neutra ou equidistante, no que se refere às relações entre as partes e o todo, ou no jogo das relações entre os atores participantes do sistema, a teoria sistêmica envolve geralmente as noções de evolução e modernização do capitalismo. De modo implícito, ou abertamente, a maioria das interpretações da realidade em termos da organização e dinâmica dos sistemas e subsistemas nacionais e mundiais contempla o suposto de que a organização e dinâmica prevalecentes tendem a pautar-se pelas sociedades modernas mais desenvolvidas, dominantes, centrais ou hegemônicas. Há um evidente ocidentalismo, juntamente com o capitalismo, quando as interpretações esclarecem o modo pelo qual as partes, as unidades, os segmentos ou os atores menos desenvolvidos, isto é, arcaicos, periféricos ou marginais são contemplados na organização e dinâmica da sociedade mundial.A própria noção de hegemonia, conforme tem sido definida nas análises sistêmicas, supõe que o hegemônico não só centraliza e dirige, mas também orienta, impõe ou implementa diretrizes destinadas a tornar os tradicionais em modernos.
Note-se que "desvios" destinados a provocar mudança social, ou mesmo evolução sistêmica, podem ser "intencionalmente produzidos". Na realidade, são principalmente as "elites" dominantes (envolvendo indivíduos, grupos, classes, organizações governamentais, organizações bi e multilaterais, corporações nacionais e transnacionais) alguns dos principais "atores" que concretamente agem de modo a produzir, orientar e dinamizar "desvios" destinados a provocar mudança ou evolução. Uma parte volumosa da produção de economistas, sociólogos, cientistas políticos, geógrafos, demógrafos e demais cientistas sociais está inspirada, aberta ou implicitamente, por "objetivos" ou "previsões" destinados a produzir crescimento, desenvolvimento, industrialização, urbanização, secularização, individuação, racionalização, modernização, evolução, progresso. Não se trata de duvidar da isenção ou inocência da teoria sistêmica, mas sim de reconhecer que ela tem inspirado objetivos e previsões destinados à ocidentalizaçãodo mundo, nos moldes do capitalismo.
Cabe observar, ainda, que as interpretações sistêmicas do mundo, como um todo e em seus múltiplos subsistemas, são provavelmente as mais comuns entre as utilizadas praticamente pelos "atores" ou pelas "elites" dominantes, tanto em sociedades nacionais como na sociedade mundial. Elas respondem, de modo sintético e técnico, às várias exigências desses atores ou elites. Permitem taquigrafar as complexidades e contradições das mais diferentes formações sociais, de modo a eleger fatores, atributos, indicadores ou variáveis, principais e secundários, quando se t r a t a de provocar ou induzir "desvios" e "previsões". Podem ser tomadas como elaborações mais ou menos sofisticadas da razão subjetiva, instrumental ou técnica, construindo esquemas, modelos, estratégias ou jogos, por meio dos quais formulam-se diagnósticos e prognósticos, planos e projetos, diretrizes e implementações.
Com isso, é notável que talvez se possa dizer que a teoria sistêmica apresenta uma versão mais elaborada da teoria da modernização, já que naquela escondem, se alguns dos valores, ou padrões, ideais e instituições, que se mostram muito mais explícitos do que nesta.

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